EDUARDO Et Al, 2017. Mapeamento Geomorfológico Da Bacia Hidrográfica Do Rio Cágado, MG
EDUARDO Et Al, 2017. Mapeamento Geomorfológico Da Bacia Hidrográfica Do Rio Cágado, MG
EDUARDO Et Al, 2017. Mapeamento Geomorfológico Da Bacia Hidrográfica Do Rio Cágado, MG
Resumo
O presente trabalho trata do mapeamento geomorfológico da Bacia Hidrográfica do Rio Cágado, no
contexto da Zona da Mata Mineira, com procedimentos metodológicos amparados na hierarquia
taxonômica do relevo, cujo reconhecimento dos modelados de dissecação e agradação foram
representados, segundo as técnicas da cartografia geomorfológica do Manual Técnico de
Geomorfologia. Desse modo, o mapa produzido na escala de 1/50.000 procura reconhecer o nível
taxonômico dos padrões de formas semelhantes. Para esse fim, foram caracterizadas as unidades
geomorfológicas classificando em modelados, realização dos cálculos morfométricos utilizando o
grau de entalhamento da profundidade de dissecação e a dimensão interfluvial, bem como a
nomenclatura para os conjuntos de sistemas de relevo correlacionada a carta de declividade,
permitindo assim, mapear os compartimentos vinculados a uma dissecação estrutural, homogênea e
agradacional contribuindo concomitante para interpretação da dinâmica da bacia claramente
correlacionada a regimes de esforções neotectônicos, estes representados em grande medida pelos
fatos geomorfológicos simbolizados.
1. Introdução
Uma série de pautas metodológicas permeia a cartografia geomorfológica no Brasil e no mundo, campo
que ainda padece de uma falta de consenso no concernente a um padrão de mapeamento do relevo em
diferentes escalas. Como suporte ao mapeamento geomorfológico, Huggett (2007) sugere a identificação
básica da paisagem através de fotografias aéreas ou mapas temáticos. Goudie (1981) recomenda o uso das
fotografias aéreas para uma formulação prévia das principais formas de relevo, identificadas pelas
tonalidades de cores monocromáticas ou cores verdadeiras.
Nesse sentido, diversas técnicas se oferecem para a concepção e análise geomorfológica destacando-se os
estudos referentes ao conteúdo cartográfico do relevo. A cartografia conforme, Goulart (2001, p.25),
consiste em linguagem eficiente "[...] para mediar a comunicação dos fatos do relevo e os sujeitos a quem
a mensagem se destina". Ainda em referência ao mapeamento geomorfológico, Goudie (1981) destaca a
6076
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3
variabilidade das técnicas dispensadas, colocando que as informações de medição, de escala e o tipo de
informação são dados amplamente utilizados no mapa. O leque de possibilidades de interpretação
geomorfológica é ampliado na medida em que se considera, além dos dados morfológicos, o conjunto das
análises morfométricas, bem como os dados sobre os materiais e processos correlatos a gênese de
formação de uma paisagem (GOUDIE, 1981).
A análise sistemática do mapeamento geomorfológico assegura a avaliação da paisagem quanto a
informações referentes à sua gênese, cronologia, litologia, estrutura e aspectos morfográficos, conforme
asseveram autores como Klimazewski (1963) e Tricart (1965). Sobre essas informações, Torres et al.
(2012) esclarecem que para a produção do mapa geomorfológico demanda o levantamento de atributos
estruturais, como a base geológica, dados morfográficos expressos pelas formas do relevo, informações
morfométricas determinando o grau de declividade, amplitude altimétrica e dimensão interfluvial, a
morfodinâmica representando os processos de superfície, e a cronologia, referenciando a idade pelo menos
relativa do relevo.
Fushimi e Nunes (2008) destacam as metodologias de trabalho no campo voltadas para a elaboração de
documentos cartográficos, discutindo como a prática de campo pode se voltar para o levantamento das
informações que devem constar em um mapa geomorfológico.
