Linfoma em Cães

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Ferreira et al., Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal (v.9, n.

4) (2015) 675-688

Revista Brasileira de Higiene e Sanidade


Animal Brazilian Journal of Hygiene and
Animal Sanity ISSN: 1981-2965

I
Aspectos clínico-laboratoriais de linfoma em cão: Re
Relato de caso lat
Clinical laboratory aspects of lymphoma in dog: A case report
1 2 o
Társsila Mara Vieira Ferreira , José Leonaldo Miranda Azevedo , Ana
3
Karine Rocha de Melo Leite *
1
Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Estadual do Ceará,
Fortaleza, Ceará, Brasil.
2
Patologista Clínico do Laboratório de Patologia Animal SANIMAL. Fortaleza, Ceará, Brasil
3
Docente da Faculdade Metropolitana de Fortaleza- Fametro e colaboradora no Laboratório de
Imunologia e Bioquímica Animal (LIBA) da Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza,Ceará,
Brasil. Autor para correspondência: E-mail: * [email protected]
RESUMO: O caso clínico refere-se a uma cadela, SRD, médio porte, que foi atendida em
uma clínica veterinária particular. Uma série de hemogramas, bioquímica sérica e sorologia foram
realizadas a fim de monitorar o quadro geral da paciente, bem como acompanhar o tratamento
instituído. Na busca diagnóstica, os dados revelaram ausência de sinais conclusivos sendo
solicitado ainda radiografia, ultrassonografia e histopatológico. Com base nos sinais clínicos
associados aos resultados laboratoriais, verificou-se que o prognóstico da cadela era desfavorável.
A mesma foi submetida à eutanásia por opção do proprietário, necropsia e coletadas amostras
de tecidos de órgãos alterados macroscopicamente para avaliação histopatológica. O resultado
dessa última mostrou diversas alterações compatíveis com linfoma. Conclui-se nesse trabalho
que os resultados dos exames laboratoriais associados aos achados histopatológicos foram
essenciais para finalizar o caso clínico, demonstrar alterações hematológicas e bioquímicas
induzidas pela neoplasia maligna, bem como comprovar o diagnóstico de linfoma na cadela.

Palavras-chaves: linfoma, cão, hematologia, bioquímica, SANIMAL.

ABSTRACT: The case relates to a bitch, SRD, midsize, who was treated at a private
veterinary clinic. A series of blood counts, serum biochemistry and serology were carried out
to monitor the general condition of the patient, as well as monitor the treatment. In the
diagnostic search, the data revealed no conclusive signs still being requested radiography,
ultrasound and histopathology. Based on the clinical signs associated with the laboratory results,
it was found that the dog was unfavorable prognosis. The same was euthanized at the option of
the owner, necropsy and collected tissue samples from macroscopically altered organs for
histopathological evaluation. The result of the latter showed several abnormalities consistent with
lymphoma. We conclude this work the results of laboratory tests associated with
histopathological findings were essential to complete the clinical case demonstrating
hematological and biochemical changes induced by malignant neoplasia as well as confirm the
diagnosis of lymphoma in dogs.

Key-words: lymphoma, dog, hematology, biochemistry, SANIMAL.


__________________
Autor para correspondência: E-mail: * [email protected]
Recebido em 09/09/2015; Aceito em 22/12/2015
http://dx.doi.org/10.5935/19812965.2015
0061

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INTRODUÇÃO Dessa forma, o presente trabalho


