PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E CULTURA ESCOLAR: que
implicações.
Ana Cristina de Mendonça Santos1
17. Currículo Escolar, Cultura, Gestão, Organização do trabalho pedagógico
RESUMO
Este trabalho é fruto de pesquisa acadêmica sobre as possibilidades de organização escolar via
elaboração do projeto político pedagógico - PPP. Parte do pressuposto de que a o PPP é uma
importante ferramenta de gestão escolar capaz de colaborar com as finalidades educativas via
mobilização coletiva Na metodologia utilizamos a abordagem qualitativa com estudo de caso e como
instrumento de coleta de dados entrevistas, observações e dinâmicas de grupo. O resultado da
pesquisa aponta uma enorme incompatibilidade entre a cultura organizacional e os princípios da
gestão democrática necessários para elaboração e implementação de mecanismos de gestão
democrática, a exemplo do PPP.
Palavras chaves: planejamento; cultura organizacional; mudança.
ABSTRACT
Este work is fruit of academic research on the possibilities of school organisation via elaboration of
pedagogical political project-PPP. Assumes that the PPP is an important school management tool able
to collaborate with the educational purposes via collective mobilization in the methodology we use
the qualitative approach with case study and how data collection instrument interviews, observations,
and group dynamics. The search result shows a huge mismatch between the organizational culture
and the principles of democratic management required for the elaboration and implementation of
democratic management mechanisms, such as PPP.
1
Pedagoga (UFBA), Professora Assistente UNEB Campus XI, Coordenadora pedagógica da Rede Municipal de
Ensino, Mestre em Políticas Públicas, Gestão do Conhecimento e Desenvolvimento Regional (UNEB).
1
Keywords: planning; organizational culture; change.
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INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta o resultado de investigação científica sobre as possibilidades e os
desafios do projeto político pedagógico escolar como instrumento de gestão democrática que
contribui para a organização coletiva da escola e conseqüentemente para o alcance das
finalidades educativas, o êxito escolar. Parte da premissa de que o projeto político
pedagógico constitui-se um importante instrumento de organização e direcionamento das
ações educativas, fortalecendo a autonomia e gestão democrática escolar, via ação coletiva.
O foco da pesquisa foi avaliar os limites do projeto político-pedagógico e suas contribuições
para a organização e gestão escolar, e o problema que se buscou responder foi: Quais fatores
interferem na efetivação do PPP, segundo os docentes das Escolas Públicas Estaduais,
Colégio Carvalho e Colégio Aurora?
Para tanto, o objetivo geral identificou os fatores que interferem na efetivação do projeto
político pedagógico nas escolas publicas estaduais, selecionadas na amostra, na opinião dos
seus docentes. Os objetivos específicos pesquisaram o conceito e processo histórico do
projeto político pedagógico, identificando quais as bases legais que fundamentam sua
elaboração; os limites e possibilidades do projeto político pedagógico como instrumento de
mudança organizacional, estabelecendo um estudo de caso com duas Escolas Estaduais e
finalmente ousando apontar alguns caminhos que possam contribuir para a ampliação de
discussão desta temática.
Algumas premissas básicas nortearam o desenvolvimento da investigação: o projeto político
pedagógico como um instrumento de gestão democrática que contribui para o alcance das
finalidades educativas; o PPP como fruto da interação entre os objetivos e prioridades
estabelecidas pela coletividade, estabelece através da reflexão, as ações necessárias à
construção de uma nova realidade, via empenho coletivo; a elaboração do PPP constitui-se
numa obrigatoriedade legal pela Lei de Diretrizes e Bases- LDB 9394/96 Art° 12 e pelo
Plano Estadual de Educação- PEE, Lei 10.330/06, devendo ser elaborado por todas as
unidades escolares e; o PPP como instrumento burocrático, sem vida e elaborado apenas pela
gestão escolar, ou por especialistas externos como realidade da rede pública estadual de
ensino.
