Formação Docente para A Inserção Da História e Filosofia Da Ciência No Ensino. Textos Histórico-Pedagógicos em Discussão
Formação Docente para A Inserção Da História e Filosofia Da Ciência No Ensino. Textos Histórico-Pedagógicos em Discussão
Formação Docente para A Inserção Da História e Filosofia Da Ciência No Ensino. Textos Histórico-Pedagógicos em Discussão
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS E MATEMÁTICA
Natal-RN
2015
JOSÉ DIOGO DOS SANTOS NICÁCIO
Orientadora:
Profa. Dra. Juliana M. Hidalgo F. Drummond
Natal-RN
2015
Aprovado em: ___/___/_____
__________________________________________________________
Profa. Dra. Juliana M. Hidalgo F. Drummond – Orientadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
__________________________________________________________
Profa. Dra. Auta Stella de Medeiros Germano – Examinadora Interna
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
__________________________________________________________
Prof. Dr. Antonio Augusto Passos Videira – Examinador Externo
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
DEDICATÓRIAS
Agradeço, primeiramente, a Deus pela força que tem me concedido, para continuar
minhas caminhadas em busca dos conhecimentos.
Agradeço aos meus amigos, que sempre compartilharam comigo das minhas
felicidades, angústias, derrotas e vitórias. Obrigado pela força, por fazerem parte da
minha vida e pelos momentos em que precisei desabafar, chorar, sorrir e extravasar ao
lado de vocês.
Agradeço a Jaciara Maria pelos conselhos, carinhos, afetos e amores dedicados a mim.
Obrigado por entender a ausencia em determinados momentos e por estar presente nessa
etapa importantíssima da minha vida. Você também faz parte dessa conquista.
Um agradecimento especial a minha orientadora, Profa. Dra. Juliana, que muito tem
contribuído para o desenvolvimento desse trabalho, proporcionando excelente
aprendizagem. Obrigado pela paciência, dedicação, “puxões de orelhas” e orientações
que tanto me ajudaram. Você, Juliana, é tão protagonista quanto eu desse trabalho!
Agradeço aos colegas do grupo que estuda sobre a história do vácuo – Wesley,
Giovanninni, Arthur, Mykaell e Deyzianne - que nos momentos de discussões
contribuíram de modo significativo para o crescimento qualificado desse trabalho.
Obrigado Colegas!
RESUMO
A presente dissertação tem como foco problemas específicos no contexto educacional:
os desafios na construção de narrativas histórico-pedagógicas, bem como a difícil tarefa
de utilizá-las em sala de aula. Nesse contexto, busca-se atuar na formação docente para
a inserção didática da História e Filosofia da Ciência (HFC), sendo as narrativas
histórico-pedagógicas elementos para mediação do diálogo com esse público específico.
Essa iniciativa vem ao encontro de uma preocupação recorrente na literatura da área:
um dos principais desafios relacionados à transposição didática da HFC seria a falta de
preparação do professor. Conteúdos históricos, filosóficos e sobre a Natureza da Ciência
ainda são pouco presentes em salas de aula. A insegurança e o desconhecimento do
assunto pelos professores costumam ser apontados como fatores que contribuem para
essa situação. Torna-se importante, portanto, que docentes (atuantes e em formação)
participem de reflexões sobre a inserção da HFC em sala de aula, conheçam exemplos
de propostas de cunho histórico-filosóficas para a abordagem de conteúdos de
ciência e sobre a ciência, desenvolvam competências que lhes permitam adaptá-las aos
seus contextos específicos, bem como elaborar suas próprias propostas. Acredita-se que
essas questões sejam significativas para que realizem iniciativas conscientes de inserção
da HFC em suas salas de aula. Considera-se que adaptar propostas didáticas a contextos
educacionais particulares depende de se compreender de fato o que representam essas
propostas e quão flexíveis elas podem ser. A fim de contemplar esses objetivos,
elaborou-se produto educacional que se configura como um material didático voltado
para a formação docente, o qual foi aplicado em minicurso de extensão na UFRN. O
material discute sobre o papel da HFC no Ensino, a Natureza da Ciência e questões
historiográficas. Traz uma sequência de atividades dialógicas sobre aspectos da
transposição didática da HFC, especialmente significativos no que diz respeito às
narrativas históricas. Utiliza-se como elemento de mediação nas discussões um conjunto
de textos histórico-pedagógicos sobre a História do Vácuo e da Pressão Atmosférica.
Abordam-se potencialidades, possibilidades e limitações desse tipo de material. Para a
realização do curso tomou-se como referência considerações metodológicas da chamada
pesquisa-ação. Almejaram-se transformações, modificações e ações efetivas no próprio
material didático de formação a partir da vivência do pesquisador-ministrante em
interações com os participantes do curso de extensão e das impressões relatadas pelos
participantes. Os desdobramentos nesse sentido foram incorporados ao material
didático.
CAPÍTULO 1
Considerações iniciais
O resultado não nos agradava, os textos não pareciam atrativos, mas não
sabíamos muito bem por quê. Algo estava errado... Mas o que seria?
O fato é que a tarefa a que nos propusemos não era nada trivial, como pude
compreender desde o seu início. Posteriormente, entendi isso de modo mais
aprofundado, com as leituras no mestrado. Vários trabalhos têm sinalizado que a
inserção da história da ciência em sala de aula não é algo simples (PAGLIARINI;
SILVA, 2006; QUINTAL; GUERRA, 2009; PENA; TEIXEIRA, 2013; SASSERON;
BRICCIA; CARVALHO, 2013). Entre os principais desafios relacionados à inserção
didática da HFC estariam a dificuldade de elaboração de materiais e a falta de
preparação do professor (FORATO, 2009; HOTTECKE; SILVA, 2010; FORATO;
PIETROCOLA; MARTINS, 2011).
Ainda assim, mesmo com textos adequados em relação aos objetivos pretendidos
e contexto educacional (curtos, com linguagem apropriada para o Ensino Médio) 1, a
utilização do material na escola conveniada ao PIBID não nos deixou satisfeitos. Não
estávamos preparados para explorar a potencialidade dos textos. Lemos parágrafo por
parágrafo dos textos e, em seguida, abrimos o diálogo em classe chamando a atenção
1
Os textos elaborados naquela ocasião sofreram diversas modificações posteriores. Em janeiro de 2013, o
trabalho “Uma proposta do PIBID-FÍSICA da UFRN: abordagem histórico-filosófica para a temática
gravidade”, que traz os textos já com algumas modificações, foi apresentado no XX Simpósio Nacional
de Ensino de Física (FERREIRA et al, 2013). Recentemente, uma versão aprofundada desse trabalho, que
engloba novas modificações nos textos e reflexões a respeito da elaboração e utilização de narrativas
históricas em sala de aula, foi publicada no Caderno Brasileiro de Ensino de Física sob o título
“Narrativas históricas: gravidade, sistemas de mundo e Natureza da Ciência” (DRUMMOND et al.,
2015).
15
despertou ainda mais o meu interesse pela História e Filosofia da Ciência no Ensino. O
engajamento nessa atividade me estimulou a querer aprender mais sobre o assunto.
Fui aprovado no processo seletivo e passei a ser orientado pela Profa. Juliana,
que havia coordenado minha atuação como bolsista do PIBID. Ingressei no grupo de
discussão sobre História do Vácuo, Pressão Atmosférica e Natureza da Ciência, do qual
participam voluntários e discentes do PPGECNM sob a orientação da professora2. A
temática histórica específica foi escolhida devido ao seu relevante potencial didático
ainda pouco explorado3. O grupo se dedica a estudar episódios históricos tendo em vista
elaborar materiais instrucionais para a abordagem de conteúdos científicos e sobre a
natureza do conhecimento científico. Propicia cursos de extensão, voltados à formação
docente, sobre a temática HFC no Ensino4.
