Geometria Sagrada
Geometria Sagrada
Geometria Sagrada
Índice
Introdução
1. Os Princípios da Geometria Sagrada
2. As Formas
3. A Geometria Britânica Antiga
4. A Geometria Sagrada Egípcia Antiga
5. A Geometria Sagrada Mesopotâmica e Hebraica
6. Grécia Antiga
7. Vitrúvio.
8. Os Comacinos e a Geometria Sagrada Medieval
9. Simbolismo Maçônico e Prova Documental
10. Problemas, Conflitos e Divulgação dos Mistérios
11. A Geometria Sagrada da Renascença
12. A Geometria do Barroco
13. A Geometria Sagrada no Exílio
14. Ciência: O Verificador da Geometria Sagrada
A Albertus Argentinus, inventor do ad quadratum.
Introdução
"O homem é a medida de todas as coisas, dos seres vivos queexistem e das
não-entidades que não existem.“
Protágoras (c. 481.411 a.C.)
A geometria existe por toda parte na natureza: a sua ordem subjaz à estrutura
de todas as coisas, das moléculas às galáxias, do menor vírus à maior baleia.
Apesar do nosso distanciamento do mundo natural, nós, os seres humanos,
ainda estamos amarrados às leis. naturais do universo. Os artefatos singulares
planejados conscientemente pela humanidade também têm sido baseados,
desde os tempos mais antigos, em sistema de geometria. Esses sistemas,
embora derivem inicialmente de formas naturais, freqüentemente as
ultrapassaram em complexidade e engenhosidade e foram dotados de poderes
mágicos e de profundo significado psicológico.
A geometria - termo que significa "a medição da terra" talvez tenha
sido uma das primeiras manifestações da civilização em seu nasce douro.
Instrumento fundamental que subjaz a tudo o que é feito pelas mãos
humanas, a geometria desenvolveu-se de uma habilidade primitiva - a
manipulação da medida, que nos tempos antigos era considerada um ramo da
magia. Naquele período antigo, a magia, a ciência e a religião eram de fato
inseparáveis, faziam parte do conjunto de habilidades possuídas pelo
sacerdócio. As religiões mais remotas da humanidade estavam concentradas
naqueles lugares naturais em que a qualidade numinosa da terra podia ser
plais prontamente sentida: entre árvores, rochas, fontes, em cavernas e
lugares elevados. A função do sacerdócio que se desenvolveu ao redor desses
sítios de santidade natural foi a princípio interpretativa. Os sacerdotes e as
sacerdotisas eram os especialistas que podiam ler o significado em augúrios
e oráculos, tempestades, ventos, terremotos e outras manifestações das
energias do universo. As artes do xamanismo que os sacerdotes mais antigos
praticavam permitiram, com uma sofisticação cada vez maior, um sacerdócio
ritual estabelecido que exigiu símbolos externos de fé. Os penedos não
desbastados e as árvores isoladas não mais se constituíam nos únicos
requisitos para um local de adoração. Construíram-se compartimentos, que
foram demarcados como lugares santos especiais separados do mundo
profano. No ritual exigido pelo novo plano, a geometria tornou-se
inseparavelmente ligada à atividadereligiosa.
A harmonia inerente à geometria foi logo reconhecida como a expressão
mais convincente de um plano divino que subjaz ao mundo, um padrão
metafísico que determina o padrão físico. Esta realidade interior, que
transcende a forma exterior, continuou a ser ao longo de toda a história a base
das estruturas sagradas. Por essa razão é tão válido construir hoje um edifício
moderno de acordo com os princípios da geometria sagrada quanto o era
no passado em
estilos tais como o egípcio, o clássico, o românico, o islâmico, o gótico, o
renascentista ou o Art Nouveau. A proporção e a harmonia seguem
naturalmente o exercício da geometria sagrada, que parece correta porque
ela é correta, ligada como está metafisicamente à estrutura esotérica da
matéria.
A geometria sagrada está inextricavelmente ligada a vários princípios
místicos. Talvez o mais importante deles seja aquele que se atribui ao
fundador da alquimia, Hermes Trismegisto, o Três Vezes Grande Heimes.
Esta máxima é o fundamental. "Acima, como abaixo" ou "O que está no
mundo menor (microcosmo) reflete o que está no mundo maior ou universo
(macrocosmo)". Essa teoria da correspondência subjaz a toda a astrologia e
também a grande parte da alquimia, da geomancia e da magia, no sentido de
que a forma da criação universal está refletida no corpo e na constituição do
homem. O homem, por sua vez, na concepção hebraica, foi criado à imagem
de Deus - o templo que o Criador estabeleceu para hospedar o espírito que
eleva o homem para cima do reino animal.
Assim, a geometria sagrada diz respeito não só às. proporções das figuras
geométricas obtidas segundo a maneira clássica com o uso da régua e
compassos, mas também às relações harmônicas das partes de um ser
humano com um outro; à estrutura das plantas e dos animais; às formas
dos cristais e dos objetos naturais - a tudo aquilo que for manifestações
do continuum universal.
2. As Formas
São muito poucas as formas geométricas básicas das quais se compõe toda a
diversidade da estrutura do universo. Cada uma delas é dotada de
propriedades únicas e detém um simbolismo esotérico que permaneceu
imutável ao longo da história humana. Todas essas formas geométricas
básicas podem ser facilmente produzidas por meio dos dois instrumentos que
os geõmetras têm usado desde a aurora da história - a régua e o compasso.
Figuras universais, sua construção não exige a utilização de nenhuma
medição; ocorrem em todas as formações naturais, nos reinos orgânico e
inorgânico.
O círculo
Talvez o círculo tenha sido o símbolo mais antigo desenhado pela raça
humana. Simples de ser executado, é uma forma cotidiana encontradiça na
natureza, vista nos céus como os discos do sol e da lua, e ocorre nas formas
das plantas e dos animais e nas estruturas geológicas naturais. Nos tempos
antigos, as construções, fossem elas temporárias ou permanentes, eram
circulares em sua grande maioria. Os nativos americanos tipi e os yurt
mongólicos atuais são sobreviventes de uma antiga forma universal. Dos
círculos de cabanas da Grã-Bretanha neolítica, desde, os círculos de pedra
megalíticos até as igrejas e os templos redondos, a forma circular imitou a
redondeza do horizonte visível, fazendo de cada construção, na verdade, um
pequeno mundo em si mesmo.
