Colisão Caótica - Camila Carneiro - Nodrm

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COLISÃO CAÓTICA

TRILOGIA | DOIS

COPYRIGHT © 2024 CAMILLA CARNEIRO


Todos os direitos reservados

Esta obra foi revisada conforme o Novo Acordo Ortográfico.

Estão proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer


parte desta obra, através de quaisquer meios ― tangível ou intangível ―
sem o devido consentimento. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido pela Lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Esta obra literária é uma ficção. Qualquer nome, lugar, personagens


e situações são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com
pessoas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Capa: L Chagas Design.


Diagramação: L. Júpiter.
Revisão: Stephany Cardozo Gomes.
Leitura sensível: Isamara Gomes.
Sinopse: Georgia Hartmann.
Ilustração:
Colisão Caótica
[Recurso Digital] /Camila Carneiro — 1ª Edição; 2024
1. Romance Contemporâneo 2. Literatura Brasileira 3. New Adult 4. Ficção I. Título.
Preparados para acompanharem de perto a colisão entre Ethan Scott
e Violet Woods?
Eles não iam ter livros.
Eles não iam existir, na verdade.
Ethan e Jess eram para ser o casal do momento; inseparáveis.
Mas… não era para ser eles. Não podia. Não quando Violet queria
contar sua história e encontrou em Ethan um amor que acreditava não
existir.
Eles são dois extremos. Não combinam em um primeiro momento,
porém, são as diferenças que os fizeram se complementarem tão bem.
Entrego uma linda história não só de amor romântico, mas também
de amor materno, familiar e entre amigos.
E apesar de eu falar muito de amor, também preciso falar do que não
é amor. É por isso que quero deixar avisado que Colisão Caótica é um livro
para maiores de 18 anos, onde é retratado violência doméstica, abuso
psicológico e físico, além de conteúdo de sexo explícito, uso de bebidas
alcoólicas e drogas.
Para aqueles que iniciarão a leitura, desejo que vocês passem um
ótimo tempo com Ethan e Violet. Peço que tenham paciência com eles.
Com os temas abordados. Que comecem com o coração aberto e dispostos a
os conhecerem melhor.
Eles valem a pena.
Assim como você.
Com amor,
Cami.
Para Isa, a melhor pessoa que conheci nos últimos anos e aquela que faz
meu coração se apertar de saudades todos os dias. Para sua Brooke e seu
Kai: aposto que eles amariam conhecer Ethan e Violet, assim como eu
também amo você e sua amizade.
Para todos aqueles que não encontraram em suas famílias, uma família de
verdade: nossos amigos podem ser exatamente as pessoas que precisamos
para ocupar esse papel. Você não está sozinho. O universo sempre tem uma
maneira de colocar as pessoas certas nas nossas vidas e muitas vezes, elas
vêm com o laço que não é de sangue, mas é muito maior e melhor.
clique aqui para acessar a playlist de Colisão Caótica ou escaneie o código
abaixo;
Eles esperavam que eu encontrasse algum lugar
Alguma perspectiva, mas eu sentei e olhei
Exatamente onde você me deixou
Você me deixou sem, você me deixou sem
Você me deixou sem escolha, a não ser ficar aqui para sempre
right where you left me | Taylor Swift

— Acho que deveríamos terminar.


Ninguém nos prepara para esse momento.
O momento em que o mundo parece parar. Que o seu coração bate
tão forte, a ponto de você acreditar que ele vai explodir dentro do seu peito.
Que te faltam não só palavras para reagir, como ar nos seus
pulmões.
Você pisca, atordoado, processando as quatro palavrinhas que
tiraram seu chão. Você se ajeita na cadeira do restaurante. Você passa a
língua pelos lábios ressecados. Você toca a caixinha no bolso da calça
social.
Aquela que você comprou há alguns meses, e só estava esperando a
hora certa.
Que deveria ter sido hoje.
Você… não, eu.
Eu fico tão impactado com a fala de Jess, que ela mesma percebe o
meu estado. Sua cara se desmancha. Ela estende a mão por cima da toalha
branca na mesa e toca a minha com cuidado, entrelaçando nossos dedos.
Com a outra, ela joga os cabelos cacheados castanhos para trás do ombro, e
seus olhos marrons não desviam dos meus. A pele branca é ressaltada pela
luz amarela do restaurante. Seu vestido amarelo, sua cor favorita, parece a
escolha perfeita para a ambientação.
Seria ainda mais para o que eu planejava fazer.
No entanto, ao contrário de todas as vezes em que ela me já me
olhou, nesses tantos anos de relacionamento, é algo diferente que vejo em
suas írises.
Culpa.
Medo.
Tristeza.
Confusão.
Ela parece estar perdida.
Eu estou em completo caos.
— Como? — Finalmente consigo forças as palavras a saírem da
minha boca.
Ainda em choque.
Ainda sem ter a capacidade de me mover.
Sinto que se eu não fizer nenhum movimento, nada vai mudar. Tudo
continuará como está, e o que foi dito anteriormente, será apenas fruto da
minha imaginação fértil.
— Estamos juntos há anos, Ethan — Jess volta a falar, apertando
delicadamente minha mão com a sua. — Nós vivemos um pelo outro
desde… caramba, desde sempre. Você foi meu primeiro em tudo. Eu fui sua
primeira em tudo. E… e eu não sei. Eu acho que pode ser uma boa ideia
darmos um tempo enquanto eu estiver na Espanha, fazendo o intercâmbio.
Para… nos conhecermos. Entende o que quero dizer?
Engulo em seco.
Desvio os olhos para o prato ainda cheio na minha frente e noto que
todo meu apetite foi embora.
Respiro fundo e retorno a olhar a Jess.
Minha namorada.
O grande amor da minha vida.
Aquela que eu planejava fazer minha noiva nessa noite.
— Eu me conheço e conheço você. Muito bem, aliás — digo,
preparando as melhores palavras para expressar o que quero. Ela morde o
cantinho do lábio inferior, e consigo sentir por debaixo da mesa, ela
descruzando as pernas. — E eu gosto, não, eu amo, o que conheço de você,
Jess. Eu quero você. Para sempre.
Agora, é a vez dela de desconectar nossas írises.
Sua mão continua junto à minha, e eu aperto seus dedos.
Quando ela volta à nossa conversa, seus olhos estão com as lágrimas
acumuladas.
E eu odeio vê-la chorar.
Prefiro perder um grande show da The Chaotic Misfits, minha
banda, do que ver minha garota sofrer.
— Jess… não precisamos fazer isso. Podemos fazer dar certo. São
apenas seis meses. Nos ligamos todos os dias, mandamos mensagem, e eu
posso via…
— Ethan. — Sua voz imponente me faz parar no mesmo instante.
Ela balança a cabeça em negativa, deixando que uma lágrima solitária
deslize pelo seu rosto. — Eu preciso fazer isso. Preciso conhecer a Jessica
Flores pessoa, não a namorada do Ethan Scott. E… e eu não sei se ela ainda
está aqui dentro. Parece que eu me perdi de mim mesma. Algo está
faltando… não sei como explicar. Só sei que tenho que descobrir quem é a
Jessica sem… você.
Ela está sofrendo com essa decisão tanto quanto eu, é perceptível.
Uma parte de mim compreende os motivos dela. Por mais que ela
esteja destroçando meu coração nesse momento, eu consigo entender —
mas não concordar — o que ela está querendo me dizer.
Nós estamos juntos há muitos anos. Desde a escola secundária,
caramba. Passamos por todas as fases da vida até aqui, um ao lado do outro.
Não nos desgrudamos, isso é verdade.
Mas… mas eu não achava que isso se tornaria um problema.
Somos — éramos? — dois jovens apaixonados.
Nosso futuro é junto.
Não é?
Então… por que ela está fazendo isso? Por que está destruindo a
gente?
— Eu te amo — é o que falo, não sabendo mais o que posso dizer
para fazê-la ficar.
— E eu também te amo, Ethan. Com todo meu coração. Isso nunca
foi problema. Eu só preciso me encontrar. Lembrar quem eu sou sem você.
Entende isso, não entende? — Aceno com a cabeça de forma positiva. —
Por isso quero que terminemos durante esse período. Eu vivo lá. Você vive
aqui. Livres. Quando eu voltar… a gente conversa sobre nós dois. O que
acha?
O sorriso gentil, porém, triste, atinge diretamente meu coração, que
está se despedaçando.
Não tenho outro caminho a seguir, a não ser concordar com o que
Jess quer.
Eu a amo e estou disposto a fazer dar certo durante esse tempo
separados. Caramba, eu estou pronto para pedi-la em casamento e
oficializar o nosso amor!
Todavia, ela não está pronta.
E eu entendo.
Não é o fim do mundo. Certo?
Ela vai voltar. Nós vamos conversar. Vou pedir sua mão. Ela vai
aceitar. Vamos nos casar e viver felizes para sempre.
Esse é o único final feliz da nossa história.
Está escrito há anos, e não vai ser um intercâmbio que vai mudar o
que sentimos um pelo outro.
Eu a amo.
Ela me ama.
Isso que importa.
Aprumo a postura no encosto da cadeira e sinto uma lágrima cair
pelo meu rosto também.
Esse não é o ponto final da gente.
É apenas um… hiatus, como o que as bandas fazem de vez em
quando. E no fim, elas sempre voltam.
Assim como nós.
— Tudo bem. Vamos fazer isso.
As palavras soam amargas quando ditas.
Eu não estou gostando dessa ideia. Nem um pouco.
Entretanto… se é o que Jess quer… é o que vamos fazer.
E quando ela voltar, vou mostrar o quanto a amo, e ela vai ver que
só existe ela para mim, assim como só existe eu para ela.
É assim agora.
Vai ser assim para todo o sempre.
Ethan e Jessica.
Jessica e Ethan.
Nós.
Pelo resto de nossas vidas.
Serei conhecido e amado?
Existe alguém que eu confio?
Começando a ficar sóbrio
Já faz tempo suficiente?
Borderline | Tame Impala

Um estudo publicado no Journal of Positive Psychology[1] afirma


que é preciso três meses — onze semanas, para ser mais exato — para
superar um coração partido.
Me colocando como uma das cento e setenta e cinco pessoas que
responderam a essa pesquisa, ainda estamos na semana número cinco.
Ou seja, ainda tenho seis longas pela frente, para superar o que
Jessica Flores significou para mim.
Mas como superar o insuperável?
Eu te digo: não há como.
Não posso fazer isso. Na verdade, não vai acontecer, porque em
breve ela estará de volta, e vou poder mostrar o quanto somos perfeitos um
para o outro. Esse pequeno tempo que demos no relacionamento é apenas
um obstáculo no nosso longo e brilhante futuro juntos, a fim de provar que
não há nada que nos faça desistir do nosso amor.
Nem mesmo os seis mil seiscentos e setenta e quatro quilômetros
que nos separam.
Nem mesmo sua sugestão de conhecermos outras pessoas.
Essa última realmente me deixou — ainda me deixa — um pouco
nervoso.
Eu não quero conhecer outras pessoas. Não preciso disso, para ser
honesto. Já sei que é Jess a pessoa certa para mim, para os restos das nossas
vidas. Caramba, eu a amo desde quando tínhamos quatorze anos! Nada vai
fazer isso mudar.
E tenho certeza que é o mesmo para ela.
Entendo que ela precise se distanciar um pouco dos Estados Unidos,
o lugar em que nascemos, crescemos e continuamos, até mesmo na
universidade, mesmo que em uma cidade diferente daquela onde passamos
nossa infância e adolescência. É desgastante estar no mesmo lugar há tanto
tempo. E conhecendo-a como a conheço, Jess não é a pessoa que gosta de
viver aprisionada.
Então… não, sua escolha de intercâmbio não foi uma surpresa para
mim.
Ela comentava há muito tempo que pretendia fazer isso em algum
momento de seus estudos. O grande choque foi ela ter decidido terminar e
aproveitar seus seis meses na Espanha. Lembrando de quem é a Jessica sem
o Ethan, conhecendo novas pessoas e claro, aprendendo um pouco mais do
espanhol, língua materna de sua família.
Por que, mesmo eu compreendendo todos os seus motivos, ainda
sinto que meu coração se quebra um pouquinho a cada dia?
Saco meu celular do bolso e abro na conversa com ela.

Eu: e aí? Como foi seu dia hoje?

Julgando pela diferença de seis horas entre nós, já passa das quatro
da tarde por lá.
Não obtenho resposta de imediato, o que é algo com que estou
aprendendo a lidar desde que ela viajou.
Quando ela estava aqui — quando estávamos juntos —, nossas
conversas duravam horas e mais horas, até nos encontrarmos pessoalmente
de novo.
Agora… não mais.
Mal conversamos, para dizer a verdade. São papos curtos, apenas
para saber como o outro está. Jess parece querer cortar um pouco dessa
intimidade, e eu respeito. Sei mais da vida dela pelas redes sociais, do que
pelo que ela me conta.
É estranho estar me acostumando com isso.
É estranho vê-la se tornar uma estranha para mim.
Só mais cinco meses, e vocês poderão viver felizes para sempre.
É isso que vem me mantendo vivo nessas semanas.
Suspiro, um pouco frustrado com toda essa situação.
Bem, ao menos eu tenho a The Chaotic Misfits para me distrair.
Minha banda.
Composta por mim na bateria, James Crawford na guitarra e
microfone, e Paxton Miller no baixo, nós estamos cada vez mais nos
tornando conhecidos pela cidade. Nossa presença é confirmada todo fim de
semana em algum bar ou festa diferente. Ensaiamos quase todos os dias na
garagem da casa dos meus pais.
É… é foda pra caramba poder fazer música com eles.
Poder crescer ao lado desses dois garotos que se tornaram uma
família para mim nesses últimos anos é do caralho.
Tudo começou quando Jess passou a dividir apartamento com
Cassie Brown, na época, melhor amiga do nosso cantor e guitarrista — hoje
em dia, namorada —, e James e eu fomos apresentados. Conversa vai,
conversa vem, descobrimos que compartilhávamos a paixão pela música.
Logo depois, lembrei de Pax, um grande amigo com quem estudei por
alguns anos no colégio e que era excepcional no baixo.
Não demorou muito para que a The Chaotic Misfits nascesse.
E com certeza, não vai demorar para alcançarmos o sucesso.
— Preciso que você me esconda. — É a voz de Paxton que me tira
dos devaneios pelo campus da universidade.
Olho para o lado e encontro um dos meus melhores amigos,
pendurado em um dos meus braços, tentando… se esconder de alguém.
Seus cabelos loiros e um pouco queimados de sol, por conta do verão, estão
bagunçados, como se não tivesse os penteado antes de sair de casa. Os
olhos azuis cristalinos encaram qualquer ponto do jardim, menos seu lado
direito. O moletom azul marinho está um pouco sujo de bituca de cigarro na
manga, e eu preciso me segurar para não revirar os olhos.
Não gosto dele fumando por aí.
Não que minha opinião importe.
Pax faz o que ele quer, quando quer.
Deve ser por isso que sempre está quebrando corações por toda
faculdade.
— Quem você iludiu dessa vez? — pergunto, já imaginando que
seja disso que se trata.
Bobo como é, ele leva a mão livre ao seu peito, e uma expressão de
espanto toma conta do seu rosto.
— Você pensa tão mal de mim assim?
Abro um sorriso desacreditado.
— Vai dizer que agora você que foi o iludido?
É a vez dele de sorrir, de forma sacana.
— Isso não vai acontecer nunca mais, meu amigo.
A última vez, mesmo que há alguns anos, e que eu não saiba da
história completa, ainda está marcada no coração dele.
— De quem estamos fugindo? — indago, quando ele começa a
apressar o passo, me fazendo imitá-lo, para não cair.
— Um cara do time de natação — ele pausa a explicação para olhar
rapidamente para nossas costas e suspira aliviado quando não vê ninguém.
— Transei com ele na última semana de férias, disse que ia ligar, não fiz
isso, e você já sabe o resto.
É claro que sei.
Paxton não fica com a mesma pessoa mais do que algumas vezes.
É a regra dele para sexo.
Algo que eu, Ethan Scott, nunca conseguiria fazer.
— Você vai se tornar gente em algum momento? — pergunto na
brincadeira, e mais uma vez, o sorriso de quem não vale nada aparece em
seus lábios.
— Você está precisando de algumas aulas na escola Paxton Miller
de relacionamentos, agora que está solteiro. — Estou pronto para corrigi-lo,
porém, ele é mais rápido. — Por tempo determinado, já sei. Já sei!
Odeio me referir a mim mesmo como solteiro.
— Ainda assim, você não pode entrar em celibato até Jess voltar.
Aposto que ela está se divertindo em terras espanholas — alfineta, e eu me
controlo para não dar um murro na cara do meu melhor amigo.
Não quero imaginar minha garota se envolvendo com qualquer cara
que não seja eu, muito obrigado.
Mesmo que haja grandes chances de isso acontecer por lá, eu prefiro
não ficar a par da vida sexual dela, quando não é comigo.
De qualquer forma, vamos superar tudo isso quando ela voltar.
— James esperou vinte anos por Cassie. Por que não posso esperar
seis meses por Jess?
— O que tem eu? — Meu outro melhor amigo, e último integrante
da The Chaotic Misfits, aparece de repente pelo nosso caminho e passa a
andar do meu outro lado.
— Ethan estava relembrando que você esperou que Cassie tirasse
sua virgindade — Paxton responde, alcançando o bolso de sua calça
enquanto fala.
— E valeu a pena — diz, piscando um dos olhos para nós.
Não foi por falta de opção que ele esperou pela melhor amiga —
garota por quem ele é apaixonado há mais de dez anos —, já que com os
cabelos escuros, olhos verdes hipnotizantes e a jaqueta de couro por cima
da pele branca, ele também é um colírio da Universidade de Schönilla[2].
— Viu? Posso segurar meu pau por alguns meses, Pax.
O loiro revira os olhos, acendendo o cigarro.
Eu nem gasto minha energia discutindo com ele o quanto isso é ruim
para sua saúde.
Já fiz isso demais, e não chegamos em lugar nenhum.
— Só porque você pode, meu amigo, não quer dizer que deve —
fala, tragando a droga lícita entre os dedos.
No entanto, eu quero.
É isso que ele não entende.
— Deixa o moleque em paz, Pax — James me defende, desferindo
um tapa de leve na nuca do nosso amigo.
— Obrigado!
— Vocês são uns chatos — reclama, e eu troco um olhar com James
com a provocação. — Como fui arrumar dois amigos amarrados a mulheres
nos nossos anos de faculdade, onde temos uma banda aclamada por todos?
Devo ter jogado pedra na cruz!
James e eu rimos do drama de Paxton.
— Você curte por nós dois, Pax, pode ter certeza disso — o
guitarrista e vocalista da The Chaotic Misfits relembra, e isso faz com o que
o sorriso sacana característico do loiro apareça em seu rosto.
— O que me lembra que… vamos tocar na boate Lust daqui a duas
semanas, para comemorar a vitória dos caras do basquete. Porra, finalmente
uma festa de verdade nessa merda!
— Não acham meio estranho já ter uma festa programada, mesmo
sem saber se eles vão ganhar? — questiono, um pouco intrigado com isso.
— Claro que não! Se ganharem, vamos comemorar. Se perderem,
será uma festa para alegrar os ânimos após derrota — é claro, Paxton quem
responde.
— Por incrível que pareça, isso faz sentido — James concorda, e eu
solto uma risada.
Concordarmos com Pax não é algo que acontece sempre.
— Estou sempre certo, rapazes. E como alguém que não erra,
anotem o que vou dizer: essa festa vai ser do caralho!
Não sei se estou tão animado assim para a minha primeira festa sem
Jess, no entanto, com certeza estou para estar em cima do palco novamente
com meus amigos para o primeiro show do semestre.
Vai ser do caralho mesmo!
Ninguém disse que mudar iria ser tão cansativo
Um pé no freio porque já vem me deixando enjoada
Como você pôde me culpar?
Crescer é tão caótico
chaotic | Tate McRae

Não me despedi dos meus pais antes de pegar o ônibus de Mount


Airy para Schönilla.
[3]

Não foi exatamente uma escolha.


Eles sabiam o dia da viagem, assim como o horário. Além de eu ter
dito várias e várias vezes para mamãe, ela fez questão de prender um post-it
na geladeira, para papai não esquecer.
Honestamente, eu não me importaria se ele esquecesse.
O que me machuca, é Ines Woods — minha mãe — não se lembrar
desse dia tão importante para mim.
O momento em que eu finalmente sairia do calabouço onde morei
durante toda minha vida e estaria livre.
Bem, não totalmente. Afinal, a escolha de cursar Ciência Política na
Universidade de Schönilla não foi à toa. Além de ser uma ótima
universidade, estando em bom lugar no ranking de melhores dos Estados
Unidos, ainda é, relativamente, perto de casa.
Perto o bastante para eu conseguir chegar em Mount Airy a tempo,
se mamãe precisar de mim.
Longe o suficiente para que ele não apareça por aqui.
Quando lembro que minha mãe não quis vir comigo, mesmo eu
bolando diferentes planos para fazer isso dar certo, parece que uma agulha
perfura mais uma parte do meu coração.
Eu não queria deixá-la lá. Queria que estivéssemos saindo juntas.
Tenho certeza que daríamos um jeito de sobreviver.
As garotas Woods sempre têm um jeitinho de consertar tudo.
Porém, ela não quis. Apesar de toda a insistência da minha parte, ela
estava irredutível.
Não vou com você, minha florzinha.
Você precisa viver esses anos universitários longe daqui.
Você tem que aproveitar com pessoas da sua idade, fazendo o que
jovens fazem, e não se preocupar com sua mãe velha te esperando em casa.
Pode ir, Violet, e eu vou ficar bem. Te prometo que sim. E você
sempre vai ter uma casa para voltar, caso precise, mas acredito que você se
dará muito bem sozinha.
Eu realmente espero que sim.
Não quero colocar os pés naquela casa novamente, a não ser se for
para tirá-la de lá.
Uma vez fora, eu não volto.
Nunca mais.
E para que eu consiga dar um jeito nele de uma vez por todas, a
universidade é o caminho mais seguro para isso.
O plano é simples e fácil de alcançar.
Fazer Ciência Política. Me formar com honras. Depois, aplicar para
faculdades de Direito. Dar o melhor de mim nos estudos mais uma vez e
passar com êxito no exame da ordem dos advogados, para que dessa forma,
ser contratada por um escritório de advocacia criminal não seja tão difícil.
É uma longa caminhada, sei muito bem disso, porém é o que tenho
que fazer pela minha mãe.
Por nós.
Eu saí, contudo, ela ainda está lá.
Não por muito tempo, repito mentalmente para mim mesma, depois
de conseguir entrar no elevador com as duas malas grandes e pesadas.
É doloroso lembrar que não estou mais em casa para tentar
apaziguar as coisas, mas… mas talvez seja melhor assim.
Quem sabe, sem mais uma pessoa para aturar, ele se acalme um
pouco.
Sonhar não é crime.
Empurro essas divagações para o fundo da mente, quando o
elevador finalmente chega no andar indicado no anúncio.
O apartamento em que vou morar nesse primeiro ano de faculdade.
Foi um achado maravilhoso.
Estava navegando pelos grupos de calouros e alguns veteranos pelas
redes sociais, procurando moradias perto do campus, quando vi o anúncio
desse lugar. O apartamento é composto por três quartos, e, no passado, três
meninas o dividiam. Entretanto, uma delas foi passar seis meses na
Espanha, para um intercâmbio, e a outra, se mudou para casa da namorada.
O que deixou a última integrante sozinha e precisando de alguém para arcar
com os custos.
De uma substituta.
Essa sou eu.
Toco a campainha, quando encontro a porta, e espero quase dois
minutos para que finalmente alguém a abra. E… uau.
Uau.
Puta merda.
Não consigo pensar direito quando estou de cara com uma das
garotas mais bonitas em que já tive o prazer de colocar os olhos, sorrindo
para mim.
Os cabelos castanhos lisos caem como cascatas pela sua frente,
tampando um pouco o vestido curto vermelho sangue. Ele é de um tecido
parecido com veludo, porém mais leve, e algumas rendas pretas enfeitam-
no também. As alças são finas, e o decote é sexy. Assim como as botas
pretas plataformas, que alcançam metade de suas canelas.
Não estavam brincando quando disseram nos filmes que as garotas
da faculdade são bizarramente bonitas.
Ela é a prova disso.
Minha bissexualidade está gritando dentro de mim, e tenho quase
certeza que posso babar a qualquer instante.
— Violet Woods, certo? — pergunta, e eu pisco, voltando à
realidade.
Devo ter feito um papel de palhaça.
Para de agir como uma otária que nunca viu uma mulher bonita na
vida, Violet.
— Isso, sou eu! Cassie, não é?
Ela acena positivamente com a cabeça e abre espaço para que eu
adentre o apartamento com as minhas coisas.
— Só trouxe isso? — questiona, quando fecha a porta atrás de mim,
e eu dou de ombros.
— Não preciso de muito — é o que escolho responder, tentando
sorrir de maneira divertida, e ela inclina um pouco a cabeça, me analisando.
— Gostei da blusa — elogia, apontando para o cropped que estou
vestindo.
Ele é preto, de mangas curtas e "I'm a sucker for guys in eyeliner"[4]
estampa o tecido em letras brancas.
Coloco meu sorriso sedutor em ação.
— Também sou louca por mulheres de delineado — flerto,
percebendo que uma linha preta marca suas pálpebras.
Cassie solta uma risada, e eu passo minha língua pelos lábios,
admirando-a.
— Eu tenho namorado, mas gostei da atitude — diz, completando o
fora com uma piscadinha.
Merda!
Como consegui dar em cima da minha colega de apartamento logo
no primeiro dia e ainda levar um toco?
— Desculpe! Mil desculpas, eu não sabia e… caramba, você é
muito bonita!
Eu não acredito que acabei de me desculpar jogando mais um flerte
para cima dela, mesmo sem segundas intenções.
— Você também é muito bonita, Violet — Cassie comenta,
amigável, e nem um pouco chateada com o erro. — E não precisa ficar
tensa! Você não sabia, e está tudo bem. Relaxa!
Solto o ar que não lembrava de estar segurando, me sentindo um
pouco mais aliviada.
Já passei por situações não tão agradáveis, dando em cima de
garotas — a maioria, hétero, é claro —, então, quando alguém faz o mínimo
e não fica puta comigo, é como um acalento para o coração.
Uma sensação de que nem todas as pessoas são ruins.
— Obrigada, Cassie.
Ela faz um gesto com a mão para que eu deixe para lá e passa por
mim, indo para o corredor do apartamento.
— Você já conheceu a sala, e a cozinha é a porta da sua direita. —
Volto minha atenção para o cômodo ao meu lado. É pequeno, mas
compacto. Exatamente como nas fotos e parece ter o essencial para duas
jovens em seus anos universitários. — Agora, vem! Vou te mostrar seu
quarto.
Arrasto as malas pela casa e sigo Cassie até a segunda porta à
direita, depois de ela abrir a primeira e mostrar o banheiro social.
— O meu quarto é o do final do corredor, e aquele — aponta para o
cômodo à esquerda, com a porta fechada — é o da Jess. Ela que está
fazendo o intercâmbio — explica, e eu assinto, acompanhando as
informações. — O seu é esse!
O quarto está vazio, como esperava. Os móveis são simples, porém
funcionais. Há uma cama no meio do quarto com roupas de cama novas, o
que Cassie disse que teria, assim que eu chegasse. O armário tem três portas
e fica ao lado do interruptor de luz, perto da porta de entrada. Abaixo da
janela há uma escrivaninha e um tapete felpudo no centro, deixando o
ambiente um pouco mais aconchegante, assim como as luzinhas de Natal na
cabeceira da cama.
— Você pode decorar como quiser, e Juliet deixou as luzinhas, se
não se importar.
— Não me importo. Deixa o quarto com muito mais sensação de…
— Casa? — Cassie sugere, completando a frase por mim, e eu
assinto.
Não que eu saiba o que é a sensação de segurança, conforto e
acolhimento dentro da própria casa — ou em qualquer outro lugar aqui —,
entretanto, creio que caso eu estivesse familiarizada com esse sentimento, o
meu novo quarto se encaixaria perfeitamente nessa definição.
— Eu vou sair agora, mas podemos conversar melhor amanhã. O
que acha? Definir algumas regras da casa e qualquer dúvida que você tenha
sobre a faculdade? Uma boa ideia?
— Perfeito — respondo, me sentando no edredom bege com cheiro
de amaciante.
Muito bom.
— Até mais, Vi — Cassie se despede e fecha a porta do quarto em
seguida.
Vi.
Ninguém nunca me chamou assim antes, e… e eu acho que gosto
desse apelido.
Da mesma maneira que gostei de Cassie Brown e sua simpatia.
Talvez os anos na universidade não sejam tão ruins. Talvez eu
consiga fazer amizades, algo que nunca aconteceu em Mount Airy, porque
eu não queria levantar suspeitas para a situação dentro de casa. Talvez eu
goste mesmo de estu…
Os pensamentos são interrompidos pela entrada de uma nova
mensagem no meu celular. Rapidamente, eu tiro-o do bolso da calça jeans e
abro no aplicativo de mensagens.

Mãe: oi, florzinha. Desculpe não estar em casa e te dar um abraço


de despedida! Papai e eu demoramos mais do que imaginamos na igreja.
Espero que tenha sido uma viagem agradável e que você tenha chegado
bem. Me liga quando puder, tá bom? Mamãe te ama muito!

Sei que ela não fez isso de maneira proposital, porque não é assim
que Ines Woods é.
Todavia, Winston Woods é assim. Na verdade, muito pior, na grande
parte das vezes.
Não me surpreenderia descobrir que ele arranjou um compromisso
logo depois da missa, para levar mamãe e fazê-la se atrasar.
Deus, se você realmente existe, proteja mamãe de todo mal e faça
alguma razão entrar na cabeça teimosa dela, para que ela venha morar
comigo em outra cidade, bem longe de Mount Airy.

Eu: cheguei bem, mãe. Assim que me instalar melhor e arrumar


minhas coisas, te ligo! Já estou com saudades e também te amo.

Queria que você estivesse aqui comigo, é o que não escrevo, mas
desejo com todas as forças.
Sei que preciso estar aqui para tirá-la da situação péssima em que se
encontra, porém, não diminui a culpa que sinto por tê-la deixado sozinha.
Só alguns anos, Violet, e você poderá dar uma vida melhor à sua
mãe.
Só alguns anos, é o que repito até pegar no sono na primeira noite
em Schönilla.
Mas você já me faz sentir alguma coisa
Agora, se eu conseguisse descobrir
Eu te levaria de volta para minha casa
Meddle About | Chase Atlantic

James dedilha as cordas da sua Fender Stratocaster[5] com a palheta


personalizada com as iniciais de Cassie Brown, sua namorada. Sua voz
controlada e atraente reverbera pelo pequeno estúdio de música que
construímos na garagem dos meus pais.
— Charcoal make it start and make me liked at times[6]. — Os olhos
do nosso guitarrista e vocalista estão presos em Cassie, que ocupa seu lugar
de sempre em uma das poltronas do ambiente, presente dos meus pais, uma
vez que ela e Jess passam bastante tempo aqui conosco.
Passava, me corrijo mentalmente, Jess passava muito tempo aqui.
— Look me down at queens all of the world [7]. — A voz de um dos
meus melhores amigos me tira dos pensamentos introspectivos e tristes, me
trazendo de volta à realidade.
Não posso me perder assim de novo. Sorte minha que estamos
ensaiando, e não em um show de verdade.
Respiro fundo e foco no que está acontecendo aqui e agora.
The Chaotic Misfits é o que importa nesse momento, nada mais.
Ninguém mais.
— Can you break sometimes? [8]
— Sometimes — Paxton e eu cantamos nos nossos microfones, em
estilo, vocais de apoio.
Não costumamos usar nossas vozes frequentemente, já que é James
o vocalista principal, com a voz rouca, sexy e hipnotizante, porém,
precisamos entrar algumas vezes.
Como nessa.
Charcoal Baby de Blood Orange, um dos cantores que mais
gostamos de performar em nossas apresentações.
Paxton desliza os dedos mágicos pelas cordas do seu Gibson EB-
3[9], um presente de Natal de sua avó. Ele definitivamente nasceu para
brilhar, não há dúvidas quanto a isso. Dentre nós três, é em Pax que você
consegue bater o olho e deduzir que foi feito para ser um rockstar.
Ele exala poder. Paixão pela música. Além de toda atmosfera
sensual, que parece encontrar lugar em volta dele.
Paxton Miller ainda está começando nesse mundo. Não há nada
capaz de impedi-lo de se tornar um dos maiores baixistas da nossa geração.
Se ele já não for.
Minhas mãos e pés agem por conta própria quando estou no meu
lugar preferido: no banco da Pearl Masters Maple Complete.[10] Não preciso
controlar meus movimentos, porque assim que as notas saem dos
instrumentos dos meus amigos ou quando a voz de James impregna o local,
eu já sei exatamente o que fazer.
Sendo modesto, eu sei que sou muito, muito bom no que faço.
Todavia… James, Paxton e eu somos extraordinários desde a
primeira vez.
Foi assim na primeira vez em que ensaiamos juntos, há quase três
anos, e continua da mesma forma nos dias atuais.
— Can you break sometimes? — James grita no microfone, e nós o
seguimos.
— Sometimes!
Ele abandona o olhar da namorada por alguns instantes, para trocar
olhares comigo e Pax, enquanto finalizamos a última música da noite e
trocamos sorrisos felizes e satisfeitos com a conclusão do ensaio de hoje.
É gratificante fazer aquilo que você ama com pessoas que você ama.
Mais um acorde do baixo, mais algumas batidas dos tambores e
pratos e por fim, a dedilhação das cordas da guitarra e…
— Nós somos a The Chaotic Misfits e agradecemos muito a
presença da mulher mais linda do mundo essa noite! — é claro que é James
quem termina a música assim, arrancando uma risada minha e de Pax e um
beijo com muita língua de Cassie.
Em outras circunstâncias, tenho certeza que nosso baixista soltaria
uma piadinha sobre a demonstração de afeto, no entanto, nós sabemos o
quão complicado foi o último ano para eles. Depois de uma amizade de
mais de dez anos, muitos obstáculos e problemas no caminho, James e
Cassie conseguiram admitir os sentimentos guardados há tanto tempo e
ficar juntos para valer.
Eles merecem se beijar de maneira exagerada de vez em quando.
Quando a pegação se encerra, os meninos e eu arrumamos os
instrumentos nas cases e deixamos o local o mais ajeitado possível para o
próximo ensaio. Enquanto isso, Cassie se encarrega de pegar algumas
cervejas na geladeira e colocá-las sobre a mesa de madeira no canto da
garagem, onde quatro cadeiras estão ao seu redor e um vaso com flores
enfeita o centro.
Minha mãe, é claro.
Meus pais não pensaram duas vezes ao largarem tudo em Carmel by
the Sea, nossa antiga cidade na Califórnia, e se mudarem para Schönilla,
quando descobri ter sido aceito na universidade. É claro que não foi tão
difícil, afinal, o cargo de diretor do departamento de informática de uma
empresa multinacional, que Arthur Scott ocupa, é fácil de continuar
exercendo de maneira remota, com algumas visitas esporádicas à sede do
outro lado do país.
E como Rebecca Scott também podia permanecer com sua lojinha
online de Amigurumis [11] de qualquer lugar do mundo, eles arrumaram suas
malas e me seguiram para cá.
Sei que não são todas as pessoas que possuem uma relação boa com
os pais e por isso, sou muito grato por ter pessoas que se importam tanto
comigo ao meu lado e ter o prazer de chamá-los de mãe e pai.
Os pais de Jess também curtiram a ideia dos meus virem para cá e
serem um pedaço da nossa cidade natal por aqui. Nossas famílias são
amigas há muitos anos, antes mesmo de nós nascermos, então, o senhor e a
senhora Flores ficaram extremamente aliviados e contentes pela filha ter
conhecidos na cidade nova para recorrer quando precisasse. A ideia
principal era ela morar com a gente, porém, depois de bater o pé no chão
diversas vezes, Jessica convenceu os pais a deixarem-na dividir
apartamento com algumas meninas.
É claro que na época, fiquei chateado com sua decisão, entretanto
hoje, percebo que foi ótimo. Dessa maneira, conheci James e trazendo
Paxton comigo, formamos a melhor realização da minha vida.
Depois de Jess.
Caramba, como pode ela nunca sair da minha cabeça?
— Ainda não acredito que Ethan não vai na primeira festa do
semestre — Cassie comenta, quando ocupamos as cadeiras ao redor da
mesa quadrada, cada um pegando uma cerveja long neck.
— É o que estou dizendo a porra da semana toda — Pax diz, antes
de levar a bebida à boca, e eu reviro os olhos de leve.
— Não estou a fim — é o que respondo, também bebendo um pouco
do álcool.
O que deixo de fora é que a última vez que fui em uma festa
universitária, eu estava com Jess e não quero substituir essa memória por
outra.
— É por conta da Jess? — James questiona, puxando a cadeira de
Cassie para mais perto da sua e deixando que a mão livre descanse na coxa
da garota.
Não quero mentir, então decido não responder.
Continuo bebendo e noto quando ele e Paxton trocam olhares.
— Porra, Ethan, não me diga que você não quer ir por causa da sua
ex-namorada? — Paxton me repreende, negando com a cabeça e claramente
decepcionado — Caralho! Ela está lá, curtindo os caras espanhóis, e você
vai negar uma mísera festa com seus melhores amigos?
Eu não quero pensar em Jess com outros caras, porra, não quero.
Não preciso dessa imagem na minha cabeça.
— Não estou no clima — replico, dando de ombros.
Cassie se remexe na cadeira, e James sussurra algo em seu ouvido.
Ela nega.
Ele parece murmurar algo como por favor, e ela suspira, resignada.
— Ethan? — ela chama, e eu engulo em seco, um pouco nervoso.
— Sim?
— Jess é minha amiga, mas você também é. E… não sei se você não
está realmente no clima para ir ou se é por conta dela. Mas se for… — ela
não completa sua frase com palavras. Cassie desbloqueia o celular, entra no
Instagram e quando o levanta, mostrando a tela para mim e Paxton, que
estamos do outro lado da mesa, não é difícil adivinhar o que estou vendo.
Stories diretamente da aba de melhores amigos de Jessica Flores.
Primeiro, ela aparece com algumas meninas, tomando shots de destilados
em uma boate e rindo para a câmera. Depois, elas estão dançando. Nada
demais também. É a última parte que me deixa incomodado, mesmo
sabendo que eu não posso me sentir dessa forma, já que estamos
terminados.
É Jess dando um beijo triplo com dois caras. É ela rindo quando se
afasta. É um deles agarrando sua bunda, e o outro deixando um chupão em
seu pescoço.
Minha Jess ficando com outras pessoas.
Porra, é a mulher que eu queria pedir em casamento, não estando
nem aí para a minha existência.
Agarro a long neck com força, furioso com isso.
Ela disse que o amor nunca foi o problema entre nós. Ela afirmou
que me amava, caralho!
Então… como pode ela ter superado tão rápido? Como pode estar
beijando várias pessoas em uma noite fora?
Meu coração dói.
Parece que ela está mastigando os pedaços arrancados dele da
última vez.
Por que dói tanto?
Porque você ainda a ama, idiota!
E, aparentemente, ela não sente o mesmo. Não tanto quanto eu, pelo
menos.
Alguém que ainda ama outra pessoa, não estaria aproveitando a
noite dessa forma na primeira oportunidade.
E se ela consegue fazer isso depois de todos nossos longos e
apaixonados anos de relacionamento…
— Pax? — chamo, após ficar alguns segundos em silêncio,
processando o que acabei de assistir nos stories.
— Sim?
— Onde é essa festa mesmo?
The Hills do The Weeknd estoura pelas caixas de som espalhadas na
fraternidade dos jogadores de futebol americano da Universidade de
Schönilla. As luzes coloridas iluminam todos os cantos da casa, mudando
de cor a cada milésimo de segundo. O aroma de suor, perfumes caros e
cerveja barata flutua pelo ar do ambiente. O quintal está lotado de
estudantes, tanto na piscina — e a grande parte nus dentro d'água —, quanto
no jardim. Os copos vermelhos são passados de mão em mão, assim como
as garrafas de tequila, vodca e gin.
As conversas paralelas, vindas de diversos cantos, e a música alta
impossibilitam um pouco a comunicação. Demoro quase três minutos para
explicar a James e Cassie que vou procurar um banheiro dentro da casa,
enquanto eles jogam uma partida de Beer Pong com alguns garotos da
turma de Teatro. Paxton foi o primeiro a sumir, logo quando chegamos aqui,
há algumas horas, e não tivemos mais sinal dele.
Não é incomum do nosso amigo, então, não nos preocupamos.
Ele provavelmente está em um dos quartos, na melhor das ocasiões.
Ou no porão da mansão, onde rola o uso das drogas mais pesadas,
na pior das hipóteses.
Já cansei de dizer que isso vai acabar matando-o em algum
momento, porém, discutir com Pax é a mesma coisa que discutir com uma
criança de quatro anos.
Elas não te escutam de verdade e continuam fazendo o que
acreditam ser certo.
Peço licença quando passo pela quantidade exorbitante de jovens
presentes nesta noite, subindo diretamente para o segundo andar, onde,
normalmente, os banheiros estão vazios.
Para minha sorte, assim que chego no extenso corredor da área dos
quartos, vejo um casal saindo de uma das portas e quando noto, é o meu
destino.
Um banheiro vazio e relativamente limpo.
É o que vai ser, falo mentalmente, fechando a porta atrás de mim.
Quando o som é abafado um pouco, consigo pensar com um pouco
mais de clareza. Apoio meu copo, ainda pela metade, na pia de mármore e
jogo água gelada no rosto, tentando entender porque achei ser uma boa
ideia vir aqui hoje.
Sua ex-namorada, que você acreditava ser o amor da sua vida, está
se divertindo muito e não sofrendo com o término como você, a vozinha da
razão diz, no fundo da minha mente.
Parece que bebidas, música alta e conversas desconexas não levam
embora a dor de um coração partido.
Eu mal consigo me divertir, com tamanha dor que sinto vendo a
mulher que amo ficando com outras pessoas! Como ela consegue fazer isso,
parecendo não se importar com nada?
Será que o que tivemos foi verdadeiro? Como pode ter sido, se ela
parece inabalável em menos de um mês separados?
Não queria levar meus pensamentos por esse lado, duvidando de
tudo que passamos juntos, mas… mas é difícil não fazer isso. Para mim,
não há explicação lógica para o que está acontecendo, a não ser que nossa
separação não está sendo tão impactante para ela, quanto está sendo para
mim.
Porque ela já não me amava mais tanto quanto eu a amava, muito
antes de decidir terminar.
Porra!
Como eu não vi nenhum sinal antes? Como eu achava que tudo
estava tão bem, a ponto de acreditar que ela aceitaria meu pedido de
casamento?
Pelo menos, você se livrou de uma resposta negativa em um
restaurante lotado de pessoas.
É, poderia ter sido pior, eu acho.
Termino minha cerveja em um gole só e largo o copo na lixeira do
banheiro, abrindo minhas calças para mijar e voltar para o andar debaixo.
Preciso de mais bebidas para lidar com essa situação.
Os primeiros jatos começam a sair do meu pau, quando uma batida
suave soa na porta.
— Está ocupado! — grito, focando no vaso à minha frente, que
parece… ser dois?
O álcool já está fazendo efeito então, graças a Deus.
— Hum… eu sei! Você poderia apenas procurar uma calcinha por
aí? Acho que esqueci. — A voz feminina chega em meus ouvidos, e eu
demoro um tempo a mais do que o necessário para entender suas palavras.
Eu ouvi isso? Ou será que já estou muito bêbado? — É vermelha, de renda.
Bem, acho que só tem uma perdida aí dentro, mas… só para você ter
certeza do que estou pedindo.
É, não ouvi errado.
— Um segundo!
Subo minhas calças, fecho o zíper e dou descarga. Em seguida, lavo
minhas mãos, e o cheirinho cítrico do sabonete líquido é uma delícia.
Talvez possa comprar para a minha casa amanhã.
Foco, Ethan, procura a calcinha da garota.
Passo meus olhos pelo ambiente e… nada.
Não, não pode ser.
Deve estar aqui.
Abro a cortina que esconde a banheira, e… lá está!
Eu deveria tocar na calcinha de uma desconhecida?
Não faço ideia. Não sei quais são as regras de ética para essa
situação.
Minhas mãos estão limpas, então talvez não seja uma má ideia,
certo?
Meus pensamentos são interrompidos por mais batidas na madeira
da porta.
— Encontrou? — ela grita para mim do outro lado.
— Sim! Posso pegá-la?
— Depende… suas mãos estão limpas?
— Acabei de lavá-las com o sabonete de limão!
— Tá legal, pode me entregar. Vou jogar bastante água sanitária nela
depois, de qualquer forma.
Com o aval da dona da peça, eu me agacho e tiro a calcinha da
banheira. E… isso foi feito para adultos?
É minúscula.
Quase não tem pano!
Vou até a porta e finalmente abro-a, dando de cara com… caralho.
Com uma garota linda para cacete!
Com uma saia preta de couro que deixa pouco para imaginação, ela
é um pouco mais baixa do que eu, isso, graças ao coturno com salto em seus
pés. Sem eles, acredito que tenhamos quase sete centímetros de diferença.
Os cabelos loiros dourados caem em cascatas, alcançando um pouco abaixo
dos seus seios. Contudo, de uma forma que não atrapalhe a frase de seu
cropped preto de ser lida.
SLUTS. Sexy ladies under tremendous stress. [12]
Solto uma risada, quando entendo o que está escrito.
— Parece que minhas camisetas estão fazendo sucesso por aqui —
ela brinca, e ergo minha cabeça para encará-la.
O sorriso amigável, olhos castanhos quase verdes e sobrancelhas um
pouco mais escuras que o cabelo… Ela não esconde que pode acabar
comigo.
E por alguma razão… eu gosto disso.
Coço a garganta, não deixando que a quantidade de álcool no sangue
me faça passar vergonha na frente de uma garota bonita.
— Sua calcinha — digo, entregando a peça.
Ela retira da minha mão quando a estendo, e, por um breve instante,
nossos dedos se tocam.
É eletrizante.
Ela sente também, percebo.
Nossos olhares estão fixos um no outro, e ficamos paralisados,
sentindo essa atração instantânea entre a gente.
Como se não pudéssemos quebrar o encanto.
Nós não podíamos, porém o esbarrão que um cara sendo carregados
pelos amigos dá nela, pode.
— Ei! Cuidado por onde anda, porra! — reclamo, sendo
completamente ignorado.
Babacas.
— Hm… obrigada. — A voz da loira me faz tornar a atenção
novamente para frente.
— De nada — respondo, abrindo um sorriso, que ela retribui.
Um silêncio recai sobre nós.
Quero perguntar seu nome.
Quero saber porque nunca a vi em nenhuma festa antes.
Quero entender o motivo de sua calcinha estar perdida no banheiro,
por mais que eu possa imaginar.
Eu… eu quero saber cada detalhe sobre a pessoa fascinante que ela
parece ser.
Não sei o que está acontecendo comigo. Isso nunca rolou antes,
porém, parece que há algo me puxando para ela.
É diferente. É novo. É… viciante.
Entretanto, antes que eu possa fazer qualquer uma dessas coisas, a
voz de James Crawford me tira do estupor.
— Ethan? Pax precisa de nós — avisa, do topo da escada, e quando
me viro, noto sua expressão preocupada e um pouco nervosa.
Isso me alerta.
Paxton deve estar em apuros.
— Estou indo — respondo sem pensar duas vezes, sentindo toda a
sobriedade voltar ao meu corpo de repente.
Quando se trata dos meus amigos, sempre serei o primeiro a ir ao
resgate.
Me preparo para me despedir da garota, e… nada.
Ela não está mais aqui.
O quê? Porra, ela estava aqui há dois segundos!
— Ethan? Vamos!
Balanço a cabeça, focando em James e em ajudar Paxton.
No entanto, a garota loira não sai dos meus pensamentos.
Preciso vê-la novamente.
Me empurre para longe, me empurre para longe
Então implore-me para ficar, implore-me para ficar
Me ligue de manhã para se desculpar
Cada mentira me dá borboletas no estômago
Algo na maneira que você está olhando através dos meus
olhos
Não sei se vou sair dessa vivo
Teeth | 5 Seconds of Summer

Alguns fios que se soltaram do rabo de cavalo caem pelo meu rosto,
e eu assopro-os para longe, mantendo meus olhos no coquetel de morango
que estou preparando para uma menina no balcão.
Quando passei pela Lust[13] logo no meu primeiro dia em Schönilla e
vi que estavam precisando de novos funcionários, não hesitei em ligar.
Trabalho desde os meus quatorze anos, fazendo bicos aqui e ali, então,
experiência não seria o problema.
O problema foi eu ter apenas dezoito anos, uma vez que casas
noturnas só contratam acima de vinte e um.
Eu estava pronta para desistir da primeira oferta de emprego,
quando me informaram sobre o salário.
Para ser bartender do bar da boate, apenas nos fins de semana, era
bem alto. Mais do que eu conseguiria fazer trabalhando em uma lanchonete
como garçonete em meio período, que era meu plano inicial.
Por isso, menti.
Fiz um documento falso usando minhas habilidades artísticas —
pouquíssimas —, e por sorte, não se importam muito com isso. As roupas
escuras, o loiro pintado e a pose de poucos amigos ajudaram na mentira de
ter acabado de completar vinte e um.
E mesmo hoje sendo meu primeiro dia aqui, já percebi porque o
valor que eles pagam por hora é muito maior do que em qualquer outro
lugar.
Lotado é eufemismo para definir o tanto de pessoas que está na
boate essa noite. Desde que cheguei, há pouco mais de três horas, já atendi
mais de duzentas pessoas, preparando coquetéis, entregando cervejas e
indicando onde é o banheiro. Isso porque, estou junto de outro funcionário.
Não daria conta disso sozinha.
Finalizo o coquetel com um canudo biodegradável e entrego à
garota, que sorri agradavelmente na minha direção.
— Obrigada, querida. — E com uma piscadela nada inocente na
minha direção, ela vira de costas e vai atrás das amigas na pista de dança.
Deus, o que eu daria para não estar trabalhando nesse momento!
As memórias da noite passada ainda estão frescas na minha cabeça.
Cassie, minha colega de apartamento, me convidou para a festa na
fraternidade dos meninos do futebol americano. É claro que fui! Não perco
uma festa. São os melhores lugares para esquecer dos problemas, de várias
maneiras diferentes. Por exemplo, iniciei a noite virando alguns shots de
tequila com algumas meninas da minha classe de Antropologia e depois,
engatei em uma conversa com um garoto do time de natação. Conversa
essa, que me levou diretamente para o banheiro do segundo andar, e só
saímos depois de ele me fazer gozar.
Nota oito de dez.
Ainda faltou… algo.
Minha mente forma instantaneamente o rosto do cara do banheiro,
aquele que me devolveu minha calcinha. O que deveria ter sido uma
situação vergonhosa, se tornou suportável com o charme e sorriso
contagiante dele.
Ele é negro, de pele marrom-escura, cabelo raspado, olhos gentis e
uma expressão amigável… Eu teria o deixado tirar o restante da minha
roupa ali mesmo, caso não tivéssemos sido interrompidos pelo seu amigo.
Ao contrário do garoto da natação, eu senti… alguma coisa diferente com
ele. Nossas mãos se tocaram por breves segundos, e pareceu que fui
eletrocutada. De uma maneira boa.
Muito boa.
Ethan? Acho que foi assim que ouvi seu amigo chama-lo.
Merda, por que não confirmei? Ou pelo menos, confirmei seu
sobrenome?
Porque você sabe que ele é uma boa pessoa, um garoto de ouro, que
não merece ser corrompido por você.
Ah.
Isso.
Poucos minutos de conversa, mas a aura ao redor dele não deixou
enganar: ele é uma pessoa boa demais para mim. Com certeza, não precisa
do furacão que é Violet Woods em sua vida. Já sou demais, até para mim,
não tenho que arrastar mais uma pessoa para minha vida. Não até eu
resolver todas as questões pendentes.
Ou seja, somente daqui a sete anos ou mais.
Enquanto isso… aproveito flertes e sexo casuais.
E estou tão distraída, de costas para o balcão, limpando a bagunça
do último coquetel e pensando sobre minha vida pessoal, que não ouço a
aproximação da pessoa, até ela se pronunciar.
— Três cervejas, por favor — alguém pede do bar, e quando me
viro, depois de jogar os restos de morango no lixo, me surpreendo.
O garoto do banheiro.
Arregalo os olhos, totalmente em choque com sua presença.
Não esperava vê-lo aqui.
Praticamente, nunca mais, na verdade. Talvez pelos corredores da
SU de vez em quando, caso nossas aulas fossem no mesmo prédio.
[14]

— Você — dissemos em uníssono, e um sorriso toma conta dos


nossos lábios.
Por que ele tem que ter um sorriso tão bonito?
E por que sua boca parece tão convidativa?
Aposto que ela é hidratada, supermacia e faria estragos na minha
bo…
— Você tem idade para trabalhar aqui? — pergunta, sentando-se na
banqueta livre e apoiando um dos braços na superfície de madeira à sua
frente.
— Você tem idade para estar aqui? — retruco, cruzando os braços na
frente do corpo.
Infelizmente, não estou vestindo uma das minhas camisetas
engraçadinhas, apenas uma preta lisa, diante das normas da casa noturna.
— Justo — responde, e passo a língua pelos lábios, sem conseguir
tirar os olhos dele.
Merda.
Não posso me distrair assim no primeiro dia do emprego!
Vou até a geladeira e pego três long necks, colocando sobre o
balcão, e ele me oferece uma nota de vinte dólares em troca.
— Trabalha aqui há pouco tempo?
— Vem tanto aqui, que já conhece todos os bartenders? — brinco,
enquanto procuro o seu troco na caixa registadora.
Ele ri.
— Tocamos aqui algumas vezes — é o que diz, e eu franzo as
sobrancelhas, fechando a gaveta onde guardamos notas e moedas.
— Como assim?
— Minha banda. Tocamos aqui algumas vezes nos últimos meses —
explica, e eu pisco, intrigada com essa informação.
Ele tem uma banda.
De repente, ficou cem vezes mais atraente.
E perigoso.
— O que você toca?
Tento entregar o seu troco, mas ele balança a cabeça em negação.
— Sou o baterista. James fica na guitarra e vocais, e Paxton no
baixo. The Chaotic Misfits.
— The Chaotic Misfits — repito, lembrando de alguns cartazes na
entrada da boate, que vi quando cheguei.
— Guarde o nome. Ainda vai ouvir falar muito de nós — gaba-se,
piscando um dos olhos para mim.
Sorrio.
— Não é fácil esquecer de você, Ethan.
Seus olhos me escaneiam de cima a baixo, e o sorriso cafajeste toma
conta de sua boca.
Viu?
Os músicos são os piores!
— Nem de você…
— Violet.
— Nome bonito para uma garota bonita.
Isso me arranca uma risada.
— Acho que seus flertes estão enferrujados, garotão.
Ele ri também, e me vejo viciada em sua risada.
É verdadeira. Inocente. Como de alguém que nunca precisou fingir
em toda sua vida.
Você não pode tirar isso desse garoto, Violet.
— Bola fora, né? Vou melhorar por você.
Meu coração palpita mais forte. Não consigo desconectar nossas
írises castanhas.
Ele me intriga. Me fascina. Me faz querer conhecê-lo melhor.
O corpo.
Isso.
Quero conhecer seu corpo, porque além de bonito, é gostoso, e
sabemos que esses são os melhores, ainda mais quando tem uma banda de
fundo.
— Violet? Pode cobrir aqui? Preciso ir ao banheiro. — A voz do
outro funcionário, que divide o bar comigo essa noite, me tira dos
devaneios, e eu pisco, voltando à realidade.
Estou trabalhando, não curtindo a festa.
— Claro! Pode deixar! — grito por cima da música e o noto saindo
para a porta dos fundos.
Quando me viro para me despedir de Ethan, ele já se foi.
Como se nunca tivesse estado aqui. Exatamente como fiz na noite
passada.
Te vejo depois, então, Ethan, baterista da The Chaotic Misfits.

