Colisão Caótica - Camila Carneiro - Nodrm
Colisão Caótica - Camila Carneiro - Nodrm
Colisão Caótica - Camila Carneiro - Nodrm
TRILOGIA | DOIS
Julgando pela diferença de seis horas entre nós, já passa das quatro
da tarde por lá.
Não obtenho resposta de imediato, o que é algo com que estou
aprendendo a lidar desde que ela viajou.
Quando ela estava aqui — quando estávamos juntos —, nossas
conversas duravam horas e mais horas, até nos encontrarmos pessoalmente
de novo.
Agora… não mais.
Mal conversamos, para dizer a verdade. São papos curtos, apenas
para saber como o outro está. Jess parece querer cortar um pouco dessa
intimidade, e eu respeito. Sei mais da vida dela pelas redes sociais, do que
pelo que ela me conta.
É estranho estar me acostumando com isso.
É estranho vê-la se tornar uma estranha para mim.
Só mais cinco meses, e vocês poderão viver felizes para sempre.
É isso que vem me mantendo vivo nessas semanas.
Suspiro, um pouco frustrado com toda essa situação.
Bem, ao menos eu tenho a The Chaotic Misfits para me distrair.
Minha banda.
Composta por mim na bateria, James Crawford na guitarra e
microfone, e Paxton Miller no baixo, nós estamos cada vez mais nos
tornando conhecidos pela cidade. Nossa presença é confirmada todo fim de
semana em algum bar ou festa diferente. Ensaiamos quase todos os dias na
garagem da casa dos meus pais.
É… é foda pra caramba poder fazer música com eles.
Poder crescer ao lado desses dois garotos que se tornaram uma
família para mim nesses últimos anos é do caralho.
Tudo começou quando Jess passou a dividir apartamento com
Cassie Brown, na época, melhor amiga do nosso cantor e guitarrista — hoje
em dia, namorada —, e James e eu fomos apresentados. Conversa vai,
conversa vem, descobrimos que compartilhávamos a paixão pela música.
Logo depois, lembrei de Pax, um grande amigo com quem estudei por
alguns anos no colégio e que era excepcional no baixo.
Não demorou muito para que a The Chaotic Misfits nascesse.
E com certeza, não vai demorar para alcançarmos o sucesso.
— Preciso que você me esconda. — É a voz de Paxton que me tira
dos devaneios pelo campus da universidade.
Olho para o lado e encontro um dos meus melhores amigos,
pendurado em um dos meus braços, tentando… se esconder de alguém.
Seus cabelos loiros e um pouco queimados de sol, por conta do verão, estão
bagunçados, como se não tivesse os penteado antes de sair de casa. Os
olhos azuis cristalinos encaram qualquer ponto do jardim, menos seu lado
direito. O moletom azul marinho está um pouco sujo de bituca de cigarro na
manga, e eu preciso me segurar para não revirar os olhos.
Não gosto dele fumando por aí.
Não que minha opinião importe.
Pax faz o que ele quer, quando quer.
Deve ser por isso que sempre está quebrando corações por toda
faculdade.
— Quem você iludiu dessa vez? — pergunto, já imaginando que
seja disso que se trata.
Bobo como é, ele leva a mão livre ao seu peito, e uma expressão de
espanto toma conta do seu rosto.
— Você pensa tão mal de mim assim?
Abro um sorriso desacreditado.
— Vai dizer que agora você que foi o iludido?
É a vez dele de sorrir, de forma sacana.
— Isso não vai acontecer nunca mais, meu amigo.
A última vez, mesmo que há alguns anos, e que eu não saiba da
história completa, ainda está marcada no coração dele.
— De quem estamos fugindo? — indago, quando ele começa a
apressar o passo, me fazendo imitá-lo, para não cair.
— Um cara do time de natação — ele pausa a explicação para olhar
rapidamente para nossas costas e suspira aliviado quando não vê ninguém.
— Transei com ele na última semana de férias, disse que ia ligar, não fiz
isso, e você já sabe o resto.
É claro que sei.
Paxton não fica com a mesma pessoa mais do que algumas vezes.
É a regra dele para sexo.
Algo que eu, Ethan Scott, nunca conseguiria fazer.
— Você vai se tornar gente em algum momento? — pergunto na
brincadeira, e mais uma vez, o sorriso de quem não vale nada aparece em
seus lábios.
— Você está precisando de algumas aulas na escola Paxton Miller
de relacionamentos, agora que está solteiro. — Estou pronto para corrigi-lo,
porém, ele é mais rápido. — Por tempo determinado, já sei. Já sei!
Odeio me referir a mim mesmo como solteiro.
— Ainda assim, você não pode entrar em celibato até Jess voltar.
Aposto que ela está se divertindo em terras espanholas — alfineta, e eu me
controlo para não dar um murro na cara do meu melhor amigo.
Não quero imaginar minha garota se envolvendo com qualquer cara
que não seja eu, muito obrigado.
Mesmo que haja grandes chances de isso acontecer por lá, eu prefiro
não ficar a par da vida sexual dela, quando não é comigo.
De qualquer forma, vamos superar tudo isso quando ela voltar.
— James esperou vinte anos por Cassie. Por que não posso esperar
seis meses por Jess?
— O que tem eu? — Meu outro melhor amigo, e último integrante
da The Chaotic Misfits, aparece de repente pelo nosso caminho e passa a
andar do meu outro lado.
— Ethan estava relembrando que você esperou que Cassie tirasse
sua virgindade — Paxton responde, alcançando o bolso de sua calça
enquanto fala.
— E valeu a pena — diz, piscando um dos olhos para nós.
Não foi por falta de opção que ele esperou pela melhor amiga —
garota por quem ele é apaixonado há mais de dez anos —, já que com os
cabelos escuros, olhos verdes hipnotizantes e a jaqueta de couro por cima
da pele branca, ele também é um colírio da Universidade de Schönilla[2].
— Viu? Posso segurar meu pau por alguns meses, Pax.
O loiro revira os olhos, acendendo o cigarro.
Eu nem gasto minha energia discutindo com ele o quanto isso é ruim
para sua saúde.
Já fiz isso demais, e não chegamos em lugar nenhum.
— Só porque você pode, meu amigo, não quer dizer que deve —
fala, tragando a droga lícita entre os dedos.
No entanto, eu quero.
É isso que ele não entende.
— Deixa o moleque em paz, Pax — James me defende, desferindo
um tapa de leve na nuca do nosso amigo.
— Obrigado!
— Vocês são uns chatos — reclama, e eu troco um olhar com James
com a provocação. — Como fui arrumar dois amigos amarrados a mulheres
nos nossos anos de faculdade, onde temos uma banda aclamada por todos?
Devo ter jogado pedra na cruz!
James e eu rimos do drama de Paxton.
— Você curte por nós dois, Pax, pode ter certeza disso — o
guitarrista e vocalista da The Chaotic Misfits relembra, e isso faz com o que
o sorriso sacana característico do loiro apareça em seu rosto.
— O que me lembra que… vamos tocar na boate Lust daqui a duas
semanas, para comemorar a vitória dos caras do basquete. Porra, finalmente
uma festa de verdade nessa merda!
— Não acham meio estranho já ter uma festa programada, mesmo
sem saber se eles vão ganhar? — questiono, um pouco intrigado com isso.
— Claro que não! Se ganharem, vamos comemorar. Se perderem,
será uma festa para alegrar os ânimos após derrota — é claro, Paxton quem
responde.
— Por incrível que pareça, isso faz sentido — James concorda, e eu
solto uma risada.
Concordarmos com Pax não é algo que acontece sempre.
— Estou sempre certo, rapazes. E como alguém que não erra,
anotem o que vou dizer: essa festa vai ser do caralho!
Não sei se estou tão animado assim para a minha primeira festa sem
Jess, no entanto, com certeza estou para estar em cima do palco novamente
com meus amigos para o primeiro show do semestre.
Vai ser do caralho mesmo!
Ninguém disse que mudar iria ser tão cansativo
Um pé no freio porque já vem me deixando enjoada
Como você pôde me culpar?
Crescer é tão caótico
chaotic | Tate McRae
Sei que ela não fez isso de maneira proposital, porque não é assim
que Ines Woods é.
Todavia, Winston Woods é assim. Na verdade, muito pior, na grande
parte das vezes.
Não me surpreenderia descobrir que ele arranjou um compromisso
logo depois da missa, para levar mamãe e fazê-la se atrasar.
Deus, se você realmente existe, proteja mamãe de todo mal e faça
alguma razão entrar na cabeça teimosa dela, para que ela venha morar
comigo em outra cidade, bem longe de Mount Airy.
Queria que você estivesse aqui comigo, é o que não escrevo, mas
desejo com todas as forças.
Sei que preciso estar aqui para tirá-la da situação péssima em que se
encontra, porém, não diminui a culpa que sinto por tê-la deixado sozinha.
Só alguns anos, Violet, e você poderá dar uma vida melhor à sua
mãe.
Só alguns anos, é o que repito até pegar no sono na primeira noite
em Schönilla.
Mas você já me faz sentir alguma coisa
Agora, se eu conseguisse descobrir
Eu te levaria de volta para minha casa
Meddle About | Chase Atlantic
Alguns fios que se soltaram do rabo de cavalo caem pelo meu rosto,
e eu assopro-os para longe, mantendo meus olhos no coquetel de morango
que estou preparando para uma menina no balcão.
Quando passei pela Lust[13] logo no meu primeiro dia em Schönilla e
vi que estavam precisando de novos funcionários, não hesitei em ligar.
Trabalho desde os meus quatorze anos, fazendo bicos aqui e ali, então,
experiência não seria o problema.
O problema foi eu ter apenas dezoito anos, uma vez que casas
noturnas só contratam acima de vinte e um.
Eu estava pronta para desistir da primeira oferta de emprego,
quando me informaram sobre o salário.
Para ser bartender do bar da boate, apenas nos fins de semana, era
bem alto. Mais do que eu conseguiria fazer trabalhando em uma lanchonete
como garçonete em meio período, que era meu plano inicial.
Por isso, menti.
Fiz um documento falso usando minhas habilidades artísticas —
pouquíssimas —, e por sorte, não se importam muito com isso. As roupas
escuras, o loiro pintado e a pose de poucos amigos ajudaram na mentira de
ter acabado de completar vinte e um.
E mesmo hoje sendo meu primeiro dia aqui, já percebi porque o
valor que eles pagam por hora é muito maior do que em qualquer outro
lugar.
Lotado é eufemismo para definir o tanto de pessoas que está na
boate essa noite. Desde que cheguei, há pouco mais de três horas, já atendi
mais de duzentas pessoas, preparando coquetéis, entregando cervejas e
indicando onde é o banheiro. Isso porque, estou junto de outro funcionário.
Não daria conta disso sozinha.
Finalizo o coquetel com um canudo biodegradável e entrego à
garota, que sorri agradavelmente na minha direção.
— Obrigada, querida. — E com uma piscadela nada inocente na
minha direção, ela vira de costas e vai atrás das amigas na pista de dança.
