Unidade IV - Os Pensamentos de Marx e Keynes
Unidade IV - Os Pensamentos de Marx e Keynes
Unidade IV - Os Pensamentos de Marx e Keynes
Econômico
Material Teórico
Os pensamentos de Marx e Keynes
Revisão Textual:
Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni
Os pensamentos de Marx e Keynes
• Karl Marx
• John Maynard Keynes
Leia com bastante atenção o conteúdo desta unidade, pois, nela, serão abordados assuntos so-
bre os quais se espera que um economista tenha pleno conhecimento e que são importantes não
apenas para esta disciplina, mas para todo o curso de graduação em Economia.
Assim sendo, certifique-se de que conceitos como o da mais-valia, da tendência decrescente da taxa
de lucro e da origem das crises econômicas, para Marx, sejam bem compreendidos. No que diz respeito
a Keynes, é importante compreender, em primeiro lugar, o contexto histórico no qual a obra Teoria
Geral foi escrita. Além disso, é vital compreender suas ideias relativas à função consumo e ao fluxo cir-
cular e sobre os motivos de demanda por moeda além de sua análise a respeito das crises do capitalismo
e das políticas recomendadas para contornar os problemas.
Você também encontrará, nesta unidade, uma atividade composta por questões de múltipla
escolha relacionada com o conteúdo estudado. Além disso, não deixe de se dedicar a elaborar um
bom texto na atividade reflexiva.
É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos em
informações, possibilitando-lhe o aprofundamento de seus estudos sobre este assunto.
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Unidade: Os pensamentos de Marx e Keynes
Contextualização
Para iniciarmos esta unidade, convido você a ler a entrevista dada por Robert Skidelsky,
principal biógrafo de John Maynard Keynes, à revista Veja. A entrevista tem como tema a
crise imobiliária de 2008.
Explore: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/gracas-a-keynes-nao-tivemos-outra-grande-depressao/
No texto indicado, Robert explica por que o pensamento de Keynes é mais atual do que
nunca e ajudou sobremaneira os formuladores de políticas econômicas no processo de implan-
tação de medidas para retomada da economia. Na entrevista, é feita uma breve comparação
entre as crises de 1929 e de 2008. Nela, o autor, ainda, faz-se passar por Keynes, imaginando
quais conselhos ele poderia dar à Barack Obama em meio à situação vivida alguns anos atrás.
Outro interessante texto para a leitura é a entrevista dada pelo grande historiador Eric
Hobsbawm (1917 – 2012), que trata da importância da leitura de Marx para entender as crises
atuais do capitalismo, com destaque para a crise de 2008.
Explore: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-crise-do-capitalismo-e-a-importancia-atual-de-Marx/4/14529
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Karl Marx
Além de O Capital, Marx escreveu muitas outras publicações menores, como panfletos
e artigos, nas quais analisava o capitalismo. Dentre estas, destacou-se também a série de
cadernos e anotações inacabados chamados de Grundrisse, que constituiriam uma obra
posterior e mais ampla que O Capital, cuja análise foge ao escopo deste curso.
A principal deficiência de autores como Say e Bentham, na opinião de Marx, era a falta
de perspectiva histórica. Marx analisava que o primeiro passo para entender qualquer modo
de produção, como o capitalismo ou o feudalismo, seria isolar as características específicas
de cada modo de produção. Entretanto Marx ponderou que alguns dos economistas clássicos
demonstravam as relações sociais existentes como eternas, o que levava a uma série de
distorções e confusões na análise do funcionamento da economia capitalista. Nesse contexto,
Marx entendia, por exemplo, que, só no capitalismo, os instrumentos de produção e o trabalho
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Unidade: Os pensamentos de Marx e Keynes
acumulado (tal como propôs Ricardo) eram a fonte de renda e do poder da classe social
dominante, os capitalistas (HUNT e SHERMAN, 2001).
Outra crítica de Marx dava-se por conta da ideia de alguns economistas de que toda atividade
econômica podia ser reduzida a uma série de trocas - compra e venda de mercadorias. Dessa
forma, o centro de toda a atenção nas análises era a troca ou a esfera de circulação da moeda
e das mercadorias, concebendo todos os indivíduos como trocadores totalmente iguais, fossem
eles ricos ou pobres. Na visão de Marx, admitir essa igualdade levava os economistas clássicos,
como Say, a interpretarem erroneamente o sistema capitalista como harmonioso e baseado
apenas em relações monetárias puras.
