Sociedade Da Mineração Contrabando e Desigualdade No Século XVIII.

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Sociedade da mineração:

riqueza e desigualdade
no século XVIII.

História do Brasil
Prof. Luiz Gustavo Santos Cota
Mudança do eixo econômico

O século XVII foi bem agitado para o


mundo luso-brasileiro.

O Império Português já havia dissolvido


seus laços com a Espanha por vias
tortuosas e sangrentas, processo
definitivamente concluído em 1640.

De quebra, tiveram que lidar com os


invasores holandeses estabelecidos no
nordeste do Brasil, então centro
econômico de sua mais importante
colônia, o que se resolveu em 1654.
Mudança do eixo econômico

Mesmo após a recuperação dos territórios


antes ocupados pelos neerlandeses, o
principal produto colonial exportado a
partir do Brasil, o açúcar, passou a sofrer
com a concorrência internacional,
especialmente a produção realizada a
partir de outras colônias europeias no
Caribe (Antilhas).
Mudança do eixo econômico

Os prejuízos advindos das guerras e das


disputas comerciais deixaram de abalar a
Coroa apenas a partir de notícias vindas
de "exploradores" que percorriam os
"sertões" da região sudeste e centro-
oeste.

A novidade não era pequena: havia ali


ouro e pedras preciosas.
Mudança do eixo econômico
Obviamente, a busca por metais e pedras
preciosas não era uma novidade. Era uma
das missões do processo de colonização
em todas as Américas, desde o início...

No caso da América Portuguesa, no


entanto, não foi uma atividade explorada
imediatamente. Contudo, o contínuo
processo de conquista territorial e
abertura de fronteiras agrícolas,
desempenhado especialmente a partir da
Capitania de São Paulo, logrou êxito no
final do século XVII.
Mudança do eixo econômico
Os chamados "Bandeirantes Paulistas" são,
muitas vezes, retratados como uma espécie de
heróis desbravadores do território colonial. Por
outro lado, para além do mito construído a seu
respeito, trata-se de grupos paramilitares
financiados pela Cora para exploração do
território, combate e escravização de povos
indígenas (mesmo após sua proibição).

Na década de 1690, expedições "paulistas" que


adentraram os sertões, se depararam com os
primeiros achados de ouro "em aluvião", ou
seja, bem à flor da terra, de fácil localização.
Mudança do eixo econômico
Na região posteriormente chamada de Minas
Gerais, foram realizadas as
seguintes descobertas:

• 1693: Antônio Rodrigues Arzão


encontrou ouro na região hoje
correspondente à cidade de Mariana, às
margens de um córrego batizado como
Nossa Senhora do Carmo.
• 1698: Antônio Dias de Oliveira,
encontrou o metal na região que viria ser
chamada de Vila Rica, atual Ouro Preto.
• 1700: foi a vez de Borba Gato encontrar
ouro na região correspondente à Sabará.
Mudança do eixo econômico
Seguindo rumo à região central da colônia,
os paulistas realizaram ainda os seguintes
"achamentos":

• 1719: Pascoal Moreira Cabral encontrou


ouro na região hoje correspondente a
Cuiabá, Mato Grosso.
• 1726: Bartolomeu Bueno da Silva, filho
de Anhanguera, encontrou ouro em
Goiás.
Sociedade da mineração
A notícia alvissareira fez com que a muitos
reinóis, ou seja, portugueses e outros
súditos lusos, passassem a alimentar o
sonho de enricar naqueles sertões recém-
conquistados.

Logo isso significaria uma violenta disputa


territorial entre "paulistas", que desejavam
exclusividade sobre a exploração, e
"emboabas", forasteiros que passaram a
entrar no território das "Minas", a partir de
suas fronteiras ao norte.
Sociedade da mineração
Riqueza sempre atrai sangue.

A febre o ouro, em sua primeira "quentura"


produziu uma guerra entre paulistas e
forasteiros: a "Guerra dos Emboabas".

O conflito durou dois anos, entre 1707 e


1709, e foi sucedido por processo de
ampliação do controle colonial sobre o
território. Primeiro, a capitania de São
Paulo agregou oficialmente o território das
Minas: Capitania de São Paulo e Minas do
Ouro (1709).
Sociedade da mineração
Com um certo apaziguamento dos ânimos,
especialmente em relação aos
bandeirantes paulistas, a administração
colonial, tentava ampliar o controle da
Coroa sobre o território.

