Lei de Biot Savart

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Universidade Estadual de Feira de Santana.

Departamento de Física. Eletromagnetismo 1F.


Campo Magnético
Professor: Antonio Neto

1 – Campo magnético criado por corrente elétrica


Vamos agora investigar como uma correte elétrica cria um campo
magnético.
Vimos que a lei de Coulomb relaciona o campo elétrico com as cargas que
o geram. Queremos agora, de forma semelhante, encontrar uma expressão
matemática que relacione o campo magnético com a corrente que o gere.
Consideremos um fio de forma arbitrária que transporta uma corrente i.
Um elemento de corrente 𝑖 𝑑𝒍 produzirá em um ponto P do espaço, a uma
distância r do fio, o campo dB dado por, no SI,
𝜇0 𝑖 𝑑𝒍 × 𝒓̂
𝑑𝑩 = (1)
4𝜋 𝑟 2
onde 𝜇0 é uma constante denominada constante de permeabilidade
magnética do vácuo, cujo valor exato é
𝑁
𝜇0 = 4𝜋𝑥10−7 (2)
𝐴2
A Eq. (1) é conhecida como lei de Biot-Savart. Observe que ela é uma lei do
inverso do quadrado, como a lei de Coulomb.
Integrando a Eq. (1) sobre um circuito fechado temos que

𝜇0 𝑖 𝑑𝒍 × 𝒓̂
𝑩= ∮ (3)
4𝜋 𝐶 𝑟2
Lembrando que |𝑱|𝐴 = 𝑖, podemos escrever (1) em termo da densidade de
corrente 𝑱
𝑖 𝑑𝒍 = |𝑱|𝐴 𝑑𝒍 = 𝑱 𝐴|𝑑𝒍| = 𝑱 𝑑𝑉 (4)
Usando (4), (1) torna-se
𝜇0 𝑱 × 𝒓̂
𝑑𝑩 = dV (5)
4𝜋 𝑟 2
Portanto, o campo magnético é dado por

𝜇0 𝑱 × 𝒓̂
𝑩= ∫ dV (6)
4𝜋 𝑉 𝑟 2

Exemplo 1 – Campo magnético devido a uma carga em movimento.


Lembrando que 𝑱 = 𝑛 𝑞 𝒗, temos que

𝜇0 𝑞 𝒗 × 𝒓̂
𝑩= ∫ n dV (7)
4𝜋 𝑉 𝑟2
Como n dV é o número de partículas no volume dV, a Eq. 7 pode ser vista
como a contribuição total de todas as cargas para o campo magnético e,
portanto, uma partícula de carga qi com velocidade 𝒗𝒊 produzirá um campo
dado por
𝜇0 𝑞𝑖 𝒗𝒊 × 𝒓̂
𝑩𝒊 = (8)
4𝜋 𝑟2
Consideremos uma carga q com velocidade v na região do campo criado
pela carga qi. A força magnética sobre a carga q devido a carga 𝑞𝑖 é dada por
𝜇0 𝑞 𝑞𝑖
𝑭𝒎 = 𝑞 𝒗 × 𝑩 𝒊 = 𝒗 × (𝒗𝒊 × 𝒓̂) (9)
4𝜋 𝑟 2
É interessante comparar a força magnética com a força elétrica entre duas
cargas elétricas q e qi. dada por
1 𝑞 𝑞𝑖
𝑭𝒆 = 𝒓̂ (10)
4𝜋𝜀0 𝑟 2
Vemos que a força magnética é mais complicada que a força elétrica devido
a depedência das velocidades das partículas e dos produtos vetoriais. Mas
há semelhança entre elas: ambas depende do produto das cargas e decaem
com o inverso do quadrado da distância entre as partículas. Por outro lado,
enquanto a força elétrica possui direção ao longo da linha que une as duas
cargas, a força magnética não; ela está no plano definido por r e 𝒗𝒊 e,
portanto, a força magnética não é central.
Queremos agora comparar as magnitudes das forças magnética e elétrica.
Usando (10) podemos escrever (9) como
𝒗 𝒗𝒊
𝑭𝒎 = × ( × 𝑭𝒆 ) (11)
𝑐 𝑐
onde usamos que 𝜇0 𝜀0 = 𝑐 2 , onde c é a velocidade da luz no vácuo. De (11)
vemos que
𝐹𝑚 𝑣𝑣𝑖
≤ 2 (12)
𝐹𝑒 𝑐
Se as velocidades das partículas forem pequenas comparadas com a
velocidade da luz, temos que 𝐹𝑚 ≪ 𝐹𝑒 . Contudo, há muitas situações em que
a força magnética é mais importante. Quando temos uma corrente de
condução, por exemplo, as cargas positivas e negativas do material são iguais
em valores absolutos, o que produz um campo elétrico macroscópico nulo.
Por sua vez, as cargas em movimento (a corrente elétrica) geram um campo
magnético não nulo.