Marx explicava que, por exemplo, se o preço de uma vassoura fosse 10 reais, isso significava
que uma vassoura seria trocada por 10 unidades da mercadoria dinheiro (no caso R$ 10,00)
ou por uma quantidade de qualquer outra mercadoria que pudesse ser trocada por 10 reais.
O dinheiro, então, era uma mercadoria especial que servia de numeral em termos do qual os
valores de troca eram, geralmente, estabelecidos e que também funcionava como equivalente
Para pensar universal de troca. Essa perspectiva de Marx é bem clara; afinal, todas as mercadorias
produzidas, para possibilitar sua troca, têm seu valor expresso em unidades monetárias: reais,
dólares, euros etc.
Marx também rejeitou o valor de uso como possível determinante dos preços, ao
entender que, por conta da variedade praticamente infinita de qualidades físicas que davam
às mercadorias, seu valor de uso ou utilidade, não era possível compará-las diretamente no
sentido quantitativo. Marx via o tempo de trabalho necessário à produção de uma mercadoria
como o único elemento comum a todas as mercadorias e, assim sendo, poderia ser diretamente
comparável. Assim, Marx também foi um adepto da teoria do valor-trabalho como principal
determinante dos valores de troca de uma mercadoria.
Na visão de Marx, contudo, um produto do trabalho humano, como uma cadeira ou uma
mesa, apenas se transformaria em uma mercadoria a partir do momento em que sua produção
fosse destinada para a troca por dinheiro no mercado. Dessa forma, para ele, um produto
fabricado por uma pessoa apenas para seu uso não seria considerado uma mercadoria; os
produtos transformar-se-iam em mercadorias a partir do momento em que existisse um
mercado desenvolvido no qual essas mercadorias fossem transacionadas.
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Nas sociedades mais primitivas, que operavam em um sistema não capitalista, Marx apontava
que as mercadorias eram produzidas visando arrecadar dinheiro com sua venda, para depois
adquirir outras mercadorias para uso, no seguinte esquema:
Mo → Me → P → Me’ → Mo’
Nesse esquema mais “complexo” de circulação, o capitalista comprava, com seu dinheiro
(Mo), um conjunto de mercadorias (Me) e transformava-os através de um processo produtivo
(P), transformando o conjunto de mercadorias (Me) em uma nova mercadoria (Me’), que seria,
então, vendida no mercado por um preço superior (Mo’) ao gasto inicial com as compras.
Observe que, nesse esquema, Marx estava apenas descrevendo o típico processo em uma
indústria capitalista. Vejamos, por exemplo, a indústria de tecidos. O capitalista gasta dinheiro
(Mo) para comprar algodão e demais matérias-primas (Me). No processo de produção (P), as
matérias-primas são transformadas em camisas, calças, vestidos etc. (Me’), que são vendidos
Para pensar
pelo valor Mo’, que é superior ao valor inicialmente investido, Mo.
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Unidade: Os pensamentos de Marx e Keynes
Vamos expressar com números o que Marx quis dizer no parágrafo anterior. Continuando
com o exemplo de nossa indústria têxtil, vamos supor que um trabalhador precisa apenas de
4 horas por dia de trabalho para produzir camisetas no valor que pague seu salário mensal.
Assim, considerando o mês com 22 dias úteis, o trabalhador precisaria trabalhar 88 horas
por mês para produzir camisetas no valor de seu salário. Entretanto, ele não pode trabalhar
apenas 4 horas por dia, uma vez que a jornada mínima de trabalho, em geral, é de 8 horas, ou
Para pensar
seja, ele deve continuar produzindo nas outras 4 horas. O lucro obtido com o seu trabalho no
restante das horas vai para o capitalista e é designado como mais-valia ou mais-valia absoluta
por Marx.
O capital investido, assim, sempre gerava mais-valia, que era a fonte de mais capital, que,
por sua vez, gerava outra mais-valia em um processo contínuo e incessante de acumulação de
capital, através do sistema de circulação Mo→Me→P→Me'→Mo’.
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Tendência decrescente da taxa de lucro e crises econômicas
A vontade insaciável e sem fim de acumular capital e a concorrência ferrenha entre os
capitalistas, para Marx, caracterizaram os padrões de desenvolvimento do capitalismo ou o
que ele chamou de suas “leis de movimento”. As consequências geradas por esse padrão de
desenvolvimento do capitalismo, entretanto, não gerariam um quadro de sustentabilidade no
longo prazo, pois culminariam nas quatro situações listadas abaixo e discutidas na sequência:
1) concentração econômica;
2) tendência à queda da taxa de lucro;
3) crises econômicas;
4) alienação da classe operária.