Uma das estratégias foi a instalação de


postos de controle de exploração, as
chamadas intendências, responsáveis
pela cobrança de impostos, bem como
pelas autorizações para minerar e faiscar
nas Minas, a partir das chamadas "datas",
lotes de terra.
Sociedade da mineração
Para controlar a turba e a febre, a Coroa
tentava agir.

A Intendência das Minas, criada em 1702,


era responsável por cobrar tributos e
distribuir licenças para as áreas de
exploração (datas).

Por lei, as áreas de mineração pertenciam


ao Rei; por isso, se alguém descobrisse
uma jazida, deveria comunicar ao
intendente. Ele mandava dividir a área em
lotes – DATAS – e promovia sua
distribuição.
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O descobridor tinha direito a duas datas e a
Coroa, a uma, que, depois, ia a leilão.

As datas restantes eram distribuídas


conforme o número de escravizados:
quem possuísse 12 escravizados ou mais,
recebia uma data inteira, os demais,
recebiam lotes menores.

Ou seja, a possibilidade de minerar


legalmente estava atrelada diretamente
à violência da escravidão.
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Vejamos como a escravidão era uma peça
central no processo:

Cada escravizado significava 5,5 metros de


terreno a ser minerado.

Uma data inteira equivalia a 66 metros, o


que significaria o utilização de 12 pessoas
escravizadas.
Sociedade da mineração
O processo de mineração poderia ainda ser
realizado de maneira supostamente mais
"flexível", fora das datas, que eram as
lavras registradas e controladas pela Cora.

Essa possibilidade ocorria a partir da


chamada "faiscagem", ou seja, uma
mineração realizada por pequenos grupos
ou individualmente, no leito de cursos
d'água ou outros locais.
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Ainda em relação ao processo de controle


das áreas mineradoras, foram criadas as
chamadas Casas de Fundição, vinculadas
às Intendências e responsáveis por, além
de realizar a fundição e transformação do
metal em barra, deveria "quintar o ouro",
ou seja, retirar um quinto do produto em
nome da Coroa.
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A necessidade de controle se ampliou com


a descoberta de diamantes na região do
Vale do Jequitinhonha, no Arraial do
Tejuco (Diamantina), em 1729.

Em 1734 foi criado o distrito dos


diamantes para administrar a região com
um rígido controle militar e o arrendamento
para novos mineradores, que deveriam
pagar uma fortuna para a coroa portuguesa
para garantir o direito de explorar a
mineração de diamantes.
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O medo do contrabando pesou até contra o
chamado "clero regular", formado por
sacerdotes ligados a ordens religiosas
(jesuítas, franciscanos, carmelitas etc.).
Além dos já costumeiros choques políticos,
a Coroa desconfiava que os clérigos seriam
parte importante da rede de "descaminho"
do ouro e dos diamantes.

As ordens regulares foram expulsas da


capitania na década de 1720. Assim, o
clero regular se fazia presente apenas a
partir do bispado de Mariana, criado em
1746.
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A proibição das ordens religiosas abriu
espaço para a instalação das chamadas
"ordens leigas", irmandades que
promoviam a devoção a um santo
específico, representando uma atuação
leiga junto aos ritos católicos.

Outra função central das irmandades era


proporcionar a realização atividades
associativas ou assistenciais entre seus
membros.

Havia, portanto, irmandades ligadas aos


mais diversos grupos sociais, desde os
membros da elite até escravizados.
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A estratificação social existente poderia
ser verificada a partir das irmandades.
Havia aquelas que, em suas regras, proibia
a presença de pessoas negras e pobres,
tais como as chamadas "ordens terceiras".
Esse era o caso das ordens terceiras de
Nossa Senhora do Carmo e São Francisco,
em Vila Rica.

Já as irmandades de Nossa Senhora do


Rosário e Santa Ifigênia, congregaram
negros (forros e escravizados). A
irmandade de Nossa Senhora das Mercês
reunia, principalmente, pardos (libertos,
escravizados e livres).

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