Ice Season Nodrm
Ice Season Nodrm
Ice Season Nodrm
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida
real é mera coincidência.
O fim de um império
O mundo da patinação artística acordou com um frio no coração que
nada tem a ver com os rinques gelados. Gracie Salmon (20) e Pierre
Durant (21), o casal multipremiado conhecido como Imperadores do Gelo
pelos fãs, encerrou suas atividades como dupla.
Não se sabe ao certo qual foi o motivo do ponto de ruptura entre os
dois favoritos à medalha de ouro nas Olimpíadas de 2024, mas algumas
fotos que circularam na internet na última semana mostram Pierre saindo
dos treinos ao lado de Kate Willians (20), uma amiga da dupla e também
patinadora. Por ser uma pessoa tão próxima do agora ex-casal, não
podemos afirmar que haja algo além de uma amizade, mas certamente as
páginas de fofocas estão alvoroçadas com a ideia de o rompimento ter sido
causado por uma traição.
A situação, que seria terrível em qualquer ponto da carreira de um
atleta, é ainda agravada pela proximidade dos jogos olímpicos de Paris.Os
gigantes do gelo pretendem competir um contra o outro? E qual o papel de
Kate nessa dinâmica?
Como uma bola de neve, as perguntas se acumulam e ameaçam se
transformar em uma avalanche. Há uma grande expectativa no ar para o
fim da tarde de hoje (21/06/2024) já que a Imperatriz do Gelo anunciou
uma live na sua página no Instagram. Não sabemos o que aconteceu, mas
toda equipe do EstherNews espera que os queridinhos que representariam a
Grã-Bretanha nas olimpíadas estejam bem e que consigam reverter essa
crise para trazer mais medalhas para casa.
Sexta-feira, 21 de junho de 2024
CAPÍT ULO 1 - GRACIE SALMON
Voltar para casa não é tão bonito e romântico como os filmes tentam
mostrar. Pelo menos, não quando você tem uma família disfuncional. Liam
Salmon é um amor de pessoa, o tipo de amigo que as pessoas querem ter
por perto: engraçado, comunicativo e prestativo. É uma personalidade
muito querida em Guildford e é raro passar uma semana sem ser convidado
para jantar na casa de um dos vizinhos. O problema é que ele parece gastar
todo o seu carisma fora de casa e deixar apenas migalhas pra mim e minha
mãe. Moral da história: vivenciei o estranho fenômeno de ter um pai
ausente que dividia o mesmo teto comigo.
Se, por um lado, eu sentia falta do contato paterno, com minha mãe
foi o contrário.
Assim que chego em casa, é ela quem encontro. Ainda estou no hall
da imensa casa dos Salmon — uma casa grande demais para apenas um
casal e uma filha. Minha mala está ao meu lado e talvez eu precise pedir
ajuda a algum dos empregados para subir com ela até o meu antigo quarto.
Benjamin dispara pela casa, mostrando toda a empolgação que eu não estou
sentindo. Bem, pelo menos um de nós está feliz por ter voltado.
— Que história é essa de término, Gracie? E como eu só fiquei
sabendo disso pela internet?
Essa é Nora Salmon, minha queridíssima mãe. É claro que eu a amo,
seria uma filha muito desnaturada se não a amasse, mas não vou negar que
algumas vezes ela me fez questionar se compensa passar o resto da vida
cumprindo pena por matricídio.
Não teve um “oi, como você está? Imagino que as coisas estejam
difíceis para você. Vem cá, deixa eu te abraçar.” Não, Nora não funciona
assim. Com ela tudo tem que ser perfeito, não existe espaço pra sentimento
ou bem-estar. A carreira vem primeiro, a vida, se sobrar espaço, vem em
segundo. Talvez foi por causa disso que ela fez história na patinação
artística no gelo, conseguindo nada mais mais nada menos do que cinco
medalhas olímpicas de ouro na modalidade. Pressão? Imagina.
— Oi, mãe. Não, eu não estou bem, obrigada por perguntar.
Levanto a mão em um aceno para um dos empregados que nunca vi
antes. Eu nunca entendi muito bem o sistema de contratação de
funcionários aqui, mas meu pai parece não gostar que os empregados
fiquem por muito tempo, o que faz zero sentido na minha cabeça, já que
quanto mais eles conhecem da família e da casa, melhor sabem sobre as
rotinas e costumes para melhor atenderem. Mas não sou eu, a filha única e
sempre voto vencido, quem vai questionar os costumes dos Salmon. Pra
início de conversa, nem moro mais aqui.
— Não venha com chantagem emocional pro meu lado, mocinha. Se
queria conversar deveria ter atendido alguma das dezenas de ligações que te
fiz.
Ok, talvez ela tenha um ponto. Desde que os boatos da separação
começaram a circular nas águas tóxicas da internet, meu telefone tocou sem
parar.
Mas eu não queria conversar com minha mãe por telefone, na
verdade, não queria conversar com ninguém. Não tenho o que falar sobre o
que aconteceu. Pierre já tinha me machucado antes, centenas de vezes, mas
dessa vez ele passou dos limites. Uma traição é demais, não porque sou
apaixonada por ele e não suporto vê-lo com outra mulher, mas porque fama
de corna significa fama de otária. Eu posso ser muitas coisas, mas não sou
otária. De toda forma, não tenho mais o que remoer. O que eu tinha para
desabafar, já desabafei com meu melhor amigo de quatro patas. E a melhor
parte de tudo é que ele não me julga, nem me dá conselhos estúpidos.
— Eu não queria falar com ninguém. — Sigo o empregado que ainda
não sei o nome, mas faço uma nota mental de perguntar assim que me livrar
da minha mãe. — Na verdade, ainda não quero. Vou pro meu quarto.
— Não vai não, Gracie. Nós precisamos conversar. Eu e seu pai não
nos matamos para criar você com todo o luxo e oportunidades que você
teve para agora você jogar sua carreira brilhante no lixo tão perto das
olimpíadas.
Respiro fundo. Com ela é sempre assim. Imagino se ela consegue ver
uma pessoa de carne e osso quando olha para mim ou se tudo o que vê é um
imenso currículo deslizando sobre patins. Não olho para ela enquanto sigo
para o meu quarto. Apesar de estar no início da tarde e eu ainda não ter
almoçado, estou sem apetite e só quero a minha cama.
— Eu preciso descansar primeiro — solto, derrotada. Eu sei que não
vou conseguir fugir de uma conversa com ela por muito tempo, mas eu
realmente preciso dar uma cochilada antes de encarar a fera. — Benjamim!
Assim que escuta minha voz, meu fiel amigo corre na minha direção e
entra comigo no quarto. Ainda escuto o som dos passos da minha mãe
vindo na minha direção, mas fecho a porta antes que ela me alcance.
É sempre uma experiência estranha voltar para o lugar onde cresci.
Na época que eu morava em Guildford, as paredes do meu quarto estavam
repletas de posters de bailarinas e patinadoras, além, claro, dos cronogramas
com os infinitos treinos. Agora, as paredes estão limpas, sem graça, sem
vida, como se eu tivesse entrado em um quarto de hotel sem personalidade.
Se não fosse pelos mesmos móveis, seria difícil acreditar que eu morei aqui
por tantos anos.
Pego Ben no colo e me deixo cair na cama. O minúsculo maltês
começa a lamber o meu rosto, fazendo um sorriso fraco despontar nos meus
lábios.
— Se não fosse você, eu não sei o que seria de mim, honey.
Abraço o travesseiro e não demoro a dormir.
∞∞∞
Acordo com o barulho da risada alta do meu pai. Ele é o tipo de
pessoa que, quando ri, faz questão que todos saibam que está rindo. Puxo o
meu celular e percebo que são quase 17h. Sinto um gosto amargo na boca e
um incômodo no estômago me diz que eu não deveria ter ficado tanto
tempo sem comer. Sinto o corpo fraco e sei que é meu corpo berrando por
energia. No momento, estou flertando perigosamente com a hipoglicemia,
por causa da minha diabetes.
O fato de eu vir de uma família rica certamente ajudou a eu não ter
muitos problemas com essa doença. É óbvio que eu não gosto de ser
diabética, mas pelo menos consigo reconhecer que tenho condições
financeiras para fazer o melhor acompanhamento possível. Desde criança,
tenho ido aos melhores médicos e nutricionistas e tomo minha medicação
religiosamente. Minha diabetes é a do tipo 1, ou seja, meu pâncreas cismou
que insulina é algo trivial e decidiu produzir muito pouco dela. Moral da
história: tenho que injetar o hormônio uma vez ao dia para impedir que eu
tenha um colapso.
Saio do quarto sentindo o corpo um pouco fraco. Eu realmente não
deveria ter ido dormir sem almoçar. Sigo direto para a sala de jantar com
sua imensa mesa de vinte lugares e lá encontro minha mãe, meu pai e Mr.
Fisher, melhor amigo de infância do meu pai. Estão sentados, terminando
de tomar o chá da tarde. Assim que chego, sou cumprimentada com um
abraço apertado que me deixa ainda mais fraca.
— Minha nossa, como eles crescem rápido! — Mr. Fisher comenta.
— Se o Archie não estivesse viajando, a casa estaria cheia.
Minha cabeça está focada no bule de chá e no bolo em cima da mesa,
mas sei que não posso comer esse último. Ao invés disso, sirvo uma
generosa dose de chá preto e salada de frutas, tudo sem açúcar. Em uma das
últimas cartas que troquei com Archie, ele realmente disse que viajaria para
algum lugar remoto para ver alguma ruína. Nós dois temos essa tradição de
trocar cartas virtuais desde a adolescência, mas com o caos que minha vida
tomou nas últimas semanas, acabei nem respondendo ele.
— E como anda o time, Hank? Eu vi as notícias da expulsão, deve ter
sido um momento difícil pros meninos — comenta meu pai.
Expulsão?
Minha atenção é direcionada para a conversa enquanto como as
frutas. Todo mundo em Guildford sabe que os Fisher tem um time de
hóquei em New York, onde quatro dos cinco filhos jogam. Se houve uma
expulsão, matematicamente falando, tem grandes chances de ter sido um
dos Fisher, já que eles ocupam quatro das seis vagas titulares.
— Nem me lembra disso, Liam. Dessa vez o Oliver passou de todos
os limites.
Sinto o corpo enrijecer ao ouvir aquele nome. Não me lembro da
última vez que o ouvi. Quando fui pra Londres minha vida passou a girar ao
redor da patinação e perdi o pouco contato que eu tinha com esse esporte
grosseiro, embora tenha o stalkeado algumas vezes no Instagram. É óbvio
que, se eu tivesse que apostar na expulsão de um deles, apostaria todas as
minhas fichas no Oliver. Ele sempre foi um garoto problema e foi
responsável por me dar inúmeras dores de cabeça.
— Ah, sobre isso eu entendo muito bem — diz minha mãe, me
lançando um olhar atravessado. — A gente faz de tudo para agradar, mas só
recebe descaso.
Mr. Fisher concorda e se levanta da mesa.
— Mas já tomei demais o tempo de vocês. Espero encontrá-los mais
tarde. — Ele olha na minha direção. — Os meninos vão adorar te ver,
Gracie.
Eu não preciso ser muito inteligente para saber do que se trata.
Se não for um convite para um jantar, eu sou um boneco de neve.
Meu pai acompanha o amigo até a porta e, assim que eles deixam a
sala, a temperatura do ar diminui vários graus. É uma situação ridícula: uma
mesa imensa com um banquete para apenas duas pessoas que não trocam
uma palavra sequer. Sei que minha mãe está com raiva de mim pela forma
como me olha sem descanso, mas não vou puxar o assunto e muito menos
pedir desculpas por algo que não foi culpa minha.
Os segundos passam arrastados e, é com um grande alívio, que escuto
os passos do meu pai retornando para onde estamos. Ele pode não ser o
melhor pai do mundo, mas sempre funciona como uma ponte quando a
convivência entre eu e minha mãe fica insustentável.
— Bom, você quer nos contar o que aconteceu, princesa? — ele diz
retomando seu lugar na mesa ao lado da esposa. — Tudo o que sabemos foi
o que saiu na mídia.
Viro uma quantidade de chá maior do que deveria e sinto o líquido
quente queimar minha língua. Lágrimas sobem aos meus olhos e odeio
pensar que eles vão achar que estou chorando por causa do Pierre.
— Não tem mais nada para contar. Pierre foi um idiota e tava me
traindo há muito tempo com uma desquerida. Eu acabei descobrindo. Fim
de papo.