Deus, o que eu daria para não estar trabalhando nesse momento!
As memórias da noite passada ainda estão frescas na minha cabeça.
Cassie, minha colega de apartamento, me convidou para a festa na
fraternidade dos meninos do futebol americano. É claro que fui! Não perco
uma festa. São os melhores lugares para esquecer dos problemas, de várias
maneiras diferentes. Por exemplo, iniciei a noite virando alguns shots de
tequila com algumas meninas da minha classe de Antropologia e depois,
engatei em uma conversa com um garoto do time de natação. Conversa
essa, que me levou diretamente para o banheiro do segundo andar, e só
saímos depois de ele me fazer gozar.
Nota oito de dez.
Ainda faltou… algo.
Minha mente forma instantaneamente o rosto do cara do banheiro,
aquele que me devolveu minha calcinha. O que deveria ter sido uma
situação vergonhosa, se tornou suportável com o charme e sorriso
contagiante dele.
Ele é negro, de pele marrom-escura, cabelo raspado, olhos gentis e
uma expressão amigável… Eu teria o deixado tirar o restante da minha
roupa ali mesmo, caso não tivéssemos sido interrompidos pelo seu amigo.
Ao contrário do garoto da natação, eu senti… alguma coisa diferente com
ele. Nossas mãos se tocaram por breves segundos, e pareceu que fui
eletrocutada. De uma maneira boa.
Muito boa.
Ethan? Acho que foi assim que ouvi seu amigo chama-lo.
Merda, por que não confirmei? Ou pelo menos, confirmei seu
sobrenome?
Porque você sabe que ele é uma boa pessoa, um garoto de ouro, que
não merece ser corrompido por você.
Ah.
Isso.
Poucos minutos de conversa, mas a aura ao redor dele não deixou
enganar: ele é uma pessoa boa demais para mim. Com certeza, não precisa
do furacão que é Violet Woods em sua vida. Já sou demais, até para mim,
não tenho que arrastar mais uma pessoa para minha vida. Não até eu
resolver todas as questões pendentes.
Ou seja, somente daqui a sete anos ou mais.
Enquanto isso… aproveito flertes e sexo casuais.
E estou tão distraída, de costas para o balcão, limpando a bagunça
do último coquetel e pensando sobre minha vida pessoal, que não ouço a
aproximação da pessoa, até ela se pronunciar.
— Três cervejas, por favor — alguém pede do bar, e quando me
viro, depois de jogar os restos de morango no lixo, me surpreendo.
O garoto do banheiro.
Arregalo os olhos, totalmente em choque com sua presença.
Não esperava vê-lo aqui.
Praticamente, nunca mais, na verdade. Talvez pelos corredores da
SU de vez em quando, caso nossas aulas fossem no mesmo prédio.
[14]
Ainda sinto o gosto dos lábios de Violet, quando fecho os olhos para
dormir toda noite.
Suas mãos em minha nuca, seu cheiro infiltrando pelo nariz e meu
pau tocando sua barriga, duro pra caralho… porra.
Faz anos que não fico com alguém que não seja Jess, então… é
diferente.
Novo, claro.
Porém… bom.
Até demais.
É normal ficarmos fissurados na outra pessoa após um único beijo?
É isso que acontece com os jovens atualmente?
Você já estava viciado nela antes mesmo disso.
Oh.
Sim.
Verdade.
Não contei a Paxton, nem a James o que rolou, por enquanto. Não
quero parecer emocionado, assim como não quero que eles acreditem que já
expulsei Jessica Flores do meu coração e estou pronto para seguir em
frente.
Ainda não sei se conseguirei fazer isso em algum momento.
Após tantos anos juntos, não só como amantes, mas como amigos
também… é estranho pensar em uma realidade onde ela e eu não somos
mais próximos.
Estranho pra caramba.
Todavia, quando estou com Violet Woods, eu não penso na minha
ex-namorada. Honestamente, em nenhum momento que estivemos juntos,
Jess me passou pela cabeça. Vi me faz me desconectar de tudo ao meu
redor, focando apenas nela. Na gente. É algo natural, não proposital, e… eu
gosto. Gosto de ser somente dela por um curto período.
De estar com ela, ponto final.
E eu acreditava ser recíproco, mas… não sei dela há dias, desde a
festa do fim de semana passado.
Quer dizer, ainda apareci nos dias em que aconteceram eventos na
Lust, acompanhando-a até em casa de carro. Ela notou minha presença e
mesmo assim, não veio até mim e aceitou a bendita carona.
De novo.
Então, não insisti.
E é por isso que não nos falamos desde o beijo — na verdade, desde
que a deixei em seu apartamento.
Eu não tenho o número dela e não consegui pensar em uma boa
desculpa para pedir a James ou Cassie, sem confessar que ficamos e estou
muito interessado na loira. Sei onde ela mora, entretanto, parece ser
invasivo demais aparecer lá, depois de ser ignorado após um beijo no
banheiro de uma festa de fraternidade.
Conclusão: estou na merda.
Ando pelos corredores da universidade, e pela primeira vez em
muito tempo, meus pensamentos não estão em rochas ou minerais, e sim,
em Violet Woods.
Sempre estou pensando nela, aparentemente.
É comum que eu acredite ver alguma garota parecida com ela, de
costas, e fique animado, me preparando para ir até a figura, porém… todos
foram alarmes falsos. Assim que a pessoa vira de frente, e eu vejo a
camiseta sem graça, sei que não é Violet.
Então, quando, mais uma vez, meus olhos encontram uma cabeleira
loira sentada em um dos bancos de madeira debaixo de uma árvore, eles me
enganam e me fazem acreditar ser ela. Admito que dessa vez, o tom de loiro
é mais preciso, e a mochila jogada ao lado da garota parece ser familiar, e…
não.
Tenho que parar de me enganar.
Não vou dar a volta e confirmar minhas suspeitas.
Não vou.
Não vou.
Não vou.
Eu faço isso.
E me preparo para a depressão, entretanto…
A blusa rosa com a frase "Not only am I funny… (I have nice titties
too!)"[23] é certeira.
Eu com certeza penso com a cabeça do meu pau, quando esqueço
que tenho uma aula em alguns minutos e caminho em sua direção, sem
conseguir controlar a risada que me escapa quando processo o que está
escrito em sua camiseta.
Essa Violet… é hilária.
— Seria mal educado se eu dissesse que concordo com sua
camiseta?
Violet ergue a cabeça, e um sorriso toma conta dos seus lábios
quando percebe que sou eu.
Um sorriso que dura poucos segundos, no entanto, eu noto e sorrio
de volta.
— Levou a sério o que eu disse sobre não saber flertar e está
treinando?
Afiada, como sempre.
— É difícil te conquistar, Violet Woods. Preciso usar todas as
estratégias existentes.
— Já pensou na possibilidade de eu não querer ser conquistada,
Ethan Scott?
É possível notar o tom divertido em sua voz quando ela retruca,
então sei que ela não está falando sério.
Não totalmente, pelo menos.
— Não pareceu, quando você me deixou te provar no fim de
semana, Vi. Pelo contrário… eu podia jurar que você estava pronta para ter
outras partes do seu corpo conquistadas por mim também.
Violet pisca, parecendo um pouco surpresa com minha fala, e meu
sorriso aumenta.
Ela coça a garganta e desvia os olhos dos meus, desconcertada.
Parece que não perdi todas as minhas manhas na arte de flertar.
— O que me leva a questão… — volto a falar, e ela retorna a
atenção para mim. — Quando vamos repetir?
A expressão que toma conta do rosto dela não é o que eu estava
esperando.
— Ethan…
— Não foi tão bom para você quanto foi para mim? — arrisco,
mesmo ficando um pouco aflito com a resposta. — O que não é um
problema, Violet. Não vou citar esse assunto de novo, se você não quiser
mais. Inclusive, se você não quiser mais me ver, eu também po…
— Ethan! Não é isso — me interrompe, e eu paro imediatamente,
relaxando um pouco os músculos, que ficaram tensos com o decorrer dessa
conversa. — É claro que gostei. Porra, foi bom pra caralho! Mas…
Ela não completa sua fala, e eu fico nervoso, trocando o peso dos
pés a cada instante.
— Mas…? — incentivo, ansioso.
— Mas eu não posso. Não posso fazer isso com você.
Franzo a testa, confuso.
— Fazer o que comigo?
— Te quebrar mais do que você já está quebrado. Eu nunca me
perdoaria. — O tom é de dor e também… cuidado, preocupação.
O que eu acharia carinhoso em outra situação, mas com certeza, não
nessa.
— Vi… não estou entendendo — confesso, e ela fixa os olhos em
suas mãos, que brincam uma com a outra em suas coxas. — Você não vai
me machucar.
— Eu vou, Ethan. Sei disso.
— E como você faria isso, huh? — pergunto, realmente curioso dos
meios.
— Você… você não é para mim, Ethan Scott — responde, voltando
a fixar as írises nas minhas. — Você é uma pessoa boa demais, e eu… eu
sou um caos. Você não percebe, porque aprendi a esconder ao longo dos
anos, mas eu sou, Ethan. Eu não quero um relacionamento. Nunca. Isso não
vai mudar. Ninguém pode me fazer mudar de ideia. E… eu sinto que você
pode se apaixonar por mim. E se isso acontecesse, Ethan, eu iria acabar
com você, não propositadamente, mas eventualmente, aconteceria, quando
eu não pudesse retribuir seus sentimentos. E eu não posso… não quero
fazer isso.
O que me surpreende mais na sinceridade de Violet, é que ela diz
tudo isso com dor em sua voz. Como se ela quisesse não só ficar comigo
mais uma vez, como também continuar além disso. Parece que ela queria
poder conseguir se apaixonar por mim, entretanto, o que quer que tenha
acontecido em sua vida para ela não querer um relacionamento, é mais forte
que isso.
Isso me deixa extremamente encucado.
O que aconteceu com essa menina, para que ela não acredite no
amor, assim tão jovem?
Quero descobrir.
Quero saber tudo sobre ela, para ser honesto. Seu filme preferido,
sua cor predileta, como ela toma o café de manhã e…
É exatamente isso que ela não quer, seu idiota. Violet quer alguém
para foder e ir embora, não alguém que vá querer escavar até sua alma
depois do sexo.
Merda.
Fico tão preso nos meus pensamentos, que só percebo que Violet
arrumou todas suas coisas e está de pé, de frente para mim, quando ouço
sua voz mais próxima.
— Desculpe, Ethan. Eu realmente gostei de ficar com você, mas…
mas não dá.
— Vi, eu…
— Tenho que ir. Tenho uma aula daqui a cinco minutos.
Não consigo contradizê-la, antes que ela saia.
Suas palavras, no entanto, continuam incrustadas na minha mente.
Ela não pode quebrar alguém que já está quebrado.
Essa é a verdade.
Só preciso mostrar à Violet que podemos dar certo, sem sairmos
machucados no fim.
Só que... como faço isso?