O círculo representa o completamento e a totalidade, e as estruturas redondas
ecoam peculiarmente esse princípio. No Rosarium Philosophorum, um antigo
tratado aIquímico, lemos a seguinte afirmação:
O quadrado
Os templos antigos eram freqüentemente construídos em forma quadrilátera.
Representando o microcosmo e, em conseqüência, considerada como um
emblema da estabilidade do mundo, essa característica era especialmente
verdadeira para as representações artificiais de montanhas que reproduziam o
mundo, para os zigurates, as pirâmides e as estupas. Essas estruturas
simbolizavam o ponto de transição entre o céu e a terra e centralizavam
idealmente o omphalos, o ponto axial do centro do mundo.
Geometricamente, o quadrado é uma figura única. Pode ser dividido com
precisão por dois e por múltiplos de dois apenas com um esboço. Também
pode ser dividido em quatro quadrados quando se faz uma cruz que define
automaticamente o centro exato do quadrado. O quadrado, orientado para os
quatro pontos cardeais (no caso das pirâmides egípcias, com um exatidão
fenomenal), pode ser
novamente bisseccionado por diagonais, que o dividem em oito triângulos.
Essas oito linhas, partindo do centro, formam os eixos que indicam as quatro
direções cardeais e os "quatro cantos" do mundo - a divisão óctupla do
espaço.
Essa divisão óctupla do espaço é venerada no "caminho óctupIo" da religião
budista e nas "Quatro Estradas Reais da Grã-Bretanha" relatadas
minuciosamente na History of the Kings of Britain, de Geoffrey of
Monmouth. Cada uma das direções, no Tibete, estava sob a guarda
simbólica hereditária de uma família, tradição que encontrou paralelo na Grã-
Bretanha nas oito Famílias Nobres que sobreviveram à Cristianização e
produziram os reis e os santos da Igreja Celta.
A divisão óctupla do quadrado era; na tradição européia, um emblema da
divisão do dia e do ano, bem como da divisão do país e da sociedade.
Embora a divisão óctupla do tempo fosse gradualmente eliminada com o
advento do sistema duodécuplo dos cristãos, ela sobreviveu nos antigos
quarterdays [primeiro dia de um trimestre] do calendário, nas tradicionais
festas do fogo nos países pagãos e na geometria maçônica da arquitetura
sagrada do sistema acht uhr ou ad quadratum. Voltarei a esse assunto
importante num capítulo posterior.
O hexágono
O hexágono é uma figura geométrica natural produzida pela divisão da
circunferência de um círculo por meio dos seus raios. Os pontos da
circunferência são conectados por linhas retas e produzem uma figura com
seis lados iguais.
Sendo uma função da relação entre o raio e a circunferência do círculo, o
hexágono é uma figura natural que ocorre em toda a natureza. É produzido
naturalmente na fervura e na mistura de líquidos. O físico francês Bénard
observou, durante as suas
experiências de difusão em líquidos, que os padrões hexagonais se formavam
freqüentemente em toda a superfície. Tais tourbillons cellulaires, ou "células
de Bénard", foram objeto de muitos experimentos. Verificou-se que, em
condições de perfeito equilíbrio, os padrões formavam hexágonos perfeitos.
Esses padrões eram semelhantes aos das células que constituem a vida
orgânica ou as formas prismáticas das rochas basálticas. Sujeitos às mesmas
forças universais de viscosidade e de difusão, padrões similares são criados
naturalmente num líquido fervente.
O hexágono natural mais bem conhecido é aquele que se vê nos favos das
abelhas. Esses favos são formados de uma reunião de prismas hexagonais
cuja precisão é tão espantosa, que atraiu a atenção de muitos filósofos, que
viam neles uma manifestação da harmonia divina na natureza. Na
Antigüidade, Pappus, o Alexandrino, dedicou a sua atenção a esse esquema
hexagonal e chegou àconclusão de que as abelhas eram dotadas de uma
"certa intuição geométrica", com a economia como princípio orientador, pois,
"existindo três figuras que podem ocupar o espaço que circunda um ponto - a
saber, o triângulo, o quadrado e o hexágono -, as abelhas escolheram
sabiamente como sua estrutura aquela que possui mais ângulos, suspeitando
com certeza que ela poderia conter mais mel do que qualquer uma das outras
duas".
Em minhas próprias pesquisas sobre a estrutura dos microrganismos
marinhos, encontrei o hexágono na forma externa da Pyramimonas virginica,
uma alga marinha norte-americana. Nela, as bases das estruturas que cobrem
o corpo do organismo formam hexágonos perfeitos, embora elas sejam
menores que o comprimento da onda da luz visível. Essa geometria natural
sobre a qual o autor romano Plínio nos conta que os homens fizeram do seu
estudo o trabalho de toda uma vida em sua época, é de interesse especial para
o geômetra místico.
A relação direta do hexágono com o círculo está ligada a uma outra
propriedade interessante segundo a qual os vértices alternados dessa figura
podem ser conectados por linhas retas para a produção do hexagrama. Essa
figura, composta de triângulos eqüiláteros quese interpenetram, simboliza a
fusão dos princípios opostos masculino e feminino, quente e frio, água e
fogo, terra e ar, etc. e é, por conseguinte, símbolo da inteireza arquetípica, o
poder divino da criação. Assim, foi usada na alquimia e continua sendo o
símbolo sagrado dos judeus ainda em nossos dias. As dimensões dos
triângulos que formam o hexagrama estão diretamente relacionadas ao
círculo que as produz e podem ser o ponto de partida para desenvolvimentos
geométricos.
Na convenção geométrica grega, isto está simbolizado pela letra grega (I).
Numericamente, possui propriedades algébricas, matemáticas e geométricas
excepcionais. (I) = 1,618; (I) = 0,618 e (I) 2 = 2,618.
Em toda progressão ou série crescente de termos que tem como a razão entre
os termos que se sucedem, cada termo é igual à soma dos dois
precedentes. Esta propriedade singular permite amanipu lação de toda a série.
Todos os outros termos sucessivos podem ser construídos, a partir de dois
deles, por movimentos simples do compasso.
Em termos numéricos, essa série aditiva foi popularizada peja primeira vez
na Europa por Leonardo Bigollo Fibonacci, conhecido como Leonardo da
Pisa. Nascido em 1179, Leonardo viajou com seu pai para Algiers, onde
aprendeu, com os geômetras árabes, o segredo da série e por essa razão pôde
introduzir os números arábicos na Europa. Ambos os conceitos
revolucionaram a matemática européia.