Ethan estava certo.


Ele, James e Paxton nasceram para brilhar.
Assim que a The Chaotic Misfits entrou, todas as pessoas foram se
aglomerar mais à frente do palco, deixando o bar praticamente vazio, e
assim, pude assistir toda a apresentação e ter certeza que eles são
excepcionais.
É nítido a paixão que os três garotos têm pelo que fazem.
Eles vivem a música.
É lindo.
Eu me vi dançando no ritmo das melodias diversas vezes e
cantarolando algumas, uma vez que o show ainda é de covers de canções
famosas.
Ainda, porque não duvido que, muito em breve, eles estejam com
contrato firmado com alguma gravadora e gravando o primeiro álbum.
Tanto que, horas depois da finalização do show, limpar todo o bar e
trocar de roupa, continuo pensando na apresentação incrível dos meninos.
Eles poderiam ser presença confirmada na Lust todos os fins de
semana, penso, e um sorriso involuntário brota em meus lábios.
Assim, posso ver Ethan mais vezes.
É, parece que o baterista está conquistando mesmo a minha boceta.
Acho que houve uma grande possibilidade de ela ter se molhado
quando os olhos dele se encontraram com os meus, e ele me lançou uma
piscadela.
Uma imensa possibilidade.
Mais uma vez, estou tão absorta pensando no deus grego que
conheci há apenas um dia, que não estou prestando atenção em nada ao meu
redor, quando passo pela entrada dos fundos da casa noturna.
O que me faz esbarrar em um corpo musculoso e quase me espatifar
no chão, sendo acudida pelo dono desses músculos.
— Cuidado por onde anda, linda.
É claro.
O destino não está mesmo de brincadeira.
— Ethan?
Ergo a cabeça, voltando a me equilibrar em meus próprios pés, e
confirmo que é mesmo o baterista da The Chaotic Misfits na minha frente.
Às quase cinco horas da manhã.
Horas depois do show ter terminado.
— Você não deveria ter ido embora?
— É sua primeira noite trabalhando aqui? — pergunta, ignorando o
meu questionamento.
Suas mãos ainda estão em mim.
Ele percebe no mesmo momento que eu e se afasta um pouco, o que
me permite cruzar os braços.
— Por que você quer saber?
Soo um pouco mais ríspida do que deveria.
Ops.
— Não deveria voltar sozinha a essa hora. Pode ser perigoso. —
Elevo uma das sobrancelhas para o garoto, um pouco incrédula com esse
papo.
— Ficou até agora, só para me dizer isso?
— Na verdade, quero oferecer uma carona — confessa, apontando
com o polegar para um dos únicos carros estacionados do outro lado da rua.
Inclino a cabeça suavemente, avaliando-o.
— Você acabou de me dizer que pode ser perigoso e quer que eu
aceite a carona de um cara que mal conheço?
Isso deixa-o um pouco sem palavras, por breves segundos.
— Tudo bem, você me pegou nessa. — Sua risada volta a tomar
conta da minha audição, e é difícil não sorrir junto. — Se eu prometer que
não sou um cara perigoso, você aceita minha carona?
— Um cara perigoso não prometeria exatamente isso?
Ele ri mais uma vez e passa a língua pelo lábio superior.
Acompanho o movimento, imaginando a minha língua no lugar da
sua.
Deus, transei ontem e já estou com tesão novamente?
— Ajudaria se eu dissesse que não tenho segundas intenções, e você
pode confiar em mim?
— Sem segundas intenções? — repito, e ele confirma com a cabeça.
— Não me acha bonita, então?
— O quê? Não, claro que acho! Você é linda, Violet. Porra, linda
pra caralho.
— Então por que não teria segundas intenções no seu convite? —
provoco, mordendo meu lábio inferior de forma sensual.
Ele passa as mãos pelo rosto, e meu sorriso se alarga.
Acho que estou deixando-o louco.
— Ei, é brincadeira, Ethan. Estou só te provocando.
— Graças a Deus. Estava ficando sem respostas.
Solto uma risada, não acreditando nesse cara.
Ele não tem defeitos?
— Aceita a carona, então?
— Não.
— Por que não?
— Já disse, mal nos conhecemos.
Ethan suspira, resignado.
— Posso te seguir até em casa para garantir que você chegou bem?
Dou de ombros.
— Não posso te impedir.
Sem mais o que dizer, eu me viro e sigo o caminho do meu novo
apartamento, deixando-o sozinho na calçada.
Não demora muito para eu ouvir um motor de carro durante toda a
pequena caminhada até em casa e só o ouço ir embora, quando fecho o
portão do prédio.
O que achei disso? É complicado. Ninguém se preocupou o
suficiente comigo para me deixar em casa e ainda esperar eu estar dentro,
em segurança, para aí sim, ir embora.
É… diferente, mas de certa forma, gostei da atitude.
Talvez, um pouco demais.
Porque, baby, eu sei o que você sabe
Nós podemos sentir
Todas as peças caindo
nos lugares certos
Sendo pegos no momento
So It Goes… | Taylor Swift

Todos os domingos, os almoços são na casa da família Scott.


Sou estritamente proibido de fazer qualquer plano com os meninos
— a menos, é claro, que seja a oportunidade das nossas vidas.
Como de costume, então, papai e eu colocamos a mesa do almoço
— com todas as louças, jogos americanos e flores escolhidas por mamãe
—, enquanto um jogo antigo de futebol americano, do Carolina Panthers[15]
contra New Orleans Saints[16], passa na televisão da sala.
O cheiro típico do assado de peru delicioso de dona Rebecca Scott
alcança a sala de jantar. Minha barriga ronca, e troco um olhar com meu
pai, soltando uma risada.
— Isso que dá querer almoçar todos os dias no refeitório da
universidade, mesmo tendo a comida extraordinária da sua mãe te
esperando a poucos metros — ele brinca, com leve tom de alfinetação.
— Se eu pudesse, comeria todos os dias em casa, pai. Mas o senhor
sabe que levo muito tempo indo e voltando em horário de almoço.
Senhor Scott apenas suspira, voltando à cozinha para ajudar a
esposa a trazer a comida para a mesa.
Eu vou logo atrás, quando termino de posicionar os talheres da
maneira que minha mãe ensinou há tantos anos. Enquanto eles levam a
comida, eu foco em pegar o refrigerante zero açúcar na geladeira,
juntamente dos copos.
Nós três nos ajeitamos ao redor da mesa retangular de oito lugares e
depois de fazer uma oração, já partimos para a parte de nos servir.
Finalmente.
Minha barriga concorda comigo, porque assim que estico o braço
em direção à travessa com purê de batata, é difícil não ouvir o som alto.
— Eu disse para você tomar café da manhã, querido — mamãe diz,
em tom de reprovação e talvez… de bronca.
Pois é.
Estou quase completando vinte e um anos e ainda levo bronca dos
meus pais.
Contudo, não posso reclamar.
Sei que eles fazem tudo pelo meu bem, e a presença deles do outro
lado do país, apenas para que eu não ficasse sem minha família, é a prova
disso.
— Então eu não estaria com a barriga vazia, pronto para degustar
sua comida deliciosa.
Ela revira os olhos, e eu lhe mando um beijo.
— Da próxima, filho, vamos te acordar mais cedo, para que você
consiga desfrutar do café da manhã e almoço da sua linda e talentosa mãe.
— Pai… o senhor sabe que volto tarde nos fins de semana por conta
dos shows — relembro, servindo-me da última panela, com os legumes
cozidos.
— Estava só brincando, amor. Deixa o garoto — senhora Scott sai
em minha defesa, e eu estampo um sorriso orgulhoso no rosto. — Vejamos
pelo lado bom: ele está almoçando com a gente hoje e não, comendo aquela
gororoba do refeitório.
Sabia que isso estava por vir.
Reviro os olhos, levando um pouco da comida à boca.
— Espero que Jess esteja gostando da comida da Espanha. É
deliciosa. A mãe dela e eu comíamos muito em um restaurante espanhol na
época da faculdade, e os pratos eram incríveis.
Quase cuspo toda a comida, sendo pego um pouco de surpresa com
a citação da minha ex-namorada na conversa.
Esse também é um dos motivos pelos quais cessei as refeições em
família durante um tempo: eles sempre arranjam uma forma de falar da
Jessica.
E eu entendo o lado deles. Além de serem muito amigos dos pais
dela, também namoramos durante um bom tempo, e sua presença era uma
constante em nossa casa, tanto aqui, quanto em nossa cidade natal.
Está sendo difícil para mim, assim como para eles, mas falar dela a
todo momento não ajuda.
Flertar com a garota nova ajuda, então? A vozinha da consciência
murmura, no fundo da minha mente.
Bem, não sei se é uma boa saída a longo prazo, porém, em todos os
momentos em que estive com Violet, não pensei sequer um momento na
minha ex-namorada.
Talvez seja ela, a solução para os meus problemas.
— Ethan? Não vai responder a sua mãe?
Pisco, percebendo que viajei nos meus pensamentos mais uma vez.
O que tornou-se muito comum desde a partida de Jess.
— O quê? Desculpe, não estava prestando atenção.
— Ela perguntou se você falou com Jess recentemente — explica, e
eu engulo em seco, alcançando o copo de vidro com a bebida.
— Não muito. Ela está aproveitando bem o intercâmbio, e estamos
um pouco afastados.
Não sei se eles percebem o tom ácido. Espero que não. Eu não sou
essa pessoa, mas vê-la se atracando com dois caras como se fosse o último
dia de sua vida, pouco se fodendo para o cara que ama, mexeu comigo.
Meus pais trocam olhares, preocupados.
A mão de mamãe alcança a minha, apoiada em minha coxa, e ela
aperta-a.
— Tenho certeza que assim que ela voltar, querido, vai perceber que
você é o grande amor da vida dela.
— Exatamente, filho. Não se preocupe e aproveite sua vida também
— papai completa, me lançando uma piscadela.
Relaxo um pouco o corpo na cadeira.
— Da forma que você aproveitou em sua juventude, Arthur? —
mamãe provoca, fechando a cara para o marido, e eu abro um sorriso.
— Tudo me levou a você, meu amor.
Mamãe sorri apaixonada para ele, como se ainda tivessem vinte
anos.
Ele a encara como se não houvesse mais ninguém em todo mundo
para ele, porque… não há.
É Arthur para Rebecca.
Rebecca para Arthur.
Até o fim dos tempos.
Quando preciso citar um exemplo de amor verdadeiro, eles são o
primeiro casal a vir à minha mente.
Eles são a definição mais pura, única e verdadeira de casamento. De
lealdade. Companheirismo.
Exatamente o que eu achava ter com Jess, e aparentemente, não era
recíproco.
Será que ainda há alguém para mim nesse mundo? Alguém que vai
me fazer ter certeza que não existe outra pessoa?
É difícil continuar acreditando no felizes para sempre, quando a
única pessoa que você amou, despedaçou seu coração.
No entanto, quando ergo minha cabeça e observo meus pais se
provocando e soltando risadas na mesa de almoço, torço para que não seja
meu fim.
Quero viver como eles algum dia.
Com alguém que me ame na mesma medida e não tenha dúvidas
sobre nosso relacionamento.
Quero ter o que eles têm.
Amor, da forma mais simples e especial que existe.

Eu deveria aprender a dizer não.


Dessa maneira, eu não me colocaria na situação em que estou no
momento: saindo de casa, atravessando toda a cidade para chegar no
apartamento de Cassie, avisá-la para pegar a palheta de James e depois,
levá-las comigo para o ensaio. Como a namorada do nosso vocalista não
estava atendendo o celular, e ele e Paxton estão em suas respectivas aulas
na faculdade, acabei ficando encarregado de fazer isso.
O que não me lembraram, é que o trânsito de Schönilla é o terror no
fim da tarde.
Nesses momentos, eu sinto falta de Carmel by the Sea.
Cidade pequena tem suas vantagens, e com certeza, não precisar
fazer um percurso de, normalmente, quinze minutos de carro, em trinta, é
uma delas.
Estaciono o veículo em uma vaga livre, felizmente, em frente ao
prédio e… não. Não pode ser.
Pode?
Estava tão escuro no fim de semana, que não reparei, mas
aparentemente… sim.
É, isso mesmo.
Violet mora no mesmo lugar que Cassie.
Quais as chances dessa coincidência?
Só por precaução, espirro mais um pouco de perfume, que deixo no
porta-luvas do carro, antes de sair.
E se eu encontrá-la no elevador? Preciso estar na minha melhor
forma.
Passo rapidamente pela portaria, por ter sido uma visita constante
nos últimos anos, e entro no elevador, batucando com a ponta dos dedos a
minha coxa, esperando chegar no andar. E assim que isso acontece, fico um
pouco decepcionado por não ter visto nem rastro de Violet.
Quem sabe na próxima, digo para mim mesmo mentalmente, depois
de tocar a campainha.
Alguns segundos se passam, e quando a porta é aberta, estou pronto
para me deparar com Cassie Brown e… não.
Definitivamente, não é a Cassie que está do outro lado, me
encarando com os olhos esbugalhados e totalmente em choque.
— Violet?
— Ethan?
Pronunciamos em sincronia, totalmente surpresos, e deixamos que
risadas quebrem o clima estranho.
— Me perseguindo? — pergunta em um tom provocativo,
escorando-se no batente da porta, e um sorriso desleixado toma conta dos
seus lábios.
Os lábios que parecem ser muito macios e me convidam para prová-
los.
Pelo amor de Deus, Ethan! Se comporte!
— Acho que estou no apartamento errado — digo, um pouco
confuso.
Jess morava aqui.
Eu venho aqui há quase três anos.
Como errei?
— Ethan! O que está fazendo aqui? — A voz de Cassie vindo de
dentro da casa, me prova que não estou errado.
Então… o que Violet faz aqui?
— Você o conhece? — é Violet quem pergunta, voltando sua
atenção para a morena com cara de quem acabou de acordar.
Por isso ela não estava atendendo o celular.
— Claro. Ele toca com James na The Chaotic Misfits — responde,
como se fosse um fato óbvio e que todos deveriam saber. — Ethan Scott,
essa é Violet Woods, minha nova colega de apartamento!
Colega de apartamento.
Porra.
Quais as chances da única garota por quem me interesso ser aquela a
dividir a casa com uma das melhores amigas da minha ex-namorada?
Nada está a meu favor.
— Vocês já se conhecem? Estão… estranhos — Cassie comenta,
alternando o olhar entre nós dois e segurando o riso.
Não sei o que responder. O que eu deveria fazer?
Contar que nos conhecemos quando achei a calcinha perdida de
Violet, há menos de uma semana?
— Mais ou menos. Já nos encontramos por aí — a loira responde,
me salvando dessa, e eu assinto, concordando com sua explicação.
A namorada de James não parece convencida. Sua expressão
entrega a curiosidade, porém, ela decide deixar o assunto de lado nesse
momento.
Não me surpreenderei quando ela me encher de perguntas depois do
ensaio.
— Ethan? Aconteceu alguma coisa? Com James? Eu cochilei depois
do almoço, e meu celular descarregou.
Ah. Isso.
Eu vim aqui com um intuito, e não era secar a nova colega de
apartamento de Cassie.
— Ele disse que esqueceu uma palheta por aqui e precisa dela para
ensaiarmos hoje. Vim ser o pombo-correio, já que a senhorita não estava
atendendo o celular.
As bochechas de Cassie coram, e ela meneia a cabeça, me
convidando para entrar.
— Foi mal. Vou terminar de me arrumar rapidinho, e podemos ir, tá
bom? Violet vai te fazer companhia enquanto isso!
E antes que eu possa responder, ela já está correndo para o seu
quarto e fechando a porta atrás de si.
Ficamos somente Violet e eu de novo.
O silêncio se instala no ambiente e… não.
Não estamos totalmente sem barulho.
Ergo a cabeça para a televisão da sala de estar e vejo que…
Nada.
A tela fica preta de repente.
O quê…?
— Quer algo enquanto você espera? — Violet pergunta, de trás de
mim, e eu me viro, encontrando-a perto da porta da cozinha e
provavelmente, escondendo o controle da televisão atrás das costas.
— Estava assistindo A Princesa e o Sapo[17]?
— Quê? — Ela solta uma risada sem graça, revirando os olhos e um
pouco envergonhada. — Claro que não. Não tenho idade para isso.
Elevo uma das sobrancelhas e cruzo os braços, observando-a.
Em seguida, escorrego o olhar até a mesinha de centro da sala de
estar e vejo diversas folhas com anotações sobre Teoria de Relações
Internacionais I.
— Não acho que Cassie estuda essa matéria no último semestre de
Cinema — comento, divertido, e Violet bufa, desistindo de tentar esconder.
Ela então se joga em uma das pontas do sofá, e eu, ocupo o lugar
vazio na outra.
— Você não pode contar para ninguém que esse é meu guilty
pleasure[18] — ameaça, apontando o dedo indicador para mim.
Levo as mãos ao alto, em um sinal de rendição.
— Não faço ideia do que você estava assistindo — falo, e ela sorri
para mim, contente. — Mas… se você estivesse mesmo, não seria um
problema. Sabe disso, não sabe? Não vou me meter em seus gostos, Vi.
Eu noto os cantos de sua boca se elevarem, quando uso o apelido.
— Você cursa o que? — pergunta, desviando totalmente do assunto.
Entendi.
Terreno perigoso, e ela não quer adentrar. Só me resta respeitar.
— Geologia. — Suas sobrancelhas castanhas meio tonalizadas se
erguem, e ela se ajeita no sofá, dobrando as pernas. — Não imaginava?
— Sinceramente? Não. Você é baterista de uma banda incrível,
achei que fosse fazer Música ou algo relacionado.
— A música é minha vida, porém, sempre tive muito interesse em
desvendar os segredos da Terra. Rochas, fósseis, minerais… acho fascinante
saber mais sobre os processos que moldaram e continuam moldando nosso
planeta.
Desde pequeno, sou um entusiasta em descobrir mais sobre o
passado e ver como todas as ações interferem no nosso presente, assim
como vão fazer com nosso futuro, ainda mais com o planeta Terra e todos
seus magníficos segredos.
Não é à toa que os livros de Júlio Verne[19] são meus preferidos até
hoje.
— Seus olhos brilham.
— O quê?
— Quando você fala ou faz o que ama, seus olhos brilham. Quando
falou agora e também quando estava se apresentando no palco.
Engulo em seco, sem tirar os olhos de Violet.
Suas írises permanecem conectadas com as minhas.
Não desviamos o olhar.
Aquele toque eletrizante que tivemos na noite da fraternidade,
quando nos tocamos?
Estou sentindo isso agora.
E nem ao menos estamos perto um do outro.
Parece… parece que há algo maior, chamando-nos um para o outro.
Não sei dar uma boa explicação, mas consigo sentir no meu coração. É
novo. Diferente. Sinto um impulso irresistível para mantê-la perto de mim.
Para conhecê-la.
O que é isso? E por que gosto tanto de sentir isso?
— Me arrumei em tempo recorde! Mal passei a máscara de cílios, e
estou levando alguns glosses na bolsa, para terminar no carro.
A voz de Cassie preenche o nosso silêncio.
Tão rápido quanto começou, a magia termina.
Violet pisca, saindo do transe, e se apressa para recolher suas
anotações da mesinha de centro.
— Bem… bom ensaio para vocês! Vou fazer algo para comer e
deixo para você no micro-ondas, Cassie, o que acha?
Cassie não tem a chance de responder sua colega de apartamento,
porque em menos de um segundo, ouvimos a porta de um dos quartos ser
fechada.
A namorada de James me olha, com a testa franzida.
Ela sabe que aconteceu, que está acontecendo, alguma coisa.
Não.
Não vou fazer isso aqui. Muito menos, com Cassie Brown.
— Vamos? Os meninos devem estar chegando lá — chamo, já me
adiantando e seguindo até a porta de entrada.
O olhar de Violet Woods não sai dos meus pensamentos durante
todo o ensaio dessa noite da The Chaotic Misfits.
Nós estamos nadando na beira de um penhasco
Eu sou resistente, mas vou cair com o navio
Seria tão bom, certo? Certo?
Se pudéssemos tirar tudo e apenas existir
E mergulhar nus na água debaixo da ponte
skinny dipping | Sabrina Carpenter

Um baque alto me desperta.


Rapidamente, eu me sento na cama, tirando os fios loiros do rosto, e
tento assimilar o que está acontecendo.
Não estou no meu quarto em Schönilla.
Estou em casa. Em Mount Airy.
Mais um som ensurdecedor soa pela casa, e eu saio às pressas do
meu quarto, procurando de onde o barulho vem.
Não demora muito para que eu descubra.
Na verdade, para eu encontrar uma cena, infelizmente, tão comum
para mim.
Minha mãe está jogada sobre o tapete da sala de estar. Sua testa
está com um corte fino, onde um filete de sangue escorre pelo rosto. Sua
expressão aterrorizada está em seu marido, meu pai, que está de pé,
observando-a de cima com fúria.
Todo o ambiente está destruído.
Vasos com flores que ela colhe todas as manhãs estão estilhaçados.
Portas-retratos, da época em que fomos uma família de verdade, quebrados
em cima dos móveis. Até mesmo a televisão não escapou dessa vez e está
destruída no canto.
— Meu amor, p-por favor… não era o que você estava pensando —
Ines Woods murmura, tentando se erguer, mas a bota de Winston Woods
amassa seu pé descalço no chão, não deixando que ela faça isso.
— Eu sei muito bem o que vi, Ines. Vi você dando mole para o caixa
do supermercado, como se fosse uma puta. É isso que você é! Uma puta,
sem respeito e… — Sua voz se perde quando ele nota que ela não está mais
prestando atenção nele.
Os olhos de mamãe estão fixos nos meus, e com o olhar, ela suplica
para que eu volte para o meu quarto e finja que não vi nada.
Como em todas as outras vezes.
— Olha só! A filha da puta também apareceu! O que foi, fedelha? O
que está encarando? Hein? — Ele alterna o olhar entre mim e sua mulher,
caída no chão, deixando que uma risada fria e maquiavélica escape dos
seus lábios. — Ela é mesmo minha filha, Ines? Porque, pela forma como
você dá em cima de qualquer homem com um pau funcionando, não duvido
que ela seja de outro.
Tenho vontade de vomitar toda a comida do jantar com suas falas
nojentas.
Sinto meu estômago revirar.
— N-não, meu amor. Violet é sua filha, claro que é.
— Sua palavra não é nada, porra. Não confio em palavras de uma
vadia barata!
Ele arremessa a garrafa de cerveja, ainda pela metade, na parede,
que se estilha, sujando a pintura branca.
Eu sobressalto, quando o som chega em meus ouvidos, e isso chama
atenção dele.
O sorriso que ele estampa é gélido. Malvado. Puro terror.
Contudo, a voz… não é dele.
— Violet? Vi? Acorde! É só um sonho, não é real. Vamos lá, Vi,
acorde, amiga!
Acordo em um rompante, sentando na cama com a respiração
totalmente descompensada e o coração batendo freneticamente.
— Opa, calma aí, amiga. Calma. Respira, está bem? Tá tudo bem,
foi só um sonho. Não era real.
Meus olhos se ajustam à luz fraca do abajur e do poste na rua, e eu
enxergo Cassie Brown sentada ao meu lado na cama, tirando os fios suados
do meu rosto.
Não estou em casa.
Estou em Schönilla.
A salvo.
Entretanto, sua mãe continua lá, com aquele monstro.
— Violet? Vi?
Empurro os pensamentos destrutivos para o fundo da mente e foco
em Cassie.
— Foi só um pesadelo — finalmente deixo as palavras saírem e
tento forçar um sorriso.
Não dá certo, é claro.
— Quer conversar sobre isso?
Seu tom é gentil e carinhoso, algo com que não estou acostumada.
Talvez se eu tivesse um passado diferente.
Talvez se meu pai tivesse ido embora.
Talvez se minha mãe tivesse nos tirado daquela casa, assim que tudo
começou a mudar.
Talvez, se tudo tivesse acontecido de outra maneira, eu conseguiria
contar a verdade para Cassie. Eu poderia compartilhar a minha dor, ela me
entenderia, e seria um grande passo nessa amizade que estamos
construindo.
Mas… não dá.
Não posso.
Não quero.
E mais importante: não devo trazê-la para esse lado da minha vida.
Ela conhece a Violet Woods universitária, aquela que está
começando seus estudos, usa camisetas divertidas e faz comida para a
semana toda para ambas, congelando-as.
Ela não conhece a verdadeira Violet, aquela que é filha de Winston
Woods.
E não pretendo que isso aconteça.
— Você não precisa me contar, Vi — Cassie afirma, quando eu não
digo nada, e tento sorrir minimamente. — Mas quando quiser, saiba que
pode contar comigo, tá legal?
— Obrigada, Cassie.
— O que acha de tomarmos um chá de camomila com mel? Minha
cunhada, Alex,[20] costumava me dar nas primeiras noites em sua casa,
depois de tudo — ela sugere, já se levantando da minha cama e estendendo
a mão.
— Depois de tudo? — repito, curiosa, aceitando sua mão, e ela nos
leva para fora do quarto.
— Ah, de tudo. Vou te contar tudo que aconteceu durante minha
infância até aqui. Assim, você pode ver que nem tudo está perdido. Só
precisa aceitar ajuda — Cassie responde, jogando um dos braços por cima
dos meus ombros, quando adentramos a cozinha.
É assim que me vejo descobrindo mais da vida da minha colega de
apartamento, em plenas três horas da manhã, tomando um bom chá de
camomila na nossa sala de estar, enquanto Procurando Nemo[21] passa em
um canal infantil de fundo, na televisão.
E sabe de uma coisa?
Eu não teria escolhido outra forma de passar minha madrugada.

Quando aceitei o emprego na Lust, acreditei que seria mais fácil de


conciliar com os estudos, uma vez que eu só trabalho aos fins de semana.
Estava completamente errada.
Parece que uma noite na casa noturna corresponde a uma semana
sendo garçonete e trabalhando em período parcial todos os dias, como eu
fazia durante o colégio.
E é ainda pior quando há festas temáticas, como a que começou
ontem à noite. Com o tema Noite Neon, a maior parte do expediente foi
totalmente no escuro, com algumas cores vibrantes, fosse nas roupas dos
convidados ou em algumas luzes espalhadas estrategicamente pelo
ambiente.
Terminou perto das quatro e meia da manhã, e como de costume,
todos os funcionários ficaram até quase às cinco e meia limpando,
arrumando e organizando a bagunça feita, para que a equipe de decoração
chegasse com toda a boate pronta para o dia seguinte.
Hoje, no caso, já que o ponteiro do meu relógio de pulso marca
exatamente cinco e quarenta e sete da manhã.
Estou totalmente exausta.
Tão exausta, que demoro a processar o meu celular vibrando no
bolso da calça jeans. Quando percebo, não me incomodo em ler o visor do
celular e descobrir quem é a pessoa me ligando tão cedo em um sábado.
— Alô?
Solto um bocejo, assim que cumprimento a pessoa do outro lado da
linha.
— Violet? Minha florzinha?
Ines Woods atende grande parte das ligações assim, mesmo sabendo
que claro, se ela está ligando para o meu número de celular, a maior
probabilidade é que eu atenda, não outra pessoa.
Bagagem de quem usou telefone fixo a maior parte da vida, eu acho.
— Oi, mãe.
— Está acordada tão cedo em um sábado! O que aconteceu? Está
tudo bem?
Um riso involuntário escapa de mim.
— Mãe, você que me ligou essa hora. Mesmo se eu estivesse
dormindo, teria sido acordada — não respondo de forma irritada, pelo
contrário, uso um tom de brincadeira.
— Oh! Desculpe, querida! Esqueço que nem todos acordam tão
cedo como eu.
Porque nem todos precisam bancar a cozinheira, faxineira e
enfermeira — dependendo do dia — do marido.
— Tudo bem? Aconteceu alguma coisa? — questiono rapidamente,
começando a ficar preocupada.
Estou sempre preocupada, mesmo nós conversando quase todos os
dias por mensagens de texto.
— Sim, florzinha, está tudo ótimo. Queria saber como você está!
Como andam as coisas? Estudando muito? A faculdade é realmente difícil?
— Vou ter minha primeira avaliação daqui a duas semanas, na
matéria de Antropologia. Acho que vou me dar bem, não é tão difícil, e eu
consigo regular bem minhas horas de estudo.
— Como estou orgulhosa de você, Violet. — Não sei como explicar,
mas é possível ouvir o sorriso de mamãe enquanto fala. — Tenho certeza
que você vai se sair muito bem, assim como era na escola.
É minha vez de sorrir.
É gratificante ser o motivo de orgulho da minha mãe. Ainda mais,
quando tudo que faço é por ela. Pela gente. Para termos uma vida melhor.
— E você? Alguma novidade? Notícia?
— Ah, tudo do mesmo, querida. A casa está um pouco vazia sem
você. Sinto sua falta.
Imediatamente, o cantinho dos meus olhos se enche de lágrimas.
— Também sinto sua falta, mãe.
E tudo que eu queria era você aqui comigo.
— Você não sabe quem encontrei no mercado ontem! Lembra sua
professora da terceira série, a senhora…
Me disperso da conversa com mamãe, quando noto que há um carro
me seguindo.
O quê?
Fico em alerta, com um pouco de medo.
E se ele tiver descoberto onde…
Não.
Não pode ser.
Minha mãe não sabe. Não há chances de ele saber.
Deixo que ela continue contando sobre o encontro engraçado com
minha antiga professora e olho de soslaio para trás de mim, me deparando
com… com o carro de Ethan Scott.
De novo.
Ele veio me levar em casa.
Porque se preocupa comigo.
Por que você se preocupa comigo, garoto de ouro? Pondero,
pensativa, quando ele nota que estou olhando e abre o seu sorriso lindo.
Meu coração acelera.
Sinto uma vontade incontrolável de sorrir também. De entrar em seu
carro, de deixá-lo me levar para sua casa e fazê-lo meu.
Entretanto, não posso.
Não posso fazer isso com Ethan.
Não com tudo que carrego nas costas, com minha mãe sozinha em
casa com um monstro e com meu objetivo de melhorar essa situação.
Volto a prestar atenção no meu caminho e na história de mamãe.
Ele poderia ser a pessoa certa para mim, em alguma outra realidade,
outra época.
Ele pode ser a pessoa certa, porém, na hora errada.
E honestamente, não sei se existirá uma hora certa para nós dois.
Eu não preciso da atenção
Eu não sou tímido, mas esse é meu tipo
Você sabe que eu sou só quieto
Porque estou prestando atenção
E quando você fala, eu ouço
Garota, eu preciso de um compromisso
De você e ninguém mais
Show Me | Black Atlass

A luz suave amarela e oscilante da lâmpada pendurada no teto,


ilumina exatamente James, no meio da garagem, enquanto ele dedilha as
cordas da sua guitarra, deixando que toda sua paixão pela música seja
exposta pela forma espetacular com que toca seu instrumento.
Paxton usa o baixo para lançar acordes fenomenais pelas caixas de
som espalhadas pelo lugar, totalmente rendido pela música.
Eu sorrio, sentindo o tambor vibrando sob minhas baquetas.
Conduzo a música da melhor maneira. O som dos pratos e tambores
ecoando pela garagem me faz sentir vivo.
Nós três dominamos esse lugar.
Juntos, a The Chaotic Misfits, usa seu talento para causar uma
sinfonia caótica, porém precisa, e dessa forma, nós criamos algo único.
Somente nosso.
Termino a canção com um último bater de pratos, em sincronia com
a voz de James desaparecendo gradativamente, e por fim, a vibração das
cordas do baixo de Paxton finaliza a música com um pequeno instrumental
do caralho.
— Não é porque somos nós, mas puta merda, somos bons pra
caralho! — James e eu soltamos uma risada gostosa com a fala do nosso
amigo, concordando. — É sério. Assim que algum olheiro nos ver, ou algo
parecido, vamos estourar em todo o Estados Unidos.
— Espero que seja logo, porque as aulas mal começaram, e eu já
não aguento mais ler uma linha de Teoria da Música Contemporânea —
James reclama, guardando sua guitarra no pedestal, e eu sigo para a
geladeira, para pegar nossas garrafas de água.
— Quer trocar? Tenho um trabalho de quinze páginas sobre Gestão
Estratégica Avançada para daqui a duas semanas — Paxton sugere,
puxando uma das cadeiras da mesa e se sentando.
James vem logo atrás, ocupando o terceiro lugar, e leva a água
gelada até a boca.
— Bem, eu estou bem interessado em todas as matérias desse
semestre, principalmente em Geofísica Aplicada — comento, também me
refrescando com a bebida. — Estamos aprendendo mais sobre interpretação
de dados sísmicos, magnéticos e gravitacionais. É do caralho.
Pax e James se entreolham, com as sobrancelhas elevadas, e em
seguida, soltam uma risada.
— Porra, você é o cara mais nerd que conheço — é claro, o loiro
que diz, e eu apenas dou de ombros.
É verdade.
Um silêncio nada desconfortável recai sobre a mesa, enquanto
bebemos nossas águas e nos recuperamos das horas cansativas de ensaio.
Não é porque temos o privilégio de fazer o que amamos, que não cansamos
em algum momento.
Estamos exaustos, depois de quase quatro horas tocando.
Contudo, a sensação que acalenta meu peito quando terminamos e
percebemos que estamos cada vez melhores… não tem preço.
— Então… — Paxton puxa a última vogal, olhando de mim para
James. — Vamos falar sobre o elefante na sala?
— Que elefante? — meu outro amigo pergunta, finalizando seu
último gole.
— Como você está, Ethan? — o loiro questiona, e eu elevo as
sobrancelhas, confuso com a sua pergunta inusitada. — Já faz quase dois
meses que Jess se mudou. Você não fala dela. Nada. Parece James quando o
provocávamos sobre gostar de Cassie e não assumir os sentimentos.
Ele leva um tapa de leve no pescoço do nosso vocalista, muito
merecido, na minha opinião.
— Seja mais cauteloso, Paxton — James adverte, balançando sua
cabeça de maneira negativa.
— Meu querido amigo Ethan, poderia nos contar como está seu
frágil coração depois da partida de sua amada Jessica Flores, ainda mais
sabendo que ela está curtindo as noites de maneira… bem, com certeza não
sozinha e muito menos, insatisfeita?
Dessa vez, eu chuto sua canela por debaixo da mesa, e ele urra de
dor.
Na verdade, é uma risada misturada com um pouco de dor.
Do jeito que Pax curte, pelo que ele nos conta de suas aventuras
entre quatro paredes.
— Queremos saber se você está bem, Ethan, porque estamos
preocupados com você — James completa, me lançando um sorriso de
apoio.
— Estou… indo — conto, honestamente. — É difícil ver seu mundo
virar de cabeça para baixo de uma hora para outra, mas estou tentando
seguir em frente. Pelo menos por enquanto. Quando ela voltar,
conversaremos sobre a gente.
Os dois meneiam a cabeça, sem dizer nada.
Sei que é porque eles não concordam com isso.
Eles esperam que eu a esqueça de uma vez por todas, viva minha
vida e que muito menos, conversemos quando o intercâmbio terminar.
— Sabe o que eu acho? — Pax fala, depois de alguns instantes
pensativo. — Eu acho que ela está sendo uma filha da puta.
— Paxton — James chama, em tom de aviso, porém, nosso amigo
pede para ele se calar e continua sua linha de raciocínio.
— Ela vai embora e te avisa de última hora, mesmo vocês
namorando desde sei lá… os quatorze anos? Treze? Não importa, desde o
ensino médio. Então, ela decide que vocês precisam terminar, porque quer
viver a porra da vida em outro país sem dar satisfação para o namorado.
Jessica quer ficar com outras pessoas, quer beber até cair e quem sabe, de
quebra, ainda usar umas drogas. E ela te conhece, Ethan, te conhece muito
bem. Ela não pediu para que você a esperasse, mas sabe que você tem
caráter e pela sua índole, você faria isso. Então, ela vai, faz a porra que quer
na Espanha, volta, e você ainda estará aqui. Exatamente do jeito que ela
deixou. Pronto para recebê-la de braços abertos! E, porra, cara, voce é meu
melhor amigo! Gosto da Jess também, claro, mas isso que ela fez… não foi
legal. Foi péssimo.
Paxton finaliza seu discurso bebendo todo o restante da água,
enquanto eu encaro-o um pouco perplexo.
Não porque ele disse uma tremenda merda, mas porque… porque,
de alguma forma, faz sentido.
Se fosse em outro momento, se eu não soubesse como ela está
curtindo os fins de semana do outro lado do mundo, eu poderia discordar do
que Pax disse. No entanto, não sei se conheço Jess tão bem como acreditava
conhecer.
— Você acha isso também, James? — pergunto, virando para o meu
outro melhor amigo.
Ele suspira e passa a língua pelo lábio inferior.
— Eu acho que você não precisa esperar por ela se não quiser,
Ethan. Pode aproveitar sua vida também.
Em outras palavras: sim, ele concorda, entretanto não diria de forma
direta e objetiva, como o loiro falou.
Minha mente vai imediatamente para a garota de cabelos loiros
dourados, boca rosada em formato de coração e camisetas divertidas. Em
como ela não pensa antes de falar. Em como ela seria a última pessoa com
quem eu me envolveria em outros tempos, porque há muitas chances de eu
sair de coração quebrado.
Todavia, como posso quebrar meu coração, se ele já está
despedaçado?
— Galera? — James chama, e eu volto a prestar atenção na nossa
conversa. — Cassie disse que está indo para uma festa na fraternidade das
líderes de torcida junto da sua nova colega de apartamento. Topam?
Nova colega de apartamento.
Violet Woods.
Justamente a pessoa em quem eu estava pensando e que não sai da
minha cabeça há dias. Tanto, que apareci depois do seu turno na Lust
novamente, apenas para vê-la e acompanhá-la até em casa.
— Já vou até procurar minha jaqueta — Paxton responde, deixando
que um sorriso lascivo tome conta dos seus lábios. — Ethan? Vamos?
É um sinal divino, não tem outra explicação.
Exatamente no momento em que preciso?
Só tenho uma escolha.
— O motorista da rodada sou eu.

Me sinto como um calouro na universidade outra vez.


Em apenas poucas semanas de volta às aulas, para o meu penúltimo
semestre, estou indo em tantas festas quanto ia no início de tudo.
E não, não é uma reclamação, apenas uma observação.
Acho que o cheiro de cerveja barata, vapes[22] com fragrâncias de
frutas diferentes e suor pode estar se tornando minha combinação favorita
de novo.
Ainda mais quando estou com os meus melhores amigos.
Chegamos há pouco tempo e já marcamos nossa presença no beer
pong — Paxton e eu contra James e Cassie. Como estou dirigindo, deixei
que Pax tomasse todas as minhas cervejas. E eu sei que isso provavelmente
vai se tornar uma péssima ideia no futuro, mas por agora… estamos
eufóricos demais para nos importarmos.
— Tem um pessoal jogando sete minutos no paraíso lá embaixo,
topa? — Pax pergunta ao pé do meu ouvido, enquanto estamos na cozinha,
e ele, Cassie e James viram alguns shots de vodca pura.
— Já voltamos — Cassie cantarola, puxando o namorado pela mão,
e o loiro e eu trocamos um olhar.
Sabemos o que eles vão fazer quando somem das festas.
— Claro. Por que não?
O sorriso que meu amigo me lança diante da minha resposta é o de
uma criança encapetada de oito anos.
Deveria me preocupar, mas... mas nada.
Não hoje.
Hoje, quero aproveitar a noite com eles e pensar nas consequências
só na próxima manhã.
Sigo Paxton escada abaixo, em direção ao porão, e quando
chegamos no largo ambiente, diferente das outras festas que já
frequentamos, não é o ponto das drogas. Acho que por ser das líderes de
torcida, elas são contra qualquer tipo de substância ilícita.
Ou pelo menos, elas não gostam que fique tão aparente assim.
A sala está lotada de jovens. Grande parte, conhecidos de alguns
shows em bares ao redor ou pelos corredores da faculdade.
Percorro todas as pessoas presentes com os olhos, e… ela.
Meus olhos encontram os castanhos tão conhecidos e apreciados por
mim nos últimos dias, da pessoa que não sai dos meus pensamentos e me
traz uma sensação de tranquilidade acima de tudo.
Eu ignoro o alerta de perigo que soa no meu cérebro sempre que
estamos juntos. No fundo, eu entendo um pouco que qualquer aproximação
mais carnal, seja uma má ideia, porém… não consigo evitar.
Há algo nos puxando um para o outro.
É assim que me vejo caminhando na direção de Violet Woods,
enquanto Pax é recebido de maneira bem calorosa por duas garotas da
equipe de torcida.
— Você — diz, de maneira divertida e com um sorriso nos lábios,
quando me aproximo.
— Eu. E você. De novo. Coincidência, não acha? Estarmos nos
esbarrando tantas vezes.
Ela eleva as sobrancelhas, levando o copo vermelho à boca.
— Está me perseguindo, baterista?
Dou de ombros.
— Acho que o destino está cruzando nossos caminhos. Deve ser um
sinal, não acha?
Ela ri, balanço a cabeça e desconectando as írises das minhas
durante um breve instante, mas logo volta, e consigo sentir seu sorriso
alcançar os olhos.
Isso me faz sorrir também.
Ela não sorri… dessa maneira, de maneira frequente, então, quando
faz, me sinto uma pessoa de sorte, por ter sido o escolhido para receber esse
presente.
— Há quanto tempo você terminou? — ela pergunta de repente, e eu
fico sem reação. O quê? Como ela sabe disso? Cassie disse alguma
coisa? — Calma aí, garoto de ouro. Eu reconheço alguém que passou anos
namorando e não flerta há um bom tempo de longe.
— Estou tão ruim assim? — indago, fugindo do seu questionamento
principal.
Violet inclina a cabeça, sem deixar que os cantos dos lábios se
abaixem.
— Poderia melhorar.
— No que, exatamente?
— Pode ser mais direto. Não precisa de conversa fiada comigo.
Ela me lança uma piscadela, e antes que eu possa raciocinar o que
acabou de acontecer, a voz de uma das líderes de torcida ecoa por todo
ambiente.
— Todo mundo para cá! Vamos começar a girar essa garrafa!
Violet Woods faz exatamente isso, e eu, é claro, não sou idiota o
suficiente para não segui-la.
Nunca achei que um jogo adolescente bobo fosse ser meu bilhete
premiado, mas aparentemente, é.
Ela disse "Cuidado ou você vai perder"
Mas, garota, eu sou apenas humano
E eu sei que tem uma arma onde seu coração é
E você sabe como usar
E você pode pegar minha carne, se quiser, garota
Mas, baby, não abuse
Consume | Chase Atlantic

Se eu fosse uma pessoa melhor, eu não estaria provocando Ethan


Scott e querendo corrompê-lo.
Porém, eu com certeza não sou essa pessoa.
Eu sei que deveria deixá-lo em paz. Eu sei que deveria cessar seus
flertes. Eu sei que deveria afastá-lo.
Entretanto, essa atração entre nós dois… é forte. Demais. Parece não
ser possível que fiquemos separados. Sempre que estamos em um mesmo
ambiente, nossos olhos se encontram. E quando não estamos, terminamos
nos encontrando de alguma forma.
É puro caos.
Essa colisão caótica que ocorre entre nós é intensa demais para eu
me manter longe.
É por isso que não é tão estranho me encontrar ao redor de uma
mesa redonda, no porão da fraternidade das líderes de torcida da
Universidade de Schönilla em uma quarta-feira à noite, esperando que a
garrafa sendo girada no meio da superfície de madeira, caia entre mim e
Ethan.
Ele está do outro lado, e não conseguimos desviar nossos olhos.
Os casais escolhidos desfrutam do tempo no closet de casacos ou no
banheiro adjacente, para que não esperemos tanto para a próxima rodada.
Estou quase desistindo dessa brincadeira estúpida e arrastando-o
para um canto qualquer da casa quando, finalmente, a garrafa de cerveja
vazia é girada mais uma vez e…
— Ethan Scott — uma garota de cabelos ruivos diz, anunciando os
próximos. — E a novata, Violet Woods.
Um coro de comemorações começa, e alguns garotos empurram os
ombros dele, animados, principalmente o baixista da The Chaotic Misfits,
Paxton Miller.
Por outro lado, a grande parte das garotas aqui me olha torto.
Querendo estar no meu lugar.
Sinto muito, queridas.
Ethan caminha até mim, estende a mão, que eu aceito de bom grado,
e me leva para o banheiro, trancando a porta atrás de nós.
Está totalmente escuro.
A única iluminação é do poste de luz amarela do lado de fora,
entrando pela pequena janela no alto da parede. A música está abafada, e
consigo enxergar com clareza apenas o perfil de Ethan.
— Achei que pudessem tirar minha cabeça por ter sido a escolhida
para vir aqui com você — comento, tentando deixar o clima mais leve e não
tão sério.
Sabemos porque estamos aqui dentro.
E é estranho que todos lá fora também saibam a razão de estarmos
aqui, e o que faremos. Por isso, um pouco de naturalidade não é tão ruim
assim.
Ele ri, passando a mão pela nuca, e fixa seus olhos nos meus.
— É uma das primeiras festas que venho solteiro.
Assinto, entendendo o porquê de todo o fuzuê.
E também noto que ele namora há um bom tempo.
Namorava.
Céus, o que estou fazendo aqui dentro com esse garoto?
Ele provavelmente pensa em casar na igreja, ter três filhos e morar
em uma casa branca com cercas.
Eu não sou a pessoa certa.
— Acho que isso não é uma boa ideia — declaro, pronta para girar a
maçaneta e sair.
Todavia, ele é mais rápido e segura meu pulso de forma delicada.
— Por que não?
Suspiro, virando de frente novamente.
— A gente não combina, Ethan — digo, e ele eleva ambas as
sobrancelhas para mim. — É sério. Somos… diferentes demais. Você com
certeza é o cara que pensa em casar e formar uma linda família de
comercial de margarina, e… e eu não sou essa pessoa. Não quero te iludir,
porque você é um cara bacana e merece alguém melhor.
Ele assente, processando o que eu disse.
Estou pronta para ele me soltar, e sairmos, fingindo que isso nunca
aconteceu, porém, não é isso que ele fala em seguida.
— Eu namorei durante todos os meus anos de universidade, Violet
— conta, e eu troco o peso dos pés, sem tirar meus olhos dos dele. — Eu
vivi anos muito bons com minha ex-namorada.
— Viu? Eu disse! Você é esse cara de ouro, e eu… eu sou um caos,
Ethan. Eu não me perdoaria por machucar alguém como você, porque sei
que é isso que vai acontecer, se avançarmos mais algum passo.
Ele balança a cabeça e me puxa para perto, colando nossos peitos.
Ofego, pega de surpresa pelo movimento.
— Vi?
— Sim?
— Não vou te pedir em casamento depois de um beijo. E você não
vai me machucar, porque meu coração — ele leva minha mão, que está
segurando, para o lado esquerdo do seu peito — já está quebrado. Ele não
pode se quebrar mais uma vez.
Porra, como lidar com esse garoto?
Até quando ele está tentando me convencer a fazer uma burrada, ele
é perfeito.
Ele é carinhoso. Bonito. Charmoso.
E… e ele não pode ser quebrado, se já está assim.
Que coisa, não é?
Duas pessoas quebradas tentando encontrar, uma na outra, um
refúgio, uma válvula de escape.
Será que é realmente o indicado sermos essa pessoa, essa âncora,
um para o outro?
— Violet?
— Hum?
— Posso te beijar ou você ainda vai continuar pensando demais
nisso?
Uou.
Esse com certeza não é o Ethan Scott que ficou anos sem flertar com
alguém.
Não respondo com palavras.
Agarro sua camiseta e capturo seus lábios com os meus.
Sua barba por fazer arranha de leve meu rosto.
Suas mãos circulam minha cintura, e ele me empurra, batendo
minhas costas na pia de mármore.
Peço passagem para dentro de sua boca com a língua no mesmo
momento em que suas mãos descem pela base da minha coluna, e ele
apalpa minha bunda por cima da saia de couro.
Caralho.
Ele tem gosto de chiclete de canela.
Meu novo sabor favorito.
Seguro sua nuca, querendo aprofundar ainda mais o beijo, se isso é
possível.
Nossos lábios devoram uns aos outros.
Aquele toque eletrizante que senti quando nos tocamos há alguns
dias?
Não se compara a isso.
Eu sinto meu corpo inteiro pegar fogo.
É como se duas substâncias distintas colidissem e explodissem.
É… é demais.
Ethan descola a boca da minha e começa a descer beijos pelo meu
pescoço, alternando entre mordidas e lambidas, e eu não controlo o gemido
que escapa dos meus lábios.
— Isso, Vi, pode gemer bem alto para mim.
Puta merda.
Quem diria que ele tem uma boca suja nessas horas?
Estou pronta para retrucar, quando ele se esfrega em mim, e seu
pau… porra, seu pau, que parece ser gigantesco, entra em contato com a
minha boceta. Mesmo com alguns tecidos separando nossas partes íntimas,
sei que estou pingando de desejo.
Acho que nunca senti tanto tesão apenas com um beijo antes.
A boca de Ethan volta a atacar a minha, e empurro meu quadril,
criando mais atrito entre nós dois, e é a vez dele de gemer contra mim.
Gostoso pra caralho.
— Também sei provocar, lindo.
A resposta dele é desferir um tapa na minha nádega direita.
Eu acho que morri e estou no meu paraíso pessoal com esse homem.
Desço minhas mãos pelo seu dorso, preparada para confirmar o
tamanho do seu membro enorme, que cutuca minha barriga.
— Ethan! Violet! O tempo terminou!
Somos interrompidos por batidas fortes na porta e nos separamos
com o susto.
Nossas mãos continuam um no outro, e ele sorri quando nota que
não é nada demais.
Ele encaixa a mão nos meus cabelos e deixa que o polegar faça um
carinho gostoso na minha bochecha. É involuntário, mas também
inevitável, deitar a cabeça levemente.
— Quer ir para outro lugar?
É claro que quero.
Porém, não posso.
Merda.
— Eu preciso ir. Tenho que estar na Lust amanhã e preciso dormir o
dia inteiro para aguentar o turno — confesso, e ele assente, nem um pouco
feliz com minha resposta.
Não porque não podemos continuar o que começamos.
Porque já percebi que ele não curte nada o meu emprego.
Ele acredita ser perigoso eu sair de madrugada depois das festas,
sozinha pelas ruas de Schönilla, mesmo o índice de criminalidade sendo
baixíssimo.
— Tá legal. Eu te levo — informa, sem ao menos me dar a chance
de reclamar, como fiz nas outras vezes em que me ofereceu carona. — E
nem adianta negar dessa vez, Vi. Eu nem bebi essa noite. Estou ainda mais
apto a te deixar em casa.
— Eu não ia reclamar! — minto, levando a mão ao coração de
forma dramática.
Ethan ri e deixa um selinho nos meus lábios.
Antes de sairmos, levo alguns minutos arrumando meus cabelos e as
roupas amassadas, assim como ele.
Não que adiante de algo.
Qualquer um vai ser capaz de adivinhar o que estávamos fazendo
aqui dentro.
— Vamos, linda. Continuamos isso da próxima vez.
Com isso, ele nos tira do banheiro minúsculo, e de mãos
entrelaçadas, vamos embora da festa.
Espero que essa próxima vez não demore muito.
Ela volta para mais
Já acabamos?
Porque eu estou bem aqui
Você está esperando pela hora
certa de me ligar de volta?
Cigarros e fodendo no peitoral da janela
Windowsill | Zayn

Ainda sinto o gosto dos lábios de Violet, quando fecho os olhos para
dormir toda noite.
Suas mãos em minha nuca, seu cheiro infiltrando pelo nariz e meu
pau tocando sua barriga, duro pra caralho… porra.
Faz anos que não fico com alguém que não seja Jess, então… é
diferente.
Novo, claro.
Porém… bom.
Até demais.
É normal ficarmos fissurados na outra pessoa após um único beijo?
É isso que acontece com os jovens atualmente?
Você já estava viciado nela antes mesmo disso.
Oh.
Sim.
Verdade.
Não contei a Paxton, nem a James o que rolou, por enquanto. Não
quero parecer emocionado, assim como não quero que eles acreditem que já
expulsei Jessica Flores do meu coração e estou pronto para seguir em
frente.
Ainda não sei se conseguirei fazer isso em algum momento.
Após tantos anos juntos, não só como amantes, mas como amigos
também… é estranho pensar em uma realidade onde ela e eu não somos
mais próximos.
Estranho pra caramba.
Todavia, quando estou com Violet Woods, eu não penso na minha
ex-namorada. Honestamente, em nenhum momento que estivemos juntos,
Jess me passou pela cabeça. Vi me faz me desconectar de tudo ao meu
redor, focando apenas nela. Na gente. É algo natural, não proposital, e… eu
gosto. Gosto de ser somente dela por um curto período.
De estar com ela, ponto final.
E eu acreditava ser recíproco, mas… não sei dela há dias, desde a
festa do fim de semana passado.
Quer dizer, ainda apareci nos dias em que aconteceram eventos na
Lust, acompanhando-a até em casa de carro. Ela notou minha presença e
mesmo assim, não veio até mim e aceitou a bendita carona.
De novo.
Então, não insisti.
E é por isso que não nos falamos desde o beijo — na verdade, desde
que a deixei em seu apartamento.
Eu não tenho o número dela e não consegui pensar em uma boa
desculpa para pedir a James ou Cassie, sem confessar que ficamos e estou
muito interessado na loira. Sei onde ela mora, entretanto, parece ser
invasivo demais aparecer lá, depois de ser ignorado após um beijo no
banheiro de uma festa de fraternidade.
Conclusão: estou na merda.
Ando pelos corredores da universidade, e pela primeira vez em
muito tempo, meus pensamentos não estão em rochas ou minerais, e sim,
em Violet Woods.
Sempre estou pensando nela, aparentemente.
É comum que eu acredite ver alguma garota parecida com ela, de
costas, e fique animado, me preparando para ir até a figura, porém… todos
foram alarmes falsos. Assim que a pessoa vira de frente, e eu vejo a
camiseta sem graça, sei que não é Violet.
Então, quando, mais uma vez, meus olhos encontram uma cabeleira
loira sentada em um dos bancos de madeira debaixo de uma árvore, eles me
enganam e me fazem acreditar ser ela. Admito que dessa vez, o tom de loiro
é mais preciso, e a mochila jogada ao lado da garota parece ser familiar, e…
não.
Tenho que parar de me enganar.
Não vou dar a volta e confirmar minhas suspeitas.
Não vou.
Não vou.
Não vou.
Eu faço isso.
E me preparo para a depressão, entretanto…
A blusa rosa com a frase "Not only am I funny… (I have nice titties
too!)"[23] é certeira.
Eu com certeza penso com a cabeça do meu pau, quando esqueço
que tenho uma aula em alguns minutos e caminho em sua direção, sem
conseguir controlar a risada que me escapa quando processo o que está
escrito em sua camiseta.
Essa Violet… é hilária.
— Seria mal educado se eu dissesse que concordo com sua
camiseta?
Violet ergue a cabeça, e um sorriso toma conta dos seus lábios
quando percebe que sou eu.
Um sorriso que dura poucos segundos, no entanto, eu noto e sorrio
de volta.
— Levou a sério o que eu disse sobre não saber flertar e está
treinando?
Afiada, como sempre.
— É difícil te conquistar, Violet Woods. Preciso usar todas as
estratégias existentes.
— Já pensou na possibilidade de eu não querer ser conquistada,
Ethan Scott?
É possível notar o tom divertido em sua voz quando ela retruca,
então sei que ela não está falando sério.
Não totalmente, pelo menos.
— Não pareceu, quando você me deixou te provar no fim de
semana, Vi. Pelo contrário… eu podia jurar que você estava pronta para ter
outras partes do seu corpo conquistadas por mim também.
Violet pisca, parecendo um pouco surpresa com minha fala, e meu
sorriso aumenta.
Ela coça a garganta e desvia os olhos dos meus, desconcertada.
Parece que não perdi todas as minhas manhas na arte de flertar.
— O que me leva a questão… — volto a falar, e ela retorna a
atenção para mim. — Quando vamos repetir?
A expressão que toma conta do rosto dela não é o que eu estava
esperando.
— Ethan…
— Não foi tão bom para você quanto foi para mim? — arrisco,
mesmo ficando um pouco aflito com a resposta. — O que não é um
problema, Violet. Não vou citar esse assunto de novo, se você não quiser
mais. Inclusive, se você não quiser mais me ver, eu também po…
— Ethan! Não é isso — me interrompe, e eu paro imediatamente,
relaxando um pouco os músculos, que ficaram tensos com o decorrer dessa
conversa. — É claro que gostei. Porra, foi bom pra caralho! Mas…
Ela não completa sua fala, e eu fico nervoso, trocando o peso dos
pés a cada instante.
— Mas…? — incentivo, ansioso.
— Mas eu não posso. Não posso fazer isso com você.
Franzo a testa, confuso.
— Fazer o que comigo?
— Te quebrar mais do que você já está quebrado. Eu nunca me
perdoaria. — O tom é de dor e também… cuidado, preocupação.
O que eu acharia carinhoso em outra situação, mas com certeza, não
nessa.
— Vi… não estou entendendo — confesso, e ela fixa os olhos em
suas mãos, que brincam uma com a outra em suas coxas. — Você não vai
me machucar.
— Eu vou, Ethan. Sei disso.
— E como você faria isso, huh? — pergunto, realmente curioso dos
meios.
— Você… você não é para mim, Ethan Scott — responde, voltando
a fixar as írises nas minhas. — Você é uma pessoa boa demais, e eu… eu
sou um caos. Você não percebe, porque aprendi a esconder ao longo dos
anos, mas eu sou, Ethan. Eu não quero um relacionamento. Nunca. Isso não
vai mudar. Ninguém pode me fazer mudar de ideia. E… eu sinto que você
pode se apaixonar por mim. E se isso acontecesse, Ethan, eu iria acabar
com você, não propositadamente, mas eventualmente, aconteceria, quando
eu não pudesse retribuir seus sentimentos. E eu não posso… não quero
fazer isso.
O que me surpreende mais na sinceridade de Violet, é que ela diz
tudo isso com dor em sua voz. Como se ela quisesse não só ficar comigo
mais uma vez, como também continuar além disso. Parece que ela queria
poder conseguir se apaixonar por mim, entretanto, o que quer que tenha
acontecido em sua vida para ela não querer um relacionamento, é mais forte
que isso.
Isso me deixa extremamente encucado.
O que aconteceu com essa menina, para que ela não acredite no
amor, assim tão jovem?
Quero descobrir.
Quero saber tudo sobre ela, para ser honesto. Seu filme preferido,
sua cor predileta, como ela toma o café de manhã e…
É exatamente isso que ela não quer, seu idiota. Violet quer alguém
para foder e ir embora, não alguém que vá querer escavar até sua alma
depois do sexo.
Merda.
Fico tão preso nos meus pensamentos, que só percebo que Violet
arrumou todas suas coisas e está de pé, de frente para mim, quando ouço
sua voz mais próxima.
— Desculpe, Ethan. Eu realmente gostei de ficar com você, mas…
mas não dá.
— Vi, eu…
— Tenho que ir. Tenho uma aula daqui a cinco minutos.
Não consigo contradizê-la, antes que ela saia.
Suas palavras, no entanto, continuam incrustadas na minha mente.
Ela não pode quebrar alguém que já está quebrado.
Essa é a verdade.
Só preciso mostrar à Violet que podemos dar certo, sem sairmos
machucados no fim.
Só que... como faço isso?
Na minha opinião, Brooklyn 99[24] perdeu totalmente a graça depois
que a atriz que interpretava a Gina saiu do elenco.
Mesmo assim, em momentos não tão… animados da minha vida,
meu refúgio é assistir alguns episódios e dar algumas risadas com aquela
estação de polícia caótica.
Em dias assim, Jess costumava vir aqui ou eu encontrava-a no
apartamento que dividia com Cassie, e ficávamos a noite inteira assistindo a
série. Em meio a gargalhadas e muito energético de pêssego — nosso
favorito —, eu sentia que mesmo em dias ruins, nem tudo estava perdido
porque, no fim, eu ainda teria-a ao meu lado.
Ingênuo pra caralho.
E aparentemente, eu continuo assim, porque quando vejo meu
celular brilhar na mesa de cabeceira, indicando que há uma nova
notificação, eu pego-o e não hesito em desbloqueá-lo, quando noto quem
respondeu o story que postei no Instagram há alguns minutos, vendo a
série.
jess_flores: está em qual episódio? Já chegou no de Halloween
dessa temporada? É o melhor!
Se eu tivesse o mínimo de dignidade, eu não responderia.
Ela com certeza não pensou em mandar mensagem, enquanto estava
com a boca colada na daqueles caras.
Mas… por que não?
Violet já me deu um fora no início da semana, e não encontrei
nenhuma oportunidade de encontrá-la e fazê-la mudar de ideia.
James está com Cassie.
E Paxton… Não faço ideia de onde meu outro amigo está.
Provavelmente, aproveitando a noite da maneira que só ele sabe
fazer.

ethan.scott20: ainda não, mas acho que chego essa madrugada.