Enfio o garfo em um pedaço de kiwi e o levo à boca. Tento olhar para
o meu bowl de frutas, pois ele parece muito mais interessante do que o casal
que me encara em silêncio. Infelizmente, a calmaria não dura muito.
— Fim de papo coisa nenhuma, Gracie. E por causa disso você
decidiu jogar sua carreira no lixo? E daí que ele tá saindo com outra
pessoa? Pierre ainda é o seu parceiro. — Ela sacode os cabelos ruivos de
um lado para o outro. É irônico pensar que puxei todos os traços físicos do
meu pai, mas minha personalidade é quase uma cópia da minha mãe. Talvez
por isso brigamos tanto. — Meu Deus, será que só eu estou vendo o
problema que temos aqui?
Olho para minha mãe sem saber exatamente o que sentir. Não é
surpresa, por mais absurda que possa soar, eu sabia que essa seria a opinião
dela. Meu pai também está olhando para a esposa, mas é mais fácil nevar
em pleno verão do que ele contradizer Nora Salmon.
— Você queria que eu continuasse com ele depois do mundo inteiro
descobrir que eu fui corna?
— As coisas são mais complicadas do que isso, Gracie, tenha modos!
No mundo da patinação, infelizmente, às vezes a gente tem que engolir
algumas coisas se quiser ir longe. E pelo o que eu vi, ninguém sabia que
houve mesmo uma traição, não antes da sua live.
— Então tudo bem continuar com ele se o resto do mundo não
soubesse? É isso que você quer dizer?
Sinto ânsia de vômito ao imaginar Pierre me abraçando nas
apresentações. Como eu poderia continuar com ele depois disso tudo?
Como eu poderia pular esperando que ele me segurasse se não tenho mais
uma gota de confiança nele?
— Não estou dizendo que está tudo bem, estou dizendo que você
deveria ter esperado pelo menos até o fim das olimpíadas. Faltam só…
— Será que dá para não ficar me lembrando quantos dias faltam para
as olimpíadas? Eu já estou com problemas demais e não preciso
desenvolver uma crise de ansiedade.
— Não vou parar, porque parece que você esqueceu completamente!
Meu Deus, Gracie, onde você estava com a cabeça? Se tivesse me ligado
antes de fazer uma coisa dessas…
Me levanto, frustrada.
— Eu não liguei porque sabia exatamente o que você ia dizer. Seu
foco é sempre na minha carreira, nunca em mim. — Dou as costas sabendo
que o que estou prestes a dizer vai machucar minha mãe mais do que se eu
a ofendesse com todos os palavrões do planeta. — E eu nem sei se vou mais
participar das olimpíadas. Não tenho parceiro.
Saio do salão sem esperar por uma resposta. Não que eu ache que
minha mãe tenha algo a dizer depois do que eu falei e, bem, meu pai não é
de se meter. Quando eu disse que ele funcionava como uma ponte entre eu e
minha mãe eu quis dizer no sentido mais literal possível: ele permite que
haja um caminho entre nós, mas jamais toma um partido. É quase uma
lembrança em carne e osso mostrando que, se houver um assassinato,
haverá testemunhas.
Volto para o meu quarto, batendo a porta quando passo. Meu corpo
escorrega até o chão e apoio as costas na cama. Ben corre para o meu colo
na tentativa de me animar. Ele é o único nessa família que me entende.
Apesar de toda raiva que estou da minha mãe, em uma coisa ela está
certa.
Eu realmente não faço ideia do que vou fazer da minha vida agora.
E constatar isso me deixa com ainda mais raiva.
CAPÍT ULO 4 - OLIVER FISHER
ERIK: O pai vai ficar puto se vocês não chegarem na hora do jantar
@tyler @oliver
ERIK: Sabe como ele é com essas coisas.
ARCHIE: Ele voltou a fazer jantares?
∞∞∞
Ainda consigo sentir a adrenalina correndo por minhas veias quando
estaciono a moto atrás do carro de Tyler, na garagem dos Fisher. Água
escorre do meu cabelo e minha jaqueta de couro nunca esteve tão úmida,
mas não estou sentindo frio. É como se a vitória de mais uma corrida me
mantivesse quente. Agora são dez seguidas.
— Nós estamos — eu checo as horas no meu celular, também
molhado — quarenta minutos atrasados?
— Setenta minutos atrasados — Tyler responde, fechando a porta do
carro. — Se o pai não tiver um infarto hoje, não vai ter nunca mais.
Eu rio, porque Hank Fisher é um homem difícil de tirar do sério. Eu
mesmo só consegui esse feito duas vezes: quando fui pro reformatório aos
dezesseis anos e quando fui expulso dos Owls. Não é grande coisa, mas sou
o irmão Fisher que detém o recorde.
— Ele devia agradecer que estamos aqui — murmuro, sacudindo o
cabelo com uma das mãos —, fazendo sala pros Salmon.
Tyler ri.
— Você sabe que eles são praticamente irmãos.
— Eu não disse que não gosto do Liam — meu tom de voz é baixo
enquanto subimos as escadas que dão acesso a casa —, mas a esposa dele é
maluca.
— Ela é uma patinadora — Tyler corrige, passando os dedos pelos
dreads, verificando se estão molhados. — Todas são malucas. E eu não
julgo, deve ser muito estressante ficar o tempo inteiro sendo arremessada
pra lá e pra cá… pelo menos elas usam saias bem curtas enquanto fazem
isso.
— E isso ajuda a diminuir o estresse? — Minha pergunta é irônica,
porque já sei a resposta.
— O meu estresse, sim.
Eu reviro os olhos enquanto Tyler abre a porta da garagem. A
primeira coisa que ouço é a playlist de jazz do meu pai embalar o ambiente.
Já decorei todas as músicas, porque são a trilha sonora oficial de qualquer
evento na casa dos Fisher. Eu respiro fundo, segurando a vontade de fumar
um cigarro antes de chegar na sala. Não gosto da ideia de passar uma noite
inteira na mira do olhar nada atencioso de Nora Salmon. Se ela não perdoa
nem os erros da própria filha, não quero saber o que ela acha dos meus.
— Eu não sei o que deu na cabeça dela. — A voz de Nora é a
primeira que ouço quando coloco os pés na sala. Liam está ao lado dela,
apenas concordando e acenando. Acho que esse é o segredo dos casamentos
duradouros. Concordar e acenar. — E agora com a proximidade das
olimpíadas… — Ela para de falar quando seus olhos caem em mim e Tyler.
A ruiva franze o cenho quando percebe que estamos molhados, em clara
desaprovação. — Boa noite.
— Boa noite. — Tyler abre o seu sorriso simpático de golden
retriever, sem se importar com o quanto aquela mulher é antipática. Eu me
limito a balançar a cabeça num comprimento.
— Onde vocês estavam? — Hank pergunta, girando sua taça de
vinho.
— Você não vai querer saber — respondo. — Eu vou só… — Aponto
para as minhas roupas e Hank move a cabeça em afirmativa.
— O jantar está quase pronto — Hank complementa. — Seu irmão e
a Gracie estão fazendo a sobremesa.
Arqueio uma das sobrancelhas. Tenho vontade de perguntar porque
estão perdendo tempo com a sobremesa se temos empregados que poderiam
fazer isso, mas não quero ser antipático. Mais antipático.
— Eu vou lá em cima — Tyler murmura pra mim, apontando para o
cabelo.
Eu sei que ele vai gastar uma boa meia hora secando os dreads, o que
significa que vou passar mais tempo sendo o centro das atenções desse
jantar. Diferente de mim, Tyler sabe lidar com situações sociais tensas como
ninguém. Ele tem uma simpatia natural que eu não tenho.
Sigo na direção da área de serviços antes que alguém tente puxar
assunto sobre os Owls, porque eu sei que eles vão. Não do jeito agressivo
— o que você vai fazer da sua vida agora que destruiu sua carreira? —,
mas com aquela simpatia fingida muito típica entre as famílias de atletas —
é melhor você começar a se preparar para entrar em outro time ou vai ficar
pra trás. — Escolher essa carreira é transformar a sua vida em uma eterna
corrida, a única diferença é que não existe linha de chegada.
Sendo sincero, não dá pra dizer que eu escolhi. Acho que nenhum de
nós escolheu, mas tínhamos uma dívida de gratidão implícita com Hank. Se
ele queria que seus filhos desajustados fossem jogadores de hóquei, nós
seríamos. Não parecia um sacrifício tão grande na época. Erik e Tyler
acabaram tomando gosto pela coisa, quanto a mim e ao Archie… Não tenho
certeza.
As luzes se acendem quando entro na área de serviço que divide
espaço com a nossa despensa. Eu tiro a jaqueta e a camisa, jogo em uma das
máquinas vazias e encho o recipiente com sabão em pó. Eu não precisava
estar lavando isso agora, mas quanto menos tempo na sala melhor.
Abro um dos armários onde costumam guardar as roupas secas antes
de levar para os quartos e procuro por algum moletom que seja meu.
Dividir o mesmo teto com três outros caras pode ser meio caótico, mesmo
que só durante as férias. Antes que eu encontre, ouço passos se
aproximando da lavanderia e me viro na direção da porta.
Gracie Salmon me encara, parecendo em dúvida se deve dar mais um
passo ou se virar e ir embora. Dá pra dizer que ela não mudou muito desde
a última vez que nos vimos. Parece um pouco mais magra, mas ainda usa os
seus conjuntos de terno e saia de patricinha que fazem parecer que ela foi
vestida pelo mesmo estilista do elenco de Gossip Girl. Seu cabelo castanho
dourado é enorme, caindo até a altura da cintura, combinando perfeitamente
com sua pele negra clara. As olheiras ao redor dos olhos também castanhos
denunciam que está passando por um momento complicado, mas nem isso é
capaz de afetar sua beleza de tirar o fôlego.
— Vim buscar doce de leite pro Erik — diz, depois de alguns
segundos em silêncio, como quem confessa um crime — pra decorar nossa
banoffee.
— Ali atrás.
Eu aponto para o cômodo ao lado da sala de serviços e Gracie
enrijece os ombros, parecendo tensa com a ideia de ter que passar por mim
para chegar até lá.
— Eu não vou te morder, desgracie.
Ela arqueia uma das sobrancelhas finas e eu complemento:
— Você já está mal o suficiente.
Gracie cerra os olhos, ultrajada.
— Olha só quem diz, garoto problema. Furacão de Guildford, rebelde
sem causa, Oliver-Tretas-Fisher, não é assim que os jornais te chamam?
Dou de ombros. Os olhos de Gracie descem pelo meu corpo e ela
gasta alguns segundos analisando as tatuagens no meu peito. Não sei se ela
acha que está sendo discreta, mas não está.
— Era o que esperavam de mim, não é? Ser expulso. — Eu me volto
para o armário. — Agora você…
— Eu o quê? — Ela caminha até a despensa, mas para na porta.
Cruza os braços e espera que eu responda, reativa como de costume.
— Era uma promessa da patinação e agora está fora das Olimpíadas
de Paris — respondo, sucinto. — Quanto mais alto você chega, pior a
queda, mas acho que eu sempre estive por baixo.
— Grande coisa pra se vangloriar. — Gracie solta o ar pela boca. —
Não vou discutir com você. Se eu quisesse ir pras olimpíadas, eu iria.
Ela entra na despensa e eu finalmente encontro meu moletom surrado
dos Owls. A coruja com máscara de hóquei que estampa a peça está
descascando, praticamente desaparecendo do tecido.
— É mesmo? Com que parceiro?
— Qualquer um. — Ela demora alguns segundos procurando o vidro
de doce. — Tenho certeza que minha agente já recebeu milhares de
propostas. Muitos patinadores matariam pra patinar comigo.
Solto o ar pelo nariz, numa atitude de escárnio. Eu duvido muito. As
fofocas no meio do esporte não mentem sobre Gracie: ela é obcecada com
medalhas de ouro e troféus. Se você não está disposto a treinar 25 horas por
dia, não serve pra ela.
— E você?
Gracie retorna para área de serviço, agora com o pote nas mãos. Eu
não entendo a sua pergunta, então ela continua:
— Era um bom patinador — diz. — A gente patinava junto quando
éramos crianças.
— No lago Silent Pool — lembro. — Não patino mais.
— Não?
— Sei ficar de pé em cima dos patins, se é isso que quer saber, mas
não dá pra chamar de patinação.
Gracie assente.
— Você gostava.
— No passado.
Ela bufa ao perceber que a sua tentativa de ser simpática não foi bem
recebida por mim.