A cartografia geomorfológica tem se apoiado no desenvolvimento das técnicas computacionais e de
geoprocessamento, que vem provendo uma maior agilidade nas análises de informações geográficas e
automação de expedientes correlacionados ao mapeamento mediante a aplicação de técnicas pautadas no
Sistema de Informação Geográfica (SIG) (ROCHA, 2000). De encontro ao uso da informática no campo
da Geomorfologia, para Souza e Sampaio (2010) a revolução e popularização do uso de
microcomputadores contribuíram para os estudos das formas terrestres, através de imagens de satélites e
das técnicas computacionais voltadas ao trato de tais produtos.
Com base no preâmbulo supraexposto, o presente paper empenhou-se em produzir o mapeamento
geomorfológico da bacia hidrográfica do rio Cágado, localizada em área de relevo montanhoso
emoldurado em altas cristas quartzíticas, que interceptam a porção meridional da Zona da Mata Mineira.
Discute aspectos metodológicos da cartografia geomorfológica aplicada ao mapeamento de sistemas
geomorfológicos montanhosos e o papel do mapa geomorfológico na interpretação dos aspectos genéticos,
evolutivos e dinâmicos fundamentais do sistema geomorfológico em apreço.
6077
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3
2. Área de Estudo
A bacia hidrográfica do rio do Cágado, localizada na porção meridional da Zona da Mata Mineira,
apresenta área de 1.131 km² drenando na margem esquerda da Bacia do rio Preto, importante bacia do
conjunto de bacias hidrográficas do rio Paraíba do Sul. A extensão do rio Cágado é de aproximadamente
144,7 km desde a nascente no município de Chácara até sua foz entre os municípios Santana do Deserto e
Chiador. Ainda, abrange parcialmente os municípios de Bicas, Chácara, Chiador, Juiz de Fora, Mar de
Espanha, Matias Barbosa, Santana do Deserto, Senador Cortes, e integralmente os municípios de Pequeri
e Guarará, conforme a figura 1.
6078
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3
2), constituindo litologias de idade paleoproterozoica (2,5 - 1,6 Ga). O Grupo Raposo caracteriza-se por
litofáceis de paragnaisses com participação subordinada de biotita, xisto, mármore, quartzito e anfibolitos.
Já o Grupo Paraíba do Sul agrega litotipos em ortognaisses tonaliticos e granodioríticos. O Complexo Juiz
de Fora abarca ortognaisses granuliticos e a Suíte Matias Barbosa incorpora litotipos de hornblenda-
biotita-gnaisses e leucognaisses.
Conforme o estudo de solos apresentados pelo Mapa de Solos do Estado de Minas Gerais (FEAM, 2010) a
cobertura pedológica predominantemente na bacia é composta por LATOSSOLOS VERMELHO
AMARELO. Nos compartimentos de dissecação em controle estrutural destacam-se os LATOSSOLO
VERMELHO-AMARELO distrófico de textura argilosa e muito argilosa em relevo fortemente ondulado a
montanhoso. Nas áreas urbanizadas de Mar de Espanha e Santana do Deserto, os solos do tipo
ARGISSOLO VERMELHO AMARELO com textura argilosa a muito argilosa em relevo ondulado a forte
ondulado se diferenciam das coberturas latolizadas encontradas majoritariamente nos demais núcleos
urbanizados.
A bacia está sob a influência do clima tropical, do tipo Cwb pela classificação de Köppen, destacando
maior concentração de chuvas no período de verão e escassez no período do inverno. A fitofisionomia
6079
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3
original de Floresta Estacional Semidecidual sofreu processo de transformação associados aos ciclos
econômicos cafeeiro, pecuário e pastoril, configurando em enclaves de florestas densas nas porções cuja
declividade impediu avanço das ações antrópicas, arranjando-se uma paisagem composta por extensas
áreas de pastagens e cultivo de Eucalyptus. Desse modo, os dados relacionados ao uso da terra extraídos
por meio do processamento da imagem de satélite sensor TM/Landsat5 retratam o cenário predominante
de pastagens nas feições de morros, enclaves de florestas nos compartimentos de dissecação estrutural e
áreas antrópicas agrícolas como as pastagens e não agrícolas como as áreas dos núcleos urbanos.