Lá se foi o pouco respeito que eu tinha por mim mesmo.


Antes que eu consiga bloquear o celular e esquecer a merda que
acabei de fazer, os três pontinhos surgem, e no instante seguinte, uma nova
mensagem chega.

jess_flores: dia ruim?

Como responder a essa pergunta, se uma das razões do meu dia —


na verdade, minha semana — não estar sendo bom, é porque levei um fora
de uma garota que estou a fim?
Da mesma forma que ela postou nos storys beijando outras pessoas,
quando vocês mal tinham terminado.
Ai.
Verdade.

ethan.scott20: melhorando.
ethan.scott20: e como estão as coisas aí? Tudo bem? Se divertindo?

A última pergunta sai mais como uma alfinetada, entretanto,


conhecendo-a como conhecia, ela não vai notar que estou meio puto com
que ela anda fazendo do outro lado do oceano.
Com maneira como ela descartou o que tínhamos como se fosse
nada.
Como… como se ela não me amasse o suficiente.

jess_flores: tudo ótimo! Estou adorando a Espanha, Ethan. Você


precisa viajar para cá em algum momento. Vai adorar tanto quanto eu,
tenho certeza.

Solto uma risada ácida.


É sério que ela está me dizendo isso? Ela não tem vergonha na cara
ou pelo menos, um pingo de respeito pelo que vivemos? Eu sei que
combinamos de continuar amigos enquanto ela estivesse longe, porém, acho
que há limites na amizade com seu ex.
E ela está quase os ultrapassando.
Começo a digitar uma mensagem um pouco malcriada, quando ouço
três batidas na porta do quarto e quase deixo o celular se espatifar no chão.
— Posso entrar, querido? — A voz da mamãe surge do outro lado
da porta, e eu digo que está aberta.
Meu Deus, me senti novamente com dez anos e fazendo algo errado,
sendo pego pelos meus pais.
— Oi, mãe — cumprimento-a, quando ela senta na cama, ao meu
lado.
— O que acha de carne assada para o jantar?
— Perfeito.
Dona Rebecca Scott sorri.
Algumas ruguinhas enfeitam seu rosto no canto dos olhos, quando
ela faz isso. Para mim, mamãe continua uma das mulheres mais lindas do
universo. Ela é negra de pele marrom-escura, quase do mesmo tom da
minha. Puxei os olhos castanhos claros do papai, ao passo que os dela, são
pretos. Daquele tom, que mesmo com um flash apontado para suas írises,
não é possível ver nada. Eu acho misterioso e muito interessante. Os
cabelos são pintados semanalmente, para esconder os fios brancos. Hoje,
por exemplo, ela está com o cabelo crespo preso no alto da cabeça, em um
coque. Mês passado, ela passou algumas semanas de trança. E sim, ela
mesma faz!
Ela é a melhor em tudo que se propõe a fazer, exatamente como
quando começou a usar seu talento em crochê para fazer peças de
Amigurumis e vendê-las online.
Às vezes, ela fatura mais do que o marido com as vendas.
Meu celular, jogado no colchão, acende novamente, e
involuntariamente, meu olhar e o da minha mãe focam na tela, onde é
mostrado uma mensagem de Jess.
— Falando com Jess, não é? — mamãe pergunta de forma
maliciosa, e eu reviro meus olhos.
— Não é assim, mãe. Estávamos só colocando o papo em dia, mas
ela está aproveitando bem esse término.
Normalmente, eu não entraria em detalhes sobre minha vida pessoal
com os meus pais, entretanto, não consigo segurar a porra da minha língua.
De qualquer maneira, não é tão ruim.
Talvez ela pare de citar casualmente a ex-nora nas refeições em
família, ainda com esperança da nossa volta.
— E você não está fazendo o mesmo, querido?
Pisco, surpreso com seu questionamento.
Para mim, iríamos entrar em uma pequena discussão sobre meus
sentimentos, os de Jess e o que faremos quando ela terminar o intercâmbio.
Não isso.
— O quê?
— Eu amo a Jessica, filho, você sabe disso. Ela é como uma filha
para mim. Mas… acho que ela estava certa em terminar o relacionamento
de vocês. — Estou pronto para protestar, quando mamãe eleva uma das
mãos, pedindo para que eu espere, e é isso que eu faço, resignado. — Vocês
estão juntos há tanto tempo, que podem ter se perdido no caminho. É a hora
de você descobrir quem é sem ela, meu amor. Assim como ela está fazendo
o mesmo, eu acredito. Acredito que ambos podem curtir esses meses para
fazerem coisas que não fazem há anos, por conta do namoro, ou até mesmo
coisas novas, entende? Ter conhecido seu pai depois dos vinte anos, foi
essencial para que eu não tivesse dúvidas sobre casar. E acredito que vocês
possam usufruir bem desse tempo longe.
Se tivéssemos tido essa conversa há algumas semanas, logo que Jess
embarcou para outro continente, eu talvez não entendesse o que minha mãe
está querendo dizer.
Todavia, esse papo está acontecendo no momento certo.
Agora, eu compreendo um pouco melhor o que minha mãe está
falando, assim como as escolhas da minha ex-namorada.
Talvez… talvez seja um desafio. Uma forma de vermos se o nosso
relacionamento é forte o suficiente para aguentar esse pequeno empecilho
no caminho. Além disso, é realmente uma ótima maneira de eu me
conhecer como pessoa.
Há quanto tempo não faço algo por mim? Sem contar a The Chaotic
Misfits e Jess?
Muito tempo.
Tanto tempo, que eu não me lembro quando isso aconteceu.
— Mãe? — chamo, me ajeitando na cama para ficar mais perto dela.
— Eu te amo.
— Também te amo, filho — responde, me puxando para um abraço.
Como é Ethan Scott sem Jessica Flores?
Estamos prestes a descobrir.
Deixe-nos sermos queimados pelo fogo
Nós estamos andando na corda bamba
Mas nada parece mais alto
Quando eu vejo o olhar em seus olhos
Me diga o que você quer,
porque você sabe que eu quero também
Vamos pular essa conversa fiada e
ir direto para seu quarto
Small Talk | Niall Horan

Com dezessete anos, eu saí escondida de casa de madrugada, peguei


um ônibus na rodoviária da cidade e fui parar em uma cidade vizinha, a
quatro horas de distância da minha, apenas para tentar fugir do ambiente
familiar em que fui inserida e não conseguia sair sozinha.
Eu lembro que meus pais tiveram uma briga — como sempre.
Ele chegou mais cedo do que o habitual, e quando mamãe o
questionou a razão, ele contou que foi demitido.
Mais uma vez.
Se fosse somente isso, não seria um problema.
O problema foi que eram três horas da tarde desta terça-feira, e ele
chegou em casa fedendo à bebida.
Minha mãe ficou muito puta. Por ele ter sido mandado embora do
emprego — e ela sabe que o marido não é flor que se cheire, então era de
conhecimento que os empregadores tiveram algum motivo para desligá-lo
do trabalho —, por ter bebido durante todo o dia e um pouco, por ele proibi-
la de trabalhar.
— Se eu tivesse um emprego, Winston, eu não estaria tão irritada
agora, porque ainda teríamos dinheiro para o fim do mês!
Acho que foi uma das primeiras vezes em que a vi bater de frente
com ele.
E também a última.
A mão dele estalou em seu rosto, e eu pulei da cadeira com o som,
chamando a atenção dos dois.
Eles sempre esqueciam que tinham plateia nesses momentos.
Antes que ele pudesse direcionar a fúria para mim, mamãe disse
algo para distraí-lo e mexendo só os lábios, disse para eu correr para o meu
quarto.
Como uma boa covarde, eu fiz isso.
Obedeci-a, porque quando eu ficava no mesmo ambiente, tudo
piorava. Winston Woods ficava ainda mais puto e parecia querer descontar
de forma agressiva todos os problemas na esposa, deixando que a filha
assistisse.
Fechei a porta do quarto, coloquei os fones de ouvido e dei play em
algum filme de animação da Disney, os meus preferidos de todos os
tempos.
Eu estava cansada de viver daquela forma.
Estava puta por ter alguém tão nojento como progenitor.
Estava agoniada por minha mãe ver o monstro que ele era e mesmo
assim, continuar com ele.
Eu não aguentava mais nada daquilo.
Então, quando vi o anúncio de uma festa de Halloween na cidade
vizinha, não pensei duas vezes em pegar o arquinho de diabo debaixo da
cama e uma blusinha vermelha, após o jantar.
Viajei três horas.
Fiquei somente duas, porque a preocupação de acontecer algo com
minha mãe enquanto eu estivesse fora, falou mais alto.
Voltei, mais três horas no ônibus.
E mesmo assim, essas oito horas quase seguidas em um ônibus, que
não era preparado para viagens longas, foram muito menos cansativas do
que as três horas que passei nesse sábado, pela manhã, voltando para a
minha cidade natal.
Sim, eu disse que não voltaria. No entanto, quando Ines Woods me
mandou uma mensagem de voz, dizendo que meu pai arrumou um emprego
novo em outra cidade, que passava o dia inteiro fora e que, por acaso,
comprou mais costelas de porco do que precisava para o almoço do fim de
semana… eu não consegui dizer não.
É assim que me encontro nessa situação: sentada à mesa de jantar da
casa dos meus pais — já que mamãe não me deixou fazer nada, alegando
que eu precisava descansar da viagem —, esperando que ela apareça com o
almoço.
Me dá um pouco de calafrios estar aqui novamente.
— Espero que esteja com fome, minha florzinha, porque fiz comida
para dez pessoas — ela brinca, quando volta para a mesa, colocando a
panela com costelas de um lado, batatas fritas no meio e uma tigela com
salada de repolho na outra ponta.
— O cheiro está delicioso, mãe — elogio, já me ajeitando para
alcançar os talheres e começar a me servir.
Mamãe faz o mesmo, e só quando começamos a almoçar, que ela
volta a puxar assunto comigo.
— Está se alimentando direito lá?
— Sim, mãe. Sempre faço comidas para a semana aos domingos e
guardo em potes na geladeira, para ser mais prático.
Ela sorri, orgulhosa.
— E está gostando mesmo, Violet? Como é sua colega de
apartamento mesmo? Ela é legal? Uma boa pessoa?
Estranho você perguntar isso, quando o seu próprio marido não é.
— A Cassie é ótima. Ela sempre tenta me enturmar com os amigos
dela, e também converso com algumas pessoas das minhas salas. Todos são
legais. Diferentes do pessoal do colégio.
— Mais maduros?
Pondero, enquanto mastigo.
— Não sei… diferente — respondo, não me prolongando muito,
para não dizer o que não deveria.
Lá, eu não tenho medo de eles descobrirem sobre meu pai abusivo e
o que ele faz dentro de casa.
— Fico feliz que você esteja fazendo amigos, meu amor. — Suas
palavras são sinceras, e isso me machuca, porque me sinto culpada.
Como posso estar estudando e criando laços de amizade, ao passo
que ela vive aqui… nesse ambiente terrível, com uma pessoa ainda pior?
— E como estão as coisas aqui? — pergunto, tentando fazer parecer
uma pergunta casual.
— Estão bem, Violet. Quer mais batatas fritas?
A mudança sutil de assunto não passa despercebida por mim.
— Mãe, as coisas estão bem mesmo? — questiono novamente,
segurando seu pulso de leve, antes que ela alcance o prato com as batatas.
— Sim, filha. Está tudo bem. Não vai querer mais? Estão do jeitinho
que você gosta, crocantes por fora e macias por dentro.
Pelo amor de Deus.
— Mãe, pode parar de me oferecer comida por um segundo e
responder à pergunta, de forma verdadeira, por favor?
Ines suspira, puxando seu braço do meu aperto.
— Já disse que está tudo bem, Violet. O que mais você quer que eu
diga?
— A verdade.
— Essa é a verdade! — retruca, impaciente, e eu respiro fundo,
tentando não perder o controle com ela.
Eu sei que ela é uma vítima.
Todavia, às vezes é difícil enxergar isso, quando ela parece ter total
consciência do que acontece em seu casamento — porque eu já fiz questão
de mostrar diversas vezes o que está rolando e como isso não é saudável —
e mesmo assim, escolhe ficar.
— Os aluguéis em Schönilla não são caros. Eu ganho bem onde
trabalho e acho que não é tão difícil conseguir um emprego para você, mãe.
Podemos alugar um lugar pequeno e de…
— Violet. Não vou me mudar, já te disse isso. Eu gosto daqui — ela
é firme em seu posicionamento, e eu reviro os olhos.
Não dá.
Não consigo fingir que está tudo bem, como ela faz.
— Você não vai mesmo larga-lo, huh? — murmuro, baixinho, sem
olhar em seus olhos.
— Violet… por favor.
Há dor em sua voz, e sinto os meus olhos encherem de lágrimas.
Pisco, tentando afastá-las.
— Por favor, o quê, mãe? Por favor, pare de tentar te falar a
verdade? Ou por favor, te deixe viver dessa forma horrível?
— Por favor, vamos terminar o almoço sem discussões e aproveitar
o tempo que estamos juntas, antes que você precise voltar, filha. Fiz um
cheesecake com cobertura de frutas vermelhas delicioso! Vi a receita na
televisão na semana passada e sabia que precisava fazer para você. Vou
buscar na geladeira!
E ela foge, como faz todas em as vezes que estou mostrando a
realidade para ela.
É doloroso demais vê-la nessa situação e não poder fazer nada para
ajudá-la.
Às vezes… às vezes só quero esquecer de tudo durante um tempo.
Ter uma boa distração e não lembrar disso. Dela, do meu pai, dessa casa…
de tudo.
Queria sentir algo que não fosse tristeza, preocupação e dor, pelo
menos por um momento.

Para uma sexta-feira à noite, até que a Lust está relativamente vazia.
Ou minha mente está avoada demais para prestar atenção em
alguma coisa.
Desde a visita à minha mãe, eu estou aérea ao mundo ao meu redor.
Minha vida está definida em comer — e só porque, felizmente, eu
fiz as marmitas no fim de semana passado —, dormir e hoje, que vim
trabalhar. Até mesmo faltei as duas aulas de hoje, porque eu sabia que, se
fosse, seria apenas para marcar presença e não, para focar de verdade no
conteúdo ensinado.
E só vim para o turno de hoje, porque não podia pensar na
possibilidade de não receber o dinheiro. Fiz meu plano financeiro dessa
semana contando com ele, não podia simplesmente faltar e perder uma boa
grana.
Assim que terminamos de arrumar todo o bar e um pouco do
restante do ambiente da casa noturna, vou direto para a área dos
funcionários. Lá, tomo um banho rápido, apenas para tirar o suor grudado
do corpo, troco de roupa e passo pela porta dos fundos, sonhando com a
minha cama.
Só quero que essa semana terrível termine de uma vez por todas,
murmuro mentalmente, com os olhos fechados, sentindo os primeiros raios
solares dessa manhã de sábado atingirem meu corpo.
Quando os abro, não me surpreendo em ver o carro de Ethan Scott
parado do outro lado da rua.
Como em todas as outras vezes.
Mesmo eu dando um fora nele há alguns dias, ele não deixou de se
importar com a minha segurança — embora ele saiba que a cidade não é
perigosa para que eu precise de um acompanhante até o apartamento.
Suas írises castanhas encontram as minhas, e ficamos alguns
segundos nos observando, sem falar nada.
Com o cabelo raspado, a correntinha de ouro no pescoço e uma
jaqueta jeans casual, Ethan continua sendo bonito pra caralho e,
obviamente, muito gostoso. Já notei seu tronco definido por cima das
camisetas coladas que usa. Assim como pensei em como seria passar a
língua por todos os seus gominhos.
Porra, Violet, não pense nisso.
Mas… é mais forte do que eu.
Mais forte do que todo o respeito que construí por esse cara incrível
nas últimas semanas.
Eu só preciso de uma distração.
Algo que me faça esquecer.
E… e Ethan está aqui.
Ele está aqui todos os dias.
Eu deveria seguir meu caminho e deixar que ele me siga, como em
todas as outras vezes.
No entanto, não faço isso. Pelo contrário, eu atravesso a rua nada
movimentada e encontro a porta do carona aberta.
Entro no carro e me viro para o motorista, que me observa sem
entender.
Nem eu estou entendendo, para ser franca.
— Violet? O que acon…
— Você ainda me quer? — pergunto, cortando-o no meio de sua
fala, e ele arregala os olhos, surpreso. Lentamente, ele pisca, e eu elevo as
sobrancelhas. — É uma resposta de sim ou não, Ethan.
— Por que isso de repente? Você disse há alguns dias que não iria
rolar nada, Vi.
E ele nem parece chateado quando relembra nossa conversa, apenas
confuso.
— Ethan, preciso que você me responda se me quer ou não. Se a
resposta for não, eu saio daqui e vou pa… — Já estou com a mão na
maçaneta da porta, pronta para encontrar outra forma de me distrair, quando
ele segura meu outro pulso, de forma cuidadosa.
— É claro que ainda quero você, Violet. Como eu não poderia?
Sorrio com a única boa notícia dos últimos dias.
— Cassie está com James esse fim de semana — conto, me
ajeitando no banco do carona. Ele larga meu braço, porém, não deixa de me
tocar. Sua mão encontra um lugar perfeito na minha coxa, e eu controlo a
vontade de expandir meu sorriso. — Hoje é seu dia de sorte, Ethan Scott,
porque sou toda sua.
E eu vou mostrar se você deixar, garota
Eu não sei se você já sabe como
Mas garota, eu tenho o sentimento que você sabe como
Você está enterrada no travesseiro e você é muito
barulhenta
Mas estou prestes a mostrar a você, baby, desacelere
Slow Down | Chase Atlantic

Quando Violet Woods entra no seu carro e pergunta se você ainda a


quer, você não pensa demais na sua resposta — como eu fiz — e quase a faz
desistir.
Você diz sim.
Você dirige para o apartamento vazio dela.
Você abre a porta do carona, depois que estaciona, e a segue para
dentro, se mantendo a uma distância segura, até ela trancar a porta de casa,
para não acabar fazendo um show para o porteiro do prédio antes do
momento certo.
E assim que vocês estão sozinhos…
Não dou tempo de Violet tirar os sapatos e já estou prensando seu
corpo contra a porta de madeira da entrada, segurando-a pela cintura e
deixando nossos rostos nivelados. Uso a outra mão de colar em seu
pescoço, e ela ofega. Um sorriso toma conta do seu rosto, de forma lasciva.
— Ansioso, huh? — provoca, apoiando suas mãos na barra da
minha jaqueta jeans e me puxando para ainda mais perto, como se não
estivéssemos colados o suficiente.
— Eu deveria te punir por ter me dado a porra de um fora e depois
ter corrido de volta para mim — retruco a provocação, apertando mais um
pouco sua garganta.
Ela me lança um sorriso malicioso, gostando do que eu disse, e abre
as pernas. Um pouco sôfrega, ela não perde a oportunidade de retrucar:
— E como você faria isso? Me batendo? Na bunda ou na cara?
Gosto dos dois, então não seria uma punição de fato.
Porra, essa garota.
A demora já é insuportável para mim.
Não dá para esperar nem mais um segundo por Violet Woods.
Capturo seus lábios com os meus.
E como da primeira vez — ou ainda melhor —, assim que nossas
línguas entram em contato uma com a outra, é… é fenomenal.
Diferente de tudo que já senti antes e, ao mesmo tempo, único.
Algo totalmente nosso.
Beijo sua boca com voracidade, deixando que todo o desejo que
sinto por ela, e estava guardando dentro de mim, saia. Eu achei que estava
indo rápido demais, porém, Violet devolve da mesma maneira, e, de
repente, estamos nos beijando de forma animalesca.
Feroz.
E é bom pra caralho.
Desço minhas mãos até alcançar sua bunda, ainda, infelizmente,
coberta pela calça jeans, e apalpo uma nádega, fazendo com que a loira
gema contra meus lábios.
Puta merda.
Impulsiono seu corpo para cima, e ela encaixa as pernas ao redor do
meu quadril, cravando as unhas nos meus ombros e não descolando a boca
da minha.
— O quarto no… no final do corredor — orienta, rouca, quando
começo a andar pela casa escura.
Ela ofega, quando desço minha boca pela sua pele, dificultando sua
fala, e isso me deixa ainda mais excitado.
Chuto a porta do seu quarto e entro, até chegar perto da cama de
casal no meio do ambiente e jogá-la ali.
A única luz que ilumina o cômodo é dos postes da rua e as estrelas.
E mesmo com pouca iluminação, ela continua magnífica.
Tiro minha jaqueta e a camiseta primeiro.
Um sorriso sexy se forma no rosto de Violet, e seus olhos escaneiam
todo meu corpo.
Sei que sou um cara malhado, afinal, academia é uma das minhas
obrigações semanais. No entanto, o resultado de tanta musculação parece só
aparecer, quando sinto os olhos castanhos da garota linda me analisando.
— Tire uma foto, linda, dura mais — provoco, voltando a me deitar
por cima dela.
Ela separa as pernas, e eu me encaixo ali, com cuidado, apoiando os
cotovelos no colchão, para não deixar que todo meu peso caia sobre ela.
— Seu ego aumenta cem por cento quando está prestes a se dar
bem, não é?
Dou de ombros e me abaixo, voltando a rastejar minha língua por
seu pescoço, e aproveito para sussurrar em seu ouvido:
— Não tem como eu não me achar, quando você está me devorando
com os olhos, linda.
Dessa vez, Violet não tem a chance de dar uma resposta espertinha,
porque chupo sua pele com força, um pouco animado demais com a ideia
de deixar minha marca nela.
Você nunca foi esse cara territorial, Ethan, o que está acontecendo,
porra?
Não faço ideia.
Mas… mas gosto desse Ethan Scott, que só aparece quando está na
companhia de Violet Woods.
Arrasto a alça da sua blusa preta de um lado e repito o movimento
no outro, revelando seu sutiã rendado da mesma cor. O tecido é tão
transparente, que é possível ver o bico do seu mamilo eriçado, me deixando
com água na boca.
Ela se apoia nos cotovelos e tira ambas as peças de roupa, ficando
totalmente nua para mim, sem deixar que o sorriso saia dos seus lábios,
muito menos, desviando as írises das minhas.
— Você pode provar, Ethan, não precisa ficar apenas olhando —
provoca, jogando todos os fios loiros para trás e deixando a porra dos seus
peitos deliciosos na minha cara.
Volto a deitá-la e caio, literalmente, de boca em seus seios.
Minha língua encontra um dos seus mamilos e estimulo-o,
movimentando-a por todo seu peito. Uso a mão para estimular o outro seio,
e os gemidos de Violet são ainda mais lindos que qualquer nota musical.
Levo meu tempo saboreando-a e deixando alguns chupões pelo
peito esquerdo, para então, repetir tudo no outro.
Quero guardar os gemidos dela em um disco e ouvir todos os dias.
Minha boca rasteja pela sua barriga, alternando entre beijos e
sugadas, até chegar na barra da sua calça jeans. Lentamente, eu desboto-a e
desço o zíper, tirando o jeans e a calcinha do seu corpo de uma vez.
Que se foda, estou louco para prová-la.
— Alguém não quer mesmo esperar — a canalha provoca, se
apoiando novamente nos cotovelos, para me encarar com aqueles olhos
castanhos hipnotizantes.
Dou minha resposta não com palavras, mas sim, me agachando o
suficiente para poder levar minha boca até a sua boceta encharcada.
Porra, ela está pigando por mim.
— Você também não, huh? Sua boceta está melada demais por mim,
Vi.
Mergulho em seus lábios de uma vez.
Sem tirar meus olhos do seu rosto, sorrio quando ela tomba a cabeça
para trás, ofegante com o toque da minha língua em sua boceta.
Uso minha língua com destreza, alternando meus movimentos e
entendendo o que o corpo de Violet gosta. Quando encontro meu ritmo
perfeito, apenas a observo ser dominada pelo orgasmo.
Seu gosto é delicioso, é o meu primeiro pensamento, quando ela
goza na minha boca.
Engulo cada gota e finalizo com uma lambida pelos seus grandes
lábios, para, finalmente, voltar a ficar sobre ela e deixar nossos rostos
próximos.
Suas írises encontram as minhas, e ela sobe uma das mãos até minha
nuca, me puxando para um beijo.
Ao contrário dos outros, esse beijo é calmo.
Sedutor.
Gostoso.
Ainda sem desconectar nossas bocas, eu levo uma das minhas mãos
de volta à sua boceta, ainda sensível pelo orgasmo, e lembrando de suas
palavras de quando chegamos, desfiro um tapa ali.
O gemido de Violet reverbera por todo o quarto. Eu diria que até os
vizinhos puderam ouvi-la gritando meu nome.
— Ethan… preciso gozar de novo — ela choraminga, e eu sorrio.
— Vou te dar muitos orgasmos essa noite, linda.
Estou quase enfiando meu dedo dentro dela, porém sou impedido
com o aperto em meu pulso.
— Preciso gozar com você dentro de mim — arfa, me fazendo
perder o controle. — Quero seu pau, Ethan.
Puta que pariu.
Não existe uma maneira de negar isso.
Me levanto, tirando minha calça e cueca, e largo-as de qualquer
forma no chão, liberando meu pau.
O olhar dela está totalmente hipnotizado pelo meu membro duro. Eu
seguro-o e começou a fazer movimentos de vai e vem, deixando que as
gotículas de pré-gozo se espalhem por todo o meu pau.
— Você tem camisinha? — pergunto, antes que eu me supere e goze
apenas com o olhar penetrante da garota nua na cama.
— Na gaveta da mesinha de cabeceira.
Assinto, indo até o móvel e encontrando um pacote fechado de
preservativos.
Sorrio, feliz em saber que, provavelmente, fui a primeira pessoa que
ela trouxe até aqui.
Rasgo a embalagem e desenrolo a camisinha por todo meu membro,
voltando a me deitar por cima de Violet.
Bem, eu tento fazer isso.
— Quero ficar de quatro — informa, já se levantando, e eu sou
capaz apenas de assentir. — Assim é mais fácil de você deixar sua mão
pesada na minha bunda.
Fico tão atordoado com suas palavras, que quando processo, ela já
está com as nádegas empinadas e olhando para mim por cima dos ombros.
Me posiciono atrás dela, segurando-a pela cintura, e em um
movimento só, entro totalmente dentro dela.
Nós dois gememos em uníssono.
Porra, ela é apertada demais.
Não tenho um pau imenso, mas caralho, parece que sim.
Suas paredes me apertam de uma maneira… puta que pariu.
Lentamente, me forçando a não gozar em dez segundos de sexo, eu
começo a me mexer dentro de Violet.
É intenso demais.
Novo demais.
Estou… acho que estou no paraíso.
Ela empurra os quadris para trás, de encontro a mim, e com nós dois
nos movendo, encontramos um ritmo perfeito.
Como se tivéssemos sido feitos um para o outro.
Nos encaixamos de uma maneira inexplicável.
Nem parece que é real.
Puxo o corpo de Violet para cima e encosto suas costas suadas no
meu peitoral, metendo dentro dela forte e bruto, e minha garota… porra, ela
adora isso.
Sua mão encontra meu pescoço, e ela deita a cabeça em mim.
Uso a posição para voltar a tomar seus lábios e arremeter dentro de
sua boceta apertada pra caralho.
Parece uma porra clichê de se falar, mas… mas somos um só nesse
momento.
Não sei onde eu termino e onde Violet começa.
Somente sei que, nesse instante, estamos nos conectando de uma
maneira intensa, verdadeira e fantástica demais para eu descrever em
palavras.
Sinto as paredes escorregadias dela apertando meu pau e sei que ela
está perto.
Eu também estou.
Por isso, levo minha mão até seu clitóris e o estimulo.
Com a outra, eu estalo tapas em sua bunda, deixando que a marca
vermelha tome conta da pele branca.
Ela fica ainda mais gostosa marcada por mim.
Não demora muito para que a sensação inebriante de orgasmo tome
conta de nossos corpos, e juntos, gozamos.
Vejo estrelas quando ejaculo na camisinha, e Violet fecha os olhos,
deixando que a onda de prazer passe por todo seu corpo.
Ofegantes, eu espero alguns segundos, antes de sair de dentro dela.
Violet cai na cama, totalmente acabada com a nossa primeira
rodada, e eu faço um nó na camisinha, jogando na lixeira que encontro
perto da escrivaninha.
— Não sinto minhas pernas — ela reclama, quando me deito ao seu
lado na cama, e eu solto uma risada.
— Mal começamos, Vi — respondo, ficando por cima da loira, que
está totalmente grogue pelo orgasmo. — Vou te dar todos os orgasmos
correspondentes aos dias que você vem me evitando.
— Ah, é? Você aguenta essa maratona de sexo?
Eu rio mais uma vez.
— A pergunta é… você aguenta, linda?
— Minha boceta já está totalmente pronta para o seu pau de novo.
É assim que eu passo o começo de um sábado, transando com Violet
Woods e deixando-a exausta de tanto gozar.
Há uma maneira melhor de começar o fim de semana do que essa?
Você sabe as vibes, sabe as vibes
Você e eu neste quarto
Imaginando as coisas que poderíamos fazer
Não vou dizer mentiras, nenhuma mentira para você
Eu preciso de você aqui, eu preciso de você aqui
Vibez | Zayn

Os raios solares dessa manhã me acordam, e eu lembro que,


provavelmente, não fechei as cortinas quando cheguei do trabalho, há
algumas horas.
Eu também noto que não estou com dor de cabeça — e eu vinha
acordando com enxaqueca a semana inteira. Também não me recordo de
acordar por conta de um pesadelo.
Estranho.
Apenas sinto que não descansei o suficiente, porém, mesmo assim,
nunca dormi tão bem antes.
Não preciso ir muito a fundo nos acontecimentos recentes para
entender como estou nesse estado. Na verdade, preciso somente mexer as
pernas e sentir o meio delas dolorido.
É claro que os braços musculosos ao meu redor não deixam nada
para imaginação também.
Ethan Scott.
Eu transei com Ethan Scott.
Muitas vezes.
E… foi bom pra caralho. Tipo, as três melhores fodas da minha
vida.
Puta merda.
Eu não devia ter feito isso!
Agi no calor do momento. Estava puta com a minha mãe, puta com
meu pai, porra, puta com a minha vida inteira. E eu só precisava da merda
de uma distração, algo para me fazer esquecer o quanto as coisas só dão
errado. E… e Ethan estava lá.
E eu não pensei direito.
Pensei com o meu tesão e com os traumas que acumulei ao longo da
minha vida.
Caralho! Como fui me meter nessa?
Não só em ter feito sexo diversas vezes com ele, mas… mas
caramba, estamos dormindo juntos na minha cama.
Nunca deixei que ninguém ficasse depois da transa.
E muito menos, fiquei na cama de alguém após o ato.
Dessa vez, nem posso culpar a bebida.
Apenas a falta de noção, senso e dignidade.
Respiro fundo três vezes.
Eu só preciso sair daqui sem fazer barulho.
Lentamente, me desvencilho dos braços de Ethan, sem acordá-lo. E
no instante em que faço isso, já sinto falta do casulo confortável e do
carinho que ele estava fazendo involuntariamente no meu cabelo.
Não.
Nada disso, Violet Woods.
Não vá com sua mente por esse caminho.
Certo.
Quando estou de pé, pego minhas roupas jogadas no chão e coloco-
as, só querendo sair o mais rápido possível daqui. Do apartamento. Porque
assim que ele acordar e não me ver, vai embora, e eu poderei voltar para
casa.
E ignorá-lo para o resto da minha vida, após isso.
Comemoro silenciosamente, quando consigo sair de fininho e fechar
a porta com cuidado.
Ufa.
Essa foi por pouco.
— Bom dia, Vi. — A voz aveludada de sono de Cassie Brown me
faz pular no lugar, quando passo pela porta da cozinha aberta. — Desculpa,
amiga. Não quis te assustar.
Mesmo com a xícara de café próxima demais do seu rosto, ainda
consigo ver o sorriso divertido que toma conta dos seus lábios.
Será que… não.
Ela não deveria estar com James?
O que ela está fazendo aqui tão cedo?
— Bom dia, Cassie — respondo, tentando soar tranquila, e vou até a
geladeira. — Achei que fosse estar na casa do James.
Espero que eu tenha soado despretensiosa e não, nervosa.
— Eu dormi lá, mas como nós dois temos provas na próxima
semana, ele me trouxe de volta para pegar meus materiais e vai passar aqui
mais tarde, para irmos para a biblioteca — explica, descansando a caneca
na bancada da cozinha.
Onde eu estou enchendo meu copo de suco de laranja.
Ela escora o quadril ali e cruza os braços.
Estou focada em não deixar minhas mãos tremerem e
consequentemente, derramar o suco, mas sinto os olhos dela sobre mim.
— Eu cheguei cedo — comenta, e eu apenas assinto, indo guardar a
jarra na geladeira. — E ouvi alguns barulhos vindo do seu quarto, pequena
Violet.
Puta que pariu.
Onde eu cavo um buraco para enfiar minha cara?
— E-eu estava assistindo televisão. Não consegui dormir depois que
voltei do trabalho — minto e antes que eu consiga pegar meu copo, e sair
da cozinha, minha colega de apartamento bloqueia minha saída do cômodo.
— Não estou te julgando, Vi. Só gostaria de ser avisada quando
você trouxer alguém pra cá, tá bom? Não quero ter o azar de chegar e me
deparar com uma bunda nua no sofá da sala. De novo.
Aceno com a cabeça de maneira positiva.
— Aconteceu de repente, eu não estava planejando — sou sincera, e
ela sorri para mim. — Na próxima, te falo, pode deixar.
Porque não vai ter próxima.
Ela finalmente libera minha passagem, porém, me segue para a sala
de estar.
Eu me sento em uma ponta do sofá, e ela ocupa o lugar do meio,
ficando bem próxima de mim.
Merda.
— Quem é a pessoa de sorte? — questiona, curiosa, cruzando as
pernas.
— Hm… alguém. Ninguém importante — respondo, alternando o
olhar entre ela e o corredor.
Cassie percebe, é claro, não estou sendo nada sutil.
— A pessoa fez algo que você não gostou? Quer que eu vá até ela,
expulsá-la? Sabe, minha tia Ellie [25]me ensinou alguns movimentos de
autodefesa, posso ajudar.
— Não! Não é isso! — me apresso em dizer, antes que ela marche
até meu quarto e encontre o amigo do seu namorado. — Nada disso, está
tudo bem. Hm… obrigada, mesmo assim.
Cassie inclina um pouco a cabeça, deitando-a no encosto do sofá, e
não tira as írises castanhas das minhas.
— Foi bom, então? Não quero te deixar envergonhada, mas pelo que
ouvi… parecia estar sendo mais do que ótimo.
Como Ethan não apareceu até agora, eu me sinto um pouco mais
relaxada e não tão sem graça. Não tenho problemas em falar sobre meus
parceiros e parceiras, todavia, eu teria problemas em falar de alguém
próximo da minha nova amiga, e ele surgir de repente.
Acho… acho que não.
Estamos seguras por enquanto.
— Acho que foi uma das melhores fodas da minha vida — confesso,
e isso a faz arregalar os olhos, ainda mais interessada. — Eu não estava
esperando muito, mas, amiga, caramba! Que homem do céu! Ele é
fantástico na cama. Acho que gozei mais vezes nessa noite, do que no ano
passado. Com alguém estimulando, quero dizer. E, meu Deus, Cassie, o pau
dele é imen…
O som de passos vindo do corredor me cala.
É minha vez de arregalar os olhos.
Cassie e eu viramos a cabeça no mesmo segundo para o local de
onde está vindo o barulho suave, e eu torço, nesses milésimos de segundo,
que seja James Crawford saindo do banheiro.
— Vi, você viu minha calça por aí? Eu não estou achan… — A voz
de Ethan Scott soa no ambiente agora silencioso, e eu fecho os olhos.
Puta merda.
Ele está com todo o dorso ainda nu e com o lençol branco enrolado
na cintura, enquanto segura a camiseta com uma das mãos, olhando para a
peça.
Abro os olhos novamente, no mesmo momento em que ele ergue a
cabeça.
Primeiro, seu olhar encontra o meu.
Em seguida, ele nota minha companhia, e seu sorriso se transforma
em susto.
Bem-vindo ao clube dos assustados com a presença de Cassie
Brown, Ethan.
— Bom dia, Ethan — Cassie deseja e pelo olhar malicioso que ela
lança para nós dois, já sei que a pele branca do meu rosto se tornará
vermelha de vergonha em breve.
— Cassie! Bom dia — responde, sem graça, e eu me apresso para ir
até ele e tirá-lo dessa situação estranha.
— A noite foi boa? — pergunta diretamente para o baterista da The
Chaotic Misfits.
— Excelente. E a sua? Estava com James, não é? — indaga,
nervoso, e eu tento empurrá-lo de volta para o quarto, porém, ele parece
estar preso no lugar.
Ah, não.
Por favor, não.
— Ethan. Vamos voltar — murmuro, sem que Cassie ouça, e ele
abaixa o olhar para mim.
Para minhas mãos em seu peito e minha barriga contra seu corpo,
exatamente onde já sinto seu pau duro por debaixo do lençol.
Seu pau monstruoso.
— Voltei cedo para buscar umas coisas — minha amiga diz, sem
tirar o sorrisinho divertido do rosto.
— Hm… é. Legal. Interessante.
— Ethan. Quarto. Agora — digo mais uma vez, e finalmente, ele
parece me ouvir, saindo do transe e voltando para o cômodo.
Graças a Deus.
Antes que eu consiga fechar a porta, no entanto, ouvimos a voz de
Cassie gritando da sala para nós.
— Queria que James e Paxton estivessem aqui para ver essa
situação! Eles iam amar!
Ela diz "Nós poderíamos fazer o que você quisesse
Mas, garoto, não venha se apaixonando
Você não pode ficar comigo
Tudo que você tem é um dia comigo"
E ela disse "Nós podemos fazer o que você quiser
Você poderia me foder no banco de trás do seu carro"
Mas eu nunca vou conseguir ficar com ela
HER | Chase Atlantic

— Você disse que Cassie estaria com James — deixo escapar, assim
que Violet fecha a porta atrás de nós, ainda ouvindo os resquícios de risada
da namorada de um dos meus melhores amigos do lado de fora.
— Foi o que ela me disse — Violet responde, levando a mão à testa,
nervosa. — Isso é ruim? Ela ter nos visto?
Levo três segundos ou menos pensando, porém, é o suficiente para
Violet acreditar ser uma resposta.
— É claro que é! Você é melhor amigo do namorado dela, são
amigos desde o início da faculdade e… e, meu Deus! E se ela me odiar? —
Ela para durante poucos instantes, somente para pegar um pouco de ar e
pensar na resposta de sua própria pergunta. — Não existe algo proibindo a
pessoa com quem você divide apartamento de transar com algum amigo
seu? Ela… ela não vai me expulsar, vai? Não pode! Eu não tenho para onde
ir e além do mais, eu…
— Violet — chamo, parando em frente a ela e segurando seus
braços de forma delicada, mas firme, mantendo-a no lugar. Ela estava tão
nervosa falando, que começou a perambular pela área livre do cômodo e
quase abriu um buraco. — Está tudo bem. Cassie não vai te odiar, muito
menos, te expulsar daqui. O máximo que ela vai fazer, é contar para James,
que vai falar para Paxton, e vou ser submetido a um interrogatório, por eles
terem descoberto isso por ela, e não por mim.
Inclusive, já estou me preparando mentalmente para esse momento.
Temos ensaio mais tarde, porque há mais apresentações se
aproximando, e não vou me surpreender quando eles chegarem na minha
casa com mil e uma perguntas sobre essa situação.
— Ok. Ok… estou mais calma — diz, inspirando o ar pelo nariz e
soltando pela boca.
— Isso, linda, tá tudo bem — garanto, lançando-lhe um sorriso de
conforto.
Pelo menos, é o que tento passar.
Os olhos de Violet descem devagar pelo meu corpo… totalmente nu.
Mas… o quê?
Porra.
Fiquei preocupado com Violet e não pensei no lençol cobrindo
minhas partes íntimas, quando me aproximei para fazê-la parar e se
acalmar.
Agora, meu pau duro está dando um belo bom-dia para a loira, que
não consegue tirar os olhos dele.
— Não vou mentir, Vi, você alimenta bem meu ego — provoco-a, e
ela ergue a cabeça, encontrando minhas írises.
— A culpa não é minha, se seu pau monstruoso está apontando bem
para a minha cara! A essa hora da manhã!
— Não acha que onze horas é um bom horário para começar?
Ela franze as sobrancelhas, antes de soltar uma risada e se distanciar
de mim, indo até a cama.
Aproveito o momento para pegar o lençol do chão e passar pela
minha cintura novamente.
— Quer… quer tomar um banho antes de ir?
Uou.
Não estava esperando essa pergunta, e sim, um convite para sexo
matinal.
Ela percebe minha estranheza, porque logo volta a falar, tentando
soar casual e nada nervosa.
— Eu… hm… foi muito bom, Ethan. Bom pra caralho, para ser
bem sincera — admite, sem vergonha, e eu… gosto disso.
Gosto de como Violet Woods fala o que quer, na hora que quer e não
se importa com que as outras pessoas vão pensar.
— Mas…?
— Acho melhor não repetirmos, não é?
Pisco, muito chocado com sua sugestão.
Se ela mesma disse que foi bom pra caralho… o que está
acontecendo para que ela não queira mais?
— E por que não?
Ela solta uma risada nervosa, desviando o olhar do meu.
— Já te disse, Ethan: você é bom demais para mim. Eu não quero
tirar isso de você. Essa… essa pureza. Esse coração gigante. E-eu só vou te
machucar. Não sou uma garota que gosta de relacionamentos sérios e sei
que você é esse cara.
— Era — corrijo, me sentando ao seu lado na beirada da cama.
— O quê?
— Eu era esse tipo de cara, Violet. Não sou mais. Não depois do que
aconteceu. — Não entro em detalhes, porque ela já sabe do principal, que
eu namorei durante anos e terminei. É o que é necessário. — Eu quero fazer
isso de novo. Se você quiser, é claro.
Entrelaço nossos dedos, e finalmente ela volta a fixar seu olhar no
meu.
— Não sei se isso é o certo — murmura baixinho, e eu deixo um
sorriso pequeno tomar conta dos meus lábios.
— Mas é o que queremos.
Ela assente, molhando os lábios.
— Se… se formos continuar com isso — usa o dedo indicador,
apontando nós dois —, você precisa me prometer que não vai desenvolver
sentimentos por mim, Ethan. Eu não aguentaria não poder te dar o que você
quer.
Eu quero saber a razão disso.
Quero conhecer Violet Woods e entender o motivo de ela ter tanto
medo de sentimentos; de se envolver de maneira séria com alguém.
Foi um namoro fracassado? Algum parceiro filho da puta?
O que te machucou tanto, linda?
— Só se você prometer o mesmo — rebato, pensando que, assim
que Jess voltar, vamos precisar resolver nossa situação, e eu também não
quero acabar machucando Violet no processo.
— Ethan, você é um cara incrível, de verdade, mas… isso não vai
acontecer. Eu não posso me apaixonar. Não por você apenas, mas por
qualquer pessoa. Isso… isso só não é quem eu sou — ela é tão honesta em
suas palavras, que eu acredito em cada uma delas e sei que é mais fácil uma
estrela cair, do que ela se apaixonar.
Assinto, umedecendo meus lábios, e os olhos dela recaem para eles
imediatamente.
— Se já resolvemos essa questão… posso te comer de novo? Por
favor?
Violet solta uma gargalhada gostosa e monta em mim, depois de
tirar o lençol que me cobria.
— Me dê um ótimo orgasmo matinal, lindo.
Sorrio feroz, encaixando minha mão em seu couro cabeludo e
puxando seu rosto para perto.
— Vai ter que ficar quietinha, para Cassie não te ouvir, linda —
sussurro em seu ouvido, mordiscando seu lóbulo, e ela se esfrega na minha
ereção.
— Me obrigue — responde, em desafio, com os olhos brilhando de
tesão.
Porra, essa garota vai me destruir.
E eu estou pronto para isso.

Adicionamos as músicas HER e Slow Down, ambas do Chase


Atlantic, no setlist do nosso próximo show, a pedido de Paxton. Ele alegou
que estava escutando as canções nos últimos dias e percebeu que casavam
perfeitamente com o som da banda, então… nem pensamos duas vezes ao
começar a ensaiá-las, para colocar o mais rápido possível na apresentação
do fim de semana.
— Acho que poderíamos arriscar uma autoral, quando tocarmos na
Lust outra vez — James sugere, após guardamos nossos instrumentos, e
olha diretamente para o baixista.
Afinal, é Paxton Miller quem mais se diverte compondo. E, porra,
ele sabe pra caralho o que está fazendo. Ainda não cantamos nenhuma
delas com instrumentos, apenas ouvimos à capela com a voz de James,
mesmo assim, é possível notar que são muito fodas.
— Não sei, não — o loiro cantarola, usando a quina da mesa para
abrir a cerveja long neck que pegou na geladeira da garagem.
E eu não entendo isso!
Ele escreve bem.
Pra cacete, para ser honesto.
Entretanto, sempre reluta quando tentamos convencê-lo a nos deixar
performar as músicas.
— Precisamos começar a apresentar algo nosso para o público, cara
— tento, trocando um olhar com James.
Esse é um território perigoso.
— Tudo bem — Pax assente, tomando metade de sua bebida em um
gole só.
— Sério? — o vocalista e guitarrista da The Chaotic Misfits
questiona, intrigado.
Estou igual.
É estranho demais ele aceitar logo de primeira, quando estamos
tendo essa conversa há meses.
— É claro que sim — ressalta mais uma vez. Todavia, quando o
sorriso irônico toma conta do seu rosto, me preparo para o que está por vir.
— Precisamos mostrar ao público nossas músicas. Mas não vamos fazer
isso com as minhas.
Queria dizer que estou surpreso, porém, não estou.
Ele nunca nos explicou a razão para negar tanto mostrar suas
composições ao mundo, entretanto, eu tenho uma ideia. Que nunca disse em
voz alta antes. No entanto… talvez seja o momento de mostrar a Paxton,
que ele não está sozinho.
— Pax — chamo, e ele vira-se para mim. Preciso ter cuidado com o
que eu vou dizer em seguida, afinal, é um assunto que não sabemos por
completo. Nem eu, que a conhecia, sei o que aconteceu de fato, antes de nos
mudarmos. — Você pode conversar com a gente. Sabe disso, não sabe?
Sobre ela e o que quer que tenha acontecido entre vo…
— Por que não conversamos sobre você estar fodendo a colega de
quarto de Cassie, que, diga-se de passagem, mora no apartamento da sua
ex-namorada, por quem você diz ainda ser apaixonado? — retruca, sem
nem me dar a chance de completar o pensamento.
Paxton Miller é assim.
Ele é um cara simpático, divertido e distribui sorrisos por ir.
Porém, quando tocam em sua ferida — nesse caso, ela —, ele não
mede suas palavras para atingir a outra pessoa.
Estou acostumado com esse comportamento do meu melhor amigo.
Sei que ele não faz porque quer, mas sim, porque é um mecanismo de
defesa para não falar das coisas que o machucam.
E ela sempre vai ser um tópico sensível.
— Não tem o que conversar — respondo, fuzilando meu amigo
James com os olhos, por ele ter contado a fofoca. Ele apenas me lança um
sorriso fraco e murmura um “sinto muito”. — Aconteceu. Foi bom. E… é
isso.
Paxton e James se entreolham, e eu cruzo os braços.
— Achei que ainda estava pensando na Jess — é o fofoqueiro
número um que comenta, e eu dou de ombros.
— Ainda a amo, se é isso que está perguntando. Vamos conversar
quando ela voltar e ver o que vai ser da gente.
— Acha que é certo namorar outra e fazê-la de tapa buraco? — por
incrível que pareça, é Pax quem pergunta.
Sua escolha de palavras poderia ter sido mais pensada, é claro.
Sempre pode, mas ele escolhe formular suas frases da pior maneira
possível.
— Não estamos namorando — conto, e os olhos dos dois se
esbugalham, surpresos até demais com a notícia. — Acho que temos… uma
amizade com benefícios.
Um silêncio recai sobre nós três.
Eles não dizem nada.
Eu olho de um para o outro, sem entender.
Até que ambos caem na gargalhada.
Digo, realmente soltam risadas estridentes.
— O que foi, porra? Não entendi a graça — resmungo, levando
minha cerveja à boca.
— Você e… e amizade com… com benefícios na m-mesma frase —
Pax responde, entre risadas. — Isso não existe!
— Tenho que concordar com Pax, Ethan — James diz em seguida,
se recuperando do momento das risadas. — Você não tem amigas coloridas.
— Agora eu tenho — rebato, a contragosto.
— Não vai dar certo — o loiro fala, sem rodeios, e eu elevo as
sobrancelhas para ele.
— E por que não?
— Você namora desde os quinze anos, Ethan — o outro responde.
— Jess é sua primeira em… tudo. Você não sabe o que é se envolver com
alguém sem ter os sentimentos na jogada também.
Sim, ele está certo.
Contudo... por que eu não poderia aprender a passar por essas fases
da vida? Já que não pude mais novo, porque estava namorando?
— Você vai se apaixonar por ela, Ethan — Paxton afirma, sério. —
E se ela estiver firme sobre não ter sentimentos nessa relação… Você vai ter
seu coração partido. De novo.
— Ela não vai quebrar meu coração, porque não sobrou nada para
ser quebrado — respondo na lata, sentindo o próprio órgão se apertar com a
fala.
É um pouco cruel, porém, é verdade.
Jess acabou com tudo.
— Só… cuide de você, tá legal? — É James quem fala, e Paxton
concorda com a cabeça. — Você não precisa passar por toda a mesma
situação novamente. Se puder evitar…
— Não vai acontecer de novo. Elas não são a mesma pessoa, gente.
E eu sei o que estou fazendo — digo a última frase um pouco mais grosso
do que gostaria, só que é preciso.
Eles entendem o recado e mudam o assunto, falando sobre a The
Dreamers[26], uma banda em ascensão, que vem ganhando cada vez mais
espaço no meio musical e está se tornando um fenômeno.
Sei que eles apenas se preocupam comigo, mas eu sei o que estou
fazendo.
Violet Woods não vai me machucar.
Eu não vou machucá-la, é claro.
Vamos aproveitar nosso tempo juntos. Sem sentimentos. Só sexo.
O que pode dar errado?
Eu tenho pesadelos toda semana sobre aquela sexta-feira em
maio
Uma ligação sua e todo o meu mundo mudou
A confiança que você traiu, a confusão que continua
Você pegou tudo que eu amava e destruiu entre seus dedos
E eu duvido que você pense sobre o estrago que causou
Mas eu me seguro em cada detalhe
como se minha vida dependesse disso
the grudge | Olivia Rodrigo

Deveria ser proibido estudar qualquer matéria com números, quando


se faz um curso de humanas.
Por que preciso aprender sobre economia, se faço Ciência Política?
O pior é que o professor também é péssimo. Ele simplesmente
coloca todos os tópicos da aula explicados em slides, apresenta-os para a
gente, falando exatamente o que podemos ler no projetor e depois,
disponibiliza o material no portal do aluno.
Ou seja: a maioria só está aqui pela presença.
E eu, claro, me incluo nisso.
As luzes apagadas para deixar a projeção do computador só pioram
a situação. Já bocejei tantas vezes, que parei de contabilizar. Nem mesmo o
café de trezentos mililitros que comprei antes de vir, ajudou.
Estou morrendo de sono.
Se não tivesse transado quase a noite toda com Ethan Scott, não
estaria assim.
É, é verdade. Tenho uma grande parcela de culpa no meu cansaço
dessa manhã.
Depois que estabelecemos essa amizade com benefícios, há pouco
mais de uma semana, não nos desgrudamos mais. Sempre que nosso tempo
livre bate, estamos juntos e tendo orgasmos indescritíveis.
O que posso fazer, se ele me come bem pra cacete?
Aproveitar enquanto dura.
Estou quase cochilando na cadeira do auditório, quando sinto meu
celular vibrar na minha coxa e pego-o, já desbloqueando-o.
Não me surpreendo com o responsável pela mensagem que aparece
na minha tela e sorrio involuntariamente.
Ethan Scott: bom dia, linda. Dormiu bem?
Como ele pode ser tão cavalheiro, gostoso e carinhoso? Além de
bom de cama!
A garota que conquistar seu coração terá muita sorte.
Digito uma mensagem rápida e em seguida, abaixo o brilho do
celular para não chamar atenção na sala.
Eu: bom dia. Estaria melhor se ainda estivesse na cama.
Ethan Scott: não posso discordar. Preferia muito mais estar com
meu pau enterrado dentro de você, do que indo para a aula prática no
laboratório.
E ainda fala sacanagem assim!
O homem perfeito existe, senhoras e senhores, e ele é totalmente
meu.
Por um tempo determinado, a vozinha da minha consciência me
lembra, e eu mordo meu lábio.
Não posso me deixar apegar a ele. Nunca aconteceu antes, mas…
mas preciso ter cuidado. Só isso.
Eu: minha boceta ainda está dolorida de ontem, campeão.
Eu: lembrei de todos os orgasmos da noite passada, enquanto
tentava arrumar uma boa posição para me sentar mais cedo.
Ethan Scott: posso te dar mais, Vi.
Ethan Scott: o que você vai fazer à tarde? Tem aula?
Eu: estou livre! Hoje, minhas únicas aulas são de manhã.
Espero sua resposta de maneira ansiosa e preciso cruzar minhas
pernas, quando imagino o que vamos fazer mais tarde.
Ethan Scott: perfeito.
Ethan Scott: Paxton precisa acompanhar a avó em alguns médicos
hoje, então, cancelamos o ensaio. Te busco no campus, e vamos para o seu
apartamento?
Eu: está marcado.
Eu: precisamos comprar mais uma caixa de camisinhas, porque
acabamos com todas que eu tinha.
Eu estava com uma completa há alguns dias e ontem, notei que
usamos a última.
Parecemos dois coelhos cruzando desesperados, pelo amor de Deus.
Ethan Scott: vou passar na farmácia antes de te buscar.
Ethan Scott: estou com saudades do gosto da sua boceta, linda.
Puta merda.
Ele precisa falar essas coisas quando estou não só estou rodeada de
pessoas, mas também em um momento em que não podemos nos encontrar
e fazer algo quanto a esse probleminha dele?
Eu: até mais tarde, Ethan.
Decido encerrar a conversa, antes que eu precise passar no banheiro
para resolver a situação da minha calcinha querendo se molhar inteira por
ele.
Antes que eu consiga bloquear o celular e guardá-lo, uma nova
chamada de voz começa a piscar na tela.
Não reconheço o número.
Pondero se atendo ou não, e nesse pequeno intervalo, a ligação
termina.
E começa novamente.
Estranho.
Em silêncio e devagar, eu saio da sala e assim que estou no corredor,
levo o aparelho ao ouvido.
— Alô?
— Violet Woods? — uma mulher pergunta do outro lado da linha, e
eu franzo a testa, confusa.
— Sou eu. Quem é? Aconteceu algo?
— Estou ligando do Northern Regional Hospital[27] para falar da
paciente Ines Woods. Ela chegou há alguns minutos, trazida pela vizinha
depois de cair em sua própria residência. A senhorita é o contato de
emergência dela. Ela não está em estado crítico, porém, bem machucada. A
senhorita pode comparecer ao hos…
Já estou recolhendo minhas coisas e procurando o próximo ônibus
para Mount Airy, antes mesmo da moça terminar de falar.