— Beleza, entendi. — Gracie encara meu rosto, mas seus olhos
descem até o meu abdômen de novo. Sua atenção se alterna entre as
tatuagens e os meus dedos cheios de anéis.
— Eu posso colocar a blusa ou você vai querer apreciar por mais um
tempinho?
— O quê?! Eu não… — Ela deixa uma risada escapar. Um fato sobre
Gracie é que ela sempre ri quando está nervosa. — Fala sério, você não está
no meu nível.
— Sei. — Eu visto o moletom. Meu cabelo e minha calça ainda estão
úmidos, mas isso não me preocupa. — Você gosta dos patinadores
mauricinhos que te enchem de chifre. Como se diz chifre em francês?
Chifrrrrrée?
Gracie suspira.
— Vai se ferrar. — E é engraçado como ela se recusa a dizer “foder”.
Ela segura o pote de doce com mais força e acelera o passo para sair
da área de serviço, mas eu chamo sua atenção antes que desapareça de vista.
— Desgracie — murmuro, e ela se vira pra mim, impaciente. Aponto
para o doce nas suas mãos. — Tem o diet na dispensa. Não quero que o seu
corpo colapse no meio da minha sala de jantar.
Gracie demora um segundo para assentir, como se seu cérebro tivesse
acabado de travar. Tem muito tempo que não nos vemos, mas a dinâmica
entre nós continua a mesma: eu sou escroto com ela, ela é escrota comigo,
mas se sou gentil, ela não sabe o que fazer. Não posso dizer que não a
entendo. Lidar com ódio é sempre mais fácil do que lidar com gentileza. E
na nossa relação, gentilezas demais significam problema.
CAPÍT ULO 5 - GRACIE SALMON
∞∞∞
Por mais que a pista nunca mude, uma corrida clandestina nunca é
igual a anterior. O ambiente muda, as pessoas que frequentam o espaço
também, e tudo isso numa frequência tão rápida que alguns não se dão
conta. É uma coisa com a qual me acostumei, mas, mesmo assim, percebo
que algo de diferente está acontecendo quando chego na estrada e me
deparo com uma cancela improvisada no meio do caminho.
Eu observo as árvores ao meu redor, esperando que alguém apareça
para explicar de onde aquilo saiu. Demora alguns minutos, mas dois
homens parrudos surgem das sombras dentro de ternos risca de giz que não
combinam em nada com o ambiente. Arqueio uma sobrancelha. Eles não
são daqui.
— Nome? — um deles me pergunta e de repente me sinto na entrada
de uma festa em Los Angeles, esperando um segurança conferir cada
convidado da lista VIP.
— Oliver.
— Nome completo.
Eu reviro os olhos. Começo a me questionar se eles não são agentes
disfarçados, mas menciono meu sobrenome mesmo assim, porque não
tenho nada a perder.
— Fisher.
— Celular — ele pede, erguendo os dedos na minha direção.
Percebendo que não me movo, o homem continua. — Gravações e fotos
não estão permitidas hoje.
Eu o encaro enquanto meu cérebro tenta entender o que está
acontecendo essa noite. Algum magnata esquisito decidiu investir nas
corridas? Alguma merda aconteceu no último encontro e eles decidiram
reforçar a segurança? Estão cansados de usar máscaras?
— Fisher, nós não temos a noite toda — o homem resmunga.
Tiro o celular do bolso da jaqueta e entrego na sua mão. Ele é um cara
tão grande que o aparelho parece pequeno entre os seus dedos. Tenho
certeza que conseguiria matar uma pessoa só com um soco.
O homem tira um pedaço de fita isolante do bolso e cobre todas as
câmeras do meu celular.
— Não tire o adesivo até estar longe daqui.
O outro homem move a cabeça em afirmativa e se afasta até um dos
extremos da estrada, tirando um dos barris que sustentam a cancela de
madeira. Ele faz um sinal de ok com a mão e libera minha passagem. Ainda
sem entender qual o motivo disso tudo, eu acelero a moto pela estrada.
Tem algo de diferente no ar quando chego na pista. Eu estaciono no
mesmo lugar de sempre e observo a movimentação. A casa abandonada que
serve como ponto de encontro e bar clandestino parece mais cheia e as
pessoas estão mais agitadas que o costume.
Estão usando alguma droga nova?
Movo a cabeça em negativa, descartando a ideia. Tem uma faixa mal
colocada em cima da porta principal do imóvel: bem-vindos ao clube dos
garotos sem rosto. Prêmio de hoje: 50 mil dólares, com o patrocínio do
nosso V.K!
As iniciais não me são estranhas, mas não sou conhecido por ter uma
boa memória. Além disso, um clube de corridas não é lugar onde você vai
pra fazer amizades, então não tenho amigos para perguntar o que está
acontecendo hoje. Solto o ar pela boca e tiro um cigarro do bolso,
procurando por Betty Boop macabra com os olhos. Não encontro nenhum
sinal dela — ou das garotas que usam uma máscara parecida —, então
desisto de buscar informação, por enquanto.
Felizmente, a resposta para todas as movimentações estranhas chega
até mim do mesmo jeito.
— Oliver!
Eu me viro na direção da voz e encontro cabelos descoloridos e um
par de olhos muito azuis. É como se meu cérebro tomasse um choque de
realidade e, em segundos, consigo entender o que V.K significa. Vincent
Kelly.
— Achei que você não fosse vir — ele comenta. — Depois de tudo
que aconteceu, pensei que pudesse estar evitando treta — diz, e então ri,
como se não acreditasse nas próprias palavras. — Mas coloquei seu nome
na lista por via das dúvidas.
— Os brutamontes lá na frente são coisa sua?
Vincent move a cabeça em afirmativa.
— Ninguém pode me ver aqui — explica, tirando o celular do bolso e
apontando a câmera tapada do próprio celular —, mas eu queria vir, então
dei um jeito.
— Podia ter usado uma máscara como todo mundo.
— E deixar esse rostinho lindo fora de vista? De jeito nenhum.
— Você continua tão egocêntrico quanto eu me lembro.
— Já faz um tempo, hm? — Vincent apoia um dos braços no meu
ombro. É uma posição estranha, porque ele é alguns centímetros mais baixo
que eu.
Eu concordo com a cabeça. Nós nos conhecemos em uma festa da
NHL em New York onde a boyband de Vincent era atração principal. Um
ano depois ele se rebelou contra sua agência, se mudou pra Londres, fez
mais de cinquenta tatuagens e seguiu carreira solo. É claro que nada disso
foi bem visto pelas suas fãs adolescentes, então ele ainda está tentando
encontrar um meio termo entre o ídolo rockeiro problemático e a imagem
de bom garoto que sua gestão costumava vender no passado.
— Não sou a pessoa mais sociável do mundo depois de tudo que
aconteceu — murmuro, porque sei que o fato de eu não ter mandado uma
mensagem dizendo que estava em Guildford vai se tornar pauta mais cedo
ou mais tarde.
— Para com isso — Vincent protesta. — Todo mundo sabe que torrou
seu último salário fazendo festa em Los Angeles, o que me faz pensar que
você só não queria falar comigo.
— Nada pessoal — respondo, o que é verdade. — Gosto de você,
Vincent.
— Imagina se não gostasse — ele zomba, mas acho que acredita em
mim pelo menos em alguma medida. Caso contrário, não estaria aqui, me
abraçando como se fossemos amigos de infância. — Vai correr hoje?
Movo a cabeça em afirmativa.
— Ótimo — Vincent abre um sorriso, dando um tapa no meu ombro.
— Vou apostar em você, campeão invicto.
Eu rio da forma como ele fala, mas meu sorriso logo se desfaz quando
meus olhos caem no outro extremo da estrada. Primeiro, acho que é uma
miragem. Eu pisco algumas vezes, como se isso pudesse fazer a imagem de
Gracie Salmon desaparecer. Ela não seria tão maluca, seria?
— Era só o que me faltava — murmuro, irritado.
Vincent arqueia uma das sobrancelhas claras, olhando na mesma
direção que eu.
— Conhece ela? — pergunta.
— Dá pra dizer que sim.
— Ela é minha vizinha — comenta. — Em Londres, você sabe. É um
daqueles prédios chiques que só celebridades moram, mas eu não sabia que
ela era do tipo que curte coisas ilegais…
— Ela não é — eu resmungo. — Já volto.
Vincent move a cabeça em afirmativa. Eu me afasto e caminho na
direção dela, que destoa completamente do espaço com suas unhas feitas e
roupas em tons pastéis. Vir aqui vestida desse jeito é como colocar um alvo
nas costas, mas é claro que ela não sabe disso.
— O que você está fazendo aqui? — eu pergunto, e meu tom não é
nada gentil.
Mesmo assim, Gracie dá um sorriso diante da minha pergunta.
— Queria falar com você.
— Eu moro na casa em frente à sua — respondo, levando meu cigarro
até a boca. Gracie acompanha o movimento num olhar claro de reprovação,
mas não diz nada. Considerando que todas as pessoas aqui tem um cigarro
ou um pod na mão, ela nem ousaria.
— Sei disso. — Ela parece desconfortável diante dos olhares
inquisitivos na sua direção, mas respira fundo. — Fui até lá, mas você não
estava. Tyler me disse onde te encontrar.
Levo os dedos até as têmporas e solto um longo suspiro, ignorando a
vontade de socar meu irmão. Tyler Fisher é a única pessoa no mundo
desligada o suficiente para sugerir que Gracie viesse até aqui. Uma
patricinha dessas.
— E o que é tão urgente que não podia esperar até amanhã?
— Sobre aquilo que falamos no lago…
Eu reviro os olhos. É óbvio que Gracie Salmon não sabe ouvir um
não como resposta.
— Se veio até aqui pra tentar me convencer a patinar com você,
perdeu seu tempo.
Um estrondo faz o corpo de Gracie estremecer. Eu me viro na direção
da pista e vejo quando um dos seguranças de Vincent soca um dos
corredores da noite, não pela primeira vez. Tem um celular caído no chão
próximo aos dois, então imagino que tenha alguma coisa a ver com a fita
isolante que não deveríamos tirar do telefone.
Gracie cruza os braços, visivelmente amedrontada.
— A gente pode conversar lá dentro? — pergunta, apontando para a
casa atrás de nós.
Eu movo a cabeça em afirmativa. Gracie dá um passo para frente,
mas eu apoio uma das mãos na sua cintura e puxo seu corpo para perto do
meu.
— O que está fazendo? — ela pergunta, soando em dúvida sobre me
afastar ou não.
— Ninguém vai mexer com você se pensarem que está comigo —
explico. — Mas seria bom se tentasse não tremer de medo cada vez que vê
uma briga.
Gracie solta uma risada nervosa, mas sei que ela está puta com o meu
comentário. Ela apoia uma das mãos nas minhas costas e nós seguimos na
direção do bar enquanto os rostos ao nosso redor parecem ainda mais
interessados em cada um dos nossos movimentos. Gracie deu sorte. Se
Vincent não estivesse aqui para barrar as fotos, não sei quanto tempo
demoraria para sua presença se tornar um escandâlo na mídia. Isso nunca
aconteceu com o Tyler, por exemplo, porque ele tem os contatos certos.
Gracie é uma forasteira.
A cozinha e a varanda da casa são os dois lugares mais usados pelos
funcionários — não tenho certeza se posso chamá-los assim — do bar. Todo
resto parece ter saído de um filme de terror, com direito a tábuas que
rangem, teias de aranha e portas que não se fecham direito.
Ainda sentindo alguns olhares queimando nas minhas costas, nós
entramos em um dos quartos. Tem um sofá no centro, mas suas almofadas
foram praticamente decompostas pelo tempo. Se estivesse de olhos
fechados, eu diria que alguém morreu em cima delas.
— Certo — Gracie encara o sofá com um pouco de nojo e se mantém
próxima da porta. Seu olhar pousa no jogo de dardos na parede, curiosa. —
Quanto você quer pra patinar comigo? Duzentas mil libras e nós não
falamos mais nisso?
Uma risada escapa da minha garganta.
— Esse é o seu plano? — Meneio a cabeça, desacreditado. — Você
não pode me comprar, desgracie.
Ela dá um suspiro, frustrada. A luz da lua adentra o quarto e ilumina
seu rosto, me deixando ver quando uma ruga de preocupação surge entre as
suas sobrancelhas. Ainda não acredito que ela realmente se emperiquetou
inteira para vir até aqui e fazer uma proposta absurda como essa.
Gracie caminha até o alvo desgastado na parede e pega os três dardos
que os acompanham. Imagino que, em algum momento, esse espaço foi
uma sala de jogos.