Na minha opinião, Brooklyn 99[24] perdeu totalmente a graça depois
que a atriz que interpretava a Gina saiu do elenco.
Mesmo assim, em momentos não tão… animados da minha vida,
meu refúgio é assistir alguns episódios e dar algumas risadas com aquela
estação de polícia caótica.
Em dias assim, Jess costumava vir aqui ou eu encontrava-a no
apartamento que dividia com Cassie, e ficávamos a noite inteira assistindo a
série. Em meio a gargalhadas e muito energético de pêssego — nosso
favorito —, eu sentia que mesmo em dias ruins, nem tudo estava perdido
porque, no fim, eu ainda teria-a ao meu lado.
Ingênuo pra caralho.
E aparentemente, eu continuo assim, porque quando vejo meu
celular brilhar na mesa de cabeceira, indicando que há uma nova
notificação, eu pego-o e não hesito em desbloqueá-lo, quando noto quem
respondeu o story que postei no Instagram há alguns minutos, vendo a
série.
jess_flores: está em qual episódio? Já chegou no de Halloween
dessa temporada? É o melhor!
Se eu tivesse o mínimo de dignidade, eu não responderia.
Ela com certeza não pensou em mandar mensagem, enquanto estava
com a boca colada na daqueles caras.
Mas… por que não?
Violet já me deu um fora no início da semana, e não encontrei
nenhuma oportunidade de encontrá-la e fazê-la mudar de ideia.
James está com Cassie.
E Paxton… Não faço ideia de onde meu outro amigo está.
Provavelmente, aproveitando a noite da maneira que só ele sabe
fazer.
ethan.scott20: melhorando.
ethan.scott20: e como estão as coisas aí? Tudo bem? Se divertindo?
Para uma sexta-feira à noite, até que a Lust está relativamente vazia.
Ou minha mente está avoada demais para prestar atenção em
alguma coisa.
Desde a visita à minha mãe, eu estou aérea ao mundo ao meu redor.
Minha vida está definida em comer — e só porque, felizmente, eu
fiz as marmitas no fim de semana passado —, dormir e hoje, que vim
trabalhar. Até mesmo faltei as duas aulas de hoje, porque eu sabia que, se
fosse, seria apenas para marcar presença e não, para focar de verdade no
conteúdo ensinado.
E só vim para o turno de hoje, porque não podia pensar na
possibilidade de não receber o dinheiro. Fiz meu plano financeiro dessa
semana contando com ele, não podia simplesmente faltar e perder uma boa
grana.
Assim que terminamos de arrumar todo o bar e um pouco do
restante do ambiente da casa noturna, vou direto para a área dos
funcionários. Lá, tomo um banho rápido, apenas para tirar o suor grudado
do corpo, troco de roupa e passo pela porta dos fundos, sonhando com a
minha cama.
Só quero que essa semana terrível termine de uma vez por todas,
murmuro mentalmente, com os olhos fechados, sentindo os primeiros raios
solares dessa manhã de sábado atingirem meu corpo.
Quando os abro, não me surpreendo em ver o carro de Ethan Scott
parado do outro lado da rua.
Como em todas as outras vezes.
Mesmo eu dando um fora nele há alguns dias, ele não deixou de se
importar com a minha segurança — embora ele saiba que a cidade não é
perigosa para que eu precise de um acompanhante até o apartamento.
Suas írises castanhas encontram as minhas, e ficamos alguns
segundos nos observando, sem falar nada.
Com o cabelo raspado, a correntinha de ouro no pescoço e uma
jaqueta jeans casual, Ethan continua sendo bonito pra caralho e,
obviamente, muito gostoso. Já notei seu tronco definido por cima das
camisetas coladas que usa. Assim como pensei em como seria passar a
língua por todos os seus gominhos.
Porra, Violet, não pense nisso.
Mas… é mais forte do que eu.
Mais forte do que todo o respeito que construí por esse cara incrível
nas últimas semanas.
Eu só preciso de uma distração.
Algo que me faça esquecer.
E… e Ethan está aqui.
Ele está aqui todos os dias.
Eu deveria seguir meu caminho e deixar que ele me siga, como em
todas as outras vezes.
No entanto, não faço isso. Pelo contrário, eu atravesso a rua nada
movimentada e encontro a porta do carona aberta.
Entro no carro e me viro para o motorista, que me observa sem
entender.
Nem eu estou entendendo, para ser franca.
— Violet? O que acon…
— Você ainda me quer? — pergunto, cortando-o no meio de sua
fala, e ele arregala os olhos, surpreso. Lentamente, ele pisca, e eu elevo as
sobrancelhas. — É uma resposta de sim ou não, Ethan.
— Por que isso de repente? Você disse há alguns dias que não iria
rolar nada, Vi.
E ele nem parece chateado quando relembra nossa conversa, apenas
confuso.
— Ethan, preciso que você me responda se me quer ou não. Se a
resposta for não, eu saio daqui e vou pa… — Já estou com a mão na
maçaneta da porta, pronta para encontrar outra forma de me distrair, quando
ele segura meu outro pulso, de forma cuidadosa.
— É claro que ainda quero você, Violet. Como eu não poderia?
Sorrio com a única boa notícia dos últimos dias.
— Cassie está com James esse fim de semana — conto, me
ajeitando no banco do carona. Ele larga meu braço, porém, não deixa de me
tocar. Sua mão encontra um lugar perfeito na minha coxa, e eu controlo a
vontade de expandir meu sorriso. — Hoje é seu dia de sorte, Ethan Scott,
porque sou toda sua.
E eu vou mostrar se você deixar, garota
Eu não sei se você já sabe como
Mas garota, eu tenho o sentimento que você sabe como
Você está enterrada no travesseiro e você é muito
barulhenta
Mas estou prestes a mostrar a você, baby, desacelere
Slow Down | Chase Atlantic
— Você disse que Cassie estaria com James — deixo escapar, assim
que Violet fecha a porta atrás de nós, ainda ouvindo os resquícios de risada
da namorada de um dos meus melhores amigos do lado de fora.
— Foi o que ela me disse — Violet responde, levando a mão à testa,
nervosa. — Isso é ruim? Ela ter nos visto?
Levo três segundos ou menos pensando, porém, é o suficiente para
Violet acreditar ser uma resposta.
— É claro que é! Você é melhor amigo do namorado dela, são
amigos desde o início da faculdade e… e, meu Deus! E se ela me odiar? —
Ela para durante poucos instantes, somente para pegar um pouco de ar e
pensar na resposta de sua própria pergunta. — Não existe algo proibindo a
pessoa com quem você divide apartamento de transar com algum amigo
seu? Ela… ela não vai me expulsar, vai? Não pode! Eu não tenho para onde
ir e além do mais, eu…
— Violet — chamo, parando em frente a ela e segurando seus
braços de forma delicada, mas firme, mantendo-a no lugar. Ela estava tão
nervosa falando, que começou a perambular pela área livre do cômodo e
quase abriu um buraco. — Está tudo bem. Cassie não vai te odiar, muito
menos, te expulsar daqui. O máximo que ela vai fazer, é contar para James,
que vai falar para Paxton, e vou ser submetido a um interrogatório, por eles
terem descoberto isso por ela, e não por mim.
Inclusive, já estou me preparando mentalmente para esse momento.
Temos ensaio mais tarde, porque há mais apresentações se
aproximando, e não vou me surpreender quando eles chegarem na minha
casa com mil e uma perguntas sobre essa situação.
— Ok. Ok… estou mais calma — diz, inspirando o ar pelo nariz e
soltando pela boca.
— Isso, linda, tá tudo bem — garanto, lançando-lhe um sorriso de
conforto.
Pelo menos, é o que tento passar.
Os olhos de Violet descem devagar pelo meu corpo… totalmente nu.
Mas… o quê?
Porra.
Fiquei preocupado com Violet e não pensei no lençol cobrindo
minhas partes íntimas, quando me aproximei para fazê-la parar e se
acalmar.
Agora, meu pau duro está dando um belo bom-dia para a loira, que
não consegue tirar os olhos dele.
— Não vou mentir, Vi, você alimenta bem meu ego — provoco-a, e
ela ergue a cabeça, encontrando minhas írises.
— A culpa não é minha, se seu pau monstruoso está apontando bem
para a minha cara! A essa hora da manhã!
— Não acha que onze horas é um bom horário para começar?
Ela franze as sobrancelhas, antes de soltar uma risada e se distanciar
de mim, indo até a cama.
Aproveito o momento para pegar o lençol do chão e passar pela
minha cintura novamente.
— Quer… quer tomar um banho antes de ir?
Uou.
Não estava esperando essa pergunta, e sim, um convite para sexo
matinal.
Ela percebe minha estranheza, porque logo volta a falar, tentando
soar casual e nada nervosa.
— Eu… hm… foi muito bom, Ethan. Bom pra caralho, para ser
bem sincera — admite, sem vergonha, e eu… gosto disso.
Gosto de como Violet Woods fala o que quer, na hora que quer e não
se importa com que as outras pessoas vão pensar.
— Mas…?
— Acho melhor não repetirmos, não é?
Pisco, muito chocado com sua sugestão.
Se ela mesma disse que foi bom pra caralho… o que está
acontecendo para que ela não queira mais?
— E por que não?
Ela solta uma risada nervosa, desviando o olhar do meu.
— Já te disse, Ethan: você é bom demais para mim. Eu não quero
tirar isso de você. Essa… essa pureza. Esse coração gigante. E-eu só vou te
machucar. Não sou uma garota que gosta de relacionamentos sérios e sei
que você é esse cara.
— Era — corrijo, me sentando ao seu lado na beirada da cama.
— O quê?
— Eu era esse tipo de cara, Violet. Não sou mais. Não depois do que
aconteceu. — Não entro em detalhes, porque ela já sabe do principal, que
eu namorei durante anos e terminei. É o que é necessário. — Eu quero fazer
isso de novo. Se você quiser, é claro.
Entrelaço nossos dedos, e finalmente ela volta a fixar seu olhar no
meu.
— Não sei se isso é o certo — murmura baixinho, e eu deixo um
sorriso pequeno tomar conta dos meus lábios.
— Mas é o que queremos.
Ela assente, molhando os lábios.
— Se… se formos continuar com isso — usa o dedo indicador,
apontando nós dois —, você precisa me prometer que não vai desenvolver
sentimentos por mim, Ethan. Eu não aguentaria não poder te dar o que você
quer.
Eu quero saber a razão disso.
Quero conhecer Violet Woods e entender o motivo de ela ter tanto
medo de sentimentos; de se envolver de maneira séria com alguém.
Foi um namoro fracassado? Algum parceiro filho da puta?
O que te machucou tanto, linda?
— Só se você prometer o mesmo — rebato, pensando que, assim
que Jess voltar, vamos precisar resolver nossa situação, e eu também não
quero acabar machucando Violet no processo.
— Ethan, você é um cara incrível, de verdade, mas… isso não vai
acontecer. Eu não posso me apaixonar. Não por você apenas, mas por
qualquer pessoa. Isso… isso só não é quem eu sou — ela é tão honesta em
suas palavras, que eu acredito em cada uma delas e sei que é mais fácil uma
estrela cair, do que ela se apaixonar.