Linfoma é a doença maligna teve como objetivo descrever um relato
hematopoiética de maior ocorrência em de caso sobre linfoma em um cão,
cães, apresentando também alta direcionando aos aspectos diagnósticos
incidência entre todos os tipos de da patologia a fim de enfatizar as
neoplasias caninas (OGILVIE et alterações laboratoriais induzidas por
a l . , 2002). Constituem 24% das essa neoplasia.
neoplasias em cães e 83% de todas as MATERIAL E METODOS
malignidades hematopoéticas, sendo o No dia 04 de abril de 2012, uma
mais comum dos distúrbios cadela, SRD, com 6 anos de idade,
linfoproliferativos nos pequenos animais pesando cerca de 40kg retornou em uma
(VAIL & OGILVIE, 2003). O linfoma clínica veterinária. A mesma residia em
ou linfossarcoma corresponde a uma um sítio, tendo acesso a areia e
proliferação de células linfóides vegetações. Alimentava-se de ração e a
malignas que acomete inicialmente vacinação e vermifugação encontravam-
linfonodos ou órgãos viscerais sólidos, se atrasadas. No histórico clínico, a
como o fígado ou o baço (VAIL, cadela já havia apresentado apatia,
2008). Isto diferencia os linfomas das inapetência, presença de carrapatos,
leucemias, que tem origem na medula diagnosticando-se erliquiose, com
óssea (COUTO, 2001). sorologia negativa para leishmaniose.
Os sinais clínicos do linfoma Dessa forma, iniciou-se o tratamento.
canino são variados e dependem da No retorno da consulta, a queixa
localização anatômica e da extensão da principal apresentada pelo proprietário
doença (MORRISON, 2005; VAIL & era aumento de volume na região
YOUNG, 2007). O diagnóstico submandibular há 10 dias, apatia,
presuntivo do linfoma é fundamentado inapetência persistente e edema de
no histórico clínico, exame físico e membros posteriores. Ao exame físico,
alterações em exames laboratoriais e de constatou-se no animal anorexia, perda
imagem. Entretanto, o diagnóstico de peso, letargia, mucosas hipocoradas,
definitivo é obtido através da análise sopro cardíaco evidente a ausculta,
citológica e/ou histopatológica dos aumento dos linfonodos superficiais
órgãos acometidos e linfonodos submandibulares, poplíteos e pré-
(MACEWEN & YOUNG, 1996; VAIL & escapulares.
OGILVIE, 2003).

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A cadela foi internada e instituída aumento dos linfonodos superficiais


medidas terapêuticas de suporte. Exames submandibulares, poplíteos e pré-
complementares e acompanhamento do escapulares; edemas na região
estado clínico foram também submandibular e de membros
necessários. posteriores também foram observados.
Após 7 dias de internamento, os Esses achados sugerem que a cadela não
sinais clínicos observados, além dos estava respondendo de forma satisfatória
citados anteriormente, foram: dispnéia, ao tratamento para erliquiose,
polidipsia e poliúria. No 8º dia de suspeitando-se de outras enfermidades.
internamento, a cadela apresentava Dados mostram que babesiose,
também fezes diarréicas e emese. leishmaniose e doença imunomediada
Foram realizadas coletas de sangue podem induzir um quadro de anemia e
durante todo o período de internamento. trombocitopenia, bem como
O sangue para hemograma completo foi linfadenopatia (VAIL, 2008; GARCIA-
coletado em tubos com anticoagulante NAVARRO & PACHALY, 1994). No
EDTA e, para quantificação da entanto, essas alterações podem também
bioquímica sérica, sem anticoagulante. ser visualizadas em cães com linfoma
As coletas foram realizadas nos dias 4, (MACEWEN & YOUNG, 1996;
9, 12 e 13 de abril de 2012. No dia 04 COUTO, 2001; RAMOS et al., 2008),
de abril de 2012 (1º dia de não descartando-se a possibilidade da
internamento), amostra de sangue foi cadela estar acometida por essa
coletada também em tubo sem patologia. Sabe-se que diversos distúrbios
anticoagulante para quantificação neoplásicos e não neoplásicos
sorológica de babesiose e erliquiose. assemelham-se ao linfoma, como as
Quantificação de proteínas totais e enfermidades citadas anteriormente
fracionadas no dia 11 de abril de 2012 (COUTO, 2001; VAIL, 2008), o que
foram também solicitadas. Radiografia dificulta o seu diagnóstico precoce.
torácica e ultrassonografia abdominal Sabendo-se que a sorologia para
foram também realizadas no dia 12 de leishmaniose foi negativa, foram
abril de 2012 (penúltimo dia de solicitados exames sorológicos para
internamento). babesiose e erliquiose, mostrando-se não
RESULTADOS reagentes (Tabela 1). Hemograma
No retorno da consulta, a completo e perfil bioquímico também
cadela apresentou inapetência, anorexia foram realizados durante todo período de
e letargia. Mucosas hipocoradas e internamento da cadela (Tabelas 2 e 3).