Esta série numérica, conhecida agora pelo nome de Série Fibonacci, foi há
muito tempo reconhecida como um princípio que ocorre na estrutura dos
organismos vivos e, por conseguinte, um princípio inerente à estrutura
do mundo. Sua construção é enganosamente fácil: o termo seguinte é a
soma dos dois termos
anteriores, isto é, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, e assim por diante. O
arranjo das folhas de um vegetal, os hipotênares da pata do gato e as espirais
das conchas formainíferas microscópicas são governados peja Série
Fibonacci.
A Seção Dourada tem sido reverenciada através de toda a história. Platão, em
seu Timeu, discutiu-a como a chave da física do Cosmos. Luca Pacioli,
geômetra renascentista, publicou sua influente obra De Divina Proportione
em Veneza em 1509 e até mesmo o arquiteto moderno Le Corbusier, pai dos
grupos de prédios, planejou um sistema modular de proporção baseado nessa
antiga mas poderosa razão.
"Alguns anos atrás (...) comecei a fazer um exame dos muitos grupos desses
sinais e, para meu espanto, descobri que, em vez de os sinaisterem sido feitos
a esmo, eles estavam arranjados da maneira mais precisa, matemática e
geométrica. (...) Embora essas esculturas ofereçam tipos marcadamente di.
ferentes. elas foram executadas em obediência às mesmas idéias e segundo o
mesmo sistema. Observei que as linhas retas podem ser desenhadas em
determinadas partes, tais como ao longo dos conjuntos de canaletas
freqüentemente metódicas ou através dos centros de três ou mais cálices ou
conjuntos aneliformes. Quando executadas, estas linhas tinham de convergir
precisamente para os pontos focais comuns situados além do campo das
esculturas. (...) Ao redor de cada um desses focos deveria estar um conjunto
de zonas concêntricas, muitas das quais conformam as partes principais ou
essenciais da obra esculpida tão exata e tão freqüentemente, a ponto de
apontarem para algum fator que não é o acaso, o acidente ou a coincidência.”
"Faze para ti uma arca de madeira alisada; farás nela uns pequenos
repartimentos, e betumá-Ia-ás por dentro e por fora. E eis aqui como a hás de
fazer; ela terá trezentos côvados de comprimento, cinquentade largura e
trinta de altura. Farás na arca uma janela, e o teto que a há de cobrir será de
um côvado; porás também nela uma porta a um lado; e disporás um andar
em baixo, um no meio e outro terceiro andar.”
Gênese 6: 14-16.
"Dado que o homem é a mais bela e a mais perfeita obra de Deus, e a Sua
imagem, e também o menor dos mundos, ele, portanto, por uma composição
mais perfeita, e uma harmonia doce, e uma dignidade mais sublime contém e
conserva em si todos os números, todas as medidas, todos os pesos, todos os
movimentos, todos os elementos, e todas as outras coisas que o constituem; e
nele, de fato, está a habilidade suprema (...) além disso, o próprio Deus
ensinou Noé a construir a Arca segundo a medida do corpo do homem e Ele
fez toda a estrutura do Mundo ser proporcional ao corpo do homem.
Portanto, alguns que escreveram sobre o microcosmo, ou sobre o homem,
afirmam que o corpo mede 6 pés, um pé 10 graus, cada grau 5 minutos; têm-
se 60 graus, que fazem 300 minutos, aos quais são comparados muitos
côvados geométricos com que Moisés descreve a Arca; pois, como o corpo
de um homem tem 300 minutos decomprimento, 50 de largura e 30 de altura,
assim também a Arca era longa de 300 côvados, larga de 50 e alta de 30.”
"E este foi o plano que lançou Salomão para construir a casa de Deus,
sessenta côvados de comprido pela primeira medida e delargura vinte
côvados.”
2 Crônicas 3.
"No primeiro ano em que o rei Ciro reinou sobre o país da Babilônia, Ciro, o
Rei, ordenou reerguer esta casa. E os vasos sagrados de ouro e prata, que
Nabucodonosor tinha levado da casa de Jerusalém(...) Ciro, o Rei, os trouxe
do templo da Babilônia e eles foram
entregues a Zorobabel e a Sanabassarus, o governador (...) então o mesmo
Sanabassarus deitou as fundações da Casa do Senhor em Jerusalém (...) no
primeiro ano de Ciro, o rei Ciro ordenou que a casado Senhor em Jerusalém
fosse reconstruída, onde eles deviam sacrificar em fogo contínuo. Cuja altura
deveria ter sessenta côvados,e a largura sessenta côvados, com três fileiras de
pedras esculpidas, e uma fileira de madeira nova daquele país (... ).”
6. Grécia Antiga
Essa proporção não está tão evidente, em nenhum outro lugar, como no
Partenon, em Atenas. Esse magnificente templo pagão, agora em ruínas, foi
construído como substituto de um templo menor de Atenas que fora destruído
pelos persas em 480 a.C. Por ter sido construído sobre as fundações de. um
templo mais antigo, que por sua vez também substituíra uma Sala do Trono
micênica, o Partenon foiprojetado mais como medidas micênicas do que com
o usual pé grego. As dimensões principais foram tão bem escolhidas que
correspondiam a números redondos em pés tanto gregos quanto micênicos,
uma tarefa não de todo difícil, já que as medidas estão relacionadas na razão
10:9. Essa relação simples é freqüentemente encontradiça em medidas
relacionadas, tais como os pés galeses, ingleses e saxões.
A geometria do Partenon foi tão bem planejada, que incorporava todas as
medidas significativas. Suas dimensões foram meticulosamente registradas
por Francis Cranmer Penrose, um arquiteto inglês que mediu o templo com
uma precisão que considera até mesmo um milésimo do pé inglês. Penrose
determinou que o Partenon não foi construído com linhas retas, mas utilizou
curvas matemáticas sutis na sua estrutura. Assim, o Partenon representa
outra ordem de geometria, algo quase fora do comum. Penrose determinou
que existem similaridades essenciais entre as estruturas geométricas do
Partenon e da Grande Pirâmide. As elevações das fachadas do Partenon
foram determinadas pela Seção Dourada e os lados foram baseados no fator
phi. O Professor Stecchini calculou que os desvios mínimos encontrados nas
bases tanto do Partenon quanto da Grande Pirâmide foram cometidos
deliberadamente e não eram resultado de pequenos erros de cálculo. Na sua
opinião, a relação entre (I) e phi na extremidade e no lado do Partenon é um
paralelo daquela que existe entre a face norte da Pirâmide (I) e o lado
oeste phi.