Tal como já foi abordado, Marx dividia o capital em constante (meios de produção) e variável
(força de trabalho). Em complemento a essa classificação, Marx definiu, ainda, a razão entre
capital constante e capital variável como composição orgânica do capital.
Por conta do processo incessante de acumulação de capital, Marx achava que, com o
passar do tempo, o valor do capital constante tenderia a aumentar em ritmo mais rápido
do que o do capital variável. Dessa forma, ocorreria um aumento contínuo da composição
orgânica do capital (aumentaria C, diminuiria ou manter-se-ia a constante V), o que diminuiria
a taxa de lucros, visto que a mais-valia seria gerada apenas pelo capital variável e não poderia
ser aumentada de forma contínua (um trabalhador não pode, em tese, assumir uma jornada de
trabalho de mais do que 12h por dia, por exemplo). Marx observava, contudo, que uma queda
na taxa de lucro não indicaria uma queda no lucro total das empresas.
A tendência à expansão da produção com menos emprego de mão de obra (aumento de
C sobre V), na visão de Marx, levaria, também, a uma situação de desequilíbrio na economia.
Enquanto novas mercadorias inundavam os mercados, os salários dos operários eram reduzidos
ou permaneciam fixos, o que limitava a procura para o consumo dessas novas mercadorias.
Os operários ainda gerariam mais-valia, mas os capitalistas não poderiam transformar essas
mercadorias em dinheiro nem obter lucro vendendo-as no mercado, pois não haveria procura
para consumi-las. (HUNT e SHERMANN, 2001). Tal processo geraria crises constantes e
exclusivas do sistema capitalista de produção.
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Unidade: Os pensamentos de Marx e Keynes
Marx tinha como concepção, em seu tempo, que o emprego cada vez maior de máquinas
na indústria faria com que o lucro dos capitalistas diminuísse tanto quanto a renda total na
economia, já que menos salários seriam pagos, uma vez que os trabalhadores fossem trocados
pelas máquinas. Nesse ponto, podemos observar um dos equívocos da análise de Marx sobre
Para pensar o futuro do capitalismo, uma vez que se provou que a mecanização tende a aumentar e não
a reduzir o lucro dos capitalistas.
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John Maynard Keynes
Para expressar essa instabilidade, temos que, na primeira metade do século XIX, por
exemplo, ocorreram duas crises nos Estados Unidos (1819 e 1837) e quatro na Inglaterra
(1815, 1825, 1836 e 1847), ao passo que, na segunda metade do século XIX, foram cinco
nos Estados Unidos (1854, 1857, 1873, 1884 e 1893) e seis na Inglaterra (1857, 1866,
1873, 1882, 1890 e 1900), (HUNT e SHERMANN, 2001). Foi apenas no século XX,
entretanto, que o capitalismo experimentou sua maior e mais profunda crise: a Grande
Depressão ou crise de 1929.
A Grande Depressão foi um fenômeno de amplitude mundial que afetou, praticamente,
todas as economias capitalistas, grandes e pequenas, inclusive a do Brasil. Embora a produção
industrial já estivesse em baixa nos Estados Unidos e em outros países, a data que marcou o início
da Grande Depressão foi o dia 24 de Outubro de 1929, também conhecido como “quinta-feira
negra”. Nesse dia, a Bolsa de Valores de Nova Iorque teve uma queda brusca nas cotações dos
títulos, fenômeno que, praticamente, destruiu a confiança dos agentes na economia. Por conta
da queda da confiança na economia, os empresários reduziram a produção e os investimentos, o
que causou a diminuição da renda nacional e o expressivo aumento do desemprego, diminuindo
ainda mais a confiança na recuperação da economia capitalista.
Os números negativos da Grande Depressão são grandiosos. Apenas nos Estados Unidos,
por exemplo, entre 1929 e 1932 foram registradas a falência de mais de 85.000 empresas; mais
de 5.000 bancos suspenderam suas operações; os valores das ações na Bolsa de Nova Iorque
caíram de 87 bilhões para 19 bilhões de dólares; o desemprego aumentou expressivamente e
o produto industrial caiu quase 50%. (HUNT, 1981, apud HACKER, 1970).
Em meio a esse cenário desesperador, os economistas da época debruçavam-se em entender
por que a produção de bens e serviços tinha diminuído tanto, tendo em vista que os recursos
naturais eram abundantes, os países ainda tinham suas fábricas e máquinas para produção e a
população tinha as mesmas habilidades e queria trabalhar.