2
Esse grupo tem como objetivo estudar episódios da História do Vácuo tendo em vista elaborar materiais
instrucionais para a abordagem de conteúdos de ciência e sobre a ciência, bem como propor espaços de
formação docente na forma de cursos de extensão. Dissertações de mestrado e diversos trabalhos
decorrentes das atividades do grupo de estudo têm sido apresentados em congressos da área (por
exemplo, OLIVEIRA, 2013; BATISTA, 2014; NICÁCIO et al., 2015).
3
Os trabalhos produzidos pelo grupo no qual a presente dissertação se insere, na UFRN, somam-se aos
poucos trabalhos brasileiros que utilizam essa temática histórica para fins didáticos estão: COELHO;
NUNES, 1992; PORTELA, 2006; LONGHINI; NARDI, 2009.
4
Dentre os cursos ministrados pelos componentes do grupo entre 2012 e 2015 estão: “Ensinando sobre a
Natureza da Ciência: uma abordagem explícita e contextualizada a partir da História do Vácuo”; “Fontes
Primárias da História do Vácuo e da Pressão Atmosférica na sala de aula: cartas e jornais históricos em
articulação com livros didáticos do Ensino Médio” e “Atuando na formação docente: narrativas históricas
17
Meu olhar consciente a respeito do assunto foi sendo construído aos poucos. Os
desafios e obstáculos na construção de narrativas histórico-pedagógicas, bem como a
difícil tarefa de utilizá-las em sala de aula, foram se identificando como problemas no
contexto educacional já desde o minha inserção no PIBID-Física e, de forma mais
consistente, desde as leituras e discussões nos primeiros meses no mestrado. Decidir a
respeito dessa questão-foco como temática para o meu mestrado foi como perceber-se
em um caminho natural construído em conjunto com a orientadora.
em perspectiva reflexiva”. Esses cursos vêm sendo ministrados na UFRN, bem como nas duas edições
mais recentes do Simpósio Nacional de Ensino de Física (SNEF).
5
Trata-se de uma contribuição relativamente recente e significativa sobre a inserção didática da História
da Ciência com base nos referenciais propostos por Yves Chevallard.
18
6
“A literatura mais recente sobre currículos vem apontando uma tendência de se incluir e valorizar o uso
de narrativas como recurso didático em sala de aula, não apenas nas aulas de línguas. Essa tendência é
particularmente significativa para as disciplinas científicas.” (RIBEIRO; MARTINS, 2007, p. 294).
19
7
Esse componente curricular específico procura examinar de forma crítica algumas imagens distorcidas
sobre a Natureza da Ciência, e, em particular, desconstruir visões relacionadas ao empirismo-indutivismo.
Discutem-se, em contraposição, concepções atualmente consideradas mais “adequadas” sobre a ciência, e
contribuições de filósofos como Karl Popper, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend e Imre Lakatos. Para a
licenciatura em Física, a disciplina é obrigatória.
8
A relevância da presença constante às discussões contrasta com a realidade de uma disciplina oferecida
nos dois últimos horários noturnos, onde cansaço e ausência dos estudantes costumam ser recorrentes,
especialmente às sextas-feiras. Soma-se a esses fatores a dificuldade de acesso ao transporte público
quando a aula se estende até o horário regular.
20
9
Faz-se necessária a ressalva de que a temática NdC é dinâmica e complexa, não havendo uma visão
universal, única sobre a NdC. Não se recomenda que o ensino inclua de forma fechada e engessada uma
listagem que registre o que ensinar sobre NdC. Isso seria contraditório à postura de criticar uma visão
rígida e dogmática da ciência (BAGDONAS; SILVA, 2013, p. 216).
22
10
Elementos oriundos da experiência de aplicação do material de formação no SNEF reforçam as
modificações sugeridas para o próprio material.
25
CAPÍTULO 2
Desde o seu surgimento, entre os séculos XVI e XVII, como uma tentativa de
descrever o desenvolvimento da ciência e justificar a chamada Ciência Moderna, a
própria definição do que seria a História da Ciência (HC) sofreu severas transformações
(ALFONSO-GOLDFARB, 1994). A consolidação como área de pesquisa ocorreu por
volta da década de 1920, quando surgiram seus primeiros profissionais. Escrevia-se a
HC como uma coletânea de feitos de grandes personagens, isto é, um conjunto de
biografias de grandes pesquisadores (seres perfeitos e intocáveis). Eram relatos
cronologicamente organizados sobre estudos e descobertas marcantes para a
humanidade. Os historiadores procuravam no passado as origens do que então era aceito
26
11
A transposição didática trata das transformações sofridas pelos saberes acadêmicos até chegarem aos
contextos educacionais. Para o caso da História da Ciência, uma contribuição recente e significativa foi
realizada por Forato (2009), com base nos referenciais propostos por Yves Chevallard (ver
CHEVALLARD, Y. Sobre a teoria da transposição didática: algumas considerações introdutórias.
Revista de Educação, Ciências e Matemática v.3 n.2 mai/ago 2013, p. 1-14. Disponível em
http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/recm/article/viewFile/2338/1111 ).
27
[...] uma história simplificada [faixa etária, situação educacional] que lance uma luz
sobre os conteúdos discutidos, que não seja uma mera caricatura do processo histórico
(MATTHEWS, 1995, p. 177).
Pesquisa realizada por Vilas Boas e outros (2013) aponta ausência de atenção
recente a argumentos contrários à inserção didática da HFC, o que teria ocorrido à
medida que se estabeleceu certo fortalecimento da defesa da temática Natureza da
Ciência para o contexto educacional. Segundo a referida pesquisa, esse processo teria
ocorrido, sobretudo, após considerações influentes do pesquisador Michael Matthews
no início da década de 1990 (MATTHEWS, 1995). Passados quase 20 anos dessa
significativa argumentação, o repertório formado por diversos autores se consolidou
como uma base sólida para quem deseja pesquisar sobre essa temática, permanecendo
Matthews como um dos autores mais citados (VITAL; GUERRA, 2014).
12
No Ensino Superior, alguns cursos, como Física, Química e Biologia apresentam em sua grade
curricular uma disciplina específica para a HFC, na maioria das vezes desvinculada das demais
disciplinas do currículo.
30
Nesse sentido, a História da Ciência tem sido apontada como um dos caminhos
possíveis para essa contextualização, consoante o fato de que episódios históricos
subsidiam exemplos de discussões inerentes à natureza do trabalho científico.
Recomenda-se que esses conteúdos sejam abordados de forma explicita,
contextualizada e reflexiva por intermédio da História da Ciência (LEDERMAN, 1992;
MCCOMAS, 2008; FORATO, 2009).
Na Educação Básica, nos níveis fundamental e médio, não existe uma disciplina
específica para a História e Filosofia da Ciência. A utilização da perspectiva histórica e
filosófica ocorre com pouca frequência, em algumas aulas ou projetos isolados (ver
BRINCKMANN; DELIZOICOV, 2009), quase sempre a cargo de um professor que se
interessa pela abordagem em questão.
[...] compensar a falta de preparo do professor para lidar com saberes da HFC
na sala de aula inclui prepará-lo para identificar e problematizar
manifestações anacrônicas. Materiais didáticos poderiam incluir orientações e
advertências sobre ideias inesperadas e possíveis modos para se lidar com
elas (FORATO; PIETROCOLA; MARTINS, 2012b, p. 148).