A largura das fachadas do Partenon era tal, que indicava um segundo de um
grau no equador. Assim, as partes individuais da estrutura, todas
comensuravelmente proporcionais em relação à geometria subjacente a todo
o edifício, eram proporcionais às dimensões da própria Terra. A harmonia
divina, assim engendrada, integra o edifício com o cosmos. Ele se torna parte
integrante da harmonia global do mundo e é, dessa maneira, um receptáculo
perfeito para adoração. A necessidade tríplice de um templo funcional -
orientação, geometria e medida - estão presentes no Partenon e em qualquer
outro edifício verdadeiramente sagrado plantado em qualquer canto da Terra.
Esse grau de integração não é conseguido por meio de nenhum outro
método.
A geometria impregnou toda a esfera da vida grega. A conexão íntima entre
a forma geométrica e a história sagrada pode ser vista no problema
supostamente insolúvel da duplicação do cubo. Os délios, que, na época de
Platão, estavam sendo vitimados por uma peste, consultaram o oráculo para
cons,eguirem um meio de dela se libertarem. O oráculo ordenou-Ihes
duplicar um dos seus altares cúbicos. Dirigiram-se então aos geômetras da
Academia e lhes pediram resolvessem o problema como um assunto de
urgência
nacional. Na verdade, trata-se de um problema insolúvel pelos métodos
clássicos da geometria e, por conseguinte, está excluído da categoria da
geometria sagrada. É um equivalente em termos geométricos do extrair a raiz
cúbica de dois, que não pode ser expressa em termos de números inteiros
nem em termos de raízes quadradas de números inteiros. O fato de esse
problema ter sido proposto pelo oráculo indica a seriedade com que a
geometria estava investida na Grécia. A observância correta da forma
geométrica na arquitetura sagrada era um ato mágico que. poderia livrar um
país deuma dificuldade.
A duplicação do cubo foi mencionada num drama teatral grego, agora
perdido. O geógrafo Eratóstenes, que utilizou esse conhecimento geométrico
para medir o tamanho da Terra, relata numa carta escrita ao rei Ptolomeu IIl
do Egito que um dos poetas trágicos antigos se refere ao problema. Na peça,
ele apresenta o rei Minos sobre o palco erigindo uma tumba para seu filho
Glauco, e então, percebendo quea estrutura era muito insignificante para um
mausoléu real, ordenou "duplicá-Ia mas preservar-lhe a forma cúbica".
Esses dois exemplos enfatizam a importância do volume na arquitetura
sagrada egipto-grega. Como as dimensões internas do cofre colocado dentro
da Grande Pirâmide, a capacidade das estruturas sagradas merecia
consideração primária. Exemplos posteriores da Europa medieval e
renascentista também mostram que a capacidade era o fator mais
determinante. As dimensões internas eram sempre estipuladas no desenho
das igrejas e das capelas, ao passo que geometria sagrada elevacional era
aplicada às elevações exteriores. O "problema délio", como ficou conhecido,
da duplicação do cubo foi reduzido por Hipócrates de Chios a umaquestão de
geometria plana, isto é, à descoberta de duas proporcionais entre duas linhas
retas, a maior das quais deve ser o dobro da menor. Esse foi mais um dos
problemas teóricos pelos
quais Euclides e seus seguidores se tomaram conhecidos. Ele levou à
descoberta das seções cônicas.
Já neste período tão primitivo, esse interesse literalmente acadêmico pela
geometria dividia o assunto em duas disciplinas distintas, a prática e a
matemática. Ao passo que havia (e ainda há) uma grande coincidência entre
as geometrias sagrada e matemática, as raízes do cisma podem ser
encontradas nos esforços feitos pelos filósofosgregos na tentativa de resolver
os problemas geométricos do oráculo.
A beleza da arte grega foi o resultado prático das meditações dos filósofos.
Naqueles tempos, quando a reverência pagã antiga para com o mundo ainda
não havia sido superada pela espoliação a todo custo que caracteriza a
civilização industrial, todo objeto que passasse pelas mãos dos artesãos
continha propriedades sagradas. O artesão, diferentemente da sua
contrapartida moderna da linha de produção, estava consciente da natureza
sagrada dos materiais com que trabalhava e da sua responsabilidade como
fiduciário do material que manipulava.
Porque toda a Terra era sagrada, os materiais também eram sagrados e,
assim, a modelagem era um ato de adoração. Era imperativo que o artesão
trabalhasse com o melhor da sua habilidade e em concordância com os
materiais de que dispunha; assim, a aplicação da geometria sagrada era
absolutamente natural. Os vasos gregos requintadamente belos foram
analisados por geômetras modernos tais como Caskey e Hambidge, que
descobriram que eles foram desenhados de acordo com construções
complexas mas harmoniosas de geometria de Seção Dourada. Fazer vasos e
utensílios sagrados de acordo com a geometria sagrada asseguraria a sua
função correta não só nos arredores do templo, cuja geometria eles ecoavam,
mas também no contexto secular. É só nos tempos modernos que a
geometria sagrada foi relegada, primeiramente à
esfera estreita do desenho de edifícios sagrados, e depois completamente
abolida em função de objetivos prático.
7. Vitrúvio
"Durante o período das Cruzadas, muitas das regras e muitos dos mistérios
conhecidos nos tempos clássicos parecem ter sido reorganizados. A
influência da ocupação da Síria sobre a arquitetura européia é muito marcada
e maravilhosa. Não só incontáveis igrejas, castelos e outros edifícios foram
erigidos na Palestina pelos invasores com a ajuda dos habilidosos operários
sírios, mas também os Templários e outras ordens militares e religiosas, que
constituíram estabelecimentos na Europa. trouxeram esse conhecimento
oriental.”
