STJ 2020
STJ 2020
STJ 2020
Informativo 667
HC 530.563-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
05/03/2020, DJe 12/03/2020
Cumpre destacar que, naquele caso, não havia denúncia formalizada e a competência
da Justiça estadual foi declarada exclusivamente considerando os indícios colhidos até a
deflagração do incidente, bem como o dissenso verificado entre os Juízes envolvidos, sendo
que nenhum deles, naquele incidente, cogitou que o contrato celebrado entre o investigado e
as vítimas consubstanciaria um contrato de investimento coletivo.
REsp 1.787.449-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
10/03/2020, DJe 13/03/2020
CC 170.201-PI, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
11/03/2020, DJe 17/03/2020
Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar
contra outro quando ambos estejam fora do serviço ou da função no momento do crime.
No caso, a vítima e o réu – ambos policiais militares à época dos fatos – estavam fora
de serviço quando iniciaram uma discussão no trânsito, tendo ela sido motivada por uma
dúvida da vítima acerca da identificação do réu como policial militar.
Nos momentos que antecederam aos disparos, não há nenhum indício de que o réu
tenha atuado como policial militar. Há elementos, inclusive, que sugerem comportamento
@professor_bello 2
anormal àquele esperado para a função, já que supostamente teria resistido à investida da
vítima, no sentido de conduzi-lo à autoridade administrativa.
O fato não se amolda à hipótese prevista no art. 9º, II, a, do CPM, notadamente
porque o evento tido como delituoso envolveu policiais militares fora de serviço, sendo que o
agente ativo não agiu, mesmo com o transcorrer dos acontecimentos, como um policial militar
em serviço.
Inviável, também, concluir pela prática de crime militar com base no art. 9º, III, d,
do CPM, ou seja, mediante equiparação do réu (fora de serviço) a um civil, pois, ainda que a
vítima, antes dos disparos, tenha dado voz de prisão ao réu, ela não foi requisitada para esse
fim nem agiu em obediência à ordem de superior hierárquico, circunstância que rechaça a
existência de crime militar nos termos do referido preceito normativo.
Informativo 666
RHC 89.853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
18/02/2020, DJe 02/03/2020
Tráfico de drogas. Flagrante. Violação de domicílio. Tema 280/STF. Denúncia anônima. Fuga
isolada do suspeito. Ausência de justa causa. Nulidade de provas.
Deve-se frisar, ainda, que "a mera denúncia anônima, desacompanhada de outros
elementos preliminares indicativos de crime, não legitima o ingresso de policiais no domicílio
indicado, estando, ausente, assim, nessas situações, justa causa para a medida." (HC
512.418/RJ, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 26/11/2019, DJe
03/12/2019).
Neste ensejo, vale destacar que, em situação semelhante, a Sexta Turma desta Corte
entendeu que, mesmo diante da conjugação desses dois fatores, não se estaria diante de justa
causa e ressaltou a imprescindibilidade de prévia investigação policial para verificar a
veracidade das informações recebidas (RHC 83.501/SP, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Sexta
Turma, julgado em 06/03/2018, DJe 05/04/2018).
Desta feita, entende-se que, a partir da leitura do Tema 280/STF, resta mais
adequado a este Colegiado seguir esse entendimento, no sentido da exigência de prévia
investigação policial da veracidade das informações recebidas. Destaque-se que não se está a
exigir diligências profundas, mas breve averiguação, como "campana" próxima à residência
para verificar a movimentação na casa e outros elementos de informação que possam ratificar
a notícia anônima.
@professor_bello 3
Informativo 665
HC 553.872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade,
julgado em 11/02/2020, DJe 17/02/2020
Informativo 663
CC 169.053-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
11/12/2019, DJe 19/12/2019
Até recentemente, a jurisprudência desta Corte orientava que, nos casos em que a
vítima houvesse sido induzida a erro a efetuar depósito ou transferência bancária para conta de
@professor_bello 4
terceiro, o local da consumação do crime de estelionato seria o da agência bancária onde
efetivada a transferência ou o depósito.
Anote-se que a melhor solução jurídica seria aquela que estabelece distinção entre a
hipótese de estelionato mediante depósito de cheque clonado ou adulterado (competência do
Juízo do local onde a vítima mantém conta bancária), daquela na qual a vítima é induzida a
efetivar depósito ou transferência bancária em prol do beneficiário da fraude (competência do
Juízo onde situada a agência bancária beneficiária do depósito ou transferência).
RvCr 4.853-SC, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador Convocado do TJ/PE),
Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 27/11/2019, DJe 17/12/2019
Ofende o enunciado do non reformatio in pejus indireta o aumento da pena através de decisão
em recurso especial interposto pelo Ministério Público contra rejulgamento de apelação que não
alterou reprimenda do acórdão anterior, que havia transitado em julgado para a acusação e
que veio a ser anulado por iniciativa exclusiva da defesa.
Assim, em havendo recurso somente da defesa, sua reprimenda não poderá ser de
qualquer modo piorada, em detrimento do réu, evitando assim a intimidação ou o embaraço do
condenado ao exercício da ampla defesa. Vale dizer, o réu não pode ser tolhido no seu direito
de ampla defesa por receio de ter sua situação penal agravada no caso de julgamento de
recurso somente por ele provocado. Da referida regra decorre o igualmente célebre enunciado
da vedação à reformatio in pejus indireta, segundo o qual deve se conferir à decisão cassada o
efeito de vedar o agravamento da reprimenda nas posteriores decisões proferidas na mesma
ação penal, quando a nulidade for reconhecida a partir de recurso defensivo exclusivo (ou
em habeas corpus).