35
influenciar a visão dos alunos, ainda que o professor não tenha a intenção de tratar sobre
NdC em suas aulas: a “postura teórica do professor sobre a natureza da ciência (sua
própria epistemologia) pode ser transmitida de forma explícita ou implícita”
(MATTHEWS, 1995, p. 187).
Segundo estudo recente, do tipo estado da arte, as narrativas históricas têm sido
um dos suportes mais recorrentes nas propostas de inserção da HFC no contexto
educacional (TEIXEIRA; GRECA; FREIRE JR, 2012). As potencialidades das
narrativas para o Ensino de Ciências e, em particular, no que tange à promoção de
discussões sobre Natureza da Ciência vêm sendo destacadas pela literatura (RIBEIRO;
MARTINS, 2007). Pode-se aproximar o aluno da cultura científica, descrevendo e
situando social, política e historicamente, os processos de produção do conhecimento
científico.
37
Por outro lado, na presente proposta, tais narrativas não são efetivamente
aplicadas na Educação Básica, mas sim são tomadas para discussão específica em
formação docente. Configuram-se, fundamentalmente, como elementos para mediação
das discussões. Propôs-se material didático voltado para a formação de professores a
respeito da transposição didática envolvida na elaboração das narrativas, o qual
remete a questões relacionadas ao uso das mesmas em salas de aula.
Uma narrativa histórica será melhor, quanto mais consciente for o seu autor
dos pressupostos historiográficos empregados para elaborá-la (VIDEIRA,
2007, p. 123).
CAPÍTULO 3
14
Uma discussão específica sobre o processo de elaboração dos textos histórico-pedagógicos e de suas
potencialidades no que tangem às discussões sobre a Natureza da Ciência foi apresentado no EPEF 2014
(NICÁCIO et al., 2014).
42
15
Esse texto foi elaborado para a consulta por parte de professores interessados nessa temática histórica.
Devido a características como extensão, aprofundamento e linguagem, o texto não pode ser inserido
diretamente na educação básica. Várias considerações referentes à transposição didática precisam ser
levadas em conta para a elaboração das narrativas históricas a partir do texto concebido para consulta dos
professores (FORATO, 2009; FORATO; MARTINS; PIETROCOLA, 2012a e b).
16
Esses referenciais podem ser muito úteis aos professores como fonte de consulta e aprofundamento
acerca da referida temática histórica. Existem outros materiais de apoio produzidos no grupo de estudo
dos quais os professores podem se beneficiar, como BATISTA, 2014.
43
Ao longo dos textos procurou-se, assim, transmitir uma imagem de ciência viva
e dinâmica. Foram elaboradas, ainda, passagens que sinalizam as rupturas na ciência,
opondo-se, assim a uma visão acumulativa e linear do desenvolvimento científico.
[...] Afinal, quem disse que estamos certos, isto é, que nossas interpretações
são definitivas? A beleza da ciência é justamente não haver essa certeza. O
conhecimento científico é provisório. [Texto “O vazio na Revolução
Científica” – Parte 1].
Lembra que falamos que a ciência não é uma atividade isolada, mas sim de
cooperação? Pois bem, discordar também faz parte dessa cooperação, já que a
46
Para Beeckman, sua conclusão tinha muito a ver com o horror ao vácuo.
Adotar a ideia de que o ar tinha peso e exercia pressão (isto é, o novo
fundamento teórico) poderia causar uma revolução no modo como certos
fenômenos eram interpretados. [Texto “O vazio na Revolução Científica” –
Parte 1].
17
Como bem pontuam Bagdonas e Silva (2013, p. 216), ao ensinar sobre a Natureza da Ciência não se
cumprir um protocolo rígido de tópicos a ensinar, mas posturas extremas como o empirismo-indutivismo
precisariam ser problematizadas.
48
Figura 02 – Aspecto do texto “Ideias sobre o vácuo na Idade Média” – Parte 1 (ver APÊNDICE I)
49
Figura 04 – Aspecto do Texto “As concepções sobre o vácuo na Antiguidade” (ver APÊNDICE I)
18
Segundo Ribeiro e Martins (2007): “A analogia é um recurso muito utilizado, inclusive, no ensino de
Ciências. Ele é útil, pois nos permite tentar entender novas situações, por comparação a situações já bem
compreendidas. É claro que é um recurso inicial, pois, em princípio, comparam-se situações diferentes,
que têm algo em comum, mas que, na maioria dos casos, possuem diferenças. Entender a nova situação
inclui perceber em que e por que a nova situação se diferencia da anterior, utilizada para comparação” (p.
307). Frisamos que a mediação do professor é um aspecto importante sinalizado por trabalhos que
refletem sobre o potencial didático das narrativas.
52
Para Vilas Boas e outros: “Uma das formas de se entender a Natureza da Ciência
é pelo estudo de como a ciência se desenvolveu ao longo da história” (2013, p. 303). No
entanto, o uso distorcido da história da ciência pode ser pior do que a sua ausência, em
função de visões deformadas de ciência potencialmente transmitidas pelas distorções
(PEDUZZI, 2001; BATISTA; MOHR; FERRARI, 2007). A atenção aos pressupostos
básicos da historiografia deveria ser uma preocupação essencial para os professores em
contato com narrativas históricas sugeridas em materiais didáticos.
Videira (2007) define a história anacrônica como sendo aquela “que não
compreende o passado” (p. 141). Apresenta as principais características da
historiografia whig, reiterando que esse tipo de história analisa o passado à luz do
presente:
54
Os textos rejeitam a ideia de vilões que cometem erros e heróis que sempre
acertam. Valorizam os conhecimentos do passado, ainda que esses tenham sido
rejeitados posteriormente. Afastam-se, portanto, de uma História Whig, que, em
contraposição, procura mostrar os “erros” que atrasaram a evolução da ciência.
Não dá para a gente olhar para o passado com os nossos olhos de hoje,
considerando que bom é quem se aproximou do que aceitamos... [Texto “O
vazio na Revolução Científica” – Parte 1]
Como se pode notar, portanto, o processo de elaboração dos textos foi complexo
e envolveu a consideração de uma série de fatores. As potencialidades dos textos
55
elaborados são várias. Estabelecer propostas de utilização desses textos em sala de aula
depende das potencialidades que o professor deseja e pode explorar em suas
intervenções didáticas, de acordo com o seu contexto educacional específico. Os textos
foram elaborados de forma a priorizar certa autonomia do estudante-leitor, mas isso de
forma alguma implica descartar o importante papel do professor.
19
Philoponos pressupôs que para um corpo estar em movimento não era necessário seu contato constante
com uma causa externa. Para ele, uma força motriz podia ser transmitida ao corpo em questão, e essa por
si própria se extinguia aos poucos mesmo no vácuo. Avempace acrescentou que a velocidade de um corpo
56
Ainda em relação aos recortes realizados, é importante frisar que, nas narrativas,
o contexto científico no tocante às discussões sobre o vazio são destacados, ao passo
que aspectos econômicos, sociais e políticos dos períodos citados não. As narrativas não
apoiam a visão de pesquisador neutro, alheio a esses aspectos. Por outro lado,
contemplá-los não foi prioridade na elaboração das mesmas. Essa fragilidade, oriunda
de recorte deliberado, abre caminho para eventuais intervenções interdisciplinares que
possam fazer uso das narrativas em conjunto com professores da disciplina de História,
em atividades investigativas nas quais os estudantes sejam estimulados a pesquisar
sobre tais aspectos. Incompletude e mistério são características do gênero narrativo que
podem inclusive estimular a imaginação dos alunos, se bem exploradas.
no vazio seria finita, visto que esse corpo precisaria de um tempo finito para atravessar certo espaço finito
correspondente (OLIVEIRA, 2013).