Assinto, umedecendo meus lábios, e os olhos dela recaem para eles
imediatamente.
— Se já resolvemos essa questão… posso te comer de novo? Por
favor?
Violet solta uma gargalhada gostosa e monta em mim, depois de
tirar o lençol que me cobria.
— Me dê um ótimo orgasmo matinal, lindo.
Sorrio feroz, encaixando minha mão em seu couro cabeludo e
puxando seu rosto para perto.
— Vai ter que ficar quietinha, para Cassie não te ouvir, linda —
sussurro em seu ouvido, mordiscando seu lóbulo, e ela se esfrega na minha
ereção.
— Me obrigue — responde, em desafio, com os olhos brilhando de
tesão.
Porra, essa garota vai me destruir.
E eu estou pronto para isso.
— Não, não, não — mais uma vez, a voz de Paxton ecoa pela
garagem onde realizamos nossos ensaios.
James e eu olhamos um para o outro e paramos de tocar, virando
para o nosso baixista.
— O que foi agora, Pax? — James pergunta, nem um pouco feliz de
estarmos parando o ensaio pela milésima vez essa tarde.
Desde que chegamos, há algumas horas, Pax colocou defeito em
tudo que conseguiu pela frente.
James, sua voz está desafinando entre o verso tal e o refrão.
Ethan, você está atrasado dois segundos com o som dos pratos.
Gente, não estamos no controle.
Nós não aguentamos mais pausar em, literalmente, todas as canções,
para consertar algo totalmente dispensável.
Porra, ele nem espera terminarmos para reclamar.
— Não estamos nos encontrando no tempo certo da mudança de
tempo — acusa, e impaciente, James revira os olhos.
— Estamos, sim, Paxton, porra. O que deu em você hoje?
É… eu já estava esperando pelo momento em que um de nós fosse
explodir com nosso baixista.
Paxton solta uma risada desgostosa.
— O que aconteceu comigo, James, é que não estamos construindo
uma eufonia[32] aqui, porra, e sim, uma cacofonia[33] terrível.
A forma como ele respondeu… Esse não é o Paxton Miller que
conhecemos e amamos. Ele não está sorrindo, fazendo piadas e sendo o
galã de todos os dias. Não, ele… ele parece com raiva, indignado com
alguma coisa além desse cômodo e está descontando em nós. Sei que não é
algo com a banda, conosco, porque entre nós três, ele é o melhor para falar
que algo está errado quando fazemos merda.
Então, o que aconteceu com o nosso raio de sol, que o transformou
em sombras?
— Já vai parar de agir como um babaca e nos contar o que rolou
para te deixar assim? — questiono, também me irritando com seu
comportamento hoje.
Ele se assusta, como se estivesse surpreso por eu ter desvendado
esse grande — uma grande ironia aqui — mistério.
— Qual foi, Pax? Nos conhecemos há anos. Acha mesmo que eu
não sei quando tem algo de errado? — continuo, quando ele ainda não
responde.
— Você pode contar com a gente, Pax. Não precisa se esconder —
James completa, o olhar suavizando.
A expressão de Paxton se desmancha, e ele parece se desarmar.
Solta o baixo, colocando-o no suporte na parede, e arruma um lugar
à mesa de madeira, nos chamando com a cabeça para perto dele.
Sem hesitar, James e eu também arrumamos nossos instrumentos e o
seguimos para lá, ocupando as cadeiras ao seu lado.
— Minha avó está piorando — conta, e meu corpo enrijece. — Os
remédios não estão fazendo mais efeito, não como gostariam, e… e estou
surtando, porra. N-Não sei o que vou fazer quando ela se for.
O silêncio que recai sobre a sala é doloroso.
A dor de Paxton toma conta de nós, principalmente de mim, que sou
próximo dessa família há anos. Ele perdeu os pais ainda muito novo e
agora, vai perder a única família que lhe resta?
Não, isso não pode acontecer.
— Estamos aqui com você, Pax — sou o primeiro a falar e alcanço
sua mão, que se apoia desleixadamente no tampo da mesa. — O que você
quiser fazer, vamos estar ao seu lado.
Não sei qual é a coisa certa a se dizer nesse momento, entretanto,
tento falar o que gostaria que dissessem para mim, se a situação fosse
contrária.
— Você não está sozinho. Nunca vai estar. Estamos aqui, Pax —
James complementa e segura nossas mãos entrelaçadas com a sua.
Mais do que amigos, mais do que a The Chaotic Misfits, nós somos
a família que escolhemos. Ninguém solta a mão de ninguém é um lema que
levamos muito a sério por aqui.
— O-obrigado, gente. Eu amo vocês pra caralho — nosso loiro
responde, e rimos com a demonstração de amor.
— Também amamos você, Pax — respondo, e mais risadas ecoam
pelo cômodo.
Espero que a avó dele fique bem.
Porém, se não ficar… estaremos ao seu lado.
Para o que precisar.
O momento de amor e carinho termina quando a porta da garagem é
escancarada, e nos sobressaltamos, virando imediatamente para lá.
— Nós trouxemos vodca, água com gás e suco de cranberry —
Cassie avisa, com um sorriso pendurado em seu rosto e levantando as
sacolas do mercado.
Nós.
Com quem…
— Cassie disse que o ensaio já teria terminado. — A voz de Violet
ressoa pelo ambiente, e um sorriso involuntário toma conta do meu rosto.
Hoje, os cabelos de Violet Woods estão presos em um rabo de
cavalo no topo da cabeça. Ela usa uma calça jeans apertada, deixando sua
bunda perfeitamente incrível nele — o que posso fazer, se ela se agachou
junto à amiga, com ajuda de James, para guardar as bebidas na geladeira,
empinando o traseiro gostoso bem na minha cara? — e claro, uma blusa
branca curta com a frase "Stop copying me, you're not even doing it right"
[34]
estampada.
— Fecha a boca, Ethan, está babando — Paxton zoa, e eu retribuo
com um peteleco em seu pescoço.
Meu amigo somente ri e balança a cabeça.
Ela é bonita pra caralho, porra, é claro que vou ficar babando na
minha mulher.
Depois de arrumarem tudo na geladeira, James volta a se sentar na
sua cadeira, e Cassie ocupa aquela ao seu lado. Ou seja, não há mais
nenhuma de madeira sobrando para Violet.
Confusa, ela fica parada, tentando decifrar onde vai se sentar.
Sem pensar duas vezes, eu circulo sua cintura e trago-a para o meu
colo. Passo o braço pela sua frente e descanso a palma da minha mão em
sua barriga nua, enquanto a outra, deixo em sua coxa.
Meus amigos trocam olhares, mas não dizem nada.
— Gostei da surpresa, Vi — murmuro em seu ouvido, deixando um
beijo no pescoço.
Cassie, James e Paxton estão alheios a nós, conversando sobre o dia
de Ação de Graças, que se aproxima.
— Cassie me arrastou para cá — conta, e sinto que há um pingo de
mentira em sua voz.
Violet não faz o que não quer.
— Hum… — murmuro, deixando que minha mão brinque com o
botão da sua calça jeans, e a outra, suba perigosamente para a barra da sua
blusa minúscula. — Quer dizer que não veio por minha causa? Por que
estava com saudades?
— N-não — responde, sôfrega, quando lambo um ponto abaixo da
sua orelha, que sei que a deixa louca.
Rio baixinho, e sua pele se arrepia com o timbre.
— Meus pais estão viajando. O que acha de ficar depois que eles
forem? — pergunto, sem pensar muito sobre o assunto.
Faz alguns dias que não nos vemos, e estou sentindo falta dela.
— Depende — responde, e sinto o tom de sua voz mudar, se
tornando algo mais provocador, quando olha para mim por cima do ombro.
— O que você vai fazer comigo, se eu ficar?
Porra.
Preciso me ajeitar na cadeira, a porra do meu pau acha que é o
momento para subir.
Ainda não.
Não com todos eles aqui.
— Hora de jogar eu nunca — Paxton avisa de repente, e Violet e eu
paramos com as provocações para encará-lo. — O que foi? Precisamos
fazer alguma coisa, antes que vocês se comam na nossa frente.
É claro que ele está falando da gente.
— Só está reclamando, porque eles não te chamaram para participar,
Pax — Cassie comenta, rindo, e se apoia no namorado.
— Lembrem que estou sempre disponível para qualquer aventura
que vocês queiram ter — o loiro diz, lançando uma piscadela para Violet.
Ela ri, e eu sorrio.
Ela está se dando bem com meus amigos.
Isso é bom.
Aperto mais a cintura de Violet, enquanto Paxton busca a vodca e os
copinhos de shot na geladeira, pensando no que vai dizer.
— Eu nunca… transei com uma professora ou professor da
faculdade.
As últimas semanas estão sendo tão boas, que parece que vivo em
um conto de fadas, onde monstros e tristeza não existem. Há apenas
príncipes — Ethan Scott —, princesas — nesse caso, eu — e felicidade.
E, claro, muitos orgasmos.
Muitos.
Embora o sexo seja um ponto forte da minha amizade colorida com
o baterista da The Chaotic Misfits, ele também possui inúmeras outras
qualidades, e a cada dia que passa, descubro mais um pouco sobre o incrível
Ethan Scott.
Sua série favorita é Brooklyn 99.
Seu autor favorito é Julio Verne — uma das razões de ele estar
cursando Geologia.
Um dos seus sonhos — além de fazer sucesso com a banda — é
viajar pelo mundo em algum momento. E sim, o livro "A Volta ao Mundo
em 80 Dias"[36] é o grande precursor dessa vontade.
Ele não cozinha muito, porém, aprendeu a fazer uma torta de maçã
com sua vó que não tem igual — palavras dele, ainda não provei.
Entre milhões de outros fatos superinteressantes.
Conhecê-lo melhor, às vezes é ainda mais convidativo do que
transar.
Pois é.
Eu estou mesmo dizendo isso!
Porque eu gosto da sua amizade.
Só isso.
Não há sentimentos além do carinho e consideração, e obviamente,
o tesão.
Certo?
Ele me faz sentir segura. Protegida. Estar com Ethan é como fugir
da realidade durante um tempo. Nos nossos momentos juntos, há apenas
nós dois no planeta, vivendo um minuto de cada vez.
Isso, exatamente isso.
Não estou me apaixonando por Ethan Scott. Claro que não. Acho
que essa confusão de sentimentos pode estar acontecendo, porque estou
confiando nele como nunca fiz com outra pessoa. Ele é meu primeiro amigo
verdadeiro, de certa forma. Na escola, falava com alguns colegas de classe,
mas não os deixava se aproximarem muito, porque não queria que eles
descobrissem a verdadeira face de Violet Woods e sua família.
Entretanto, com ele é… diferente.
Por minha família estar longe, eu consigo ser eu mesma.
Até me abri um pouco com ele ao longo dos últimos dias,
compartilhando pequenos fragmentos da minha vida, que ninguém nunca
soube antes.