Mas por que a forma redonda da igreja foi considerada não-cristã pela
hierarquia da Igreja? A forma redonda, ao contrário de outros padrões tais
como a Cruz Latina, não representava o corpo de um homem ou o corpo de
Deus. Ao contrário, representava o mundo, o domínio do terreno, e, em
termos cristãos, as forças satânicas, pois
que o Diabo na época medieval era personificado como Rex Mundi, rei do
mundo. No costume Templário, essa terrenidade era enfatizada pelo cubo
que se situava no centro mesmo da rotunda. O cubo no interior do círculo
representava a terra nos céus, a fusão dos poderes considerados heréticos
pelos cristãos medievais, donde a perseguição aos alquimistas, magos e
heréticos que se empenhavam nessa fusão. Com esse simbolismo exposto,
não foi difícil provar a acusação de heresia com que os infelizes Templários
foram incriminados. Princípios jslâmicos públicos, derivados da ala mística
do maometanismo, os Sufis, só serviram para amaldiçoar ainda mais a seita.
Todavia, o conhecimento técnico islâmico era de outra natureza. Sobreveio,
por meio de um estranho conjunto de circunstâncias, um segundo período de
influência islâmica que deveria varrer o gótico "puro" de Chartres. Durante o
século XIII, as hordas mongóis saíram de sua base na Ásia Central e se
converteram numa séria ameaça ao Oriente Médio e à Europa. Após a
primeira fase da expansão, o Império Mongol estava consoljdado com seu
posto avançado naPérsia sob o governo de um vice-rei que atendia pelo título
de IIkhan. Tendo deixado de representar uma ameaça à Cristandade, os
mongóis logo foram vistos como aliados contra os turcos. Vários reis
cristãos enviaram emissários a sucessivos IIkhans a fim de cultivar essa
aliança. Digno de nota foi o Olkhan Arghun (1284-1291), que manteve
relações com muitos estados cristãos. Ele chegou até mesmo a enviar uma
embaixada a Londres em 1289. Em troca, o rei Eduardo I da Inglaterra
enviou uma missão comandada por Sir Geoffrey Langley à Pérsia. Langley
participara de uma cruzada com o rei no começo dos anos 70 e viajara à
Pérsia via Constantinopla e Trebizonda em 1292. Tajs embaixadas eram um
canal para a transmissão do novo conhecimento. Os arquitetos asiáticos
misturaram as suas técnicas com a tradição islâmica persa e aos
poucos seu estilo foi transformado pelos maçons geômetras europeus.
Um edifício do período IIkhan que exerceu um efeito notável sobre a Europa
foj o famoso mausoléu do IIkhan Uljaitu, em Sultaneih. No início deste
século, o erudito alemão Ernst Diez fez um estudo exaustivo desse
memorial. Toda a sua estrutura é determinada por dois quadrados
interpenetrados que formam um octógono. A partir dessa base octogonal,
derivou-se a elevação, que contém triângulos e quadrados. A altura do
edifício, medida por M. Dieulafoy rios anos
80 do século passado, é de 51 metros e o diâmetro interno tem exatamente a
metade. Um sistema de razões, derivadas geometricamente, foi a origem
básica dessas harmonias. Ao passo que o diâmetro principal dos pilares
servira aos gregos antigos como módulos, os arquitetos persas levaram as
dimensões dos arcos ou domos a relações determinadas com as outras partes
do edifício. No mausoléu de Uljaitu, o ponto básico de partida foi a
dimensão do diâmetro interno da câmara mortuária.
A partir dessa dimensão, o arquiteto construiu um octógono para a planta
baixa. Para a elevação, um quadrado duplo foi erguido. No quadrado
superior, um triângulo eqüilátero definiu. o domo e o tímpano sobre o qual
ele foi erguido acima da porção basal cúbica. As câmaras laterais e as
galerias foram determinadas geometricamente por triângulos eqüiláteros
cujas posições foram fixadas por quadrados oblíquos e diagonais. A
arquitetura do mausoléu representava um ponto de partida construçional que
influenciou o octógono da Catedral de Ely nas terras pantanosas longínquas
do East Anglia. Mausoléus com o teto como espigões do domo não haviam
aparecido antes na Pérsia, embora tivessem sido construídos na velha Delhi.
Os mesmos sistemas de geometria que os maçons europeus utilizaram em
seus grandes edifícios foram utilizados para glorificar um sistema religioso
bastante diferente.
A origem oriental dessa geometria, todavia, não deteve os arquitetos cristãos
em sua tarefa. Como tecnólogos progressistas, eles acolheram com prazer as
novas idéias dos infiéis e as incorporaram às últimas obras. Os princípios
transcendentes foram adotados com alacridade pelos homens pragmáticos,
cuja compreensão do simbolismo os capacitara a trabalhar com o
inexperimentado e o insuspeitado.
O conhecimento acumulado da Pérsia e de outros países do Oriente Médio
foi logo aumentado com informações provenientes de outros lugares. Em
1293, missionários cristãos foram da Itália à China e em 1295 Marco Polo
retomou a Veneza, vindo de Pequim. Com esse intercâmbio sem
precedentes, eram inevitáveis novas geometrias sagradas. Um exemplo
bastante bem documentado da influência oriental está no Grande Salão da
Piazza della Ragione, em Pádua. Foi desenhado por um frade agostiniano
chamado Frate Giovanni por volta de 1306. Giovanni trabalhara em muitos
lugares da Europa e da Ásia e trouxera planos e desenhos dos edifícios que
vira. Em Pádua, reproduziu um vasto teto de vigas que vira na Índia e que
media 240 pés por 84.
Outras influências orientais podem ser demonstradas pelo aparecimento
simultâneo de temas exóticos em lugares bastantedistantes entre si. O arco de
gola, em que os arcos que formam o arco são voltados para fora e continuam
como uma característica arquitetônica sobre a porta ou janela, apareceu
simultaneamente sem antecedentes tanto em Veneza quanto na Inglaterra.
Detalhes da porta de St. Mary Redcliffe, em Bristol, e também na catedral
dessa cidade e no castelo de Berkeley, também apresentam uma influência
oriental inconfundível que pode ser comparada com a obra de Lalys em
Neath.
As visitas de registradores desses detalhes arquitetônicos locais, tais
como as de Simon Simeon e Hugh, o Iluminador, na Terra Santa em 1323,
serviram para reforçar o interesse nos círculos monásticos pelo desenho
oriental. O estilo "perpendicular" na Inglaterra, que surgiu por volta do
final do século XIV, foi prenunciado pelos hexágonos alongados nos
edifícios muçulmanos egípcios do século XIII. Os elementos verticais que
cruzam a curva de um arco, uma característica importante do desenho da
Capela do King's College em Cambridge (iniciada em 1446), já existiam no
Mausoléu de Mustapha Pasha no Cairo, construído entre 1269 e 1273. Os
maçons da Europa, embebidos em conhecimentos geométricos, assimilaram
prontamente as técnicas da arquitetura simbólica do Islã, realçando-a e
trazendo-a a uma nova era.