57
quão flexíveis elas podem ser, o que se procura discutir junto aos professores em
formação.
Esse segundo produto pode também ser utilizado como subsídio para a
realização de cursos de formação de professores que objetivem prepará-los de forma
crítica para a inserção da HFC em salas de aula do Ensino Médio. Nesse caso, as
atividades propostas podem ser realizadas no curso, de forma individual ou coletiva, e
60
Figura 06: Sumário do material didático de formação docente (ver APÊNDICE II)
3.3.1 Atividades 1 e 2
3.3.2 Atividade 3
20
Em experiência vivenciada (estágio docente no ensino superior) em uma turma de História e Filosofia
da Ciência, pude perceber as dificuldades dos licenciandos quanto à localização de trechos que traziam
discussões sobre a natureza do conhecimento científico de uma proposta similar a nossa que utilizava a
HFC por meio de narrativas históricas sobre a gravidade e sistemas de mundo (DRUMMOND et al.,
2015). O que chamava a atenção é que os futuros professores tinham toda uma preparação, ou seja,
discutiam previamente sobre a temática Natureza da Ciência (NdC) e mesmo assim a localização desses
trechos só ocorria com a ajuda do professor da disciplina.
64
3.3.4 Atividade 4
3.3.5 Atividade 5
Por fim, reiteramos mais uma vez que o papel do professor é fundamental no
sentido de conduzir as discussões também a fim de esclarecer questões e enfrentar
possíveis efeitos das “simplificações” realizadas na transposição didática da HC
(RIBEIRO; MARTINS, 2007). No entanto, isso só poderá se concretizar para o
professor que realmente reconhece tal processo.
3.3.6 Atividade 6
21
Os questionamentos listados foram inspirados pelo projeto norte-americano “Teaching with primary
sources quarterly”, desenvolvido pela Library of Congress, nos Estados Unidos (pode ser consultado em
http://www.loc.gov/teachers/tps/; acesso em 28 out. 2014).
68
Essas distorções históricas vêm problematizadas pela literatura que trata da HFC
no Ensino. Tem se notado o esforço de pesquisadores que buscam estabelecer de forma
69
22
O curso foi também foi ministrado no XXI Simpósio Nacional de Ensino de Física (SNEF), em janeiro
de 2015, na Universidade Federal de Uberlândia (NICÁCIO et al., 2015).
70
CAPÍTULO 4
23
As inscrições ocorreram entre 1o e 13 de maio de 2014.
72
24
O curso foi oferecido no XXI Simpósio Nacional de Ensino de Física (SNEF), em janeiro de 2015, na
Universidade Federal de Uberlândia, com algumas adaptações e sob o título de “Formação docente para a
inserção da História e Filosofia da Ciência no Ensino: narrativas históricas em perspectiva reflexiva”.
73
25
Esse “acordo” corresponde à construção de ideias por meio de discussões, interações e opiniões
divergentes entre o pesquisador-ministrante do curso, a coordenação e os participantes.
74
Dois participantes afirmaram que tiveram contatos pontuais com essas temáticas
em intervenções em disciplinas no curso de graduação em Física na UFRN27.
Exemplificaram contatos esporádicos com a HFC em algumas disciplinas isoladas,
especialmente quando ministradas por professores da área de Ensino de Física, ou em
disciplinas que contaram com a colaboração de bolsistas de iniciação à docência
oriundos do PPGECNM. Citou-se, por exemplo, a iniciativa isolada de contemplar em
26
Em alguns momentos o pesquisador-ministrante do curso e a coordenação tiveram que direcionar as
discussões esclarecendo alguns pontos acerca da HFC, por exemplo, na realização da Atividade 1 a
coordenação precisou intervir e explicar alguns aspectos da Historiografia da Ciência. No entanto, as
opiniões dos participantes sempre eram respeitas de modo que por meio de diálogos criavam-se
consensos objetivando a realização das atividades.
27
Essa situação não é exclusiva do Rio Grande do Norte (MARTINS, 2007). Em pesquisa realizada com
professores da região oeste de Santa Catarina, Brinckmann e Delizoicov (2009) apontaram essa mesma
problemática. Professores haviam passado por contatos pontuais no que tange à História e Filosofia da
Ciência.
75
Algumas dessas respostas trazem à tona visões semelhantes às que vem sendo
diagnosticadas pela literatura especifica da área, compondo o imaginário do professor
acerca da inserção da HFC no Ensino. Pesquisa empírica, realizada com professores da
rede pública estadual do Rio Grande do Norte e alunos de graduação em Física,
registrou algumas dessas dificuldades: a falta de preparo e sensibilização do professor, o
pouco tempo disponível e a dificuldade dos alunos com a leitura (MARTINS, 2007). A
escassez de tempo, citada pelos participantes da referida pesquisa e também do curso de
extensão, poderiam constituir um falso dilema, uma vez que indicariam o não
reconhecimento da HFC como abordagem, ou seja, como estratégia didática, mas, sim
como algo a mais a ser ensinado.
28
A história do tipo whig: “[...] é presentista, atendo-se somente à apresentação dos momentos históricos
em que a ciência foi vencedora. Uma outra possibilidade de caracterizar a história de tipo whig é como
uma ratificação, quando não glorificação, do presente” (VIDEIRA, 2007, p. 141- 142).
77
Ainda na Atividade 1, no curso, dois grupos foram sorteados para expor suas
conclusões. O debate envolvendo os participantes em sua totalidade foi conduzido pelo
pesquisador-ministrante, autor da presente dissertação.
Os dois participantes alegaram que o texto acadêmico poderia ser utilizado por
meio de uma leitura compartilhada entre o professor e os estudantes, ou, ainda, que uma
introdução preparada pelo professor poderia anteceder a utilização do texto. Em geral,
os outros participantes do curso discordaram dessa opinião e uma acirrada discussão
teve início. Acreditavam que seria muito difícil a utilização do artigo de forma direta no
ambiente escolar de nível médio. Citaram a inexistência de interesse e hábito de leitura
por parte dos alunos, afirmando que no caso do texto acadêmico a repulsa seria ainda
maior devido à sua linguagem densa e ampla extensão.
29
A preocupação com as omissões foi também manifestada por pelo menos dois participantes do curso
ministrado no SNEF, aos quais se mostraram inconformados com a perda da riqueza histórica na
transposição didática da HC.
81
sendo esse tipo de suporte um dos mais recorrentes nas propostas de inserção da HFC
no contexto educacional (TEIXEIRA; GRECA; FREIRE JR, 2012).
de docência assistida na UFRN (ver Capítulo 1). Naquela ocasião, durante a realização
de atividades semelhantes a partir de narrativas históricas sobre a temática gravidade
(DRUMMOND et al., 2015), os licenciandos em Física tiveram dificuldade para
identificar os objetivos específicos dos textos, os recortes históricos realizados e suas
relações com esses objetivos. Mesmo tendo passado por discussões sobre NdC na
própria disciplina, somente com a ajuda do professor conseguiam localizar trechos que
traziam alusões a essa temática. Questões relacionadas à forma e à estruturação do
material passavam despercebidas.
Buscando atuar, ainda que de forma limitada, nessa lacuna na formação dos
professores, realizou-se no curso uma etapa expositivo-dialogada de aprofundamento
sobre a temática Natureza da Ciência. Foram discutidos de forma abreviada os seguintes
tópicos: a cooperação na ciência, a dependência das observações em relação a
pressupostos teóricos, a possibilidade de desacordo entre os pesquisadores e a
provisoriedade do conhecimento (MCCOMAS et al., 1998)30.
