Efeito Da Temperatura
Efeito Da Temperatura
Efeito Da Temperatura
A. A. A. de SOUZA a
[email protected]
A. L. MORENO JR b
[email protected]
Abstract
This paper has as a goal to present the results of experimental investigations on the behavior of concrete when submitted to high temperatures.
A concrete of common utilization in our region, with cement and usual aggregates mixed in usual proportions (mix), was submitted to tempera-
tures of 300ºC, 600ºC and 900ºC, in order to assess probable variations in its compression strength, tensile strength and deformation module.
The effect of rapidly cooling concrete, usual in fire fighting, was assessed; a few test bodies submitted to high temperatures were rapidly cooled
and others were slowly cooled (to room temperature). The probable recovery of the mechanical properties under investigation following concrete
rehydration – after a possible reduction from the effects of the high temperatures applied – was also assessed; test bodies were submitted to high
temperatures and cooled slowly; a few were immersed in water and others were wrapped up in plastic film and then evaluated in relation to the
researched properties for concrete ages of 28, 56, 112 and 224 days after slow cooling. Upon finishing this work, important results on the effect
of high temperatures on concrete mechanical properties were obtained, thus providing a major contribution for the recovery design of structures
that had been subject to fire.
Resumo
Este trabalho teve como objetivo a investigação experimental do comportamento do concreto quando submetido a elevadas temperaturas. Um
concreto de utilização comum em nossa região, com cimento e agregados usuais, misturados em proporções também usuais (traço), foi submeti-
do a temperaturas de 300 °C, 600°C e 900 °C , de maneira a se avaliar prováveis alterações na resistência à compressão, na resistência à tração
e no módulo de deformação deste concreto. O efeito do resfriamento rápido do concreto, usual em intervenções de combate a incêndios, foi
avaliado; alguns dos corpos-de-prova submetidos às altas temperaturas estipuladas foram resfriados rapidamente e outros foram resfriados len-
tamente (ao ambiente). A recuperação provável das propriedades mecânicas analisadas, com a reidratação do concreto – com possível redução
após o efeito das altas temperaturas aplicadas - também foi avaliada; corpos-de-prova submetidos às altas temperaturas estipuladas e resfriados
lentamente, foram parte imersos em água e parte envoltos em filme plástico e a seguir, cada parte correspondente foi avaliada, em relação às
propriedades do concreto pesquisadas, para as idades do concreto de 28, 56, 112 e 224 dias após o resfriamento lento. Ao final deste trabalho,
importantes resultados sobre o efeito de altas temperaturas nas propriedades mecânicas do concreto puderam ser obtidos; contribuindo, em
muito, para o estabelecimento de parâmetros para o projeto de recuperação de estruturas submetidas ao efeito do fogo.
a
Doutoranda, Departamento de Estruturas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, UNICAMP, [email protected] ,
Rua Saturnino de Brito, 135, Cidade Universitária Zeferino Vaz, Barão Geraldo, Campinas, SP, Brasil, cep: 13083 - 852;
b
Professor Doutor , Departamento de Estruturas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, UNICAMP, [email protected] ,
Rua Saturnino de Brito, 135, Cidade Universitária Zeferino Vaz, Barão Geraldo, Campinas, SP, Brasil, cep: 13083 - 852;
Received: 28 Sep 2009 • Accepted: 27 Aug 2010 • Available Online: 17 Dec 2010
© 2010 IBRACON
A. A. A. de SOUZA | A. L. MORENO JR
1. Introdução
Os danos causados por um incêndio a uma estrutura de concreto
podem ir desde uma simples descoloração ou mancha produzida
pela fumaça, ou a completa destruição do elemento por perda de
sua resistência mecânica.
Esses efeitos do fogo, assim como sua intensidade e extensão,
estão diretamente condicionados à capacidade que o edifício,
submetido ao incêndio, possui para contribuir com o seu desen-
volvimento.