3. Materiais e Métodos
Para a confecção do mapa geomorfológico da bacia do rio Cágado, a base de dados foi sistematizada
lançando mão do Sistema de Informação Geográfica (SIG), através do software ArcGIS. Na extensão do
Arc Catalog, criou-se um Geodatabase (.gbd), denominado "Mapa Geomorfológico", onde foram
subdivididos os conjuntos de dados de feições pelas informações através do Dataset. Nesta subpasta foram
geradas novas classes de feições pela função Features class, as quais se configuram em polígonos, pontos
e linhas, de acordo com a necessária forma gráfica para representação do dado vetorizado.
Os planos de informações que congregaram o banco de dados referem-se às folhas topográficas (1/50.000)
de Argirita (SF-23-X-D-V-1), Juiz de Fora (SF-23-X-D-IV-1), Mar de Espanha (SF-23-X-D-IV-4), Matias
Barbosa (SF-23-X-D-IV-3), Sapucaia (SF-23-X-D-V-3), São João Nepomuceno (SF-23-X-D-IV-2) e Três
Rios (SF-23-Q-II-2), disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As
imagens de satélite TM/Landsat5, composição 453, são sugeridas por Nunes et al. (1994) como aquela
capaz de permitir a verificação dos contatos entre os modelados e unidades geomorfológicas, a qual serviu
para identificação da compartimentação geomorfológica.
O trato morfométrico seguiu a metodologia de Nunes et al. (1994), em que foi mensurada a dimensão
interfluvial e a profundidade de dissecação nas folhas topográficas, e posteriormente vetorizadas no
ArcGIS. A dimensão interfluvial corresponde à distância, em metros, entre linhas de drenagem ou pontos
de surgência hídrica, e a profundidade de dissecação à amplitude, também em metros, entre os topos e os
fundos de vale de referência, representando o quanto o canal foi capaz de entalhar (MARQUES NETO et
al. 2015). Para cada valor medido apresenta-se um índice que varia de 1 a 5, tanto para a dimensão
interfluvial quanto para a profundidade de dissecação, cuja associação forma um conjunto composto por
duas unidades numéricas, permitindo 25 correlações representativas da fragilidade. Desse modo, quanto
maior o valor apresentado menor a dimensão interfluvial e maior é a profundidade de entalhe (CUNHA,
6080
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3
2011). A leitura conjunta dos dois parâmetros morfométricos indica importantes aspectos de cunho
morfodinâmico, permitindo deduzir elementos da energia intrínseca ao sistema geomorfológico em lume.
O SIG apoiou o trato morfométrico com a criação de pontos, cuja tabela de atributos incorporou
informações sobre a intensidade de aprofundamento da drenagem e dimensão interfluvial, e em alguns
pontos a indicação da referência local dada pela toponímia apresentada nas folhas topográficas quanto à
nomenclatura das principais feições de relevo, como morros, serras, cachoeiras, dentre outros. O cálculo
da dimensão interfluvial foi realizado com o recurso de "régua" da caixa de ferramentas do ArcGIS sobre
as folhas topográficas digitalizadas, e posteriormente o dado numérico obtido foi digitado na tabela de
atributos da feição de morfometria.
Congregaram o banco de dados informações de declividade, hipsometria e rede de drenagem. A carta de
declividade também foi gerada no software ArcGIS (ESRI, 2015) tendo como base a imagem de radar
SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), pelo procedimento disponível na caixa de
ArcToolBox>Spacial Analyst Tools>Surface>Slope. Uma vez produzido, classificou-se o produto nas
classes < 6%; 6 - 15%; 15 - 30%; 30 - 45%; 45– 75%; > 75%, sugeridas por Silva et al. (2015).
O estabelecimento da nomenclatura dos modelados de dissecação se orientou pela proposta de Ponçano et
al. (1981), a qual apresenta classes de informações clinográficas e de profundidade de dissecação, que
associados resultam nos conjuntos de formas de relevo. Para isso, através do software adotado, ao plano
de informação de declividade aplicou-se uma transparência de 75% para que de modo simultâneo fosse
possível identificar o intervalo de declividade da feição do relevo e realizar o cálculo da amplitude
altimétrica local.