30
Como vimos no Capítulo 2 é necessário destacar a conscientização de que a temática NdC é dinâmica
e complexa, não havendo uma visão única adequada sobre a Natureza da Ciência, contemplada em
listagem consensual de mensagens. Dessa forma, não se pretende recomendar que o ensino inclua de
forma dogmática uma listagem de aspectos fechados sobre a NdC (BAGDONAS; SILVA, 2013, p. 216).
86
sobre datas relacionadas aos episódios históricos? Segundo os textos, quem é o pai dos
conceitos de vácuo e pressão atmosférica? Os textos transmitem a visão de que a
História do Vácuo e da Pressão Atmosférica é um conjunto de descobertas pontuais,
independentes, realizadas em datas específicas? Transmitem a visão de que os
pesquisadores do passado eram piores do que os do presente? Segundo os textos, os
pesquisadores do passado eram ingênuos, se preocupavam com problemas tolos e não
sabiam fazer as coisas?”
elaboração dos textos31. Pretende-se contribuir para que o professor seja capaz de
reconhecer princípios básicos como, por exemplo: anacronismo, história whig, pedigree
e hagiografia (FORATO; MARTINS; PIETROCOLA, 2011).
Não se considera que essa seja uma ocorrência casual, uma vez que, de fato, os
professores costumam, em geral, ter pouca familiaridade em relação a pressupostos
básicos da historiografia atual da ciência. Desse modo, possivelmente seria conveniente
antecipar as discussões promovidas na Atividade 6, devendo-se considerar a
possibilidade de que essa seja a primeira a abrir a sequência de atividades.
Adicionalmente, é preciso levar em conta o interesse do público-alvo por essas
discussões, a fim de refletir sobre eventuais aprofundamentos. Nas situações
vivenciadas de aplicação do material didático, o interesse extrapolou as expectativas
iniciais do pesquisador.
33
Na realização do curso em janeiro de 2015 no SNEF, situações semelhantes foram vivenciadas,
reforçando as sugestões propostas.
93
CAPÍTULO 5
Considerações Finais
Referências
CHALMERS, A. O que é ciência afinal? São Paulo: Editora Brasiliense, 1993. 224 p.
_____. History and Nature of Science in High School: Building Up Parameters to Guide
Educational Materials and Strategies. Science & Education, Dordrecht, v. 21, p. 657-
682, 2012. (a)
GIL PÉREZ, D. ; MONTORO, I. F.; ALIS, J. C.; CACHAPUZ, A.; PRAIA, J. Para
uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação, Bauru, v. 7,
n. 2, p. 125-153, 2001.
_____. Nature of science: past, present and future. In: ABELL, S.K.; LEDERMAN, N.
G. (eds.), Handbook of Research on Science Education. Mahwah, New Jersey:
Lawrence Erlbaum Publishers, 2007. cap. 28. p. 831-880.
101
______. Introdução. A história das ciências e seus usos na educação. In: SILVA, C. C.
(org.). Estudos de história e filosofia das ciências: subsídios para aplicação no ensino.
São Paulo: Livraria da Física, p. xxi-xxxiv, 2006.
SASSERON, L. H.; BRICCIA, V.; CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. Aspectos da
natureza das Ciências em sala de aula: exemplos do uso de textos científicos em prol do
processo de Alfabetização Científica dos estudantes. In: SILVA, C. C.; PRESTES, M.
E. B. Aprendendo ciência e sobre sua natureza: abordagens históricas e filosóficas.
São Carlos: Tipographia, 2013, v. 1, p. 265-276.
103
TEIXEIRA, E. S.; GRECA, I. M.; FREIRE JR, O. Uma revisão sistemática das
pesquisas publicadas no Brasil sobre o uso didático de história e filosofia da ciência no
ensino de física. In: PEDUZZI, L. O. Q.; MARTINS, A. F. P., FERREIRA, J. M. H.
(org.). Temas de História e Filosofia da Ciência no Ensino. Natal: EDUFRN, 2012.
Cap. 1, p. 9-40.
APÊNDICE I
TEXTOS HISTÓRICO-PEDAGÓGICOS SOBRE
A HISTÓRIA DO VÁCUO E DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA
105
-----------------------------------------------------------------------------------
Fig. 1 – Disponível em: <http://files.encuentro-con-la-filosofia.webnode.com.co/200000009-070af08080/Atomistas-
Griegos.jpg>. Acesso em 10 mai. 2014.
108
uma força muito grande fosse aplicada, o fole se quebraria antes de haver a
separação de seus lados. Seria como uma ação da natureza para não permitir
o vazio.
E, então? Reparou que Buridan e Francisco de Toledo partiram
daquele mesmo princípio de rejeição ao vazio? E você percebeu também que
algumas palavras estão grifadas no nosso texto: “imagine”, “poderia”,
“seria”, “se”, “quebraria” ...
O que isso quer dizer? Eles estavam pedindo que as pessoas
imaginassem certas condições e, em seguida, pensassem nessas situações
hipotéticas, tendo como base certos pressupostos teóricos: eram
experimentos imaginários.
Então eles não fizeram os experimentos? Não, não fizeram!
Será que eles estavam errados em não fazer? Estavam com medo de
notar outras coisas? Com preguiça? Será que a Idade Média era uma época
“atrasada” e não sabiam que fazer experimento é importante?
Não, nada disso. Jean Buridan e Francisco de Toledo estavam
propondo uma situação que levava em conta pensar sobre a teoria do “horror
ao vácuo”. Em outras épocas, muito mais a frente, e bem próximo dos nossos
tempos, Albert Einstein “realizou” muitos experimentos imaginários que
levavam em conta pensar sobre a “Teoria da Relatividade”, um cara chamado
Erwin Schröedinger (nome complicado!) “fez” experimentos imaginários
sobre um gato para pensar sobre a “Teoria Quântica” (sem gato, só
imaginando o gato!).
Os experimentos imaginários continuam sendo hoje uma
importantíssima ferramenta para a Ciência. Na Idade Média, foram muito
usados tanto pelos que negavam o vácuo, isto é, a maioria dos pensadores,
quanto pelos que aceitavam a existência do vazio na natureza.
Opa! Isso quer dizer que as opiniões sobre o vazio não eram
unânimes? Não eram mesmo ... mas isso é uma conversa para o nosso próximo
texto.
Fig. 1 – Disponível em: < http://www.webislam.com/media/2005/02/16281_avicena_big.jpg>. Acesso em 11 mai. 2014.
Fig. 2 – Disponível em:< http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/sifao/Sif%C3%A3o2.jpg>. Acesso em 11 mai. 2014.
Fig. 3 – Disponível em: < http://www.cadytech.com/dumas/images/all/s000018.jpg>. Acesso em 11 mai. 2014.
Fig. 4 – Disponível em:< http://img.elo7.com.br/product/main/CE5D4/fole-para-acender-lareira-ou-churrasquei.jpg>.
Acesso em 11 mai. 2014.
113
No entanto, a discordância
prosseguiu. Houve quem afirmasse que o
tubo teria poros por onde entraria e sairia
um fluido sutil. Nesse caso, ao abrir a
torneira, o fluido sairia pelos poros do
tubo e a água tomaria o seu lugar.
Variações do experimento foram
tentadas, mas os pesquisadores
continuaram divergindo.
Havia um problema. Seria
interessante visualizar o conteúdo do tubo,
mas o que poderia ser feito?
Parece que foi Galileu quem sugeriu
usar mercúrio no lugar da água. Como o Figura 1 - Experimento de Berti
mercúrio era mais denso que a água, Galileu
imaginava que a coluna máxima de mercúrio seria bem menor do que a de
água. Nesse caso daria até para usar um tubo de vidro e foi o que Torricelli,
discípulo de Galileu, fez. O experimento ficou bem mais simples e portátil.