— Imaginei que fosse falar isso. — Ela atira um dos dardos,
acertando o alvo.
— No fundo você sabe que essa ideia é horrível.
— Te ter como dupla?
Movo a cabeça em afirmativa.
— Não pode ser pior do que não competir — ela protesta. — Pierre
conseguiu uma parceira nova e depois do escândalo, eu vou ser a única que
saiu perdendo.
— Um parceiro problemático é tudo que você menos precisa no
momento.
— Você não é problemático.
— Foi o que você disse duas noites atrás — acho graça da sua
incoerência. — Precisa se decidir, desgracie.
— Precisa parar de prestar atenção nas bobagens que eu falo — ela
diz, simplesmente. Uma pessoa normal pediria desculpas. — O que você
quer pra aceitar minha proposta?
— Nada — respondo, batucando meu cigarro contra os dedos. — Sei
que você tem dificuldade em ouvir a palavra não, mas tô falando sério. Não
vou patinar com você.
— Não acredito que vai fazer isso com a sua amiga de infância.
Eu rio. Ela deve estar realmente desesperada para chegar ao ponto de
dizer que somos amigos de infância.
— Nós nunca fomos amigos.
— Bom, você me dava presentes de aniversário todo ano, é o que
amigos fazem.
— Você sabe que não eram presentes.
Gracie atira mais um dardo. Com a escuridão, ela demora alguns
segundos para conseguir enxergar onde acertou.
— Eu posso enfiar um dardo no seu pescoço e te deixar sangrando até
a morte se não aceitar. — Ela aponta o dardo pra mim.
Não levo a sua ameaça a sério.
— Você devia ter medo de mim, não o contrário.
Gracie dá de ombros.
— Não tenho.
Dou um passo na direção dela e, instintivamente, Gracie se afasta,
suas costas tocando a parede do quarto. Eu acho graça.
— Não tem mesmo?
— Foi reflexo — ela insiste, atirando o último dardo. — Pelo amor de
Deus, Oliver, nós crescemos juntos. Eu te conheço melhor do que qualquer
pessoa. E é justamente por isso que você deveria patinar comigo.
Consideração.
— O seu narcisismo te deixa cega. — Eu solto a fumaça dos lábios na
sua direção e sei que ela está muito perto de buscar um dardo para,
realmente, enfiar no meu pescoço. — Sinto te informar isso, Gracie, mas eu
não poderia me importar menos com você ou com a sua carreira. Se não
tem um parceiro, problema seu.
Gracie me encara sem dizer nada. O seu queixo está apontado para
cima, na sua pose arrogante de sempre. Por alguns instantes, os únicos sons
que ouvimos são os que vêm do lado de fora. A música, as pessoas pedindo
bebidas, o som de um casal transando em algum canto. Gracie analisa meu
rosto com muita atenção, como se duvidasse das minhas palavras.
— Tudo bem — ela diz, derrotada, então sua voz embarga. — Não
vou insistir mais.
Não respondo, porque seus olhos brilhando me deixam despreparado.
Ela funga enquanto uma lágrima escorre pelas suas bochechas e eu não
acredito que Gracie Salmon está chorando na minha frente.
— Gracie…
Ela desvia os olhos dos meus, colocando as mãos na frente do rosto.
Eu observo seu peito subir e descer de forma cada vez mais rápida enquanto
as fungadas aumentam, num choro cada vez mais audível.
Meu Deus, eu odeio ver pessoas chorando.
— Foi só uma forma de falar, não precisa ficar tão magoada.
Então ela chora mais alto, como se minha tentativa de melhorar as
coisas só servisse para deixá-la mais possessa.
— Gracie — eu murmuro mais uma vez, apagando meu cigarro para
apoiar as mãos no seu rosto. — Não chora, por favor.
Gracie tira as mãos do rosto. As lágrimas brilham no canto dos seus
olhos e ela me encara mais uma vez, antes de abrir o sorriso mais bonito e
mais diabólico que eu já vi na vida. Ela dá uma risada tão alta que quase
tenho a impressão que a música do lado de fora foi abafada pelo som que
sai do seu corpo.
Eu respiro fundo. Ela ganhou o apelido de desgraçada por um
motivo.
— Viu? — ela diz, limpando suas lágrimas de crocodilo com as
costas da mão. — Você se importa. Pelo menos um pouquinho, você se
importa.
— Vai se foder. — Eu ergo o dedo médio na direção dela. — Tá aí
um ótimo motivo pra não patinarmos juntos. Eu não tenho mais réu
primário pra gastar.
Me viro na direção da porta, mas Gracie segura meu braço antes que
eu consiga sair do quarto.
— Uma aposta, Oliver.
— O quê?
— Nas corridas — diz. — Se você perder hoje, patina comigo.
— Fácil desse jeito, desgracie? Eu nunca perco.
— Se for o caso, pode me pedir qualquer coisa.
— Qualquer coisa?
Gracie move a cabeça em afirmativa.
— Se eu vencer, você me deixa em paz.
Ela concorda.
— Palavra de escoteira.
— Você foi expulsa do clube das escoteiras por ser competitiva
demais.
— Não importa, a palavra ainda vale. — Ela solta meu braço e ergue
uma das mãos na minha direção. — Negócio fechado?
— Você é um pesadelo, sabia? — Aperto sua mão. — Negócio
fechado.
CAPÍT ULO 7 - GRACIE SALMON
Um novo império?
A última semana viu uma enxurrada de notícias sobre o agora ex-
casal mais querido da patinação artística. Após a live realizada na última
sexta-feira, Gracie Salmon (20) veio a público dizer que o relacionamento
dos dois tinha chegado ao fim depois que ela descobriu a traição de Pierre
Durant (21) com Kate Willians (20), antiga amiga do casal.
Não sabemos se foi uma resposta direta à live da ex-parceira com
quem venceu tantas competições, mas o Imperador do Gelo fez uma live na
noite de ontem onde aparecia ao lado de Kate e anunciavam não só que
estavam namorando, mas que também vão estar juntos nas Olimpíadas de
Paris. Essa bomba virou todo mundo da patinação de cabeça para baixo.
Mesmo sem o apoio de Salmon, Pierre está dentro da competição. Muito
tem sido debatido sobre o quão acertada foi essa escolha. Sabemos que
Pierre e Kate se conhecem há anos, mas será que isso basta para criar a
conexão necessária entre os dois patinadores? Essa é uma resposta que só
teremos quando os jogos começarem.
Do outro lado, não sabemos nada sobre a Imperatriz. Após sua live
na semana passada, Gracie tem se mantido distante das redes sociais e não
fez nenhum outro pronunciamento. A equipe do EstherNews entrou em
contato com a agente da atleta perguntando se ela tinha conseguido um
novo parceiro, mas não conseguimos nenhuma resposta. A única
informação que obtivemos é que Gracie estava de volta à Guildford, sua
cidade natal, o que nos parece uma resposta por si só. Não é o tipo de
cidade que tem centros de treinamento e muito menos o local para
encontrar um patinador a nível olímpico.
Esperamos que as coisas se resolvam para ambos e que tenhamos
duas duplas trazendo medalhas para a Grã-Bretanha esse ano.
Sexta-feira, 28 de junho de 2024
CAPÍT ULO 9 - GRACIE SALMON
A pior coisa que alguém pode escolher para a própria vida é seguir a
profissão dos pais. Principalmente se eles forem donos de um quadro
patológico de comportamento controlador, onde não sobra espaço para sua
opinião, vontade ou sugestão. Você se torna apenas uma extensão deles, um
prolongamento que vive em função de alcançar tudo que eles não
conseguiram. Ou que conseguiram, mas agora querem que você faça
melhor.
— Ela já está quatro minutos atrasada.
Minha mãe olha o relógio e começa a mover um dos pés rapidamente,
um pequeno barulho soando no escritório devido ao contato do sapato de
salto com o piso de porcelanato. Eu não sei como ela descobriu que eu
tenho uma reunião com a Clarice hoje. Foi uma surpresa para mim quando
ela se despediu do Oliver ontem à noite comentando sobre isso, o que me
leva a crer que ela andou conversando com Clarice sem eu saber. Nora
Salmon já extrapolou todos os limites possíveis da nossa relação mãe-filha.
Eu acredito que uma terapia familiar faria milagres para os Salmon, mas é
provável que eu seja expulsa de casa se sugerir isso.
— É normal. Ela sempre atrasa cinco minutos.
Abro um sorriso. Essa é uma piada interna entre nós duas. Na
primeira reunião virtual que fizemos, eu atrasei alguns minutos, a partir de
então, ela sempre chega um pouco depois.
Se eu me atrasar um pouco, você sempre estará no horário como uma
atleta de alto nível deve ser. Faço isso por você, Gracie, de nada.
— E é esse tipo de comportamento que você espera de um
funcionário seu? — A voz da minha mãe é fria como os rinques onde passei
minha infância e adolescência. Ainda bem que já estou acostumada ao frio,
por isso, apenas ignoro.
Começo a me arrepender de ter voltado para Guildford.
A tela do iMac acende e a imagem de Clarice aparece piscando
enquanto a música da chamada ecoa pela casa vazia. Não sei se meu pai
está, mas não é como se a presença dele fizesse alguma diferença, no fim
das contas.
— Bom dia, Gracie, Mrs. Salmon.
Não há surpresa na voz dela ao ver minha mãe ao meu lado, o que
reforça a minha hipótese. Isso é algo que preciso resolver depois.
— Bom dia, Clarice, eu tenho novida-
— Ms. Green, como ficou a situação do treinador da Gracie?
Lanço um olhar furioso para a minha mãe. Ela não apenas me
interrompeu, como ainda está tomando o controle da reunião.
Ajusto a minha postura, enquanto minha agente olha para mim
esperando uma orientação do que fazer. Ela conhece muito bem a sra.
Salmon, não apenas pela sua carreira na patinação, mas também pelos meus
desabafos. É irônico, porque não sou uma pessoa de desabafar. Eu fico
guardando pra mim tudo de horrível que acontece. São como gotas d'água
caindo dentro de uma garrafa. Elas caem, caem, caem, caem, até que um dia
a garrafa enche e transborda em cima da pessoa mais próxima. Na maioria
das vezes, essa pessoa é a Clarice, e ela sabe enxugar minha água. Às vezes
era Pierre e, diferente dela, ele não sabia. Ele sempre estava com aqueles
olhos muito azuis, me observando do alto como se eu fosse fraca por
explodir. Na verdade, ele me olhava como um professor olha uma criança
que machucou o joelho vinte minutos atrás e ainda está chorando. Ele fazia
eu me sentir dramática e incômoda. Era como se estivesse vomitando em
cima da minha água entornada e piorando a situação.
— Sim, Clarice — começo, tentando manter a voz firme. — Como
ficou a situação com Mr. Bailey?
— Não tenho boas notícias quanto a isso.
Sinto o peito afundar assim que ela começa a responder. Apesar de
não ter ouvido falar dele na última semana, eu ainda tinha esperanças de
que meu antigo treinador continuaria comigo. Não dá pra esperar muita
coisa de homens. Eles sempre se protegem.
— Eu consegui conversar com ele a muito custo. Parecia que estava
me evitando, então… ele disse que vai treinar o Pierre e a Kate, não tem
agenda para treinar você também.
Minha mãe balança a cabeça de um lado para o outro, sei que está
pronta para destilar o seu veneno, mas respondo antes que ela tenha tempo
de compartilhar sua maravilhosa opinião.
— É claro que vai treinar o queridinho dele. Nunca fez questão de
esconder o quanto preferia o Pierre. Pois que fiquem juntos, até melhor,
quando um afundar, vai puxar o outro.
Minha mãe me lança um olhar de reprimenda.
— Ficar falando mal do seu ex-parceiro não vai te levar a lugar
nenhum, Gracie. Você tem vários problemas enormes na sua frente e
pouquíssimo tempo para resolvê-los. Por que não direciona sua energia para
eles?
Inspiro tão fundo que acho que a disponibilidade de oxigênio no
escritório fica comprometida por alguns segundos.
— Problemas? Nossa, ainda bem que você falou. Eu não tinha
percebido.
— Pois tem. — Ela finge de idiota, ignorando a minha ironia. Olha
para o iMac antes de continuar. — Se o ex-treinador não está disponível, eu
imagino que você tenha olhado outras opções.
Fecho os olhos buscando paciência. Lidar com o Oliver parece uma
tarde no parque se comparado à minha relação com minha mãe.