No caso, após a sentença condenatória, houve recurso de apelação pela defesa, tendo
o Tribunal de Justiça reduzido a pena para 5 anos e 10 meses de reclusão, em regime inicial
@professor_bello 5
semiaberto. Referida decisão transitou em julgado para ambas as partes, sendo
impetrado habeas corpus pelo réu junto a este Superior Tribunal de Justiça, cuja ordem foi
concedida para cassar o decisório.
CC 168.522-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
11/12/2019, DJe 17/12/2019.
No caso de audiência de custódia realizada por juízo diverso daquele que decretou a
prisão, observa que competirá à autoridade judicial local apenas, caso necessário, adotar
medidas necessárias à preservação do direito da pessoa presa. As demais medidas, ou não são
aplicáveis no caso de prisão preventiva ou não possui o juízo diverso do que decretou a prisão
competência para a efetivar. De fato, uma das finalidades precípuas da audiência de custódia é
aferir se houve respeito aos direitos e garantias constitucionais da pessoa presa.
Assim, demanda-se que seja realizada pelo juízo com jurisdição na localidade em que
ocorreu o encarceramento. É essa autoridade judicial que, naquela unidade de exercício do
poder jurisdicional, tem competência para tomar medidas para resguardar a integridade do
preso, bem assim de fazer cessar agressões aos seus direitos fundamentais, e também
determinar a apuração das responsabilidades, caso haja relato de que houve prática de
torturas e maus tratos. Nesse contexto, foge à ratio essendi do instituto a sua realização por
meio de videoconferência.
@professor_bello 6
Não se admite, portanto, por ausência de previsão legal, a realização da audiência de
custódia por meio de videoconferência, ainda que pelo Juízo que decretou a custódia cautelar.
HC 537.118-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
05/12/2019, DJe 11/12/2019
A Lei n. 13.260/2016 estabeleceu os tipos penais de terrorismo nos arts. 2º, 3º, 5º e
6º. No caso analisado, cinge-se a controvérsia a discutir se a imposição de ato infracional
análogo ao art. 5º (atos preparatórios de terrorismo) demanda interpretação conjunta com
o caput do art. 2º, visto que esse último define legalmente o que se entende por terrorismo.
Verifica-se essencial rememorar que o tipo penal exerce uma imprescindível função
de garantia. Decorrente do princípio da legalidade, a estrutura semântica da lei incriminadora
deve ser rigorosamente observada, assim como as suas elementares devem encontrar
adequação fática para que o comando secundário seja aplicado.
O tipo penal não traz elementos acidentais, desprezíveis, dispensáveis. Isso posto, a
adequação típica de conduta como terrorismo demanda que esteja configurada a elementar
relativa à motivação por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia
e religião, sob pena de não se perfazer a relação de tipicidade.
O uso da expressão "por razões de" indica uma elementar relativa à motivação. De
fato, a construção sociológica e a percepção subjetiva individual do ato de terrorismo conjugam
motivação e finalidade qualificadas, compreensão essa englobada na definição legal. No tocante
ao delito do art. 5º, verifica-se que funciona como soldado de reserva em relação ao delito de
terrorismo. Trata-se de criminalização dos atos preparatórios do delito de terrorismo,
expressão que remete ao dispositivo anterior, exigindo a interpretação sistemática.
Informativo 662
EREsp 1.738.968-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por maioria, julgado em
27/11/2019, DJe 17/12/2019
@professor_bello 7
A Terceira Seção do STJ, em apreciação aos embargos de divergência, pacificou o
entendimento que encontrava dissonância no âmbito das turmas de direito penal sobre o
momento da individualização da pena. Decidiu o acórdão embargado, da Quinta Turma, que a
reincidência que não esteja expressamente reconhecida no édito condenatório não pode ser
proclamada pelo juiz da execução, sob pena de violação à coisa julgada e ao princípio da non
reformatio in pejus. O acórdão paradigma, da Sexta Turma, por sua vez, entendeu que as
condições pessoais do paciente, como a reincidência, devem ser observadas pelo juízo da
execução para concessão de benefícios. Tratando-se de sentença penal condenatória, o juízo
da execução deve se ater ao teor do referido decisum, no que diz respeito ao quantum de
pena, ao regime inicial, bem como ao fato de ter sido a pena privativa de liberdade substituída
ou não por restritiva de direitos, fatores que evidenciam justamente o comando emergente da
sentença. Todavia, as condições pessoais do réu, da qual é exemplo a reincidência, devem ser
observadas na execução da pena, independente de tal condição ter sido considerada na
sentença condenatória, eis que também é atribuição do juízo da execução individualizar a
pena. Como se sabe, a individualização da pena se realiza, essencialmente, em três momentos:
na cominação da pena em abstrato ao tipo legal, pelo Legislador; na sentença penal
condenatória, pelo Juízo de conhecimento; e na execução penal, pelo Juízo das Execuções.
Esse entendimento, a propósito, tem sido convalidado pelo Supremo Tribunal Federal, para o
qual o "reconhecimento da circunstância legal agravante da reincidência (art. 61, I, do Código
Penal), para fins de agravamento da pena do réu, incumbe ao juiz natural do processo de
conhecimento. De outro lado, a aferição dessa condição pessoal para fins de concessão de
benefícios da execução penal compete ao juiz da Vara das Execuções Penais. Trata-se,
portanto, de tarefas distintas. Nada obsta a ponderação da reincidência no âmbito da execução
penal do reeducando, ainda que não lhe tenha sido agravada a pena por esse fundamento,
quando da prolação da sentença condenatória".
@professor_bello 8