Esse seria o famoso experimento de Torricelli.
Nos nossos livros de Física costuma ser dito que Torricelli fez esse
experimento com a intenção de medir a pressão atmosférica. Mas não foi
exatamente assim
Ele não acordou um belo dia e disse
simplesmente: hoje vou medir a pressão
atmosférica, vou usar um tubo de vidro, tem
água aqui em casa, mas vou procurar
mercúrio (que é difícil de conseguir)...
Veja que isso não faria sentido!!!
Ninguém acorda e do nada sai fazendo
experimentos estranhos, não é?
Torricelli estava interessado, na
verdade, na discussão da moda na época: o
tubo estava ou não vazio.
Figura 2 - Torricelli
Ele conhecia o experimento com a
água porque esse já era famoso. Foi influenciado por Galileu para trocar a
água pelo mercúrio. E já conhecia a ideia de que o ar tinha peso e exercia
pressão. O pensamento de Beeckman e Baliani não era bem aceito na época,
mas os pesquisadores comentavam.
121
APÊNDICE II
MATERIAL DIDÁTICO
“ELEMENTOS PARA A FORMAÇÃO DOCENTE TENDO EM VISTA A
INSERÇÃO DA HISTÓRIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA NO ENSINO MÉDIO:
TEXTOS HISTÓRICO-PEDAGÓGICOS COMO EXEMPLARES”
124
Material Didático
Sumário
Apresentação do material...........................................................................................126
HFC no Ensino: breve introdução.............................................................................130
Os textos propostos para o Ensino Médio e a temática escolhida...........................134
Discutindo sobre a Transposição Didática da HFC por meio de exemplo
Atividade 1....................................................................................................................136
Atividade 2....................................................................................................................137
Discutindo sobre as Atividades 1 e 2..........................................................................138
Atividade 3 ...................................................................................................................141
Discutindo sobre a Atividade 3 ..................................................................................142
Atividade 4....................................................................................................................145
Discutindo sobre a Atividade 4 ..................................................................................146
Atividade 5 ...................................................................................................................152
Discutindo sobre a Atividade 5...................................................................................153
Atividade 6 ...................................................................................................................158
Discutindo sobre a Atividade 6...................................................................................159
Considerações finais....................................................................................................163
Referencias bibliográficas sobre a História do Vácuo e da Pressão Atmosférica.166
Referencias Gerais ......................................................................................................168
Anexo 1
Texto A – As concepções sobre o vácuo na Antiguidade
Texto B – E as ideias continuavam surgindo....
Texto C- E a História da Ciência segue, com rupturas e também
continuidades...
Anexo 2
Apresentação do material
O material didático a seguir foi elaborado tendo em vista colaborar com a
formação de professores para a inserção da HFC em salas de aula do Ensino Médio.
Essa iniciativa vem ao encontro de uma preocupação recorrente na literatura da área:
um dos principais desafios relacionados à transposição didática da HFC seria a falta
de preparação do professor (FORATO, MARTINS & PIETROCOLA, 2012b, p. 131).
Conteúdos históricos, filosóficos e de NdC ainda são pouco presentes em salas de aula.
A insegurança e o desconhecimento do assunto pelos professores costumam ser
apontados como fatores que contribuem para essa situação (MATTHEWS, 1995;
HARRES, 1999, LEDERMAN, 2007)34.
34
Esse material didático constitui um produto educacional o qualé parte integrante de trabalho de
conclusão de um Mestrado Profissionalizante (MP) em Ensino de Ciências Naturais e Matemática. O
estabelecimento da referida questão-foco e produto inserem-se e justificam-se no âmbito de um MP em
Ensino de Ciências: “[...] sempre voltado explicitamente para a evolução do sistema de ensino, seja pela
ação direta em sala de aula, seja pela contribuição na solução de problemas dos sistemas educativos, nos
níveis fundamental e médio, e no nível superior na formação de professores das licenciaturas e de
disciplinas básicas”. (MOREIRA, 2004, pp. 133-134; grifo nosso).
127
35
Um relato dessa experiência com base no referencial metodológico da chamada pesquisa-ação
(THIOLLENT, 2011), pode ser observado no Capítulo 3 da dissertação de mestrado da qual o presente
texto faz parte como produto. O material foi também utilizado em curso de formação ministrado em
janeiro de 2015 no SNEF.
128
que o professor sinta necessidade de disponibilizar esse tipo de referência para alunos
que demonstrarem maior interesse pela temática histórica.
Convém ainda observar que as discussões apresentadas aqui são limitadas pelas
próprias características do suporte em que se encontram. Para uma discussão mais
aprofundada acerca inserção da HFC e da temática Natureza da Ciência no Ensino
recomenda-se a leitura do Capítulo 2 da dissertação da qual o presente material didático
é parte integrante. Esse capítulo apresenta recomendações da legislação brasileira no
tocante a essas temáticas e considerações recentes de especialistas que trabalham com a
inserção da HFC no Ensino. Igualmente, uma apresentação mais detalhada sobre a
História do Vácuo e da Pressão Atmosférica pode ser observada pelos interessados no
Capítulo 3. A partir desse relato histórico mais rico e aprofundado, realizou-se a
36
O mesmo pôde ser notado em realização do curso SNEF.
129
explicativos não são únicos nem finais, tendo se sucedido ao longo dos
tempos, [...]. O surgimento de teorias físicas mantém uma relação complexa
com o contexto social em que ocorreram (PCNEM – Brasil, 1999, p. 27).
Diversos fatores parecem colaborar para essa situação (vide MARTINS, 2006).
Um desses fatores é a formação dos professores, deficiente quando se trata de perceber
a História da Ciência não como algo a mais a ensinar, mas sim como uma estratégia
didática [reflita sobre a sua própria formação...]. Outro fator é a própria natureza
complexa do processo de transposição didática da História da Ciência acadêmica,
especializada.
Talvez você não saiba, mas existe uma área acadêmica chamada História da
Ciência, que estuda tudo aquilo que em alguma época foi proposto ou aceito como
ciência (conhecimento sobre a natureza). Os objetivos específicos desses estudos não
necessariamente são voltados para o contexto educacional. Nem todo físico trabalha
com Ensino de Física. Igualmente, nem todo historiador da ciência trabalha com
História da Ciência no Ensino.
Sem correr muitos riscos, pode-se dizer que um texto historiográfico, produzido
por um historiador da ciência, não é adequado para ser utilizado em uma sala de aula do
Ensino Médio. O resultado do trabalho interpretativo realizado pelo historiador da
ciência normalmente é um texto complexo, detalhado, que discute de modo minucioso,
aprofundado, questões pontuais relacionadas à História da Ciência.
uma profunda reflexão tendo em vista a construção de uma HFC que não seja do tipo
pseudo-história, Whig ou anacrônica e que, ao mesmo tempo, seja apropriada ao
contexto educacional. Essas, enfim, são algumas recomendações apresentadas pelos
especialistas...
Mas e você, professor, quando se depara com todas essas recomendações dos
especialistas... Será que as compreende? Você saberia dizer o que é uma pseudo-
história? História Whig? Anacrônica? E... O que seria uma História da Ciência
preparada para o contexto educacional? Você saberia utilizar a História da Ciência
como abordagem?
Atividade 1
Atividade 2
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Como você deve ter observado, a diferença é grande entre a História da Ciência
acadêmica, especializada, produzida pelos historiadores da ciência e a História da
Ciência transposta para o contexto educacional. As Atividades 1 e 2 procuraram
destacar que a quantidade de informações e o nível de aprofundamento do discurso
acerca dos episódios históricos no texto acadêmico é bem superior.