As horas no ônibus pareciam intermináveis.


Se eu já achava demorado antes, hoje, que preciso chegar o mais
rápido possível no hospital, parece que a viagem demorou mais de dez
horas.
Assim que chegamos na rodoviária, eu já estava na porta do
transporte e pedindo algum táxi direto para ver mamãe. O trajeto demorou
apenas quinze minutos, e eu tentava ao máximo não pensar no estado em
que eu a encontraria. Se ele estaria lá, com aquela máscara de bom moço e
comprando a ideia de que ela caiu dentro de casa.
Eu sei que é mentira.
Sei que ela não caiu.
E isso me deixa preocupada. Em nenhuma das outras vezes foi algo
tão grave, que ela precisou ser atendida, que ela pediu ajuda.
É minha culpa. É minha culpa. É minha culpa.
Se eu não tivesse ido embora, eu… eu não sei. Poderia estar em casa
quando acontecesse? Poderia ter impedido?
Não faço ideia de como eu poderia ter mudado a situação, mas
acredito que sim, eu seria capaz de ajudar de alguma maneira, estando aqui.
Mesmo nunca tendo conseguido fazer isso antes. É impossível ir
contra Winston Woods.
Só se você quiser sair com alguns ossos quebrados e hematomas.
Pago a corrida do táxi e entro correndo na recepção do hospital,
nervosa.
Preocupada.
Ansiosa.
— Ines Woods? E-eu recebi uma ligação, e ela… ela está aqui. N-
Não sei o que… que aconteceu. S-sou Violet. Violet Woods. F-filha dela —
despejo as palavras desconexas para a recepcionista, que me lança um
sorriso confortador e começa a teclar no computador.
— Ela está no segundo andar, querida. Na unidade de internação.
Lá, eles vão te informar o quarto.
— O-obrigada — respondo, já correndo para a escada mais
próxima.
Não aguento mais um segundo em alguma coisa — no elevador,
nesse caso — que eu não possa controlar o tempo que chego em outro lugar.
Como foi no ônibus, onde eu não controlava o trânsito nem o transporte de
grande porte, e no táxi.
Preciso de controle.
Chego na ala indicada e repito todas as informações na bancada.
No entanto, antes que eu possa ser respondida, uma mulher, com no
máximo seus quarenta anos e jaleco branco, aparece ao meu lado.
— Senhorita Woods?
— S-sou eu.
— Sou a doutora Vanessa Smith, acredito que atendi sua mãe e falei
com você no telefone.
— S-sim, sim. Eu vim o mais rápido que pude — conto, enquanto
ela me leva para a sala de espera, e sentamos lado a lado nas cadeiras ali. —
Eu faço faculdade em outra cidade, e são três horas de distância.
— Schönilla? — chuta, e eu assinto, tirando os fios loiros suados
grudados da minha testa. — Fiz Medicina lá também. Ótima universidade.
— Minha mãe? Como ela está? — pergunto de uma vez,
preocupada.
Ela é simpática e parece ser um doce de pessoa, porém, não estou no
momento para conversa fiada.
Preciso saber como mamãe está.
— Está estável, pode ficar tranquila — me assegura, entretanto, não
vou ficar calma até vê-la. — Antes de você visitá-la, há alguma coisa que
queira me contar? Algo que eu, como médica e autoridade, precise saber?
Talvez… talvez queira que o hospital ligue para a polícia?
Ela sabe.
É claro que ela sabe.
Ninguém cai mais nessa historinha de cair dentro de casa.
E eu quero. Quero contar a ela toda verdade, chamar a polícia, ver
meu pai ser preso e levar minha mãe sã e salva para casa.
Todavia, não posso.
Da última vez que fiz isso, mamãe desmentiu toda a história e me
fez sair como louca.
Ela está cega de amor. Nunca vai entender que o que há entre os
dois… não é amor. Não da forma que deveria ser, pelo menos.
É a manipulação mais pura, desprezível e tóxica. Em sua forma
crua, fazendo com que ela não veja por trás dessa ilusão de casamento
perfeito e de boas ações momentâneas.
Cruel.
Eu descreveria toda essa situação como cruel, para não descer ainda
mais nas palavras de baixo calão.
Já tentei mostrar a realidade várias e várias vezes, contudo, ela não
vê. Ela não quer ver o que de fato está acontecendo.
E… e eu não posso fazer mais nada, fiz o que estava ao meu
alcance. Agora, ela precisa entender a realidade terrível em que está
vivendo.
— Não. Só quero ver minha mãe, por favor — suplico, e a doutora
Smith assente, se levantando, e eu a sigo pelo corredor.
O cheiro de álcool e produtos de limpeza impregna meu olfato.
As cores brancas das paredes me deixam um pouco desnorteada.
Não sou a maior fã de hospitais.
A doutora Vanessa me leva até onde mamãe está, e no momento em
que entro em seu quarto, sinto as lágrimas rolarem pelo meu rosto.
Mamãe.
Há hematomas nos olhos e braços. O lábio inferior está inchado e
com um pequeno corte na lateral. Alguns arranhões também marcam sua
pele branca e frágil. Uma faixa enrolada na testa indica que ela tinha batido
a cabeça — ou bateram nela — em algum lugar.
— V-violet, minha florzinha. O que você está fazendo aqui?
Até mesmo sua voz está fraca, abatida, e isso deixa meu coração
angustiado.
Parece que duas mãos estão apertando-o com força dentro do meu
peito.
Dói fisicamente vê-la assim.
— Mãe — choramingo, me aproximando, e puxo um banco para
ficar ao lado dela. — Mãe, por favor.
É doloroso demais vê-la assim.
É doloroso saber que ela não vai sair de casa.
É doloroso que ela acredite que o amor seja assim.
Ela não merece esse amor.
— E-eu caí, querida, mas não estou tão mal assim. Não precisa
chorar — pede, enxugando minhas lágrimas com o dorso da mão.
Ela não pode mesmo acreditar nisso.
— Mãe, por favor. Você sabe que não caiu — digo, sentindo a raiva
tomar conta de mim.
Não dela. Nunca dela. Ela é uma vítima.
Dele. Da situação. De mim.
É disso que estou com raiva.
— Violet…
— Você não vê que isso vai acabar te matando, mãe? Não enxerga
isso? — Ela desvia os olhos dos meus, e agarro sua mão, entrelaçando
nossos dedos. — Você pode sair de lá. Eu posso te ajudar, mamãe, por
favor. A polí…
— Violet — chama, firme, e volta a fixar as írises nas minhas. — Se
você veio aqui para me aborrecer, eu não quero. Pode ir embora.
É sempre assim.
Ela foge da conversa como se, se deixasse de falar sobre o assunto,
haveria como negar a verdade.
Eu engulo o choro.
Seco o rosto.
Controlo meus sentimentos.
A raiva, preocupação, nervosismo, impotência… tudo.
Guardo todos eles e foco apenas na mulher que mais amo no mundo
inteiro à minha frente.
Posso tentar fazer isso outra hora, digo para mim mesma
mentalmente.
Ela precisa descansar e se recuperar. Não de mais estresse,
principalmente, da sua acompanhante.
— O que acha de eu colocar um capítulo daquela novela turca que
você tanto gosta? — pergunto, colocando a máscara que usei durante tantos
anos nessa cidade.
Alguns hábitos não mudam
— Eu acho uma ótima ideia, minha florzinha. Precisamos voltar a
acompanhar a história de…
Oh, tem outra pessoa ou não?
Porque eu quero te manter por perto
Eu não quero perder meu lugar
Porque eu preciso saber
Se você está machucando ele ou se você está me
machucando
Se não estou com você, eu não quero estar
Is There Someone Else? | The Weeknd

Às 13:11, eu mandei mensagem para Violet, dizendo que estava


chegando no prédio da universidade para buscá-la.
Às 13:17, ela ainda não estava no local em que costumo buscá-la e
também não havia respondido à mensagem.
Liguei duas vezes, e ambas as chamadas foram para a caixa postal.
Às 13:30, mandei mais mensagens, e nada dela.
Esperei até as 14:30 no estacionamento, e nenhum sinal de Violet
Woods.
E pior, sem uma resposta ou breve explicação de onde ela se
encontrava.
Voltei para casa e fiquei com ela na cabeça a porra da tarde toda.
Preocupado.
Mandei algumas mensagens, de hora em hora, e simplesmente…
nada.
Violet evaporou e não se importou o suficiente para mandar notícias,
pelo menos para eu não pensar no pior. Afinal, tínhamos marcado de nos
encontrar. O mínimo seria ela avisar que não poderia ir, não é?
Ela não é sua namorada, não deve explicações, minha consciência
me lembra, a contragosto.
Eu sei disso muito bem. E não estou demandando que ela me dê
satisfações, apenas… Poxa, apenas uma mísera mensagem para não me
deixar pensando na pior das hipóteses. Na minha mente, é claro que não
imagino que ela dormiu e perdeu a hora ou o celular quebrou. Meus
pensamentos vão diretamente na outra direção, imaginando que ela possa
ter sido sequestrada, machucada ou até em cenários muito piores.
Empurro todas essas situações para o fundo da mente e tento pensar
em outra coisa.
Provavelmente, ela conseguiu uma foda melhor para hoje.
É uma opção.
Não somos exclusivos, ou pelo menos, nunca conversamos sobre
esse assunto. Ela tem o total direito de se envolver com outras pessoas,
mesmo que eu sinta uma fisgada no coração, só de pensar nisso.
Talvez esse lance de amizade com benefícios não seja mesmo para
mim.
Viro a cabeça para a mesinha de cabeceira, e o relógio digital marca
exatamente 22:08.
Nenhuma resposta de Violet.
Porra! Se ela está com alguém, poderia pelo menos dizer que tinha
outros planos, não me deixar no escuro assim!
Cansado de esperar algum sinal de vida vindo dela, desbloqueio o
meu celular rapidamente e entro na minha conversa com Cassie Brown.
Não queria recorrer a ela, porque não gosto de envolver outras
pessoas nos meus relacionamentos, mas… mas é preciso.
Só preciso saber se Violet está bem.
Eu: ei, Cassie. Tudo bem? Sabe me dizer se Violet está em casa?
Espero quase sete minutos pela resposta, e minha ansiedade
aumenta a cada segundo.
Cassie Brown: oi, Ethan! Não, ela não está.
Merda.
Começo a digitar outra mensagem, porém, a namorada de James me
envia mais uma, antes disso.
Cassie Brown: ela me mandou uma mensagem mais cedo, dizendo
que não dormiria em casa.
É… ela está mesmo com outra pessoa, pelo jeito, já que não se deu
ao trabalho de me responder.
Por que você se importa, Ethan?
Ainda ama Jess, não ama?
É claro que amo.
Então, por que está se mordendo de ciúmes de Vi estar ficando com
outras pessoas?
Eu não sei, não sei mesmo.
Talvez não seja ciúmes.
Seja meu ego ferido, por ela acreditar que haja alguém que seja
melhor do que eu.
Nunca me senti assim antes. Querendo… querendo provar que sou
bom — o melhor — o bastante para alguém, só que com Violet… é assim.
Por que ela quer ficar com outras pessoas, se já estamos juntos quase todos
os dias e nos damos orgasmos extraodirários?
Necessito mostrar à Violet Woods que ela pode procurar por toda
cidade, por toda a porra do planeta, se ela quiser, entretanto, ela não vai
encontrar alguém que a faça sentir como eu faço.

Uso os dedos como baqueta e batuco no ritmo de uma das músicas


que vamos tocar no show em mais uma fraternidade daqui a alguns dias,
enquanto espero a aula de Antropologia I terminar.
Estou bem longe do meu prédio da universidade, porém, é por uma
boa causa.
Cassie me garantiu que Violet veio assistir aula hoje — já que a
loira faltou nos últimos dois dias —, e finalmente terei a chance de vê-la.
Ela respondeu minhas mensagens daquele dia que me deu um bolo. Não me
ofereceu nenhuma explicação, no entanto, e tudo bem.
Se ela estava mesmo com outra pessoa… vou mostrar que ela não
precisa de mais ninguém, quando me tem.
Depois do que parece uma eternidade, a porta finalmente é aberta, e
uma manada de alunos sai desesperada para o horário de almoço. Meus
olhos focam em cada estudante, e não vejo nenhum sinal de Violet Woods.
Ela não veio?
Estou na sala errada?
Espero que todo o fluxo diminua e quando confirmo que realmente,
ela não saiu, resolvo dar uma checada rápida na sala de aula, só para ter
certeza.
E lá está ela.
Colocando alguns cadernos e canetas dentro da bolsa, totalmente
alheia ao mundo exterior.
Viro a cabeça minimamente para trás, e como há pouquíssimas
pessoas do lado de fora, fecho a porta devagar e passo a chave na
fechadura.
O barulho de trinco desperta Violet do transe.
— Ei! Ainda estou a… Ethan — sopra, com as sobrancelhas
franzidas. — O que está fazendo aqui? — pergunta, apoiando a bunda na
carteira e cruzando os braços na frente do corpo.
A camiseta de hoje é rosa, uma cor que não vi muito em Violet
desde que nos conhecemos. A frase "I didn't ask to be perfect[28]" estampa o
centro da peça, e eu sorrio.
— Estava com saudades das suas camisetas — digo, jogando minha
mochila em uma cadeira qualquer e me aproximando.
Ela inclina a cabeça, me analisando.
— E precisava nos trancar aqui para me dizer isso? — questiona,
passando a língua afiada pelo lábio inferior.
Ela sabe, ou pelo menos desconfia, da razão de eu estar aqui.
E não é só para iludi-la com palavras.
— Não, Vi. Precisava, preciso, te mostrar que senti muitas saudades
suas — respondo, apoiando minhas mãos na mesa em que está apoiada e
obrigando-a a sentar-se no tampo de madeira.
— E como vai fazer isso? — provoca, deixando que um sorriso
tome conta do seu rosto, que está a centímetros do meu.
— Acho que um orgasmo demonstraria isso bem, não acha? —
Encaixo minha mão em sua nuca e aproximo o rosto do seu ouvido. —
Você até mesmo veio de saia, linda. Parece que sabia que eu apareceria. —
Puxo o lóbulo da sua orelha com os dentes, e um gemido arrastado escapa
pelos seus lábios gostosos. — Shhh, linda. Ninguém pode saber que
estamos aqui. Consegue não fazer barulho para mim? — Ela assente e
esfrega as pernas uma na outra. — Seja uma boa garota e não gema muito
alto — peço, arrastando a língua pelo seu pescoço, enquanto uso a outra
mão para explorar suas coxas nuas.
Minha boca beija, suga e lambe toda sua pele exposta, e meus dedos
sobem cada vez mais para baixo da sua saia jeans, procurando o paraíso.
Passo o indicador por toda sua calcinha de renda, sentindo a
umidade ali.
— Você já está totalmente melada para mim, Vi. Que gostoso —
murmuro em seu ouvido, e ela segura minha camiseta com força.
— P-pare de falar e faça algo quanto a isso — devolve, um pouco
ríspida, e eu solto uma gargalhada baixa.
— Tão gulosa — comento, deixando nossos rostos nivelados. Suas
írises encontram as minhas, lampejando de desejo. — Vou te dar o que você
quer.
Arrasto o tecido da calcinha para o lado e introduzo dois dedos de
uma vez, devorando sua boca no mesmo momento, para engolir seu
gemido.
Deslizo meus dedos pelas paredes escorregadias, à medida que
minha língua explora a boca que estava com tanta saudade. Violet crava as
unhas nos meus ombros e me beija cheia de tesão, saudades e vontade de
transar aqui mesmo na universidade, pouco se importando com os milhares
de alunos que passam pelos corredores o dia todo e podem ouvir o que
estamos fazendo aqui dentro.
Mexo os dedos em um vai e vem, no ritmo que faz Violet apertar
ainda mais os meus ombros e provavelmente, deixar marcas com suas
unhas.
Beijo-a até que meus pulmões clamem por fôlego.
Invisto em sua boceta apertada até que ela comece a expulsar meus
dedos.
Seu orgasmo está chegando, e me afasto, deixando que ela gema
baixinho no meu ouvido, como mandei.
— Vai, linda, goza para mim — mando, estapeando de leve sua
vulva, e ela deixa um gritinho escapar.
Foda-se.
Que todos ouçam o que eu faço com Violet Woods.
Ela tomba a cabeça para trás, ainda com as unhas segurando firme
meus ombros, e observo seu corpo ser dominado pelo prazer do orgasmo.
Sua boceta tenta expulsar meus dedos quando goza, e um sorriso orgulhoso
e faminto se forma no meu rosto.
— Você é ainda mais linda quando goza para mim, Vi — murmuro,
totalmente hipnotizado pela sua expressão pós-orgasmo.
Espero que sua respiração se acalme e finalmente tiro os dedos de
dentro dela, voltando sua calcinha para o lugar. Levo-os para minha boca e
chupo, sentindo o gosto delicioso dela em minha língua.
Nossos olhares não se desviam em nenhum momento.
Agarro sua cintura, quando termino de saborear meu gosto
preferido, e deixo um selinho demorado em seus lábios.
— Não esqueça que somente eu te faço sentir dessa maneira, Vi.
Fossos e barcos e cachoeiras
Becos e chamadas de telefones públicos
Eu estive em todos os lugares com você
Rir até pensarmos que vamos morrer
Descalços em uma noite de verão
Nunca poderia ser mais doce do que com você
E nas ruas você dirige livre
Como se fosse só eu e você
Home | Edward Sharpe & The Magnetic Zeroes

Eu deveria ter desconfiado que algo estava errado quando cheguei à


Lust, há algumas horas, mais cedo do que o meu horário habitual. O gerente
da casa pediu, e como eu preciso da grana, depois de ter faltado o dia
anterior, cuidando da mamãe, aceitei. Os funcionários olham de um para o
outro. Estão atentos, esperando alguma coisa — ou alguém — aparecer.
Isso acontece por volta das oito e meia da noite.
Uma figura que nunca vi antes abre as portas principais de entrada, e
todos param o que estão fazendo. Inclusive eu, que estava organizando a
geladeira de bebidas do bar.
Cabelos longos castanhos. Pele tão branca quanto a neve. Os lábios
pintados de vermelho sangue. Os óculos escuros escondem a cor dos olhos,
que mesmo tampados, parecem estar observando cada pessoa e cada canto
daqui. A batida do salto fino da bota de cano alto reverbera pelo ambiente a
cada passo que ela dá. O sobretudo preto de couro vai até o meio da canela.
Imponência. Elegância. Autoconfiança.
Ela é… intimidante.
Poderosa.
Seu nome é conhecido por aqui, afinal, é ela quem paga nossos
salários, porém, é a primeira vez que aparece desde que comecei a trabalhar
na boate.
Kiara Lust.[29]
— Você! — Sua voz envolvente e precisa soa, e ela caminha
lentamente até o bar, onde eu e mais outro funcionário estamos. — A
menina. Quem é?
Devo responder?
Ela não está falando diretamente comigo.
Céus, nem sei se ela está olhando para mim, por conta dos óculos.
Um dos caras de terno, que chegou acompanhando-a, aparece ao seu
lado, e logo o gerente, que me contratou, aparece.
— Nova funcionária — responde, um pouco nervoso.
Vejo um fio de suor escorrer pela sua testa.
— Quantos anos você tem, menina?
É, ela está falando comigo agora.
— Vinte e um — digo com confiança, mas… rápido demais.
Ela inclina a cabeça e empurra os óculos escuros para cima da
cabeça, revelando seus olhos verdes… hipnotizantes.
Poderia me perder neles facilmente.
— Na minha sala. Agora. — Ela não fica para saber se acatei ou não
a sua ordem.
Se vira e sai em direção às escadas do segundo andar.
Todos me observam, esperando que eu faça algo.
Como se eu fosse burra o bastante para desobedecê-la.
Deixo tudo que estava fazendo e faço o mesmo caminho, seguindo-
a.
É a primeira vez que venho ao segundo andar — principalmente no
corredor contrário ao da área vip. Observo as paredes pretas com cautela, e
com os seguranças me analisando da porta do final do corredor, sei que lá é
meu destino final.
O que não me deixa menos curiosa para saber o que há por trás das
outras milhares de portas por aqui.
Assim que estou perto o bastante, um deles abre a porta para mim, e
quando mal estou dentro do escritório, ela é fechada com força.
Quanta brutalidade.
O escritório é simples. Tons escuros. Madeiras escuras. Um carrinho
de bebidas de um lado. Uma área com poltronas e um sofá. Bonito, elegante
e mais uma vez, poderoso.
Como ela.
Kiara Lust, que está com as pernas cruzadas em cima da sua mesa e
me chamando para me sentar em uma das cadeiras dispostas à sua frente.
As unhas são pretas, é claro, e afiadas o bastante para arrancarem sangue de
um alguém, se for preciso.
— Violet Aurelia Woods — ela pronuncia cada letra do meu nome,
e um arrepio sobe pela minha espinha. Me ajeito na cadeira, com cuidado.
— Estudante de Ciência Política na Universidade de Schönilla, mas
originalmente de Mount Airy. Filha única de Ines e Winston Woods. Tem
um metro e sessenta e sete, cinquenta e oito quilos. Cabelos loiros tingidos,
olhos castanhos e foi hospitalizada uma vez, com pneumonia, aos oito anos.
Agora, com vinte e um e minha funcionária aqui na Lust. Tudo correto?
Engulo em seco.
Não são informações tão difíceis assim de serem encontradas,
mas… mesmo assim, fico com um pouco de medo.
Ela descobriu isso nos minutos que levei para chegar até aqui? Ou
sempre soube tudo sobre mim?
— S-sim, tudo certo — respondo, coçando a garganta e tentando
não gaguejar.
Não quero parecer fraca.
— Tem certeza, Violet? — pressiona, tirando os pés cruzados da
mesa e se levantando, vindo até mais perto de onde estou. Ela se senta na
beirada da mesa, me olhando de cima.
— Tenho — soo mais firme dessa vez, e ela abre um sorriso felino
para mim.
— Mentirosa — declara e mesmo com a voz suave, não me acalma.
— Mentiu a idade para trabalhar aqui, Violet. Tem só dezoito anos. E… por
quê? — Ela não me espera responder, ainda bem, porque não sei o que
falaria. — Pagamos muito mais do que qualquer outro emprego que um
universitário poderia conseguir por aqui. Ou seja, você precisa de dinheiro.
Mais do que uma lanchonete te garantiria. Mas… por que, Violet? Para que
você precisa dessa grana tão jovem? Problemas… familiares? — Pisco, um
pouco surpresa por ela ter acertado na mosca. — Problemas com a família,
então. Problemas esses, que seu pai e sua mãe, ainda casados, não podem
resolver. O que é, Violet Woods, que te assombra?
Acho que vou fazer xixi nas calças.
— Precisamos de dinheiro — é o que me limito a dizer, e ela
balança a cabeça devagar.
— Por quê? Pense bem em sua resposta, Violet. É ela que vai te dar
o meu aval para continuar trabalhando aqui. Não pega bem para a Lust, uma
menor de idade.
Não. Não. Não.
Não posso perder esse emprego.
Estou juntando para ajudar no futuro, para minha faculdade de
Direito, para uma possível ajuda de custo quando mamãe sair daquela
casa… não posso perder a vaga aqui.
Nenhum lugar me daria a flexibilidade e o dinheiro que ganho na
casa noturna mais famosa da cidade.
— M-minha mãe. — Minha fala traz a atenção de Kiara de volta
para mim. — Ela… ela precisa sair daquela casa. Por isso preciso do
dinheiro, para ajudá-la quando isso acontecer, para ir para a faculdade de
Direito e colocá-lo na cadeia.
Não preciso especificar de quem estou falando.
Ela entende.
Seu olhar suaviza, e penso que, pelo silêncio, vai acabar me
demitindo de qualquer forma.
— Sua mãe… está bem? — Nego, sentindo uma lágrima solitária
molhar meu rosto, quando lembro dela no hospital. — E ela não vai sair. —
Não é uma pergunta, entretanto, eu confirmo da mesma maneira. — Pessoas
próximas de mim já estiveram em relacionamentos tóxicos e abusivos. Sei
que as vítimas não enxergam, se negam a ver a realidade. Sei que é difícil,
Violet. — É muito, muito difícil. — Se… se precisar, eu conheço pessoas,
tenho contatos. Podemos dar um jeito no seu pai.
Me assusto com sua sugestão.
Kiara não parecia se importar com meus motivos assim que cheguei,
porém... algo mudou.
A forma como ela me encara, é com um olhar gentil e preocupado.
Diferente da Kiara Lust dona da boate mais badalada da cidade.
É uma Kiara Lust pessoa, empática e compreensiva.
E caramba, ela está me oferecendo mesmo isso?
Dar um jeito no meu pai?
— Só se você quiser — ela enfatiza, e eu molho os lábios
ressecados com a ponta da língua.
— Eu… eu acho melhor não. Q-quero que minha mãe veja a pessoa
ruim que ele é. S-se ele não estiver mais aqui, ela vai enterrá-lo como o
herói que não é — respondo, porque além de ser a coisa certa a se dizer, é a
verdade.
Quero que minha mãe enxergue o homem cruel com quem se casou
e escolha sair de lá.
— Como quiser — diz, por fim, e volta a ocupar o lugar atrás da sua
mesa. — Já pode ir.
Seco as lágrimas com o dorso da mão e me levanto.
— Eu… hum… continuo aqui?
— Sim, Violet. Sem causar problemas. Mantenha-se fora dos
holofotes da Lust — orienta, e eu assinto rapidamente.
Não quero decepcioná-la.
— Obrigada — agradeço, me preparando para ir embora.
Antes que eu consiga girar a maçaneta, o chamado de Kiara me
para.
— Violet?
— Sim?
— Se a situação piorar, e você quiser resolver de outra forma… sabe
onde me encontrar.
Ela foi a primeira pessoa a quem confessei o que acontece há anos
dentro de casa. Uma total desconhecida, apenas para manter meu emprego.
Ela podia não ter ligado, me mandado embora e deixado que eu me virasse
sozinha.
No entanto, Kiara Lust não fez isso.
Embora não me conheça tão bem, ela acreditou em mim. Segurou
minha mão. E além disso, estendeu a sua.
Nunca vou esquecer disso.
— Obrigada, Kiara.
Se eu já a achava poderosa antes, meu respeito por ela só se
intensificou, depois dessa conversa.
Ela é o poder em pessoa.

Domingos são um dos meus dias preferidos da semana.


Era assim desde Mount Airy e continua em Schönilla.
Não trabalho, não preciso ir para a faculdade e posso aproveitar o
dia inteiro no sofá da sala, assistindo aos meus filmes preferidos de
animação da Disney, com um grande balde de pipoca doce. Dessa vez, com
calda de chocolate.
Estou decidindo qual filme assistir nesta tarde no serviço de
streaming, quando ouço a porta do quarto de Cassie se abrir. Pelo que me
disse há alguns dias, ela passará a tarde com seu irmão mais velho e o
restante da família hoje.
O que quer dizer que eu terei a casa só para mim.
Meu dedo coça para mandar uma mensagem para Ethan. Depois do
orgasmo sensacional que me proporcionou na faculdade, não nos falamos
muito. Algumas mensagens aqui, outras lá, porém, não nos envolvemos
sexualmente.
E, porra, que vontade de dar para aquele cara!
— Charles cancelou — Cassie comenta, citando o irmão mais velho,
e se aconchega ao meu lado. — Nash está com febre, então, remarcamos
para o próximo fim de semana — explica, falando de um dos sobrinhos.
— Ele que tem um irmão gêmeo?
Lembro de uma conversa que tivemos certa vez, sobre sua família,
quando alguns familiares apareceram para buscá-la para um almoço.
— Isso, o Cole. E tem a Mia, a mais velha — ela desbloqueia
rapidamente o celular e me mostra uma nova foto de toda família.
Charles e Alexia Brown[30], seu irmão e cunhada, respectivamente, e
as crianças: Mia, a mais velha, e os gêmeos, Nash e Cole. Na imagem,
Cassie aparece sendo esmagada pelos sobrinhos em um jardim enorme, com
vários brinquedos infantis e uma piscina de fundo.
— Eles te amam — comento, compartilhando um sorriso com
minha colega de apartamento.
— E eu os amo demais — responde, voltando a bloquear o aparelho.
— Quando Charlie e eu estávamos em uma situação… complicada, senti
muita falta deles. Alex me ligava às vezes, por chamada de vídeo, mas eu
estava tão puta com meu irmão, que não atendia. Ela me disse depois que
eram as crianças, querendo falar comigo.
É nítida a dor em sua voz enquanto me conta.
— Quer falar sobre isso? — pergunto cautelosamente, dando espaço
para ela decidir se gostaria ou não de entrar nesse assunto.
— Tudo está melhor agora — diz, com os olhos fixos na parede
atrás da televisão. — Mas… foi difícil. Eu coloquei na cabeça que todos me
odiavam e me queriam longe. Eu afastei as pessoas que mais me amavam,
e… e foi tão, tão ruim, Vi. Precisou que eu quebrasse a cara para entender
que eu me distanciei deles, não o contrário.
— Para que eles não fossem os primeiros a te abandonar, não é?
Isso traz a atenção dela de volta para mim.
— Sim, exatamente. — Compartilhamos mais um sorriso cúmplice.
— Passou por algo parecido?
Me ajeito melhor no estofado.
Conto para Cassie? Estou pronta para revelar mais da minha vida
pessoal para outra pessoa, em tão pouco tempo assim?
Eu não conhecia Kiara. Era meramente uma desconhecida, minha
chefe que aparece poucas vezes na casa noturna.
E ela me estendeu a mão mesmo assim.
Cassie… é minha amiga. Considero-a uma, pelo menos. Minha
primeira amiga em dezoito anos. E eu confio nela. Entretanto… tenho
medo.
Ela vai embora se souber quão fodida é minha vida? Quão fodida
eu sou?
Não quero que ela vá.
Gosto dela demais para isso.
— Vi, você não precisa me contar, se não quiser — ela garante, me
tirando dos pensamentos conflitantes e segurando minha mão.
Inspiro e solto o ar pela boca.
— Minha família… também é complicada — consigo dizer, e ela
assente, com total atenção em mim. — Eu entendo um pouco. Essa
sensação de que te odeiam? Sinto o mesmo — confesso, e ela aperta a
minha mão que está entrelaçada com a minha.
Sinto que minha mãe me odeia e odeia a si mesma por ter nos
colocado, não, por ter permanecido nessa situação.
— Eles não te odeiam, Vi. Acredite em mim. — Ela parece acreditar
mesmo em suas palavras, e isso me faz sorrir.
Porém, eu sei que ela diz da boca para fora, porque não sabe nem a
ponta do iceberg dos problemas da família Woods.
Ela pode estar certa, mamãe pode não me odiar. Agora, meu pai…
— O centro de psicologia da universidade oferece terapia gratuita,
sabe. Se você se sentir confortável… pode ser uma boa ideia — completa,
passando um dos braços pelos meus ombros e me puxando para perto. —
De qualquer maneira, estou aqui para você, Vi. Para o que você precisar.
— E eu estou aqui para você, Cassie. Para o que você quiser.
Finalmente tenho uma amiga de verdade, e não poderia ser melhor.
Cassie é a pessoa que eu precisava ao meu lado, e espero que eu
também seja essa pessoa para ela.
— Você… quer assistir alguns filmes comigo? — pergunto,
apontando com a cabeça para a televisão. — Sei que a senhorita é cinéfila, e
provavelmente não são os filmes indies que você gosta, mas… mas queria
que você visse comigo.
— Violet, tá de brincadeira? Quem não gosta de filmes da Disney?
Vamos maratonar todos hoje!
Cassie responde, animada demais, e eu rio, entregando o controle
remoto em sua mão, enquanto ela escolhe a primeira opção para essa tarde.
Com Cassie Brown, um balde de pipoca doce com cobertura de
chocolate e os meus filmes prediletos, me sinto no meu lugar seguro.
Você não é meu namorado
E eu não sou sua namorada
Mas você não quer que eu saia com outra pessoa
E eu não quero que você saia com outra pessoa
Você não é meu namorado
E eu não sou sua namorada
Mas você não quer que eu toque outra pessoa
boyfriend | Ariana Grande, Social House

Jantar com sua família vestido de Simon, do filme Alvin e os


Esquilos[31], é uma experiência um tanto quanto engraçada.
O moletom azul, a calça jeans, o tênis preto… roupas casuais, que
eu com certeza, vestiria em um dia qualquer.
São os óculos sem lentes, apenas a armação, e as orelhas de esquilo
— e eu ainda tenho minhas dúvidas se esquilos têm mesmo orelhas assim
— que completam o visual e fazem um sorriso se formar na boca dos meus
pais a cada vez que cruzam o olhar com o meu.
Isso porque, eles ainda não notaram o rabo costurado no meu jeans.
— Na minha época, fantasias de Halloween eram para ser sexy —
mamãe comenta, se divertindo com a situação, enquanto monta seu prato.
Hoje, dona Rebecca Scott preparou frango grelhado com marinada
de ervas frescas — ela mesma planta no jardim de casa —, quinoa cozida e
batatas rústicas assadas com alecrim e alho.
Não é à toa que Paxton se convidou para jantar aqui, antes de irmos
à festa.
— Quando se é um futuro astro do rock, senhora Scott, o sexy já
vem no combo, e não precisamos mais apelar para esse lado — meu melhor
amigo responde, lançando uma piscadela para minha mãe e recebendo uma
fuzilada de olhar do meu pai.
— Cuidado com a forma que pisca esse olho, garoto — Arthur
ameaça, com um tom leve e brincalhão, mas mesmo assim, aponta a faca na
direção dele.
Sinceramente, não sei como ele consegue levar Pax a sério vestido
assim.
O moletom verde como o meu, jeans e tênis comuns, e claro, o arco
de orelhas peludas e um rabo na parte traseira.
Isso porque, ainda encontraremos James e Cassie, para que ela possa
fazer nossa maquiagem também.
Como vamos manter nossa credibilidade como The Chaotic Misfits
depois de hoje, não me pergunte.
— Pare de perturbar o garoto, Arthur — mamãe alerta o marido e
volta seus olhos para o loiro ao meu lado à mesa. — Como está sua avó,
meu bem?
Paxton e eu só nos aproximamos no colegial, quando adolescentes,
e mesmo assim, ainda não éramos tão próximos assim. Todavia, Carmel by
the Sea é uma cidade pequena, e todos sabem quem todos são. Entre a
gente, não foi diferente. Antes mesmo de nos tornarmos amigos, meus pais
já conheciam a avó de Paxton há anos.
— Está ótima. Estava no asilo antes de vir para cá, e quando soube
que eu vinha, senhora Scott, disse que lembrava exatamente do cheiro que
exalava da sua casa nos horários de almoço. Era delicioso, como se um
banquete estivesse sendo preparado.
Quando nos mudamos para Schönilla, Paxton fez questão de trazer a
única família que lhe restava para perto. Eles moravam juntos, porém, com
a piora do estado de saúde dela, senhora Miller foi para a melhor casa de
repouso da cidade.
— Ah, querido! É permitido entrar com comida lá? Posso preparar
uma marmita para ela.
— Seria maravilhoso, senhora Scott — meu amigo responde,
sorrindo de forma galanteadora para ela.
Cutuco-o com o cotovelo, e ele se vira na minha direção.
— Achei que você não pudesse entrar com comida lá — digo,
lembrando de uma situação que aconteceu em uma das primeiras vezes em
que Paxton visitou a avó.
Ele levou um lanche gigante de alguma rede de fast-foods por perto
e viu tudo ser jogado na lixeira da entrada.
Estritamente proibido, pelo que o alertaram depois.
— E não podemos. Mas James vai para casa depois da festa, e não
tenho o que comer no fim de semana.
Esse cara, pelo amor de Deus!
— E como estão as aulas, queridos? É o penúltimo semestre de
vocês — mamãe continua a puxar assunto conosco.
— A formatura se aproxima, querida, minha conta bancária sabe
bem disso — papai completa, e rimos.
Realmente, é um valor bem exorbitante, mas… só vai acontecer
uma vez.
Duvido que haverá tempo para fazermos outra faculdade, quando
ficarmos famosos.
Conversamos mais um bom tempo sobre o fim dos nossos anos
escolares, planos com a banda para o futuro, dentre outras coisas. O papo
flui tão bem quando estamos juntos, que nem sentimos o tempo passar.
Quando noto, já estamos terminando o jantar, e sei que James e Cassie vão
chegar a qualquer momento.
— E você nunca mais retornou a Carmel, Paxton, não é? — meu pai
pergunta, enquanto minha mãe e eu levamos os pratos para a lava-louças.
Meu amigo coça a garganta, e percebo seu desconforto.
Nossa cidade natal é um assunto complicado para ele.
— Nunca mais, senhor. Tudo que preciso está aqui — ele responde,
encontrando meu olhar e pedindo silenciosamente para irmos, e assim,
terminar o assunto.
— E aquela garota com quem você costumava andar? Qual o nome
dela mesmo?
Ele não precisa pensar em uma desculpa ou uma mentira para contar
aos meus pais, porque a campainha de casa toca no mesmo instante,
indicando a chegada de James e Cassie, já que, mais uma vez, sou o
motorista da rodada.
— Mãe, pai, estamos indo — aviso, com Paxton já colocando os
sapatos no hall de entrada.
— Obrigado pelo jantar, senhor e senhora Scott — meu amigo grita,
ansioso para ir embora e não falarmos mais nada sobre o passado.
Ele detesta, até mesmo comigo.
— Dirija com cuidado, querido! — mamãe pede e deposita um beijo
na minha bochecha. — Não se esqueça de mandar vídeos da apresentação
depois, tá bom? Sabe que adoramos ver!
— Pode deixar, mãe.
— Bom show, garotos — papai deseja, e nós agradecemos, já saindo
para encontrar nossos amigos do lado de fora.
Prontos para irmos para o nosso show preferido do ano: o de
Halloween na fraternidade dos jogadores de basquete.

A energia que toma conta do meu corpo quando estou em cima do


palco… não existe palavras que possam explicar.
Ela começa assim que coloco os pés aqui e se encerra somente
quando saímos.
Meu corpo tem controle próprio quando estou na bateria. O cérebro
manda o controle exato do que é preciso fazer para os meus braços e pernas,
como se eu nem precisasse pensar mais nos movimentos.
Tudo é precisamente coreografado.
É lindo de ver a forma como a música nos guia, quando estamos nos
apresentando.
A The Chaotic Misfits não faz show.
Trazemos uma experiência inigualável para o público.
James nos lidera com sua voz e acordes da guitarra, enquanto
terminamos a última canção da noite. Seus olhos estão presos nos de Cassie
na plateia, que grita com fervor para o namorado. Minhas mãos voam pelos
pratos e tambores. Encontro o olhar de Violet Woods, em cima de uma
mesa mais ao fundo, e ela sorri quando percebe que a vi. O celular está em
mãos, porém ela não presta atenção na gravação, mas sim, em mim. Paxton
une-se a nós com seu baixo, criando uma base pulsante para essa
finalização.
Não existe The Chaotic Misfits sem Paxton Miller.
Sem James Crawford.
E sem Ethan Scott.
O caos acontece quando estamos juntos.
Nos completamos de uma maneira que não sei se é possível explicar
com a ciência.
James cantarola o último verso de Consume do Chase Atlantic, e os
estudantes gritam enlouquecidos.
Ainda melhor do que a energia que temos em cima do palco, é
aquela que o público transmite quando estamos tocando. Eles entram nessa
junto da gente e só param quando terminamos. Pulam, gritam e cantam
conosco.
Mal posso esperar para fazermos um show em um estádio.
Deve ser uma sensação do caralho.
— Somos a The Chaotic Misfits! — Pax berra no microfone e
recebe mais gritos. — Obrigado por essa noite sensacional, pessoal! Nos
vemos na próxima!
— PAXTON, AUTOGRAFA MINHA BUNDA! — uma das garotas
mais próximas grita para o nosso baixista, que somente ri e lança uma
piscadela para ela.
Não duvido que ele vá fazer exatamente isso daqui a pouco.
Aos poucos, nós arrumamos os instrumentos no palco — já tocamos
algumas vezes aqui, e os meninos da fraternidade garantem que nada
aconteça com eles até irmos embora — e tentamos sair. A multidão de
pessoas que fica por perto para nos elogiar é sempre grande, e algumas
garotas… precisam entender os limites.
James é logo agarrado por Cassie, que pula em seu pescoço e enrola
as pernas em seu quadril, enchendo-o de beijos. É um pouco cômico vê-lo
de Alvin, e ela de Brittany, uma das esquiletes.
Paxton — nosso esquilo Theodore — é parado por algumas pessoas
e conversa animadamente com todas, como é de costume.
Eu… eu tento me distanciar o mais rápido possível.
Desde que meu término com Jess se espalhou pela universidade, o
assédio de algumas garotas pós-apresentação ficou ainda pior. E como eu
ainda tenho um pouco de dificuldade de ser grosso e colocar um ponto final
nisso, prefiro me afastar e não dar trela para esse comportamento.
Minha primeira parada é a cozinha, para pegar uma garrafa de água
lacrada na geladeira. Quando saio do cômodo, meus olhos instantaneamente
percorrem todos os ambientes, à procura de Violet.
Não é difícil encontrá-la, quando está fantasiada de Jeanette.
Sim, a esquilete que é par romântico de Simon, o personagem que
estou vestido.
Não faço ideia de como Cassie convenceu-a disso, mas assim que
chegamos, mais cedo, e a vi com a saia xadrez em tons de roxo e azul-
escuro — que mal chega ao meio de suas coxas —, o cropped lilás com a
jaqueta jeans por cima e óculos sem lentes… porra.
Acho que ficou claro para a festa inteira que ela é minha.
Por um período seleto de tempo, Ethan.
Foda-se.
Ela é minha agora, e é isso que importa.
Sigo até onde vejo sua figura de costas. Os cabelos loiros estão com
as orelhas peludas de esquilo, e o rabo… o rabo é a peça-chave das nossas
fantasias.
Estou pronto para cumprimentá-la, quando percebo que ela não está
sozinha.
Está acompanhada de um outro cara.
E… porra, tudo bem. Não sou ciumento.
Não era, pelo menos.
No entanto, quando ele toca seu braço e a faz rir, se inclinando um
pouco mais para perto, eu vejo vermelho.
Não penso nas minhas próximas ações, quando me aproximo
rapidamente, passando um braço pela cintura de Violet e puxando-a para o
meu lado.
Como a porra de um neandertal.
— Oi, linda. — Cumprimento-a com um beijo na cabeça, ignorando
totalmente o babaca que deu em cima do que é meu.
— Hum… oi? Tudo bem? — ela pergunta, com as sobrancelhas
franzidas para mim.
— Tudo ótimo, Vi. Por que não estaria? — tento soar descontraído,
porém quando ouço a voz do garoto, aperto sua cintura com um pouco mais
de força, e a cara de Violet fecha.
— Então, Violet, quer ir lá pegar mais uma bebida?
Ele tem a audácia de perguntar isso quando estou deixando bem
claro que ela não está disponível.
Porra.
— Depois, Kevin, tudo bem? Preciso ter uma conversinha com meu
amigo. — Pelo seu tom, sei que não vamos ter uma conversa muito
amigável ou de palavras bonitas.
É, hum… talvez eu tenha pisado na bola.
Sou arrastado por Violet para o segundo andar da casa, onde está
mais vazio, e assim que ela vê uma porta aberta no corredor, me empurra
para dentro.
Ela gira a chave na fechadura da porta do banheiro e vira-se para
mim, com os braços cruzados e uma expressão nada feliz.
— O que pensa que está fazendo? Acha que sou sua propriedade
para você agir dessa maneira territorialista para cima de mim?
Eu deveria achá-la ainda mais gostosa quando está brava?
— Ele estava com as mãos em você, Violet — é o que consigo dizer,
e ela solta uma risada irônica com a minha resposta.
— E daí, Ethan? Você não é meu dono! Não pode chegar todo
gostosão como a porra de um astro do rock e tentar intimidar o pobre garoto
da minha aula de…
— Gostosão, huh? — provoco-a, me aproximando até que suas
costas batam na madeira. — E como a porra de um astro do rock?
Ela engole em seco, quando apoio uma mão ao lado do seu rosto na
porta, e a outra, em sua cintura desnuda.
— E-esse não é o ponto! O ponto é, Ethan, que somos apenas
amigos com benefícios. Eu não sou sua!
— E se eu quiser que seja? — rebato, deixando meus olhos recaírem
sobre sua boca rosada por alguns segundos, antes de voltar a encará-la.
Seu olhar suaviza um pouco. Dura poucos instantes.
— Já conversamos sobre isso, Ethan. Eu não namoro. Nunca. E…
— Não estou falando sobre isso, Vi — afirmo, antes que voltemos a
essa conversa de sentimentos. — Não precisamos namorar para você ser
minha. — Porque você já é.
Ela eleva uma das sobrancelhas e ergue a cabeça, em uma postura
de desafio e curiosidade.
— O que está propondo?
Finalmente.
Jogo suas madeixas para trás dos ombros e encaixo minha mão na
frente do seu pescoço, ao mesmo tempo que me aproximo do seu ouvido.
Sua pele se arrepia, e isso me faz sorrir.
— Não gosto que ninguém toque no que é meu, linda — sussurro
em seu ouvido, e ela agarra o meu moletom. Uso minha outra mão para
subir lentamente pela sua coxa nua, e ela tenta fechar as pernas, porém,
separo-as com o meu joelho, deixando-a bem aberta para mim. — Vamos
ser exclusivos. Você e eu. Não há ninguém para mim, não há ninguém para
você. Entendido?
— V-você… — começa a dizer e suprime um gemido, quando toco
seu pescoço com a minha boca. — Você não pode se apaixonar por mim,
Ethan.
— Já sei disso, Vi. É apenas sexo, não é? — Parece errado dizer
isso. Soa errado, mas… mas é o que temos.
Somente sexo. Certo?
— I-isso.
— Agora que já deixamos isso claro… posso comer minha boceta
preferida, por favor?
Você faz parecer como se fosse mágica
Porque eu não vejo ninguém sem ser você
Eu nunca estou confuso
Hey, hey
Eu estou tão acostumado a ser usado
Que eu amo quando você me liga inesperadamente
Earned It | The Weeknd

A tensão é palpável no pequeno banheiro da fraternidade.