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A relevância da temática insere-se na necessidade de reorganização do sistema educacional
atual para atender as demandas da sociedade contemporânea, onde o avanço científico e
tecnológico e as mudanças no sistema produtivo exigem do sistema educacional
transformações que atingem os setores administrativo e pedagógico da escola, sendo
também uma exigência legal, instituída pela Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, ao definir
como obrigatório a elaboração do PPP em todas as unidades escolares.Assim, nos últimos 10
anos todos os sistemas educacionais centraram esforços no sentido de redimensionar seus
processos com vistas a consolidar um modelo de educação que responda a este contexto.O
PPP representa uma das possibilidades de planejamento coletivo e participativo das
finalidades educacionais, podendo contribuir para o direcionamento das mudanças desejadas
em educação.
No contexto atual, a função social da escola assume um caráter complexo exigindo das
instituições educacionais reverem suas concepções e metodologias para atender as novas
demandas da sociedade. Ensinar para uma cidadania pautada na ética, preparando indivíduos
adaptáveis e criativos que lidem facilmente com rapidez, competência e criticidade,
inserindo-se no convívio social e mercado de trabalho cujas exigências tendem a serem
maiores a cada dia.
Para que todos os cidadãos possam exercer o direito de participar ativamente de todas as
esferas das relações sociais, faz-s necessário a garantia da democratização dos direitos
civis.Uma participação igualitária entre todos os sujeitos, independente da sua classe social,
num sistema político de democracia integral.
(...) democracia integral seria o sistema político que garante a cada um e a
todos os cidadãos a participação ativa e criativa, enquanto sujeitos, em todas
as esferas de poder e de saber da sociedade; o sistema que garante a cada
um e a todos o direto de sermos co-autores do mundo. (ARRUDA e BOFF,
2000, p. 19).
A cidadania representa, portanto, o direito de todos de usufruir dos bens e conhecimentos
produzidos e acumulado pela humanidade necessários para a convivência humana,
colaborando com um modelo de desenvolvimento social que atenda a todos, em que todos
participem dos encaminhamentos da convivência social. Arruda (2000), refere-se a este
modelo como cidadania ativa, requerendo o movimento da sociedade civil para o seu próprio
desenvolvimento, capazes de redefinir o Estado e subordinar a atividade econômica aos
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objetivos maiores da existência do planeta, uma sinergia das consciências individuais em prol
da coletividade.
Reafirmando este conceito Gadotti (2000, p.142), afirma que cidadania ativa prescinde de
“... participação da sociedade civil organizada nas instancias de poder institucional.” Defende
ainda o conceito de cidadania planetária, a percepção da terra como uma única comunidade.
Tal compreensão implica na existência de uma democracia planetária, com o foco para
superação da desigualdade “... com a eliminação das sangrentas diferenças econômicas, a
integração da diversidade cultural da humanidade e a eliminação das diferenças econômicas”.
(GADOTTI, 2000, p. 79).
Neste contexto, aponta-se a escola e sua função transformadora, como um os principais
pilares para o processo de redemocratização do país. O Sistema Educacional Brasileiro tem
sido constantemente apontado como um país em que o sistema educacional se coloca nos
últimos lugares no conceito das nações civilizadas. A Bahia é o estado do nordeste com o
maior percentual de analfabetos, chegando a dois milhões de brasileiros entre 15 anos ou
mais de idade. Os percentuais de distorção idade série no ensino fundamental e médio
revelam um sistema educacional que fracassa com sua finalidade. O mesmo ocorre com a
rede municipal de Salvador, cujos indicadores educacionais expressam taxas de abandono e
reprovação que giram em torno de 60%. As unidades escolares pesquisadas também
apresentam índices semelhantes, com percentual médio de 55% de aprovação.
Para atender a esta demanda a instituição escolar precisa avançar na constituição da prática
da gestão compartilhada. A escola como espaço vivo, aberta para o diálogo e em inter-
relação com cada comunidade. Os conselhos, colegiados das escolas, grêmios estudantis,
associações de pais constituem-se em mecanismos importantes de desenvolvimento da gestão
democrática. Entretanto, não basta apenas instalar os mecanismos, é necessário instalar no
interior escolar, espaços de diálogo e construção coletiva onde todos se sintam participantes
do processo decisório, contribuindo e se responsabilizando com os resultados alcançados.
Para tanto, as instituições de ensino precisam organizar a ação educativa de forma integrada e
colaborativa, envolvendo a todos na gestão administrativa, pedagógica e financeira da escola.