Você deve ter notado, com facilidade, que o texto produzido pelo historiador da
ciência é detalhado, riquíssimo em informações, aprofundado. Essas e outras
características fazem com que o mesmo não possa ser recomendado para utilização
direta em uma sala de aula do Ensino Médio.
podia ser transmitida ao corpo em questão, e essa por si própria se extinguia aos poucos
mesmo no vácuo. Avempace acrescentou que a velocidade de um corpo no vazio seria
finita, visto que esse corpo precisaria de um tempo finito para atravessar certo espaço
finito correspondente (OLIVEIRA, 2013).
Ainda em relação aos recortes realizados, é importante frisar que, nas narrativas,
o contexto científico no tocante às discussões sobre o vazio são destacados, ao passo
que aspectos econômicos, sociais e políticos dos períodos citados não. As narrativas não
apoiam a visão de pesquisador neutro, alheio a esses aspectos. Por outro lado,
contemplá-los não foi prioridade na elaboração das mesmas. Essa fragilidade, oriunda
de recorte deliberado, abre caminho para eventuais intervenções interdisciplinares que
possam fazer uso das narrativas em conjunto com professores da disciplina de História,
em atividades investigativas nas quais os estudantes sejam estimulados a pesquisar
sobre tais aspectos. Incompletude e mistério são características do gênero narrativo que
podem inclusive estimular a imaginação dos alunos, se bem exploradas.
140
Atividade 3
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142
busca de soluções ressalta não somente os confrontos entre teorias rivais, como também
as rupturas que as interpretações propostas podem representar. Os textos lidos por você
enfatizam a imagem de uma ciência “viva”, dinâmica, marcada por controvérsias,
debates em torno de questões e assuntos que movem (e muitas vezes dividem) a
comunidade científica.
37
Essas visões deformadas sobre a natureza do trabalho científico costumam ser sustentadas em conjunto
inclusive por professores: “[...] tais deformações, que expressam, em conjunto, uma imagem ingênua,
profundamente afastada do que é a construção do conhecimento científico, mas que se foi consolidando
até tornar-se um estereótipo socialmente aceite que, insistimos, a própria educação científica reforça ativa
ou passivamente” (GIL PÉREZ et al., 2001, p. 128-129).
145
Atividade 4
Ao longo dos textos, busca-se ilustrar essas concepções por meio de recortes
históricos, isto é, da seleção de determinados conteúdos históricos específicos tais
como: a argumentação dos eleatas, atomistas e aristotélica sobre o vácuo na antiguidade,
as concepções oriundas do período medieval relacionada o funcionamento do sifão e o
experimento do canudo e a atribuição de um novo pressuposto teórico a pressão
atmosférica na Revolução Científica.
Esperamos que essa interligação tenha sido notada por você na atividade 4.
Citamos a seguir alguns exemplos que você pode ter percebido.
147
[...] Afinal, quem disse que estamos certos, isto é, que nossas interpretações
são definitivas? A beleza da ciência é justamente não haver essa certeza. O
conhecimento científico é provisório. [O vazio na Revolução Científica –
Parte 1]
149
Lembra que falamos que a ciência não é uma atividade isolada, mas sim de
cooperação? Pois bem, discordar também faz parte dessa cooperação, já que a
construção do conhecimento também se dá quando um pesquisador pensa de
forma diferente e parte da ideia do outro para rejeitá-la. [Texto Ideias sobre o
vácuo na Idade Média – Parte 2].
Para Beeckman, sua conclusão tinha muito a ver com o horror ao vácuo.
Adotar a ideia de que o ar tinha peso e exercia pressão (isto é, o novo
fundamento teórico) poderia causar uma revolução no modo como certos
fenômenos eram interpretados. [Texto O vazio na Revolução Científica –
Parte 1].
Para a utilização desse tipo de material em sala de aula, consideramos que seja
muito importante para o professor: perceber os objetivos centrais contemplados pelos
textos, perceber especificamente os aspectos sobre a natureza do conhecimento
científico tratados, compreender como o ensino dessa temática pode se dar de forma
explícita e contextualizada por meio dos episódios históricos.
Atividade 5
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153
Certas informações históricas são deixadas de lado, ou não são apresentadas com
a mesma profundidade que aparecem no texto de um historiador da ciência (lembra da
Atividade 2?). Na redação dos textos aqui propostos para o Ensino Médio, atenta-se
para questões como a quantidade de informações contempladas, a extensão e a
profundidade dos textos.
Mesmo assim, apesar do recorte criterioso, você pode perceber que os conteúdos
históricos selecionados são complexos. O que fazer, então?
estrategicamente a uma analogia com um ditado popular: o “ver para crer” dá lugar a
um “pensar para crer”.
Pode-se, por exemplo, realizar uma leitura compartilhada dos textos, na qual o
professor enfatiza os questionamentos propostos nos textos, registrando as opiniões dos
alunos, conduzindo a compreensão do processo histórico em questão. Trechos não
compreendidos de um texto podem ser registrados pelo professor, que pode aguardar
com expectativa a elucidação dos mesmos na leitura do texto subsequente.
Reafirma-se aqui, portanto, que para exercer seu papel fundamental no processo
de transposição didática da História da Ciência o professor precisa conhecer de modo
aprofundado o material didático que lhe interessa. Então, continuemos nosso caminho
com a Atividade 6.
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Atividade 6
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159
Você saberia dizer o que é uma ... História da Ciência Whig? E... o que seria
História Pedigree, hagiografia, anacronismo?
Já perguntamos isso a você. Tudo isso tem a ver com a temática da Atividade 6.
Vamos a seguir discutir por quê.
Essas visões sustentadas pela historiografia da ciência das últimas décadas têm
sido ressaltadas em textos de natureza teórica sobre a inserção da HFC no ensino.
Segundo Forato, Martins e Pietrocola (2012b, p. 126): “A elaboração de narrativas
históricas e os aspectos epistemológicos que elas transmitem podem ser avaliados e
orientados pela historiografia atual da História da Ciência”.
Vamos pedir para você fazer o seguinte agora: volte àqueles trechos da
legislação brasileira para o ensino que citamos lá no início das discussões. Você percebe
que eles refletem explicitamente a relevância reconhecida dessas questões para o
contexto educacional?
Adicionalmente aos trechos já citados, você sabia que um dos critérios do PNLD
é se o livro “contempla um tratamento da história da ciência integrado à construção dos
conceitos desenvolvidos, evitando resumi-la a biografias de cientistas ou a descobertas
isoladas”?
vilões que cometem erros e heróis que sempre acertam. Valorizam os conhecimentos do
passado, ainda que esses tenham sido rejeitados posteriormente. Afastam-se, portanto,
de uma postura História Whig, que, em contraposição, procura mostrar os “erros” que
atrasaram a evolução da ciência. Afastam-se também da visão de ciência constituída por
descobertas em datas pontuais, realizadas por gênios isolados. Por isso, não há nos
textos referência a um possível pai do Vácuo e da Pressão Atmosférica.
Não dá para a gente olhar para o passado com os nossos olhos de hoje,
considerando que bom é quem se aproximou do que aceitamos... [texto O
vazio na Revolução Científica – Parte 1].
Por que os textos parecem incompletos? Não devo buscar os dados biográficos,
as informações sobre quem foi o pai disso ou daquilo, as datas que estão “faltando”... e
então “melhorar” os textos, acrescentando o que foi “esquecido” pelo autor no material
didático? O professor não consciente do que é a História da Ciência atualmente pode
transformar os textos em algo inadequado por acréscimo de informações ou ainda
abordá-los de forma inadequada em sala de aula, incorrendo em anacronismos, por
exemplo.