É novo. É diferente. E é muito bom.
— No que está pensando, querida? Em algum garoto? — mamãe
pergunta, e eu pisco, retornando à realidade.
Vim almoçar mais uma vez com minha mãe e é a primeira vez que a
vejo depois do… hospital. Ela está melhor. A saúde física está totalmente
curada, porém, a mental… acho que não.
Sei que não, porque ela continua com ele.
Ela sempre continua.
— Garota? — insiste, e eu sorrio um pouco, sacudindo a cabeça.
Me assumi bissexual para minha mãe há alguns anos, e ela me
apoiou de primeira. Não houve perguntas. Não houve julgamentos. A única
coisa que ela me disse, foi que me amava e estaria ao meu lado
independentemente de tudo.
Eu acreditei.
Por muitos anos, acreditava.
Mas agora, principalmente depois de ela parar na porta do
hospital… não sei se ela me ama.
Caramba, não sei se ela se ama!
Dói.
Meu coração dói por isso.
— Mãe… não estou pensando em ninguém — minto, e ela eleva
uma das sobrancelhas, apoiando os cotovelos na mesa.
— Pode me contar, florzinha.
— Não tem nada para contar — reforço, e ela estreita os olhos,
como se, caso me encare durante muito tempo, eu acabe soltando algo. — É
sério!
— Não acredito em você — responde simplesmente, e eu escancaro
a boca em descrença, com a sua ousadia. — Mas quando você resolver o
que há nesse coraçãozinho, quero ser a primeira a saber.
Eu sei que não deveria.
Entendo que o melhor é não tocar nesse assunto, quando estamos
em um momento gostoso de mãe e filha, entretanto... é mais forte do que
eu.
— E o que há no seu coraçãozinho, mãe? — tento fazer soar como
uma pergunta inocente, contudo, nós duas sabemos que não é.
— Violet, por favor… não vamos falar sobre isso — pede, porém,
mais uma vez, ignoro.
— Por quê? É ele que está aí, não é? É sempre ele, mãe —
resmungo, sentindo a raiva subir à cabeça.
Não dela, nunca da minha mãe.
Quase nunca.
Estou com raiva dele.
De tudo que ele a faz passar e a forma como ele manipula sua
cabeça, fazendo-a acreditar que é por amor.
Se o amor é assim… não quero amar, muito menos ser amada.
— Violet, você precisa entender que eu o amo, e… e é diferente
dessa vez. Ele disse que vai mudar.
Pelo amor de Deus!
Não é possível que ela acredite em uma merda dessas!
— Como nas outras vezes, mãe?
— É diferente, filha. Eu… sinto que é. Ele estava sendo verdadeiro.
— E o pior, é que ela parece acreditar nas palavras.
Estou pronta para iniciar mais uma discussão, no entanto, sou
interrompida quando porta de trás da casa, aquela que entramos pela
cozinha — onde mamãe e eu estamos comendo —, é aberta, e a última
pessoa que eu gostaria de ver hoje, e em qualquer outro momento, passa por
ela.
Seus olhos focam diretamente em mim, quando entra.
— Ora, ora — começa a dizer, com um leve tom de divertimento, e
eu sinto vontade de vomitar o que acabei de comer. — Parece que a filha
perfeita e estudiosa lembrou que tem família. O que foi? Não se adaptou à
cidade de ricos pela qual largou a nossa?
— Amor… — minha mãe chama, em tom de alerta.
Ele apenas olha de soslaio, com a cara fechada, para a esposa, e ela
se cala.
Babaca do caralho.
— Eu já estou de saída — comunico, me levantando da mesa e
querendo sair o mais rápido possível dessa casa.
Não consigo dar dois passos para a sala de estar, onde minhas coisas
estão, porque meu pai surge no meu caminho.
— Nem terminou a comida que sua mãe fez, garota. O que foi,
hein? É melhor do que a gente agora, porque anda com esses garotos
inteligentes e metidos à besta?
— Me deixa passar — mando, com a mandíbula trincada e os
punhos cerrados.
Preciso ir embora.
Preciso ir embora.
Preciso ir embora.
— Não antes de você passar um tempo com sua família e lembrar de
onde veio. — Tento passar mais uma vez e não consigo, é claro. Ele é o
dobro do meu tamanho. É impossível. — Colocamos a porra de um teto
sobre a sua cabeça e comida na mesa, e depois que decide abrir as asas,
esquece de quem te criou?
— Você não me criou — resmungo baixinho.
Ou acredito ser baixo.
— O que disse? — pergunta, e eu ergo a cabeça, dando de cara com
sua face totalmente vermelha e as sobrancelhas franzidas.
Que se dane.
— A verdade — digo mais alto, e até ele se assusta que eu estou
retrucando. — Você não me criou. Mamãe fez isso, enquanto você enchia a
cara e pulava de emprego em emprego, sendo demitido de todos, porque
chegava caindo de bêbado no trabalho. Ela fazia de tudo por mim, pela casa
e principalmente por você, porque você era, não, você é, um imprestável
que só sabe beber e…
Eu sinto primeiro o impacto do seu punho contra a minha bochecha
e depois, ouço o som ecoando pelo cômodo em silêncio.
O sangue escorre pelo meu nariz, pingando na minha blusa branca.
Quando me recupero do choque de ter tido o rosto batido pelo meu
próprio pai, volto a olha-lo.
— Aposto que você queria fazer isso há anos, não é? É a única
forma que sabe, de reagir à verdade. — Não sei o que acontece comigo para
eu decidir bater de frente com ele nesse momento, mas eu faço isso.
Toda a raiva acumulada dos anos em que fiquei calada e vi cenas
horrendas, que nenhuma criança deveria sequer imaginar, toma conta de
mim e escorre pelas minhas falas verdadeiras.
O segundo soco vem logo depois.
Mais forte.
Perco meu equilíbrio e caio no chão, batendo a cabeça no batente da
porta.
— Violet! Filha, você está…
— Cale a boca, Ines, porra! — meu pai grita, e com um dos olhos
um pouco inchado do impacto, eu vejo mamãe se encolher à mesa. — Não
sei que porra está acontecendo com você hoje, garota, mas precisa aprender
a respeitar seu pai. Se não fosse por mim, você não estaria nesse mundo.
Às vezes, eu não quero estar.
Agora é um desses momentos.
— Não pise novamente nessa casa, até aprender a respeitar os mais
velhos, sua fedelha mimada — avisa e passa por cima de mim, terminando
com um chute nas minhas costelas.
É o que faltava para eu vomitar toda a comida do almoço no piso da
cozinha.
Minha mãe se levanta para ajudar, com lágrimas nos olhos, e eu…
só quero não existir.
Sumir.
E levar a dor dela comigo.
— Amor, preciso de você. Agora — Winston Woods ordena,
seguindo pelo corredor para o quarto dos dois.
Ela me encara.
Desvia o olhar para a área dos quartos da casa.
— Ines? Eu te chamei, porra! Está surda? — o marido dela grita, e
ela sobressalta.
Assustada.
E o que minha mãe faz?
Ela não me ajuda.
Ela o segue.
Me deixa jogada no meu próprio vômito, com a face sangrando e
provavelmente, uma costela fraturada.
As lágrimas deslizam pelo meu rosto, enquanto eu tento recolher
forças para alcançar meu celular no bolso da calça jeans, discando o
primeiro contato que aparece.
A ligação chama três vezes, até alguém atender.
— Alô? Vi? Tudo bem?
— P-preciso de vo… você — digo, chorando e mal conseguindo
formar palavras coerentes.
— Me fale onde você está. Estou indo.
O vento gélido do sul de Mount Airy toca meu rosto de forma nada
delicada, quando bato a porta do carona do carro de Ethan, assim que ele
estaciona em frente à minha casa.
Ines Woods já está à espera.
Com uma mala grande, uma pequena e uma bolsa nos braços, ela
abre um sorriso quando me vê. No entanto, seus olhos não escondem a dor.
Eu estou do mesmo jeito. Sei — ou pelo menos, entendo muito bem
— os mistos de sentimentos que ela deve estar sentindo nesse momento.
Eu me prendo ao fato de que ela finalmente enxergou a verdadeira
face do marido e único homem que amou em toda sua vida, e decidiu sair
do relacionamento. Dessa maneira, uso toda essa força para não desabar
aqui mesmo, chorando de felicidade.
Ela é tão, tão forte.
E eu preciso dar orgulho a ela, e usar um pouco da minha força
também.
— Senhora Woods, deixa que eu ajudo — Ethan se prontifica,
aparecendo de repente perto de nós.
Mamãe, sem perder sua essência, ergue as sobrancelhas e também o
polegar, em um gesto de aprovação, enquanto ele pega suas bagagens e leva
para o porta-malas do veículo.
— Gostei — diz para mim, quando ele está longe o suficiente para
não nos escutar, e eu reviro os olhos.
— É só um amigo. Nem comece — deixo claro, e ela apenas me
lança uma piscadela, nada convencida.
Nem você está totalmente convencida disso, Violet, a vozinha da
minha consciência sussurra no fundo da minha mente.
Juntas, seguimos até o carro, e claro, Ethan está nos esperando.
Ele abre a porta do banco de trás para que entremos e dá a volta para
o banco do motorista.
— E ainda é um cavalheiro. Excelente escolha, filha — murmura
perto do meu ouvido, ao passo que colocamos os cintos.
— Mãe — chamo, em tom de repreensão, e ela solta um risinho.
Apesar de todos os acontecimentos recentes, o clima é leve, e eu
gosto disso.
São raros esses momentos com minha mãe. E, caramba, eu adoro
quando estamos juntas, apenas vivendo a vida, sem nos preocupar com nada
mais.
Entretanto, ainda não é o momento para isso.
Não quando ela se ajeita no banco, depois de Ethan dar partida no
carro, e eu vejo hematomas nos seus braços. Com a devida atenção, também
consigo enxergar a maquiagem em seu pescoço.
Porra.
Nunca vai ser fácil ver as marcas dele, nela.
— Eu conheci uma médica nas… nas duas vezes em que estive no
hospital de Mount Airy — começo a contar, e ela presta atenção em mim.
— O nome dela é dra. Vanessa Smith. Ela disse que, se eu precisasse,
poderia contar com ela. Ela sabia o que estava acontecendo, mãe. E… acho
uma boa ideia passarmos lá, antes de irmos para Schönilla, não acha? Para
ver os… hematomas mais recentes.
Mamãe solta um suspiro, cansada.
— Eu lembro dela — confessa, e um sorriso mínimo aparece em
seus lábios. — Ela me ofereceu ajuda, mas… eu estava tão cega e tão
preocupada em defender Winston, que não me importei. A-acha que ela
ainda está disposta a ajudar?
— Eu acho que sim, mãe.
— Então, vamos.
Aceno de forma positiva, usando a cabeça.
O silêncio volta a tomar conta do carro, com apenas a música bem
baixa do rádio tocando, mal chegando aos nossos ouvidos no banco de trás.