— Sim. Mesmo antes de conseguir contactar Mr. Bailey eu já estava
acionando minha rede de contatos em busca de possibilidades. Eu tinha três
nomes em mente, Gracie — ela direciona o olhar para mim. — Os três
recusaram. Tentei outras opções, conversei com pelo menos cinco agentes
colegas meus em busca de opções, mas sempre a mesma resposta negativa.
Eu sabia que não seria fácil encontrar alguém tão em cima da hora.
Temos um mês para que os jogos comecem, precisaríamos encontrar um
treinador completamente descolado da realidade para aceitar uma
maluquice dessas. Treinadores são extremamente egocêntricos. Querem
treinar os melhores, não alguém que, com sorte, vai ganhar uma medalha de
participação.
— E qual resposta foi essa? — A voz da minha mãe começa a me
irritar mais a cada segundo.
— Hmm, bem, alguns disseram que estavam com a agenda cheia, já
outros não queriam associar o nome deles ao seu, Gracie.
— E por quê? — Minha mãe insiste, e eu não consigo mais segurar.
— Será que dá para parar de se meter?
Sinto o clima ficar tenso no escritório. Clarice está sem graça por
presenciar isso e sinto que ela está a muito pouco de encerrar a chamada,
alegando que a conexão caiu.
Para minha surpresa, o tom de voz da minha mãe é calmo quando ela
me responde.
— A verdade pode ser dolorosa, Gracie, mas quanto mais informação
você tiver, mais preparada vai estar.
A ausência de raiva na voz dela me desarma. Sinto uma nota de pena,
o que faz eu me sentir ainda pior. Não quero que a multi-medalhista Nora
Salmon sinta pena de mim. Prefiro lidar com a raiva dela. Pelo menos com
isso já estou acostumada.
— Nem todos se justificaram. Já outros… desculpa, Gracie, mas
outros disseram que “se você insistir em ir para os jogos, vai passar
vergonha” — ela faz o gesto de aspas com os dedos. — Essa reação vinda
dos coaches é compreensível. A imagem do Pierre ficou queimada, mas ele
tem uma parceira, então… Bom, se é pra se indispor com alguém, vão
preferir se indispor com você. E…
Clarice dá uma pausa.
Eu a encaro, pedindo que continue.
— Ele é um cara branco, né? — suspira. — Daqui umas três semanas
ninguém vai lembrar se te traiu.
Sinto meu corpo afundando ainda mais na cadeira. Eu dediquei a
minha vida ao trabalho, sacrifiquei minha infância, minha adolescência,
sacrifiquei coisas que quem é de fora não tem a menor ideia. A famosa
preguiça do domingo à tarde? Nunca a conheci. Eu estava preocupada
demais treinando ou, nas raras exceções, usando o tempo extra para
descansar os músculos do meu corpo em uma banheira de gelo.
— Foi mais de uma pessoa que disse isso? — Minha mãe insiste, mas
não tenho mais forças para revidar.
— Sim. Umas quatro ou cinco, não me lembro agora.
— E disseram essas mesmas palavras?
Minhas sobrancelhas se juntam na testa quando olho para a minha
mãe. Seu cabelo ruivo está preso em um coque alto e ela tem os olhos
verdes fixos na tela do computador. Acho que o mundo poderia acabar ao
nosso redor e ela não perderia a sua concentração.
— No geral, sim. Não exatamente as mesmas palavras, mas a ideia
era a mesma. E a parte de passar vergonha foi muito parecida.
Nora Salmon abre um sorriso enquanto balança a cabeça de um lado
para o outro. Aparentemente, ela tinha conseguido entender algo no caos
que minha carreira se tornou, algo que estava passando despercebido por
mim. A julgar pelo rosto culpado de Clarice, acho que sou a única aqui que
está completamente por fora da situação.
— Será que alguém pode me dizer o que está acontecendo?
Minha mãe gira o corpo na cadeira para me olhar.
— O discurso deles está alinhado demais para ser apenas uma
coincidência. Uma coisa que você vai aprender mais cedo ou mais tarde, é
que nessa carreira não podemos comprar inimigos, pelo menos, não
inimigos poderosos. Nós, mulheres, sempre somos colocadas de lado ou em
segundo plano quando nossa narrativa difere de algum homem. Sempre. Por
isso eu fiquei preocupada quando você fez aquela live. Ali você comprou
alguns inimigos.
— Tá dizendo que é culpa minha?
Sinto o sangue ferver e controlo a vontade de sair do escritório. Me
coloco de pé, inquieta.
— Controle-se, Gracie. Você não é mais uma adolescente rebelde. Se
quiser ir longe nessa carreira, precisa colocar a cabeça no lugar. — Ela não
desvia o olhar do meu rosto enquanto fala. — E te demos uma educação
boa o suficiente para você entender que não foi isso que eu disse.
Olho para Clarice em busca de um apoio. Minha agente levanta as
duas mãos e faz um gesto como se empurrasse uma barreira invisível, me
pedindo calma.
Consigo me sentar.
— O que eu quis dizer é que a narrativa está muito alinhada, como se
alguém tivesse contactado esses agentes e treinadores e passado essa
mensagem. Você consegue pensar em alguém assim?
Eu reviro os olhos, porque é óbvio. Pierre.
— Agora, não temos o que fazer. Estamos falando de uma área
conservadora e que não gosta de escândalos. Você agiu no impulso, está
colhendo o que plantou. Espero que no futuro procure ouvir mais o que
tenho a dizer.
E ali está Norman Salmon. Nunca perde a oportunidade de fazer algo
ser sobre ela.
— Você também acha que foi isso? — Pergunto para Clarice.
— É provável, sim.
— Eu acho que vocês não vão conseguir achar um treinador da forma
convencional — minha mãe retoma —, mas talvez eu consiga dar um
jeitinho. Vou pedir ajuda a uma grande amiga minha. Sei que ela está
entediada com a vida de aposentada e não abre mão um desafio. — Minha
mãe abre um sorriso ao continuar. — E não é como se ela se importasse
muito com a opinião alheia, de toda forma.
Clarice se empolga ao ouvir a notícia.
— Espera, estamos falando da Mrs. Mulligan?
O sorriso que se espalha no rosto de Nora é resposta suficiente.
Imagens de uma mulher baixa, com um cabelo loiro quase ruivo e bastante
grisalho volta à minha mente. Lembro da voz alta dela e da risada que
preenche os lugares. Durante minha infância, foram vários os momentos
que encontrei a antiga treinadora da minha mãe.
Primeiro, um colega de infância como parceiro, agora, a antiga
treinadora da minha mãe. Será que isso vai mesmo funcionar?
— Vou conversar com ela ainda hoje. Por enquanto, vocês precisam
focar no maior problema dessa bagunça: a Gracie precisa de um parceiro.
Minha atenção volta para a discussão atual e respiro fundo antes de
soltar a bomba. Me sinto um pouco culpada, pois sei que minha mãe vai
surtar e ela meio que tem sido útil, apesar do jeito controlador dela.
— Eu arrumei um parceiro. — Olho para minha mãe e decido
preparar o terreno. — Não surta.
Nora espera, seus olhos diminuindo a cada segundo. Se eu der tempo
suficiente, sei que ela vai chegar à resposta sozinha, por isso, digo rápido.
— Oliver Fisher.
Se é para puxar o Band-Aid, melhor fazer de uma vez.
O silêncio no escritório é uma surpresa pra mim. Eu esperava
xingamento, talvez até gritos. Nesse momento, Benjamin entra correndo
pela porta aberta e começa a arranhar a minha perna pedindo colo. Me
abaixo para pegar o meu filho e o coloco no meu colo. Meu fiel guardião.
Duvido que minha mãe terá coragem de me matar agora que estou
segurando o Ben.
A falta de reações me incomoda, então falo de novo:
— Eu e o Oliver vamos patinar juntos.
Agora, depois de dizer em voz alta, tudo é mais real, palpável. Eu
realmente estive naquela corrida, eu chorei na frente dele — de mentira —,
eu vi ele perder depois de todos dizerem que ele nunca perde. Sinto uma
pontadinha de medo. Não é Oliver quem me assusta, mas a ideia de passar
mais de dez horas diárias junto com ele.
— Não conheço nenhum patinador com esse nome — diz Clarice.
— É porque ele não é um patinador — respondo. — É um jogador de
hóquei nos Estados Unidos.
Poucas vezes na minha vida, vi minha agente surpresa. E nesse
momento ela está, literalmente, de boca aberta.
— Um ex-jogador — minha mãe completa. — Ele foi expulso por
comportamento violento.
Sua voz está calma, um tanto fria, mas não há uma provocação
implícita. Eu não consigo acreditar no que estou ouvindo. Ou melhor, no
que não estou ouvindo. Onde estão os xingamentos? Tenho certeza que está
ali, em algum lugar da cabeça dela, a vontade de dizer que Oliver Fisher é
um marginal.
— Bom, se isso está decidido…
Ela se levanta, dá dois passos, mas para quando eu a chamo.
— Não vai surtar comigo e me chamar de irresponsável?
Ela respira fundo e gira o corpo para me olhar.
— Eu odiei a escolha. Acho que não vai dar certo e que você vai se
arrepender depois, mas não é como se tivéssemos outra opção. No fim das
contas, é a sua carreira, você tem todo direito de arruiná-la.
Ela sai do escritório e não sei se fico aliviada ou revoltada com o que
ela diz.
CAPÍT ULO 10 - OLIVER FISHER
∞∞∞
— Nem fodendo.
Eu vejo quando os dedos de Gracie apertam a xícara de porcelana em
suas mãos com mais força. Ela parece dividida entre me xingar pelo
palavrão que usei na frente da técnica ou fingir que não ouviu o meu
comentário rude. Ela leva o líquido fumegante até os lábios para ganhar
tempo e finge que não queimou a língua, mas isso seria impossível.
— Mrs. Mulligan — Gracie começa, educadamente —, eu sou muito
grata por ter aceitado treinar a gente tão em cima da hora, mas…
— Se vou ser a treinadora de vocês, precisam me ouvir — Ciara
Mulligan diz, sem rodeios. A frase soaria grosseira na voz de qualquer outra
pessoa, mas ela tem um jeito parecido com a Rita Moreno em One Day At a
Time. Ela pode dizer a coisa mais mal educada do mundo e ainda assim
parecer simpática enquanto faz isso. — Confiança é o segredo de todas as
duplas de patinadores de sucesso. Como vão desenvolver confiança um no
outro se não passarem tempo juntos?
— Somos vizinhos em Guildford — Gracie tenta. — Vamos nos ver
todos os dias nos treinos, eu não acho que exista a necessidade de…
— A minha condição é essa — a treinadora corta. — Eu treino vocês,
mas precisam morar juntos até os jogos.
Gracie solta um muxoxo. Benjamin está deitado no pé da nossa mesa,
esperando alguém deixar cair um pedaço de biscoito, sem fazer ideia que,
aqui em cima, o mundo acabou de ruir mais um pouco. Mrs. Mulligan
escolheu uma das melhores casas de chá de Londres para nossa reunião e,
embora eu tenha ficado receoso com a possibilidade de jornalistas nos
verem, a mulher parece tranquila.
Tranquila demais para alguém que acabou de sugerir que eu vá morar
com Gracie Salmon.
— Você nem viu a gente patinando — é minha vez de tentar. — Nós
nos conhecemos desde a infância, sabemos tudo um sobre outro.
A treinadora abre um sorriso enquanto passa os olhos por mim. Ela
encara minha jaqueta de couro surrada, meu cabelo despenteado e depois se
vira para Gracie, com seu terninho cor de rosa e fios lisos penteados à
exaustão. Ela não diz, mas nem precisa. É óbvio que não acredita em uma
palavra do que digo.
— Bom — ela afasta sua xícara da mesa, levantando-se. Está usando
roupas tão coloridas que pode se considerar parte da poluição visual da
cidade. — É uma pena que não entramos em um consenso. Minha aula de
zumba começa em vinte minutos, então vou ter que pedir licença…
Gracie passa as mãos pelo cabelo liso e me encara como se estivesse
vendo as Torres Gêmeas desabando bem na sua frente.
— A gente pode treinar por conta própria — sugiro, enquanto meus
dentes brincam com o piercing na minha língua numa tentativa de passar
tranquilidade.
— Precisamos dela — Gracie responde, firme, seus olhos cor de
chocolate acompanhando Ciara até o caixa.
Solto um longo suspiro. Posso ser inconsequente, mas não sou idiota.
Um bom atleta não é nada sem um profissional mais experiente como guia.
No hóquei, temos o técnico da equipe e, na patinação, temos os treinadores.