Garantir um processo de sistematização da práxis educativa que transforme as escolas em
centro de referências de educação nos bairros onde se localizam. Ressalta-se neste processo a
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importância da articulação da sociedade civil organizada com as escolas. Uma articulação da
educação formal com a não-formal para dar vida e viabilizar mudanças significativas na
educação e na sociedade como um todo.
É aqui neste cenário que o PPP se insere, como uma possibilidade de integração da
comunidade educativa para construir um modelo de escola que atenda a realidade atual. O
PPP como instrumento de organização coletiva, pode colaborar com este processo,
integrando e direcionando o processo de mudança, articulando todos os setores do interior
escolar para participar ativamente da consolidação de um modelo de educação que atenda aos
anseios sociais.
A parte empírica deste trabalho dividiu-se em dois momentos específicos: o primeiro de
outubro e novembro de 2008, envolvendo observação e aplicação de questionários aos
gestores, professores, coordenadores pedagógicos, funcionários e alunos de ambas as
unidades escolares e, no segundo momento, de junho a agosto de 2009, onde foram
realizadas dinâmicas de grupo e entrevistas envolvendo apenas os professores de ambas as
unidades escolares, delimitando o foco da pesquisa ao segmento professor.
A opção se baseou na necessidade de se limitar a amostra da pesquisa diante da
impossibilidade de se pesquisar todos os segmentos. A escolha pelo segmento específico dos
professores além do aspecto metodológico levou em consideração também o fato da prática
de elaboração do PPP nas unidades escolares pouco contar com a participação destes sujeitos,
ficando quase sempre restrita ao grupo de gestores ou coordenadores pedagógicos. Ouvir a
opinião destes sujeitos atrela-se, portanto, a necessidade de inserção dos mesmos na
elaboração do PPP. Foram entrevistados nesta etapa dois professores de cada unidade
escolar, sendo que um dos entrevistados havia participado da elaboração do PPP e o outro
não.
A complexidade do contexto educacional , os entraves pelos quais vem atravessando, está
muito mais ligada às concepções de educação, de ensino e aprendizagem dos profissionais da
educação, do que pela falta de sistematização do trabalho escolar. Não afirmando com isso,
que a falta do planejamento não seja um entrave que dificulta o desenvolvimento escolar,
pelo contrário, a experiência profissional, o contato com a realidade das instituições
educacionais denuncia que a falta de sistematização e direcionamentos das ações educativas,
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tanto do ponto de vista das secretarias de educação, quanto das instituições escolares,
empurram as mesmas em direções não pretendidas. A prática da falta do planejamento se
alicerça na dificuldade dos profissionais registrarem sua prática; na dificuldade
epistemológica de propor intervenções que atendam as necessidades dos estudantes; e por
fim, na dificuldade de se impetrar ações coletivas e interligadas, fundamentadas na
concepção de educação e de mundo, do grupo e que dão identidade e direcionamento a cada
instituição educacional.
Porém, apenas registrar o planejamento elaborar o PPP, não significa avanço, não significa
transformação nem melhoria na qualidade do ensino oferecido. Se não estiverem vinculados
a competência profissional e compromisso político dos profissionais de educação, que dão
vida, corpo e significado ao que está se propondo, os documentos não passam de letras
mortas, burocráticos, que de nada contribui para a consolidação da qualidade da escola
pública. Para elaborar conjuntamente o PPP dentro de uma perspectiva de planejamento
participativo, voltada para a consolidação de uma escola cidadã democrática que inclua no
seu contexto a toda diversidade da população, a instituição escolar precisa mudar a sua
cultura organizacional. Organizar seus processos internos, espaços de interlocução entre os
sujeitos, de forma que todos os segmentos, toda a comunidade educativa possam ser ouvidos,
Espaços institucionalizados de diálogo e construção coletiva da práxis educativa escolar.
Os resultados desta investigação científica apontam que, a questão não é organizar o PPP
para transformar a escola, mas, transformar a cultura escolar, para poder elaborar o PPP.
PESQUISA DE CAMPO: dialogando com os docentes.