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Tabela 1: Resultados sorológico para babesiose e erliquiose

Tipo de imunoglobulina Babesia Erlichia


IgM Negativo Negativo

IgG Negativo Negativo

O resultado do primeiro plaquetas gigantes também foi


hemograma mostrou um quadro de visualizada (Figura 1C), mostrando que
anemia regenerativa com presença de havia uma resposta medular frente à
anisocitose e hipocromia (Figura 1A). redução no número de plaquetas.
Esferócitos também estavam presentes Quanto ao leucograma, esse mostrou
(Figura 1B), sugerindo uma anemia uma discreta neutrofilia com desvio á
hemolítica imunomediada. direita (Tabela 2).
Trombocitopenia com presença de

Tabela 2: Resultados dos hemogramas após o internamento da cadela no mês de abril de


2012
Dias

Componentes 04 09 12 13 Referências

Hemácias
tes 4,5 4,22 3,63 3,91 5,5-8,5 milhões/mm3

Hematócrito 32 30 26 27 37-55 %

Hemoglobina 11 10,2 8,6 9,4 12-18 g%

Plaquetas 140.000 80.000 106.000 76.000 200.000-500.000/mm3

Leucócitos 14.400 15.400 20.400 16.800 6.000-17.000/mm3

Neutr. bast 0 0 0 168 0-300

Neutr. seg 12.240 9.856 16.932 13.776 3.000-11.500

Eosinófilos 144 308 0 0 100-1.250

Linfócitos 1.728 4.312 3.060 2.856 1.000-4.800

Monócitos 288 924 408 0 150-1.350

Prot. plas totais 6,0 6,0 5,8 5,2 5,8-7,9 g/dL

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Esse fato pode ser justificado pela de transtorno linfoproliferativo. Esses

presença de infecção ou até mesmo de resultados hematológicos corroboram

tumor (LOPES et al., 2007). Em relação com os observados em relatos de cães

à morfologia dos leucócitos, verificou-se com linfoma, entretanto não são

a presença de linfóctitos atípicos (Figura encontrados exclusivamente nessa

1B) e monócitos vacuolizados (Figura enfermidade (MACEWEN, 1996;

1C), achados que sugerem a presença COUTO, 2001; RAMOS et al.,2008).

A B C

Figura 1. Esfregaço sanguíneo do dia 04 de abril de 2012, mostrando anisocitose e


hipocromia das hemácias. A - Presença de neutrófilo (cabeça de seta) e linfócito
(seta). B - Presença de linfócito de tamanho mediano com núcleo pleomórfico e
citoplasma levemente basofílico (seta), e esferócito (seta tracejada). C- Presença de
plaquetas gigantes (cabeça de seta) e monócito vacuolizado (seta). HE, 200X.

Em relação aos resultados da mostram que animais com linfoma


bioquímica sérica, observou-se no podem apresentar hipercalcemia
primeiro dia de internamento apenas (OCHOA & BOUDA, 2007),
uma alteração nos níveis de cálcio necessitando-se, dessa forma, de
sérico, revelando hipocalcemia (Tabela maiores investigações.
3). No entanto, dados da literatura

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Tabela 3. Resultados das quantificações bioquímicas séricas após o internamento da


cadela no mês de abril de 2012
_______________________________________________________________________

Componentes Dias Referências


04 09 12 13

Creatinina 1,2 0,7 1,0 2,0 0,5-1,5 mg/dL


Uréia 16,0 16,0 37,0 92,0 15-65 mg/dL
ALT 16,0 52,3 52,3 41,9 10-88 UI/L
AST 61,1 66,3 55,8 82,0 10-88 UI/L
Cálcio 4,5 4,4 2,1 4,7 9,0-11,3 mg/dL
Bilirubina Direta 0,06 - 0,32 0,20 0,06-0,12 mg/dL
Bilirrubina total 0,32 - 0,52 0,46 0,1-0,5 mg/dL
Fosfatase alcalina 136,2 277,7 389,7 356,6 20-150 UI/L