Sei que ela está exausta — não só de hoje, mas de toda sua vida —,
porém, não posso mais ficar no escuro nessa situação.
— Mãe — chamo, e ela vira a cabeça em minha direção. Entrelaço
nossos dedos e puxo sua mão para o meu colo. — O que aconteceu?
Ela respira fundo e antes mesmo de começar a falar, algumas
lágrimas deslizam pelo seu rosto.
— E-eu acho que, no fundo, sempre soube que tinha algo errado. Eu
só… eu amava tanto seu pai, Violet, que escolhia não ver certas coisas, para
o bem do nosso casamento. Da nossa família — ela pisca, tentando espantar
o choro, só que é em vão. — A-aquela vez, no seu aniversário, há tantos
anos, ele cismou que eu estava dando em cima do pai de algum dos seus
amiguinhos, quando entreguei um pedaço de bolo. E… e ele não acreditou
em mim quando neguei. Insistiu que viu e que ele estava certo, que eu era
uma vagabunda e não merecia alguém tão bom como ele. E depois, me
bateu pela primeira vez.
— Tá tudo bem, mãe, você está segura agora — garanto, quando
sinto sua mão tremer contra a minha.
— Eu aceitei tantas coisas horríveis, Violet. Me submeti a tantas
humilhações e… e agressões, achando que ele fazia tudo isso por amor. Não
era por amor. Nunca foi. Amor não machuca, minha filha. —
Involuntariamente, meus olhos encontram os de Ethan pelo retrovisor. Ele é
o primeiro a desviar, voltando a prestar atenção na estrada. — A-acho que a
gota d'água foi quando ele levantou a mão para você. Meu coração se
estilhaçou, Violet. Ainda mais q-quando precisei segui-lo, para que ele não
encostasse ainda mais em você. Aquele… aquele foi o pior dia da minha
vida, filha. E… e eu entendi que não poderia continuar naquela casa. Ele
não merece todo o amor que entreguei em suas mãos em todos esses anos.
Nunca mereceu. O amor, minha filha, ele é para curar. Nunca para ferir. E
eu finalmente entendi isso.
Ela sorri.
E pela primeira vez em tantos anos, é um sorriso de liberdade. De
alívio.
Eu sorrio de volta.
— Você não está sozinha, mãe, nunca vai estar, enquanto eu estiver
aqui.
— Eu te amo muito, minha filha. D-desculpe por… por ter te calado
todos esses anos e não ter visto a realidade de maneira clara, e…
— Mãe, não é sua culpa. Nada disso é sua culpa, está me ouvindo?
— Ela acena com a cabeça, limpando o rosto com o dorso da mão. — Você
é uma guerreira. É uma sobrevivente. E é a mulher mais forte, destemida e
maravilhosa que conheço. Nunca se esqueça disso, tá legal?
— Você é a melhor filha do mundo, Violet.
— E você é a melhor mãe do mundo, dona Ines Woods.
Você me segurou, mas eu me levantei
Já tirando a poeira
Você ouve minha voz, você ouve aquele barulho
Como um trovão, vai sacudir o chão
Você me segurou, mas eu me levantei
Se prepare porque eu já aguentei o suficiente
Eu vejo tudo, eu vejo tudo agora
Roar | Katy Perry
Ainda é um pouco surreal saber que essas são minhas últimas férias
de fim de ano.
Ano que vem, não vou estar mais na faculdade.
Se tudo correr bem, a The Chaotic Misfits vai estar conquistando o
mundo, e quem sabe, nem teremos tempo para passar essa data com nossas
famílias, por conta da agenda de shows.
Sim, sou otimista nesse nível.
Se a gente não acreditar em nós mesmos, quem vai?
Por isso, aproveitei o máximo que consegui da ceia de Natal em
família, há alguns dias. Meus avós maternos e meu avô paterno vieram para
cá também. Todos cozinhamos juntos e abrimos os presentes na manhã do
dia vinte e cinco. Jogamos alguns jogos de tabuleiro, tomamos os chás
diferentes que vovó trouxe de sua última viagem e conversamos pra
caramba.
Foi bom pra cacete.
E agora, estou comemorando com a minha segunda família.
Paxton está jogado no tapete da área de convivência que arrumamos
na minha garagem, com os cabelos loiros espalhados pela almofadada e
com um cigarro pendurado em seus lábios. Como é apenas nicotina —
como se fosse muito melhor —, não reclamei ainda. Qualquer outra
substância, ele sabe que não seria permitida na casa dos meus pais.
James ocupa o puff grande que compramos de presente de Natal
para o estúdio improvisado da banda, com Cassie em seu colo e uma
guitarra com eles, enquanto tenta ensinar o básico para a namorada.
— Você precisa usar os dedos assim — ele instrui, ajustando a
posição dos dedos de Cassie nas cordas.
Os olhares apaixonados dos dois se encontram, quando ela vira um
pouco a cabeça para trás e assente.
É possível ver a paixão exalando deles, apenas com uma simples
troca de olhares.
E eu, tenho Violet Woods sentada em uma das minhas pernas, com
ambas as minhas baquetas em suas mãos e sua vontade de aprender um
pouco da bateria.
— Deixe que eu uso os pés no bumbo[39], e você foca nos tambores e
pratos — digo, e ela assente, jogando a cabeleireira loira para o outro
ombro e porra, deixando o pescoço livre.
Não.
Temos pessoas aqui, Ethan, se concentre.
— Vamos começar com uma batida simples, tá bom? — aviso,
segurando suas mãos com as minhas.
Guio-a para fazer o som que quero e com os pés, ajusto o ritmo no
bumbo… até que não é ruim.
Não é ruim mesmo.
— Precisam ter cuidado ou elas vão querer formar uma banda e
tomar nosso lugar — Paxton brinca, mudando de posição e sentando-se,
com as costas apoiadas no sofá.
Ele traga o cigarro, e a fumaça faz com que uma cortina cinza surja
na sua frente.
— Eu acho que daria uma ótima cantora — Cassie comenta,
entrando na brincadeira. — Olhem só!
Acredito que falo por todos, quando digo que preferimos não ter
ouvido os falsetes da namorada de James.
— Você como cantora é uma ótima cineasta, estrelinha — James
responde, e nós rimos.
— Nada que algumas aulas não ajudem — Cassie diz, dando de
ombros, e a cara que James faz… é impagável.
— Se Cassie for a vocalista, acho que me garanto na bateria —
Violet sugere, e a amiga lhe lança os dois polegares levantados, em um sinal
de aprovação.
E para demonstração, Vi usa as baquetas em suas mãos para bater
com muito mais força do que é necessário nos pratos.
Todos levam as mãos aos ouvidos no mesmo instante.
— Esqueçam o que eu disse — Pax protesta, ajeitando sua posição.
— Vocês são melhores como groupies.[40]
Violet e Cassie trocam olhares.
— Existe algum nome para o artista que é groupie, mas com os fãs?
— Cassie provoca o loiro, com as sobrancelhas arqueadas.
Ele dá de ombros.
— Por que esse seria eu?
— Exatamente. — A garota pisca um dos olhos para Pax e volta a
prestar atenção nos ensinamentos do namorado.
Violet e eu fazemos o mesmo, deixando Paxton aproveitando o fim
do seu cigarro.
— Está indo muito bem, Vi, muito mesmo — sussurro próximo ao
seu ouvido, e sua pele se arrepia no mesmo instante, me fazendo sorrir.
Ela vira o corpo de lado e se ajeita no meu colo, ficando um pouco
mais de frente para mim.
— Eu tenho um ótimo professor — responde, deixando que um
sorriso lascivo tome conta dos seus lábios.
— Ah, é? — pergunto, entrando no seu jogo também. — E como
você pretende pagar esse professor pelas aulas?
— Bem… — começa e chega mais perto, com a boca colada ao meu
ouvido. — Primeiro, vou mamar bem o pau dele e deixá-lo gozar nos meus
peitos, como ele gosta. Depois, vou sentar nesse mesmo pau e cavalgá-lo a
porra da noite toda, até que minhas pernas estejam bambas, e ele esteja
exausto. O que acha? Um bom pagamento?
Engulo em seco, pensando exatamente no que ela acabou de me
dizer que vamos fazer.
Meus pais estão viajando com um casal de amigos para o Ano
Novo, e Violet irá dormir aqui quando o pessoal for embora, então… porra.
Ajeito desconfortavelmente meu pau semiereto na calça, e sua
risada suave soa perto do meu ouvido. Ela puxa o lóbulo da minha orelha
entre os dentes, e eu me levanto brutalmente, trazendo-a comigo. Circulo
sua cintura por trás, e a safada sorri, convencida, por ter conseguido o que
queria.
— Pessoal? Hora de ir embora.
Intoxicado
É você quem eu estou perseguindo
Mais um gostinho de você e eu vou ficar fodidamente
bêbado
Eu ouvi que você é doida
E que você vai me machucar, baby
Mas como eu posso voltar para alguém antes de você, baby?
Intoxicated | Aaryan Shah
Os lábios de Ethan Scott estão nos meus, assim que ele chuta a porta
do seu quarto com o pé, após nossos amigos irem embora.
Por conta dos acontecimentos das últimas semanas, nós mal tivemos
tempo a sós, e isso estava me matando. Eu não aguentava mais me dar
prazer com os dedos. Sempre que eu precisava fazer isso, normalmente no
banho ou tarde da noite, eu imaginava que eram as mãos dele em mim ou
seu pau.
Porra, eu estava sonhando em ter sua boca em mim novamente, e
finalmente está acontecendo.
Deixo que ele me devore, nossas línguas entrando em contato e
parecendo que há fogos de artifício explodindo dentro de mim. É sempre
assim.
Nossa colisão é sempre caótica.
As mãos dele descem pelo meu corpo e se acomodam na minha
bunda, apalpando uma das nádegas. Eu arranho suas costas por debaixo da
camiseta, e um gemido arrastado é capturado pelos meus lábios.
Sua palma estala com força contra minha bunda, e é minha vez de
gemer.
— Caralho, linda, eu estava com saudades disso — murmura contra
a pele do meu pescoço e empurra seu pau duro contra minha barriga.
Às vezes, esqueço o quão grande ele é.
Ainda me surpreendo que ele caiba perfeitamente na minha boceta.
Nossos corpos parecem ter sido feitos, centímetro por centímetro,
um para o outro.
A boca de Ethan volta a atacar a minha, e eu começo a subir sua
camiseta, querendo poder, de uma vez, vê-lo por completo. Ele me ajuda, e
em segundos, seu tronco trincado está nu, e eu passo a língua pelos lábios,
maravilhada com a visão.
— Tão gostoso, lindo — solto, sem conseguir me controlar, e passo
minhas unhas pelo seu abdômen.
Ele sorri de forma presunçosa, sabendo que é bonito e tem um corpo
delicioso.
Seus olhos me analisam.
Eu encaro-o.
E, por um breve momento, apenas nos observamos sem falar nada.
Admirando um ao outro. Por mim, posso dizer que admiro muito mais que
só sua beleza, mas também a pessoa incrível e foda que ele é.