Os olhos castanhos de Ethan Scott parecem enxergar até minha
alma.
O sorriso cafajeste estampa seu rosto, e sua mão encontrou um lar
na minha cintura.
Tudo seria um pouco mais sexy, se não estivéssemos com a porra
das orelhas de esquilos. E, caramba, o rabo, que está espremido contra a
porta! Quando Cassie disse, há alguns dias, eu já tinha a fantasia perfeita
para nós duas para o Halloween, não me passou pela cabeça que estávamos
combinando com os meninos da banda.
E, cá estou eu, de Jeanette, presa em um cômodo minúsculo com o
Simon de Alvin e os Esquilos.
A vontade de gargalhar é gigante, porém, quando a boca de Ethan
captura a minha, não há mais nada no mundo.
Só existimos eu, ele e o cheiro do aromatizante de capim-limão.
Nossos corpos colidem de uma vez.
As mãos dele descem pela minha coluna, e ele aperta minha bunda
por debaixo da minissaia, enquanto seu pau semiereto toca minha barriga.
Empurro meu quadril contra o dele, e nós dois gememos em uníssono com
a fricção de nossas partes íntimas.
Acho que nunca fiquei molhada tão rápido como agora.
Talvez… quando ele me chupou na universidade, há alguns dias.
Ele mal tinha me tocado, e eu estava totalmente molhada para
Ethan.
E, porra, ele me fez sair da sala de pernas bambas!
Esse homem… não existe ninguém como esse homem.
Foi por isso que não relutei tanto, quando ele propôs exclusividade.
Não que eu estivesse ficando com outras pessoas — afinal, eu mal tenho
tempo para respirar com a faculdade, estudos, trabalho e bem, ele —, mas
também não é preciso, quando um Ethan Scott vale mais do que três.
Ele é único.
É o primeiro em muito tempo que me faz sentir… viva.
Elétrica.
Como se o fogo tomasse conta de mim sempre que estamos juntos.
Ethan rasteja a língua pelo meu pescoço, e eu arranho seu abdômen
por debaixo do moletom, querendo, não, precisando de mais contato físico.
Ele desfere um tapa na minha nádega direita, e um gemido arrastado
escapa de mim, sendo abafado pela música que toca do lado de fora. Ainda
bem. É um pouco vergonhoso gemer tão alto por um tapa bem dado,
quando ele ainda nem tocou na minha boceta.
— Você não precisa de mais ninguém, Vi — ele murmura no meu
ouvido, subindo uma das mãos por debaixo do meu cropped e alcançando
meus peitos sem sutiã. — Posso te satisfazer de todas as formas. Sou o
único que consegue tirar esses sons de você.
Não tenho forças para inventar uma mentira.
Não quando ele belisca meu mamilo, e mais um gemido meu
reverbera pelo banheiro.
E muito menos, quando ele abocanha o outro, sem tirar os olhos dos
meus.
Porra.
Seguro sua nuca e deixo que ele beije, chupe e instigue meus seios
da maneira que desejar.
Todavia, não aguento muito.
É demais para mim.
Minha boceta está pulsando de desejo, implorando por contato.
Puxo-o para cima, deixando nossos rostos nivelados, e desço minhas
mãos para sua calça jeans, desafivelando o cinto de couro e abrindo o botão
da calça.
Desço o jeans e a cueca de uma vez, revelando seu pau monstruoso.
Minha boca saliva de tesão.
— Está babando, linda — o babaca provoca, e volto a encará-lo.
— O que posso fazer, se seu pau foi feito para se enterrar na minha
boceta? — retruco, levando minha mão até o membro duro e massageando-
o.
Ethan geme, e eu sorrio.
Gostoso pra caralho.
Antes que eu possa continuar a masturbação, uma das mãos de
Ethan segura a minha, e a outra… vai para o meu pescoço, apertando-o e
me prensando mais contra a porta.
Forte o suficiente para me fazer esfregar minhas pernas uma na
outra, implorando para que ele faça alguma coisa com minha calcinha
encharcada.
— Você usa anticoncepcional, não usa, Vi?
— U-uso. Por quê?
É um pouco difícil responder com sua mão sufocando meu ar, mas
eu me esforço por ele.
Pela minha imensa vontade de gozar.
— Porque vou gozar dentro dessa boceta gostosa, e você vai voltar
para a festa com toda a minha porra escorrendo por ela, para saberem que
você é minha. Somente minha.
Estou tão inebriada de desejo, porra, de tesão por ele, que confirmo
rapidamente com a cabeça.
No momento seguinte, ele arrasta minha calcinha para o lado, e seu
pau me invade.
Em uma investida só, forte e bruto, como eu gosto, ele entra de uma
vez em mim, até o talo.
Eu grito.
Ele geme contra o meu pescoço, mordendo-o.
Ethan começa a se movimentar dentro de mim. Ele sobe uma das
minhas pernas e enrola em sua cintura, me deixando ainda mais arregaçada,
e eu pareço senti-lo até meu útero.
Porra.
Ele mete em mim.
Ele me beija até ficarmos sem fôlego.
O som do seu pau saindo e entrando em mim é muito melhor do que
qualquer música.
Não demora muito para que eu sinta o orgasmo chegando, e Ethan
também.
Ele estimula meu clitóris. Eu abafo meus gemidos, mordendo seu
ombro.
E, juntos, nós gozamos.
Minhas paredes apertam seu pau, e o jato de porra quente é jorrado
por toda minha boceta.
Afasto meu rosto um pouco, para poder observá-lo.
Meu coração está batendo forte.
Minha respiração está descompassada.
E tudo que eu consigo pensar é…
— Essa foi a melhor foda da minha vida, Vi.
Exatamente isso.
Caralho, que experiência… incrível.
— E-eu não sei se consigo andar — confesso, e uma risada escapa
dele, me fazendo sorrir também.
— Eu te ajudo, linda — oferece e quando tira o membro de dentro
de mim, me sinto vazia.
Dura pouco, porque ele usa os dedos para empurrar um pouco do
gozo para dentro.
Não adianta muito. Continuo com as coxas meladas da porra de
Ethan.
— Você está ainda mais linda com a minha porra escorrendo pelas
suas pernas, Violet.
E como se não tivesse dito uma das falas mais obscenas que já
escutei em toda minha vida, Ethan pega algumas folhas de papel toalha,
molha com água morna da pia e limpa toda a bagunça que fez em mim.
Com carinho. Delicadamente, ele coloca minha calcinha no lugar e arruma
meu cabelo. Estou totalmente hipnotizada, que nem pisco com suas ações.
Apenas acompanho cada movimento com os olhos.
— Mudei de ideia. Não precisa estar toda melada por mim para que
saibam que você não está mais disponível. Já vai ser aviso suficiente você
sair com as pernas moles daqui, segurando minha mão.
Uma risada escapa de mim, e eu bato em seu peito de leve, enquanto
ele arruma as roupas, também rindo.
É tudo tão leve. Tão fácil.
Não importa o que aconteça entre ele e eu, tudo sempre é diferente
do relacionamento dos meus pais, que por um momento, me pego
pensando… se eu pudesse me apaixonar, iria querer me apaixonar por
Ethan Scott.
Uh oh, eu estou me apaixonando
Oh não, eu estou me apaixonando de novo
Oh, eu estou me apaixonando
Eu achava que o avião estava caindo
Como você mudou isso
Labyrinth | Taylor Swift

— Não, não, não — mais uma vez, a voz de Paxton ecoa pela
garagem onde realizamos nossos ensaios.
James e eu olhamos um para o outro e paramos de tocar, virando
para o nosso baixista.
— O que foi agora, Pax? — James pergunta, nem um pouco feliz de
estarmos parando o ensaio pela milésima vez essa tarde.
Desde que chegamos, há algumas horas, Pax colocou defeito em
tudo que conseguiu pela frente.
James, sua voz está desafinando entre o verso tal e o refrão.
Ethan, você está atrasado dois segundos com o som dos pratos.
Gente, não estamos no controle.
Nós não aguentamos mais pausar em, literalmente, todas as canções,
para consertar algo totalmente dispensável.
Porra, ele nem espera terminarmos para reclamar.
— Não estamos nos encontrando no tempo certo da mudança de
tempo — acusa, e impaciente, James revira os olhos.
— Estamos, sim, Paxton, porra. O que deu em você hoje?
É… eu já estava esperando pelo momento em que um de nós fosse
explodir com nosso baixista.
Paxton solta uma risada desgostosa.
— O que aconteceu comigo, James, é que não estamos construindo
uma eufonia[32] aqui, porra, e sim, uma cacofonia[33] terrível.
A forma como ele respondeu… Esse não é o Paxton Miller que
conhecemos e amamos. Ele não está sorrindo, fazendo piadas e sendo o
galã de todos os dias. Não, ele… ele parece com raiva, indignado com
alguma coisa além desse cômodo e está descontando em nós. Sei que não é
algo com a banda, conosco, porque entre nós três, ele é o melhor para falar
que algo está errado quando fazemos merda.
Então, o que aconteceu com o nosso raio de sol, que o transformou
em sombras?
— Já vai parar de agir como um babaca e nos contar o que rolou
para te deixar assim? — questiono, também me irritando com seu
comportamento hoje.
Ele se assusta, como se estivesse surpreso por eu ter desvendado
esse grande — uma grande ironia aqui — mistério.
— Qual foi, Pax? Nos conhecemos há anos. Acha mesmo que eu
não sei quando tem algo de errado? — continuo, quando ele ainda não
responde.
— Você pode contar com a gente, Pax. Não precisa se esconder —
James completa, o olhar suavizando.
A expressão de Paxton se desmancha, e ele parece se desarmar.
Solta o baixo, colocando-o no suporte na parede, e arruma um lugar
à mesa de madeira, nos chamando com a cabeça para perto dele.
Sem hesitar, James e eu também arrumamos nossos instrumentos e o
seguimos para lá, ocupando as cadeiras ao seu lado.
— Minha avó está piorando — conta, e meu corpo enrijece. — Os
remédios não estão fazendo mais efeito, não como gostariam, e… e estou
surtando, porra. N-Não sei o que vou fazer quando ela se for.
O silêncio que recai sobre a sala é doloroso.
A dor de Paxton toma conta de nós, principalmente de mim, que sou
próximo dessa família há anos. Ele perdeu os pais ainda muito novo e
agora, vai perder a única família que lhe resta?
Não, isso não pode acontecer.
— Estamos aqui com você, Pax — sou o primeiro a falar e alcanço
sua mão, que se apoia desleixadamente no tampo da mesa. — O que você
quiser fazer, vamos estar ao seu lado.
Não sei qual é a coisa certa a se dizer nesse momento, entretanto,
tento falar o que gostaria que dissessem para mim, se a situação fosse
contrária.
— Você não está sozinho. Nunca vai estar. Estamos aqui, Pax —
James complementa e segura nossas mãos entrelaçadas com a sua.
Mais do que amigos, mais do que a The Chaotic Misfits, nós somos
a família que escolhemos. Ninguém solta a mão de ninguém é um lema que
levamos muito a sério por aqui.
— O-obrigado, gente. Eu amo vocês pra caralho — nosso loiro
responde, e rimos com a demonstração de amor.
— Também amamos você, Pax — respondo, e mais risadas ecoam
pelo cômodo.
Espero que a avó dele fique bem.
Porém, se não ficar… estaremos ao seu lado.
Para o que precisar.
O momento de amor e carinho termina quando a porta da garagem é
escancarada, e nos sobressaltamos, virando imediatamente para lá.
— Nós trouxemos vodca, água com gás e suco de cranberry —
Cassie avisa, com um sorriso pendurado em seu rosto e levantando as
sacolas do mercado.
Nós.
Com quem…
— Cassie disse que o ensaio já teria terminado. — A voz de Violet
ressoa pelo ambiente, e um sorriso involuntário toma conta do meu rosto.
Hoje, os cabelos de Violet Woods estão presos em um rabo de
cavalo no topo da cabeça. Ela usa uma calça jeans apertada, deixando sua
bunda perfeitamente incrível nele — o que posso fazer, se ela se agachou
junto à amiga, com ajuda de James, para guardar as bebidas na geladeira,
empinando o traseiro gostoso bem na minha cara? — e claro, uma blusa
branca curta com a frase "Stop copying me, you're not even doing it right"
[34]
estampada.
— Fecha a boca, Ethan, está babando — Paxton zoa, e eu retribuo
com um peteleco em seu pescoço.
Meu amigo somente ri e balança a cabeça.
Ela é bonita pra caralho, porra, é claro que vou ficar babando na
minha mulher.
Depois de arrumarem tudo na geladeira, James volta a se sentar na
sua cadeira, e Cassie ocupa aquela ao seu lado. Ou seja, não há mais
nenhuma de madeira sobrando para Violet.
Confusa, ela fica parada, tentando decifrar onde vai se sentar.
Sem pensar duas vezes, eu circulo sua cintura e trago-a para o meu
colo. Passo o braço pela sua frente e descanso a palma da minha mão em
sua barriga nua, enquanto a outra, deixo em sua coxa.
Meus amigos trocam olhares, mas não dizem nada.
— Gostei da surpresa, Vi — murmuro em seu ouvido, deixando um
beijo no pescoço.
Cassie, James e Paxton estão alheios a nós, conversando sobre o dia
de Ação de Graças, que se aproxima.
— Cassie me arrastou para cá — conta, e sinto que há um pingo de
mentira em sua voz.
Violet não faz o que não quer.
— Hum… — murmuro, deixando que minha mão brinque com o
botão da sua calça jeans, e a outra, suba perigosamente para a barra da sua
blusa minúscula. — Quer dizer que não veio por minha causa? Por que
estava com saudades?
— N-não — responde, sôfrega, quando lambo um ponto abaixo da
sua orelha, que sei que a deixa louca.
Rio baixinho, e sua pele se arrepia com o timbre.
— Meus pais estão viajando. O que acha de ficar depois que eles
forem? — pergunto, sem pensar muito sobre o assunto.
Faz alguns dias que não nos vemos, e estou sentindo falta dela.
— Depende — responde, e sinto o tom de sua voz mudar, se
tornando algo mais provocador, quando olha para mim por cima do ombro.
— O que você vai fazer comigo, se eu ficar?
Porra.
Preciso me ajeitar na cadeira, a porra do meu pau acha que é o
momento para subir.
Ainda não.
Não com todos eles aqui.
— Hora de jogar eu nunca — Paxton avisa de repente, e Violet e eu
paramos com as provocações para encará-lo. — O que foi? Precisamos
fazer alguma coisa, antes que vocês se comam na nossa frente.
É claro que ele está falando da gente.
— Só está reclamando, porque eles não te chamaram para participar,
Pax — Cassie comenta, rindo, e se apoia no namorado.
— Lembrem que estou sempre disponível para qualquer aventura
que vocês queiram ter — o loiro diz, lançando uma piscadela para Violet.
Ela ri, e eu sorrio.
Ela está se dando bem com meus amigos.
Isso é bom.
Aperto mais a cintura de Violet, enquanto Paxton busca a vodca e os
copinhos de shot na geladeira, pensando no que vai dizer.
— Eu nunca… transei com uma professora ou professor da
faculdade.

Quando todos vão embora, depois de arrumarmos toda garagem —


uma exigência que tenho quando convidamos mais pessoas para o ensaio
—, finalmente levo Violet para dentro de casa.
Admito que estou um pouco nervoso.
Mesmo tendo quase vinte e um anos, me sinto um adolescente
rebelde chamando uma garota para o seu quarto quando os pais viajam.
Com uma das mãos entrelaçadas na dela, eu a guio para dentro de
casa, em direção ao meu quarto. No corredor, onde há um quadro
gigantesco com diversas fotos de nossa família, Violet para e observa cada
fotografia com atenção. Faço o mesmo, ficando ao seu lado.
— São seus pais? — pergunta, apontando para uma das milhares de
imagens no quadro branco.
É uma foto dos meus pais no casamento deles, há mais de vinte
anos. Eles estão fazendo a típica pose cortando o bolo juntos, com ambos
segurando a faca, e meu pai olha de forma apaixonada para minha mãe,
enquanto ela, tem um sorriso de orelha a orelha estampado na face para a
câmera.
A felicidade deles dois é nítida, e eu sorrio, apenas por saber que
isso permanece até os dias atuais.
— São sim.
— Ainda estão juntos?
— Esses dois aí só se separam na morte — brinco e olho para
Violet, que tenta sorrir também, só que não chega aos seus olhos.
— Eu consigo sentir o amor deles irradiando da foto. É… é lindo.
— É, é mesmo. Eles se amam de uma maneira surreal e única.
Ela apenas acena com a cabeça e continua olhando fotografia por
fotografia.
— Seus pais… ainda estão juntos? — me vejo perguntando,
querendo conhecer mais de Violet Woods.
Apesar de estarmos constantemente juntos, nossas conversas não
são… profundas, pessoais. Não sei muito sobre a vida dela fora de
Schönilla, nem do seu passado.
Principalmente, não sei de onde vem sua aversão ao amor e
relacionamentos.
E é algo que já me tirou o sono algumas noites.
O que aconteceu com essa menina, para que ela descarte qualquer
tipo de relação amorosa, tão jovem?
— Sim — responde, sem encontrar os meus olhos, e pelo seu tom…
há algo mais nessa história.
— Eles… não são bons um para o outro? — tento, com cuidado, e
aperto sua mão, fazendo-a virar-se para mim.
— Não, eles não são — se limita a dizer e facilmente, muda de
assunto: — Desistiu de me mostrar seu quarto? Há algo lá que eu não possa
ver?
Não passa despercebida a máscara que ela coloca, como se não
quisesse que eu a desvendasse, sendo que tudo que mais quero, é descobrir
sobre Violet Woods.
— Você que se perdeu no meio do caminho, babando pelo Ethan
Scott jovem — retruco, deixando esse tópico de lado por agora.
Ela não quer falar sobre isso nesse momento, e eu respeito.
Contudo... quero que ela se sinta segura e confortável o suficiente
comigo para se abrir algum dia. Para me dizer todos os seus segredos,
medos e paixões.
Quero ser essa pessoa para Violet.
Na verdade, é uma vontade incontrolável de protegê-la e defendê-la
do que for preciso.
Sei que ela não precisa de um príncipe encantado, mas… seria tão
ruim assim?
— Ainda prefiro essa versão de agora do Ethan — diz, quando abro
a porta do meu quarto, e eu me aproximo por trás. — Ele sabe fazer coisas
que com certeza, o de treze anos não sabia.
— Ah, é? Que tipo de coisas? — pergunto e antes que eu consiga
circular sua cintura, e puxá-la para mim, ela se joga na minha cama, no
meio dos travesseiros, e sorri travessa para mim.
— Coisas — repete, com segundas intenções em seu tom, e se ajeita
no meio das almofadas.
Me jogo ao seu lado e passo o braço pelos seus ombros, puxando-a
para mim e entregando o controle da televisão.
— Quer assistir algo? Pode escolher.
Ela liga o aparelho, e todos os serviços de streaming que assino
aparecem na tela.
— Pode ser alguma animação da Disney. Sei que você gosta —
sugiro, lembrando de quando apareci no apartamento de Cassie e peguei-a
vendo algum desses filmes na televisão da sala de estar, enquanto estudava.
— Você lembra? — indaga, com um pequeno sorrio tomando conta
dos seus lábios.
Dessa vez, é real.
— Não é fácil esquecer algo sobre você, linda — rebato, e suas
bochechas coram, ficando vermelhinhas.
Eu não consigo resistir e deixo um beijo em uma delas.
Violet se ajeita na cama e passa um dos braços pelo meu tronco,
descansando a cabeça no meu peito. Nossas pernas se enrolam uma na
outra, e… e eu não poderia estar mais confortável.
Ela passa por todas as opções de filmes animados, até optar por Vida
de Inseto[35].
Um clássico.
— Você nunca me disse porque gosta tanto desses filmes —
comento, enquanto o filme não começa.
Seu corpo tensiona um pouco com a minha curiosidade.
Aperto-a contra mim, tentando passar um pouco de segurança, e
beijo seus cabelos.
Funciona.
Ela relaxa novamente e começa a fazer círculos imaginários pelo
meu abdômen.
— Quando eu era pequena, usava esses filmes para fugir da
realidade quando as coisas estavam… difíceis em casa. Colocava meus
fones de ouvido e passava horas maratonando os filmes, fingindo que a vida
fora do meu quarto não existia.
Meu coração aperta de angústia com o tom doloroso que ela usa
para explicar. Sei que tem muito mais coisa do que ela está me contando.
Muito mais detalhes, que me ajudariam a decifrar de fato, o que acontecia
— ou ainda acontece? — com ela.
Quero saber mais.
Quero entender o que estava difícil, para ela recorrer aos filmes.
Quero compreender o que a assombra no seu passado — talvez
ainda no seu presente —, para que ela fale tão pouco sobre isso.
Todavia, acho que Violet não está pronta para se abrir dessa forma
comigo.
Se estivesse, ela não precisaria ser tão enigmática nas suas
respostas. Entretanto, sei que estamos chegando lá.
Espero ansiosamente que estejamos chegando.
Algo no meu coração parece precisar proteger o dela. Quero que ela
me entregue o seu de bandeja e ser o responsável por nada mais machucá-
lo.
Uma chave vira na minha cabeça, de repente.
Pareço finalmente compreender alguns sentimentos recentes. A
razão de eu me sentir maravilhosamente bem com Violet. O motivo de eu
querê-la sempre por perto. De estar viciado não só no seu corpo e nos seus
beijos, mas nela. Em querer conhecer cada pedacinho da sua alma. Entendo
o porquê do meu coração bater mais forte quando ela está por perto e toda
essa necessidade de tê-la ao meu lado.
Oh, não.
Eu acho que sei o que está acontecendo comigo e… e me deixa
assustado. Não o sentimento, já que é algo familiar para mim desde sempre.
Nunca foi um tabu e não é agora que vai ser.
O que me deixa com medo é saber que quebrei o acordo que
fizemos, o que jurei que não aconteceria, porque acreditava que estava
quebrado demais para, de fato, ocorrer.
Está acontecendo de novo.
Eu não quero ter medo de algo bonito.
Não quero.
No entanto... também não quero decepcionar Violet. Decepcionar a
mim mesmo, por ela não sentir o mesmo e estilhaçar meu coração
novamente, quando eu nem sabia que ele estava curado.
Respiro fundo, deixando os pensamentos e os meus verdadeiros
sentimentos de lado por agora.
O que me limito a dizer nesse momento, é:
— Vamos fugir da realidade juntos, então.
Até nos meus piores dias, eu mereci, baby
Todo o inferno que você me deu?
Porque eu te amava, eu juro que eu te amava
Até o dia da minha morte
Eu não tinha como ir com graça
E você é o herói voando ao redor, salvando a face
E se eu estou morta para você, por que você está no meu
velório?
my tears ricochet | Taylor Swift

As últimas semanas estão sendo tão boas, que parece que vivo em
um conto de fadas, onde monstros e tristeza não existem. Há apenas
príncipes — Ethan Scott —, princesas — nesse caso, eu — e felicidade.
E, claro, muitos orgasmos.
Muitos.
Embora o sexo seja um ponto forte da minha amizade colorida com
o baterista da The Chaotic Misfits, ele também possui inúmeras outras
qualidades, e a cada dia que passa, descubro mais um pouco sobre o incrível
Ethan Scott.
Sua série favorita é Brooklyn 99.
Seu autor favorito é Julio Verne — uma das razões de ele estar
cursando Geologia.
Um dos seus sonhos — além de fazer sucesso com a banda — é
viajar pelo mundo em algum momento. E sim, o livro "A Volta ao Mundo
em 80 Dias"[36] é o grande precursor dessa vontade.
Ele não cozinha muito, porém, aprendeu a fazer uma torta de maçã
com sua vó que não tem igual — palavras dele, ainda não provei.
Entre milhões de outros fatos superinteressantes.
Conhecê-lo melhor, às vezes é ainda mais convidativo do que
transar.
Pois é.
Eu estou mesmo dizendo isso!
Porque eu gosto da sua amizade.
Só isso.
Não há sentimentos além do carinho e consideração, e obviamente,
o tesão.
Certo?
Ele me faz sentir segura. Protegida. Estar com Ethan é como fugir
da realidade durante um tempo. Nos nossos momentos juntos, há apenas
nós dois no planeta, vivendo um minuto de cada vez.
Isso, exatamente isso.
Não estou me apaixonando por Ethan Scott. Claro que não. Acho
que essa confusão de sentimentos pode estar acontecendo, porque estou
confiando nele como nunca fiz com outra pessoa. Ele é meu primeiro amigo
verdadeiro, de certa forma. Na escola, falava com alguns colegas de classe,
mas não os deixava se aproximarem muito, porque não queria que eles
descobrissem a verdadeira face de Violet Woods e sua família.
Entretanto, com ele é… diferente.
Por minha família estar longe, eu consigo ser eu mesma.
Até me abri um pouco com ele ao longo dos últimos dias,
compartilhando pequenos fragmentos da minha vida, que ninguém nunca
soube antes.
É novo. É diferente. E é muito bom.
— No que está pensando, querida? Em algum garoto? — mamãe
pergunta, e eu pisco, retornando à realidade.
Vim almoçar mais uma vez com minha mãe e é a primeira vez que a
vejo depois do… hospital. Ela está melhor. A saúde física está totalmente
curada, porém, a mental… acho que não.
Sei que não, porque ela continua com ele.
Ela sempre continua.
— Garota? — insiste, e eu sorrio um pouco, sacudindo a cabeça.
Me assumi bissexual para minha mãe há alguns anos, e ela me
apoiou de primeira. Não houve perguntas. Não houve julgamentos. A única
coisa que ela me disse, foi que me amava e estaria ao meu lado
independentemente de tudo.
Eu acreditei.
Por muitos anos, acreditava.
Mas agora, principalmente depois de ela parar na porta do
hospital… não sei se ela me ama.
Caramba, não sei se ela se ama!
Dói.
Meu coração dói por isso.
— Mãe… não estou pensando em ninguém — minto, e ela eleva
uma das sobrancelhas, apoiando os cotovelos na mesa.
— Pode me contar, florzinha.
— Não tem nada para contar — reforço, e ela estreita os olhos,
como se, caso me encare durante muito tempo, eu acabe soltando algo. — É
sério!
— Não acredito em você — responde simplesmente, e eu escancaro
a boca em descrença, com a sua ousadia. — Mas quando você resolver o
que há nesse coraçãozinho, quero ser a primeira a saber.
Eu sei que não deveria.
Entendo que o melhor é não tocar nesse assunto, quando estamos
em um momento gostoso de mãe e filha, entretanto... é mais forte do que
eu.
— E o que há no seu coraçãozinho, mãe? — tento fazer soar como
uma pergunta inocente, contudo, nós duas sabemos que não é.
— Violet, por favor… não vamos falar sobre isso — pede, porém,
mais uma vez, ignoro.
— Por quê? É ele que está aí, não é? É sempre ele, mãe —
resmungo, sentindo a raiva subir à cabeça.
Não dela, nunca da minha mãe.
Quase nunca.
Estou com raiva dele.
De tudo que ele a faz passar e a forma como ele manipula sua
cabeça, fazendo-a acreditar que é por amor.
Se o amor é assim… não quero amar, muito menos ser amada.
— Violet, você precisa entender que eu o amo, e… e é diferente
dessa vez. Ele disse que vai mudar.
Pelo amor de Deus!
Não é possível que ela acredite em uma merda dessas!
— Como nas outras vezes, mãe?
— É diferente, filha. Eu… sinto que é. Ele estava sendo verdadeiro.
— E o pior, é que ela parece acreditar nas palavras.
Estou pronta para iniciar mais uma discussão, no entanto, sou
interrompida quando porta de trás da casa, aquela que entramos pela
cozinha — onde mamãe e eu estamos comendo —, é aberta, e a última
pessoa que eu gostaria de ver hoje, e em qualquer outro momento, passa por
ela.
Seus olhos focam diretamente em mim, quando entra.
— Ora, ora — começa a dizer, com um leve tom de divertimento, e
eu sinto vontade de vomitar o que acabei de comer. — Parece que a filha
perfeita e estudiosa lembrou que tem família. O que foi? Não se adaptou à
cidade de ricos pela qual largou a nossa?
— Amor… — minha mãe chama, em tom de alerta.
Ele apenas olha de soslaio, com a cara fechada, para a esposa, e ela
se cala.
Babaca do caralho.
— Eu já estou de saída — comunico, me levantando da mesa e
querendo sair o mais rápido possível dessa casa.
Não consigo dar dois passos para a sala de estar, onde minhas coisas
estão, porque meu pai surge no meu caminho.
— Nem terminou a comida que sua mãe fez, garota. O que foi,
hein? É melhor do que a gente agora, porque anda com esses garotos
inteligentes e metidos à besta?
— Me deixa passar — mando, com a mandíbula trincada e os
punhos cerrados.
Preciso ir embora.
Preciso ir embora.
Preciso ir embora.
— Não antes de você passar um tempo com sua família e lembrar de
onde veio. — Tento passar mais uma vez e não consigo, é claro. Ele é o
dobro do meu tamanho. É impossível. — Colocamos a porra de um teto
sobre a sua cabeça e comida na mesa, e depois que decide abrir as asas,
esquece de quem te criou?
— Você não me criou — resmungo baixinho.
Ou acredito ser baixo.
— O que disse? — pergunta, e eu ergo a cabeça, dando de cara com
sua face totalmente vermelha e as sobrancelhas franzidas.
Que se dane.
— A verdade — digo mais alto, e até ele se assusta que eu estou
retrucando. — Você não me criou. Mamãe fez isso, enquanto você enchia a
cara e pulava de emprego em emprego, sendo demitido de todos, porque
chegava caindo de bêbado no trabalho. Ela fazia de tudo por mim, pela casa
e principalmente por você, porque você era, não, você é, um imprestável
que só sabe beber e…
Eu sinto primeiro o impacto do seu punho contra a minha bochecha
e depois, ouço o som ecoando pelo cômodo em silêncio.
O sangue escorre pelo meu nariz, pingando na minha blusa branca.
Quando me recupero do choque de ter tido o rosto batido pelo meu
próprio pai, volto a olha-lo.
— Aposto que você queria fazer isso há anos, não é? É a única
forma que sabe, de reagir à verdade. — Não sei o que acontece comigo para
eu decidir bater de frente com ele nesse momento, mas eu faço isso.
Toda a raiva acumulada dos anos em que fiquei calada e vi cenas
horrendas, que nenhuma criança deveria sequer imaginar, toma conta de
mim e escorre pelas minhas falas verdadeiras.
O segundo soco vem logo depois.
Mais forte.
Perco meu equilíbrio e caio no chão, batendo a cabeça no batente da
porta.
— Violet! Filha, você está…
— Cale a boca, Ines, porra! — meu pai grita, e com um dos olhos
um pouco inchado do impacto, eu vejo mamãe se encolher à mesa. — Não
sei que porra está acontecendo com você hoje, garota, mas precisa aprender
a respeitar seu pai. Se não fosse por mim, você não estaria nesse mundo.
Às vezes, eu não quero estar.
Agora é um desses momentos.
— Não pise novamente nessa casa, até aprender a respeitar os mais
velhos, sua fedelha mimada — avisa e passa por cima de mim, terminando
com um chute nas minhas costelas.
É o que faltava para eu vomitar toda a comida do almoço no piso da
cozinha.
Minha mãe se levanta para ajudar, com lágrimas nos olhos, e eu…
só quero não existir.
Sumir.
E levar a dor dela comigo.
— Amor, preciso de você. Agora — Winston Woods ordena,
seguindo pelo corredor para o quarto dos dois.
Ela me encara.
Desvia o olhar para a área dos quartos da casa.
— Ines? Eu te chamei, porra! Está surda? — o marido dela grita, e
ela sobressalta.
Assustada.
E o que minha mãe faz?
Ela não me ajuda.
Ela o segue.
Me deixa jogada no meu próprio vômito, com a face sangrando e
provavelmente, uma costela fraturada.
As lágrimas deslizam pelo meu rosto, enquanto eu tento recolher
forças para alcançar meu celular no bolso da calça jeans, discando o
primeiro contato que aparece.
A ligação chama três vezes, até alguém atender.
— Alô? Vi? Tudo bem?
— P-preciso de vo… você — digo, chorando e mal conseguindo
formar palavras coerentes.
— Me fale onde você está. Estou indo.

Cassie faz todo o caminho de Schönilla até Mount Airy em uma


hora e cinquenta sete minutos.
Para mim, parece que esperei cinco horas na calçada da casa dos
meus pais, com a mochila nas costas, o rosto limpo, porém machucado, e
uma dor lacerante na costela, tentando me manter sã e não chamar atenção
dos moradores que passaram nesse tempo.
Assim que vi o carro de Ethan se aproximando, meu corpo
congelou.
Não queria que ele me visse nesse estado… deplorável.
Então, logo que Cassie saiu pelo banco do motorista, e consegui ver
que estava sozinha, meus músicos relaxaram.
E a porra da minha costela ardeu como se estivesse sendo quebrada.
Nunca a vi tão desesperada como naqueles poucos minutos em que
me ajudou a subir no banco do carona.
Ela me perguntou pelo menos quatorze vezes se estava tudo bem, e
mesmo eu respondendo sempre que sim, ela ainda insistiu em me levar para
o hospital.
É dessa maneira que me encontro em uma das enfermarias do
mesmo hospital onde vim de acompanhante da mamãe, há algumas
semanas.
Como o tabuleiro vira, não é?
— Vi… o que aconteceu? — Cassie finalmente faz a pergunta que
estava se corroendo para fazer, desde que entramos no carro.
A não ser para perguntar como eu estava, ela se manteve durante
todo o percurso até o hospital mais próximo em silêncio, entretanto, pela
sua postura e seus olhares, eu sabia que em algum momento, ela iria querer
saber.
E acho que é o mínimo, depois de ter vindo me socorrer a horas de
sua cidade, sem pensar duas vezes.
— Meu pai — respondo, me sentindo até um pouco melhor, depois
de alguns medicamentos e curativos. — Ele… Eu bati de frente com ele
pela primeira vez na vida, e como você pode perceber, ele não gostou nem
um pouco.
Cassie engole em seco.
Sei que ela tem uma péssima relação com seus pais biológicos,
então, acredito que ela entenda um pouco do que estou passando.
— É a primeira vez que ele faz isso?
— Comigo? Sim — confesso, e seus ombros caem, mas sua
expressão preocupada permanece. — Ele bate na minha mãe, no entanto.
Desde… quase sempre, eu acho. Não me recordo de nenhuma época em
que ela não aparecia com roxos e machucados pelo corpo, tentando
escondê-los. Ele costumava fazer isso escondido, sabe? — conto e sinto
uma lágrima deslizar pela minha bochecha. — E aí… ele começou a não ter
medo. De mais nada. Ele gritava, empurrava-a contra a parede, chutava seu
corpo… como se estivesse lidando com um objeto, não com sua esposa, que
jurou amar e proteger no casamento.
— Amiga… — sopra, puxando a cadeira para mais perto e
segurando minha mão. — O que posso fazer para ajudar?
Quero chorar com seu cuidado e carinho.
É estranho ter uma pessoa que se preocupa tanto com você, pela
primeira vez.
— Sinceramente? Nada, Cassie. Minha mãe… ela não enxerga isso.
Ela arranja desculpas para todas as merdas que ele faz. Inclusive, fez isso
hoje — a revelação faz ainda mais lágrimas escorrerem pela minha face.
Doeu demais vê-la escolhendo-o.
Mais uma vez.
Toda maldita vez.
— O que você quer fazer depois que for liberada, então? Quer ir à
delegacia?
Balanço a cabeça rapidamente, em negativa.
— Não aconteceria nada com ele. Sei como isso funciona.
E uma parte de mim teima em acreditar que minha mãe ficaria ao
lado do marido, e isso me mataria ainda mais.
— Para casa, então.
— Isso, só… só quero dormir e esquecer de tudo.
Cassie abre a boca para responder, porém, seu celular apita,
indicando a chegada de uma nova mensagem.
Deve ser a milésima vez que isso acontece desde que entramos no
carro.
— James está mesmo com saudades, huh? — brinco, tentando
aliviar um pouco o clima.
— Ah, não é James — diz, depois de digitar uma mensagem rápida.
— É Ethan. Ele está muito preocupado com você.
Acho que paro de respirar durante um instante.
— V-Você contou para ele?
Bem, eu imagino que de alguma coisa ele saiba, já que o carro está
em posse de Cassie.
— Eu estava no ensaio com eles quando você ligou, amiga. Entrei
em desespero, e eles viram. Então, eu disse que você precisava de mim e
era urgente. Ele não pensou duas vezes antes de me entregar as chaves do
carro, depois de insistir incansavelmente para vir junto. Mas… eu não sei,
senti que era melhor eu vir sozinha.
— Sim. Não… não queria que ele me visse assim.
Ela me lança um pequeno sorriso, e eu retribuo, mesmo com o rosto
ainda um pouco dolorido.
— Ele não para de me importunar com mensagens de atualizações
desde então. Eu disse que você não estava bem, mas iria melhorar, e garanti
que estava em boas mãos. — Ufa. Não sei se quero compartilhar essa parte
da minha vida com ele. Ethan é puro demais para lidar com coisas feias
assim. Não quero levar isso para suas costas. — Fiz certo?
— Sim, amiga, você fez. Eu… eu não quero levar essa parte de mim
para a vida dele — confesso, me sentindo um pouco boba.
— Ethan é um ótimo garoto, Vi. Um dos melhores que já conheci.
Ele tem um bom coração, é inteligente, gentil, trata bem a família e sempre
pensa no bem-estar dos amigos em primeiro lugar. Mas… ele é durão
também, sabe? Não é porque ele parece um príncipe saído dos contos de
fadas, que é de porcelana. Ele aguenta qualquer coisa, tenho certeza disso.
Sabe… caso você queira contar para ele.
— O-obrigada, amiga. Ele é… é uma pessoa incrivelmente
maravilhosa.
Tanto, que eu mal consigo expressar em palavras.
Se eu pudesse me envolver com alguém, amar, essa pessoa seria ele.
— Só… cuidado com ele, tá legal? Essa amizade colorida… não sei
se vai dar certo no fim. Você sabe, alguém acaba se apaixonando e
quebrando a cara.
Eu sei que ela está certa.
Isso acontece na grande maioria dos casos.
Porém, esse lado egoísta meu, não quer deixar Ethan Scott ir.
— Já conversamos sobre isso, amiga. Não tem com o que se
preocupar.
O sorriso que ela me devolve não parece muito verdadeiro.
Não me importo, porque sei o que estou fazendo.
Eu não vou magoar Ethan.
Não permitiria isso acontecer.
Se… se eu perceber que ele está desenvolvendo sentimentos, vou
ser a primeira a ir embora e nos poupar dos problemas.
Simples assim.
Nossa conversa é interrompida pela chegada da médica.
Dra. Vanessa Smith, é claro.
Porque a porra do universo está brincando com a minha cara.
— Senhorita Woods… o que aconteceu?
Durante toda a minha explicação — da mentira que fui formulando
na minha cabeça desde o momento em que Cassie afirmou que iríamos
passar na emergência —, a médica não parece nem um pouco convencida
com a minha história.
Contei a verdade para uma pessoa e menti para a outra.
Até quando eu continuaria com esse modus operandi?
E eu venho querendo te dizer
Eu acho que sua casa é mal-assombrada
Seu pai está sempre bravo e
esse deve ser o porquê
E eu acho que você deveria vir morar comigo
E nós podemos ser piratas
Então você não vai chorar
Ou se esconder no armário
seven | Taylor Swift

É ainda pior do que da vez em que Violet me deu bolo e só me


respondeu no fim da noite. Ainda não sei se ela realmente estava com outra
pessoa ou era apenas meu ciúme falando mais alto.
De qualquer forma, não se compara ao desespero de acompanhar
Cassie Brown atender a ligação da amiga e sua expressão inteira se
transformar. Estávamos no fim do ensaio, rindo e brincando, quando ela
falou com Violet no celular e ao mesmo tempo que ouvia sua colega de
apartamento, já começava a recolher seus pertences pela garagem. Assim
que desligou, pediu meu carro e disse que Violet precisava dela.
Eu insisti incansavelmente para ela me deixar acompanhá-la —
parece que ela estava em sua cidade natal, quase três horas de Schönilla —,
porém, Cassie foi firme em sua decisão de que era melhor eu ficar. Violet
não pediu por mim, e ela não sabia o que tinha acontecido, então, fui
aconselhado não só por ela, como também pelos meninos, a não ir.
Não dormi.
Passei a noite em claro, enchendo Cassie de mensagens e recebendo
curtas respostas, sem muitos detalhes, sobre Violet.
Ela sofreu um acidente? Foi sequestrada? Assaltada? Quebrou a
unha ou teve algum problema feminino que só meninas podem consertar?
Não faço ideia.
Se eu admirava a lealdade de Cassie antes, principalmente com
James — seu ex-melhor amigo e atual namorado —, admirava-a ainda mais
agora.
E também quis ligar e gritar com ela, por me deixar no escuro.
Às sete horas da manhã seguinte, eu já havia comido, estava de
banho tomado e pronto para encontrá-las onde quer que estivessem. Nem
que eu precisasse pegar três ônibus ou pagar uma corrida de táxi milionária,
não importava.
Eu estava determinado a ver com meus próprios olhos como Violet
Woods estava e entender o que tinha acontecido na noite anterior.
Por isso, liguei para Cassie, questionei a localização delas e disse
que estava indo.
Para qualquer lugar.
Isso não era um problema.
A resposta dela?
— Não é um bom momento, Ethan. Quando for, eu te aviso. Pode
deixar.
E desligou.
Porra!
Pior de tudo, ela ainda estava com meu carro, então… estava de
mãos atadas.
Isso foi há dois dias.
Somente hoje, Cassie me enviou uma mensagem, dizendo que meu
carro estava em sua garagem, com a chave no porta-luvas, e eu poderia
buscar quando quisesse.
O que quer dizer, que elas, provavelmente, estavam em casa.
Não pensei duas vezes antes de pedir o carro de aplicativo e ir direto
para o apartamento.
É dessa maneira que me encontro do outro lado da porta das
meninas, esperando ansiosamente para uma delas atender a campainha.
Elas podem não estar em casa. Deixaram o carro e foram embora.
Violet pode ter ido embora.
Ela pode estar bem longe daqui.
Foram alguns dos trilhões de pensamentos que passaram pela minha
mente, até eu ouvir uma movimentação do lado de dentro e ajeitar a
postura, aguardando que…
Não.
Cassie Brown aparece na porta, e não Violet, como eu planejava.
O buquê de violetas posicionado estrategicamente na frente do meu
corpo, juntamente da caixa de bombons de chocolate branco com recheio de
pistache — os preferidos da loira —, parecem um pouco patéticos nesse
momento.
— Onde ela está? — pergunto, sem rodeios, deixando a
preocupação voltar a tomar conta de mim.
— Ethan, o que está fazendo aqui? A chave do carro está lá, no
porta-luvas — repete, sem me dar passagem para dentro e repetindo o que
já foi me dito por mensagem.
Quase rio por ela acreditar que vim aqui por um maldito carro.
— Não estou aqui por isso, Cassie. Quero vê-la. Estou preocupado
pra caralho — confesso, e minha amiga morde o cantinho do lábio inferior,
finalmente deixando que eu adentre seu apartamento.
Ela espera que eu passe para trancar novamente a porta de
entrada.
Estou tirando meus tênis e minha jaqueta de frio, quando Cassie fala
novamente.
— Se ela não quiser você aqui, você não pode insistir — ela me
alerta, e eu elevo uma das sobrancelhas. — É sério, Ethan. Precisa respeitá-
la agora, mais do que em outro momento.
Ela me deixa ainda mais angustiado, imaginando todas as piores
situações que podem ter acontecido.
— Não vou fazer nada que ela não queira. Se Violet não me quiser
aqui, eu… vou embora.
Por mais que eu não queira fazer isso, irei respeitar Vi.
Cassie acena com a cabeça, com os braços abraçando o próprio
corpo.
Dou apenas três passos para o corredor, quando ela segura meu
pulso, me impedindo de continuar.
— Não sei o que há entre vocês com essa amizade colorida, Ethan,
mas… tenha cuidado com Violet. Ela é forte, pra caramba, mas… cuidado,
tá legal? Ela não merece mais uma decepção. Não agora.
— Eu nunca machucaria a Violet — afirmo, certo de minhas
palavras e intenções. — Só quero saber como ela está e ajudar, de qualquer
maneira que ela precise.
— E-ela já passou por muita coisa e tem só dezoito anos, então…
por favor, não a faça passar por mais uma coisa.
— Ela está segura comigo, Cassie. Estou prometendo que só tenho
as melhores das intenções.
Ela acena positivamente e me solta, deixando que eu siga meu
caminho.
Toda essa conversa me deixou ainda mais nervoso sobre toda essa
situação e esse mistério.
Dou duas batidas na porta do quarto de Violet e ouço sua voz fraca
do outro lado, permitindo minha entrada.
Assim que abro-a, me assusto ao vê-la deitada de lado, com a feição
cansada, um cobertor felpudo cobrindo-a e… porra, é nítido o corte em seu
nariz, o curativo em cima de sua sobrancelha direita e os resquícios de um
hematoma no olho.
— Violet — sopro, deixando as flores e o chocolate em sua mesinha
de cabeceira e me aproximando da cama.
Ela abre os olhos, encontrando meu olhar, e uma lágrima desliza
pela sua face.
Meu polegar logo se encarrega de enxugá-la, quando me agacho ao
pé da cama.
Sinto que meu coração parece estar sendo alfinetado por mini
agulhas em toda superfície.
Dor.
Preocupação.
Medo.
E… raiva, de quem fez isso com ela, toma conta de mim.
— O que você precisa, linda? Me diga, e eu faço. Qualquer coisa —
enfatizo, querendo que fique claro que se ela me pedir para ir atrás do seu
agressor, eu vou.
Não sou a favor da violência, porém em algumas situações, como
essa, é necessário.
— M-me abraça? Por favor?
Porra.
Eu não sei o que me quebra mais: sua voz baixa e fraca, como se até
falar fosse um desafio, ou sua expressão cansada; dolorida.
Me aconchego em seu colchão e puxo-a para perto, com todo
cuidado do universo, e ela deita a cabeça em meu peito, enquanto circulo
sua cintura com um dos braços. Nos cubro com o mesmo cobertor de antes
e gradativamente, ouço sua respiração ir se acalmando, e seus olhos vão
pesando, prestes a cair no sono.
— Estou aqui, Vi. Estou aqui — murmuro, e ela aperta mais os
braços ao meu redor.
Nesse momento, deixo os sentimentos ruins de lado e foco apenas
na garota em estado frágil agarrada em mim. Aquela mesma que não tem
vergonha, faz o que quer e é muito segura de si, deixou suas barreiras
baixarem e entregou nas minhas mãos, sua segurança e confiança, de certa
forma.
Deixo que durma, observando-a e pensando quanta sorte tive, de
nossos mundos colidirem.

Violet dorme tranquilamente por uma hora e quarenta e dois


minutos. Sei com precisão, porque passei todo esse tempo acordado,
observando-a dormir e pensando em mil e uma possibilidades que
pudessem explicar o seu estado, e não fossem terríveis.
Não encontrei nenhuma.
Quem machucou minha garota? Onde essa pessoa está? Por que fez
isso?
São algumas das milhares de perguntas que rodam pela minha
cabeça, quando Violet se remexe no meu abraço, e lentamente, as suas
pálpebras se abrem.
Ela pisca algumas vezes, se acostumando com a escuridão do
quarto, já que nesse tempo em que dormiu, o sol se pôs. Demora alguns
instantes, e quando a visão parece se estabilizar, ela ergue a cabeça, e
nossos olhares se encontram.
Vi sorri minimamente para mim e sobe sua mão para alcançar meu
rosto, fazendo um carinho gostoso na minha mandíbula, que eu retribuo em
seu quadril.
— Apaguei durante muito tempo? — pergunta, ainda com a voz
rouca e sonolenta.
— Um pouco mais de uma hora.
Ela assente, sem desviar os olhos dos meus.
— Não queria que você me visse assim — confessa, e eu fico um
pouco surpreso com sua fala.
— Você quer conversar sobre isso?
Faço a pergunta totalmente no escuro.
Quando se trata de Violet Woods, eu não sei até que limite estou
permitido a ir. Ela é fechada. É claro, nesses meses em que estamos juntos,
já desvendei algumas de suas camadas, porém sei que há muitas outras
ainda.
Às vezes, ela estava animada, contando algo sobre seu passado e de
repente, parecia notar o que estava fazendo e se calava, mudando totalmente
de assunto.
Eu não insistia. Deixava para lá e embarcava no novo tópico de
conversa.
Mas agora… eu me arrependo de não ter feito isso.
Talvez… se eu soubesse um pouco mais sobre Violet, não sei,
poderia ter impedido o que quer que tenha acontecido, de acontecer.
— Não faz isso — diz, e eu saio dos meus devaneios.
— O quê?
— Sei como sua cabecinha funciona, Ethan, e sei que você está
pensando que poderia ter me salvado de alguma forma. Você não poderia.
Não é tão simples assim.
Em outros momentos, eu sorriria e a beijaria até ficar sem ar, com a
revelação de que ela percebe as pequenas coisas sobre mim.
Entretanto, há outros assuntos mais importantes.
— Linda… me conta. O que aconteceu com você? Eu estava maluco
de preocupação nos últimos dias — solto a confissão em seu colo, sem
medo do que ela possa achar sobre isso.
Preciso que ela saiba que eu me importo e que estou assustado,
tentando entender o que rolou.
— A primeira lembrança que tenho dos meus pais, é meu pai dando
um tapa na cara da minha mãe no meu aniversário de cinco anos — ela
começa a contar, e meu corpo enrijece. Não sei o que eu imaginava que
poderia ser, mas com certeza, isso não passou nem perto das minhas
suposições. — Eu entrei para ir ao banheiro e os vi de canto, conversando
baixo, até que a mão dele atingiu o rosto dela, e eu me assustei. Pulei. E…
acho que gritei, depois, saí correndo.
“Desde então, eu fiquei alguns anos sem ver nada. Escutar nada.
Eles passaram a… tomar cuidado. Era quando… ele ainda se preocupava
em esconder de mim. É claro que isso não durou muito. Quanto mais
bebida, mais volátil ele ficava. Era demitido depois de algumas semanas
dos empregos e descontava na minha mãe, quando isso acontecia. Qualquer
mínima coisinha que ela fazia, se ele achava estar errado ou não era bom o
suficiente… ele batia nela. Como eu disse, até os machucados costumavam
ser em lugares não aparentes, até que ele parou de se importar de vez com
tudo. As agressões passaram a ser constantes. Eu rezava para o dia seguinte
chegar e poder… escapar daquilo, enquanto estava na escola. Ficou tudo tão
feio, que mamãe comprou os fones de ouvido anti-ruídos para mim e me
orientava sempre a não sair do quarto quando ele estava puto. E eu
obedecia. Nunca bati de frente, nunca fiz nada, Ethan. E não porque eu não
queria.”
Não posso chorar na frente de Violet quando nem ela, que passou
por tudo isso, está chorando. Pisco repetidamente os olhos, espantando as
lágrimas.
Eu não posso ser fraco agora.
Preciso ser forte.
Por ela.
— Então… por que não? — questiono, tomando muito cuidado com
as minhas palavras.
Não quero que ela se assuste e se feche novamente para mim, como
das outras vezes.
— M-minha mãe — revela, desviando o olhar do meu como…
como se se envergonhasse. — Ela ainda o ama, Ethan. Está… cega de amor.
Ela diz que ele também a ama, que ele só está nervoso e acredita em todas
as vezes que ele fala que vai mudar. Isso nunca aconteceu e não vai
acontecer. Ele é uma pessoa horrível, e nada, nada será capaz de mudar isso.
Mas… mas ela não vê isso. Não vê nada.
Porra.
Toda a situação já é uma merda, porém, saber que a mãe de Violet
está totalmente cega dentro dessa relação abusiva e violenta, piora ainda
mais o cenário.
E a culpa não é dela.
Nunca é das vítimas.
É do imundo, canalha e covarde do pai dela, que parte para
violência em todos os conflitos. Que desconta na pessoa que o ama acima
de tudo e ainda o defende.
Como um ser humano pode ser tão podre assim?
Vemos casos de abusos físicos e psicológicos, assim como
feminicídios, frequentemente nos jornais e televisão, no entanto, é diferente
quando a pessoa que você gosta tanto, passa por essa situação.
É complicado quando está perto de você.
— E… e o que aconteceu agora, Vi? Ele tocou em você, não tocou?
Ela volta a me encarar e confirma com um meneio de cabeça.
Sinto meu sangue ferver, a raiva se intensificar cem vezes e uma
vontade quase incontrolável de largar tudo e ir até ele, para lidar com essa
situação da mesma forma que ele faz: com violência.
— Eu estava visitando minha mãe, quando ele voltou para casa mais
cedo. Falou uns absurdos, como sempre. Mas dessa vez, eu não recuei. Eu
rebati. E… bem, ele rebateu de outra maneira. — Violet ri da piadinha sem
graça, apontando para o seu rosto machucado, e eu fico imóvel. Não é o
momento disso, quando está tão recente. — Relaxa, Ethan. Já estou bem.
— Eu não estou bem te vendo assim, linda — confesso, e ela
arregala um pouco os olhos com a surpresa. — E com certeza, não estava
bem nos últimos dias, sem nenhuma notícia concreta sua.
— Ethan — sussurra, tocando meu rosto de maneira delicada e
carinhosa, e eu seguro sua mão ali.
— Violet — repito, e ela sorri.
Mesmo com toda essa situação terrível acontecendo, ela ainda
consegue sorrir.
Porra.
Como ela pode ser tão forte?
— Obrigada. Por estar aqui. Por se preocupar comigo.
— Não precisa agradecer pelo mínimo, linda.
Ela se acomoda mais em mim. Enrosca as pernas nas minhas e
coloca quase todo o corpo sobre o meu.
Acho que é a minha nova posição favorita.
— Sabe, eu não queria que você me visse assim — fala outra vez,
de repente, e eu inclino a cabeça, apoiando na cabeceira da cama. — Eu
gosto muito da… da nossa amizade, Ethan. E não queria que você fosse
embora depois de ver, de saber, quem é a verdadeira Violet Woods e toda
bagagem que carrego. Você foi um dos primeiros… amigos que fiz na vida,
e não quero te perder.
Essa garota… ela é preciosa demais para o seu próprio bem.
— Violet, eu não vou embora porque você teve o azar de ter um
covarde babaca como pai — afirmo, sério, e ela deixa o corpo amolecer
contra o meu. Como… como se se sentisse ainda mais segura em abaixar as
barreiras, quando estamos juntos. — Eu não vou a lugar nenhum. Eu vou
ficar quanto tempo você quiser que eu fique.
E eu não me importaria em ser para sempre.
Mais um sorriso dela, diretamente para mim.
— Acho que quero que você fique por muito tempo — é a sua
resposta.
A minha, é deixar um beijo carinhoso em sua testa.
— O que vamos fazer agora? Com essa situação com seu pai? Quer
ir à delegacia? Já foi?
Solto as perguntas de uma vez, ainda preocupado.
— Nada.
Elevo as sobrancelhas e arregalo os olhos.
Pisco, atordoado.
— O quê?
Eu ouvi errado.
Com certeza, ouvi errado.
— Minha mãe não quer fazer nada — explica, e meu coração se
aperta. — Ela não vê a verdadeira pessoa que ele é. Ou finge não ver,
porque o ama muito.
— Precisamos fazer alguma coisa, Violet. Não podemos deixá-lo se
safar assim.
— Ethan, ela o defende para todos. Ela fala dele como se fosse um
príncipe encantado que a buscou de cavalo branco.
— Violet, temos que ir a polí…
— Aquela vez em que eu te dei um bolo e fiquei horas sem
aparecer? — ela relembra, me interrompendo, e eu assinto. Quando ela
estava com outro, e sinceramente, não faço ideia do porquê isso é
importante agora. — Ele bateu tanto na minha mãe, que ela foi parar no
hospital, Ethan.
Porra.
Porra.
Porra.
E eu, inocente, acreditei que ela simplesmente tinha achado uma
companhia melhor.
Burro pra caralho.
— E sabe o que ela disse para a médica? — questiona, e eu nego
com a cabeça. — Disse que caiu em casa. — Merda. — Não podemos fazer
nada, até que ela enxergue a verdade. E, acredite, eu já tentei.
Essa não pode ser a única saída.
Deve haver outra solução.
Alguma coisa que podemos fazer, não?
Não estamos de mãos atadas.
Não podemos estar.
— O que acha de vermos algum filme da Disney e relaxarmos?
Vamos… deixar isso para amanhã, tá legal? Só quero descansar e esquecer
de tudo. Podemos fazer isso?
Não consigo dizer não para o rostinho lindo de Violet.
Por isso, apenas assinto, deposito mais um selinho em sua testa e
alcanço o controle da televisão, jogado no colchão, entregando-o em suas
mãos.
Violet consegue se concentrar em Kuzco[37] e suas aventuras no
primeiro filme de alguns que pretendemos ver, mas eu não.
Tudo que se passa na minha mente, é uma forma de consertar essa
situação.
Posso ser apenas o amigo de Violet, como ela me definiu, porém,
não muda o fato de que é difícil e doloroso vê-la passando por isso.
E que eu quero ajudá-la no que precisar
Ela não quer ir à polícia? Não quer tomar medidas legais?
Não fazemos nada disso, não importa.
O que importa é que estarei ao lado de Violet Woods para o que ela
queira fazer.
Nós costumávamos ser próximos, mas pessoas podem ir
de pessoas que você conhece para pessoas que você não
conhece
E o que mais machuca é que pessoas podem ir
de pessoas que você conhece para pessoas que você não
conhece
Quando era bom, nós estávamos pegando fogo
Agora estou respirando poeira e sujeira
People You Know | Selena Gomez

A recomendação médica para uma costela fraturada, por incrível


que pareça, é repouso e analgésicos para dor. De quatro a seis semanas,
dependendo do dano. Como não quebrei, não precisei ficar tantas semanas
afastada da faculdade e do trabalho.
Quatro semanas e meia, no total.
Trinta e um dias sendo tratada como uma princesa de porcelana por
Ethan e Cassie.
Em qualquer outra ocasião, eu com certeza, não aceitaria esse
tratamento e reclamaria, porém, como eu estava com bastante dor — os
remédios funcionaram sim, mas eu precisava tomar religiosamente no
mesmo horário, para que a dor não iniciasse novamente —, acabei deixando
que eles fizessem tudo para mim.
Foi maravilhoso, na verdade.
Me senti uma verdadeira princesa.
O que fazia de Ethan Scott… meu príncipe, de certa maneira.
Eu decidi fielmente ignorar todos os meus sentimentos nessas
últimas semanas. Repeti para mim mesma, diversas vezes, que só me
preocuparia com o meu coração batendo mais forte a cada vez que Ethan
aparecia depois de suas aulas e ensaio, quando melhorasse. Já tinha muitas
preocupações e não poderia adicionar mais uma na lista.
Por exemplo, minha mãe não fala comigo desde o acontecimento.
Quer dizer, eu mandei algumas mensagens e fui respondida de
forma direta e concisa, então, não considero que ela tenha falado comigo.
Estou preocupada com ela.
Acima de tudo, ela é minha mãe.
E está em um relacionamento abusivo. Ela precisa de ajuda.
Mas ela não vê isso, Violet, e não há nada que você possa fazer.
Será que realmente não existe alguma saída para essa situação?
Porra, como eu vou viver mais tantos anos — pelo menos, até eu me
formar em Direito e conseguir lidar com tudo isso —, vendo minha mãe
passar por tudo isso?
É demais.
Dói demais.
Bufo, frustrada por não saber como consertar minha vida.
— Acha que uma pipoca com calda de chocolate pode colocar um
sorriso no seu rosto? — A voz de Ethan surge na sala de estar do meu
apartamento, e eu sorrio involuntariamente.
Ele faz tudo parecer… mais leve.
Melhor.
Mesmo quando não está.
Com ele, consigo esquecer a bagunça que está a vida da família
Woods nesse momento. — Tão pior como sempre esteve.
Por curtos períodos, eu consigo não pensar em terceiras pessoas,
apenas em mim.
Em como fico feliz e animada quando estamos juntos.
Mais uma vez, problemas para a Violet do futuro.
— Talvez se o entregador da pipoca me der um beijinho —
respondo, de maneira manhosa, e ele se senta ao meu lado no sofá,
passando um dos braços por cima dos meus ombros, e deixa um selinho
casto na minha boca.
Só isso.
Um leve encostar de lábios.
Faz um pouco mais de quatro semanas e meia que não transamos.
Não fazemos nada que chegue perto do sexo, na verdade.
Do jeito que é, Ethan está preocupado com minha saúde física e não
quer arriscar piorar algum dos meus hematomas. Sua regra é: sem sexo até
que eu esteja cem por cento curada.
Para mim: tortura.
Caramba, eu tenho um príncipe gostoso comigo todos os dias e
preciso me satisfazer com meus dedos?
Esse não é o mundo ideal!
— Ethan… — choramingo, jogando uma das pernas por cima do
seu colo e acomodando-as uma de cada lado do seu quadril, me sentando
em seu colo.
Ele fecha os olhos e segura minha cintura.
— Abre os olhos, lindo.
— Não posso.
— Por que não?
— Porque se você continuar me olhando com essa expressão de
quem precisa de uma boa foda, Vi, eu vou acabar jogando tudo para o alto e
dando o que você quer.
Um sorriso largo se estende pelos meus lábios.
— E por que você não faz isso? Estou bem, prometo.
— Ainda não, Violet. Não quero prejudicar sua recuperação.
Suspiro, resignada.
— Já fui liberada pelo médico — relembro.
— Isso foi ontem — ele retruca, instintivamente apertando de leve
minha cintura com suas mãos lindas, gostosas e grandes, que ele sabe muito
bem usar.
Céus, preciso mesmo transar.
Não tenho chance de entrar em uma discussão e convencê-lo a
enterrar seu pau bem fundo na minha boceta, porque meu celular toca
desesperadamente, jogado em uma das almofadas.
Sem sair de cima dele, eu me estico e alcanço o aparelho.
Minha mãe.
Estranho a ligação repentina.
E é claro que não imagino que esteja me ligando para contar alguma
boa notícia.
Ethan abre os olhos, e eu mostro o visor para ele.
Saio de cima do seu colo, e ele entrelaça uma das mãos na minha,
quando atendo a ligação com a outra, nervosa.
— Mãe? Tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
— Violet, minha florzinha, está ocupada?
Porra. Não é possível uma coisa dessas.
— Não, mãe. Nunca estou ocupada para você — sou sincera em
cada uma das minhas palavras.
Ela respira fundo do outro lado da linha, e aperto a mão de Ethan.
— P-pode me buscar aqui?
— O-o quê? Te buscar? Por quê? O que aconteceu?
Assim que disparo as perguntas, Ethan se desvencilha de mim e
começa a andar como uma barata tonta pela casa.
Foco na minha mãe e deixo que ele faça o que quer que esteja
fazendo.
Ela é o que importa agora. É sempre ela a pessoa mais importante da
minha vida.
— Você estava certa, filha — Ines Woods confessa, e eu me ponho
em alerta ainda mais agora. — E-ele… não é mais a pessoa pela qual me
apaixonei, há vinte anos. O que ele fez com você… — Ela funga e suspira
alto. Conheço minha mãe, sei que está engolindo o choro, e isso me deixa
com vontade de chorar também. — Demorei pra entender, pra juntar as
peças, mas infelizmente, foi o que eu precisava para ver a verdade, Violet.
Não devia ter chegado a esse ponto… Ninguém, e eu digo ninguém, mexe
com a minha filha. E-eu estava… totalmente afogada nas manipulações
dele, minha florzinha. Mas ver você machucada… me fez repensar tudo! E
foi a gota d'água para mim. Todos os meus instintos de mãe afloraram, e eu
entendi que não posso continuar aqui. Não quando o homem que digo amar,
trata a minha filha, minha menininha, daquela forma.
É difícil segurar as lágrimas depois da confissão de mamãe.
Enquanto ela explicava, Ethan estava eufórico pelo apartamento, à
procura das nossas jaquetas de frio e da chave do carro. No tempo em que
Ines Woods contava que finalmente — finalmente! — tinha compreendido a
verdadeira pessoa que seu ex-marido é, Ethan já estava me guiando para a
garagem do prédio, onde seu carro está.
Caramba, ele nem pensou duas vezes em fazer isso.
Esse homem… puta merda, esse homem!
— A-aquela proposta de ficarmos juntas, está de pé?
— É claro que está, mamãe — respondo, quando saímos do
elevador, minha mão entrelaçada na dele. — Estamos indo para aí, tá legal?
T-tudo vai ficar bem. Eu prometo.
— Eu te amo, filha.
Eu duvidei do amor de mamãe por mim durante muitos anos. Não
entendia como ela podia se amar, me amar e ama-lo da mesma maneira. O
amor entre nós era tão diferente daquele que eles sentiam — ou diziam
sentir um pelo outro —, que não fazia sentido.
Então, em alguns momentos, eu aleguei para mim que ela não me
amava.
Não tanto quanto amava o marido.
Porém agora, eu compreendo que não.
Ela é minha mãe. Eu sou sua filha.
E não há ninguém nesse mundo que me ame como ela, e vice-versa.
Nosso amor, lealdade e cumplicidade podem acabar com tudo.
Acabaram, na verdade.
Foi o amor de mamãe por mim, que a fez ir embora do lar que tanto
a machucava.
E, uma parte de mim acredita que ela está pronta para amar a si
mesma de novo e recuperar todo o brilho que Winston Woods tirou dela ao
longo dos anos.
— Eu também te amo, mãe. Muito.