No dia 09 de abril, solicitou-se da redução dos níveis de hemoglobina


um segundo hemograma e (10,2 g%).
quantificações bioquímicas séricas. No entanto, dados da literatura
Observou-se a permanência do quadro mostram que anemia é a alteração
anêmico ainda do tipo regenerativo hematológica mais comum em pacientes
com hemácias anisocíticas e com linfoma (VAIL & YOUNG, 2007),
hipocrômicas (Tabela 2). Nesse sendo, na grande maioria das vezes,
momento, verificou-se também a não regenerativa com hemácias
presença de metarubrócitos e codócitos normocíticas normocrômicas (KRUTH &
(Figuras 2A e 2B, respectivamente). CARTER, 1990).
Metarubrócitos são hemácias jovens e, A trombocitopenia com
dependendo do número e da espécie macroplaquetas ainda permanecia,
estudada, são indicativos de regeneração porém com uma redução significativa no
eritrocitária medular. Quanto à presença número de plaquetas quando comparada
de codócitos, conhecidos também por ao primeiro hemograma. Sabe-se que
hemácias em alvo, esses podem estar pacientes com neoplasia maligna podem
presentes em casos de anemia por apresentar trombocitopenia
carência de ferro (OCHOA & imunomediada (SCOTT, 2000), fato que
BOUDA, 2007), fato que pode ser justificaria esse achado nesse relato de
observado nesse reato de caso através caso.

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O leucograma mostrou-se sem forma, suspeitou-se que a cadela poderia


qualquer alteração, permanecendo dentro apresentar um quadro de osteopatia.
dos parâmetros normais. No entanto, Ainda, sabe-se que o cálcio é um mineral
verificou-se a presença de linfócitos encontrado nos ossos e no plasma na
atípicos no sangue periférico (Figura forma livre ou ligado à albumina e que
2C), achado que pode ser observado em quadros hipocalcêmicos podem estar
pacientes com linfoma (KRUTH & associados à hipoalbuminemia, má
CARTER, 1990). Quanto aos resultados absorção, insuficiência renal aguda e
das quantificações bioquímicas, essas se neoplasias (BUSH, 2004). Porém, o
mostraram dentro dos parâmetros animal não apresentava hipoalbuminemia,
normais, descartando-se, a princípio, já que o resultado mostrou-se dentro dos
qualquer alteração hepática e renal parâmetros referenciais com um valor de
(Tabela 3). Porém, verificou-se um 2,43 g/dL (2,3 a 3,8 g/dL). Os níveis de
aumento nos níveis de fosfatase alcalina, globulinas também se apresentaram
permanecendo ainda o quadro de dentro dos valores normais 2,86 g/dL (2,3
hipocalcemia visto anteriormente. Dados a 5,2 g/dL). No entanto, dados da
da literatura mostram que a fosfatase literatura mostram que pacientes com
alcalina é uma enzima amplamente linfoma apresentam
distribuída pelo corpo, encontrada nos hipergamglobulinemia (CARDOSO et al.,
ossos e fígado (KERR, 2002). Dessa 2004).

A B C

Figura 2. Esfregaço sanguíneo do dia 09 de abril de 2012, mostrando anisocitose e


hipocromia das hemácias. A - Presença de metarrubrócito (cabeça de seta). B -
Presença de hemácias em alvo (cabeça de seta) e linfócito (seta). C - Presença de
linfócito atípico (cabeça de seta). HE 2000X

No dia 12 de abril de 2012, foram que havia suspeita de neoplasias e,


solicitados os exames de radiografia possivelmente um processo metastático,
torácica e ultrassonografia abdominal, já pois a cadela apresentava linfadenopatia
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generalizada, dispnéia, diarreia e êmese. Nesse relato, o animal