Este retorno à realidade escolar foi marcado por velhas e novas sensações. O convívio com a
dinâmica escolar é sempre um convite à reflexão da realidade educacional vivida e a
pretendida. Relacionar-se com a equipe escolar, interagir com os valores e princípios
defendidos pela cultura de cada espaço de convivência social, nos remete a pensar que tipo
de homem está sendo formado a partir destas relações. Nessa vivencia está definido,
intencionalmente ou não o caráter transformador ou reprodutor da educação.
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Observar o ambiente educacional, como este ambiente é organizado? Promove bem estar? É
convidativo?As informações necessárias para inserção dos estudantes ao mundo, letrado, á
cultura estão visíveis e sistematizadas?São questões que inquietam e que ficam na espera de
respostas...quem sabe em outro momento..quem sabe por outro investigador.
Para responder a tais questionamentos foi utilizado nesta investigação a Dinâmica de grupo
baseado no Teatro do oprimido de Augusto Bual(1986) por permitir aos docentes a expressão
de seus sentimentos, conceitos, desejos e frustrações de forma lúdica e prazerosa,
favorecendo captar a subjetividades inerentes a cada sujeito e muitas vezes camuflada em
outras alternativas metodológicas como questionários ou entrevistas.
Os professores foram convidados a participar da pesquisa, conheceram seus objetivos e
finalidades e se comprometeram em participar da dinâmica na data combinada .A orientação
dada foi que a partir do cenário educacional vivido por eles, expressar por desenho, frases,
poesias ou dramatizações a visão deles desta realidade, o papel de cada um e a relação do
PPP neste contexto.
Como resultado deste trabalho segue alguns relatos: O professor Alan apresentou o seu
trabalho, expressando: “...que o círculo representa a necessidade de integração, o objetivo de
o PPP mobilizar a todos em uma só direção. Afirma que alguns estão no círculo, caminhando
coletivamente, mas que muitos estão fora, correndo em direções diversas e algumas
contrárias. Coloca o tempo, como um “diabo” que impede muitas vezes o melhor
direcionamento das ações educativas”.
Ressalta aqui nas palavras do professor Alan, a necessidade de organização do ambiente e
das ações escolares de forma a garantir o tempo necessário para cada etapa. Tempo para
planejar, tempo para executar, tempo para avaliar e tempo para replanejar. Quando ele
representa os sujeitos em direções diversas e contrárias, aponta para uma realidade
educacional sem unidade, onde cada profissional caminha na direção que mais convém.
Refletir sobre a organização educacional, seus objetivos e função de cada elemento que a
compõe representa uma das possibilidades de contribuição que a elaboração coletiva do PPP
poderia favorecer .O próprio Alan sinaliza o custo de despenharmos uma ação assistemática.
“Independente de para onde...estamos andando...precisamos assumir este leme.”
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A professora Ana apresentou seu desenho afirma, “... que não existe tempo para organização
escolar. Que a forma como o sistema está organizado impede uma ação coletiva e
sistematizada. O desenho reforça o que foi dito anteriormente pelo professor Alan,
reforçando a necessidade de organização do sistema com relação aos tempos dados as
atividades educativas.”
A professora Maria diz que o “... PPP deveria ser um instrumento que integra, mas o círculo
está aberto, fragmentado, não existe uma unidade e esta falta de unidade está expressa no
cotidiano escolar. Alerta que há falta de consciência da equipe escolar do compromisso de
todos para a elaboração do PPP.”
A fala dos professores chama a atenção para consciência coletiva, aborda mais uma vez a
questão de pertencimento. O PPP só será efetivado no interior escolar quando a comunidade
educativa compreender e tomar para si, a organização do trabalho escolar, compreender que a
função educativa é compromisso de todos e que só uma ação conjunta poderá produzir as
mudanças necessárias. A Escola precisa pertencer a comunidade assim como a comunidade
precisa pertencer a comunidade. Os professores representam um segmento da comunidade
educativa que muito poderia contribuir na promoção de reflexões e intervenções nesta
direção.
Quem são os professores das escolas públicas estaduais da Bahia? O que realmente pensam
sobre sua função social? Como chegamos onde estamos hoje? O que fazer para alterar esta
realidade de desanimo e descompromisso?