— Eu também não estou confortável com a ideia — ela admite, num
sussurro —, mas é óbvio que não vamos achar outro treinador,
principalmente com o seu histórico. Se a gente prometer respeitar um ao
outro…
Eu franzo o cenho, porque agora ela parece uma professora do ensino
infantil tentando convencer um dos alunos a não morder a bochecha do seu
coleguinha até sangrar.
— Sabe que vamos passar praticamente 24 horas por dia juntos, não
sabe?
É a vez de Gracie suspirar.
— É um sacrifício que estou disposta a fazer.
— Vamos ter que criar mais regras…
— Diz que sim logo! — Gracie reclama, impaciente. — Você perdeu
a aposta, eu nem deveria estar te perguntando.
— E aí você seria presa por cárcere privado.
— Tanto faz. Vamos morar juntos, certo?
— E adianta falar não pra você?
— Isso mesmo, não adianta. — Gracie se abaixa para pegar Ben,
então, sem aviso, coloca o cachorro no meu colo. Segundos depois, seus
saltinhos estão martelando o piso da casa de chás enquanto ela grita o nome
da treinadora, da forma mais educada que consegue, dentro das
possibilidades da situação.
Nos meus braços, Ben rosna.
— Você me odeia mais do que a sua dona.
Como se quisesse confirmar que é verdade, Ben rosna de novo. Eu
acho que ele não vai me morder, então continuo segurando-o, mantendo
meu rosto numa distância segura por via das dúvidas. Ele parece um
brinquedo no meu colo, com as suas roupinhas cor de rosa. De onde estou,
consigo ver que Gracie alcançou a mulher e a conversa entre as duas é
rápida — ela realmente tem uma aula de zumba, afinal. Minutos depois,
minha parceira e, Deus, agora colega de apartamento, está de volta na mesa.
— Então — ela respira fundo, como se só agora tivesse se dado conta
do peso da sua decisão. — Vamos morar juntos.
Eu movo a cabeça em afirmativa enquanto devolvo o cachorro pra
ela.
— Consegui uma agente pra você, aliás — diz, um pouco esbaforida,
como se quisesse evitar ao máximo o assunto colegas de apartamento. —
Quer dizer, eu ainda não conversei com ela, mas… bom, ela trabalhava na
All Stars, onde a minha agente trabalha, então deve ter alguma
competência.
Gracie me entrega um cartão de visitas daqueles feitos com design
minimalista. É preto e branco, com um nome em alto relevo no centro,
acompanhado por um e-mail: Trinity Owens.[4]
Gracie não me dá tempo de responder ou agradecer o seu gesto.
— Marca uma conversa com ela — diz, simples, enquanto se levanta
da mesa. — Eu vou arrumar o meu… o nosso apartamento.
Não consigo evitar uma risada nervosa da forma como ela fala nosso.
Eu assinto e Gracie se afasta da mesa sem se despedir. A minha nova
dor de cabeça diária está quase saindo da loja quando eu a chamo de novo,
e ela se vê obrigada a se virar na minha direção.
— Já se arrependeu da aposta, desgracie?
— Eu não vou me arrepender — ela diz, revirando os olhos e
ajeitando o cachorro no colo. — Nem morta, Fisher.
CAPÍT ULO 11 - GRACIE SALMON
Assim que saio da casa de chá, me permito xingar em voz alta. Sinto
o coração do meu pobre cachorro acelerar com o susto. As próximas
semanas serão um inferno e morar com Oliver só vai piorar tudo.
Obviamente, não podia deixar ele ver que estou tão incomodada com a
ideia, porque minha situação já está difícil o bastante sem que ele surte e
desista de ser meu parceiro.
Calma, as coisas só parecem ruins, nada é tão terrível quanto a gente
imagina.
Me lembro de uma das frases que soam no meu app de meditação
guiada e tento internalizá-la da melhor maneira possível enquanto espero o
elevador no hall do meu prédio. Escuto passos às minhas costas, mas não
me viro para ver quem se aproxima. Apesar de ser um prédio
majoritariamente residencial, ainda há um movimento intenso de pessoas
indo e saindo dos 20 andares. Estou distraída com os meus problemas,
quando uma voz sussurra no meu ouvido.
— Olha só, se não é a namorada do Oliver.
Recuo um passo, me afastando daquela voz estranhamente familiar e,
quando olho para o lado, percebo que já vi aquele par de olhos azuis antes.
— Eu já te disse que não sou namorada do Oliver. — Me lembro da
nossa última conversa na corrida e decido provocá-lo. — E qual foi a
sensação de tê-lo visto ele perder? Se não estou enganada, você disse que
odiava.
Ele levanta os ombros no momento que as portas do elevador se
abrem. Em um gesto de cavalheirismo que eu jamais esperava vindo dele, o
homem das mil tatuagens estica o braço e segura a porta para que eu entre
primeiro.
— Não foi nada demais. Uns trocados.
Assim que entramos no elevador e as portas se fecham, um silêncio
constrangedor toma conta do lugar. Eu não tenho nenhum assunto com ele
e, para ser sincera, eu nem sei qual é o seu nome. Alguma coisa Kelly? Os
números no mostrador vão mudando lentamente e sei que ainda vai demorar
um pouco para chegar no 20, então arrisco algo apenas para quebrar o
silêncio.
— Tenho certeza que a maior parte da população discordaria de você.
Ele abre um sorriso lateral. Seus olhos se detém no meu rosto,
examinando cada pedacinho dele e levando um tempo desnecessário nos
meus lábios, ignorando totalmente o assunto do qual estamos falando.
— Com certeza — confirma — Mas sou diferente de todos eles.
Desvio o olhar. Se fosse em qualquer outro momento da minha vida,
eu poderia entrar nessa brincadeira, mas esse flerte veio na pior hora
possível. Uma carreira se equilibrando precariamente perto de um
precipício, o término de um namoro de anos, semanas de treinamento
intenso pela frente e ainda conviver o tempo todo com Oliver não me deixa
o menor espaço para ter um relacionamento casual agora. E não quero nem
pensar no estardalhaço midiático se algo vazasse.
E se tem algo que eu aprendi vivendo sempre nos holofotes, é que os
segredos sempre vazam.
Permaneço em silêncio pelo resto da subida. Respeitando o meu
espaço, meu vizinho também não diz mais nada e esperamos enquanto os
números aumentam. Quando chega no 15, o elevador para.
— Nos vemos por aí, vizinha solteira.
Reviro os olhos quando as portas voltam a fechar. Mais cinco andares
depois, estou em casa.
Assim que entro no meu apartamento, deixo Ben no chão e uma
chave vira na minha cabeça. A Gracie obcecada toma conta do meu corpo e
começo a pensar na melhor maneira de transformar as próximas semanas
em um período onde ambos consigamos sobreviver. Para isso, precisamos
de limites muito bem definidos.
E eu já sei como fazer isso.
Sigo para o escritório e pego uma fita adesiva rosa. Felizmente, tenho
vários rolos dela, já que vou precisar de muita. Volto para a porta de entrada
da cobertura e olho para o lugar. Graças a deus a Gracie do passado foi uma
patricinha mimada quando escolheu esse apartamento. Ele é enorme e
mesmo dividindo ele pela metade, ainda há espaço suficiente para viver
confortavelmente.
Me abaixo, colocando a fita na metade do espaço da porta, dividindo-
a em duas partes iguais. Estico a fita pelo chão, passando pela sala de estar,
pela varanda e pela área da piscina. Até aqui, consegui dividir o ambiente
em metades parecidas. Na sala, por exemplo, ficou um sofá de cada lado.
Porém, quando chego na cozinha, encontro um problema. Eu não tenho dois
de cada eletrodoméstico. Penso por um segundo que eu poderia comprar
novos equipamentos, mas isso daria trabalho. Por fim, respiro fundo,
aceitando que a cozinha vai ser um lugar de convivência comum. Se o
assassinato acontecer, já temos o local do crime.
Continuo demarcando o apartamento por quase uma hora até
terminar. Felizmente as duas suítes principais ficam em lados opostos no
corredor dos quartos, assim não foi difícil separar. Além da cozinha, o único
outro ambiente que vai ser compartilhado é a academia. Na verdade, nem
sei se o Oliver vai querer usá-la. O meu treinamento sempre foi focado em
resistência, não em ganho de massa e por isso não tenho todos os
equipamentos que ele precisa. Se ele preferir treinar em outro canto,
melhor. Menos um local de convivência.
Ben observa a minha fita sem entender o que estou fazendo. É óbvio
que ele pode passar pelos dois lados, mas, como ele não gosta do Oliver,
acho que isso não vai ser um grande problema.
Me jogo no sofá do meu lado do território e pego o meu celular.
Tenho tentado evitar entrar nas redes sociais desde que a bomba estourou,
mas a curiosidade acaba sendo mais forte que eu. Assim que abro o
Instagram, me vem o arrependimento ao ver uma foto do novo casal
queridinho da patinação. E pensar que até poucas semanas atrás eu fazia
parte disso. Olho o título do post “Um novo império?” e parece ser um
recorte de uma notícia maior. Passo os olhos pelo carrossel misturando
texto e algumas fotos de Pierre e Kate. A postagem diz estar preocupada
por não saber nada da minha vida, mas eu sei que a única preocupação que
eles têm é em conseguir um furo de reportagem. Nas últimas semanas, meu
celular não saiu do silencioso e está programado para recusar as ligações
automaticamente.
Mesmo sabendo que não devo fazer isso, clico no ícone dos
comentários para ver o que as pessoas estão dizendo.
Decido responder logo para poder esquecer que celular existe pelo
resto do dia.
GRACIE: tudo certo. Oliver vai morar no meu apartamento por
enquanto. Se eu sumir, você já sabe quem foi o assassino.
GRACIE: mas caso ele desapareça, não sabemos de nada.
OLIVER: espero que você não esteja planejando voltar com seu ex
OLIVER: se estiver, as coisas acabaram de ficar um pouco
complicadas pro seu lado
CAPÍT ULO 13 - GRACIE SALMON
Às vezes bastam dois segundos para você perceber que tomou uma
péssima ideia e que sua vida fugiu completamente do controle.
Dois segundos.
Esse foi o tempo que levei para ver o Oliver entrando no rinque de
patinação.
A situação entre nós, que nunca foi exatamente tranquila, está em um
ponto delicado depois da última noite quando descobri que o babaca disse
para Pierre que tinha transado comigo várias vezes, como se eu fosse uma
qualquer que tem zero inteligência emocional e que correu para o amigo —
inimigo? — de infância assim que levou um pé na bunda.
Eu não vou negar, adoraria ter visto a cara de espanto do meu ex.
Mesmo assim, eu não podia deixar o Oliver sair impune da sua gracinha.
Foi por isso que o proibi de ir para o meu apartamento ontem. Não sei onde
ele passou a noite, mas se está aqui agora, significa que está vivo.
Por enquanto.
— Onde você pensa que vai, vestido desse jeito?
Ele levanta uma sobrancelha e olha para o próprio corpo sem
entender.
— Até onde eu me lembro, temos um treino agora. Ou ficou tão
ofendida com a minha ajuda que desistiu da nossa parceria?
É muita ousadia desse homem falar que me ajudou.
— Ok, em primeiro lugar, você não me ajudou em nada. Segundo, eu
já disse que não vou desistir, precisa superar que perdeu a nossa aposta. E
terceiro, você não vai treinar desse jeito.
Ele volta a olhar para a própria roupa sem notar nada de estranho.
Solto um suspiro.
Acho que vai ser mais fácil eu mostrar do que explicar.
— Essa roupa é inadequada. Olha para mim. — Abro os braços
mostrando o conjunto rosa e simples colado ao corpo, mas de forma
confortável. Dou um giro ao redor dele puxando a imensa e larga camisa
dos New York Owls. — Isso aqui só vai atrapalhar.
Faço um gesto para tentar abraçá-lo, mas não consigo completar o
movimento, pois, como pensei, a camisa que caberia dois Olivers dentro
prende a minha mão.
— Viu? Essa camisa aí pode servir para hóquei, mas é inútil para
patinação.
Oliver acena e, por incrível que pareça, tem o rosto sério ao entender
o que quero dizer. Isso me dá uma esperança de que talvez ele consiga levar
o treinamento com a atenção necessária.
Ele me encara, então abre um sorriso malicioso.
— Isso não é apenas uma desculpa esfarrapada sua pra me fazer
treinar sem camisa?
Ok, esquece. Oliver Fisher é um caso perdido.
— Já te disseram que você se acha muito? — Aponto para o local de
onde ele veio. — Vai na secretaria, vê se tem alguma camisa por lá que
você pode pegar emprestado por hoje. Assim que terminarmos, a gente vai
comprar roupas decentes para você.