Foram solicitados novo hemograma e apresentava um quadro de anemia, fato
quantificação bioquímica sérica (Tabelas que poderia justificar o aumento de
2 e 3). O animal ainda permanecia com bilirrubina, principalmente a indireta.
um quadro de anemia do tipo Ainda, o animal poderia estar iniciando
regenerativa e trombocitopenia, porém um quadro de hepatopatia, dessa forma,
com uma redução significativa do induzindo a hiperbilirrubinemia. Sabe-se
hematócrito. O leucograma mostrou uma que a fosfatase alcalina é uma enzima
leucocitose neutrofílica com desvio á associada à membrana celular presente
direit a. Resultado semelhante foi no fígado, túbulos renais, intestino e
observado em cães com linfoma, onde ossos (osteoblastos) (MEYER &
38,8% dos animais apresentaram HARVEY, 2004). Nesse relato, o
neutrofilia com ou sem linfocitose aumento dessa enzima pode ser justificada
(CÁPUA et al., 2011). No entanto, provavelmente pelo dano hepático, mais
dados mostram também que animais especificamente por um quadro de
com linfoma podem apresentar colestase com retenção de componentes
leucograma variado (MORRISON, da bile, liberação da enzima induzida
2005). Sabe-se que a neutrofilia no caso pela alteração da permeabilidade do
de linfoma pode está envolvida com o hepatócito e aumento da sua produção
processo inflamatório induzido pelo (MEYER & HARVEY, 2004).
próprio tumor, porém não apresenta Quanto o resultado da radiografia
significado clínico significativo torácica, observou-se opacidade de
(SCHULTZE, 2000; BERGMAN, campos pulmonares de padrão
2007). intersticial tendendo ao tipo nodular
Quanto à análise bioquímica, miliar e presença de alguns
verificou-se um aumento significativo broncogramas aéreos dispersos de forma
das bilirrubinas direta e total, bem como difusa pelo parênquima pulmonar. Não
da fosfatase alcalina. O quadro de foi possível visualizar imagens
hipocalcemia ainda permaneceu (Tabela compatíveis com nódulos metastáticos
3). Dados da literatura mostram que as dispersos pelo parênquima pulmonar, e
bilirrubinas provêm da degradação das avaliar a silhueta cardíaca e aferir o
substâncias pirrólicas, 85% a partir da VHS devido à somação da imagem
hemoglobina liberada pela destruição de cardíaca com a opacificação em campos
eritrócitos e 15% de citocromos pulmonares. Esses aspectos eram
hepáticos e mioglobina (OCHOA & sugestivos de edema pulmonar severo
BOUDA, 2007). associada à discreta efusão pleural. O
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resultado da ultrassonografia 2007), esse último poderia justificar a


mostrou alterações na ecogenicidade do presença desse tipo de neutrófilo nesse
fígado e baço, bem como as dimensões relato de caso. Em relação às dosagens
aumentadas, hepatomegalia e bioquímicas, observou-se azotemia e
esplenomegalia. Esses achados permanência de hiperbilirrubinemia e
radiográficos e ultrassonográficos aumento de fosfatase alcalina, achados
sugerem infiltrações neoplásicas por que sugerem danos renal e hepático.
linfoma (MACEWEN, 1996; COUTO, Dados mostram também que
2001; FIGHERA et al., 2002). elevações nas concentrações séricas de
No dia 13 de abril de 2012, o fosfatase alcalina e bilirrubina podem ser
hemograma mostrou permanência no resultados de infiltração neoplásica no
quadro de anemia, com presença de fígado (VAIL & OGILVIE, 2003). A
esferócitos e hemácias em alvo (Figuras deposição do tecido neoplásico pode
3A e B). Quando trombocitopênico, promover obstrução dos canalículos
neutrofilia com desvio á direita e biliares intra-hepáticos (colestase)
presença de neutrófilos tóxicos também promovendo aumento da síntese de
foram visualizados (Tabela 2 e Figura fosfatase alcalina e represamento da
3C). Neutrófilos tóxicos podem estar bilirrubina que extravasa para o
presentes em situações de infecção plasma, resultando nas elevações
bacteriana severa, septicemia e dessas enzimas no plasma (BUSH, 2004).
destruição tecidual (LOPES et al.,

A B C

Figura 3. Esfregaço sanguíneo do dia 13 de abril de 2012, mostrando anisocitose e


hipocromia das hemácias. A - Presença de esferócitos (cabeça de seta) Presença de
neutrófilo segmentado com granulações tóxicas (cabeça de seta). B - Presença de
hemácias em alvo, monócito vacuolizado (cabeça de seta) e neutrófilo segmentado
(seta). C - Presença de neutrófilo com granulações tóxicas (cabeça de seta). HE 2000X