Ele esteve ao meu lado quando mais precisei.
Ele não foi embora quando as coisas ficaram difíceis.
Aqui, ainda vestida, entretanto, totalmente nua para ele, com meus
sentimentos completamente evidentes, eu me sinto à mercê de Ethan Scott.
E… não é ruim.
Não, é muito bom. Mais do que bom.
Ethan parece perceber que algo mudou, porque abre a boca para
falar, porém não sei se estou pronta para admitir para ele — caramba, para
mim mesma —, então, capturo sua boca e volto a beijá-lo.
Ele retribui na mesma intensidade.
Nossas bocas encontram o ritmo perfeito. Eu seguro-o pelo jeans e
nos troco de posição, deixando-o com as costas contra a porta. Desço beijos
pelo seu pescoço, alternando com chupadas e mordidas, enquanto uso
minhas mãos na sua calça e no seu cinto, querendo libertar seu membro.
Poucos dias sem esse pau, e já estou em abstinência.
Finalmente consigo abrir a peça de baixo e depois de depositar um
selinho em seus lábios, coloco o meu melhor sorriso no rosto, quando me
agacho à sua frente, deslizando seu jeans e cueca.
O pau duro, pingando com o pré-gozo, aponta bem para minha cara.
Passo a língua pelo meu lábio inferior, com água na boca.
— Vamos lá, linda. Pegue o que é seu — Ethan manda, segurando o
pau pela base e passando-o pela minha bochecha.
Porra.
Como ele pode ser um cafajeste no quarto e um cavalheiro do lado
de fora?
Começo com movimentos de vai e vem no seu pau, salivando,
pensando em colocá-lo na boca. Ethan tomba a cabeça para trás e ofega.
Isso, porque ainda estamos no início.
Seus dedos encontram meus fios loiros, e ele os prende em um rabo
de cavalo, empurrando minha boca contra seu membro.
O pedido dele é uma ordem para mim.
Minha língua passeia pela cabeça do seu pau, voltando a conhecer o
território que fiquei um tempo sem explorar. Rodeio a cabeça úmida do seu
pau e sugo-a, fazendo com que Ethan gema alto para mim.
Tão gostoso.
Observo-o de baixo, e ele está ofegante, com algumas gotículas de
suor deslizando pela sua testa. Decido dar fim ao sofrimento do menino e
finalmente caio de boca em seu pau.
— Porra, linda… — resmunga e geme o meu nome ao mesmo
tempo, começando a usar minha cabeça também.
Ele fode minha boca, enquanto eu fodo seu pau.
Ethan arremete fundo na minha garganta, e eu engulo cada
pedacinho possível do seu membro. O que não consigo enfiar na boca, eu
uso a mão para estimulá-lo.
— Isso, Vi, chupa bem o que é seu. — Suas palavras despertam
sentimentos estranhos em mim. — Só seu.
Aqueles mesmos que empurrei para o fundo do coração, quando
senti mais cedo.
Faço o mesmo nesse momento.
Todavia, sua fala também mexe com outras partes minhas.
Minha boceta lateja de desejo, e preciso esfregar minhas pernas para
tentar me aliviar.
Ethan percebe o que estou fazendo e em um movimento, ele me
puxa para cima e me empurra em direção à sua cama.
— Chega de brincar, Violet. Preciso te foder. Agora — avisa, e seu
tom autoritário deixa minha boceta ainda mais molhada. — Tire a roupa.
Sorrio, já passando a camiseta pela minha cabeça.
— Gosto quando você manda em mim — confesso, passando a
calça jeans e a calcinha pelas pernas, enquanto ele procura algo em sua
mesinha de cabeceira.
Ele volta com uma camisinha em mãos e aponta para o colchão com
a cabeça.
— De quatro.
Porra.
Eu acho que posso gozar apenas com suas ordens.
Obedeço e fico de quatro no meio da sua cama.
Não demora para que ele venha para trás de mim e me puxe para
perto, acariciando minha coluna. Ele planta um beijinho carinhoso ali.
Eu quero não confundir as coisas. Eu preciso não fazer isso. É só
sexo. Esse foi nosso acordo — que eu insisti em ter.
Então por que não parece apenas uma transa corriqueira mais?
Ele nunca foi só mais um, Violet.
Minha vozinha da consciência está certa, como sempre.
Ele nunca foi.
Ethan segura minha cintura e estala um tapa ardido em uma das
minhas nádegas com a outra mão. Me assusto com a dor, mas logo relaxo,
sentindo o prazer que a palma dele tem contra minha bunda.
— Vem cá, Vi. Quero estar te olhando quando entrar em você —
pede, não manda, como das últimas vezes.
Com a ajuda dele, eu fico de joelhos na cama e viro um pouco
minha cabeça, para poder vê-lo.
Sorrimos.
Ele me beija.
Nesse momento, eu sei.
Eu não podia me apaixonar por ele, não quando eu não acreditava
no amor e tive um péssimo exemplo.
No entanto, cá estou eu, apaixonada pelo meu amigo colorido de
uma forma tão intensa, que meu coração parece doer de tanto amor que
guardo aqui.
— Você é tão linda — murmura contra minha boca, e o sorriso que
estampo nos lábios se alarga.
E de uma vez só, Ethan Scott entra em mim, e eu pondero se não
acredito mesmo no amor, quando ele parece ter me ensinado o verdadeiro
significado desse sentimento.
É como se você tivesse superpoderes
Transforma meus minutos em horas
Você tem mais do que 20-20
Feita de vidro pelo jeito que você vê através de mim
Você me conhece melhor do que eu mesma
Parece que não consigo manter nada de você
Como você toca minha alma pelo lado de fora?
pov | Ariana Grande
— Everyone looked worse in the light. There are so many lines that
I´ve crossed unforgiven. I´ll tell you the truth, but never goodbye[45]. —
Minha voz sai um pouco enferrujada, pelo que ouço nos fones de ouvido in
ear. [46]
Estou acostumado com os vocais de apoio para James, não a cantar
inteiramente uma música. Sei que não sou péssimo, porém, não chego aos
pés da voz potente do nosso vocalista.
Ele sim, sabe como interpretar todas as notas perfeitamente, afinal,
fez algumas aulas exatamente para isso.
Contudo, eu sabia, quando Paxton Miller deu essa ideia maluca, que
precisava ser eu a cantar.
— I don't wanna look at anything else now that I saw you. I don't
wanna think of anything else now that I thought of you. I've been sleeping
so long in a 20-year dark night. And now I see daylight, I only see daylight.
[47]
Meus olhos estão fixos nos de Violet, que está abraçada com Cassie
na primeira fila, e algumas lágrimas rolam pelo seu rosto.
Espero que sejam de felicidades e que signifique que ela me
perdoou.
Que tenho seu coração novamente.
— Luck of the draw only draws the unlucky. And so I became the
butt of the joke. I wounded the good and I trusted the wicked. Clearing the
air, I breathed in the smoke. Maybe you ran with the wolves and refused to
settle down. Maybe I've stormed out of every single room in this town.
Threw out our cloaks and our daggers because it's morning now. It's
brighter now, now.[48]
Violet sorri para mim.
As outras pessoas, aglomeradas para essa apresentação de uma
música, feita especialmente para a mulher da minha vida, cantam em coro
junto comigo.
Meus olhos passeiam um pouco pela plateia, e vejo todos sorrindo,
com os polegares levantados para mim em um sinal de aprovação pelo
grande gesto que fiz para Vi.
Ela merece muito mais do que isso.
— I don't wanna look at anything else now that I saw you. I don't
wanna think of anything else now that I thought of you. I've been sleeping
so long in a 20-year dark night. And now I see daylight, I only see daylight.
I only see daylight, daylight, daylight, daylight. I only see daylight,
daylight, daylight, daylight.
Paxton e James entram nessa parte, nos vocais de apoio, e todos vão
à loucura.
Gritos passam pelo meu fone antirruído.
É sempre o que acontece em nossos shows.
Não achei que fosse ser assim, quando tivemos essa ideia na noite
anterior e precisamos preparar tudo rapidamente, mas nossos fãs… eles são
os melhores.
Meus amigos se viram para mim, com os sorrisos estampados nos
rostos, e eu retribuo, me sentindo a porra do homem mais feliz do mundo
inteiro.
— And I can still see it all. All of you, all of me. I once believed love
would be. But it's golden. And I can still see it all. Back and forth from New
York. I once believed love would be. But it's golden. Like daylight, like
daylight. Like daylight, daylight.[49]
Canto a plenos pulmões, colocando todos os meus sentimentos nas
palavras que digo ao microfone.
Deixando que todo o meu amor por Violet Woods flua pela canção.
Assim como as outras pessoas aqui, Vi canta junto comigo, e sei…
no fundo, eu sei, eu sinto, que ela me ama tanto quanto eu a amo.
Só falta saber se ela irá mesmo me perdoar pelo meu erro.
— I don't wanna look at anything else now that I saw you. I don't
wanna think of anything else now that I thought of you. I've been sleeping
so long in a 20-year dark night. And now I see daylight, I only see daylight.
I only see daylight, daylight, daylight, daylight.[50]
Repito o último verso várias vezes.
Não somente pela música, mas porque quero deixar bem claro à
Violet e a todos que só vejo a luz do dia, depois que a conheci. Não existem
mais dias escuros, nublados, quando ela está ao meu lado.
Ela é o meu sol.
Aquela que eu espero ver todos os dias quando acordo.
Aquela que aquece meu coração.
Aquela que me faz feliz.
Aquela que é única. Não há ninguém como ela.
Exatamente como o sol, ela ilumina meus dias.
E noites também.
— Like daylight. It's golden like daylight. You gotta step into the
daylight and let it go. Just let it go, let it go.[51]
Nesse momento da música, é quando Taylor Swift faz um pequeno
discurso.
O que descobri ontem, quando ouvi pela primeira vez e precisei
ensaiá-la a madrugada inteira, a fim de ficar perfeito hoje.
Realmente, é cada ideia que Paxton tem.
E uma parte desse plano, era eu fazer meu discurso no fim, não usar
o original.
Espero que a melodia termine e o último acorde da guitarra de
James soe, para declarar:
— Eu quero ser definido pelas coisas que eu amo — começo, e o
grito da plateia se acalma, todos atentos a mim, que me levanto da banqueta
e tiro o microfone do suporte, voltando à frente do palco improvisado. — E
quem eu mais amo, o que eu mais amo, não é a música. Não é a The
Chaotic Misfits, por mais que sejam uma grande parte de mim. Meu
coração por completo pertence à Violet Woods. Você é quem eu mais amo,
linda. E sempre vai ser, se você me permitir.
Estendo minha mão para Violet.
Para o momento da verdade, de saber se ela me ama e está disposta
a me deixar ir.
Ou se me ama e quer ficar comigo.
Na minha mente, dura cinco horas.
Na realidade, bastam cinco segundos para ela entrelaçar os dedos
nos meus, e eu puxá-la para mim.