Exemplo 2 – Campo magnético devido a um fio retilíneo, longo,


transportando uma corrente i.

O campo dB criado no ponto P a uma distância R do fio pelo elemento de


corrente 𝑖 𝑑𝒍 é
𝜇0 𝑖 ⎹𝑑𝒍 × 𝒓̂
𝑑𝑩 =
4𝜋 𝑟 𝟐
Mas
⎹𝑑𝒍 × 𝒓̂⎹ = 𝑑𝑧 𝑠𝑒𝑛(𝜋 − 𝛽) = 𝑑𝑧 𝑠𝑒𝑛 𝛽
Por sua vez
𝑅
𝑠𝑒𝑛 𝛽 = = cos 𝛼
𝑟
Então
𝜇0 𝑖 𝑑𝑧 cos 𝛼 𝜇0 𝑑𝑧 cos 𝛼
𝑑𝐵 = =
4𝜋 𝑟𝟐 4𝜋 (𝑅 2 + 𝑟 2 )
Mas
𝑧 = 𝑅 𝑡𝑔𝛼 → 𝑑𝑧 = 𝑅 𝑠𝑒𝑐 2 𝛼 𝑑𝛼
Então
𝜇0 𝑖 𝑅 𝑠𝑒𝑐 2 𝛼 cos 𝛼 𝑑𝛼 𝜇0 𝑖 𝑠𝑒𝑐 2 𝛼 cos 𝛼 𝑑𝛼 𝜇0 𝑖
𝑑𝐵 = = = cos 𝛼 𝑑𝛼
4𝜋 (𝑅 2 + 𝑅 2 𝑡𝑔2 𝛼) 4𝜋𝑅 (1 + 𝑡𝑔2 𝛼) 4𝜋𝑅
Assim, o campo total é
𝜇0 𝑖 𝜋/2 𝜇0 𝑖 𝜋 𝜋
𝐵 = ∫ 𝑑𝐵 = ∫ cos 𝛼 𝑑𝛼 = [𝑠𝑒𝑛 ( ) − 𝑠𝑒𝑛 (− )]
4𝜋𝑅 −𝜋/2 4𝜋𝑅 2 2
𝜇0 𝑖
𝐵= (13)
2𝜋𝑅
Em forma vetorial temos que
𝜇0 𝑖
𝑩= ̂
𝝋 (14)
2𝜋𝑅
̂ é um vetor unitário tangente ao círculo.
onde 𝝋
As linhas de campo magnético de um fio percorrido por uma corrente são
círculos concêntricos em relação ao fio e seu sentido é dado pela regra da
mão direita (Figura abaixo)
Exemplo 3 – Campo magnético de uma espira circular no eixo da espira

Consideremos uma espira circular de raio R percorrida por uma corrente i.


Queremos calcular B num ponto P do eixo z. Como o plano POY é
perpendicular a dl, então r e dl são perpendiculares entre si, logo
⎹𝑑𝒍 × 𝒓̂⎹ = 𝑑𝑙
De acordo com a lei de Biot-Savart, o campo dB criado por este elemento
de corrente é perpendicular a este plano e, portanto, é perpendicular a 𝒓̂.
Podemos decompor dB em duas componentes: dBz ao longo do eixo da
espira e dBy perpendicular a ele. Somente dBz contribui para o campo
magnético total já que, pela simetria, a soma de todos os componentes de
B perpendiculares ao eixo é zero. Então a magnitude do campo resultante
é

𝐵 = ∫ 𝑑𝐵𝑧 = ∫ 𝑑𝐵 cos 𝛼

Mas
̂
𝜇0 𝑖 ⎹𝑑𝒍 × 𝒓⎹ 𝜇0 𝑖 𝑑𝑙
𝑑𝐵 = =
4𝜋 𝑟𝟐 4𝜋 𝑟 𝟐

𝑅 𝑅
cos 𝛼 = =
𝑟 √𝑅 2 + 𝑧 2
Logo
𝜇0 𝑖𝑅
𝐵= ∮ 𝑑𝑙
4𝜋(𝑅 2 + 𝑧 2 )3/2
Mas ∮ 𝑑𝑙 = 2𝜋𝑅, então
𝜇0 𝑖 𝑅 2
𝐵 (𝑧 ) =
2(𝑅 2 + 𝑧 2 )3/2
Na forma vetorial
𝜇0 𝑖 𝑅 2
𝑩(𝑧) = 𝒛̂ (15)
2(𝑅 2 + 𝑧 2 )3/2
No centro da espira temos que
𝜇0 𝑖
𝑩 (𝑧 = 0 ) = 𝒛̂ (16)
2𝑅