O vento gélido do sul de Mount Airy toca meu rosto de forma nada
delicada, quando bato a porta do carona do carro de Ethan, assim que ele
estaciona em frente à minha casa.
Ines Woods já está à espera.
Com uma mala grande, uma pequena e uma bolsa nos braços, ela
abre um sorriso quando me vê. No entanto, seus olhos não escondem a dor.
Eu estou do mesmo jeito. Sei — ou pelo menos, entendo muito bem
— os mistos de sentimentos que ela deve estar sentindo nesse momento.
Eu me prendo ao fato de que ela finalmente enxergou a verdadeira
face do marido e único homem que amou em toda sua vida, e decidiu sair
do relacionamento. Dessa maneira, uso toda essa força para não desabar
aqui mesmo, chorando de felicidade.
Ela é tão, tão forte.
E eu preciso dar orgulho a ela, e usar um pouco da minha força
também.
— Senhora Woods, deixa que eu ajudo — Ethan se prontifica,
aparecendo de repente perto de nós.
Mamãe, sem perder sua essência, ergue as sobrancelhas e também o
polegar, em um gesto de aprovação, enquanto ele pega suas bagagens e leva
para o porta-malas do veículo.
— Gostei — diz para mim, quando ele está longe o suficiente para
não nos escutar, e eu reviro os olhos.
— É só um amigo. Nem comece — deixo claro, e ela apenas me
lança uma piscadela, nada convencida.
Nem você está totalmente convencida disso, Violet, a vozinha da
minha consciência sussurra no fundo da minha mente.
Juntas, seguimos até o carro, e claro, Ethan está nos esperando.
Ele abre a porta do banco de trás para que entremos e dá a volta para
o banco do motorista.
— E ainda é um cavalheiro. Excelente escolha, filha — murmura
perto do meu ouvido, ao passo que colocamos os cintos.
— Mãe — chamo, em tom de repreensão, e ela solta um risinho.
Apesar de todos os acontecimentos recentes, o clima é leve, e eu
gosto disso.
São raros esses momentos com minha mãe. E, caramba, eu adoro
quando estamos juntas, apenas vivendo a vida, sem nos preocupar com nada
mais.
Entretanto, ainda não é o momento para isso.
Não quando ela se ajeita no banco, depois de Ethan dar partida no
carro, e eu vejo hematomas nos seus braços. Com a devida atenção, também
consigo enxergar a maquiagem em seu pescoço.
Porra.
Nunca vai ser fácil ver as marcas dele, nela.
— Eu conheci uma médica nas… nas duas vezes em que estive no
hospital de Mount Airy — começo a contar, e ela presta atenção em mim.
— O nome dela é dra. Vanessa Smith. Ela disse que, se eu precisasse,
poderia contar com ela. Ela sabia o que estava acontecendo, mãe. E… acho
uma boa ideia passarmos lá, antes de irmos para Schönilla, não acha? Para
ver os… hematomas mais recentes.
Mamãe solta um suspiro, cansada.
— Eu lembro dela — confessa, e um sorriso mínimo aparece em
seus lábios. — Ela me ofereceu ajuda, mas… eu estava tão cega e tão
preocupada em defender Winston, que não me importei. A-acha que ela
ainda está disposta a ajudar?
— Eu acho que sim, mãe.
— Então, vamos.
Aceno de forma positiva, usando a cabeça.
O silêncio volta a tomar conta do carro, com apenas a música bem
baixa do rádio tocando, mal chegando aos nossos ouvidos no banco de trás.
Sei que ela está exausta — não só de hoje, mas de toda sua vida —,
porém, não posso mais ficar no escuro nessa situação.
— Mãe — chamo, e ela vira a cabeça em minha direção. Entrelaço
nossos dedos e puxo sua mão para o meu colo. — O que aconteceu?
Ela respira fundo e antes mesmo de começar a falar, algumas
lágrimas deslizam pelo seu rosto.
— E-eu acho que, no fundo, sempre soube que tinha algo errado. Eu
só… eu amava tanto seu pai, Violet, que escolhia não ver certas coisas, para
o bem do nosso casamento. Da nossa família — ela pisca, tentando espantar
o choro, só que é em vão. — A-aquela vez, no seu aniversário, há tantos
anos, ele cismou que eu estava dando em cima do pai de algum dos seus
amiguinhos, quando entreguei um pedaço de bolo. E… e ele não acreditou
em mim quando neguei. Insistiu que viu e que ele estava certo, que eu era
uma vagabunda e não merecia alguém tão bom como ele. E depois, me
bateu pela primeira vez.
— Tá tudo bem, mãe, você está segura agora — garanto, quando
sinto sua mão tremer contra a minha.
— Eu aceitei tantas coisas horríveis, Violet. Me submeti a tantas
humilhações e… e agressões, achando que ele fazia tudo isso por amor. Não
era por amor. Nunca foi. Amor não machuca, minha filha. —
Involuntariamente, meus olhos encontram os de Ethan pelo retrovisor. Ele é
o primeiro a desviar, voltando a prestar atenção na estrada. — A-acho que a
gota d'água foi quando ele levantou a mão para você. Meu coração se
estilhaçou, Violet. Ainda mais q-quando precisei segui-lo, para que ele não
encostasse ainda mais em você. Aquele… aquele foi o pior dia da minha
vida, filha. E… e eu entendi que não poderia continuar naquela casa. Ele
não merece todo o amor que entreguei em suas mãos em todos esses anos.
Nunca mereceu. O amor, minha filha, ele é para curar. Nunca para ferir. E
eu finalmente entendi isso.
Ela sorri.
E pela primeira vez em tantos anos, é um sorriso de liberdade. De
alívio.
Eu sorrio de volta.
— Você não está sozinha, mãe, nunca vai estar, enquanto eu estiver
aqui.
— Eu te amo muito, minha filha. D-desculpe por… por ter te calado
todos esses anos e não ter visto a realidade de maneira clara, e…
— Mãe, não é sua culpa. Nada disso é sua culpa, está me ouvindo?
— Ela acena com a cabeça, limpando o rosto com o dorso da mão. — Você
é uma guerreira. É uma sobrevivente. E é a mulher mais forte, destemida e
maravilhosa que conheço. Nunca se esqueça disso, tá legal?
— Você é a melhor filha do mundo, Violet.
— E você é a melhor mãe do mundo, dona Ines Woods.
Você me segurou, mas eu me levantei
Já tirando a poeira
Você ouve minha voz, você ouve aquele barulho
Como um trovão, vai sacudir o chão
Você me segurou, mas eu me levantei
Se prepare porque eu já aguentei o suficiente
Eu vejo tudo, eu vejo tudo agora
Roar | Katy Perry

Mamãe dorme durante toda a viagem de volta a Schönilla.


Ela deitou a cabeça no meu colo logo depois de sairmos do hospital
e falarmos com a Dra. Vanessa Smith. A médica foi muito solícita,
simpática e cuidadosa com a gente. Ela contou que estaria ao nosso lado
para o que precisássemos e ficou na enfermaria conosco, quando os
policiais chegaram para pegar nossos depoimentos.
Ela não soltou a nossa mão.
É incrível saber — e encontrar — pessoas boas no mundo, mesmo
em dias tão sombrios.
Não posso não citar Ethan Scott, quando falo das boas pessoas.
Ele, com certeza, está no meu pódio das melhores que já conheci.
Ethan nos esperou no hospital durante todo o tempo em que
precisamos ficar. Ele comprou sanduíches e sucos de uva na máquina de
lanches do corredor, quando dissemos que estávamos com fome. No carro,
ele fez questão de deixar o volume do som do rádio baixo, para que não
atrapalhasse o sono de mamãe, e sempre olhava pelo retrovisor, para
conferir se estávamos bem.
Como falar para o meu coração não bater freneticamente, quando
ele faz esse tipo de coisa, como se não fosse nada?
É uma tarefa extremamente difícil, porém, eu tento.
Chegamos em Schönilla um pouco depois das onze horas da noite, e
foi somente quando esperávamos o elevador para o apartamento, que
lembrei do crucial.
— Não avisei à Cassie — solto, já esticando minha mão para o
bolso da calça jeans, a fim de pegar meu celular.
Os dedos de Ethan seguram meu pulso, de maneira delicada.
— Ela já sabe. Disse que estávamos com… um problema e
chegaríamos à noite, com uma convidada — explica, e não tenho chance de
agradecê-lo ali, porque o elevador chega, e precisamos entrar.
Dentro do cubículo, me aproximo do baterista da The Chaotic
Misfits.
— Obrigada. Por tudo.
— É o mínimo que posso fazer, Vi — responde e finge não ver
minha mãe sorrindo orgulhosa do meu outro lado.
Com a minha mão entrelaçada na da minha mãe, Cassie já nos
espera na sala de estar do apartamento, quando adentramos o local.
— Oi! Olá! Sou Cassie Brown, colega de apartamento da Violet —
se apressa em dizer, cumprimentando-a.
— Oi, Cassie. Sou Ines Woods, mãe da Violet. Ela fala muito bem
de você — responde com um sorriso, para minha amiga.
Eu não falei tanto assim da minha companheira de apartamento,
porém, se as circunstâncias fossem diferentes, eu com certeza, não perderia
a oportunidade de dizer quão maravilhosa e extraordinária Cassandra
Brown é, para mamãe.
Depois das apresentações, Ines vai diretamente para o banheiro do
corredor, enquanto Ethan leva as malas e pertences dela para o meu quarto,
e Cassie prepara algo para nós comermos.
Eu me jogo no sofá e passo a mão pelo rosto, ainda processando o
que está acontecendo.
Ela finalmente acordou da farsa em que vivia.
Ela largou dele.
Ela o denunciou.
Ela me escolheu.
Não, ela se escolheu, pela primeira vez.
Porra, como eu estou orgulhosa dessa mulher!
— Está tudo bem, Vi. Tudo já está bem — Ethan garante, sentando-
se ao meu lado no estofado cinza e segurando minha mão.
Não deveria ser humanamente possível alguém ser tão incrivelmente
perfeito como ele.
— É maravilhoso ver que ela percebeu a situação em que estava e
escolheu sair — confesso, aceitando a caneca de chocolate-quente que
Cassie entrega em minhas mãos, ocupando um lugar no puff preto à nossa
frente.
— Ela provavelmente ficou assustada, quando viu o que aconteceu
com você — minha amiga sugere, e eu assinto, lembrando que ela ainda
não sabe do que aconteceu durante todo o dia.
Por isso, enquanto mamãe relaxa no seu banho, eu deixo Cassie a
par de todos os acontecimentos das últimas horas. Desde a ligação, quando
estávamos aqui, toda a viagem até Mount Airy, sua confissão no carro e os
detalhes do que rolou no hospital, com a ajuda da médica e também, da
situação com a polícia.
— Ela é muito, muito forte — é o que minha amiga diz, quando
termino a história.
— É, ela é sim — Ethan reforça, e eu sorrio para os meus amigos.
Para aquelas pessoas que apareceram de repente na minha vida e já
fazem dela, extraordinária.
Antes deles, eu posso dizer com certeza que acreditava que família
eram apenas aquelas pessoas que compartilhavam do mesmo sangue que o
seu. E por isso, eu detestava saber que minha família era meu pai. Todavia,
Cassie e Ethan me mostraram que meus amigos também podem ser a
família que eu preciso.
Eles são.
Junto da mamãe.
E, sinceramente? Não preciso de um pai babaca, quando tenho as
melhores pessoas do mundo ao meu lado.
— O sabonete de aloe-vera é refrescante — mamãe comenta, se
juntando a nós na sala de estar e sentando-se do meu outro lado.
— Vou pegar um pouco de chocolate-quente para a senhora, senhora
Woods — Cassie avisa, já se levantando.
— Podem me chamar de Ines. Os dois, queridos — afirma, olhando
da minha amiga para Ethan.
Eles sorriem e acenam positivamente com a cabeça.
— Como você está? Um pouquinho melhor? — pergunto, trazendo
mamãe para perto de mim, e ela se aconchega ao meu lado.
— Um pouquinho — confirma e deita a cabeça no meu ombro. —
Vou melhorar quando ele estiver na cadeia e bem longe das nossas vidas,
quando eu puder voltar para casa e saber que ele não vai voltar. Nunca
mais.
— A sen… Ines, pode ficar conosco o tempo que precisar. Para
sempre, se quiser — Cassie garante, voltando com a bebida quente dela e
piscando um dos olhos para mim, antes de voltar a se sentar no puff.
Obrigada, digo à Cassie, apenas mexendo os lábios.
Ela faz um gesto com a mão para que eu deixe para lá, como se não
fosse nada.
— Obrigada, querida. Eu… gostaria de ficar por aqui. Até as coisas
se ajeitarem.
— Tem um quarto vago — minha amiga informa, lembrando do
cômodo da outra garota, que está fazendo um intercâmbio na Europa. —
Pode ficar com ele.
— Você é muito gentil, querida. Muito, muito obrigada.
Cassie simplesmente dá de ombros, com um sorriso tomando conta
dos seus lábios.
— Não há de que, senho… Ines. — Ela mesma ri da sua tentativa de
não chamar minha mãe de senhora, assim como nós.
É tão bom estar reunida com meus amigos e minha mãe, pela
primeira vez na vida.
É… é verdade! É a única e primeira vez que apresento meus amigos
à mamãe.
Depois de dezoito anos, quase dezenove.
Ele mal saiu de nossas vidas, e tudo já parece mais leve.
— Cassie, diga à sen… à Ines, sobre seu irmão — Ethan diz, e uma
lâmpada parece se acender na cabeça da minha amiga.
Ela deixa a caneca já vazia de chocolate na mesinha de centro e se
vira novamente para nós.
— Meu irmão, Charles, é advogado. Um ótimo advogado. Ele mora
em Chicago, mas com certeza ficaria feliz em ajudar nessa situação de
vocês — oferece, e uma lágrima solitária desliza pelo rosto da mamãe. —
Ou talvez… meu guardião, Paul Jenkins[38], possa ajudar também. Ele é
dono do escritório onde meu irmão trabalha e mora mais perto.
— Eu… eu agradeço pela ajuda, Cassie, m-mas não acho que
podemos custear isso — minha mãe responde, com uma expressão triste.
Minha amiga logo balança a cabeça de forma negativa.
— Isso não é um problema. Não vai custar nada para vocês.
— Cassie, você não precisa — sou eu quem me intrometo dessa vez,
e minha amiga apenas continua balançando a cabeça de forma negativa.
— Eu insisto, amiga. Leve isso como… uma forma de agradecer
pela sua amizade. Um presente. Como quiser. Mas vocês não vão pagar —
ela é firme na sua fala, e eu não tenho coragem de contradizê-la.
Aperto a mão da mamãe, e nossos olhares se encontram.
Ela sorri, deixando que mais lágrimas caiam pela sua face.
— Obrigada. A vocês dois — agradeço, alternando o olhar entre
Cassie e Ethan. — Obrigada por… por estarem aqui. Por serem tão
incríveis. Caramba, por serem meus primeiros amigos e me mostrarem o
que é amizade verdadeira.
— Você não precisa agradecer por isso, Vi — Cassie responde, e
vejo o cantinho dos seus olhos brilhando com algumas lágrimas
acumuladas.
— Faria de tudo para ver mais dos seus sorrisos verdadeiros, lin…
Violet — Ethan se corrige no último segundo, mas sei que elas perceberam
o que iria dizer.
Neste momento, não me importo.
Mamãe está bem.
Meu pai irá para cadeia em breve.
E eu… estou cercada da minha verdadeira família.
Não somos muito jovens para isso?
Parece que eu não consigo me mover
Compartilhar meu coração está me partindo ao meio
Mas eu sei que sentirei sua falta, baby, se eu partisse agora
Fazendo o que eu posso, tentando ser um homem
E toda vez que eu te beijo,
baby, eu posso ouvir o som de quebrar
Softcore | The Neighbourhood

Violet está bem.


Sua mãe está bem.
O pai dela está na cadeia, porra.
Há dois dias, o irmão de Cassie se envolveu oficialmente no caso da
família Woods e nos garantiu que seria muito difícil a saída de Winston da
prisão. Além das agressões constantes e longínquas contra a própria mulher,
e o que ele fez com a filha há pouco tempo, outras acusações também foram
encontradas em sua ficha, dificultando ainda mais seu caso.
Ainda bem.
Finalmente, essas mulheres estão a salvo.
E, caramba, elas são guerreiras. Sobreviventes. Junto da minha mãe,
as mais fortes que já conheci.
Elas merecem essa paz e essa garantia de que ele não vai incomodá-
las, que elas podem viver tranquilamente sem a sombra desse canalha por
perto.
Diante dos acontecimentos das últimas semanas, precisei explicar
aos meus pais toda situação — uma vez que eu mal paro em casa, desde que
encontrei Violet naquele estado, depois do que o pai fez —, e como era
esperado, eles quiseram ajudar de alguma forma Violet e Ines.
— Fazer Amigurumis vai ser bom para a mãe dessa menina. Ela já
passou por tanta coisa… — mamãe disse, quando terminei de contar os
últimos acontecimentos, com pesar. — Ela precisa se distrair. Encontrar
hobbies, amizades e… Não sei. Acho que seria bom ela ter uma amiga
nessa cidade, pelo tempo que for ficar.
— Por que não a leva naquele estúdio em que você ministra aulas às
vezes? — meu pai questionou, lembrando de um projeto da cidade de
Schönilla.
Lá é oferecido alguns cursos para mulheres, como de crochê,
pinturas e entre outras atividades. Dona Rebecca Scott é um nome
relativamente conhecido entre as amantes de Amigurumis e já foi
convidada diversas vezes para dar aulas, ainda mais nesse projeto social, já
que é perto de casa.
— É uma ótima ideia, querido! Ela pode reencontrar alguma paixão
antiga ou se apaixonar por algo novo!
Logo depois dessa conversa, minha mãe me fez ligar para Violet —
no viva-voz, para que ela pudesse decifrar se as palavras da menina e sua
mãe eram verdadeiras, e não apenas estavam aceitando por educação — e
explicar sobre o lugar em que ela queria levar Ines. A mãe de Violet aceitou
de primeira e ficou extremamente feliz pelo convite.
Pelo que parece, ela não tinha muitas amigas em Mount Airy. Não
depois que o comportamento agressivo do marido passou a se intensificar, e
ele a proibiu de sair sem ele.
Inferno de homem.
Espero que apodreça atrás das grades.
Então, há alguns dias, Ines Woods e Rebecca Scott estão criando
uma linda amizade, indo frequentemente ao centro de atividades desse
projeto social e depois, saindo para um café pela cidade.
Nem preciso dizer quão feliz Violet está, não é?
Ela não tira o sorriso do rosto quando estamos juntos. Ela não está
mais constantemente preocupada, porque sabe que sua mãe está bem. Que
elas estão bem. Que ele não vai voltar.
Finalmente livres.
E em forma de agradecimento pela nossa ajuda e apoio nas últimas
semanas — como se precisasse disso, pelo amor de Deus! —, elas nos
convidaram para um almoço natalino no apartamento de Violet, já que a
data comemorativa se aproxima.
É assim que me encontro, juntamente dos meus pais, à mesa da sala
de estar do apartamento das meninas, com Violet e Ines Woods, e claro,
Cassie Brown. Seu irmão foi convidado também, mas pela distância entre
Chicago e aqui, não conseguiu comparecer.
Para o prato do dia, a mãe de Violet preparou frango assado, purê de
batata e também, salada de repolho.
Só o cheiro da comida já está me deixando com água na boca.
— Não precisava disso, Ines — minha mãe afirma, pela décima vez
desde que chegamos, e Violet e eu trocamos um sorriso, um de cada lado da
mesa. — Não fizemos nada por obrigação. Só queríamos ajudar de alguma
maneira.
A mãe de Violet sorri, enquanto se serve.
— Eu queria, quero, fazer isso, Rebecca. Se não querem ver como
uma forma de agradecimento, levem somente como um almoço na casa de
amigos.
Minha mãe deixa uma risada escapar com a fala.
— Se é assim…
E elas passam grande parte do tempo conversando sobre suas
aventuras nos últimos dias. Uma vez ou outra, meu pai e eu damos pitaco,
porém, a conversa inteira é guiada pelas mulheres incríveis à mesa.
Troco alguns sorrisos cheios de segunda intenção com Violet, e ela
acaba chutando meu pé debaixo da mesa para que eu pare, quando suas
bochechas chegam a um tom de vermelho quase como um tomate.
Linda.
Tão linda.
— Você não pode deixar de visitar, quando voltar para sua casa, Ines
— mamãe pede, em certo momento do papo. — Sei que é uma viagem um
pouco longa até aqui, mas eu gostaria de continuar fazendo algumas
atividades daquele projeto com você.
— Nunca deixaria de vir aqui, amiga. — O termo não passa
despercebido por nenhum de nós, e é como se um pó de felicidade e coisas
boas tivesse sido jogado na mesa. Todos os sorrisos aparecem ao mesmo
tempo.
Com a prisão do marido, Ines Woods voltará para sua casa. Como
foi uma herança dos pais, ela não quer deixar a residência para trás, além de
gostar da pequena cidade em que viveu durante tantos anos. Pelo que minha
mãe contou, ela está com planos de fazer algumas reformas em alguns
cômodos e deixar o quarto do ex-casal como um ateliê, usando o de
hóspedes como seu novo lugar para dormir. Com ajuda do novo psiquiatra e
psicólogo, ela decidiu ser a melhor opção nesse momento.
Todavia, não descartou a ideia de se mudar para cá em algum
momento, a fim de ficar mais perto da filha e da nova amiga.
— Além disso — a senhora Woods continua, e pelo olhar que lança
a mim e à Violet, eu já imagino o que está por vir —, sei que minha menina
está ocupada demais com os estudos e o namorado, para me visitar com
frequência, então sei que vou ser eu a pessoa a vir para cá.
— Mãe! — Violet resmunga na mesma hora, cobrindo o rosto com
as mãos.
Eu apenas sorrio sem graça.
Nossos pais riem e comentam algo sobre namoro de jovens,
entregando bem a idade deles.
E Cassie…
— Vai ter que assumi-la agora, Ethan — provoca, e eu apenas
ignoro-a.
Bem, tento.
Ela esbarra o ombro contra o meu duas vezes, até que eu me vire
para ela.
— Quer falar sobre assumir alguém, quando você e James
demoraram doze anos para isso?
Ela fica boquiaberta com o jeito que rebato, e eu sorrio, vitorioso.
— Touché, Ethan — responde, erguendo o copo com refrigerante
light, e eu uso o meu para brindar.
Meu olhar encontra com o de Violet novamente do outro lado da
mesa, quando os mais velhos entram em outro tópico de conversa.
E por um breve momento, em que sua expressão suaviza e um
sorriso diferente dos outros toma conta dos seus lábios, eu imagino se eles
não estão certos.
Não seria tão ruim ter Violet Woods como namorada.
Na verdade, pela forma como meu coração quase sai do peito
quando apenas considero isso, acho que seria muito, muito incrível.
Ela desvia os olhos dos meus.
Violet Woods, acho que quero te manter para sempre ao meu lado.

Ainda é um pouco surreal saber que essas são minhas últimas férias
de fim de ano.
Ano que vem, não vou estar mais na faculdade.
Se tudo correr bem, a The Chaotic Misfits vai estar conquistando o
mundo, e quem sabe, nem teremos tempo para passar essa data com nossas
famílias, por conta da agenda de shows.
Sim, sou otimista nesse nível.
Se a gente não acreditar em nós mesmos, quem vai?
Por isso, aproveitei o máximo que consegui da ceia de Natal em
família, há alguns dias. Meus avós maternos e meu avô paterno vieram para
cá também. Todos cozinhamos juntos e abrimos os presentes na manhã do
dia vinte e cinco. Jogamos alguns jogos de tabuleiro, tomamos os chás
diferentes que vovó trouxe de sua última viagem e conversamos pra
caramba.
Foi bom pra cacete.
E agora, estou comemorando com a minha segunda família.
Paxton está jogado no tapete da área de convivência que arrumamos
na minha garagem, com os cabelos loiros espalhados pela almofadada e
com um cigarro pendurado em seus lábios. Como é apenas nicotina —
como se fosse muito melhor —, não reclamei ainda. Qualquer outra
substância, ele sabe que não seria permitida na casa dos meus pais.
James ocupa o puff grande que compramos de presente de Natal
para o estúdio improvisado da banda, com Cassie em seu colo e uma
guitarra com eles, enquanto tenta ensinar o básico para a namorada.
— Você precisa usar os dedos assim — ele instrui, ajustando a
posição dos dedos de Cassie nas cordas.
Os olhares apaixonados dos dois se encontram, quando ela vira um
pouco a cabeça para trás e assente.
É possível ver a paixão exalando deles, apenas com uma simples
troca de olhares.
E eu, tenho Violet Woods sentada em uma das minhas pernas, com
ambas as minhas baquetas em suas mãos e sua vontade de aprender um
pouco da bateria.
— Deixe que eu uso os pés no bumbo[39], e você foca nos tambores e
pratos — digo, e ela assente, jogando a cabeleireira loira para o outro
ombro e porra, deixando o pescoço livre.
Não.
Temos pessoas aqui, Ethan, se concentre.
— Vamos começar com uma batida simples, tá bom? — aviso,
segurando suas mãos com as minhas.
Guio-a para fazer o som que quero e com os pés, ajusto o ritmo no
bumbo… até que não é ruim.
Não é ruim mesmo.
— Precisam ter cuidado ou elas vão querer formar uma banda e
tomar nosso lugar — Paxton brinca, mudando de posição e sentando-se,
com as costas apoiadas no sofá.
Ele traga o cigarro, e a fumaça faz com que uma cortina cinza surja
na sua frente.
— Eu acho que daria uma ótima cantora — Cassie comenta,
entrando na brincadeira. — Olhem só!
Acredito que falo por todos, quando digo que preferimos não ter
ouvido os falsetes da namorada de James.
— Você como cantora é uma ótima cineasta, estrelinha — James
responde, e nós rimos.
— Nada que algumas aulas não ajudem — Cassie diz, dando de
ombros, e a cara que James faz… é impagável.
— Se Cassie for a vocalista, acho que me garanto na bateria —
Violet sugere, e a amiga lhe lança os dois polegares levantados, em um sinal
de aprovação.
E para demonstração, Vi usa as baquetas em suas mãos para bater
com muito mais força do que é necessário nos pratos.
Todos levam as mãos aos ouvidos no mesmo instante.
— Esqueçam o que eu disse — Pax protesta, ajeitando sua posição.
— Vocês são melhores como groupies.[40]
Violet e Cassie trocam olhares.
— Existe algum nome para o artista que é groupie, mas com os fãs?
— Cassie provoca o loiro, com as sobrancelhas arqueadas.
Ele dá de ombros.
— Por que esse seria eu?
— Exatamente. — A garota pisca um dos olhos para Pax e volta a
prestar atenção nos ensinamentos do namorado.
Violet e eu fazemos o mesmo, deixando Paxton aproveitando o fim
do seu cigarro.
— Está indo muito bem, Vi, muito mesmo — sussurro próximo ao
seu ouvido, e sua pele se arrepia no mesmo instante, me fazendo sorrir.
Ela vira o corpo de lado e se ajeita no meu colo, ficando um pouco
mais de frente para mim.
— Eu tenho um ótimo professor — responde, deixando que um
sorriso lascivo tome conta dos seus lábios.
— Ah, é? — pergunto, entrando no seu jogo também. — E como
você pretende pagar esse professor pelas aulas?
— Bem… — começa e chega mais perto, com a boca colada ao meu
ouvido. — Primeiro, vou mamar bem o pau dele e deixá-lo gozar nos meus
peitos, como ele gosta. Depois, vou sentar nesse mesmo pau e cavalgá-lo a
porra da noite toda, até que minhas pernas estejam bambas, e ele esteja
exausto. O que acha? Um bom pagamento?
Engulo em seco, pensando exatamente no que ela acabou de me
dizer que vamos fazer.
Meus pais estão viajando com um casal de amigos para o Ano
Novo, e Violet irá dormir aqui quando o pessoal for embora, então… porra.
Ajeito desconfortavelmente meu pau semiereto na calça, e sua
risada suave soa perto do meu ouvido. Ela puxa o lóbulo da minha orelha
entre os dentes, e eu me levanto brutalmente, trazendo-a comigo. Circulo
sua cintura por trás, e a safada sorri, convencida, por ter conseguido o que
queria.
— Pessoal? Hora de ir embora.
Intoxicado
É você quem eu estou perseguindo
Mais um gostinho de você e eu vou ficar fodidamente
bêbado
Eu ouvi que você é doida
E que você vai me machucar, baby
Mas como eu posso voltar para alguém antes de você, baby?
Intoxicated | Aaryan Shah

Os lábios de Ethan Scott estão nos meus, assim que ele chuta a porta
do seu quarto com o pé, após nossos amigos irem embora.
Por conta dos acontecimentos das últimas semanas, nós mal tivemos
tempo a sós, e isso estava me matando. Eu não aguentava mais me dar
prazer com os dedos. Sempre que eu precisava fazer isso, normalmente no
banho ou tarde da noite, eu imaginava que eram as mãos dele em mim ou
seu pau.
Porra, eu estava sonhando em ter sua boca em mim novamente, e
finalmente está acontecendo.
Deixo que ele me devore, nossas línguas entrando em contato e
parecendo que há fogos de artifício explodindo dentro de mim. É sempre
assim.
Nossa colisão é sempre caótica.
As mãos dele descem pelo meu corpo e se acomodam na minha
bunda, apalpando uma das nádegas. Eu arranho suas costas por debaixo da
camiseta, e um gemido arrastado é capturado pelos meus lábios.
Sua palma estala com força contra minha bunda, e é minha vez de
gemer.
— Caralho, linda, eu estava com saudades disso — murmura contra
a pele do meu pescoço e empurra seu pau duro contra minha barriga.
Às vezes, esqueço o quão grande ele é.
Ainda me surpreendo que ele caiba perfeitamente na minha boceta.
Nossos corpos parecem ter sido feitos, centímetro por centímetro,
um para o outro.
A boca de Ethan volta a atacar a minha, e eu começo a subir sua
camiseta, querendo poder, de uma vez, vê-lo por completo. Ele me ajuda, e
em segundos, seu tronco trincado está nu, e eu passo a língua pelos lábios,
maravilhada com a visão.
— Tão gostoso, lindo — solto, sem conseguir me controlar, e passo
minhas unhas pelo seu abdômen.
Ele sorri de forma presunçosa, sabendo que é bonito e tem um corpo
delicioso.
Seus olhos me analisam.
Eu encaro-o.
E, por um breve momento, apenas nos observamos sem falar nada.
Admirando um ao outro. Por mim, posso dizer que admiro muito mais que
só sua beleza, mas também a pessoa incrível e foda que ele é.
Ele esteve ao meu lado quando mais precisei.
Ele não foi embora quando as coisas ficaram difíceis.
Aqui, ainda vestida, entretanto, totalmente nua para ele, com meus
sentimentos completamente evidentes, eu me sinto à mercê de Ethan Scott.
E… não é ruim.
Não, é muito bom. Mais do que bom.
Ethan parece perceber que algo mudou, porque abre a boca para
falar, porém não sei se estou pronta para admitir para ele — caramba, para
mim mesma —, então, capturo sua boca e volto a beijá-lo.
Ele retribui na mesma intensidade.
Nossas bocas encontram o ritmo perfeito. Eu seguro-o pelo jeans e
nos troco de posição, deixando-o com as costas contra a porta. Desço beijos
pelo seu pescoço, alternando com chupadas e mordidas, enquanto uso
minhas mãos na sua calça e no seu cinto, querendo libertar seu membro.
Poucos dias sem esse pau, e já estou em abstinência.
Finalmente consigo abrir a peça de baixo e depois de depositar um
selinho em seus lábios, coloco o meu melhor sorriso no rosto, quando me
agacho à sua frente, deslizando seu jeans e cueca.
O pau duro, pingando com o pré-gozo, aponta bem para minha cara.
Passo a língua pelo meu lábio inferior, com água na boca.
— Vamos lá, linda. Pegue o que é seu — Ethan manda, segurando o
pau pela base e passando-o pela minha bochecha.
Porra.
Como ele pode ser um cafajeste no quarto e um cavalheiro do lado
de fora?
Começo com movimentos de vai e vem no seu pau, salivando,
pensando em colocá-lo na boca. Ethan tomba a cabeça para trás e ofega.
Isso, porque ainda estamos no início.
Seus dedos encontram meus fios loiros, e ele os prende em um rabo
de cavalo, empurrando minha boca contra seu membro.
O pedido dele é uma ordem para mim.
Minha língua passeia pela cabeça do seu pau, voltando a conhecer o
território que fiquei um tempo sem explorar. Rodeio a cabeça úmida do seu
pau e sugo-a, fazendo com que Ethan gema alto para mim.
Tão gostoso.
Observo-o de baixo, e ele está ofegante, com algumas gotículas de
suor deslizando pela sua testa. Decido dar fim ao sofrimento do menino e
finalmente caio de boca em seu pau.
— Porra, linda… — resmunga e geme o meu nome ao mesmo
tempo, começando a usar minha cabeça também.
Ele fode minha boca, enquanto eu fodo seu pau.
Ethan arremete fundo na minha garganta, e eu engulo cada
pedacinho possível do seu membro. O que não consigo enfiar na boca, eu
uso a mão para estimulá-lo.
— Isso, Vi, chupa bem o que é seu. — Suas palavras despertam
sentimentos estranhos em mim. — Só seu.
Aqueles mesmos que empurrei para o fundo do coração, quando
senti mais cedo.
Faço o mesmo nesse momento.
Todavia, sua fala também mexe com outras partes minhas.
Minha boceta lateja de desejo, e preciso esfregar minhas pernas para
tentar me aliviar.
Ethan percebe o que estou fazendo e em um movimento, ele me
puxa para cima e me empurra em direção à sua cama.
— Chega de brincar, Violet. Preciso te foder. Agora — avisa, e seu
tom autoritário deixa minha boceta ainda mais molhada. — Tire a roupa.
Sorrio, já passando a camiseta pela minha cabeça.
— Gosto quando você manda em mim — confesso, passando a
calça jeans e a calcinha pelas pernas, enquanto ele procura algo em sua
mesinha de cabeceira.
Ele volta com uma camisinha em mãos e aponta para o colchão com
a cabeça.
— De quatro.
Porra.
Eu acho que posso gozar apenas com suas ordens.
Obedeço e fico de quatro no meio da sua cama.
Não demora para que ele venha para trás de mim e me puxe para
perto, acariciando minha coluna. Ele planta um beijinho carinhoso ali.
Eu quero não confundir as coisas. Eu preciso não fazer isso. É só
sexo. Esse foi nosso acordo — que eu insisti em ter.
Então por que não parece apenas uma transa corriqueira mais?
Ele nunca foi só mais um, Violet.
Minha vozinha da consciência está certa, como sempre.
Ele nunca foi.
Ethan segura minha cintura e estala um tapa ardido em uma das
minhas nádegas com a outra mão. Me assusto com a dor, mas logo relaxo,
sentindo o prazer que a palma dele tem contra minha bunda.
— Vem cá, Vi. Quero estar te olhando quando entrar em você —
pede, não manda, como das últimas vezes.
Com a ajuda dele, eu fico de joelhos na cama e viro um pouco
minha cabeça, para poder vê-lo.
Sorrimos.
Ele me beija.
Nesse momento, eu sei.
Eu não podia me apaixonar por ele, não quando eu não acreditava
no amor e tive um péssimo exemplo.
No entanto, cá estou eu, apaixonada pelo meu amigo colorido de
uma forma tão intensa, que meu coração parece doer de tanto amor que
guardo aqui.
— Você é tão linda — murmura contra minha boca, e o sorriso que
estampo nos lábios se alarga.
E de uma vez só, Ethan Scott entra em mim, e eu pondero se não
acredito mesmo no amor, quando ele parece ter me ensinado o verdadeiro
significado desse sentimento.
É como se você tivesse superpoderes
Transforma meus minutos em horas
Você tem mais do que 20-20
Feita de vidro pelo jeito que você vê através de mim
Você me conhece melhor do que eu mesma
Parece que não consigo manter nada de você
Como você toca minha alma pelo lado de fora?
pov | Ariana Grande

Dizem que depois da tempestade, vem o arco-íris, e eu sempre


acreditei que fosse uma mentira, para as pessoas não perderem as
esperanças na vida.
Bem, hoje, eu acredito que pode sim, ser verdade.
Depois de tantos anos aprisionada naquela casa, com Winston
Woods, pensando duas vezes quando queria falar algo ou treinando minha
audição para saber quem estava se aproximando do meu quarto, eu estava
livre.
E o mais importante: Ines Woods também.
Liberta de todas as amarras que aquele cara que um dia a amou,
colocou em seus pulsos.
Mamãe está vivendo, não somente sobrevivendo, como fez durante
tanto tempo.
Ela está de volta à nossa casa. Usando seu tempo livre para fazer
reformas em todos os cômodos, ir ao centro comunitário de Mount Airy,
onde há várias atividades disponíveis — como aquele em que a mãe de
Ethan, Rebecca Scott, a levou quando estava morando comigo —, e claro,
indo frequentemente às consultas com a psicóloga.
O sorriso é verdadeiro agora, quando nos ligamos por chamada de
vídeo semanalmente.
O meu também.
E eu estou com um sorriso tão frouxo nas últimas semanas, que até
os meus colegas de trabalho estão achando estranho! Como já faz alguns
meses que sou funcionária da Lust, acabei me tornando amiga daqueles que
também fazem serviços por aqui.
— Você está muito feliz para alguém que está limpando o chão de
uma casa noturna às quatro da manhã — certa vez, Cris, um dos caras que
atende no bar junto comigo, comentou, e eu só soube rir ainda mais.
— O mundo não é tão cinza, Cris. Ele é colorido às vezes.
Ele franziu as sobrancelhas e balançou a cabeça, um pouco
desacreditado da minha resposta boba.
Eu não tinha uma resposta melhor do que essa!
Depois de viver tantos anos acreditando que a felicidade nunca seria
um sentimento conhecido por mim, eu finalmente posso dizer que estou
tendo um gostinho dela, e caramba, as pessoas estavam certas.
É fenomenal.
— Senhorita Woods — um dos seguranças da Kiara Lust me chama,
enquanto termino de passar o pano pelo bar da boate. — Kiara quer que
você passe no seu escritório antes de ir embora.
Estranho.
Ela está mais presente aqui desde o nosso último encontro, porém,
não nos falamos tanto depois daquele dia. Apenas nos cumprimentamos
quando nos esbarramos por aqui, de forma simples e rápida.
— Ela disse o motivo?
O homem apenas nega, e eu assinto, voltando a terminar meu
serviço, antes de seguir para a área dos funcionários.
Espero que ela não me demita.
Eu não preciso tanto dessa grana assim agora, para ser sincera. No
entanto, eu gosto de trabalhar aqui. É bom vir só aos fins de semana e
mesmo assim, ganhar muito mais do que eu ganharia durante uma semana
inteira em alguma lanchonete por aqui. Além disso, já me enturmei entre os
outros funcionários e estabeleci uma boa rotina com meus estudos.
Durante os vinte minutos que demoro para tomar uma ducha rápida
e subir ao segundo andar, fico repetindo mentalmente motivos para que ela
não me mande embora, caso faça isso.
Ethan está me esperando para uma surpresa — tentei de todas as
formas tirar de sua boca o que é, mas ele seguiu firme e não me disse nada.
Ele apenas disse para eu levar uma roupa confortável quando fosse para o
meu turno na Lust, porque depois faríamos uma pequena viagem de carro
para Raleigh[41], de quase três horas.
Estou me corroendo de ansiedade.
Na verdade, estou em dobro agora, não fazendo ideia do assunto que
Kiara Lust quer debater comigo.
Quando finalmente os seguranças abrem as portas para mim e
fecham-nas em seguida, eu ainda estou nervosa.
— Violet Woods. Sente-se — manda, não de uma forma autoritária,
porém, só pela sua postura intimidadora, eu faço o que ela pede sem nem
hesitar.
Não quero ser uma inimiga de Kiara Lust.
Só Deus sabe o que ela faz com aqueles que entram em seu
caminho.
— T-tudo bem?
Porra.
Por que gaguejei?
Kiara acha graça do meu nervosismo e solta uma risada baixa, antes
de se ajeitar na cadeira de couro e cruzar as mãos em cima da mesa de
madeira maciça.
— Soube que seu pai está finalmente preso — comenta, e eu sinto
um arrepio subir pela minha espinha. Como ela sabe disso? Não é como se
fôssemos um caso famoso e tivéssemos saído em jornais do país inteiro.
— S-sim. Minha mãe… ela saiu daquela casa. Entendeu que o
homem que amava não era mais aquele cara — revelo, já que não há
motivos para esconder nada de Kiara Lust.
Ela sabe de tudo.
— Isso é bom — diz, e sinto um carinho por trás de seu tom. Sorrio.
— Você enfrentou dores demais para uma garota de só dezoito anos, Violet
Woods. Fico feliz que você tenha saído antes que fosse tarde demais. —
Não corrijo minha idade, já que ela não deve se lembrar que fiz aniversário
há duas semanas.
Existe algo mais em sua fala.
Como se alguém que ela conhecesse e se importasse, não tivesse
tido a mesma sorte do que eu.
Quero perguntar quem, o que aconteceu e onde essa pessoa está
agora.
Porém, sei que não é da minha conta.
Essa não é a história de Kiara Lust para contar.
— Obrigada, Kiara.
Os cantos dos seus lábios se elevam, e ela faz um gesto para que eu
vá embora.
Assinto e sigo para a porta.
Mais uma vez, como da última em que estive nessa sala, antes que
eu saia, ela me chama:
— E Violet?
— Sim?
— Tenho contatos em todos os lugares. Na prisão onde seu pai está,
não é diferente. Vou pedir para garantirem que ele não esqueça a razão de
estar lá.

Três horas e meia dormindo no banco do carona do carro de Ethan


pareceram vinte minutos de soneca.
Assim que saí da Lust e sentei-me ao seu lado, mal nos
cumprimentamos, e já peguei de bom grado o travesseiro e cobertor que ele
trouxe para mim, virei-me para o lado da porta e adormeci.
E como acontece desde a notícia do meu pai estar atrás das grades,
não tive nenhum pesadelo. Mesmo se acontecesse, eu estava acompanhada
da minha pessoa favorita no caminho e sei que ela me acudiria, caso eu
precisasse.
Se eu me sentia insegura de dormir todas as noites na minha casa em
Mount Airy com meu pai, eu me sinto segura todas as vezes em que
adormeço nos braços de Ethan Scott.
— Ei, linda, acorde. — A voz dele me desperta perto das nove e
meia da manhã, e eu acordo totalmente sonolenta e perdida.
Conforme meus olhos se ajustam à claridade, o rosto de Ethan vai se
formando, e seu sorriso é a primeira parte que reparo.
Ele sempre está sorrindo quando estamos juntos.
— Vamos tomar um café da manhã e depois, iremos para a surpresa,
tá legal? — avisa, e eu apenas concordo, sem forças para responder no
momento.
Paramos em uma padaria, e lá, enquanto ele faz nossos pedidos, me
apresso para ir ao banheiro e fazer minha higiene matinal. Desviei mais
cedo, quando ele tentou me beijar, alegando que para isso, precisava estar
com os dentes escovados, e sabemos que quando acordamos, nossa boca
não é o lugar mais cheiroso do mundo. Quando termino, volto para a nossa
mesa e deixo que ele me beije.
E preciso me controlar para não aprofundar o beijo, já que estamos
rodeados de pessoas em um sábado de manhã na capital da Carolina do
Norte.
Como ele disse, comemos pouco, para nos prepararmos para essa
surpresa.
A primeira coisa que me veio à cabeça foi algo assustador ou
radical, onde talvez, eu pudesse vomitar o que comi anteriormente.
O que eu com certeza não imaginava, era isso.
— Ethan… o que é isso? — pergunto, quando somos recepcionados
por uma moça na entrada de uma casa simples, no centro de Raleigh.
— A sua surpresa — responde, orgulhoso. — Achei na internet que
hoje era o último dia dessa experiência perto de nós. Enquanto assistimos
Ratatouille[42], vamos ser servidos dos pratos inspirados no filme, quando
eles aparecem na cena. E como sei que você ama filmes animados…
Uma lágrima desliza pelo meu rosto involuntariamente, à medida
que eu o encaro na fila para entrarmos na sala.
— Você… não gostou? — indaga, um pouco nervoso, secando meu
rosto com o dorso da mão.
Nego com a cabeça.
Ele arregala os olhos, assustado, e isso me faz rir.
— Eu amei, Ethan. Isso… caramba, isso é tão incrível!
Ninguém nunca fez nada parecido para mim antes.
Ninguém se importou o suficiente comigo, para preparar algo tão
legal.
Ele respira fundo, e os músculos sobrecarregados de tensão relaxam.
— Caramba, Vi, você me assustou! Achei que tivesse errado em
cheio nessa.
— Não, lindo. Você sempre acerta — afirmo e entrelaço nossos
dedos, quando somos guiados para nossa mesa.
O sorriso permanece nos meus lábios durante toda a explicação de
como vai funcionar essa atividade.
Primeiro, nos entregam cardápios com o design inspirado no filme.
Nele, há a descrição de cada prato que irá ser servido para nós, em cada
momento da animação.
Ratatouille começa em seguida, e eu me animo, ansiosa para a
primeira comida. É inspirada no cogumelo que Remy, o ratinho e
protagonista do filme, come quando é perseguido pelo raio no telhado.
Logo depois, veio a sopa que ele consertou na cozinha do
restaurante, e caramba, estava delicioso!
— Está gostando? — Ethan pergunta em certo momento, quando
terminamos de comer o prato que Remy sabotou.
— Estou amando, Ethan — confesso, e mesmo no escuro, seu
sorriso parece iluminar o local.
— Leve como um presente de aniversário atrasado, já que pelas
circunstâncias da época... não aconteceu.
Eu fiz dezenove anos no dia cinco de janeiro, há duas semanas,
porém, foi na mesma época em que toda a confusão com a minha família
estava acontecendo. Eu não contei para ninguém, obviamente. Não era o
momento para comemorar. Todavia, alguns dias depois, Cassie contou a
todos do meu aniversário, e por mais que eu tenha dito que não me
importava muito com a data — a verdade —, ainda senti Ethan meio
estranho, um pouco chateado por termos deixado passar.
Eu achei que ele tinha esquecido.
— É o melhor presente de aniversário de todos — afirmo com
sinceridade, e ele beija minha bochecha, puxando minha cadeira para ainda
mais perto da dele.
Eu estava tentando exterminar meus sentimentos por Ethan Scott.
Há muitos anos, eu não acredito no amor. Com o exemplo dos meus
pais dentro de casa, sempre repeti para mim mesma que nunca me
envolveria amorosamente com alguém. Não quando eu poderia terminar
como Ines e Winston Woods: presa com uma pessoa que eu não amo e que
me trata de maneira criminosa, abusiva e tóxica.
Por isso, ao longo dos anos, eu me fechei para o amor. Não ficava
mais de uma vez com a mesma pessoa, fugia sempre que a relação estava
prestes a se tornar mais séria… Tudo que eu podia fazer para evitar que esse
sentimento aflorasse em mim, eu fazia.
Até Ethan Scott.
Quem diria que estaríamos aqui, depois de ele encontrar minha
calcinha no banheiro de uma festa, não é?
Ele chegou de mansinho na minha vida. Foi pegando seu lugar
lentamente, até que eu não conseguisse ficar longe dele. Não quero ficar
longe.
Ethan me mostrou algo que me neguei a ver durante todo esse
tempo: amor não machuca.
Como minha mãe disse, o amor cura.
E eu acho que o amor que sinto por ele curou essa parte de mim que
acreditei estar inativa durante todos os anos da minha vida. Ela estava
apenas adormecida, esperando pela pessoa certa.
Essa pessoa?
Ethan Scott.
Ele tem meu coração por completo, porque…
Eu o amo.
Eu amo Ethan Scott.
E não tenho mais medo disso.
Você colocou um feitiço em mim
Estou perdendo minha mente
É melhor você parar com essas coisas
É uma questão de tempo para mim
Antes que eu cace você
Agarre seu queixo
E beije seus lábios
Você me traz de volta
You Put A Spell On Me | Austin Giorgio

Eu tive ainda mais certeza de que acertei no presente atrasado de


aniversário de dezenove anos de Violet, quando voltamos para Schönilla no
fim da noite e assim que entramos em seu quarto, ela me puxou para um
beijo.
Aquele que evitamos compartilhar durante todo o dia, porque
sabíamos onde ele levaria.
A língua aveludada de Violet acaricia a minha de uma forma…
diferente.
Percebi mais cedo, que ela estava me olhando de outra maneira.
Seus olhos pareciam mais suaves, e ela não pensava muito antes de falar.
Não tomava mais cuidado em cada coisa que dizia, como das outras
milhares de vezes em que estivemos juntos.
Violet parecia totalmente livre agora.
Sem medos.
Sem angústias.
Como… se as portas do seu coração estivessem finalmente abertas.
Eu sou o primeiro da fila para entrar.
Nossas roupas vão embora ao mesmo tempo. Porém, não com
pressa.
Ela tira as minhas com cuidado e carinho, deixando beijos por todo
meu corpo enquanto faz isso. Logo depois, jogo-a na cama e venero-a.
Retiro cada peça lentamente, e minha boca encontra morada em diversas
partes do seu corpo nu.
Desço com ela pelos seus seios, dando a devida atenção que eles
merecem e arrancando suspiros e gemidos da minha garota.
Minha garota.
Minha mulher.
Minha Violet.
Quero mostrar que sou totalmente dela, se ela me permitir ser.
Honestamente, acho que meu coração já foi entregue em suas mãos
há muito tempo, mas ela estava preocupada demais para prestar atenção no
que estava bem embaixo do seu nariz.
Eu uso minha língua habilidosa em sua parte íntima e levo a loira à
loucura.
Ela grita meu nome quando atinge o primeiro ápice de prazer da
noite, e o sorriso presunçoso toma conta do meu rosto.
Deixo um selinho casto em seus lábios, antes de sair de cima dela e
buscar um preservativo na mesinha de cabeceira. Contudo, antes que eu
possa vesti-lo no meu membro duro, os dedos de Violet cobrem os meus.
— Posso fazer isso?
Não hesito em dizer que sim, acenando com a cabeça.
Ela sorri e desenrola o látex ali.
Então, finalmente, entro todo de uma vez nela.
Volto para casa.
Porque Violet Woods é isso para mim. Ela é minha pessoa predileta.
Ela é meu lugar seguro. Ela é a mulher que quero ter em minha vida por
todos os próximos anos, para todo o sempre.
E mais uma vez, diferente das outras vezes em que fizemos sexo, eu
estoco lentamente nela. Forte, claro, porque é assim que ela gosta,
entretanto, eu aproveito ainda mais o momento. Beijo sua boca e sinto os
fogos de artifício pelo meu corpo. Rastejo-a pelo seu pescoço e seios
depois. Os sons que escapam de Violet são como notas musicais para mim
em total sintonia.
Ela é como música para mim.
Eu sei como tocá-la. Sou a minha melhor versão quando estamos
juntos. E confio nela para trazer o melhor que há em mim.
— Ethan — chama, e volto a conectar nossas írises castanhas.
— Sim, linda?
Uso meus dedos em seu clitóris, e ela deixa um gemido sair pelos
seus lábios entreabertos, antes de dizer:
— Eu… eu gosto muito de você — confessa, com um sorriso
tomando forma em sua face.
Eu esperava ouvir algo diferente.
Alguma coisa mais forte do que simplesmente gosto de você.
No entanto, eu não vou forçá-la a dizer as três palavrinhas que
espero ouvir. Nós temos todo o tempo do mundo para que ela se sinta
confortável em vocifera-las. Eu não preciso que ela diga em voz alta para
ter certeza dos seus sentimentos. Está em suas ações. Na forma como ela
me olha quando pensa que não estou olhando. Na risada que arranco dela
em momentos importunos. Nas vezes em que levo pipoca com calda de
chocolate para assistir Brooklyn 99, e ela tenta fingir que é algo corriqueiro,
mas sei que gosta quando lembro das pequenas coisas.
Violet Woods não precisa dizer que me ama para eu saber.
Eu… só sei.
Assim como eu também a amo.
Mais algumas estocadas, e chegamos ao prazer juntos, gritando um
pelo outro.
Espero que seu corpo se recupere e depois de descartar a camisinha
na lixeira do seu quarto, puxo seu corpo para o meu, e ela deita a cabeça em
meu peito. Meus dedos instantaneamente encontram seus cabelos loiros, e
faço um carinho nos fios.
— Eu gosto muito de você também, Vi — sussurro, contudo, sua
respiração pesada me diz que ela já adormeceu. — Eu te amo, Violet
Woods, e espero o quanto for preciso para você me dizer isso de volta. Eu
não vou a lugar nenhum.
Na manhã seguinte, mesmo exausto da viagem de carro, acordo
mais cedo e passo na padaria perto do prédio para comprar alguns itens para
o café da manhã. Cassie está na casa dos seus guardiões, o que quer dizer
que temos o apartamento só para a gente durante o fim de semana.
Quando volto, Vi ainda está dormindo, e levo esse tempo
preparando a mesa de café. Disponho alguns pães, queijo e presunto, bolo
de chocolate branco com morango, suco de melancia e café expresso para
mim. Na hora certa, ouço a porta do quarto se abrir, e em alguns segundos,
o rostinho sonolento de Violet Woods aparece no meu campo de visão.
— Bom dia, linda — desejo, circulando sua cintura e puxando-a
para perto.
Deixo um beijo nos seus fios loiros — afinal, fui estritamente
proibido de beijá-la na boca antes de ela escovar os dentes.
— Bom dia — deseja de volta, com a voz ainda cansada, e um
bocejo escapa. — Preparou tudo isso enquanto eu dormia?
Um sorriso se forma nos meus lábios.
— Gostou?
Violet me segura pelos ombros e beija minha bochecha, fazendo
meu sorriso se alargar ainda mais.
— Eu amei, lindo. Sempre amo tudo que você faz.
Suas palavras mexem comigo.
Ela se afasta para se sentar e aproveitar o café da manhã. Eu, por
outro lado, continuo em pé, apoiando-me no encosto da cadeira de madeira.
Ela ama tudo que eu faço.
Ela gosta muito de mim.
Ela adora quando eu relembro as pequenas coisas.
Por que ela não consegue dizer o sente por mim?
— Ethan? Tudo bem? — pergunta, parando o que está fazendo para
caminhar até mim e me virar de frente para si. — Você ficou estranho de
repente.
— O que estamos fazendo, Vi? — falo de uma vez, e ela arqueia as
sobrancelhas, surpresa.
Eu sei que disse que esperaria quanto tempo fosse por ela, mas…
mas caramba, está tudo debaixo do seu nariz, e ela não vê! Ou escolhe não
enxergar.
Contudo, não consigo mais suportá-la dizendo todas essas coisas
bonitas e menos aquilo que quero tanto ouvir.
Não depois de tudo que passamos juntos. Não depois de todos os
momentos em que mostrei a ela que pode confiar em mim, da mesma
maneira que confio nela.
— Ethan…
Respiro fundo, expirando pela boca e deixando que meus músculos
sobrecarregados de tensão relaxem.
Os olhos de Violet estão fixados nos meus, e percebo o canto deles
se enchendo de lágrimas.
— Você sabe o que sentimos um pelo outro, Vi. Por que é tão difícil
admitir para si mesma? — tento mais uma vez, dando um passo em sua
direção e pensando se é seguro tocá-la nesse momento entre nós dois.
No fundo, acho que eu sempre soube onde isso levaria. Eu não
podia ter acreditado tão cegamente em um acordo de amizade colorida.
Como pude? Eu não sou o cara que sai casualmente com alguém. Não
consigo fazer isso. Meu coração encontra uma maneira de se apegar à outra
pessoa, e não foi diferente com Violet Woods.
Estou totalmente apaixonado pela loira à minha frente.
Pela pessoa que está confusa e perdida. Ela já me contou que nunca
amou ninguém e que achava não ser capaz de desenvolver esses
sentimentos.
Ou ao menos, explicou que fugia disso de todas as formas possíveis.
E eu, obviamente, não corri quando percebi meu coração batendo
mais forte sempre que estamos juntos. Achei… achei que eu fosse ser o
cara a mudar o significado de amor para ela.
Eu acho que sou esse cara.
Ainda não desisti.
E pela expressão estampada em sua face, ela parece estar
considerando isso também.
Devagar, eu esbarro nossas mãos. Seu olhar recai sobre elas, e eu
entrelaço nossos dedos, com um sorriso tímido tomando conta dos meus
lábios. Quando ela não se distancia de mim, e vejo o canto de sua boca se
elevar quando voltamos a nos encarar, sei que ela sente o mesmo.
Espero que ela sinta o mesmo.
— Eu gosto de você, linda. Muito mais do que você pode me
imaginar — confesso mais uma vez, e ela não recua com medo.
— Isso me assusta, Ethan. Nunca passei por isso antes.
E, porra, eu entendo perfeitamente agora, depois de todos esses
meses, o que ela quer dizer.
No fundo, eu sei que não deveria estar insistindo nesse assunto.
Todavia, dessa vez… ela não está se fechando para mim.
Pelo contrário, ela está abrindo.
— Ter alguém gostando de você?
— Gostar dessa pessoa de volta — revela, e não evito sorrir
presunçosamente.
Quero beijá-la.
Quero carregá-la para o seu quarto e tomar seu corpo.
Quero comemorar que, depois de tanto tempo, Violet não precisa
mais esconder seus sentimentos.
Não de mim.
Nunca de mim.
Entretanto, antes que eu possa fazer qualquer uma dessas coisas, a
porta do apartamento é aberta de supetão, e nossa atenção se torna para a
entrada.
O som das rodinhas da mala de viagem é o primeiro som que
ouvimos. Troco um olhar com Violet, um pouco confuso, e ela me observa
da mesma forma, dando de ombros. Mesmo morando aqui, ela não parece
saber o que está acontecendo.
Nossa confusão é esclarecida, quando a dona das malas adentra a
sala de estar.
Os cabelos cacheados estão maiores do que da última vez em que a
vi. A pele está um pouco menos bronzeada, sem o sol de Schönilla no
verão. O suéter amarelo pastel, sua cor favorita, não esconde que é mesmo
ela.
Jessica Flores.
Jess.
Minha… ex-namorada.
De volta aos Estados Unidos.
— Ethan! Senti tanto sua falta!
É a primeira coisa que ela diz, quando nota minha presença, antes de
largar suas coisas no chão e correr para mim, entrelaçando os braços ao
redor do meu pescoço em um abraço.
Sou pego de surpresa e demoro para passar os meus braços ao redor
do seu corpo. Quando faço isso, o cheiro inconfundível do seu shampoo de
coco toma conta do meu olfato.
É ela mesma.
Jess.
Puta merda.
Acho que você não traiu
mas você ainda é um traidor
Deus, eu queria que você tivesse pensado nisso
Antes de eu me apaixonar por você
traitor | Olivia Rodrigo

Meu estômago embrulha imediatamente.