As catedrais medievais são a mais fina flor da arte da geometria sagrada que
se desenvolveu na Europa. As manifestações físicas da summa theologiae, a
incorporação microcósmica do universo criado, as catedrais em sua forma
completa perfeita, unidas em suas posições, orientações, geometria,
proporção e simbolismo, tentam
criar a Grande Obra - a unificação do homem com Deus. Tem-se observado
que muitas catedrais, como as de Canterbury, Gloucester e Chartres, foram
construídas no sítio de antigos círculos megalíticos, incorporando em seus
desenhos o posicionamento e a geometria dos círculos. Geomanticamente
situados de maneira a poderem empregar ao máximo as energias telúricas da
terra e as influências astrofísicas dos céus, os círculos de pedra derrubados
pelos zelosos santos cristãos foram amalgamados na estrutura mesma das
igrejas que os sucederam.
Louis Charpentier sugeriu que as pedras antigas de estruturas megalíticas,
além de absorverem influências cósmicas e telúricas, também agiam como
instrumentos de vibração. Esses instrumentos de pedra, afirmou ele, podiam
acumular e ampliar as vibrações das ondas telúricas, agindo antes como uma
caixa de ressonâncja. Essas energias, assumidas pelos cristãos, ainda exigiam
um ressonador, que foi providenciado com a construção das paredes de pedra
e da abóbada da catedral.
Se a geometria dos círculos e dolmens de pedra dependia do
comprimento da onda das energias telúricas, então a geometria, reproduzida
num vasto edifício de pedra, agiria como um canal para as energias
ressoantes ali capturadas. As lendas que cercam a fixação das energias da
terra no omphalos e que estão incorporadas aos contos universais de
matadores de dragão reforçam este ponto de vista. Nos mitos de morte do
dragão, o herói solar transpassa o dragão com sua espada ou lança. Fazendo-
o, ancora as energias telúricas vagueantes da Terra em um sítio, de maneira
que elas pos- sam ser contidas e canalizadas para uso do sacerdócio. Nos
últimos tempos, o herói solar identificou-se com os santos cristãos Jorge e
Miguel.
Outra indicação desse fenômeno é a aceitação universal da medida
canônica. Em muitas culturas, não se acreditava que as unidades
fundamentais de medida possuíssem origens divinas, mas tinham sido
transmitidas pelos Deuses. O receptáculo dessas medidas sagradas era um
homem ou um semideus, freqüentemente o fundador legendário da nação.
Essas medidas eram então cuidadosamente guardadas contra a profanação e
a alteração e largamente empregadas na construção da arquitetura sagrada.
Assim, vemos as proporções serem engendradas naturalmente pela geometria
a partir da medida inicial. Se a catedral era destinada a agir como um canal e
um ressoador, não se poder,ia escolher nenhuma dimensão melhor do que
aquelas baseadas num sistema harmônico natural elaborado com medidas
diretamente relacionadas ao comprimento telúrico das ondas. O
comprimento da onda das energias telúricas locais, uma vez determinado por
métodos ocultos, podia ser venerado em medidas sagradas imutáveis e
formar uma base natural para a construção dos instrumentos que deveriam
manipular essas energias.
Charpentier acreditava que os beneditinos intensificavam as forças terrestres
por meio do som físico - o canto gregoriano -, cuja ação aumentava a
harmonia geométrica do edifício para a produção de estados mais elevados
de consciência. Os beneditinos eram, na verdade, uma ordem que utilizava o
conhecimento antigo. O pesquisador alemão Kurt Gerlach descobriu que os
mosteiros beneditinos da Boêmia (Tchecoslováquia) foram arranjados uns
com os outros segundo relações geométricas precisas. Esses mosteiros
estavam localizados em linhas segundo múltiplos e submúltiplos específicos
da medida antiga conhecida como Raste, correspondentea 44 quilômetros.
Assim, as várias características da catedral gótica eram harmonizadas para
criarem um todo que ligava completamente o homem, o microcosmo, com o
universo. As funções múltiplas que se
esperavam as catedrais góticas cumprissem significavam que elas não seriam
apenas expressões de harmonia geométrica simples como a Saint Chapelle
em Paris ou a Capela do King's College em Cambridge. Elas necessitavam
várias divisões e subdivisões que cumprissem as funções de local de
encontro, igreja da paróquia, capela para ofícios menores, confessionário e
sede do Bispado local. Além desses usos exotéricos, a catedral tinha de
incorporar as doutrinas da fé e expressar as energias e geometrias inerentes
ao sítio. Assim, as geometrias das catedrais góticas incorporam muitas
estruturas complexas que podem ser interpretadas em vários níveis. A
geometria fundamental da planta baixa é sempre gerada diretamente da linha
axial orientada. A data da fundação e a sua orientação são "trancadas" na
geometria à aparente posição solar no dia do padroeiro. Assim, em cada dia
patronal sucessivo, o sol brilharia diretamente ao longo do eixo da catedral.
O Professor Lyle Borst descobriu que muitas catedrais possuem uma
geometria do lado leste derivada dos círculos de pedra. As orientações desses
sítios megalíticos segundo vários fenômenos solares e lunares são bastante
conhecidas, pesquisadas que foram por estudiosos como Sir Norman
Lockyer e o Professor Alex Thom. A geometria das catedrais, que recobre a
das orientações múltiplas dos círculos de pedras, também devia preservar
orientações outras que não a simples orientação axial do dia do p'adroeiro.
Isto também quer dizer que o padroeiro pode ter sido determinado a partir da
orientação principal do círculo de pedra preexistente.
Descobriu-se recentemente que o esboço do vasto complexo de
templos de Angkor Wat, no Camboja, foi desenhado de tal maneira que
fossem incorporados 22 alinhamentos separados de posições solares e
lunares. Observando os fenômenos de alguns pontos bem determinados, o
astrônomo-sacerdote era capaz de checar o calendário por meio da
observação direta. A construção das
catedrais britânicas no topo de observatórios megalíticos pode ter
reproduzido de maneira similar a informação astronômica em sua geometria.