— Tudo bem, vossa majestade.
Reviro os olhos quando ele desliza na direção da entrada do rinque.
Começamos com o pé esquerdo e isso me deixar nervosa. Tem tanta coisa
em jogo, minha carreira, reputação, o nome Salmon e, agora, a carreira de
Mrs. Mulligan. E tudo isso depende da pessoa que veio treinar com uma
blusa que mais parece uma camisola.
Impossível não questionar todas as escolhas que fiz na minha vida
depois disso.
Bom, pelo menos, minha treinadora não viu isso. Foi uma vergonha
que passei sozinha.
Não demora muito tempo para Oliver voltar com uma camisa menor.
Ainda não é uma roupa adequada para a prática, já que ela tem mangas
curtas e está um pouco apertada — o que pode limitar seus movimentos —,
mas é um imenso avanço se comparado ao uniforme de antes.
— Satisfeita, vossa majestade?
É a terceira vez que ele me chama assim e não estou gostando nada
desse apelido. Como se desgracie não fosse ruim o suficiente.
— Vamos fazer um aquecimento antes da Ciara chegar.
Disparo pela pista para ganhar velocidade e Oliver logo me alcança.
— Eu vou fazer uma série de exercícios e quero que você os repita
comigo. Coisas simples, só pra manter o corpo aquecido.
Oliver concorda e viro o corpo para frente enquanto começo um
swizzle[6] com uma elevação de braços intercalados. Em seguida repito os
exercícios, mas enquanto faço um backward swizzle[7]. Agora posso
observar melhor Oliver e fico feliz que ele esteja fazendo sem nenhuma
dificuldade. É um alívio não precisar começar do básico.
Passamos pelos crossovers[8] e não temos tempo de avançar muito
mais antes da treinadora chegar com um sorriso no rosto. Ela faz um aceno
na nossa direção e, quem olha aquela expressão radiante, não imagina o
quanto ela pode ser carrasca durante os treinos. Tenho várias memórias de
quando eu ainda era criança e via minha mãe chegando em casa exausta e
xingando todos os nomes possíveis — sem palavrões, porque ela não os usa
na minha frente.
— Que bom que vocês já começaram, todo o tempo que temos ainda
será pouco. Vamos precisar de um milagre pra deixar vocês no jeito.
Não gosto da forma como ela me inclui na mesma categoria de
Oliver. Eu não sou uma amadora, sou uma medalhista olímpica, sei muito
bem qual é o meu lugar. Mesmo assim, decido não discutir.
— Pelos próximos minutos, eu vou pedir para que vocês façam uma
série enquanto dão voltas ao redor do rinque. Salmon, — ela aponta para
mim — você vai primeiro e mostra ao Fisher como deve ser feito. Em
momento nenhum quero que parem de circular o rinque, entenderam?
Eu e Oliver assentimos em silêncio enquanto a treinadora se desloca
para o centro do rinque.
— Quero que peguem velocidade, eu vou dizer quando vocês devem
parar.
Passamos quase meia hora fazendo dezenas de exercícios.
Felizmente, eu conhecia todos eles e consegui executá-los sem o menor
erro. No entanto, percebi que eram exercícios de complexidade baixa para
média, o que me faz pensar que ela quer ver até onde Oliver consegue ir. É
uma abordagem inteligente, mas eu não esperava menos da lenda Ciara
Mulligan.
— Ótimo, agora vocês têm cinco minutos para descansar e voltamos.
Ela desliza para uma parte do rinque onde há uma balcão e se serve
de uma xícara de café.
— O que tá achando? — pergunto pra Oliver. Ele tem o rosto
tranquilo, a respiração em um ritmo normal. Apesar de fumar como uma
chaminé, o hóquei deu um bom preparo para ele.
— Isso é ridículo. — Há um sorriso debochado no seu rosto que me
dá vontade de arrancar na unha. — Eu pensei que seu trabalho era um
pouco mais difícil, desgracie.
Respiro fundo. Eu sei que é questão de tempo para que o ego de
Oliver sofra um baque. Não vou estragar tudo adiantando as coisas.
— Você tem razão. Patinação artística é idiota, coisa de menininha. O
hóquei sim é difícil e complexo.
Ele me lança um olhar demorado, mas não responde.
— Se vocês não vierem logo, não vão descansar antes de a gente
começar a treinar.
Observo a cara de surpresa no rosto de Oliver e sorrio.
— Você não achou que a gente tinha começado, achou?
Saio sem esperar uma resposta, em busca do meu café sem açúcar.
∞∞∞
Eu sabia que tínhamos uma tarefa grande diante de nós, mas não
imaginava que ela seria, na verdade, gigantesca.
Depois de duas horas de treino, estou sentada ao lado do rinque, os
patins jogados no banco. Ciara foi fumar um cigarro e me disse, de uma
forma discreta, que eu deveria conversar com o Oliver enquanto ela
estivesse lá fora, se entupindo de nicotina. Apesar de não ter dito, eu sei que
ela está arrependida de ter aceitado o convite da minha mãe.
O Oliver é péssimo.
Se as olimpíadas acontecessem hoje, não passaríamos do programa
curto. Ele consegue fazer os exercícios mais simples e até mesmo alguns
medianos quando está sozinho, mas não consegue fazê-los em dupla. A
culpa não é só dele. Nos conhecemos desde a infância e eu imaginei que,
por causa disso, teríamos alguma conexão maior do que realmente temos.
Acho que superestimei demais a faísca que existe entre nós e,
honestamente, o que isso diz sobre mim?
Enfim. Dizem que o ódio é capaz de mover montanhas, mas, no
momento, não está movendo nem um pedacinho de gelo. Temos pouco mais
de 3 semanas até o mundo ver a pior apresentação da história das
olimpíadas.
— Acho que não foi tão horrível assim…
Olho para o homem de quase dois metros sentado despreocupado no
banco ao meu lado, bebendo isotônico. Observo uma gota escorrer pelo seu
queixo, descendo pelo pescoço tatuado. Preciso admitir que ele é gostoso,
mas eu estou com raiva. Não é possível que Oliver realmente acredite no
que acaba de dizer. A frustração no meu peito se expande e eu me permito
extravasar.
— Se nossa meta for passar vergonha para o mundo inteiro, estamos
no caminho certo.
Ele não responde nada, e isso me deixa com mais raiva. Só então
percebo que seus olhos estão contornados por olheiras profundas.
— Onde você esteve ontem à noite?
— Não é da sua conta. Você sabe que batemos um recorde, né?
Demorou menos de 24 horas pra me expulsar de casa — ele ri. — Eu me
virei.
Me levanto e fico na sua frente.
— Olheiras, isotônico… você tá de ressaca?
— Claro que não. Devo ter bebido duas cervejas com o Vincent, no
máximo.
Sinto o peito ferver e inspiro a maior quantidade de ar que consigo
para manter o controle.
Eu não vou surtar, não vou surtar.
— Eu não acredito que você foi encher a cara ontem à noite sabendo
que tínhamos um treino hoje cedo!
— Eu não enchi a cara. Já falei, duas cervejas. E eu apareci hoje, não
apareci? Não sei porque você tá surtando.
Solto uma risada nervosa.
— Você tá de brincadeira comigo? A última hora foi um desastre
total! Nesse momento a Ciara deve estar pensando em uma boa desculpa
pra desistir da gente e eu não julgo. — Deixo o meu corpo cair no banco ao
perceber algo que eu já temia. — Isso foi uma péssima ideia.
Oliver suspira, então revira os olhos. Definitivamente, ele não tem
algo importante que todos os atletas têm: a obsessão por vencer, a
capacidade de abrir mão de coisas em nome da própria carreira.
Estou fodida.
Estamos.
— Relaxa, Gracie — ele diz. — É só o primeiro dia de treino. E já
disse, foram só duas cervejas.
Antes que eu possa responder, Mrs. Mulligan está de volta.
— Sabe que essa é uma ótima ideia?
Olho para aquela mulher baixinha, os cabelos grisalhos e um rosto
bondoso sem acreditar no que estou ouvindo.
— Beber antes de um treino? Desde quando?
— Não foi isso que eu disse — ela se diverte. — Mas seria bom se
vocês passassem algum tempo sozinhos, na companhia de algumas
cervejas, quem sabe. Claro que você tem que maneirar, Salmon, não quero
que passe mal por causa da diabetes, mas uma tarde bebendo juntos vai
fazer milagre por vocês dois. Podem ir a um pub, quem sabe.
Meu cérebro envia um comando para o maxilar fechar a minha boca,
mas o meu corpo parece em estado de choque com o que eu acabo de ouvir.
— Nós… — eu começo, mas as palavras embolam na minha língua.
— E o treino hoje?
— Treinar como, menina? Vocês estão sem coordenação nenhuma.
Fisher, você não é um péssimo patinador, mas seu nível é básico. Se a gente
construir uma série focada na Salmon, teremos algo promissor pra
apresentar nos jogos. — O seu comentário enche o meu peito de esperança,
mas o balde de água fria vem logo em seguida. — Mas nada disso vai
funcionar se vocês não tiverem o mínimo de conexão. Sincronia, sinergia…
Vocês sabem do que estou falando.
De alguma forma, saber que não tenho uma conexão com Oliver
Fisher me deixa um pouco incomodada. Não sei explicar porquê, mas eu
sempre pensei que… Não sei. Tantos anos odiando uma pessoa pareciam
significativos de alguma forma, mas aparentemente não são.
Como eu não me movo, a treinadora começa a me empurrar para fora
do banco.
— Anda! Vocês estão perdendo um tempo valioso! Só tenham limites,
amanhã quero os dois aqui às cinco da manhã. Agora saiam e voltem com
uma conexão decente.
Somos praticamente enxotados do rinque de gelo. Depois de ser
chutada pelo meu antigo parceiro, meu antigo treinador e agora a minha
atual treinadora, a sensação que fica é que estou sendo expulsa de todas as
áreas da minha vida.
CAPÍT ULO 14 - OLIVER FISHER
— Acho que quando Mrs. Mulligan disse que precisávamos criar uma
conexão, ela não estava dizendo que deveríamos cometer crimes juntos.
Os braços de Gracie estão cruzados na frente do peito e ela respira
muito fundo para demonstrar a sua irritação. Eu tiro as chaves do
apartamento de Vincent e enfio na fechadura, o que seria suficiente para
Gracie entender que esse não é um caso de invasão de propriedade se ela
não fosse uma ansiosa crônica.
Vincent é do tipo que leva seguranças para corridas clandestinas, mas
também é o cara que não se importa em dar uma chave do seu apartamento
pra qualquer pessoa o que, em outras palavras, significa que ele tem uma
tendência a ser pouco ou nada coerente. E qualquer pessoa, em dias
normais, quer dizer as garotas com quem ele tem casos de uma noite só.
Nessa situação específica, qualquer pessoa sou eu.
A porta se abre e Gracie arqueia uma sobrancelha ao observar o
movimento, mas não se mexe.
— Foi aqui que você dormiu? — pergunta, deduzindo o óbvio.
— Por quê? — Eu entro antes dela, conferindo que Vincent não está
em casa. Pego minha mochila no sofá da sala. — Vai me expulsar de novo?
— Não vou ser tão boazinha da próxima vez.
— Isso foi você sendo boazinha? — Balanço a cabeça em negativa,
incrédulo. — Eu queria ter dormido na rua, levado uma facada e morrido só
pra você viver o resto da vida com peso na consciência.
— Eu ficaria triste — responde, finalmente entrando no apartamento
de Vincent. — Mas só porque não teria mais um parceiro. Infelizmente
preciso que seus órgãos internos fiquem intactos por um tempo.
— Meus órgãos internos estão ótimos, obrigada.
— Disse o fumante. O que nós viemos procurar? — Gracie questiona,
encostando a porta atrás do corpo. Ela passa os olhos pelo apartamento,
como se estivesse julgando as escolhas decorativas de Vincent. — Ou
roubar.
— Pegar emprestado — corrijo. — Mrs. Mulligan disse pra gente
beber, mas acho que precisamos de um tratamento de choque.
— Eu não vou usar cocaína com você.
Reviro os olhos.
— Não é cocaína.
Gracie franze o cenho, como se duvidasse do meu comentário. Eu
deixo ela na sala e vasculho a bancada da cozinha de Vincent, tentando me
lembrar onde ele disse que guardava. Talvez ele nem use mais,
considerando que era uma coisa dos seus tempos de boyband.