As inserções de simbologias pontuais e lineares permitiram representar os elementos correspondentes à
quinta ordem de grandeza, previamente identificados nas cartas topográficas e imagens de satélite e radar,
assim como os alinhamentos de cristas, vales estruturais, capturas fluviais, desvios abruptos de drenagem;
em decorrência da restrita dimensão espacial, as respectivas feições foram representadas por símbolos
lineares e pontuais. Optou-se por preservar as curvas mestras com equidistância de 100 metros no intuito
de se incorporar informações altimétricas. Com o propósito de se diferenciar no mapa as morfologias
antropogênicas - definidas no presente estudo como àquelas geradas ou contundentemente transformadas
pelo homem - se admitiu como estratégia a representação de tais setores através de hachuras sobrepostas
aos modelados de dissecação e agradação.
6081
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3
4. Resultados e discussão
Bakker (1963), ao abordar os diferentes tipos de mapeamentos geomorfológicos, debate quanto ao que o
mapa geomorfológico deve conter e como são inseridas as informações no processo de mapeamento. Para
o autor, o mapa geomorfológico deve possuir uma aplicação e ter um objetivo funcional. Como orientação
à elaboração desse tipo de mapa, Bakker (1963) estabelece princípios de compromisso entre a
caracterização morfográfica, a interpretação genética, os princípios de datação, a caracterização do
substrato, a cobertura de sedimentação e pedológica para a confecção de um mapeamento geomorfológico.
Moreira (1969) alerta quanto ao conteúdo das cartas geomorfológicas, que não figuram como meios
descritivos dos fatos geomorfológicos, mas enfatizam a explicação e correlação entre os elementos.
Enfaticamente, Ab'Sáber (1969) corrobora com esse principio ao alertar sobre a exaustiva simbologia
geológica e morfológica de uma carta em elaboração, a qual, se não transmitir informações suficientes
para a interpretação dos compartimentos e das formas de relevo associadas à paisagem morfológica, não
consubstancia um documento geomorfológico (AB´SÁBER, 1969).
Quanto à confecção do mapa geomorfológico propriamente dito, a interpretação será mais eficiente e
resoluta a partir da composição da legenda e dos estudos que repercutem no componente de legenda.
Avançando no debate, Goudie (1981) coloca a legenda e o próprio mapa como ferramentas de análise
geomorfológica. Ele orienta que as unidades geomorfológicas requerem simbologia que reflitam sua
forma e extensão areal. Dessa forma, para as características estruturais e litológicas o autor recomenda a
visualização por imagem sombreada, para a informação de gênese o uso de simbologia adequada, e a
cronologia sendo representada pela graduação de cores, representando cada idade.
Com a aplicação das técnicas e amparados nos procedimentos metodológicos de Nunes et al. (1994) para a
confecção do mapa geomorfológico reconhecem três tipos genéticos compostos pelos modelados de
dissecação em controle estrutural (DE), modelados de dissecação homogênea (D) e modelados de
agradação (A), conforme as figuras 3 e 4.
Os modelados de dissecação em controle estrutural associaram-se a declividades acima dos 30% e ao
embasamento litológico mais resistente (ortogranulitos enderbiticos a charnockíticos do Complexo Juiz de
Fora e litologias graníticas-gnáissicas do Grupo Paraíba do Sul e da Megassequência Andrelândia)
(DUARTE et al., 2002). Os modelados de dissecação homogênea são marcados por declives médios entre
6% e 30 % e morfologias mamelonares dissecadas pelo intenso retrabalhamento erosivo das coberturas
superficiais argilosas que se desenvolvem sobre um substrato de litologias diversas compostos por rochas
da Megassequência Andrelândia (biotita, gnaisse, plagioclásio, quartzo, k-feldspato, granada) e Complexo
Quirino (biotitas, hornoblendas, gnaisses, quartzo, apatita, microclina) (DUARTE et al., 2002). No que
6082
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3
concerne aos modelados de agradação os mesmos congregam declives inferiores a 6%, e são
correlacionados a sedimentos fluviais e coluviais cenozóicos.