Rose Heaword demonstrou que a Capela de St. Cross em Winchester possuía
um alinhamento nascer-do-sol que era visível emdeterminado ponto por uma
janela. Esse nascer-do-sol ocorre no dia da Santa Cruz, a 14 de setembro, e
não corresponde à orientação axial da capela. Estudos que estão sendo
efetuados podem demonstrar muito mais a respeito desses alinhamentos
múltiplos e desua relação com a geometria sagrada.
No período em que as catedrais góticas foram erigidas, havia dois sistemas
maçônicos de geometria que eram comumente usados. O mais antigo era
conhecido como ad quadratum e baseava-se no quadrado e nos seus
derivados geométricos. O mais novo, e em alguns aspectos o sistema mais
dinâmico, baseava-se no triângulo eqüilátero e era conhecido como ad
triangulum.
O ad quadratum era formado diretamente do quadrado e da sua figura
derivada, o octograma. Colocava-se por cima do quadrado inicial - que era
orientado segundo a maneira aprovada pelos geomantes e maçons
encarregados da orientação - um segundoquadrado do mesmo tamanho. Este,
a um ângulo de 450 do primeiro quadrado, formava o octograma, um
poligrama de oito pontas. Na tradição maçônica, essa figura foi inventada
por um mestre de Estrasburgo, Albertus Argentinus. Nos escritos maçônicos
alemães posteriores, essa figura é chamada acht-uhr ou acht-ort, oito horas
ou oito lugares. Esses nomes aludem a uma divisão óctupla pagã antiga do
compasso, o dia e o ano que eram imitados no edifício como um microcosmo
do mundo. A partir desse octograma inicial, toda a geometria da igreja podia
ser desenvolvida de duas maneiras.
A primeira maneira, o acht-ort verdadeiro, desenvolvia uma série de
octogramas internos e externos, traçados diretamente a partir da
primeira figura. Esse sistema. pode ser visto nas catedrais de Ely (ver Figura
26), Verdun, Bamberg e em outras catedrais basicamente românicas.
Todavia, à época das últimas igrejas góticas, o sistema ad quadratum
refinou-se para uma forma mais complexa baseada mais no quadrado duplo
do que no simples. Essa forma, deve-se lembrar, era favorecida desde a
antigüidade egípcia como uma formaadequada a um lugar santo.
A segunda e última derivação do ad quadratum produziu o complexo
geométrico elegantemente proporcionado conhecido como "dodecaid", um
poligrama irregular de doze pontas que se prestou admiravelmente ao
planejamento de igrejas. Como o acht-ort simplesdo ad quadratum primitivo,
a figura básica era um octograma. Todavia, o primeiro quadrado, do qual se
derivava o octograma, era ampliado até formar um quadrado duplo e, desse
segundo quadrado, construía-se outro octograma. Isto fazia uma
figura de dois quadrados contíguos com quadrados coincidentes a 450 do
quadrado duplo. Sobre esse octograma interlaçado sobrepunha-se um
quadrado maior que cortava as intersecções internas dos dois octogramas.
Isso produzia uma figura que possuía razões geométricas que se
interseccionavam na construção.
O dodecaid é rico em simbolismo cristão. Os três quadrados coincidentes
possuem em seu centro um pequeno quadrado comum a todos eles. O
quadrado central é maior do que os outros, simbolizando o Pai da Trindade
Cristã, com o quadrado pequeno no meio simbolizando a unidade essencial
da divindade trina. A estrutura do quadrado duplo que penetra a trindade
incorpora os quatro elementos e as quatro direções. simbolizando o mundo
material interpenetrado e sustentado pela divindade. O todo é uma sinopse
dos números três e quatro, o sete místico.
Na construção atual da igreja, os quatro cantos do quadrado duplo marcam
as quatro fundações da igreja, as pedras angulares sobre as quais se funda a
construção material. O mais oriental dos três 45° representa Cristo. Seu
centro é o foco onde o altar é fundado e onde, a cada dia, por meio da
celebração da Missa, acreditam os cristãos,
Cristo está presente na forma de hóstia e de vinho. O quadrado maior e
central, no oeste, representa o pai. Baseia-se no omphalos central, o ponto do
cruzamento sobre o qual a torre principal e a agulha deverão ser erguidas.
Esse centro, o ponto coincidente dos três quadrados que representam a fusão
da trindade, indicava freqüentem ente um poderoso centro geomântico. Esse
centro pode ser percebido pelos hidróscopos sob a forma de uma poderosa
fonte cega com suas espirais associadas. Esse omphalos geomântico existe
na Catedral de Salisbury, que possui a agulha mais alta da Inglaterra e marca
um lugar situado numa linha ley que vai de Stonehenge a Frankenbury. Mais
a oeste da cruz da catedral está o quadrado que representa o Espírito Santo.
Aqui, - tradicionalmente, ficava a pia batismal, o lugar em que o Espírito
Santo penetrava no neófito por ocasião do seu batismo.
A essência da geometria sagrada é simples. Todas as partes 90 conjunto
sagrado, desde o aparato e as vestimentas do clero até a forma de todo o
edifício sagrado, são determinadas diretamente por uma figura geométrica
fundamental. Todas as dimensões e todas as posições estão idealmente
relacionadas diretamente a esse sistema e, assim sendo, estão integradas com
o todo da criação. As elevações das igrejas medievais eram determinadas
diretamentepela geometria das plantas baixas. A Saint Chapelle, a capela dos
reis franceses, demonstra admiravelmente essa necessidade geométrica. Sua
planta baixa é produzida pelo dodecaid, com uma pequena capela lateral
feita a partir de uma versão menor do ad quadratum e a sua geometria
elevacional interna feita diretamente a partir deste último. Edifícios
posteriores, como a capela do King's College, foram planejados pelos
mesmos métodos, mas as dimensões, em vez da geometria direta, foram
dadas pelas autorizações dos seus planos. Assim, a altura da abóbada de
King's College foi mantida na capela terminada, embora tivesse sido
seguido um método de construção da abóbada diferente do que fora pensado
anteriormente.
As igrejas medievais não foram desenhadas apenas como galpões que
acomodassem um determinado número de fiéis; nem, como se deduz
freqüentemente, foram construídas "à medida que eram erigidas".
Exatamente como na prática arquitetônica moderna, tudo era calculado para
fazer avançar cada detalhe, toda e qualquer característica do edifício era
determinada exatamente de acordo com a geometria sagrada. As peças
sobreviventes apresentam uma preocupação, por parte dos desenhistas, com
dimensões e proporções precisas.