Por outro lado, o professor consciente pode explorar em sala de aula o que a
legislação de ensino prevê e que, como podemos notar, está em completo alinhamento
com a historiografia da ciência atual. Ademais, é sempre bom lembrar e quem é
professor sabe disso: surpresas ocorrem em sala de aula. Compreender o que é
anacronismo, por exemplo, pode ajudá-lo a problematizar possíveis visões anacrônicas
manifestadas pelos estudantes ao longo das discussões com os textos.
163
Considerações finais
Esses textos podem ser utilizados para que os alunos compreendam vários
aspectos da NdC, os quais cabem ao professor selecionar e enfatizar nas discussões.
Prevê-se a utilização flexível desse tipo de material.
Pode ser importante que estimular que os alunos também formulem perguntas
que possam levar a mais observações e reflexões.
A utilização dos textos em aula pode vir acompanhada de outros recursos, como
simulações sobre os fenômenos físicos em questão, slides elaborados pelo professor,
trechos de filme que remetam às épocas citadas e possam colaborar para
contextualização, etc.
Recursos como “linha do tempo” também podem ser válidos. Esse tipo de
atividade demanda cuidado porque a linha do tempo não deve apresentar a visão de que
o conhecimento se constitui de forma linear, progressiva, em datas pontuais fixas.
Muito pelo contrário, deve registrar controvérsias, rupturas e continuidades do
165
processo de construção coletiva da ciência. Esse caráter precisa ser levado em conta e,
inclusive, pode ser explicitamente refletido com os alunos.
Como se pode notar a partir das reflexões que realizamos em conjunto, a atuação
do professor é fundamental no sentido de estabelecer objetivos didáticos e implementar
atividades que permitam explorar as potencialidades dos textos de acordo com esses
objetivos, utilizando outros recursos de acordo com as suas necessidades e preferências.
Esperamos de alguma forma ter colaborado para que você se aproxime das
discussões sobre a inserção da HFC no Ensino, consciente da extrema importância da
sua atuação em sala de aula para que esse processo de fato ocorra!!!
166
KATZ, J. Aristotle on velocity in the void. The American Journal of Philology, v. 64,
n. 4, p. 432-435, 1943.
______. O Universo: teorias sobre sua origem e evolução. São Paulo: Editora Moderna,
1994.
167
Referências gerais
GIL PÉREZ, D.; MONTORO, I. F.; ALIS, J. C.; CACHAPUZ, A.; PRAIA, J. Para uma
imagem não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação, v. 7, n. 2, p. 125-
153, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v7n2/01.pdf.
TEIXEIRA, GRECA, FREIRE JR. Uma revisão sistemática das pesquisas publicadas
no Brasil sobre o uso didático de história e filosofia da ciência no ensino de física. In:
PEDUZZI, L. O. Q.; MARTINS, A. F. P., FERREIRA, J. M. H. (org.). Temas de
história e filosofia da ciência no ensino. p. 9-40. Natal: EDUFRN, 2012.
Anexo 1
171
-----------------------------------------------------------------------------------
Fig. 1 – Disponível em: <http://files.encuentro-con-la-filosofia.webnode.com.co/200000009-070af08080/Atomistas-
Griegos.jpg>. Acesso em 10 mai. 2014.
174
Anexo 2
177
uma força muito grande fosse aplicada, o fole se quebraria antes de haver a
separação de seus lados. Seria como uma ação da natureza para não permitir
o vazio.
E, então? Reparou que Buridan e Francisco de Toledo partiram
daquele mesmo princípio de rejeição ao vazio? E você percebeu também que
algumas palavras estão grifadas no nosso texto: “imagine”, “poderia”,
“seria”, “se”, “quebraria” ...
O que isso quer dizer? Eles estavam pedindo que as pessoas
imaginassem certas condições e, em seguida, pensassem nessas situações
hipotéticas, tendo como base certos pressupostos teóricos: eram
experimentos imaginários.
Então eles não fizeram os experimentos? Não, não fizeram!
Será que eles estavam errados em não fazer? Estavam com medo de
notar outras coisas? Com preguiça? Será que a Idade Média era uma época
“atrasada” e não sabiam que fazer experimento é importante?
Não, nada disso. Jean Buridan e Francisco de Toledo estavam
propondo uma situação que levava em conta pensar sobre a teoria do “horror
ao vácuo”. Em outras épocas, muito mais a frente, e bem próximo dos nossos
tempos, Albert Einstein “realizou” muitos experimentos imaginários que
levavam em conta pensar sobre a “Teoria da Relatividade”, um cara chamado
Erwin Schröedinger (nome complicado!) “fez” experimentos imaginários
sobre um gato para pensar sobre a “Teoria Quântica” (sem gato, só
imaginando o gato!).
Os experimentos imaginários continuam sendo hoje uma
importantíssima ferramenta para a Ciência. Na Idade Média, foram muito
usados tanto pelos que negavam o vácuo, isto é, a maioria dos pensadores,
quanto pelos que aceitavam a existência do vazio na natureza.
Opa! Isso quer dizer que as opiniões sobre o vazio não eram
unânimes? Não eram mesmo ... mas isso é uma conversa para o nosso próximo
texto.
Fig. 1 – Disponível em: < http://www.webislam.com/media/2005/02/16281_avicena_big.jpg>. Acesso em 11 mai. 2014.
Fig. 2 – Disponível em:< http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/sifao/Sif%C3%A3o2.jpg>. Acesso em 11 mai. 2014.
Fig. 3 – Disponível em: < http://www.cadytech.com/dumas/images/all/s000018.jpg>. Acesso em 11 mai. 2014.
Fig. 4 – Disponível em:< http://img.elo7.com.br/product/main/CE5D4/fole-para-acender-lareira-ou-churrasquei.jpg>.
Acesso em 11 mai. 2014.
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Anexo 3
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No entanto, a discordância
prosseguiu. Houve quem afirmasse que o
tubo teria poros por onde entraria e sairia
um fluido sutil. Nesse caso, ao abrir a
torneira, o fluido sairia pelos poros do
tubo e a água tomaria o seu lugar.
Variações do experimento foram
tentadas, mas os pesquisadores
continuaram divergindo.
Havia um problema. Seria
interessante visualizar o conteúdo do tubo,
mas o que poderia ser feito?
Parece que foi Galileu quem sugeriu
usar mercúrio no lugar da água. Como o Figura 1 - Experimento de Berti
mercúrio era mais denso que a água, Galileu
imaginava que a coluna máxima de mercúrio seria bem menor do que a de
água. Nesse caso daria até para usar um tubo de vidro e foi o que Torricelli,
discípulo de Galileu, fez. O experimento ficou bem mais simples e portátil.
Esse seria o famoso experimento de Torricelli.
Nos nossos livros de Física costuma ser dito que Torricelli fez esse
experimento com a intenção de medir a pressão atmosférica. Mas não foi
exatamente assim
Ele não acordou um belo dia e disse
simplesmente: hoje vou medir a pressão
atmosférica, vou usar um tubo de vidro, tem
água aqui em casa, mas vou procurar
mercúrio (que é difícil de conseguir)...
Veja que isso não faria sentido!!!
Ninguém acorda e do nada sai fazendo
experimentos estranhos, não é?
Torricelli estava interessado, na
verdade, na discussão da moda na época: o
tubo estava ou não vazio.
Figura 2 - Torricelli
Ele conhecia o experimento com a
água porque esse já era famoso. Foi influenciado por Galileu para trocar a
água pelo mercúrio. E já conhecia a ideia de que o ar tinha peso e exercia
pressão. O pensamento de Beeckman e Baliani não era bem aceito na época,
mas os pesquisadores comentavam.
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