6083
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3
Figura 4 – Legenda do mapa geomorfológico.
Os modelados de dissecação homogênea são dados pelos compartimentos de colinas pequenas (Dcp),
colinas médias (Dcm), colinas amplas (Dca), morrotes (Dmr), morros (Dm), morros com encostas
suavizadas (Dme) e morros de topos alinhados (Dma). As colinas pequenas são morfologias com
expressão areal inferior a 1 km² geralmente associadas a modelados de agradação descontinuamente
embutidos. As morfologias definidas como colinas médias, por sua vez, partilham de uma área entre 1 a 4
km² adstritas a zonas transicionais de modelados de agradação e de dissecação estrutural. O
compartimento de colinas amplas com área sempre superior a 4 km² dá a tônica de expressiva porção do
alto curso da bacia, congregando de modo mais contundente vertentes convexo-retilíneas e topos
convexos. Os morrotes são marcados por morfologias mamelonares quaternárias em estágio avançando de
rebaixamento, com topos e vertentes convexas. Prosseguindo, os morros se revelam como morfologias
mamelonares predominantes na bacia, e apresentam vertentes convexo-retilíneas e topos convexos a
6084
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3
aplainados relacionados a coberturas superficiais argilosas. Os morros com encostas suavizadas se
projetam como compartimentos mamelonares com fraco entalhe da drenagem, apresentando topos
aplainados e vertentes retilíneas, com perfis de intemperismo mais bem desenvolvidos, abrigando parcela
significativa dos sítios urbanos dos municípios de Bicas e Mar de Espanha. O compartimento de morros
de topos alinhados é marcado por um explícito padrão na disposição morfológica, o qual acompanha
associações aos vales estruturais, e alinhados aos compartimentos em controle estrutural, como o morro do
Monte Belo, próximo a Pequeri em conformidade a Serra da Piedade.
Os modelados vinculados a processos agradacionais foram discriminados em dois compartimentos:
planícies fluviais associadas a terraços (Apft) e planícies alveolares (Apa). As planícies fluviais
associadas a terraços podem ser definidas por depósitos neopleistocênicos (terraços) e holocênicos
(planícies ativas), argilo-arenosos, e abrigam grande parte dos sítios urbanos da bacia. No geral, as áreas
de estocagem sedimentar apresentam desenvolvimento lateral restrito quando relacionadas aos modelados
de dissecação em controle estrutural, sendo mais desenvolvidas nas morfologias emolduradas em
litologias mais tenras que definem os modelados de dissecação homogênea. As planícies alveolares
também qualificadas por serem depósitos de formações recentes ou subatuais, possuem constituição
argilosa. Estão vinculadas aos modelados em controle estrutural, como as cristas descontínuas na porção
sudoeste da bacia, e aos modelados mamelonares de morros alinhados e morros com encostas suavizadas.
A rede de drenagem caracteriza-se pelo aspecto retilíneo, conformando vales estruturais no sentido
dominante SW-NE, acompanhando os compartimentos de dissecação em controle estrutural que também
comportam cristas assimétricas claramente vinculadas à orientação imposta pela Zona de Cisalhamento do
Rio Paraíba do Sul (ZCRPS), reconhecida por Dayan e Keller (1990) como uma deformação dúctil que
promoveu a formação de rochas miloníticas com o bandamento bem marcado. Para a representação
gráfica dessas incisões em forma de vale, bem como as escarpas apresentadas em cristas estruturais,
seguiu-se a simbologia proposta pelo Manual Técnico de Geomorfologia (2009), e vetorizadas no
software ArcGIS em formato de polilinhas para formas relacionadas à tectônica de falha.