A planta baixa da Catedral de Ely, em Cambridgeshire, servirá para ilustrar
os trabalhos práticos da geometria sagrada medieval. Como muitos outros
edifícios, a catedral atual é o resultado de muitos séculos de acréscimos. A
catedral normanda original foi esboçada em 1082 e completada cerca de
um século mais tarde. No século XIII, foi acrescentado um pórtico na
extremidade oeste, na mesma posição do das catedrais de Glastonbury e
Durham. Na mesma época, foi feita uma extensão para o leste do coro com
dimensões definidas de acordo com os princípios do ad quadratum. A
extensão foi definida por um quadrado oblíquo da largura da nave mais um
triângulo de 45° da largura da abóbada. Esse quadrado oblíquo foi utilizado
mais tarde para determinar a largura da nova Lady Chapel, que foi iniciada
em 1321.
As dimensões da Lady Chapel não foram definidas pelo ad quadratum, mas
pelo mais recente ad triangulum maçônico. Suas dimensões foram
produzidas pela geometria de um círculo cujo raio é um pouco menor de 105
pés ingleses (96 pés saxônicos). Este é o raio que def.iniu o octograma
básico com que se esboçou a planta baixa da catedral. O canto interno do
nordeste de Lady Chapel foi
produzido por raios interseccionantes da mesma extensão, como também o
canto noroeste, que também foi marcado pelo quadrado oblíquo. A linha
diagonal que define o espaço oriental da catedral chega ao canto noroeste de
Lady Chapel depois de passar pela porta da capela. Um raio do centro do
cruzamento que toca os arcobotantes da extremidade leste do coro também
toca os arco- botantes de Lady Chapel. Seu raio tem 192 pés saxônicos - o
dobro do raio da base do octograma, gerado pela geometria ad quadratum.
No ano seguinte ao início de Lady Chapel ocorreu um desastre. A torre
central, situada sobre o cruzamento, ruiu para o leste, talvez enfraquecida
pelas operações da construção. A reconstrução foi iniciada e seguiu-se a
geometria sagrada original do ad quadratum. A velha - torre não foi copiada,
mas um novo domo gótico octogonal, sem precedentes na arquitetura
ocidental, foi erigido em seu lugar. O método técnico de construção foi uma
cópia quase exata daquele que fora utilizado no mausoléu persa de Uljaitu
Chodabendeh em Sultaneih. Sobre esse octógono de pedra sem precedentes
foi construído um incomparável "farol" de madeira, desenhado e
executado pelo Carpinteiro Real, William Hurley. No seu centro está uma
magnífica obra de talha, representando Cristo em Majestade, executada por
John Burwell. Exatamente acima do cruzamento, ela representa a contraparte
celestial do omphalos terreno.
Embora tenha sobrevivido muito pouca documentação sobre as construções
românicas tardias ou góticas primitivas, os detalhes documentais de duas
tardias e notáveis igrejas colegiadas medievais ainda podem ser examinados.
A ,igreja de Fotheringhay, em Northamptonshire, e a Capela do King's
College, em Cambridge, foram construídas segundo instruções precisas que
ainda sobrevivem.
Ambos os edifícios foram desenhados no século XV. Fotheringhay é
o mais antigo dos dois. A aldeia de Fotheringhay é hoje notável apenas por
seu cenário pitoresco entre as campinas banhadas pelo rio Nene e pela
espantosa torre octogonal de uma igreja cujo desenho memorável mostra
sua eminência anterior. A forma isolada da igreja lembra-nos tristemente que
ela é agora apenas um fragmemo de um colégio reai, reduzido hoje à
condição de paróquia. O colégio foi fundado por Edward Plantagenet,
apelidado Langley, o quinto filho do rei Eduardo III. Edmundo, Duque de
York, seria o fundador da Casa de York. Ele iniciou a construção do colégio
e reconstruiu a igreja paroquial, que estava ligada a ele por um claustro de 88
janelas de vidro colorido. O filho de Edmundo, Eduardo, Duque de York,
pretendia levar à frente o projeto após a morte do seu pai com a reconstrução
da nave da velha igreja no mesmo estilo do novo coro, mas foi morto na
batalha de Agincourt antes que a construção fosse iniciada. Todavia, o
projeto não foi abandonado e é o exame de um acordo assinado a 24 de
setembro de 1434 que nos informa sobre as práticas maçônicas de desenho
dos franco-maçons inglesesdaquela época.
O contrato foi feito entre William Wolston, Squire, e Thomas Pecham,
amanuense, comissários do "Supremo e poderoso príncipe, meu Senhor
respeitável, o Duque de York", e WiIliam Horwood, franco- maçom de
Fotheringhay. O contrato detalhava com medidas precisas a especificação de
uma igreja cujas proporções requintadas ainda hoje deliciam os olhos. O
contrato estipulava a construção de "uma nova nave de uma igreja, que
chegue até o coro, no Colégio de Fotheringhay, da mesma altura e da mesma
largura do dito coro; e que tenha um comprimento de oitenta pés a partir do
dito coro, com paredes de um metro-jarda (de espessura), um metrojarda da
Inglaterra, contado sempre como três pés. (...) E no lado norte da igreja o
dito William Horwood fará um pórtico; o lado externo de pedra de cantaria
lisa, o lado interno de pedra áspera, contendo em comprimento doze pés e
em largural o que o arcobotante da nave permitir (...) e na extremidade
oeste da dita nave haverá um
campanário construído sobre a igreja sobre os três arcos fortes e poderosos
abobadados em pedra. Dito campanário terá de comprimento oitenta pés
segundo o metro-jarda de três pés para uma jarda, sobre o chão a partir
das pedras da cornija e vinte pés quadrados entre as paredes (...)".
"Deus também criou o homem à sua própria imagem: pois, como o mundo é a
imagem de Deus, também o homem é a imagem do mundo.”
H. Cornelius Agrippa, Filosofia oculta.
"Eu sei que, no estudo das coisas materiais, o número, a ordem e a posição
são o indício triplo do conhecimento exato; que esses três; nas mãos dos
matemáticos, forneceram o 'primeiro esboço para um croqui do universo' (...)
Pois a harmonia do mundo é manifestada em forma e em número e o coração
e a alma e toda a poesia da Filosofia Natural estão embebidos do conceito da
beleza matemática.”