O mundo parece estar em câmera lenta.
Eu acompanho cada passo de Jessica Flores em direção a Ethan
Scott. Meus olhos seguem os braços dela enroscando em seu pescoço.
Aquele lugar onde os meus estavam há poucas horas, nas partes que minha
boca tocou, caramba. Também o vejo circulando as costas da garota, para
não deixá-la cair, e o sorriso em seu rosto não passa despercebido.
E pensar que eu estava pronta para me declarar para ele.
Para dizer que eu o amo.
Bem, parece que as palavras sussurradas na noite anterior não
passavam de uma alucinação minha. Não, de um sonho.
Só nos meus melhores sonhos, ele iria me amar da maneira que eu o
amo.
Ele iria me escolher, em vez de outra pessoa.
Jess.
Até o nome dela soa bonito saindo pelos lábios dele.
Ethan e Jessica.
Combinam lado a lado para o convite de casamento deles.
Como pude ser tão estúpida em acreditar nas palavras bonitas dele?
Sempre esteve tudo debaixo do meu nariz.
Ele estava me usando para tampar o buraco em seu coração
enquanto ela estava longe, para superá-la.
Eu sequer cogitei a possibilidade de ele ficar comigo, caso ela
voltasse?
Por que está tão afetada, se ele era apenas seu amigo colorido? O
que te deixa tão aflita, Violet?
Eu me apaixonei por ele.
Eu amo cada partezinha do coração de Ethan Scott, porra.
Eu amo que ele presta atenção em tudo que digo. Eu amo que ele
planeja presentes de aniversário perfeitos, mesmo que a data já tenha
passado. Eu amo que ele assiste meus filmes preferidos comigo. Eu amo
que ele faz pipoca com calda de chocolate para vermos sua série predileta.
Eu amo que ele não saiu do meu lado quando a situação ficou difícil. Eu
amo que cuida de mim, que ele venera meu corpo e me beija como se
precisasse aproveitar ao máximo.
Como… se fosse a última vez.
E agora foi.
Silenciosamente, eu faço o caminho de volta para meu o quarto e
fecho a porta com cuidado.
Para não distrair o casalzinho.
Deus, sou tão burra.
Eu acreditava que um garoto tão incrível como Ethan fosse me
amar?
Coitada de mim.
Troco de roupa rapidamente, pegando o primeiro conjunto de
moletom azul marinho que vejo no armário. Prendo os fios rebeldes em um
rabo de cavalo alto e jogo a bolsa preta por cima do ombro, enfiando um
chiclete de canela na boca, já que não vou levar mais tempo dentro dessa
casa escovando os dentes.
Só quero ir embora.
E nunca mais olhar na cara de Ethan Scott.
Porra, eu nem tenho direito de ficar puta, tenho?
Eu insisti pelas regras no nosso arranjo de amizade colorida. Eu
avisei que ele não podia se apaixonar, porque eu terminaria quebrando seu
coração.
Olha que reviravolta: eu acabei me apaixonando e tendo o coração
partido.
Que patético.
Quando finalmente tomo coragem de sair do quarto, encontro os
dois pombinhos ainda na sala de estar. Continuam em pé, um de frente para
o outro. O sorriso de Jess permanece estampado em seu rosto, e os dedos
dela roçam de leve na mão de Ethan.
Acho que vou vomitar.
Respiro fundo.
Eu consigo fazer isso.
É só passar por eles e ir embora. Preciso sair um pouco de casa,
respirar um ar que não esteja contaminado pelo amor deles. E eles estão tão
distraídos um com o outro, que mal vão perceber minha presença.
É o que eu acredito, até as írises de Ethan se chocarem com as
minhas, enquanto passo no caminho entre o sofá e a televisão, o mais longe
deles que consigo.
— Violet — chama, se distanciando da ex-namorada e vindo até
mim.
Desvio dele e continuo indo até a porta.
Só mais alguns passos, e estou lá, repito mentalmente, controlando
as lágrimas.
Não quero passar por mais idiota ainda e chorar na frente deles.
— Violet, espera, por favor — ele continua, e quando seus dedos
envolvem meu pulso, eu puxo o braço com força.
Não consigo fazer isso.
Eu quero ir embora.
Porém, a vontade de ficar é ainda maior.
Não quero desistir dele, porra, não mesmo.
— Ethan? É um momento ruim? Posso voltar depois. — A doce voz
de Jess me faz voltar à realidade.
Não existe mais Ethan Scott para mim.
O único Ethan Scott aqui, pertence à Jessica Flores.
Ele sempre foi dela, você foi apenas um passatempo, digo para mim
mesma.
— Eu já estava de saída — forço as palavras a saírem e engulo a
vontade de chorar. — Podem conversar.
Giro a maçaneta.
Ethan suspira.
Uma lágrima desliza pelo meu rosto.
— Eu te ligo mais tarde para conversarmos, Vi.
Bufo uma risada.
É claro que ele a escolheu.
Ninguém nunca vai me escolher, muito menos alguém tão incrível,
que merece uma pessoa muito melhor do que eu jamais vou ser.
Meu pai pode estar bem longe, mas o meu passado ainda me
assombra.
Quem escolheria a garota quebrada, com uma família disfuncional e
mentirosa?
Eu menti quando disse que nunca me apaixonaria por Ethan Scott.
Estou totalmente, completamente e absurdamente apaixonada por
ele.
É por isso que eu fecho a porta do apartamento atrás de mim e deixo
que ele vá buscar sua felicidade.
E não é comigo.

Passo o dia inteiro fora de casa.


Sinceramente, fora da cidade.
Apareci de surpresa na casa da mamãe, e por mais que ela tenha
ficado feliz em me ver, soube na hora que algo estava errado.
— O que aconteceu, minha florzinha?
Essa frase me faria chorar, se eu já não tivesse esgotado meu
estoque de lágrimas no ônibus a caminho de lá.
— Nada, mãe. Só fiquei com saudades — repeti, e ela continuou me
olhando de forma esquisita, porém, felizmente, não tocou nisso de novo.
Em vez de falarmos do meu coração partido, fomos à sua aula de
pintura no centro de Mount Airy, almoçamos no restaurante de comida
indiana novo e depois, passeamos pelo parque, com os casacos de inverno
fechados até o pescoço.
O frio parecia não me atingir.
A dor era tanta dentro de mim, que qualquer coisa que vinha de fora,
não era o suficiente para mexer comigo.
Mais tarde, tomei um banho demorado no meu antigo banheiro e
demorei um pouco mais do que o necessário, deixando o sabonete líquido
com cheiro de mel e baunilha tomar conta do box. Por sorte, deixei algumas
roupas que não cabiam na mala no armário e usei-as para voltar a Schönilla,
diretamente para a Lust e para o trabalho.
Se meus companheiros estavam acostumados com a minha
felicidade e sorrisos bobos nos fins de semanas anteriores, precisarão se
acostumar com Violet Woods de mau humor e cara fechada. É claro, não fui
grosseira com nenhum funcionário, muito menos com os clientes,
entretanto, também não agi como estava agindo nos últimos dias de
trabalho.
Eu não consegui.
Ainda não consigo.
Meu turno está quase no fim, e estou exausta.
Mentalmente.
Minha cabeça está a mil desde que fui embora do meu próprio
apartamento. Parece que um furacão está bagunçando-a desde então, e isso
está me deixando exaurida.
— Três shots de tequila. — A voz, vindo do bar, enquanto estou de
costas, já arrumando algumas bebidas e utensílios, me traz de volta ao
mundo real.
Uma voz conhecida.
Quando me viro, não fico surpresa em encontrar Paxton Miller
escorado no balcão.
Eu acompanhei toda sua noite com os olhos.
Chegou por volta da meia-noite. Foi atendido por Rafe, o outro
bartender da noite, todas as vezes. Uísque com gelo, normalmente, contudo,
alguns shots de vodca também foram encaminhados para a área vip no
segundo andar. Ele estava sem seus melhores amigos.
Todavia, não sozinho.
O baixista da The Chaotic Misfits nunca está sozinho.
Sua boca passou por, pelo menos, vinte por cento dessa casa noturna
hoje. Entre homens e mulheres, Paxton manteve-se ocupado. E quando sua
língua não estava devorando outra, ela estava bebendo alguma bebida
alcoólica ou com um cigarro pendurado entre os lábios.
— Não acha que foi o suficiente por hoje? — pergunto, pegando
três copos de shots e a bebida no armário abaixo do balcão.
O loiro arqueia as sobrancelhas para mim.
— Me vigiando, Violet Woods? — Reviro os olhos e deslizo a
primeira dose para ele. — Não precisava me olhar de longe, sabe? Eu
conseguiria arrumar um tempinho para você.
Solto uma risada fraca com seu flerte descarado.
— Eu estava com seu amigo, e você está dando em cima de mim?
— Estava? — repete, um pouco confuso, levando a bebida para
dentro.
Merda.
Eles não sabiam? Ethan ainda não contou para os seus melhores
amigos?
Você era tão insignificante, que nem valeu uma explicação.
— Jessica Flores está de volta — é o que me limito a dizer, e ele se
assusta, boquiaberto. — Você não sabia?
— Não, eu não sabia.
Não respondo.
Entrego mais uma dose de tequila para Pax, e ele entorna. O líquido
quente nem faz cosquinha, quando desce pela sua garganta.
— Você gosta dele — afirma, e eu desvio os olhos dos seus. Está tão
na cara assim? — Sabe, eu nunca vi Ethan tão acabado quanto quando ele
ficou com a mudança de Jess. Achei que ele nunca fosse superá-la. E, porra,
a garota nem pensou duas vezes em seguir em frente. Eles namoraram por
anos, e ele pensava em um futuro com ela, entende?
— E daí? — retruco, pouco me fodendo para os planos de Ethan,
que provavelmente vão sair do papel de novo, agora que ela está de volta.
— Daí, Violet, que você aconteceu. — Engulo em seco e troco o
apoio do pé, segurando com força o último copinho de shot. — De repente,
Ethan queria viver de novo. Ele voltou a sorrir, a tocar com o coração e não
choramingava mais pelos cantos pelo leite derramado. Você… porra, Violet,
você trouxe nosso garoto de volta à vida. — As palavras de Pax parecem
sinceras, entretanto... não sei como acreditar nisso. Eu notei a forma como
Jess olhava-o. Ela ainda o ama, é nítido. Qual o meu papel nessa situação
toda? Ele pode ter se divertido comigo, porém seu futuro é com ela. —
Olha, você provavelmente não quer minha opinião, mas…
— Você já está dando, de qualquer forma.
Paxon sorri e umedece os lábios ressecados.
— Ele nunca a olhou como olha para você. — Prendo a respiração,
minhas írises fixas na de Paxton.
— O quê?
— Ethan. Ele… é uma pessoa totalmente diferente depois que se
apaixonou por você, Violet. Ele pare…
— Ele não é apaixonado por mim — corto-o, e Pax balança a
cabeça lentamente, em negativa.
Entrego a terceira dose do destilado em suas mãos, e ele vira o copo
de uma vez, como fez com as outras.
— Se você gosta dele, Violet, como eu sinto que gosta — continua,
ignorando o que eu disse. — É melhor lutar por ele. Mostre a ele que se
importa. Que você o ama. Mas se não… não dê esperanças a Ethan. Ele já
sofreu por amor há pouco tempo e não precisa ter o coração machucado,
quando mal se curou.
Paxton não sabe o que está falando.
Ele pode ser o melhor amigo de Ethan há anos, só que ele… não faz
ideia dos sentimentos do baterista de sua banda. Certo?
Ethan Scott é apaixonado por uma pessoa, e não sou eu.
Ele esclareceu tudo, quando me deixou ir embora e ficou com ela.
— Você não sabe o que está dizendo — é o que respondo, depois de
deixar o loiro pagar pelas bebidas com seu cartão de crédito.
O sorriso sem vergonha dele volta a desenhar seus lábios.
— Não o magoe, Violet Woods — reforça, e uma garota aparece ao
seu lado, circulando sua cintura com um dos braços e arranhando o peitoral
dele, pela pequena brecha da jaqueta de couro. Ela sorri para ele, porém, o
sorriso que ele devolve não é o mesmo. É… triste. — Não perca a pessoa
que você ama, porque não lutou por ela. Não pense no que você poderia ter
feito diferente… só faça. Antes que seja tarde demais.
Ele me lança uma piscadela e desaparece pela multidão de pessoas
na pista de dança, que se dispersa aos poucos, uma vez que a boate está
chegando em seu horário de fechar.
Simples assim.
Paxton Miller joga algumas verdades duras na minha cara. Um
conselho. E… se vai.
Não me permito pensar no que ele disse.
Talvez se as coisas tivessem acontecido de outra forma, eu
acreditaria em suas palavras. Contudo, ver o cara por quem você é
apaixonada ser abraçado pela ex-namorada como se o tempo não tivesse
passado… doeu.
Demais.
O que ronda na minha mente é o fato de que Paxton pareceu dizer as
últimas palavras com certo conhecimento. Como se ele tivesse deixado
alguém ir embora, sem tentar o seu máximo.
Ou alguém não lutou por ele.
Quem o vê, sempre em festas, bebendo e usando vários tipos de
drogas, e nunca terminando a noite sozinho, não imagina que há um garoto
quebrado por trás disso tudo.
O que te quebrou, Paxton Miller?
Eu soube desde o começo
Éramos um tiro no escuro mais escuro
Oh, não, oh, não, eu estou desarmada
[...]
Por que você tinha (Por que você tinha)
Que me fazer te amar (Que me fazer te amar)?
Eu disse: "Eu te amo" (Eu disse: "Eu te amo")
Você não responde nada
Say Don't Go | Taylor Swift

Fiz uma merda gigantesca.


Porra, eu sei que fiz.
Sei que isso não é desculpa, mas eu não estava pensando direito.
A chegada repentina de Jessica me deixou desamparado. Eu fiquei
perdido. Não sabia de mais nada. Apenas que Jess estava de volta.
No mesmo cômodo que eu.
Com um sorriso largo de orelha a orelha, como se não tivesse ficado
meses fora.
Porra, como processar isso?
Eu te digo: é difícil para cacete.
Então, quando Violet decidiu sair e nos deixar a sós, eu não pensei
demais no que isso queria dizer.
E esse foi o meu erro.
Jess e eu mal conversamos, para ser sincero. Ela contou que voltou
da Espanha para as festas de fim de ano, foi direto para Carmel by the Sea,
nossa cidade natal, e ficou um tempo lá. Como há a possibilidade de estudar
remotamente algumas matérias na faculdade espanhola onde ela realizou o
intercâmbio, ela decidiu fazer isso, já que ainda está confusa sobre terminar
os estudos lá ou aqui, em Schönilla.
— Mas eu senti que ainda tinha assuntos inacabados por aqui —
disse, abrindo um sorriso triste para mim.
Quando seus dedos avançaram para os meus, apoiados no encosto
do sofá, eu puxei-os do seu alcance.
Jess franziu a testa, confusa.
Eu me levantei de repente, percebendo quão errada era aquela
situação.
Como eu deixei a mulher que eu amo ir embora e fiquei, justamente
com aquela que me mostrou que nosso amor nunca fora o suficiente?
Não, isso está tão, tão errado.
Pedi desculpas à Jess e disparei pela porta do apartamento, indo
atrás da pessoa que realmente me importava.
Daquela que chegou de fininho na minha vida, com um acordo
idiota de amizade colorida, e que conquistou meu coração desde o primeiro
dia.
Bem, eu tentei.
Não a encontrei em lugar nenhum.
Procurei em todos os lugares, o dia todo, e… nada dela.
Todavia, eu sei a escala de trabalho dela de cabeça.
Hoje, ela teve um turno na Lust.
E como em todas as outras vezes, estou plantado do outro lado da
rua da boate, esperando pela minha garota.
Tudo vai ficar bem.
Você vai explicar, ela vai te entender.
Você vai dizer que a ama, ela vai retribuir, e vocês vão viver felizes
para sempre.
Repito mentalmente para mim durante todo o tempo em que espero
pela figura de Violet Woods sair pela porta dos funcionários da casa
noturna.
Isso acontece por volta das cinco e meia da manhã.
— Violet! — chamo, vendo que ela não está seguindo o caminho
para o prédio, mas sim, está indo para o outro lado da cidade.
Estranho.
Ao som da minha voz, ela se vira, e sua cara… nada contente.
É, eu mereço.
Estaria ainda mais chateado, se fosse uma situação inversa.
— Precisamos conversar — afirmo, quando me aproximo.
Violet ergue o queixo e cruza os braços. Noto a frase em sua blusa,
quando ela assente levemente com a cabeça.
I love to make boys cry[43].
Típica Vi.
É uma das milhares de coisas que amo nela.
— Eu exagerei — alega primeiro, e eu pisco, um pouco surpreso.
Não sei o que eu esperava que ela dissesse, porém isso, nem passou
pela minha cabeça.
— Como?
— Não devia ter agido daquela forma — continua, e eu sigo sem
entender direito o que está acontecendo aqui. — Qual é, Ethan, eu sei que
errei. Nós fodemos às vezes. Não sei porque agi como se vivêssemos algo a
mais. Você me usou para tampar o buraco que sua ex deixou, eu te usei para
me divertir. Foi bom. Mas agora que ela está de volta, imagino que queira
voltar para quem sempre teve seu coração.
Demoro mais do que o necessário para entender cada palavra que sai
da boca de Violet.
Que porra ela está dizendo?
Ela está dizendo isso, porque está com raiva. Chateada.
Decepcionada também, provavelmente.
Mas porra, suas palavras doem.
Ela machuca exatamente na ferida que ainda não cicatrizou no meu
coração.
— Violet… o quê? Não, não é nada disso — retruco, dando um
passo em sua direção. Ela se retrai, dando um para trás. Porra. — Olha, eu
sei que fiz merda. Eu não devia ter te deixad…
— Ethan — ela me interrompe, e o sorriso que surge em seu rosto…
não é um dos meus preferidos. — Está tudo bem, não precisa arranjar
desculpas. Eu exagerei na minha reação. Você fez o que era certo. Esse
sempre foi nosso fim, não acha? Nossa amizade com benefícios tinha prazo
para terminar, sempre soubemos disso. Melhor tarde do que nunca, huh?
Antes que um de nós acabasse machucado.
Eu já estou machucado, penso e fecho os olhos com força, tentando
não deixar as lágrimas rolarem.
Ela não está falando sério.
Violet não acredita nisso.
Correto?
Ela sabe que eu a amo. Eu sei que ela me ama.
Por que ela está dizendo tantas besteiras, então?
— Vi, eu sei que você está machucada. Eu também estou. E a merda
que eu fiz foi gigantesca, mas precisamos conversar. Por favor.
Ela suspira, agarrando a alça da sua bolsa com força.
— Acho melhor encerrarmos por aqui, Ethan.
— Vi… linda, por favor.
Uma lágrima solitária desliza pelo rosto bonito de Violet, e ela
espanta-a com o dorso da mão.
— O que quer que tivéssemos, Ethan… acabou. É melhor assim.
Porra.
Não. Não. Não.
Violet se vira, indo para o caminho contrário de sua casa, e eu…
caramba, eu surto.
Não sei o que fazer para ela acreditar em mim.
Então, digo a única coisa que sei que vai fazê-la parar:
— Eu amo você.
No mesmo instante, os pés dela estacam na calçada.
Ela não se vira, no entanto.
— Meu coração é seu, Violet Woods — continuo, me aproximando
a passos lentos dela. — Porra, eu acho que meu coração sempre foi seu.
Desde a nossa primeira colisão caótica naquela festa de fraternidade, nosso
acordo de amizade colorida, os momentos em que eu disse que não iria me
apaixonar, por achar que estava quebrado para isso… no fundo, eu sempre
soube que era você. Que você, Violet, é a pessoa que eu amo e o gran…
— Tchau, Ethan. — Sua voz corta o ar.
É fria.
Rude.
Nada parecida com a Violet por quem eu me apaixonei nos últimos
meses.
Não quero deixá-la ir de novo.
Não posso.
Porém… o que posso fazer?
Já disse que a amo. Me declarei no meio da rua, e ela… ela nem
teve a coragem de me olhar enquanto eu fazia isso.
Então, vejo Violet Woods ir embora e levar meu coração com ela.
Da mesma forma que vi Jessica Flores fazer no ano anterior.
Parece que meu dever nesse mundo, não é amar alguém.
É nunca ser amado de volta.

— Se liguem — Paxton chama, vindo se sentar ao nosso lado à


mesa da garagem, com o computador em mãos.
Eles estão fazendo um bom trabalho em não me deixar imergir por
completo no único pensamento que ronda minha mente: Violet e nossa
separação repentina. Eu ainda estou processando tudo que aconteceu nos
últimos dias. Como fomos de um final feliz para um fim tão trágico.
E meus melhores amigos, sendo quem são, estão tentando me
distrair quando estamos juntos.
Com o cigarro pendurado nos lábios, ele ocupa a cadeira entre mim
e James, e nós dois nos aproximamos, com os olhos vidrados na tela.
— O que é? — nosso vocalista e guitarrista pergunta, antes de, de
fato, começarmos a ler, e joga o sanduíche quase no fim de volta no prato.
Lanchinho preparado por dona Rebecca Scott, é claro.
— Lê, porra — Pax resmunga, impaciente.
James e eu trocamos um olhar e focamos com atenção no anúncio
que ocupa toda a tela do notebook.
Meus olhos passeiam por cada linha do site, e um sorriso vai se
formando lentamente pelos meus lábios, assim como acontece com James.
Quando terminamos e voltamos a encarar nosso amigo loiro, ele está
tragando o cigarro com um sorriso gigantesco.
— Batalha de bandas… em Los Angeles? — é James quem fala,
visualmente animado e curioso.
— Exatamente. E a banda vencedora…
— Ganha um contrato com a gravadora — completo.
Nós três nos entreolhamos, processando o que isso significaria para
a The Chaotic Misfits.
E como quando estamos juntos, dividimos apenas um neurônio entre
nossos cérebros, nos tocamos da porra gigantesca que isso seria para a
banda, ao mesmo tempo.
Em um momento, estamos sentados.
No outro, estamos nos abraçando, pulando e gritando.
Caralho!
— Se vencermos isso… — começo, um pouco sem fôlego da
comemoração, ainda com os braços ao redor dos meninos.
— A The Chaotic Misfits vai ter um contrato com uma gravadora de
verdade, porra! — Pax conclui, jogando seu cigarro na lixeira ao lado do
sofá e voltando para se juntar a nós de novo.
— Paxton — James chama e aponta com a cabeça para o
computador. — Inscreve a gente nessa porra.
— Nem precisa pedir duas vezes — ele responde, voltando a se
sentar à mesa, e seus dedos começam a digitar rapidamente no teclado.
Caralho.
Batalha de bandas.
Em Los Angeles.
Contrato com gravadora.
Puta que pariu.
— Como vamos para Los Angeles? — pergunto, deixando minha
mente focar também na parte mais técnica da parada.
— Ethan, não acaba com a vibe do momento — é, obviamente, Pax
quem responde. — Eles pedem um vídeo de alguma performance nossa
primeiro. Se nos aceitarem, pensamos nisso, tá legal? Sem estresse por
enquanto.
Tá bom.
Acho que consigo não me preocupar e deixar isso para depois.
Acho.
— Vou contar para Cassie. Ela vai enlouquecer — James, já com o
celular no ouvido, sai pela porta de garagem, bem animado para
compartilhar com a namorada a novidade.
Meu primeiro instinto é ligar para Violet também.
Todavia, lembro dos acontecimentos de dois dias atrás e… eu não
faço isso.
Não estamos mais juntos.
Ela me odeia.
Talvez ela nunca tenha gostado de mim, e eu só criei uma realidade
paralela na minha mente, querendo que meus sentimentos fossem
correspondidos.
Porra.
Toda a tristeza que tinha ido embora no nosso ensaio dessa tarde,
volta para o meu corpo de uma vez.
E se eu um dia acreditei que fosse bom em esconder sentimentos,
estava muito errado.
— Nada de Violet ainda? — é Pax quem questiona, vindo se sentar
ao meu lado no sofá. Nego com a cabeça apenas. — Você precisa ir atrás
dela, cara.
Solto uma risada anasalada.
— Ela deixou bem claro que não gosta de mim. — Relembro da
conversa que tive com eles no dia anterior, contando os últimos
acontecimentos da série dramática que se tornou minha vida.
James volta para a garagem de fininho e sente o clima pesado,
porque se junta a nós no estofado e me lança um sorriso condescendente.
— Ethan, pelo amor de Deus! — O tom de voz do baixista me
assusta, e viro em sua direção, um pouco surpreso. — Aquela garota é louca
por você, porra. Todo mundo é capaz de ver isso. — Seus olhos se
encontram com os de James, do meu outro lado, e ele concorda. — Viu? Se
você realmente a ama…
— Eu amo — respondo, sem hesitar.
— Precisa mostrar isso a ela — James diz, firme.
— Ela não quer me ver nem pintado de ouro.
— Você precisa se mostrar arrependido de ter escolhido a Jess —
Pax rebate, e antes que eu tente explicar que não foi assim, ele continua sua
fala: — Sim, Ethan, sabemos que não foi sua intenção. Mas, caralho, foi
uma situação de merda. Você estava prestes a se declarar para a garota, sua
ex aparece, e você a deixa ir embora?
— Vou ter que concordar com ele, Ethan. Foi uma bola fora do
caralho.
Eu sei disso.
E lembrar dessa merda todos os dias, machuca ainda mais o meu
coração.
— O que eu faço, então?
— Primeiro, meu camarada, você precisa deixar bem claro para
Jessica Flores que vocês não serão um casal. Nunca mais — Paxton declara,
enumerando os passos com os dedos.
— Depois, você corre atrás da sua garota e mostra que não há
ninguém no mundo para você, sem ser ela — James complementa.
Acompanhei os últimos anos da amizade dele com Cassie Brown de
perto e sei o quanto os dois sofreram nos últimos meses. Após negarem os
sentimentos um pelo outro por tanto tempo, tiveram que lidar com essa
confusão da pior maneira possível. Hoje, felizmente, tudo está resolvido, e
eles estão mais felizes do que nunca. Contudo, foram tempos conturbados
para os dois.
— O que posso fazer para reconquistá-la? — indago, alternando o
olhar entre os meus dois melhores amigos.
James dá de ombros, sem ideia.
Paxton, entretanto, forma um sorriso perverso em seu rosto, e sei
que o que quer que esteja vindo aí, vai ser um caos.
Com ele, é tudo caótico.
Ele é a personificação do nome da banda.
— Tenho uma ideia.
Eu sei que você é errado para mim
Vai desejar que nunca tivéssemos nos conhecido no dia em que eu
parti
Eu trouxe você de joelhos
Porque eles dizem que miséria adora companhia
Não é sua culpa que eu estraguei tudo
E não é sua culpa eu não posso ser o que você precisa
Querido, anjos como você não podem voar para o inferno comigo
Angels Like You | Miley Cyrus

Eu sabia que Ethan Scott me pediria em casamento quando fomos


àquele restaurante chique, alguns dias antes de eu embarcar para Espanha.
Nós nos conhecemos desde pequenos, uma vez que nossos pais são
melhores amigos desde os tempos de faculdade. Morávamos na mesma
cidade. Crescemos juntos. Estudamos juntos a vida inteira. E até quando
fomos para a universidade, mesmo sendo do outro lado do país, fomos
juntos.
Foi inevitável me apaixonar por Ethan.
Como se Deus já tivesse escrito nas estrelas que nós ficaríamos
juntos.
Eu também acreditava nisso.
Contudo, nos últimos meses do nosso relacionamento, comecei a
ter… ressalvas. Perguntas. Nada em relação a Ethan, não. Ele sempre foi
meu príncipe encantado, em todos os sentidos. Não há o que reclamar dele.
No entanto… eu sentia falta de algo. Não sabia explicar exatamente o que,
mas eu não estava totalmente satisfeita com a minha vida.
Não tinha mais saco para comparecer às aulas da faculdade.
Não queria sair com meus amigos.
Arranjava desculpas sempre que meus pais queriam conversar
comigo por chamada de vídeo.
Eu nem suportava ficar mais do que algumas horas com meu
namorado, caramba.
Tudo me irritava.
Qualquer coisa me estressava.
Eu não aguentava mais a minha vida. Não aguentava mais fazer as
mesmas coisas todos os dias, ver as mesmas pessoas… não dava mais.
Eu precisava de algo novo.
Quando surgiu a oportunidade de intercâmbio em outro continente,
não pensei duas vezes antes de me inscrever. Ninguém soube. Eu esperei o
resultado sair para começar a contar para os mais próximos e me preparar
para a viagem.
Ethan foi o último a saber.
Eu… não sabia como contar.
Não só da viagem, mas do que eu queria fazer da gente, quando eu
estivesse lá.
Sabia que iria magoá-lo.
Caramba, eu estava me magoando!
Entretanto... eu sentia no fundo do meu coração, que precisávamos
disso.
Ele foi meu primeiro em tudo, assim como eu fui a dele. Não
ficamos, muito menos namoramos, outras pessoas. Para mim, sempre
existiu somente Ethan Scott, e para ele, Jessica Flores.
E por mais que eu o amasse — ainda amo —, o amor não era mais
suficiente.
Então, por mais que eu estivesse quebrando meu coração fazendo
aquilo, eu precisei terminar.
Por alguns meses.
Apenas para eu poder aproveitar a vida do jeito que ela era e
descobrir quem é Jessica Flores longe do seu cotidiano.
E, sinceramente? Eu não me arrependo.
Vivi o melhor que poderia na Espanha.
Foi exatamente o que eu procurava, mesmo sem saber.
E eu não poderia ter curtido tanto, se eu estivesse com um anel no
meu dedo anelar.
Posso ter sido a vilã da história de Ethan, porém eu fui a salvadora
da minha.
Passei as festas de fim de ano em Carmel by the Sea, com meus
pais, e mais algumas semanas. Eu ainda não decidi se vou voltar para a
universidade espanhola e terminar meus estudos lá, ou ficar por aqui. Por
isso, estou usando um programa muito legal deles, de fazer minhas aulas
online, enquanto não sei onde vou ficar.
Dessa forma, consegui pegar um voo para Schönilla e resolver as
pendências que tenho por aqui.
Principalmente com ele.
Eu não esperava encontrá-lo no meu antigo apartamento.
Com certeza, não com uma garota.
No entanto, foi o que aconteceu.
Não perguntei sobre ela. Não consegui.
Sei que isso é completamente babaca da minha parte — afinal, eu
fui embora e deixei claro que não existia mais nós —, porém, senti uma
alfinetada no peito com a possibilidade de ele ter seguido em frente.
Olha, eu conheci vários caras incríveis do outro lado do mundo.
Todavia, nenhum deles nem chegou perto de me fazer sentir o que
Ethan fazia.
O intercâmbio serviu como confirmação de algo que eu sempre
soube, de certa forma: nunca deixaria de ser apaixonada por ele.
Portanto, quando ele me mandou uma mensagem na noite anterior,
pedindo para nos encontrarmos para um café no fim da tarde de hoje, eu
não hesitei em dizer sim.
É assim que eu me encontro em um café no centro da cidade, com
meu ex-namorado vindo até nossa pequena mesa com as bebidas em mãos.
Um cappuccino de chocolate meio amargo com avelã para mim.
Um latte macchiato de caramelo para ele.
— Então… — diz, e um sorriso nervoso se forma em seus lábios.
— Então… — repito, e nós rimos, bem nervosos com toda essa
nova dinâmica.
Por mais que nos falássemos às vezes durante os últimos meses,
perdemos um pouco da intimidade que levamos tantos anos construindo.
Ou seja, é estranho.
É estranho ser uma estranha para alguém que já foi — ainda é — o
amor da minha vida.
— Preciso te contar uma coisa, Jess — Ethan esclarece, sugando um
pouco da sua bebida com o canudinho biodegradável do estabelecimento.
— O que foi? Tudo bem?
Ele respira fundo e finalmente solta a bomba:
— Eu conheci uma pessoa.
Meu mundo inteiro parece desabar.
Prendo a respiração, tentando processar lentamente o que isso quer
dizer.
É claro que isso aconteceria.
Como alguém tão maravilhoso como Ethan Scott ficaria solteiro
durante muito tempo?
Ele é o melhor homem que já tive o prazer de conhecer e… e não é
mais meu.
— A menina do apartamento? — pergunto, segurando com força a
xícara branca.
— Violet. Sim. — O sorriso largo e verdadeiro que aparece em sua
face quando ele diz o nome dela, não passa despercebido. Enquanto isso, eu
pisco, espantando as lágrimas para longe. — Eu estou apaixonado por ela,
Jess. Não achei que… fosse acontecer, depois que terminamos, porém,
rolou. Conheci a Vi e acho que desde o início, lá no fundo, eu sempre soube
que era ela, entende? Ela é carinhosa, verdadeira, forte, inteligente e… uma
pessoa fantástica.
Aceno com a cabeça, levando a bebida aos lábios.
Ethan fala dela com tanto carinho e amor… não tem como duvidar
disso.
Ele também parece diferente. Mais… vivo. De uma forma que eu
não o via há muito tempo, antes mesmo de eu ir embora.
Parece que ela desperta o melhor nele.
Como se Ethan estivesse na sombra antes, e agora, ela o trouxe para
o sol.
Por mais que o tempo lá fora esteja frio, nublado e chovendo, Ethan
Scott brilha e ilumina esse lugar. Sempre foi assim, para ser honesta. Eu não
reparei que, entretanto, há muito tempo eu não o via assim. Nesse
momento, percebo que voltou a ser o garoto incrível por quem me
apaixonei e que por algum motivo, não era si mesmo há muitos meses.
Por um lado, vejo que meu plano deu certo: queria que
descobríssemos quem éramos sem o outro.
Eu conheci uma Jessica Flores na Espanha, que nunca vi por aqui.
Ethan se tornou sua melhor versão.
Por que não estou bem, então?
Porque isso quer dizer que você o perdeu. Para sempre.
— Jess? Tudo bem?
— Hã… sim. Tudo ótimo, Ethan — respondo, sendo puxada para
fora da minha mente e dos meus pensamentos conflitantes. — Eu… fico
feliz que você tenha encontrado o amor novamente. Pela forma como você
fala dela, Violet parece ser uma ótima pessoa. Eu estou feliz por você, de
verdade.
Estou sendo sincera.
Ele merece ser feliz.
Se não comigo, com alguém que o faça verdadeiramente assim.
A dor é dilacerante no meu coração. Contudo, eu entendo que parte
disso é por minha causa. Eu fui embora. Eu terminei tudo. Se eu não…
Não.
Não vou pensar nos “e se” da situação.
Já está feito.
— Obrigado, Jess. Isso significa muito para mim.
— Você merece ser feliz, Ethan.
Mesmo que isso esteja quebrando meu coração de novo.
— Você também, Jess. Meu carinho por você e por tudo que
vivemos juntos sempre vai permanecer. Se você precisar de qualquer
coisa… estou sempre à sua disposição.
Trocamos sorrisos.
Ele, contente por ter fechado, de fato, essa página de sua vida.
Eu, por estar fechando a página mais dolorosa da minha história.
Se Ethan encontrou o grande amor, ainda há chances para mim, não
é?
Ele não pode ser o cara para mim, se gosta de outra.
Então…
Uma mensagem no celular interrompe meus pensamentos, e quando
olho a tela em cima da mesa, um sorriso involuntário se forma nos meus
lábios.

António Fernandez: E aí? Como estão as coisas nos Estados


Unidos? Já tenho passe livre para flertar com você ou está oficialmente de
volta com o cara que tenta te roubar de mim, antes mesmo de nos
conhecermos?

Rio da mensagem de um dos amigos que fiz na faculdade.


Pelo amor de Deus, António!
— Alguma amiga espanhola? — Ethan pergunta, e eu tiro os olhos
do aparelho, voltando a encará-lo.
— Amigo — corrijo-o, e ele arqueia as sobrancelhas, curioso. —
Nós nos conhecemos um pouco depois que cheguei, quando ele entrou mais
tarde em uma das matérias que fazia. Ficamos amigos, e bem, ele deixou
bem claro que se eu quisesse, ele queria. Mas ele é um cara legal. Eu não
me sentia bem em me envolver seriamente com ele, quando meu coração…
pertencia à outra pessoa.
Uma expressão triste toma conta do rosto do meu ex-namorado.
Lanço um sorriso mínimo para ele.
É uma situação difícil para caramba.
E esquisita.
— Tenho certeza que seu coração só está esperando o lugar certo
para achar um lar, Jess.
Por que meus pensamentos vão diretamente para António?
Sem pensar muito, abro nossa conversa no aplicativo de mensagens
e digito uma resposta.

Eu: caminho oficialmente livre para encontrar novos amores.

Sua mensagem vem imediatamente.

António Fernandez: sou o primeiro da fila, mi corazón.


Como eu pude pensar que tudo que eu te dei era suficiente?
Porque toda vez que eu me aproximo demais, eu bagunço
tudo
Eu fico pensando se talvez você me deixasse voltar
Nós podemos fazer melhor, quebrando todos os hábitos
Mess it Up | Gracie Abrams

Quando eu assisti em filmes ou li em livros que ter o coração partido


doía fisicamente, eu achava engraçado e sem noção.
Como ser magoada iria machucar um órgão, de forma que parecesse
que pequenas agulhas estão sendo enfiadas lentamente por todo o tecido
cardíaco?
Impossível, a Violet Woods sem experiências e que fugia de
qualquer relacionamento um pouco mais sério, dizia.
Possível demais, é o que eu falo agora, conforme enfio uma
colherada de sorvete de cereja e chocolate meio amargo na boca, passando a
porra da minha tarde inteira maratonando filmes de animação.
Nesse momento, estou em O Espanta Tubarões, um dos meus
favoritos.
Meu corpo inteiro sente falta de Ethan.
Desde minha boceta, que clama por seu pau, até meu coração, que
acreditava que iria reivindicar o dele
Tão estúpida.
Agora, enquanto ele com certeza está matando as saudades da ex-
namorada, eu estou me afundando em doces e filmes animados.
Sinceramente, sabemos quem está no fundo do poço, e não é ele.
— Filha? Tem alguém aqui querendo te ver — mamãe avisa, da
porta que divide a sala de estar e a cozinha.
Arqueio as sobrancelhas.
Meu coração erra uma batida.
Será que…
— Oi, Vi.
O apelido é o mesmo.
Mas não é a voz que, por um momento, eu esperava ser.
Cassie Brown joga sua bolsa preta de ombro na mesinha de centro,
onde meu pote de sorvete agora descansa, e ocupa o lugar ao meu lado no
sofá.
Ela eleva as sobrancelhas.
Eu faço o mesmo.
Ela não diz nada, apenas permanece me analisando.
Até o fundo da minha alma, com suas írises castanhas intimidantes.
— Você não deveria estar na aula? — pergunto, sem nenhuma
paciência de esperá-la explicar sua presença aqui.
— E você não?
Touché.
— O que está fazendo aqui, Cassie?
— Minha amiga precisa de mim. Onde mais eu estaria? — retruca,
cruzando suas pernas e se acomodando ainda mais ao meu lado.
Não controlo o sorriso que se forma em meu rosto.
Há quanto tempo eu desejava me enturmar? Ter amigos? Ser amada
nesse sentido?
Finalmente está acontecendo.
E eu não posso aproveitar da maneira certa, porque meu coração só
tem uma pessoa agora… aquela que eu já deveria ter expulsado, porém, não
consigo.
— Cassie… não precisa estar aqui. Você tem mais o que fazer.
— Vi, eu estou exatamente onde deveria estar — ela afirma, com
autoridade, de um jeito que não cogito contradizê-la.
Ela passa um dos braços pelos meus ombros, e eu me aconchego
nela, ajeitando o cobertor felpudo por cima de nós.
Me sinto amada, valorizada e segura.
Quem precisa de um amor, quando se tem uma grande amiga?
— Você o ama, não ama? — O tom carinhoso da voz de Cassie
chega em meus ouvidos, depois de alguns minutos assistindo ao filme,
abraçadas.
— Amo — confesso, confiando na minha amiga. — Mas isso não
importa mais.
— É claro que importa, Vi. Você disse isso a ele?
A risada que escapa de mim é um pouco maldosa.
Essa maldade é totalmente direcionada a mim e minha estupidez.
— Para que, Cassie? Ele está muito feliz com a ex-namorada para
ligar que sua amiga colorida quebrou o acordo que ela mesma fez e se
apaixonou.
Eu não preciso me humilhar ainda mais, é o que eu não expresso em
palavras.
— É o que você acha? — indaga, genuinamente curiosa.
— É o que eu vi.
Cassie suspira.
— Você conversou com ele depois disso? Deixou-o explicar o que
aconteceu?
Ah, não.
Dessa vez, eu rio de verdade.
Gargalho.
— Amiga? Você gosta mesmo de mim? — Ela acena positivamente,
confusa. — Então por que quer que eu me humilhe por ele?
Cassie entrelaça a mão na minha, que descansa em uma das
almofadas no meu colo.
— Você lembra do que te contei da minha história com James? —
Assinto, com as memórias frescas de uma das nossas noites enchendo a cara
de vinho rosé no apartamento, e ela revelando, desde o início, como seu
romance com James começou. — Se eu não tivesse lutado por ele, Vi, eu
poderia tê-lo perdido. Quase o perdi. Você não pode cometer o mesmo erro
que eu.
— Cassie… é diferente — tento explicar, e ela nega fervorosamente
com a cabeça.
— Não, não é.
— É — rebato, firme. — James te amava. Te ama. Vocês foram
feitos um para o outro, entende? Estavam destinados a ficarem juntos.
Ela se cala.
Inclina a cabeça, voltando a me analisar de maneira assustadora.
Quando penso que ela vai me explicar a razão do seu
comportamento esquisito, ela alcança o celular no bolso da calça jeans e
digita uma mensagem rápida.
— Violet, vá se trocar. Vou te levar em um lugar — avisa, de
repente, e eu pisco.
O que ela está falando?
— Posso deixar para a próxima? Não estou bem, Cassie.
— Não, não pode — corta, já se levantando e estendendo a mão
para mim. — Vem, vou te ajudar a se arrumar.
— Cassie… — resmungo, fazendo um pouquinho de drama.
Quero ficar no sofá o dia inteiro, comendo porcaria e assistindo
meus filmes prediletos.
Não tenho forças para sair daqui.
— Vai ser bom você sair um pouco de casa, filha — minha mãe diz,
entrando na sala de estar. — Você precisa sair desse sofá.
— Até você, mãe? — choramingo de novo, enquanto sou puxada
por Cassie para fora do estofado confortável.
Deixo que minha amiga me levante, jogando meus cabelos loiros
sujos para trás e bocejando.
— Espero que valha a pena, Cassie — aviso, à medida que ela me
puxa para o banheiro.
Ela sorri, de uma maneira um pouco maliciosa e… como se
soubesse de algo que eu não sei.
— Vai valer muito a pena, Violet.
Uma multidão de pessoas se aglomera no meio do gramado do
prédio de Artes da Universidade de Schönilla. Diante de tantas pessoas, não
consigo enxergar o que estão observando lá na frente.
Contudo, sei que logo conseguirei, porque Cassie me puxa com a
mão pelas pessoas rapidamente.
— Licença, licença, licença — ela resmunga, conforme faz seu
caminho entre os milhares de estudantes.
Como ela é a responsável por abrir a passagem, apenas deixo que
ela me leve e tento entender o que está acontecendo por aqui.
Falto a alguns dias de aula, e de repente, há algo novo por aqui?
Aquele medo incompreensível, de quando era mais nova, de faltar
um dia na escola e o One Direction aparecer para um show exclusivo, toma
conta de mim.
Depois de receber alguns pisões e cotoveladas, finalmente nos
aproximamos da…
The Chaotic Misfits.
O quê?
James Crawford está em uma das pontas, com a guitarra em mãos e
um sorriso contagiante estampado nos lábios. Quando nos vê por perto, ele
pisca para a namorada e acena para mim.
Estou paralisada demais para retribuir o cumprimento.
Paxton Miller segura seu baixo do outro lado, conversando com uma
das meninas da plateia. Cassie chama a atenção dele, que para
completamente seu papo, para acenar e lançar seu sorriso mais cafajeste.
Por fim, a bateria de Ethan Scott está posicionada no centro, entre os
outros integrantes da banda.
É inevitável meu coração não bater mais forte, assim que nossos
olhares se encontram.
Ele sorri.
Eu não consigo fazer o mesmo.
— O que está acontecendo, Cassie? — pergunto à minha amiga, não
aguento mais um segundo na presença de Ethan.
Como ficar perto do único cara que amei — ainda amo, porque o
sentimento não vai embora tão fácil — e que ama outra?
Não faço ideia de como James e Cassie viveram tantos anos se
amando em segredo e vendo um ao outro com outras pessoas.
Essa vida não é para mim.
— Você vai ver — é o que responde, com um sorrisinho de canto.
Ela continua de mãos dadas comigo.
Talvez, com medo de que se solte, eu fuja daqui.
Exatamente o que estou planejando fazer.
Contudo, antes que eu pense melhor nesse plano de ir embora, a voz
de Ethan Scott soa pelas caixas de som.
— Hm… oi, oi gente — começa a falar, e o silêncio se instala no
gramado. Todos com atenção nele. Eu incluída. — Sei que vocês estão
acostumados a serem cumprimentados por James ou Paxton nos shows, mas
hoje, eu preciso estar aqui na frente para isso. — Ele tira o microfone do
suporte e se levanta, ficando à frente da bateria e completamente diante de
mim. Porra. — Eu cometi um erro há alguns dias. Eu deixei que a pessoa
que mais amo nessa vida acreditasse que ela não era minha escolha número
um. Quando, na verdade, ela é a única escolha. Não há ninguém como você,
Violet Woods, em toda a porra do universo.
“Nós nos conhecemos em uma situação muito inusitada. Nos
envolvemos por acaso. Quer dizer… no fundo do meu coração, eu sempre
soube que você era mais especial do que parecia. Ao longo dos meses
juntos, eu entendi. Violet, você é o amor da minha vida. A única pessoa
com quem como pipoca com chocolate assistindo a filmes de animação.
Aquela que vê minha série favorita comigo, mesmo que não curta tanto. A
gente se completa, Vi. Colidimos caoticamente naquela festa, para nunca
mais nos separarmos. E, porra, se eu te fiz sentir que isso não era verdade,
eu fui burro pra caralho. Fui um idiota. Um babaca. E estou arrependido
desde o momento em que te vi saindo por aquela porta e não corri para você
no mesmo instante.
“Estou perdido sem você. Estou no fundo do poço sem a sua
presença. Ethan Scott é a porra de um caos sem Violet Woods. E eu sei que
pisei na bola. Feio. Que machuquei seu coração. Mas eu te garanto que o
meu está tão machucado quanto o seu, sem você. Vi, eu te amo. Te amo
tanto, que meu coração dói de amor por você. E… eu não sei se consigo
pensar em um mundo onde vivo sem você. É impossível. Eu entendo que
você deve ter mil e uma ressalvas sobre me dar mais uma chance. Porém,
eu quero tentar te mostrar que essa é uma boa opção, que eu vou te fazer
feliz todos os dias do resto das nossas vidas. É por isso que estou aqui,
diante de quase toda a universidade: para mostrar não só a você, mas a
todos presentes, que você é a mulher da minha vida, e eu nunca amei
ninguém como amo você. Com todo meu coração.”
Eu não noto que estou chorando, até sentir os dedos delicados de
Cassie limpando minhas lágrimas e seu outro braço, circulando minha
cintura para me abraçar.
— Viu? Eu disse que ele te amava — sussurra no meu ouvido, em
tom de divertimento, e eu rio.
Uma risada estranha, misturada com choro.
Ethan Scott me ama.
Ele me ama.
Não sua ex-namorada.
A mim.
Eu sou a mulher da vida dele, e ele fez questão que todos soubessem
disso.
Se eu acreditava não haver como ficar mais apaixonada por ele,
estava totalmente enganada.
Acho que o amo ainda mais um pouco depois disso.
Dou um passo à frente, querendo correr para os braços dele,
contudo, Cassie me segura e não deixa que eu saia do lugar.
— Calma. Ainda não acabou — avisa, e há um brilho em seus
olhos.
Ainda tem mais?
Ethan volta para o seu lugar atrás da bateria e coloca o microfone de
volta no suporte.
Assim que ele faz isso, os primeiros acordes da guitarra de James
surgem pelas caixas de som espalhadas pelo gramado.
Não é difícil adivinhar a música.
Meus olhos estão no vocalista, esperando ouvir sua voz, entretanto,
para minha surpresa, é Ethan quem inicia a primeira estrofe:
— My love was as cruel as the cities I lived in.[44]
E eu ainda posso ver tudo (na minha mente)
Tudo de você, tudo de mim (entrelaçados)
Uma vez acreditei que o amor fosse ser (preto e branco)
Mas é dourado (dourado)
E eu ainda posso ver tudo (na minha cabeça)
Indo e voltando de Nova Iorque (esgueirando-se na sua
cama)
Mas é dourado
Como a luz do dia, como a luz do dia
Daylight | Taylor Swift

— Everyone looked worse in the light. There are so many lines that
I´ve crossed unforgiven. I´ll tell you the truth, but never goodbye[45]. —
Minha voz sai um pouco enferrujada, pelo que ouço nos fones de ouvido in
ear. [46]
Estou acostumado com os vocais de apoio para James, não a cantar
inteiramente uma música. Sei que não sou péssimo, porém, não chego aos
pés da voz potente do nosso vocalista.
Ele sim, sabe como interpretar todas as notas perfeitamente, afinal,
fez algumas aulas exatamente para isso.
Contudo, eu sabia, quando Paxton Miller deu essa ideia maluca, que
precisava ser eu a cantar.
— I don't wanna look at anything else now that I saw you. I don't
wanna think of anything else now that I thought of you. I've been sleeping
so long in a 20-year dark night. And now I see daylight, I only see daylight.
[47]