O fato era que os empresários não produziam, pois não estavam tendo lucros e, fazendo
isso, desempregavam em massa a população. Sem emprego e renda, as pessoas mendigavam
nas ruas em busca de caridade, e muitas morreram de fome nesse período. Diante dessa
situação, ficou claro, para muitos economistas, que o “mito” do mercado autoajustável,
segundo o qual o governo não deveria interferir na economia, tinha perdido sua utilidade
ideológica. Começou-se, então, a perceber que o sistema quase “anárquico” de mercado sem
regras e que visava apenas à busca do lucro máximo estava ameaçando a própria existência
do sistema capitalista.
Não houve dúvida, então, para muitos economistas, de que a saída dessa situação passaria,
de forma necessária, pela tomada de medidas drásticas em uma escala e nível que só o Governo
poderia pôr em prática. Foi a essa tarefa que se propôs Keynes quando escreveu sua Teoria
Geral, livro que também serviu para justificar as práticas adotadas, a partir de 1932, pelo New
Deal, plano de recuperação da economia americana adotado durante o Governo de Franklin
Delano Roosevelt (1882-1945).
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As contribuições de Keynes e a economia neoclássica da “prosperidade” do início
do século XX.
A teoria que Keynes propôs é uma análise de um processo contínuo de produção, circulação
e consumo. Antes de discutirmos melhor esse processo, devemos ter em mente o esquema
de funcionamento simples de uma firma, como uma indústria, por exemplo. Uma indústria, a
cada período de produção, produz um determinado valor em reais de mercadorias e coloca-as
à venda. Com a receita da venda dessas mercadorias, a firma paga seus custos de produção,
que incluem os salários, a matéria-prima utilizada, aluguéis, juros de empréstimos, etc. O que
sobra após o pagamento desses custos é o lucro.
Em meio a esse processo, aquilo que é um custo de produção de uma firma é, também, a
renda de um indivíduo ou de outra firma. É sempre importante observar que, enquanto o salário
é um custo para a empresa que o paga, para o funcionário que o recebe, trata-se de sua renda.
Da mesma forma, a matéria- prima utilizada na fabricação dos produtos representa um custo
para a firma produtora, mas é renda para a firma que vende a matéria-prima. O lucro, assim
sendo, também é renda, mas a renda do dono da firma. Assim, como o valor da produção se
resume aos custos do que foi produzido mais os lucros e como tudo isso é renda, conclui-se que
o valor do que foi produzido tem que ser igual às rendas geradas em sua produção.
Já que se verifica isso em uma firma, também se pode verificar em a economia como um
todo, de forma que o valor de tudo o que é produzido na economia, durante qualquer período
(um mês, um ano etc.), será igual à renda total recebida no mesmo período. Portanto, para
as firmas venderem tudo o que produzem, as pessoas terão que gastar, no agregado, todas
as suas rendas. Se isso ocorrer normalmente, os lucros permanecerão altos e os empresários
continuarão a produzir a mesma quantidade de produtos, ou mais, no período seguinte.
Tal como Keynes propôs, esse processo pode ser visto como um fluxo circular: o
dinheiro vai das firmas para o público sob a forma de salários, aluguéis, juros e lucros;
esse dinheiro, depois, retorna às firmas, quando o público compra seus bens e serviços.
Enquanto as firmas venderem tudo o que produzirem e tiverem lucros satisfatórios, o
processo continuará indefinidamente.
Esse processo, contudo, tende a não acontecer de forma tão natural como pode parecer à
primeira vista, visto que as pessoas não, necessariamente, irão gastar toda a sua renda. Afinal
muitos poupam, outros, ainda, compram produtos importados, além da parcela que é retida a
título de impostos diretos e indiretos cobrados pelo governo.
Na visão neoclássica do capitalismo, esses “vazamentos” poderiam ser compensados, de
forma que tenderia sempre a reinar a prosperidade. Nessa situação de prosperidade, ainda,
o desemprego involuntário (quando a pessoa está procurando emprego, mas não encontra),
para os economistas neoclássicos, teria como única causa: a recusa dos trabalhadores em
aceitar reduções de seus salários. Ou seja, as pessoas estariam desempregadas não por falta
de vagas, mas por que não aceitam os salários ofertados no mercado.
Uma das suposições coerentes e importantes de Keynes na Teoria Geral é a de que a taxa
de utilização da capacidade produtiva declina rapidamente nas épocas de depressão. Ou seja,
enquanto num período de euforia uma fábrica opera com 100% da capacidade, por exemplo,
em uma depressão esse percentual cai rapidamente para 60% ou 50%, o que faz com que o
desemprego também aumente rapidamente.