A professora Elaina apresentou seu desenho explicando que “... a rotina escolar, as tarefas, os
problemas pessoais e profissionais do dia a dia, tomavam todo o tempo e o PPP ficava a
margem, sem função. Que ela sentia-se presa, levada pelo cotidiano sem tempo para pensar.”
Reforça com estas colocações o caráter muitas vezes mecânico pelo qual a educação é
conduzida, favorecendo a manutenção da realidade educacional atual, onde o fracasso
escolar, a repetência, o abandono e baixos índices de escolarização são realidades freqüentes
na história da educação baiana e nacional.
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Professora Izabel se coloca denunciando “... a fragmentação da escola, onde não há espaço
para o trabalho coletivo. O PPP deveria possibilitar a organização escolar, dando unidade,
mas nem é conhecido e muito menos elaborado pelo conjunto. Salienta que em muitos
momentos não há Escola. “Pode existir unidade de ensino sem integração?” A pergunta da
professora expressa uma angústia vivida por muitos profissionais de educação. Uma
insatisfação com o modelo atual de educação e aponta que ainda há esperanças, ainda há pelo
que e “com” quem lutar.”
Mais uma vez fica explícita a necessidade de formação docente, que passa tanto pela
competência técnica, quanto pelo compromisso político de defender e atuar para transformar
a escola pública.
Durante a atividade os professores afirmaram que o PPP era um instrumento importante para
a organização da escola, porém não era considerado como prioridade, ficando sempre em
segundo plano e elaborado apenas pela equipe gestora. Ressaltaram também “...que o turno
noturno ficava sempre de fora.”
Apenas uma das professoras presentes, prof Lúcia, “...apresentou e afirmou que a
organização escolar, o PPP, as relações no interior da escola, as concepções de ensino e
aprendizagem, estava tudo convivendo em confusão. Ninguém se entendia cada um buscando
fazer a sua parte.”
A fragilidade da organização educacional em atender as necessidades atuais da sociedade,
reforça o que aborda Santiago (2001), de que as mudanças sociais principalmente no mundo
do trabalho exigem das escolas mudanças pelas quais ainda não se encontra
instrumentalizada para atender, e que, o paradigma pós-estruturalista é muito diferente dos
paradigmas pelos quais os professores se formaram e atuam, gerando um descompasso e uma
dificuldade para se elaborar um PPP que atenda a todo este contexto.
Promover a formação continuada dos profissionais de educação, contextualizada coma
realidade social e local de cada comunidade educativa, representa uma possibilidade de
superação desta dicotomia.
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Dos 85 profissionais de educação atuantes nesta instituição escolar, apenas 19 professores,
representando 28% do universo total, participou da pesquisa. Este dado pode ser explicado
pela dificuldade de comparecimento do docente no dia da dinâmica, significando que a
própria organização escolar dificulta espaços dialógicos coletivos no seu interior, ou pode
significar também descaso pelos docentes pelo processo da pesquisa acadêmica, que não
produz respostas aos anseios deste segmento. Sobre esta questão um dos professores teceu o
seguinte comentário: Esta pesquisa vai para o Secretário?O que nós defendemos vai ser
ouvido por alguém que pode interferir ou vai ser engavetado arquivado e esquecido?
Foi sinalizado que este era um dos compromissos da universidade pública e um dos
princípios da UNEB particularmente, produzir pesquisas voltadas para desvelar a realidade
educacional e socializar os dados para os agentes de Governo, para que estes possam
promover as intervenções cabíveis. Que com toda certeza os Secretários de Educação
estariam recebendo uma cópia da pesquisa.
Esta crença reforça o compromisso das universidades públicas, em fomentar seus projetos de
pesquisa na direção dos problemas que a sociedade enfrenta, e que acima de tudo, os
resultados das investigações sejam socializados, difundidos, para que subsidiem políticas
públicas a intervenções de encontro com as expectativas dos sujeitos que convivem com as
investigações realizadas.
A quem serve o encobrimento de uma prática centralizada, burocrática e descomprometida
com a inclusão de todos ao processo educacional? A quem serve a má qualidade do ensino e
falta de integração das equipes escolares?Estas são reflexões que precisam ser fomentadas no
interior escolar por todos os profissionais que estejam insatisfeitos com a escola que temos.