O evidente controle tectônico que acomete as morfologias da bacia implicou em uma diversidade de fatos
geomorfológicos, os quais apresentam reorganizações impressas pela ação neotectônica na bacia. As
observações feitas nas cartas topográficas que contemplam a bacia em estudo, permitiram o
reconhecimento dos fenômenos de feições anômalas da drenagem, como os desvios abruptos e capturas
fluviais, sendo a representação cartográfica feita por pontos gráficos em software ArcGIS. Os desvios
abruptos identificados na bacia foram considerados fatos geomorfológicos intimamente vinculados a um
minguamento das planícies fluviais, enquanto as capturas fluviais majoritariamente foram associadas a
6085
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3
faixas de transição de morfologias mamelonares, denotando nessas porções de relativa homogeneidade um
controle tectônico mais bem registrado.
5. Considerações finais
A perseguição permanente dos desafios impostos pela cartografia geomorfológica foi em parte cumprida
ao longo das fases de elaboração do presente trabalho, com alguns atributos representados de forma mais
franca e explícita em detrimento de outros, cujas dificuldades metodológicas permitem uma representação
de caráter mais acessório. Dessa maneira, os aspectos morfológicos e morfométricos foram os mais
abrangentemente representados, cobrindo toda a bacia hidrográfica com famílias de cores específicas para
os diferentes tipos genéticos, pontuadas pelos símbolos alfanuméricos atrelados à matriz de dissecação
apresentada na legenda. A conjugação dos índices de dissecação, ainda, admite considerações de cunho
morfodinâmico, uma vez que tais índices se relacionam diretamente à energia do relevo e permitem, por
conseguinte, deduções plausíveis nesse sentido. Alguns aspectos morfoestruturais foram representados na
forma de símbolos, sendo que os litotipos não partilharam do conteúdo do mapa pela inviabilidade em se
sobrepor mais um layer na forma de hachura, recurso este utilizado para a diferenciação das morfologias
antropogênicas. Por fim, o atributo de representação mais dificultosa foi a morfocronologia, cuja
incorporação esteve restrita às considerações gerais e relativas contidas no corpo da legenda. A
dificuldade de levar a efeito a datação absoluta do relevo, sobretudo das morfologias denudacionais,
impõe restrições na representação dos aspectos cronológicos nos mapas geomorfológicos.
Malgrado a falta de uniformidade de representação do relevo e às dificuldades intrínsecas, a abordagem
metodológica aqui apresentada tem por mérito admitir a incorporação relativamente balanceada dos
diferentes parâmetros que o mapa geomorfológico deve conter. O produto cartográfico final, por seu
turno, subsidia contundentemente a interpretação do sistema geomorfológico local, bastante representativo
do domínio tropical atlântico e suas tipicidades geomorfológicas que intercalam morfologias convexas
com mantos de alteração profundos e modelados em controle estrutural, sinalizando o potencial de
aplicação da metodologia trabalhada tanto em sistemas geomorfológicos similares como em contextos
distintos.
Bibliografia
AB´SÁBER., A.N. Problemas do Mapeamento Geomorfológico no Brasil. Geomorfologia. n.06, IG-USP,São Paulo,
1969.
6086
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3
BAKKER, J.P. Different Types of Geomorphological Maps. In: KLIMASZEWSKI,M. The Principles of The
Geomorphological mapping in Poland. Geographical Studies. Problems of Geomorphological Mapping, v.46,1963.
COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE MINAS GERAIS (CODEMIG). Mapa Geológico
Folha S F.23-X -D-IV– JUIZ DE FORA. Belo Horizonte, 2013. Escala 1:100.000.
CUNHA, C. M. L. A. A cartografia a geomorfológica em áreas litorâneas. Tese (Livre Docência em Geografia):
Rio Claro, UNESP, 2011.
DAYAN, H.; KELLER, J. V. A. A Zona de Cisalhamento do Rio Paraíba do Sul nas vizinhanças de Três Rios (RJ):
uma análise da deformação dada por algumas feições estruturais. Revista Brasileira de Geociências, v. 19, n. 4, p.
494-506, 1990.
DUARTE, B. P. HEILBRON, M., NOGUEIRA, J. R., TUPINAMBÁ, M., EIRADO, L. G., VALLADARES, C. S.,
ALMEIDA,J. C. H., ALMEIDA,C. G. Geologia das Folhas Juiz de Fora e Chiador. In: PEDROSA-SOARES, A.C.
