Dias Tristes Que Pintei de Azul - Francisco Ramai - No

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 22

DIAS TRISTES QUE

PINTEI DE AZUL

Francisco Ramai
Direitos autorais © 2024 Francisco Ramai

Todos os direitos reservados

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas
reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação, ou
transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou
outro, sem a permissão expressa por escrito da editora.

Design da capa por: Erick Saraiva


INTRODUÇÃO
escrevo este texto às 13:42 de 09/02/2024. a última vez que publiquei um
poema inédito foi há três anos, em 2021. nesse meio tempo, eu tentei
desistir de escrever. anunciei no Instagram que iria tirar meus livros do ar e
tentei tocar minha para outro lado, mas as coisas não sairam conforme
planejei. vendi meu Celtinha, tirei um emprésimo, comprei um Food Truck
e uma máquina de fabricar salgados. abri o Food Truck numa praça, só
durou duas semanas. eu tive no máximo 15 clientes. aí vendi o Food Truck
e abri uma açaiteria, que também não deu muito certo. foram anos difíceis.
fora os fracassos financeiros, escolhas cruéis do destino me bateram.
sucateado, sem ter a literatura como corda do ringue pra me jogar pro meio
da luta, precisei lidar com o mundo de cara limpa. na verdade, tentei. mas
não consegui. em segredo, ía alí, abria o bloco de notas e escrevia um
poema. depois outro, e alguma anotaçãoo. acabei escrevendo o pequeno
romance "aquele abraço foi o pedido de socorro mais bonito", que me
ajudou a entender que eu preciso disso tanto quanto isso precisa de mim.
neste livreto, eu reúni alguns dos poemas que compus nos últimos anos, em
silêncio, sem publicar no Instagram, sem a voz do algoritmo pra ditar meu
ritmo.
eu imprimi estas paginas em casa. grampeei, refilei, autografei. eu, sozinho,
dando vida aos meus textos. o mais próximo da poesia que pude me pôr:
construir a obra artesanalmente. este livreto é uma pequena amostra do que
serei daqui pra frente. da nova antiga versão de mim.
espero que goste da leitura, até breve! :)
1. eu não quero morrer de amor por ninguém. por amor quero é me sentir
vivo. sereno, como o trânsito de aviões no céu. morrer eu só quero se for
sufocado num abraço apertado. daqueles, no meio da noite, sem aviso
prévio, que dizem palavras que a gente não sabe, e fazem a gente querer
viver mais.
2.
hoje vi um carteiro assobiando La Vie En Rose
e me senti na obrigação de amar o mundo
3. sua voz

você me liga de outra cidade. ouço nosso amor em voz robótica. entre os
fios, no espaço, nos satélites, no caminho entre sua boca e meu ouvido está
tudo o que importa nesse mundo.
4.
a melhor coisa de ficar sozinho em casa
é poder chorar bem alto
5.
de vez em quando, revisitar o passado.
não por querer voltar, mas para jamais
desaprender a fugir de lá.
6.
faz três dias que tento chorar e não consigo. ontem encontrei um amigo de
infância que não via há anos. ele estava bêbado e me abraçou do nada. me
pediu perdão e saiu correndo. eu perdoei, mas até agora não sei do quê. só
sei que há algo bonito entre meus pés e o chão do sertão. um coração
branco feito flor de mandacaru. um coração limpo feito um sonho que sai
do papel. um coração renovado. vejo o público cantando as músicas de
J4mpa e penso em Oito Correntes de Victor Xamã. de repente sinto essa
vontade imensa de gritar pro mundo que a vida é azul. são vários tipos de
choros que existem, inclusive esse engolido que me diz que hoje é dia de
ser feliz pra sempre.
7. domingo à tarde

quero reservar boa parte da minha vida


para te amar preguiçosamente
8.
ainda não cheguei no fundo do poço,
mas durante a queda abri os braços pra sentir o vento
9.
do termo tudo só me importam as duas primeiras letras
10.
às vezes sou artista, às vezes vendedor de arte. tenho a alma que sente a dor
do mundo e a alma vendida pra fazer as compras. vivem em mim as duas, e
uma odeia a outra.
11.
amo descansar no teu colo
como quem flutua no mar
12.
"envelhecer é mesmo uma catástrofe", minha Vó diz. "Meu Deus, nunca
pensei de ficar velha". olha pras mãos, estica os dedos, conclui, esperando o
feijão descongelar: "mas tá bom, melhor envelhecer do que não envelhecer,
né"
13.
faz alguns meses que você se foi. meu café tá mais forte, meus abraços mais
lentos, minhas palavras mais duras, mas me sinto cada vez mais fraco...
14.
às vezes amanheço disposto ao desabamento. não existe salvação. é melhor
aceitar. fechar a porta do quarto e esquecer de acender as luzes. aceitar que
o tempo não espera que eu me adapte à pressa que ele tem de levar o mundo
em frente. aceitar que estou velho demais pra precisar da minha mãe, mas
hoje só um abraço dela me tiraria desse escuro.
15.
sempre que você vai embora sinto como se tivesse bebido um copo de
refrigerante que adoça o dia mas só aumenta a sede
SOBRE O AUTOR
Francisco Ramai

Francisco Ramai nasceu no sertão da Paraíba em 1998. Publica poemas em


suas redes sociais desde 2015, somando cerca de 500 mil seguidores no
total.

Como autor independente, editou e lançou 7 livros, variando entre poesia e


romances.

Seus textos costumam falar sobre o amor, a depressão, a solidão e o tédio.


LIVROS DESTE AUTOR
Eu Te Amo Como Uma Criança Dirigindo Um
Carro

Sou Tão Humano Que Me Dói

Eu Nunca Consegui Dizer Teu Nome Sem Tremer


O Canto Da Boca

A Tristeza É Um Animal De Estimação

Todo Domingo Eu Penso Em Fugir Do País

Aquele Abraço Foi O Pedido De Socorro Mais


Bonito

Você também pode gostar