Meus olhos estão fixos nos de Violet, que está abraçada com Cassie
na primeira fila, e algumas lágrimas rolam pelo seu rosto.
Espero que sejam de felicidades e que signifique que ela me
perdoou.
Que tenho seu coração novamente.
— Luck of the draw only draws the unlucky. And so I became the
butt of the joke. I wounded the good and I trusted the wicked. Clearing the
air, I breathed in the smoke. Maybe you ran with the wolves and refused to
settle down. Maybe I've stormed out of every single room in this town.
Threw out our cloaks and our daggers because it's morning now. It's
brighter now, now.[48]
Violet sorri para mim.
As outras pessoas, aglomeradas para essa apresentação de uma
música, feita especialmente para a mulher da minha vida, cantam em coro
junto comigo.
Meus olhos passeiam um pouco pela plateia, e vejo todos sorrindo,
com os polegares levantados para mim em um sinal de aprovação pelo
grande gesto que fiz para Vi.
Ela merece muito mais do que isso.
— I don't wanna look at anything else now that I saw you. I don't
wanna think of anything else now that I thought of you. I've been sleeping
so long in a 20-year dark night. And now I see daylight, I only see daylight.
I only see daylight, daylight, daylight, daylight. I only see daylight,
daylight, daylight, daylight.
Paxton e James entram nessa parte, nos vocais de apoio, e todos vão
à loucura.
Gritos passam pelo meu fone antirruído.
É sempre o que acontece em nossos shows.
Não achei que fosse ser assim, quando tivemos essa ideia na noite
anterior e precisamos preparar tudo rapidamente, mas nossos fãs… eles são
os melhores.
Meus amigos se viram para mim, com os sorrisos estampados nos
rostos, e eu retribuo, me sentindo a porra do homem mais feliz do mundo
inteiro.
— And I can still see it all. All of you, all of me. I once believed love
would be. But it's golden. And I can still see it all. Back and forth from New
York. I once believed love would be. But it's golden. Like daylight, like
daylight. Like daylight, daylight.[49]
Canto a plenos pulmões, colocando todos os meus sentimentos nas
palavras que digo ao microfone.
Deixando que todo o meu amor por Violet Woods flua pela canção.
Assim como as outras pessoas aqui, Vi canta junto comigo, e sei…
no fundo, eu sei, eu sinto, que ela me ama tanto quanto eu a amo.
Só falta saber se ela irá mesmo me perdoar pelo meu erro.
— I don't wanna look at anything else now that I saw you. I don't
wanna think of anything else now that I thought of you. I've been sleeping
so long in a 20-year dark night. And now I see daylight, I only see daylight.
I only see daylight, daylight, daylight, daylight.[50]
Repito o último verso várias vezes.
Não somente pela música, mas porque quero deixar bem claro à
Violet e a todos que só vejo a luz do dia, depois que a conheci. Não existem
mais dias escuros, nublados, quando ela está ao meu lado.
Ela é o meu sol.
Aquela que eu espero ver todos os dias quando acordo.
Aquela que aquece meu coração.
Aquela que me faz feliz.
Aquela que é única. Não há ninguém como ela.
Exatamente como o sol, ela ilumina meus dias.
E noites também.
— Like daylight. It's golden like daylight. You gotta step into the
daylight and let it go. Just let it go, let it go.[51]
Nesse momento da música, é quando Taylor Swift faz um pequeno
discurso.
O que descobri ontem, quando ouvi pela primeira vez e precisei
ensaiá-la a madrugada inteira, a fim de ficar perfeito hoje.
Realmente, é cada ideia que Paxton tem.
E uma parte desse plano, era eu fazer meu discurso no fim, não usar
o original.
Espero que a melodia termine e o último acorde da guitarra de
James soe, para declarar:
— Eu quero ser definido pelas coisas que eu amo — começo, e o
grito da plateia se acalma, todos atentos a mim, que me levanto da banqueta
e tiro o microfone do suporte, voltando à frente do palco improvisado. — E
quem eu mais amo, o que eu mais amo, não é a música. Não é a The
Chaotic Misfits, por mais que sejam uma grande parte de mim. Meu
coração por completo pertence à Violet Woods. Você é quem eu mais amo,
linda. E sempre vai ser, se você me permitir.
Estendo minha mão para Violet.
Para o momento da verdade, de saber se ela me ama e está disposta
a me deixar ir.
Ou se me ama e quer ficar comigo.
Na minha mente, dura cinco horas.
Na realidade, bastam cinco segundos para ela entrelaçar os dedos
nos meus, e eu puxá-la para mim.
— Não acredito que você fez isso — murmura, somente para que eu
possa ouvir, e eu sorrio, circulando sua cintura com a mão livre.
— Se eu pudesse, linda, teria fechado o Madison Square Garden
para dizer à porra do mundo inteiro que eu te amo e te quero para sempre
comigo. Nunca existiu outra pessoa além de você. Nunca existiu — friso a
última parte, para que ela não acredite nunca mais que eu escolheria outra
pessoa que não seja ela.
Os dedos de Violet encontram meu maxilar, e ela acomoda-os ali,
acariciando minha bochecha com seu polegar.
— Ethan?
— Sim, linda?
— Eu amo você — o mundo inteiro parece parar, quando ela profere
as palavras que tanto sonhei em ouvi-la dizer para mim. — Há meses,
sabia? Eu não queria acreditar, porque achava que o amor não valesse a
pena. Com meus pais… você sabe que não tive o melhor exemplo de amor.
— Assinto lentamente, e ela ri em meio às lágrimas, que ainda molham sua
linda face. — Mas você, Ethan Scott, me mostrou que o amor vale a pena
sim. Que não machuca, na verdade, ele cura. Você foi a primeira pessoa que
amei, lindo, e tenho certeza que vai ser a última.
— Eu te amo tanto, Violet Woods — repito e dessa vez, sou eu que
rio em meio às lágrimas.
De felicidade.
Por ela retribuir o sentimento e por, caramba, ter me escolhido! Por
essa segunda chance.
— Beija, beija, beija! — O coro de vozes chega aos nossos ouvidos
ao mesmo tempo, e rimos.
Estou pronto para perguntar à Vi se posso fazer isso, com tanta
plateia, quando ela me surpreende e captura meus lábios com os seus.
Mais gritos.
Comemorações.
E tudo que importa é a garota que me beija de maneira apaixonada.
Quero viver nesse momento para todo o sempre.
Entretanto, a fala de Paxton, provavelmente falando com Cassie e
James, me faz rir contra a boca da minha Violet.
— Viu? Eu disse que Taylor Swift conquista o coração das gatas.
Quero contradizê-lo, mas foi exatamente isso que aconteceu.
Ele disse para eu escolher uma música da loira e sabia que Violet se
derreteria por mim quando eu cantasse.
Palavras dele, porém… rolou mesmo.
E como já dizia Taylor Swift, Violet Woods é mesmo a luz da minha
vida.
Você e eu e todos os nossos amigos
Eu não ligo para quanto nós gastamos
Baby, isso é para o que a noite serve
Eu sei que nada faz sentido
Por essa noite, vamos apenas fingir
Eu não quero parar, então me dê mais
Midnight Memories | One Direction

As dezenas de luzes dos edifícios de Los Angeles iluminam o quarto


de hotel de Paxton Miller.
A lua cheia brilha intensamente no céu escuro, coberto de estrelas.
E dentro do cômodo, meus amigos e eu sentamos em uma roda no
tapete, rindo à toa.
James está com as costas apoiadas na cama de casal, com o braço
em volta dos ombros de Cassie, enquanto ela ri de alguma palhaçada de
Pax, e o namorado leva a long neck aos lábios.
Paxton está deitado de lado, brincando com algumas cartas de
baralho, que arriscamos jogar mais cedo. Ele embaralha o jogo, e sua
cerveja descansa à sua frente, pela metade.
E eu estou jogada nos braços de Ethan Scott — meu namorado —,
enquanto ele apoia a perna na escrivaninha, e os braços me rodeiam. Seu
queixo está apoiado no meu ombro, e de vez em quando, ele deposita beijos
no meu ombro e bochecha.
Eu sorrio em todas as vezes que ele faz isso.
Não sei dizer, no entanto, se a cor vermelha das minhas bochechas, é
em razão dele ou dos coquetéis que Cassie e eu fizemos.
Amanhã à tarde é o grande dia dos meninos.
Um dia que pode mudar tudo.
Eles vão batalhar na batalha de bandas mais famosa de Los Angeles,
onde milhares de bandas, hoje em dia superfamosas, foram descobertas.
Se ganharem, um dos prêmios é contrato de um ano com uma das
maiores gravadoras da cidade dos anjos, podendo, claro, ser estendido no
futuro.
Pelo que contaram, todos que traçaram esse mesmo caminho,
tiveram não só o contrato renovado, como também fizeram muito sucesso
depois.
Estamos torcendo pra caralho por eles.
Vai ser o primeiro passo da caminhada sensacional que eles estão
destinados a fazer nessa carreira.
— Violet — Pax chama, e eu retorno minha atenção para a roda. —
Sua vez.
Ah, verdade.
Estava tão perdida em pensamentos, que não percebi que todos já
tinham ido.
Ou talvez, eu tenha bebido um pouco demais.
Os meninos estão pegando leve no álcool hoje, mas Cassie e eu...
não precisamos nos apresentar amanhã e concorrer ao primeiro lugar que
pode mudar nossas vidas.
— Eu nunca… — pondero, alternando meu olhar entre cada um e
recebendo um carinho gostoso do polegar de Ethan no meu pescoço. — Eu
nunca transei em algum lugar público.
Cassie e James bebem, trocando olhares carregados de tesão.
Pax, é claro, não fica de fora dessa.
Os únicos que saem ilesos somos Ethan e eu.
— Precisamos mudar isso em breve, lindo — sussurro, virando-me
um pouco de lado, e ele sorri.
— Com certeza, linda — responde, deixando um beijo caloroso no
meu pescoço.
Caramba.
Preciso dar para esse homem agora mesmo.
Desde o episódio da declaração em público na faculdade, há
algumas semanas, Ethan e eu não nos desgrudamos mais. Estamos naquela
fase inicial de namorado onde parecemos dois coelhos, transando o tempo
todo e não conseguindo viver sem o outro.
O que posso fazer, se meu namorado é um gostoso?
— Eu nunca fiz sexo oral na garagem do Ethan — Pax diz, e todos
nós arqueamos as sobrancelhas, surpresos com sua fala.
Ainda mais quando ele é o único a beber.
Quer dizer, eu acredito que ele seja o único até que, de soslaio, noto
Cassie e James bebendo também, enquanto meu namorado está entretido
demais com Paxton para notar.
Cassie me lança uma piscadela e leva o dedo indicador até os lábios,
em um gesto de silêncio e eu troco um sorrio com ela.
— Paxton, me diga que você está mentindo — Ethan murmura,
segurando o nariz em um movimento de pinça e encostando a cabeça no
móvel atrás de si.
— Queria estar, meu amigo, mas aconteceu — o loiro responde,
com o típico sorriso cafajeste estampado em seus lábios. — Foi há mais de
um ano, cara, relaxa.
— No sofá? — Cassie pergunta, curiosa.
— Eu estava sentado lá, Cassie. Mas ele estava de joelhos à minha
frente, sabe? — Ele assobia, com os olhos fixos no nada, parecendo lembrar
do momento. — Uma visão e tanto, se me permitem dizer.
Nós todos gargalhamos pela forma como ele conta sobre sua
aventura.
Apenas Ethan permanece de cara fechada, provavelmente pensando
em como vai desinfetar a porra do sofá quando voltarmos à cidade.
— Tenho certeza que ele limpou depois tudo, lindo — digo,
tentando acalmá-lo.
Ele ri e suspira, fazendo um gesto para que eu deixe o assunto de
lado.
Sua mão encontra um lar na minha coxa desnuda, e ele a aperta.
Talvez fosse um gesto de carinho.
Contudo, minha boceta não acha o mesmo.
Ela pulsa por Ethan Scott.
Porra, preciso que ele macete tudo dentro de mim o mais rápido
possível.
— Eu nunca fiz sexo a três — é James quem diz, voltando à
brincadeira.
A mão do meu namorado continua ali.
A outra, agora descansa em minha cintura, na pele exposta entre a
saia e o cropped.
Paxton é o primeiro a beber, alternando o olhar entre mim e Ethan.
Nós bebemos em seguida, minhas bochechas esquentando, e posso
apostar que a vermelhidão não é em razão da bebida agora.
O loiro nos lança uma piscadela.
James e Cassie nos observam, curiosos.
E eu torço para que eles não digam nada e que esqueçam isso, e…
— Aconteceu o que parece que aconteceu? — Cassie questiona, até
mesmo se ajeitando para esperar a resposta.
Merda.
Não é um segredo.
Não precisamos esconder de ninguém.
Estávamos com tesão, e aconteceu. Ninguém tem o que falar sobre
isso.
Entretanto, não imaginava que em algum momento, esse assunto
viria à tona.
— O que se faz entre quatro paredes, Cassie, não se espalha por aí
— Pax responde, rindo um pouco e adorando essa situação.
Ethan e eu não nos arrependemos do que fizemos a três, há alguns
meses.
Porém, não muda o fato de que é estranho falar sobre esse tópico
com mais pessoas próximas a nós, nossos amigos, por perto.
— Caralho… foi naquela festa em que vocês sumiram? Que Cassie
ficou maluca de preocupação, porque Vi não atendia o celular? — James
pergunta, ligando os pontos.
Nós três assentimos.
— Estou em choque. Surpresa, mas com certeza, não despontada —
minha amiga diz, e um sorriso se forma em seu rosto. — Você arrasou, Vi!
Imagina só, ser macetada por dois ao mesmo tempo.
Isso nos faz gargalhar.
Ela estende a mão, e fazemos um high-five, sem conter as
gargalhadas.
Menos James.
Ele não parece muito feliz com o comentário da namorada.
— Não precisa ficar bravinho, rockstar, você é tudo o que preciso —
ela garante ao vocalista, que só desmancha a cara feia quando ela deixa um
selinho em sua boca.
Ethan me segura pela nuca e vira meu rosto em sua direção, de
surpresa.
— Vamos para o quarto, linda? Quero descansar para amanhã.
E eu quero te dar até o amanhecer.
— Claro! — afirmo, pronta para ficar a sós com ele e poder venerar
seu corpo. — Galera, já vamos indo.
Aviso, e começamos a nos levantar, prontos para voltarmos à nossa
suíte no hotel.
— Espera, amiga! — Cassie chama, e eu paro, levando minha
atenção para ela. — Foi penetração dupla?
Não consigo responder, porque todos explodimos em gargalhadas,
mais uma vez.
E quando estou aqui, rodeada de amigos e me sentindo amada de
verdade, depois de muito tempo, posso dizer com certeza, que depois da
tempestade, vem o arco-íris.

Os meninos estão uma pilha de nervos.


Ainda mais, depois de vermos a The Dreamers se apresentar.
Eles… pegavam fogo.
Todos os integrantes estavam devidamente sincronizados. Os olhos
deles brilhavam de emoção de estarem no palco, com a possibilidade de
terem todo o futuro mudado para sempre. Eles cantavam e tocavam como se
fosse o último dia deles na terra. E não pareciam estar fazendo isso
pensando no público ou nos jurados, mas em si mesmos.
Foram ovacionados por mais de dois minutos, quando finalizaram as
três músicas.
E agora, que Cassie e eu acompanhamos os meninos no backstage,
faltando poucos minutos para eles entrarem no palco…, a situação não está
uma das melhores.
— Você vai arrasar lá em cima, rockstar, como sempre faz. — Ouço
Cassie dizer ao namorado, perto de nós. Ela está com um dos braços
circulando sua cintura, e a outra mão, ela usa para manter o rosto dele em
contato com o dela. — Você ainda precisa me dar orgulho de estar usando
essa blusa, viu?
Cassie está vestindo um cropped marrom com a frase “I kissed the
lead singer”[52] estampada em letras brancas.
Eu, por outro lado, estou com um branco sem alças e em preto, a
frase “Dibs on the drummer”[53] bem grande, para que todos saibam que
Ethan Scott tem dona, e ela é bem ciumenta.
Digamos que estamos bem animadas para hoje.
— Ei, olhe para mim — chamo meu namorado, segurando-o pelo
maxilar e tirando a atenção dele do palco, enquanto os funcionários
posicionam seus instrumentos. — Você vai arrasar lá. Cassie está certa.
Vocês sempre arrasam, hoje não vai ser diferente.
Ele suspira e tenta sorrir um pouco, entretanto, não me passa muita
confiança.
— Eu sei que somos bons. Mas, caramba, Vi, todos aqui são —
confessa, e meu coração se aperta com seu nervosismo.
— Vocês vão se sair bem, lindo. Tenho certeza disso — garanto,
tentando passar o quanto acredito nele e nos meninos.
Se eu pudesse passar a confiança por osmose, eu faria.
Quero falar muitas outras palavras bonitas com total significado,
para que ele se sinta um pouco mais confiante para subir no palco, porém,
somos interrompidos por um dos produtores do evento.
— The Chaotic Misfits, vocês são os próximos!
É agora.
O momento que pode mudar todo o caminho deles no ramo musical.
— Boa sorte, Ethan. Você vai ser o melhor lá — desejo, beijando
seus lábios rapidamente.
Cassie e eu nos apressamos para descer e ir para a beira do palco, a
fim de assistir o show na primeira fila e acompanhar tudo bem de perto.
As luzes se acendem no palco, os holofotes em cima de cada um dos
integrantes.
Nós, as namoradas, somos as que gritam mais alto, sem sombra de
dúvidas.
O primeiro acorde da guitarra de James soa pelas caixas de som.
Em seguida, Ethan entra com a bateria, e Paxton mergulha na
música com o baixo.
— So this is what you meant when you said that you were spent and
now it's time to build from the bottom of the pit: Right to the top, don't hold
back: Packing my bags and giving the academy a rain-check.[54]
Cada vocal de James leva a plateia à loucura.
O baixo de Paxton pulsa, moldando a base da melodia, e o carisma
do loiro é grande parte da forma como ele toca seu instrumento.
Ethan bate com precisão na sua bateria, com os olhos cravados nos
meus.
— I don't ever wanna let you down. I don't ever wanna leave this
town.Cause after all… this city never sleeps at night.[55]
O silêncio proposital entre os garotos nos faz notar os gritos
eufóricos dos fãs, admiradores e pessoas que os conheceram hoje, mas já os
amam.
— It's time to begin, isn't it? I get a little bit bigger. But then I'll
admit. I'm just the same as I was. Now don't you understand. That I'm never
changing who I am?[56]
Eles nunca vão mudar quem eles são.
Não precisam.
É exatamente assim que a The Chaotic Misfits vai conquistar a porra
do mundo inteiro, assim como Ethan Scott me conquistou.
É hora de começar, não é?
Eu fico um pouco maior
Mas então eu vou admitir
Eu sou exatamente o mesmo que eu era
Agora você não entende
Que eu nunca vou mudar quem eu sou?
It´s Time | Imagine Dragons

Ainda sinto a energia eletrizante pulsando pelo meu corpo inteiro.


Somente três músicas.
Escolhidas estrategicamente, para mostrar o nosso potencial e
também fazer o público e os jurados curtirem o som. Estávamos com planos
de demonstrar nosso talento, claro, mas também achamos uma excelente
ideia deixar claro que temos presença de palco. Que nossos espíritos são de
estrelas do rock.
E, porra, acho que conseguimos!
Cassie disse que os aplausos, assobios e gritos após o fim da nossa
apresentação, duraram exatos dois minutos e cinquenta e oito segundos.
Fomos os mais aplaudidos de toda a batalha de bandas.
Porra!
Enquanto aguardamos o resultado, com minha mão entrelaçada na
de Violet, que a aperta com força, James e Cassie se abraçando do meu lado
esquerdo, e Paxton com as mãos juntas e olhos fechados, eu sei que, não
importa como o dia de hoje termine, nós vamos ficar bem.
É claro que seria do caralho se ganhássemos, óbvio que sim.
Entretanto, depois de sentir toda a energia do público quando cantávamos as
músicas, vê-los cantando junto, pulando e gritando, aproveitando ao
máximo, tivemos mais uma confirmação de que estamos no caminho certo
da nossa carreira.
É só o início da The Chaotic Misfits.
Um pouco mais para o nosso lado, a The Dreamers, outra banda que
encantou a plateia, aguarda ansiosamente o resultado.
Não espero perder, porém, se eles levarem o prêmio da noite, será
por mérito.
A banda é fenomenal.
Dominic, o baterista, percebe que eu os observo, e um sorriso surge
em seus lábios. Retribuo o gesto. Ele então, vira-se para seus companheiros
de banda, diz algo, e todos voltam seus olhares para nós.
— Por que a outra banda está nos encarando? — Paxton questiona,
alternando o olhar entre nós e eles.
— O baterista deles sorriu para mim, e eu sorri para ele — digo,
narrando o que aconteceu há pouco e dando de ombros.
— Acha que eles podem ganhar? Eles são muito bons — James
pergunta, um pouco nervoso.
— Somos melhores — Pax responde, com o sorriso convencido em
seu rosto, mas… não sinto tanta confiança em suas palavras.
Nós sabemos que somos bons.
A questão é que podem haver pessoas melhores do que nós.
E estamos tão distraídos pensando no resultado da competição, que
só percebemos a aproximação dos integrantes da The Dreamers, quando é
tarde demais.
— Vocês são bons pra caralho — Senji, o baixista, elogia, e em
sincronia, nós cinco viramos nossos corpos na direção deles.
— Vocês também — é James quem confessa, e Paxton e eu
concordamos.
— Ficaria feliz de perder para vocês — Kaylee, a vocalista da
banda, com seus cabelos castanhos e olhos de cores diferentes, diz, com um
sorriso amigável.
— Relaxa, boneca — Pax diz, dando dois passos para perto da
garota e umedecendo os lábios. — Posso te consolar quando isso acontecer.
Violet ri baixinho ao meu lado, e eu reviro os meus olhos.
Paxton Miller está sempre dentro de campo, atacando, não importa
qual seja a situação.
— Quando isso acontecer? — Harper, o guitarrista com várias
tatuagens espalhadas pela extensão dos braços, repete.
Sem sorriso.
Com os braços cruzados.
Não deixo de notar que ele se aproxima um pouco mais da cantora,
em um gesto de… proteção. E quando a garota percebe, engole em seco e
se afasta.
— Gosto de ser otimista — meu amigo diz, dando de ombros, sem
tirar os olhos de Kaylee.
Harper quer responder, todos notamos isso.
Contudo, Kaylee fuzila-o com o olhar, e ele recua, desviando os
olhos da rodinha que formamos.
Ele não parece estar puto por Pax ter dito que vamos vencer. Pelo
menos, acredito que não.
O guitarrista tem uma postura protetora com a vocalista. E ela
parece não gostar nem um pouco disso.
— O que você acha que rola entre os dois? — sussurro no ouvido de
Violet, quando alguns produtores sobem no palco e começam a falar sobre o
evento, ainda longe de ser o momento do resultado.
— Eles se gostam, mas não sabem disso. Ou fingem não saber — Vi
deduz, com as sobrancelhas arqueadas em uma pergunta silenciosa.
— Tem razão. Ele gosta dela, mas não sei se ele mesmo sabe disso.
— Parece eu, quando fingia não estar apaixonada por você — minha
namorada brinca, e eu sorrio, deixando um beijo em seus lábios.
— E agora, você deixa claro para todo mundo que tenho dona —
provoco de volta, apontando com a cabeça para sua blusa.
Ela dá de ombros.
— Já estava na hora de eu mostrar ao mundo que Ethan Scott é meu.
Sorrio mais um pouco e circulo sua cintura, puxando-a para mim.
Todas as vezes em que ela diz que sou dela, sinto uma vontade
incontrolável de beijá-la.
Todavia, o que quero fazer com Vi… não gosto de plateia.
Ela é minha. Somente minha.
Violet e eu estamos tão imersos em nosso mundo, que não
prestamos mais atenção na conversa que rola entre James, Paxton e a The
Dreamers. Muito menos, notamos quando eles se afastam.
Só percebemos, porque Pax e James chamam nossa atenção.
— Combinamos de sair depois daqui — Paxton conta, e seus olhos
desviam para a vocalista da outra banda. — Vamos para um bar que parece
bom, aqui perto. Vocês topam? O casalzinho número um vai — diz, se
referindo a James e Cassie, que reviram os olhos.
— Vamos? — pergunto à Violet, que assente. — Vamos.
Paxton não tem a chance de fazer alguma piadinha sobre eu
questionar primeiro a minha namorada sobre os novos planos dessa noite,
porque o organizador principal do evento, junto aos jurados, surge no palco
e inicia seu discurso no microfone.
— Tivemos uma noite de performances espetaculares hoje — diz,
olhando para cada uma das bandas presentes na plateia. — Todas foram
excelentes, não temos dúvidas disso. Contudo, tiveram bandas que levaram
não só os jurados, mas também o público, à loucura. Podemos sentir a
energia, paixão e sintonia de vocês. Todos aqui nasceram para a música. As
habilidades que vocês carregam, galera… não há nada igual. Embora
tenhamos gostado de cada um aqui, precisamos fazer uma escolha. Duas de
vocês chamaram muito a nossa atenção. — Os olhos dele desviam
rapidamente para a The Chaotic Misfits e depois, para a The Dreamers.
Porra. — Sem mais delongas, os grandes campeões dessa batalha, que vão
ter a chance de assinar um contrato com a gravadora no próximo verão
são… — Todos nós estamos com as mãos entrelaçadas. Nervosos. Fecho
meus olhos, é demais para mim. Meu coração parece que vai sair do peito a
qualquer instante. — A The Chaotic Misfits!
Demoramos alguns milésimos de segundos para processar que é a
gente.
Nós ganhamos.
Somos os vencedores da batalha de bandas.
Caralho! Porra! Puta que pariu!
— NÓS GANHAMOS, PORRA! — Paxton é o primeiro a sair do
transe, gritando junto da galera e os aplausos.
— CARALHO! VENCEMOS! — James diz, gritando para que
todos possam ouvir.
— É NOSSO, PORRA! — falo, com um sorriso gigantesco nos
meus lábios.
Nós três nos entreolhamos.
Rindo à toa.
Felizes pra cacete.
Em um momento, estamos eufóricos, gritando e sorrindo, no outro,
estamos em um abraço em grupo.
— Eu amo vocês — murmuro, para que só eles possam ouvir, com
os braços enroscados nos deles.
— Eu também amo vocês, porra — Pax responde, batendo em
nossas costas.
— Eu também amo pra caralho vocês — James diz, por fim, e nos
abraçamos uma última vez, antes de subirmos ao palco.
Passo os braços pelos ombros de James, quando eles pedem para
posarmos para uma foto, na escada para subir. James passa o seu pelo de
Paxton, e o loiro faz o mesmo com nosso vocalista e guitarrista.
Sorrimos de orelha a orelha.
Meus olhos encontram os de Violet na primeira fila. Ela e Cassie
sorriem. Elas gritam. Apontam para as camisetas. Usam os celulares para
filmar e bater fotos nossas.
Eu te amo, digo somente mexendo os lábios, para a minha
namorada.
Eu também te amo, ela responde, da mesma forma.
Isso é só o início.
Tanto da The Chaotic Misfits, como do meu relacionamento com
Violet Woods.
Ainda há muito mais pela frente.

Precisamos ficar quase mais uma hora nos bastidores do evento,


para que os produtores e organizadores pudessem pegar nossos contatos e
informações, e assim, nas próximas semanas, entrarem em contato para
marcarmos uma reunião no escritório da gravadora em Los Angeles.
E como a cidade dos anjos fica a algumas boas horas de avião de
Schönilla, explicamos que precisamos saber com antecedência, para
podermos comprar passagens, pesquisar hotéis em conta e tudo mais.
Na verdade, Carmel by the Sea, a cidade onde Paxton e eu passamos
grande parte das nossas vidas e onde a família Miller ainda tem uma
residência, é cinco horas dirigindo daqui. Não é exatamente perto, porém,
economizaríamos com o hotel, o que seria muito bom.
Contudo, Paxton alegou que nunca mais coloca os pés naquela
cidade.
Nunca mais, frisou, quando tentamos argumentar.
O que quer que tenha acontecido com ela, não foi tão simples como
eu acreditava.
Foi quando veio nossa surpresa.
— Tudo será custeado pela gravadora, rapazes — um deles disse,
como se fosse óbvio, e pulou para o próximo tópico da conversa.
Ser famoso é assim?
Acho que posso me acostumar com essa vida.
Depois de muito papo e muitas explicações, fomos liberados.
Pegamos nossas garotas e em um carro de aplicativo de sete lugares,
contamos tudo que foi dito na pequena reunião, enquanto seguimos para o
bar, onde nossos novos… amigos, nos esperam.
Ainda não acredito que Paxton convenceu a banda de quem
ganhamos, a sair conosco.
O charme dele, às vezes me assusta.
— Prova esse coquetel de abacaxi — Violet diz, me tirando dos
pensamentos introspectivos, e estende o copo de vidro em minha direção.
Eu pego o canudo listrado branco e amarelo com a boca, sugando o líquido.
— Uma delícia, linda — elogio, depois de saborear a bebida.
— Não é? E nem parece ter álcool, de tão docinho! Já é meu terceiro
— conta, e eu arqueio as sobrancelhas. — Não me olhe assim! Você já está
na décima cerveja também.
Ops. Culpado.
— Vou parar de beber, então.
Ela pisca, com a testa franzida.
— Por quê?
— Como podemos cuidar um do outro, se estivermos bêbados? —
retruco o óbvio, e um sorriso suave surge em seus lábios.
— Eu amo você, já te disse isso hoje?
— Algumas vezes, mas adoro te ouvir dizer isso. — Minha
namorada ri e apoia a cabeça no meu ombro. — Também te amo, linda.
Alcanço minha garrafa de cerveja long neck na mesa de madeira e
levo à boca, terminando com a minha oitava, não décima, como ela disse.
Bem, acredito ser a oitava.
— Nosso voo é amanhã às dez horas — Kaylee responde à pergunta
de Paxton, quando volto a prestar atenção na conversa da mesa.
Eles estão sentados lado a lado. Um dos braços de Pax está no
encosto da cadeira dela, e noto, algumas vezes, que o olhar dele recai sobre
os lábios vermelhos da vocalista e volta para seus olhos em seguida.
Dominic e Senji estão conversando animadamente com James e
Cassie na outra ponta da mesa.
Harper, por outro lado, está sentado do meu outro lado. Ou seja, de
frente para a sua companheira de banda e o meu.
Ele bebe sua cerveja em silêncio.
A expressão nada feliz.
Os olhos fuzilam o casal à nossa frente.
— Posso te deixar no aeroporto, se você quiser fazer alguma coisa
depois daqui. A sós — Pax convida a garota, que sorri safada, parecendo
curtir a ideia.
Os dedos de Harper seguram a garrafa com força. Os nós brancos,
tamanha força que faz.
Talvez seja coisa da minha cabeça, mas juro ter visto Kaylee desviar
o olhar, por milésimos de segundos, para o guitarrista de sua banda.
Violet se inclina por cima de mim, cutucando Harper.
— O que foi? — fala, virando para nós, de uma maneira nada
amigável.
— Olha a forma como fala com ela — aviso, em um tom de ameaça.
Foda-se se ele é um covarde que não admite o que sente, não tem
passe livre para tratar Violet assim.
— Se você gosta dela, precisa falar. Ela não tem bola de cristal para
saber — Vi sugere ao cara, ignorando nossos comentários.
Ele engole em seco, e seu olhar suaviza um pouco.
Para logo depois, voltar ao normal, com sua expressão de poucos
amigos.
— Não sei do que você está falando — responde, voltando a encarar
um ponto qualquer no fim do bar, bebericando sua cerveja.
— Eles têm um longo caminho pela frente — Violet sussurra para
mim, quando volta a se ajeitar na cadeira.
— Com certeza.
Espero que Harper e Kaylee consigam resolver o que quer que haja
entre os dois e desfrutem da sensação maravilhosa que é amar alguém que
te ama na mesma intensidade.
Como Violet Woods e eu.
E eu não posso deixar você ir
A marca de suas mãos na minha alma
É como se seus olhos fossem licor
É como se seu corpo fosse ouro
Você está blefando
em todos os meus truques habituais
Então aqui está a verdade dos meus lábios vermelhos
Eu quero ser seu jogo final
End Game | Taylor Swift

O dia de hoje deveria ser feliz.


De comemorações.
Afinal, Ethan, James, Paxton e Cassie estão se formando na
Universidade de Schönilla.
James e Cassie conversam baixinho no gramado, a alguns passos de
nós. Os cachos que fiz nos cabelos castanhos de Cassie ainda estão intactos.
A cor azul da beca caiu perfeitamente com a maquiagem que fizemos antes
de sair. James acaricia o pulso da namorada, tentando confortá-la, enquanto
ela digita freneticamente no celular.
Todos estamos morrendo de preocupação.
Ele prometeu que estaria aqui.
E faltam apenas dez minutos para a cerimônia começar.
— Alguma coisa aí? — Ethan pergunta, voltando para o meu lado
com o celular em mãos.
— Nada — respondo, mostrando a tela do meu aparelho, com
minhas mensagens não respondidas.
— Ele disse que viria, porra. Como não fomos atrás dele para ter
certeza disso?
— Lindo… não é sua culpa — garanto, tocando seu rosto com
cuidado. — Ele está lidando com a situação como consegue. Deve ser
difícil para ele agora. Só precisamos dar espaço para ele.
— Mais espaço? — ele retruca, soltando uma risada seca. — Vi, se
dermos mais espaço, Paxton vai morrer. Ele vai injetar alguma droga no
corpo, beber até perder os sentidos e causar um acidente… porra. Não
podemos dar mais espaço.
Há dois meses, mais ou menos, a avó de Paxton faleceu.
Ela já estava há algumas semanas internada no hospital, quando isso
aconteceu. Pax não saía do lado dela. Ela era a única família que lhe
restava, depois que seus pais morreram quando era apenas uma criança. Nós
sabíamos que isso aconteceria a qualquer momento, ela estava muito, muito
mal. O único que se recusava a acreditar — e estando no lugar dele, eu
também estaria assim —, era o nosso amigo. Então, quando o fatídico dia
chegou…
A morte dela acabou com Paxton Miller.
Todos nós fomos ao enterro e percebemos algo errado ali mesmo.
Contudo, decidimos dar um espaço ao nosso amigo.
Afinal, cada um, lida com o luto de forma diferente.
Paxton aparecia sóbrio nos ensaios, porém, não falava direito com
nenhum dos meninos. Quando terminavam, ele já abria seu cantil de bolsa
com algum destilado barato — e não porque ele não tinha dinheiro para
comprar uma boa bebida, mas sim porque os de providência duvidosa são
aqueles que te deixam bêbado mais rápido — e acendia o cigarro.
Algumas vezes, apenas com tabaco; outras, com maconha.
Seus fins de semana são em festas.
Ele só marcou presença nas aulas da faculdade poucas vezes, o
suficiente para conseguir se formar. E isso, apenas porque James e Ethan
puxaram sua orelha e disseram que a avó não gostaria de ver o neto não
conquistar um diploma.
Então, quando perguntamos se ele viria hoje, acreditamos em sua
confirmação.
— Talvez, ele só tenha dormido demais — sugiro, mesmo não
acreditando nas minhas próprias palavras.
— Só se tiver desmaiado de tanta bebida ou drogas no canto de
alguma festa — Ethan retruca, um pouco grosseiro, e eu arqueio as
sobrancelhas. — Desculpa, Vi, desculpa. Não quis ser rude, eu só… estou
preocupado com ele.
— Eu entendo, lindo. Também estou preocupada com ele.
Todos estamos.
Entretanto, quando Pax não quer ser encontrado… ele consegue se
esconder bem.
— Ethan? — James chama, se aproximando, com Cassie em seu
encalço e as mãos entrelaçadas. — Estão nos chamando para subir.
Meu namorado suspira, triste de ter que deixar de lado essa situação
por enquanto.
— Vai — digo, apontando com a cabeça para as primeiras filas da
cerimônia, onde todos os alunos formandos se reúnem. — Eu vou continuar
ligando e mandando mensagens. Se qualquer coisa mudar, eu aviso.
Eles assentem.
As famílias deles estão aqui. Eles não podem ir embora, à procura
de Paxton, e decepcioná-los. Já ligamos para as delegacias e hospitais de
Schönilla, para confirmar se o baixista da The Chaotic Misfits estava por lá,
e não, ele não está.
É menos pior, certo?
Quer dizer que ele provavelmente perdeu a hora, e está tudo bem.
— Obrigado, Vi. Te amo — Ethan declara, beijando minha boca
uma última vez, antes de seguir para onde deve.
— Também te amo — respondo, assim que nos afastamos.
Eles vão para as primeiras fileiras de cadeiras, e eu sigo para o meu
lugar, ao lado da família de Ethan.
Chegamos na hora certa.
O reitor logo começa seu discurso de fim de semestre e formatura.
Sinceramente, não consigo prestar atenção em nada do que ele diz.
Meus olhos estão cravados em Ethan Scott.
No meu namorado.
No amor da minha vida.
Naquela pessoa com quem vou passar todos os dias, para sempre.
Ele é meu, eu sou dele.
E finalmente, posso afirmar com todas as letras, que estou feliz.
Pra caramba.
Tanto amorosamente, como em outras áreas da vida.
Academicamente, continuarei estudando Ciência Política, para fazer
Direito depois. Minhas motivações não são exatamente as mesmas, já que a
senhora Ines Woods está sã e salva em Mount Airy, com o ex-marido —
porque eles se divorciaram depois da prisão — a quilômetros de distância.
Todavia, eu ainda desejo ajudar as pessoas que precisam juridicamente. Há
muitas outras mulheres em situações parecidas com a da minha mãe, ou até
piores, e eu quero fazer a diferença na vida delas.
Em relação à minha família… tudo está como deveria estar. Mamãe
está bem. Depois de tanto tempo, está vivendo a vida que merece. Visito-a
quase todos os fins de semana, quando consigo. E quando não, ela vem para
cá. Está encontrando novos amigos e hobbies.
Ela está se encontrando.
E eu estou orgulhosa para caramba de toda sua força.
Eu tenho amigos agora. Dá para acreditar? Uma melhor amiga!
Cassie e eu fortalecemos nossos laços cada dia mais. Ela me viu quando
ninguém nunca tinha feito isso. Ela estendeu a mão para mim. Ela foi
essencial para que eu conseguisse passar por todos os problemas da minha
vida.
Quando eu era mais nova, imaginava como seria ter uma melhor
amiga.
Agora, posso dizer que é muito melhor do que já imaginei.
O aviso de nova mensagem no meu celular me desperta da minha
imaginação fértil. Desbloqueio o aparelho e me surpreendo com quem é.

Paxton Miller: bom dia, linda florzinha lilás. Estou bem. Para o
lamento de vocês, não vou marcar presença na cerimônia, porque dormi
demais. Saí para curtir ontem à noite e perdi a hora essa manhã. Espero
que meus queridos amigos aproveitem esse dia. Eles merecem. Pode passar
o recado? Vou voltar a dormir agora. Um grande abraço e um beijo
gostoso (em sua bochecha, respeito as casadas) para você.
Ufa.
Ele está bem.
Procuro o olhar dos meus amigos, que já estão em cima do palco
nesse momento, esperando para buscarem o diploma.
Felizmente, eles acenam de volta para mim, e eu aponto para o
celular primeiro.
Depois, mexo os lábios.
Ele está bem, digo, e eles suspiram, aliviados. Está dormindo,
complemento e faço uma demonstração de alguém dormindo.
Eles riem, mas assentem, um pouco mais relaxados pelo amigo estar
bem.
Tiro foto de cada um quando são entregues os canudos, assim como
os familiares.
Estou tão, tão feliz por eles.
Assim que é a vez de Ethan pegar o seu, não consigo controlar, e
algumas lágrimas deslizam pelas minhas bochechas.
Meu namorado, agora é um bacharel.
— GOSTOSO! — grito, aplaudindo de pé seu momento. — EU TE
AMO!
Ele sorri para mim.
Eu sorrio de volta.
Logo que ele é liberado, anda a passos apressados na minha direção,
e eu faço o mesmo, indo até ele.
Nossos corpos colidem.
Ele circula minha cintura e me tira do chão. Eu me seguro em seus
ombros e rio, quando ele nos roda, digno de um filme de romance.
— Eu amo você — murmura contra os meus lábios e me beija.
É claro que o beijo de volta.
Um longo selinho.
Me afasto, apenas para dizer as três palavrinhas que mais tenho dito
nos últimos tempos:
— Eu também te amo, Ethan Scott.
Você e eu
Era para ser ou não era?
Nossos destinos estavam entrelaçados
Assim como nossas bocas, nossos corpos, nossas almas
Eu soube desde o primeiro dia que você seria minha
Quando colidimos caoticamente
Tão caótica, tão perfeita, tão minha
Você é a única flor do meu jardim, linda
Chaotic Collision | The Chaotic Misfits

Oito anos depois


Minhas baquetas parecem voar pelo ar.
Meu som funde-se perfeitamente com o da guitarra de James
Crawford e a ressonância do baixo de Paxton Miller.
Criamos uma sinfonia do caralho, juntos, e parece que isso não vai
mudar, não importa quantos anos se passem.
Cada batida da bateria está alinhada de forma perfeita com meu
batimento cardíaco.
Eu respiro música.
Meu corpo inteiro é feito de notas musicais.
Continuo tocando, como se minhas mãos tivessem criado uma
coreografia. Encontro os olhos de Violet Woods nos bastidores, sorrindo
para mim, e eu pisco para minha mulher.
E quando volto a encarar o público gigantesco do show de hoje, sei
que eles veem a mais pura e genuína paixão nas minhas írises.
Com o último acorde da guitarra de James, finalizamos mais um
show da nossa primeira turnê mundial.
Estamos tocando em Paris, caralho!
Como isso é possível? Como chegamos tão longe?
Estamos do outro lado do mundo, e nossa música cativa a todos da
mesma maneira.
Esse é o poder da arte.
Unir várias pessoas diferentes com um propósito igual.
É por isso que eu amo fazer o que eu faço.
— Obrigado pela noite, pessoal — o vocalista diz no microfone, e
uma explosão de gritos soa na plateia. — Vocês foram um dos melhores
públicos dessa turnê, sem sombra de dúvidas! — Mais gritos e falas
desconexas dos nossos fãs.
Fãs.
Porra, todos aqui são nossos fãs! Ainda não me acostumei a ser tão
amado assim por desconhecidos, pelo mundo inteiro.
— Vocês são do caralho, Paris! — Paxton grita no seu microfone,
jogando os fios loiros suados para trás. — Obrigado por essa noite
memorável!
— Não estaríamos aqui sem o carinho, respeito e admiração de
vocês — é minha vez de falar, e eu respiro fundo, secando um pouco do
suor que escorre pela minha testa. — Espero que vocês tenham tido uma
noite do caralho, assim como nós.
Mais gritos.
Mais aplausos.
Pedidos de músicas que não cantamos, elogios, assobios… de tudo
um pouco.
As luzes do palco se apagam, e é a nossa deixa.
Largamos nossos instrumentos nos suportes, e finalmente consigo
tentar regular minha respiração. A primeira coisa que fazemos quando
saímos do palco, é tomar uma garrafa inteira de água gelada.
Depois, encontramos o que mais importa: nossas garotas.
— Você arrasou lá em cima, amor! — Sou recebido por Violet Scott
sorrindo para mim e me puxando para um abraço.
Sim, Violet Scott.
Minha aliança descansa perfeitamente em seu dedo anelar.
Um simples diamante que mostra a todos os outros advogados do
seu escritório, que ela é minha.
Assim como faço questão de mostrar a minha para todos os fãs e
pessoas que trabalham conosco.
Sou totalmente de Violet.
— Curtiu o show de hoje? — pergunto, depois de deixar um beijo
demorado em sua boca.
Anos depois, e seu beijo ainda é meu sabor favorito.
— Eu amei, lindo. Como sempre. Principalmente quando você canta
a música que fez para mim.
Com a ajuda de Paxton e James, escrevi uma música para minha
mulher há alguns anos, um pouco antes do nosso casamento. A
apresentamos primeiramente no nosso casório e depois, em todos os nossos
shows, ela é uma das músicas fixas que são apresentadas.
É a única canção em que faço questão de ser o vocalista principal,
roubando um pouco o espaço de James.
Não há outra pessoa, senão eu, que seja ideal para cantá-la.
Passo a mão pela barriga saliente de Violet e me agacho, deixando
um beijo ali. Ela está com um top preto e calças de cintura baixa, deixando
sua barriga de quatro meses bem à mostra.
— E vocês, amores do papai? Gostaram do show?
De acordo com Violet, é importante que falemos com os bebês
durante a gravidez, para que eles já conheçam nossa voz desde o início.
Achei meio maluquice na primeira vez que fiz isso.
Contudo, desde então, não passo um dia sem falar com meus filhos.
— A Wendy gostou demais. Não parava de se mexer durante todo o
show — Violet conta, falando da nossa menininha. Com o nome inspirado
na Wendy, de Peter Pan, nossa garotinha é a mais animada entre os dois. —
O Flynn parecia estar dormindo. Só acordou na música que o papai cantou,
acredita?
Deixei nas mãos da minha esposa nomear nossas crianças, e não foi
uma surpresa quando ela apareceu com dois nomes inspirados em filmes
clássicos da Disney.
Nosso garotinho é uma homenagem a um dos protagonistas
masculinos favoritos de Violet, o Flynn Rider, de Rapunzel.
— Não vejo a hora de levar vocês ao palco comigo — murmuro
contra a barriga da minha mulher e deixo mais um beijo ali, antes de me
levantar.
Minha mão, em um gesto protetor, continua ali.
— Certeza que Wendy vai puxar de você a paixão pela música.
— E Flynn vai ser mais como você. Mais pé no chão.
Violet passa os braços pelos meus ombros, entrelaçando as mãos na
parte de trás da minha nuca, e eu movo minhas mãos para o contorno da sua
bunda.
Seus peitos ainda maiores se espremem contra minha frente.
Ainda mais deliciosa grávida.
— Eu amo você, lindo. E toda família que estamos construindo —
minha esposa declara, e meu coração se aquece com suas palavras.
— Eu também te amo, linda. Amo nossa família. Nossa vida. Tudo.
Selo nossos lábios em um beijo.
Nosso ritmo é o mesmo.
Nossa sintonia.
Se a música é minha vida, Violet Scott é o ar que eu respiro.
E não posso mais viver sem eles.
Nunca é fácil agradecer no fim de cada livro.
Achei que ficaria mais fácil com o tempo, mas não, não fica.
Violet Woods e Ethan Scott: obrigada por terem sussurrado a
história de amor de vocês minutos antes de eu cair no sono, certa noite.
Vocês foram uma surpresa total. Imaginava que o amor da vida dele fosse
Jess Flores. Contudo, assim que sentei em frente ao computador, para dar a
vida ao meu baterista, ele me contou o que não acreditei de primeira: não,
não é ela quem eu vou amar pelo resto da vida. Logo depois, Violet surgiu,
e eu finalmente acreditei no meu garoto. Então, é claro que o primeiro
agradecimento é para eles.
Obrigada por confiarem em mim para contar a história de vocês.
Larissa, minha ruiva, você tem que ser a segunda. Afinal, se não
fosse por ti, minha amiga, Ethan Scott não contaria a história dele tão cedo.
Obrigada não só por me incentivar a escrever toda a trilogia, mas por nunca
soltar minha mão. Você não é somente minha assessora, mas também uma
grande amiga, que quero levar para toda a vida. Obrigada por tudo. Amo
você.
Minha revisora, Ste! Obrigada por sempre estar comigo. Desde o
trabalho impecável de revisar meus filhos, até como uma amiga
excepcional. Não te troco por nada! Você é incrível. Jupi: sou grata demais
pelo mundo literário ter te colocado na minha vida. Sou muito mais feliz
com sua amizade! E, obviamente, não há alguém melhor para deixar meus
livros impecáveis antes de virem ao mundo, senão você. Te amo! Não
poderia deixar de citar minha queridíssima, April Jones! Outro presente
maravilhoso que recebi desse mundo: obrigada por me deixar usar a The
Dreamers aqui. Tenho certeza que nossos personagens vão levar essa breve
amizade ao longo da vida, assim como quero levar a sua. E Annie, sempre
te admirei, antes mesmo de sermos próximas. Como autora e como pessoa.
Hoje, tendo sua amizade e um conforto em meio a esse mundo caótico dos
livros, posso afirmar que amo você e tenho orgulho de te ter, não só como
amiga, mas também como uma das minhas autoras favoritas. Isa, apesar dos
meus surtos, você não desistiu de mim, nem deles. Obrigada por todo
carinho, como amiga, como escritora e como leitora sensível de Ethan e
Violet. E claro: minhas betas fantásticas, que me ajudam a moldar o livro da
melhor forma possível. Vocês são incríveis, e não sei mais o que é publicar,
sem passar por cada uma de vocês!
Acho que ninguém aguenta mais eu falar dela, mas é sempre
necessário: Nat, já te disse inúmeras vezes o quanto te amo e o quanto amo
a amizade que construímos ao longo desses anos. Quero te levar para
sempre. Assim como te quero lendo meus filhos também. Isa, esse livro é
para você. Para sua Brooke e seu Kai. Como eu disse, tenho certeza que
eles amariam a The Chaotic Misfits, tanto quanto amo você. Maria, James e
Cassie foram para você. Ethan e Violet também. Todos são. Espero que essa
trilogia torne-se a sua favorita. Vanessinha, minha fã número 1 desde o
início: continue lendo minhas histórias, porque eu não estaria aqui se não
fosse por você. Por Jasilla. Te amo.
Um agradecimento mais do que especial à minha família, que me
apoia desde o início e vai ser até o fim.
Para todos os fãs de The Chaotic Misfits: obrigada por todo carinho.
Eles amam vocês.
E voltem em breve, com o último livro da trilogia, do nosso amado
Paxton Miller.
Até lá.
Com amor,
Cami.
Duologia Sorte
Trevo de 4 Folhas
7 Anos de Azar

Trilogia Caos
Paixão Caotica
Colisão Caótica

Livros solos
Corações de Gelo
Falsa Vingança
Cicatrizes de Verão

Contos e novelas
Amor à Primeira Rosa
Papel, Abóboras e Amor
NOTAS DA AUTORA
CAOS
PLAYLIST
THE CHAOTIC MISFITS
ILUSTRAÇÃO
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34
35
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
MAIS DO CAMIVERSO

[1]
Jornal acadêmico
[2]
Universidade fictícia criada pela autora
[3]
Cidade na Carolina do Norte
[4]
Tradução: "eu sou louca por homens com delineado".
[5]
Modelo de guitarra clássico
[6]
Tradução: carvão faz começar e me faz gostar às vezes
[7]
Tradução: olhe para mim, para as rainhas de todo o mundo
[8]
Tradução: você pode quebrar às vezes?
[9]
Modelo de baixo famoso entre baixistas
[10]
Modelo de bateria famoso entre bateristas
[11]
Técnica japonesa para criar pequenos bonecos feitos de crochê ou tricô
[12]
Vadias. Garotas sexys sob estresse tremendo.
[13]
Casa noturna criada pela autora
[14]
Universidade de Schönilla, criada pela autora.
[15]
Equipe esportiva de futebol americano com sede em Charlotte, Carolina do Norte.
[16]
Equipe esportiva de futebol americano de Nova Orleans.
[17]
Filme de animação musical da Disney.
[18]
Do inglês, tradução para "prazer culposo”.
[19]
Escritor francês conhecido por suas obras de ficção científica e aventura.
[20]
Alexia Jenkins, personagem de Trevo de 4 Folhas e 7 anos de Azar, livros da autora, e esposa de
Charles Brown, irmão mais velho de Cassie.
[21]
Filme de animação da Disney.
[22]
Dispositivo eletrônico para vaporizar líquidos, geralmente com nicotina, aromatizantes e outras
substâncias.
[23]
Traduzido do inglês: "Não só sou divertida, mas também tenho peitos legais".
[24]
Série de televisão.
[25]
Eleanor Collins, personagem de Trevo de 4 folhas.
[26]
Banda fictícia da duologia da autora April Jones.
[27]
Hospital em Mount Airy, Carolina do Norte.
[28]
Traduzido do inglês "Eu não pedi para ser perfeita".
[29]
Personagem do livro "Falsa Vingança" da autora.
[30]
Personagens do livro 7 Anos de Azar, da autora.
[31]
Franquia de filmes de live-action e animação.
[32]
Refere-se à combinação harmoniosa de sons, palavras ou frases, criando uma sensação agradável
aos ouvidos.
[33]
Refere-se à uma combinação desarmônica de sons, palavras ou frases, que cria um efeito
desagradável aos ouvidos.
[34]
Traduzido do inglês: "Pare de me copiar, você nem está fazendo certo".
[35]
Filme de animação da Walt Disney Company.
[36]
Livro de aventura e ficção científica do autor Julio Verne.
[37]
Personagem do filme “A Nova Onda do Imperador” da Disney.
[38]
Personagem do livro Amor à Primeira Rosa, da autora.
[39]
Tambor cilíndrico e de grande dimensão que fica no centro, no chão, da bateria.
[40]
Groupie é uma pessoa que busca intimidade emocional e/ou sexual com um músico.
[41]
Capital do estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.
[42]
Filme de animação sobre um rato chamado Remy que tem uma paixão pela culinária.
[43]
Tradução: eu amo fazer garotos chorarem.
[44]
Tradução: “meu amor era tão cruel quanto as cidades em que vivi.”
[45]
Tradução: “Todo mundo parece pior na luz. Tem muitas linhas imperdoáveis que eu atravessei.
Eu vou te dizer a verdade, mas nunca adeus.”
[46]
Fones de ouvido usados por músicos no palco para conseguirem ouvir a si mesmos e ao restante
da banda de maneira clara.
[47]
Tradução: “Eu não quero olhar para nada mais agora que te vi. Eu não quero pensar em nada
mais agora que eu pensei em você. Eu tenho dormido tanto tempo em uma noite escura de 20 anos. E
agora tudo que vejo é a luz do dia, eu só vejo a luz do dia.”
[48]
Tradução: “A sorte do sorteio só atrai os azarados. E então eu me tornei o alvo da piada. Eu feri
os bons e confiei nos maus. Limpando o ar, respirei a fumaça. Talvez você tenha corrido com os
lobos e se recusado a se acalmar. Talvez eu tenha saído furioso de todos os cômodos desta cidade.
Jogamos fora nossas capas e adagas porque já é de manhã. Está mais claro agora, agora.”
[49]
Tradução: E ainda posso ver tudo. Tudo de você, tudo de mim. Uma vez eu acreditei que o amor
seria. Mas é dourado. E ainda posso ver tudo. Indo e voltando de Nova York. Uma vez eu acreditei
que o amor seria. Mas é dourado. Como a luz do dia, como a luz do dia. Como a luz do dia, luz do
dia.”
[50]
Tradução: “Não quero olhar para mais nada agora que te vi. Não quero pensar em mais nada
agora que pensei em você. Eu tenho dormido tanto tempo em uma noite escura de 20 anos. E agora
vejo a luz do dia, só vejo a luz do dia.”
[51]
Tradução: “Como a luz do dia. É dourado como a luz do dia. Você tem que entrar na luz do dia e
deixá-la ir. Apenas deixe ir, deixe ir.”

[52]
Tradução: “Eu beijo o cantor principal”.
[53]
Tradução: “Direitos sobre o baterista”.
[54]
Tradução: “Então foi isso que você quis dizer quando disse que estava exausto e agora é hora de
construir do fundo do poço. Direto ao topo, não se contenha: Arrumando minhas malas e dando uma
checada na academia.”
[55]
Tradução: Eu nunca quero te decepcionar. Eu nunca quero sair desta cidade. Porque afinal…esta
cidade nunca dorme à noite.”
[56]
Tradução: “É hora de começar, não é? Eu fico um pouco maior. Mas então eu vou admitir. Eu sou
exatamente o mesmo que eu era. Agora você não entende. Que eu nunca vou mudar quem eu sou?”

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