(Coords) Projeto Sul de Minas. Etapa I: Geologia e recursos minerais do sudeste Mineiro. Belo Horizonte:
COMIG/UFMG/UFRJ/UERJ, cap. 6, 2003. CD-ROM.
FEAM. FUNDAÇÃO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE. Mapas de Solos do Estado de Minas Gerais. Banco de
Solos de Minas Gerais, 2010.
FUSHIMI, M.; NUNES, J. O. R. Mapeamento Geomorfológico no Município de Presidente Prudente – SP,
Brasil..IX Semana de Geografia. Unesp, Presidente Prudente,2008. Disponível em:
<http://www4.fct.unesp.br/cursos/geografia/CDROM_IX SG/Anais%20-%20PDF/Melina%20Fushimi.pdf>. Acesso
em: janeiro, 2017.
GATTO, L.C.S.; RAMOS, V.L.S.; NUNES, B. T. A.; MAMEDE, L.; GÓES, M. H. B.; MAURO, C. A.;
ALVARENGA, S. M.; FRANCO, E. M. S.; QUIRICO, A. F.&NEVES, L. B. Geomorfologia. In: Projeto
RADAMBRASIL, Brasília: DNPM, v. 32, p. 305-384, 1983.
GOULART, A. C. O. Relevos e processos dinâmicos: uma proposta metodológica de cartografia geomorfológica.
Geografares, Vitória, n.2, jun., p.25-40, 2001.
GOUDIE, A. Geomorphological techniques. London: George Allen & Unwin, 1981. 395p.
HUGGETT, R. J. Fundamentals of Geomorphology. Routlege, London, 2007.
MARQUES NETO, R., ZAIDAN, R. T., MENOR JUNIOR, W. Mapeamento Geomorfológico do Município de
Lima Duarte (MG). Revista Brasileira de Geomorfologia, v. 16, 123-136, 2015.
MOREIRA, A. A. N. Cartas Geomorfológicas. Geomorfologia. n.5, IG-USP, São Paulo, 1969.
NUNES, B. A.; JULIANTES, R. L.; CALDEIRON, S. S. Manual técnico de geomorfologia. Rio de Janeiro: IBGE,
1994. 111p
PONÇANO, W. L; CARNEIRO, C. D. R; BISTRICHI, C. A; ALMEIDA, F. F. M; PRANDINI, F. L. Mapa
geomorfológico do estado de São Paulo. Vol. 1. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Divisão de Minas e Geologia
Aplicada, 1981. 94p
ROCHA, C. H. B. Geoprocessamento: Tecnologia Transdisciplinar, Editora: UFV, 2000.
ROSS, J. L. S., 1992. O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do
Departamento de Geografia. FFLCH-USP. n. 6. São Paulo.
SILVA, F. P., MARTINS, C. A. H., MARQUES NETO, R., OLIVEIRA, E. L. N., FERNANDES, R. A.
Mapeamento Geomorfológico da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Santa Bárbara, Zona da Mata Mineira. Revista
Brasileira de Geografia Física, v. 8, n. 3, p. 893-908, 2015.
SOUZA, L. F.; SAMPAIO, T. V. M. Aplicação do índice de Concentração da Rugosidade à identificação de classes
de dissecação do relevo; uma proposta de quantificação e automatização em ambiente em SIG. In: III Simpósio
Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação. Recife, 2010.
TORRES, F.T.P., MARQUES NETO, R.; MENEZES, S. B. Introdução à Geomorfologia. São Paulo: Cengage
Learning, 2012.
6087
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3
TRICART, J. Principés et méthods de la géomorphologie. Mason: Paris, 1965. 496p.
KLIMASZEWSKI, M. The Principles of the Geomorphological mapping in Poland. Geographical Studies.
Problems of Geomorphological Mapping, v.46,1963.
6088
DOI - 10.20396/sbgfa.v1i2017.2498 - ISBN 978-85-85369-16-3