— Não acredito que você fez isso — murmura, somente para que eu
possa ouvir, e eu sorrio, circulando sua cintura com a mão livre.
— Se eu pudesse, linda, teria fechado o Madison Square Garden
para dizer à porra do mundo inteiro que eu te amo e te quero para sempre
comigo. Nunca existiu outra pessoa além de você. Nunca existiu — friso a
última parte, para que ela não acredite nunca mais que eu escolheria outra
pessoa que não seja ela.
Os dedos de Violet encontram meu maxilar, e ela acomoda-os ali,
acariciando minha bochecha com seu polegar.
— Ethan?
— Sim, linda?
— Eu amo você — o mundo inteiro parece parar, quando ela profere
as palavras que tanto sonhei em ouvi-la dizer para mim. — Há meses,
sabia? Eu não queria acreditar, porque achava que o amor não valesse a
pena. Com meus pais… você sabe que não tive o melhor exemplo de amor.
— Assinto lentamente, e ela ri em meio às lágrimas, que ainda molham sua
linda face. — Mas você, Ethan Scott, me mostrou que o amor vale a pena
sim. Que não machuca, na verdade, ele cura. Você foi a primeira pessoa que
amei, lindo, e tenho certeza que vai ser a última.
— Eu te amo tanto, Violet Woods — repito e dessa vez, sou eu que
rio em meio às lágrimas.
De felicidade.
Por ela retribuir o sentimento e por, caramba, ter me escolhido! Por
essa segunda chance.
— Beija, beija, beija! — O coro de vozes chega aos nossos ouvidos
ao mesmo tempo, e rimos.
Estou pronto para perguntar à Vi se posso fazer isso, com tanta
plateia, quando ela me surpreende e captura meus lábios com os seus.
Mais gritos.
Comemorações.
E tudo que importa é a garota que me beija de maneira apaixonada.
Quero viver nesse momento para todo o sempre.
Entretanto, a fala de Paxton, provavelmente falando com Cassie e
James, me faz rir contra a boca da minha Violet.
— Viu? Eu disse que Taylor Swift conquista o coração das gatas.
Quero contradizê-lo, mas foi exatamente isso que aconteceu.
Ele disse para eu escolher uma música da loira e sabia que Violet se
derreteria por mim quando eu cantasse.
Palavras dele, porém… rolou mesmo.
E como já dizia Taylor Swift, Violet Woods é mesmo a luz da minha
vida.
Você e eu e todos os nossos amigos
Eu não ligo para quanto nós gastamos
Baby, isso é para o que a noite serve
Eu sei que nada faz sentido
Por essa noite, vamos apenas fingir
Eu não quero parar, então me dê mais
Midnight Memories | One Direction
Paxton Miller: bom dia, linda florzinha lilás. Estou bem. Para o
lamento de vocês, não vou marcar presença na cerimônia, porque dormi
demais. Saí para curtir ontem à noite e perdi a hora essa manhã. Espero
que meus queridos amigos aproveitem esse dia. Eles merecem. Pode passar
o recado? Vou voltar a dormir agora. Um grande abraço e um beijo
gostoso (em sua bochecha, respeito as casadas) para você.
Ufa.
Ele está bem.
Procuro o olhar dos meus amigos, que já estão em cima do palco
nesse momento, esperando para buscarem o diploma.
Felizmente, eles acenam de volta para mim, e eu aponto para o
celular primeiro.
Depois, mexo os lábios.
Ele está bem, digo, e eles suspiram, aliviados. Está dormindo,
complemento e faço uma demonstração de alguém dormindo.
Eles riem, mas assentem, um pouco mais relaxados pelo amigo estar
bem.
Tiro foto de cada um quando são entregues os canudos, assim como
os familiares.
Estou tão, tão feliz por eles.
Assim que é a vez de Ethan pegar o seu, não consigo controlar, e
algumas lágrimas deslizam pelas minhas bochechas.
Meu namorado, agora é um bacharel.
— GOSTOSO! — grito, aplaudindo de pé seu momento. — EU TE
AMO!
Ele sorri para mim.
Eu sorrio de volta.
Logo que ele é liberado, anda a passos apressados na minha direção,
e eu faço o mesmo, indo até ele.
Nossos corpos colidem.
Ele circula minha cintura e me tira do chão. Eu me seguro em seus
ombros e rio, quando ele nos roda, digno de um filme de romance.
— Eu amo você — murmura contra os meus lábios e me beija.
É claro que o beijo de volta.
Um longo selinho.
Me afasto, apenas para dizer as três palavrinhas que mais tenho dito
nos últimos tempos:
— Eu também te amo, Ethan Scott.
Você e eu
Era para ser ou não era?
Nossos destinos estavam entrelaçados
Assim como nossas bocas, nossos corpos, nossas almas
Eu soube desde o primeiro dia que você seria minha
Quando colidimos caoticamente
Tão caótica, tão perfeita, tão minha
Você é a única flor do meu jardim, linda
Chaotic Collision | The Chaotic Misfits
Trilogia Caos
Paixão Caotica
Colisão Caótica
Livros solos
Corações de Gelo
Falsa Vingança
Cicatrizes de Verão
Contos e novelas
Amor à Primeira Rosa
Papel, Abóboras e Amor
NOTAS DA AUTORA
CAOS
PLAYLIST
THE CHAOTIC MISFITS
ILUSTRAÇÃO
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31
32
33
34
35
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
MAIS DO CAMIVERSO
[1]
Jornal acadêmico
[2]
Universidade fictícia criada pela autora
[3]
Cidade na Carolina do Norte
[4]
Tradução: "eu sou louca por homens com delineado".
[5]
Modelo de guitarra clássico
[6]
Tradução: carvão faz começar e me faz gostar às vezes
[7]
Tradução: olhe para mim, para as rainhas de todo o mundo
[8]
Tradução: você pode quebrar às vezes?
[9]
Modelo de baixo famoso entre baixistas
[10]
Modelo de bateria famoso entre bateristas
[11]
Técnica japonesa para criar pequenos bonecos feitos de crochê ou tricô
[12]
Vadias. Garotas sexys sob estresse tremendo.
[13]
Casa noturna criada pela autora
[14]
Universidade de Schönilla, criada pela autora.
[15]
Equipe esportiva de futebol americano com sede em Charlotte, Carolina do Norte.
[16]
Equipe esportiva de futebol americano de Nova Orleans.
[17]
Filme de animação musical da Disney.
[18]
Do inglês, tradução para "prazer culposo”.
[19]
Escritor francês conhecido por suas obras de ficção científica e aventura.
[20]
Alexia Jenkins, personagem de Trevo de 4 Folhas e 7 anos de Azar, livros da autora, e esposa de
Charles Brown, irmão mais velho de Cassie.
[21]
Filme de animação da Disney.
[22]
Dispositivo eletrônico para vaporizar líquidos, geralmente com nicotina, aromatizantes e outras
substâncias.
[23]
Traduzido do inglês: "Não só sou divertida, mas também tenho peitos legais".
[24]
Série de televisão.
[25]
Eleanor Collins, personagem de Trevo de 4 folhas.
[26]
Banda fictícia da duologia da autora April Jones.
[27]
Hospital em Mount Airy, Carolina do Norte.
[28]
Traduzido do inglês "Eu não pedi para ser perfeita".
[29]
Personagem do livro "Falsa Vingança" da autora.
[30]
Personagens do livro 7 Anos de Azar, da autora.
[31]
Franquia de filmes de live-action e animação.
[32]
Refere-se à combinação harmoniosa de sons, palavras ou frases, criando uma sensação agradável
aos ouvidos.
[33]
Refere-se à uma combinação desarmônica de sons, palavras ou frases, que cria um efeito
desagradável aos ouvidos.
[34]
Traduzido do inglês: "Pare de me copiar, você nem está fazendo certo".
[35]
Filme de animação da Walt Disney Company.
[36]
Livro de aventura e ficção científica do autor Julio Verne.
[37]
Personagem do filme “A Nova Onda do Imperador” da Disney.
[38]
Personagem do livro Amor à Primeira Rosa, da autora.
[39]
Tambor cilíndrico e de grande dimensão que fica no centro, no chão, da bateria.
[40]
Groupie é uma pessoa que busca intimidade emocional e/ou sexual com um músico.
[41]
Capital do estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.
[42]
Filme de animação sobre um rato chamado Remy que tem uma paixão pela culinária.
[43]
Tradução: eu amo fazer garotos chorarem.
[44]
Tradução: “meu amor era tão cruel quanto as cidades em que vivi.”
[45]
Tradução: “Todo mundo parece pior na luz. Tem muitas linhas imperdoáveis que eu atravessei.
Eu vou te dizer a verdade, mas nunca adeus.”
[46]
Fones de ouvido usados por músicos no palco para conseguirem ouvir a si mesmos e ao restante
da banda de maneira clara.
[47]
Tradução: “Eu não quero olhar para nada mais agora que te vi. Eu não quero pensar em nada
mais agora que eu pensei em você. Eu tenho dormido tanto tempo em uma noite escura de 20 anos. E
agora tudo que vejo é a luz do dia, eu só vejo a luz do dia.”
[48]
Tradução: “A sorte do sorteio só atrai os azarados. E então eu me tornei o alvo da piada. Eu feri
os bons e confiei nos maus. Limpando o ar, respirei a fumaça. Talvez você tenha corrido com os
lobos e se recusado a se acalmar. Talvez eu tenha saído furioso de todos os cômodos desta cidade.
Jogamos fora nossas capas e adagas porque já é de manhã. Está mais claro agora, agora.”
[49]
Tradução: E ainda posso ver tudo. Tudo de você, tudo de mim. Uma vez eu acreditei que o amor
seria. Mas é dourado. E ainda posso ver tudo. Indo e voltando de Nova York. Uma vez eu acreditei
que o amor seria. Mas é dourado. Como a luz do dia, como a luz do dia. Como a luz do dia, luz do
dia.”
[50]
Tradução: “Não quero olhar para mais nada agora que te vi. Não quero pensar em mais nada
agora que pensei em você. Eu tenho dormido tanto tempo em uma noite escura de 20 anos. E agora
vejo a luz do dia, só vejo a luz do dia.”
[51]
Tradução: “Como a luz do dia. É dourado como a luz do dia. Você tem que entrar na luz do dia e
deixá-la ir. Apenas deixe ir, deixe ir.”
[52]
Tradução: “Eu beijo o cantor principal”.
[53]
Tradução: “Direitos sobre o baterista”.
[54]
Tradução: “Então foi isso que você quis dizer quando disse que estava exausto e agora é hora de
construir do fundo do poço. Direto ao topo, não se contenha: Arrumando minhas malas e dando uma
checada na academia.”
[55]
Tradução: Eu nunca quero te decepcionar. Eu nunca quero sair desta cidade. Porque afinal…esta
cidade nunca dorme à noite.”
[56]
Tradução: “É hora de começar, não é? Eu fico um pouco maior. Mas então eu vou admitir. Eu sou
exatamente o mesmo que eu era. Agora você não entende. Que eu nunca vou mudar quem eu sou?”