Infelizmente, não há como a segurança contra incêndios ser abso-
luta; assim, essa segurança consiste em reduzir os riscos median-
te adoção de uma série de medidas que, na maioria das vezes,
tem caráter apenas preventivo.
A experiência que se tem do comportamento das estruturas de
concreto armado frente ao fogo é muito escassa. Devido às dificul-
dades que, obviamente, se apresentam para a realização de en-
saios em escala real de uma estrutura, os dados conhecidos, em
sua maioria, são resultados de ensaios de laboratório efetuados
sobre elementos isolados da edificação e de experiências colhidas
de edificações incendiadas involuntariamente.
O presente trabalho apresenta resultados de avaliação experi-
mental do efeito de altas temperaturas nas propriedades mecâni-
cas do concreto. Tem por finalidade principal, prestar contribuição
ao meio técnico no estabelecimento de parâmetros para o projeto
de recuperação de estruturas submetidas ao efeito do fogo.
Malhotra [6], justifica esta diferença devido a fatores como: dife- 3. Avaliação experimental do
renças de tensões atuantes e da condição de umidade do con- concreto quando submetido à
creto enquanto este se encontra sob aquecimento; diferenças na elevadas temperaturas
duração da exposição à temperatura elevada; diferenças de pro-
priedades físicas e mecânicas dos agregados, etc. 3.1 Ensaios de caracteriazação dos materiais
Um fator que pode ser colocado como de grande influência no efei-
to de altas temperaturas nas propriedades mecânicas do concreto Corpos-de-prova cilíndricos de concreto, com 10 centímetros de
é a velocidade do resfriamento. A aplicação de água em um incên- diâmetro e 20 centímetros de altura, foram executados com ci-
dio, por exemplo, equivale a um resfriamento brusco, causando mento e agregados usuais, misturados em proporções também
uma grande redução de resistência devido aos intensos gradien- usuais (traço).
tes de temperatura que se originam no concreto, Figura [1]. O traço utilizado garantiu um abatimento de 15 cm, obtido de
Finalmente, é importante observar que parte deste decréscimo, acordo com a NBR NM 67 – Determinação da consistência pelo
nas propriedades mecânicas do concreto, resultante de seu aque- abatimento do tronco de cone [8]. A proporção dos materiais, em
cimento, pode ser recuperado com a rehidratação. Segundo Câ- peso, utilizada foi de 1:3:3 (cimento, areia, brita). A relação água/
novas [7], se a temperatura do concreto não ultrapassa os 500°C, cimento empregada igual a 0,60.
este pode sofrer uma reidratação posterior; que pode fazê-lo recu- O cimento utilizado foi o CPII-32.
perar até 90% de sua resistência inicial após um ano. A areia utilizada no concreto foi uma areia média, apresentada na
Desta maneira, uma generalização ampla dos resultados obtidos tabela [2], conforme especificações da NBR 7211/05 [9].
por diferentes pesquisadores é muito difícil; sem a devida consi- O concreto foi preparado de acordo com as especificações da
deração dos fatores anteriormente assinalados na interpretação NBR 12821 – Preparação de concreto em laboratório [10] e os
destes vários resultados. corpos-de-prova foram moldados de acordo com a NBR 5738 –
Moldagem e cura de corpos de prova cilíndricos ou prismáticos Após esse processo de resfriamento rápido, os corpos-de-
de concreto [11]. prova foram ensaiados, à compressão e à tração, para que os
resultados obtidos fossem comparados com os obtidos para o
3.2 Ensaios principais – procedimento concreto sem aquecimento.
Os 54 corpos-de-prova restantes foram resfriados lentamente.