Alterar a realidade educacional, passa pela conscientização de todos de que a participação do
coletivo escolar é essencial para a efetivação da democratização da escola pública.
A realidade educacional observada caracteriza o caráter alienador e alienante da prática
educativa. O caráter fragmentado do currículo escolar, distante das aspirações da população.
Um PPP burocrático que não organiza nem direciona a prática educativa dos docentes.
Reforça que não basta implantar mecanismos de gestão democrática e acreditar que o
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processo democrático está instalado. Exige pelo contrário, muito trabalho ainda a ser feito,
alterar toda uma história de centralização e desumanização que conduziram as instituições
escolares para o caos que hoje encontramos. Implica em se comprometer com a mudança e
lutar por ela cotidianamente. Para que o processo seja exitoso, a ação coletiva e sistemática é
necessária para direcionar as etapas e viabilização do processo. Aponta-se mais uma vez o
PPP como um instrumento capaz de integrar a equipe escolar em torno da construção de um
projeto educativo voltado para as aspirações de todos, contudo, retorça-se pelos resultados
encontrados na pesquisa, que para que o PPP seja efetivado no interior escolar, este deve
estar organizado de forma a favorecer ações coletivas no seu interior.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES:
A partir da pesquisa realizada em duas instituições educacionais públicas, reafirma-se a
necessidade de mudança do sistema educacional para atender as necessidades da sociedade
atual. A instituição escolar, precisa ser redimensionada, tanto no ponto de vista da
administração, com a democratização da gestão, descentralizando as ações e participação de
toda comunidade educativa na tomadas de decisões no interior escolar, tendo como
mecanismos facilitadores do processo a implantação do Colegiado Escolar, Grêmios
Estudantis e Associações de Pais. Como também, alterações pedagógicas, mudando os
paradigmas que fundamentam a prática educativa. Rever as concepções de educação,
reconstruir os currículos para atender a multiplicidade cultural da comunidade educativa,
através de princípios e valores que se fundamentem numa pratica inclusiva e democrática,
onde todos sintam-se acolhidos no seu diferencial.
Afirmar a necessidade de mudança, entretanto, não revela-se como algo fácil, na verdade
existem muitos autores que alertam a dificuldade deste processo.Implica em afirmar que
mudança educacional como processo social, político, ideológico e cultural está associada ao
contexto histórico do qual se serve. Pensar na mudança dentro das institucionais
educacionais significa conhecer antes de mais nada, a marca pessoal de cada escola, com
seus traços, sua cultura peculiar, na definição do seu modo de trabalhar, expressos pelas
concepções dos professores e demais profissionais envolvidos no interior da escola e que
produzem sentido ao trabalho desenvolvido no espaço escolar.
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Nas falas, nos desenhos e demais registros dos professores, estavam explícitos o desejo de
mudança, o repúdio a fragmentação e descontextualizarão da educação, entretanto, quando
verificamos a prática educativa destes profissionais, as relações que são produzidas no
contexto escolar identificaram uma realidade distante do discurso, significando que mudar
não pode ser considerado um ato isolado, solto, assistemático.
Mudar a prática educacional baiana requer ação coletiva, ação coletiva no interior das
instituições escolares e também dos órgãos responsáveis pelo gerenciamento da educação no
Estado.
Se pretendermos inscrever a escola na ordem das mudanças institucionais exigidas pelo
momento atual é preciso haja planificação do processo, o PPP pode ser estruturado para
propor as mudanças necessárias, para tanto, precisa revelar as reais intenções de cada
comunidade escolar. Deixar de representar um documento burocrático e sem sentido para um
instrumento de organização e construção coletiva de uma escola pública democrática e de
qualidade para todos. O contato com a realidade educacional de duas das Escolas Públicas
Estaduais do Sistema Público Baiano, reafirmam estas questões e exigem por parte dos
gestores educacionais medidas que possam alterar a realidade vigente.