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Unidade: Os pensamentos de Marx e Keynes
Veja que a hipótese de Keynes parece bem razoável; afinal, o mais comum é que as pessoas
com mais renda poupem maior parcela do seu salário. Embora a remuneração das aplicações
também influencie o volume total, por exemplo, da poupança, é difícil imaginar que uma
pessoa com baixa renda abra a mão da compra de alimentos para guardar dinheiro na
Para pensar
poupança apenas porque a remuneração aumentou.
Dessa forma, Keynes afirmou que o nível de consumo e o nível de poupança eram função
do nível de renda, o que foi chamado por ele de “função consumo”. A função-consumo
de Keynes, assim sendo, retrataria a relação entre poupança, consumo e nível de renda das
famílias. Keynes nomeou essas relações da seguinte forma:
»» a relação entre uma variação da renda e a variação resultante da poupança foi definida
como “propensão marginal a poupar”;
»» a relação entre uma variação da renda e a variação resultante do consumo foi definida
como “propensão marginal a consumir”.
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Assim, Keynes postulou que a taxa de juros era determinada pela procura e pela oferta de
moeda, podendo ser influenciada, entre outros, pelos atos do Banco Central ou das autoridades
monetárias. Se, por um lado, a oferta de moeda era controlada inteiramente pelo Banco Central,
por outro, a procura de moeda pelas pessoas, para Keynes, era determinada por três motivos:
Essas e outras contribuições de Keynes serão estudadas de forma mais profunda em outras
disciplinas. Por hora, contudo, nossa discussão será direcionada para as respostas de Keynes
para resolução das crises do capitalismo.
Chegando a tal situação, Keynes via como necessária uma intervenção profunda e poderosa
na economia por parte do Governo através de políticas fiscais e monetárias, uma vez que
o “ajuste-automático” do mercado poderia levar muito tempo para se realizar, trazendo
consequências desastrosas para a sociedade como um todo.
Keynes analisava que, em situações como essas, o governo poderia interferir na economia,
tomando o excesso de poupança da economia e investindo-o em projetos socialmente úteis, que
não aumentassem a capacidade produtiva da economia e nem diminuíssem as oportunidades
de investimento no futuro. Para Keynes, esses gastos do governo poderiam concentrar-se, por
exemplo, em obras públicas úteis, como a construção de escolas, hospitais, parques e outras
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Unidade: Os pensamentos de Marx e Keynes
comodidades para a população. Keynes, todavia, era muito perspicaz e sabia que, talvez, fosse
necessário, do ponto de vista político, canalizar parte desses gastos para as mãos das grandes
empresas, mesmo que fosse feito pouco diretamente em benefício da sociedade.
Em uma de suas metáforas famosas, Keynes chegou a propor que, em situações de crise,
para o Governo, seria melhor encher garrafas velhas de dinheiro e enterrá-las bem fundo,
em minas antigas, deixando as empresas privadas, dentro dos princípios do laissez-faire,
desenterrarem o dinheiro. Essa prática faria com que as empresas contratassem escavadores,
Para pensar
o que diminuiria o desemprego e aumentaria a renda.
Embora a metáfora citada por Keynes seja uma situação extrema, a saída da Grande
Depressão dos anos 30 passou, decididamente, por grandes programas de investimentos
dos Governos, com destaque importante para os volumosos gastos militares por conta da
eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939. Apenas como ilustração, entre 1939 e 1944,
o produto das indústrias de mineração, transformação e construção, nos Estados Unidos,
aumentou 50% (HUNT, 1981). O desemprego alto, que tinha durado uma década inteira,
inverteu-se rapidamente e a economia americana experimentou uma forte e aguda escassez
de mão de obra, por conta dos gastos com a manutenção do estado de guerra.
A maioria dos economistas achava que essa experiência durante a guerra comprovou as
ideias de Keynes. “Provou-se”, então, que o capitalismo, poderia ser salvo se o Governo
usasse corretamente seu poder de tributar, tomar emprestado e gastar dinheiro. O capitalismo
era tido, uma vez mais, como um sistema econômico e social viável. A confiança do público
tinha sido restabelecida (HUNT, 1981).
Entre as diversas contribuições do pensamento de Keynes sobre o funcionamento de uma
economia capitalista e sobre como tirá-la de situações de crise, a contribuição imprescindível
de Keynes foi mostrar como a relação entre poupança e renda poderia levar a um nível de
renda estável, porém, em depressão e com desemprego generalizado, tal como se verificou
em 1929 e em outras crises que o capitalismo enfrentou ao longo do século XX.
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Material Complementar
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Unidade: Os pensamentos de Marx e Keynes
Referências
MARX, K. H. O Capital: crítica da economia política – volume 1. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
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Anotações
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