2 – Lei de Ampére
A lei de Ampére na forma integral relaciona a circulação do campo
magnético através de um caminho fechado com a corrente que atravessa a
área delimitada pelo caminho

∮ 𝑩. 𝑑𝒍 = 𝜇0 𝑖 (17)
𝑪
onde i é a corrente total que atravessa o circuito e C é uma curva fechada
arbitrária. A corrente í está relacionada com a densidade de corrente J pela
equação

𝑖 = ∫ 𝒋. 𝒏
̂ 𝑑𝑆 (18)
𝑺

Então temos que

∮ 𝑩. 𝑑𝒍 = 𝜇0 ∫ 𝒋. 𝒏
̂ 𝑑𝑆 (19)
𝑪 𝑺

Pelo teorema de Stokes temos que

∮ 𝑩. 𝑑𝒍 = ∫ 𝛁 × 𝑩. 𝒏
̂ 𝑑𝑆 (20)
𝑪 𝑺

Logo

∫ 𝛁 × 𝑩. 𝒏
̂ 𝑑𝑆 = 𝜇0 ∫ 𝒋. 𝒏
̂ 𝑑𝑆
𝑺 𝑺

O que implica que


𝛁 × 𝑩 = 𝜇0 𝒋 (21)
que é a lei de Ampére na forma diferencial. Podemos ver que a equação
acima não pode ter validade universal. De fato, tomando o divergente da
lei de Ampere temos que
𝛁 ∙ 𝛁 × 𝑩 = 0 = 𝜇0 𝛁 ∙ 𝒋 (22)
O que implica que 𝛁 ∙ 𝒋 = 0, o que é verdadeiro apenas para corrente
estacionária.
A lei de Ampére é útil para o cálculo do campo magnético em situações que
apresentam simetria suficiente que permitam o cálculo da integral de
caminho da Eq. 17. Nesse sentido, a lei de Ampére desempenha no
magnetismo um papel semelhante à lei de Gauss na eletrostática. Veremos
a seguir algumas aplicações da lei de Ampére para a obtenção do campo
magnético para algumas distribuições de corrente.
Exemplo 3 – Considere um fio cilíndrico, de raio a, muito longo, que
transporta uma corrente i. Calcule o campo magnético dentro e fora do fio.
Solução. Pela simetria axial as linhas de força do campo B são círculos
concêntricos e a magnitude de B não varia nos pontos de um mesmo
̂ . Escolhendo como caminho amperiano um círculo
círculo. Assim, 𝑩 = 𝐵𝝋
de raio r<a, temos que

̂. 𝝋
∮ 𝑩. 𝑑𝒍 = ∮ 𝐵 𝑑𝑙 𝝋 ̂ = 𝜇0 𝑖𝑖𝑛𝑡
𝑪 𝑪

onde 𝑖𝑖𝑛𝑡 é a corrente no interior do caminho amperiano de raio r, dado por


𝑟
𝑖 𝑖
𝑖𝑖𝑛𝑡 ̂ 𝑑𝑆 = ∫ 𝑗 𝑑𝑆 = 2 ∫ 2𝜋 𝑟 ′ 𝑑 𝑟 ′ = 2 𝑟 2
= ∫ 𝒋. 𝒏
𝑺 𝑺 𝜋𝑎 0 𝑎
Então

𝑖 2
∮ 𝐵 𝑑𝑙 = 𝐵 ∮ 𝑑𝑙 = 𝜇0 𝑟
𝑪 𝑪 𝑎2
ou ainda
𝑖 2 𝜇0 𝑖 𝑟
𝐵 2𝜋𝑟 = 𝜇0 𝑟 → 𝐵=
𝑎2 2𝜋 𝑎2
Em forma vetorial
𝜇0 𝑖 𝑟
𝑩= ̂
𝝋 (23)
2𝜋 𝑎2
Na região externa ao fio temos que

∮ 𝑩. 𝑑𝒍 = 𝐵 ∮ 𝑑𝑙 = 𝜇0 𝑖
𝑪 𝑪

𝜇0 𝑖
𝐵 2𝜋𝑟 = 𝜇0 𝑖 → 𝐵=
2𝜋𝑟
Em forma vetorial
𝜇0 𝑖
𝑩= ̂
𝝋 (24)
2𝜋𝑟

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