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Em virtude da progressão do apresentou fator predisponente para o


quadro clínico debilitante da cadela, linfoma, concordando com Couto (2001).
não havendo melhora clínica, o Dados mostram que determinadas
proprietário optou por eutanásia, sendo raças apresentam maior incidência de
realizada a necropsia do animal (Figura linfoma (TESKE et al., 1994; COUTO,
4). Observou-se discreta hiperplasia de 2001; OGILVIE e t a l . , 2 002; VAIL
polpa branca, com estrias brancas & YOUNG, 2007). Entretanto, nesse
observadas macroscopicamente na relato de caso, não foi possível
superfície esplênica. O pulmão estabelecer nenhuma relação quanto à
apresentou áreas de enfisema de borda e predisposição racial, pois a cadela não
discreta palidez no parênquima. O apresentava padrão racial definido. Sabe-
intestino delgado apresentou mucosa com se que a maioria dos cães acometidos por
áreas de intensa hiperemia, além de linfoma encontra-se na meia-idade ou
ulcerações. entre 6 a 12 anos (COUTO, 2001) e que
Ao corte histopatológico dos há uma maior freqüencia de cães do sexo
linfonodos, observou-se acentuado feminino com linfomas (TESKE et al.,
aumento de tamanho de linfonodo, com 1994; PELT & CONNOR, 2002). Nesse
presença de hiperemia, cuja intensidade trabalho, o animal acometido foi uma
varia de discreto (direito) a moderado cadela de meia-idade, corroborando com
(centro). A citologia aspirativa por os dados da literatura.
agulha fina dos linfonodos demonstrou Os sinais clínicos apresentados
alterações celulares sugestivas de (apatia, letargia, perda de peso, dispneia,
linfoma. O resultado do exame diarreia, êmese, edema e linfadenopatia
histopatológico dos linfonodos, baço, dos linfonodos superficiais) pela cadela
fígado e pulmão revelou doença podem ser observados em cães com
linfoproliferativa, linfoma de pequenas e linfoma multicêntrico (COUTO, 2001;
grandes células não clivadas, sem FIGHERA et al., 2002; VAIL &
tropismo epitelial (linfonodo), com YOUNG, 2007; VAIL, 2008). De acordo
metástase de linfoma em pulmão, fígado e com a literatura (COUTO, 2001;
baço. Então, através do exame FIGHERA et al., 2002; VAIL &
histopatológico foi possível concluir que YOUNG, 2007; VAIL, 2008), concluiu-
a cadela apresentava um quadro de se, baseado nas alterações clínicas,
linfoma desde o início do caso clínico. radiográficas e histopatológicas, que a
Segundo a etiologia, foi possível cadela apresentava linfoma na forma
observar que a paciente em questão não multicêntrica.
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A B

C D

E F

Figura 4. Fotos dos órgãos alterados macroscopicamente, visualização geral in citu


durante necropsia. A – Subcutâneo com focos hemorrágicos. B – Pulmão com palidez
discreta no parênquima e fígado aumentado. C - Baço hiperplásico com estrias
esbranquiçadas. D – Intestino delgado com áreas da mucosa hiperêmicas e ulcerações. E
– Linfadenomegalia submandibular. F- Linfonodos submandibulares, pré-escapulares e
inguinais ao corte.

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CONCLUSÃO CARDOSO, M.J.L. et al. Linfoma canino

Nesse trabalho, conclui-se que o – Achados clínicos-patológicos. Archives

linfoma do tipo multicêntrico induziu of Veterinary Science, Curitiba, v. 9, n.

alterações clínicas, hematológicas, 2, p. 25-29, 2004.

bioquímicas, radiográficas e CÁPUA, M.L.B.; COLETA, F.E.D.;

ultrassonográficas que poderiam auxiliar CANESIN, A.P.M.N.; GODOY, A.V.;

o clínico precocemente no seu CALAZANS, S.G.; MIOTTO, M.R.;

diagnóstico. Ainda, os resultados DALECK, C.R.; SANTANA, A.E.

laboratoriais associados aos achados Linfoma canino: clínica, hematologia e

histopatológicos foram essenciais para tratamento com o protocolo de

finalizar o caso clínico, evidenciar Madison- Wisconsin. Ciência Rural,

alterações hematológicas e bioquímicas Santa Maria, v.41, n. 7, p. 1245-1251,

induzidas pela neoplasia maligna, bem 2011.

como comprovar o diagnóstico de linfoma COUTO, C. G. Linfoma no cão e no gato.

na cadela. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G.

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