Para cada temperatura analisada, 300 °C, 600 °C e 900 °C, Após ter sido atingida a temperatura estipulada, os mesmos
foram executados 66 corpos de prova de concreto. Estes cor- permaneceram dentro do forno e a temperatura foi reduzida,
pos de prova foram ensaiados para a avaliação dos efeitos da gradualmente, à uma taxa de 1°C/min, até que fosse atingida a
temperatura sobre a resistência à compressão, sobre a resis- temperatura ambiente.
tência à tração e sobre o módulo de deformação longitudinal Após o resfriamento lento, 6 corpos-de-prova foram retira-
do concreto. dos do forno e ensaiados, para que seus resultados fossem
Decorridos 3 meses de sua concretagem, e tendo-se estabilizado comparados com os obtidos para os corpos-de-prova sem
o ganho de resistência à compressão do concreto, 6 corpos de aquecimento e para os corpos-de-prova submetidos ao res-
prova foram ensaiados para que fossem avaliadas as proprieda- friamento rápido.
des mecânicas citadas. Dos 6 corpos-de-prova, 3 foram subme- Dos 48 corpos-de-prova restantes, 24 foram imersos em água e
tidos à compressão e 3 à tração. Dos 3 CP’s submetidos à com- 24 foram envolvidos por filme plástico.
pressão, em 2 deles foi obtido, também, o módulo de deformação De cada grupo destes 24 corpos-de-prova, 6 foram avaliados em
longitudinal do concreto.
Cada grupo de 60 corpos de prova restantes foi submetidos à tem-
peratura estipulada - 300 °C, 600 °C ou 900 °C.
O aquecimento foi gradual, a uma taxa de 15°C/min, partindo–se
de uma temperatura inicial de 25°C, fixada como temperatura am-
biente, para todos os corpos de prova.
Atingida a temperatura final, os corpos de prova permaneceram
nesta condição por período de tempo correspondente a 2 horas,
para que toda a massa de concreto atingisse a mesma tempera-
tura. Ao final deste período, 6 deles foram resfriados rapidamente,
por imersão em água corrente.
temperaturas estipuladas. Desta maneira, as tabela [4]; [5]; [6]; [7]; 5. Avaliação dos resultados
[8]; [9]; [10] e [11] apresentam resultados expressos em relação
aos padrões estipulados. Os resultados experimentais para redução da resistência à com-
Devido a intensa microfissuração, resultante do resfriamento rápido, pressão e módulo de elasticidade foram comparados com a cur-
todos os corpos-de-prova submetidos a temperatura de 900 °C se va de redução dessas propriedades apresentadas na NBR 1500
partiram; motivo pelo qual não estarem apresentados os resultados (ABNT, 2004) na Figura [2]. Os valores experimentais para a re-
relativos a esta temperatura, para o caso do resfriamento rápido. sistência à compressão são próximos aos da curva da NBR, so-
Os valores obtidos nas tabelas citadas, relacionados às tempe- mente para a temperatura máxima de aquecimento igual a 600°C
raturas de 300OC e 600OC foram obtidos do trabalho de pesquisa houve diferença significativa, mas esta apresentou redução menor
de Doro [12]. do que a da Norma.
Em relação ao módulo de elasticidade as diferenças entre os valo- temperatura de 600 °C, o concreto perde não só a água livre, mas
res experimentais e os valores da Norma foram observados para também a água contida no gel do cimento, provocando, como con-
as temperaturas máximas de 300°C e 600°C, com maior redução seqüência, um alto grau de fissuração superficial. Os agregados
e menor redução, respectivamente. se expandem dando lugar a tensões internas que prejudicam a
Os resultados apresentados nas Figuras [3]; [4] e [5], evidenciam resistência à compressão do concreto.
forte decréscimo da resistência à compressão a partir de 600 °C, Observa-se também que os corpos-de-prova conservados imersos
quase que se anulando para temperaturas próximas à 900 °C. em água, vão recuperando parte de sua resistência à compressão
Este resultado, em maior ou menor grau de redução, já era es- inicial com o passar do tempo, reidratando-se. Esta reidratação
perado tendo por base estudos anteriores sobre o assunto. Na é tanto maior quanto menor a temperatura a que foi submetido o