A pesquisa ressalta a importância do PPP enquanto instrumento que pode favorecer a
organização da instituição educacional e através dela favorecer a melhoria da qualidade do
ensino. Reafirma-se também pelo estudo teórico e observação da realidade que o PPP pode
fortalecer a gestão democrática ao contribuir com a participação e autonomia escolar,
princípios da gestão democrática. Ressalta-se também que o PPP pode viabilizar a gestão do
conhecimento no espaço educativo, sendo uma das finalidades da instituição educativa,
entretanto, diante do ínfimo conhecimento demonstrado pelos profissionais de educação
envolvidos nesta pesquisa, acerca do processo de gestão do conhecimento, indica que ainda
há um longo caminho a ser percorrido.
No que diz respeito à inter-relação da obrigatoriedade de elaboração do PPP e a conseqüente
melhoria da qualidade do ensino oferecido, a pesquisa revelou-se contrária a esta premissa,
apontando alguns aspectos que devem ser considerados:
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• A simples obrigatoriedade de elaboração do PPP conduziu á deformação do
instrumento, sendo elaborado apenas para cumprir uma determinação legal,
sem, contudo orientar a ação educativa;
• A mudança em educação passa pela mudança da cultura escolar e
compreensão dos profissionais de educação da contribuição de cada um para
efetivação do processo, requerendo também, políticas de formação inicial e
continuada a todos os profissionais de educação, desde gestores,
coordenadores, professores, secretários escolares e funcionários de apoio, que
possam efetivamente desempenhar as funções requeridas de cada um;
• Compreensão de que a escola se insere numa realidade social capitalista que se
organiza a partir da exploração da mão de obra e maior valia dos
trabalhadores, requerendo para este processo a fragmentação dos mecanismos
de organização social. A instituição escolar no bojo deste contexto, atua tanto
na perspectiva de manutenção da realidade dominante, alienando o povo para
reforçar a sua condição desigual de excluído, como também na perspectiva
transformadora, instrumentalizado a população para emancipar-se, como
afirma Freire (2005), “... a educação liberta a população da condição de
oprimidos”.
Dentro desta perspectiva pode-se afirmar que a fragmentação identificada no interior escolar
pesquisado, a organização desumanizadora que impede a interlocução nos educadores, que
inviabiliza o diálogo no espaço educativo, reforça o caráter reprodutor da educação,
acentuando a desigualdade social. Alterar a realidade atual, passa portanto, por mudar a
concepção de educação e organizar a instituição educacional de forma a viabilizar uma
educação dialógica, que instrumentalize os sujeitos para conviver e intervir no meio social de
forma plena.
Expressa-se portanto, a função transformadora da educação, libertando a população da
condição de oprimida e alienada dos meios de produção da própria existência, para uma outra
condição, de participação e emancipação social.
Por fim, ressalta-se a importância do PPP como instrumento de fortalecimento da gestão
democrática e participativa, contribuir para a consolidação da qualidade do ensino público.
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Cabe ressaltar que o PPP é apenas um meio, um instrumento de organização e gestão escolar.
Como instrumento ele serve aos interesses de quem o elabora, podendo ser um instrumento
de gestão democrática e de transformação, ou de repressão, de centralização e reprodução de
um sistema desigual e elitista.
Nesse sentido, para que o PPP cumpra com sua função precisa estar alicerçado em políticas
públicas condizentes com a realidade brasileira, que garantam a sua efetivação no espaço
educativo, propomos que Secretaria de Educação do Estado intervenha na organização do
espaço educativo, garantindo espaços de interlocução e discussões no seu interior, através de
políticas públicas que garantam:
• Organização da carga horária dos professores de forma que sejam garantidos
horários de estudos e discussões tanto com os grupos específicos de atuação
quanto reuniões gerais periódicas envolvendo todos os segmentos;
• Ampliação da carga horária do AC, para que além de planejar a prática
educativa este espaço possa ser efetivado como espaço de formação em
serviço;
• Acompanhamento ao funcionamento destes espaços pela SEC para evitar
possíveis distorções, como professores atuando em outras unidades escolares
no horário de AC, como foi apontado por alguns professores durante a
pesquisa de campo;
• Atuação de coordenadores pedagógicos nas unidades escolares como
mediadores do processo de formação docente e gestão do conhecimento na
escola;
• Formação em serviço a todos os profissionais de educação para que
acompanhem os estudos teóricos atuais, instrumentalizando-os para o efetivo
desempenho da pratica educativa, particularmente o exercício em sala de aula,
como também, elaboração do PPP.
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