Dedilho a porta de madeira dos armários enquanto penso. Abro um
deles e percebo que é onde Vincent deixa seus temperos. Não faz sentido,
porque ele nunca cozinha. Observo cada pote com mais atenção e
finalmente entendo que o que eu procurava estava na minha frente o tempo
todo.
Pego um dos potes e tiro a tampa para confirmar minhas suspeitas. O
cheiro responde todas as minhas perguntas e eu fecho o armário, deixando
os outros potes de Vincent pra trás. Nem quero saber as outras coisas que
ele guarda ali dentro.
Gracie se aproxima do batente da porta com uma expressão entediada.
Acho que se cansou de analisar cada centímetro do apartamento de Vincent
e agora está ansiosa pra ir embora. Desde a sugestão da treinadora, ela
parece um pouco mais puta com a minha existência, como se perder um dia
de treino para beber fosse um absurdo que ela nunca presenciara ao lado de
Pierre.
— O que é? — ela pergunta, analítica.
— Maconha.
Gracie arregala os olhos. Sua boca se move e sei que ela está prestes a
soltar algum xingamento, mas desiste no meio do caminho. Balança a
cabeça em negativa e volta para a sala, soltando um suspiro alto.
Mando uma mensagem para Vincent avisando que roubei sua
maconha e saio do apartamento, esperando que Gracie me acompanhe.
Enquanto esperamos o elevador, repasso todos os detalhes dessa
manhã pavorosa: primeiro, eu e Gracie somos péssimos patinando juntos.
Segundo, roupas largas não são próprias pra patinação. Terceiro, todo
mundo sabe que eu e Gracie estamos patinando juntos, mas, até a sua
agente mandar uma nota oficial pra imprensa, ninguém sabe. Esse foi um
dos motivos pelo qual escolhemos passar nosso dia de bebedeira em casa e
não em um pub. Gracie estava surtando diante da possibilidade de vazarem
fotos nossas.
A porta se abre e nós dois entramos em silêncio. Ela ainda está
absorvendo o fato de que estou com uma quantidade considerável de droga
dentro de um pote de tempero caseiro que poderia ser de alguma avó.
Gracie encosta o quadril nas paredes do elevador e observa os números
digitais aumentarem até que chegamos na cobertura.
— Eu dividi o apartamento — Gracie informa. — Pra ficar mais
confortável pra nós dois.
Os outros apartamentos do prédio — são dois por andar — contam
com um extenso corredor, mas não o de Gracie. Por ser a cobertura, o
elevador leva direto para a sala, onde o seu cachorro nanico espera por nós.
Ela faz um sinal para que eu saia e usa uma das chaves do seu chaveiro
felpudo para trancar a porta.
— Tem que deixar trancado sempre que chegar — explica. — Vou
arranjar uma chave pra você.
Movo a cabeça em afirmativa. Quando ela disse que dividiu o
apartamento, eu não pensei que ela estava sendo literal. Meus olhos caem
na fita cor de rosa que separa a sala em partes iguais e eu solto uma risada
incrédula.
— Que merda é essa?
— A divisão do apartamento — responde, dando de ombros. — O seu
quarto fica no fim do corredor, bem longe do meu. Fique na sua parte e
nenhum de nós dois vai ser preso por homicídio doloso.
Como se estivesse zombando da minha cara, Ben deita de costas em
parte da fita que cobre o chão, rolando de um lado para o outro. Tenho
certeza que está se divertindo por ter uma liberdade que eu não tenho.
— Lembra quando eu te mandei várias esculturas de gelo de palhaço
de aniversário?
— Sim. — Gracie franze o cenho.
Todo mundo sabe que ela odeia palhaços.
— Vou fazer pior depois dessa história de fita.
— Estou tentando transformar a nossa convivência em uma
experiência mais suportável. — Ela se senta no sofá, no que eu entendo que
é a parte dela. — Vai lá, prepara essa coisa.
A forma como ela diz “essa coisa” não deixa dúvidas de que nunca
fumou antes.
— Então você vai fumar?
— Supondo que meu corpo entre em pane, você sabe o que fazer?
Movo a cabeça em afirmativa.
— Meus contatos de emergência estão no celular — diz, por
precaução, colocando o iPhone em cima da mesinha de centro na frente do
sofá.
Gracie se levanta, mas não diz pra onde vai. Eu sento no “meu” lado
do sofá — nem ele foi poupado da fita rosa que atravessa todo o lugar — e
vasculho minha mochila até encontrar alguma seda. Com certeza não vai
ser o melhor baseado que bolei na vida, mas vai servir.
Gracie volta com uma garrafa de Gin e coloca na mesa.
— Eu tomei um bom café da manhã hoje — diz. — E já apliquei
minha dose de insulina. Acho que vou sobreviver. Se eu precisar de uma
dose de emergência…
— Sei o que fazer, desgracie — ressalto, mas não tenho certeza se ela
acredita em mim.
Ela se senta de novo, tira a tampa da garrafa e sorve um longo gole,
sem se preocupar em pegar um copo. Acho que está tentando parecer mais
descolada do que realmente é.
— Mas não exagera — complemento.
Gracie revira os olhos.
— Se é pra tomar um porre, tem que fazer direito.
— Tomar um porre, não uma overdose.
— Impressionante — Gracie me encara. — Você sabe ser
minimamente responsável quando quer.
— Isso não é responsabilidade, é trauma.
— Trauma do quê?
— Uma garota em Los Angeles — explico, sem entrar em muitos
detalhes. As festas em L.A costumam sair de controle muito fácil, mas eu
definitivamente não esperava ter que lidar com um problema daquele
tamanho. — Digamos que ela teve uma overdose numa festa que eu estava.
[9]
— E ela sobreviveu?
— Sim.
Gracie faz uma careta.
— Não se fazem mais traumas como antigamente.
— É sério, foi uma situação de merda.
— É claro que foi — Gracie oferece a garrafa na minha direção e eu a
pego assim que termino de bolar o nosso beck.
Dou um gole.
— Pronta pro primeiro baseado da sua vida?
— Era óbvio que ser sua parceira ia me levar pro mal caminho — ela
reclama, mas move a cabeça em afirmativa.
Tiro um isqueiro do bolso da calça e acendo o cigarro. O cheiro de
erva se espalha pela sala e Gracie tem alguma dificuldade de tragar quando
eu entrego o baseado nas suas mãos. Ela engasga duas vezes antes de
conseguir fumar de verdade e deixa parte da seda suja de gloss labial. Isso
me faz pensar que a gente deveria ter comido ao invés de fumar, mas isso
seria radical demais pra ela.
Ela passa o cigarro pra mim e grita pra Alexa tocar alguma música da
sua playlist de favoritas enquanto recupera a garrafa de gin. Passamos
alguns minutos assim, em silêncio, alternando entre o beck e a bebida até
que o gosto de gin começa a parecer enjoativo. O sorriso no rosto de Gracie
é com certeza maior que dez minutos atrás, o que me fez ter certeza de que
ela já ficou um pouco alta.
— Eu devia ter dito isso pra ele.
Provavelmente por causa da maconha, eu demoro um segundo para
pegar o que ela está falando. Gracie aponta para um dos ouvidos e eu
entendo que preciso prestar atenção na letra da música que preenche o
apartamento.
Only six seconds and I had to fake it.[10]
Uma risada escapa da minha garganta e eu sei que minha reação é
indelicada, mas posso colocar a culpa na erva e na garrafa de gin que já está
na metade.
— Você ficou oito anos namorando um cara que não te fazia gozar?
Gracie pega uma almofada do seu lado do sofá e atira na minha
direção.
— Tinha muita coisa em jogo — murmura, a voz um pouco
embolada. — Sexo ruim não parecia um motivo bom o bastante pra jogar
tudo pro alto. Além disso, eu acho… — ela dá uma pausa, então ri. — Eu
tenho certeza que minha mãe me mataria se eu estragasse tudo só por causa
de sexo. Ela não ficou do meu lado nem quando eu disse que ele me traiu.
Faço uma careta.
— Ela leva essa coisa de patinação muito a sério.
Gracie franze o cenho.
— E isso é uma coisa ruim?
Dou de ombros, levando o cigarro até a boca.
— Mais ou menos.
— Mais ou menos como?
— Sinto que você vai ficar puta se eu falar minha opinião de verdade.
— Ninguém fica puto depois de fumar maconha — ela pula no sofá,
se aproximando um pouco mais do meu lado. Seus olhos estão começando a
ficar vermelhos. — Eu acho.
Assinto, mas continuo com a impressão que ela vai me bater assim
que eu abrir a boca.
— Acho que ninguém deveria viver pela própria carreira, só isso.
Gracie move o dedo indicador de um lado para o outro, em uma
negativa exagerada que só uma pessoa chapada faria.
— Levar a sério e viver pela própria carreira não são a mesma coisa.
— Me fala um sonho seu — peço. — Um que não seja sobre
patinação.
Gracie passa a língua pelo lábio inferior, num gesto de nervosismo.
Ela abre a boca algumas vezes, mas não diz nada. Consigo ver pelo vazio
nos seus olhos que não consegue encontrar, dentro dos seus próprios
pensamentos, uma resposta satisfatória.
— Quem é você quando não está patinando, Gracie?
Gracie bufa, bebendo mais um gole de gin.
— Continuo sendo medalhista de ouro quando não estou patinando —
responde, fingindo que não entendeu minha pergunta. — Não é suficiente?
— Pra você é?
Ela deixa a garrafa em cima da mesa e rouba o cigarro da minha mão.
— Você tá me deixando confusa — reclama, como uma criança
birrenta. — Esse não é o tipo de papo que dá pra ter depois de fumar
maconha pela primeira vez.
Gracie se levanta do sofá, ainda com o cigarro na mão. Ela não traga,
então tenho a sensação que se esqueceu dele. Ainda está dentro das suas
roupas de treino, o que não combina com a nuvem de fumaça que toma
conta da sala. Tenho certeza que esses móveis nunca viram uma tragédia tão
grande.
Gracie tropeça de repente e por um segundo eu acho que ela
desmaiou por causa de uma alta de glicose no sangue. Eu me levanto para
ver de perto e entendo que não é o caso quando ela solta uma gargalhada,
rindo da própria situação. Ela não tenta se levantar. Ao invés disso, deita o
corpo no tapete felpudo ao lado da mesa e me observa.
— Esse tapete é tãooooooo bom — diz, enquanto move os braços
pelo tecido. — Fico feliz que a Gracie do passado tenha comprado ele. Viu?
Eu tenho sonhos que não envolvem patinação. Ter esse tapete na sala, por
exemplo. Tapetes são caros.
Estou prestes a dizer que nem ela acredita no que está dizendo, mas
ela levanta uma das mãos na direção da mesinha antes que qualquer
comentário escape da minha boca. Ela tenta encontrar a sua garrafa de Gin
e leva um susto quando seus dedos a derrubam em cima da mesa, causando
um pequeno desastre.
— Puta que pariu — ela reclama, numa mistura de indignação e
medo. Ela confere os próprios dedos para garantir que não se cortou e abre
um sorriso como se pedisse desculpas. — Merda, eu vou ter que mandar
meu tapete lindo pra lavanderia.
Nunca ouvi Gracie Salmon falar tantos palavrões em tão pouco
tempo, o que significa que, com certeza, ela está um pouco chapada.
— Você vai ter que se mandar pra lavanderia — digo, levantando a
garrafa de bebida. Só então ela percebe que sua blusa está melada de gin.
Seus olhos finalmente encontram o cigarro de maconha em cima da mesa,
agora apagado por causa da bebida. O beck parece um pastel depois de ficar
encharcado. — Acho que chega de álcool por…
Eu não termino a fala, porque Gracie tira a sua blusa encharcada e a
atira em um canto do sofá. Sequer tenho raciocínio lógico o suficiente para
definir se aquele lado é o meu ou o dela.
Puta que pariu, desgracie.
— Chega de álcool por hoje — ela completa minha fala, como se não
tivesse feito nada demais. — Você não tá nemmmm um pouquinho bêbado?
Eu assinto, usando todo meu autocontrole para não encarar os peitos
dela, mas tenho certeza que já encarei, uma vez ou duas.
Talvez três, porque eu saberia descrever em detalhes o sutiã que está
usando.
— Acho que sim — respondo, voltando a me sentar no sofá. Tento
encontrar alguma coisa que tire Gracie Salmon seminua da minha visão,
mas não encontro nada —, mas maconha não bate em mim do jeito que bate
em você.
Gracie move a cabeça em afirmativa e fica mais alguns segundos em
silêncio, a música nas caixas de som do apartamento sendo o único som
entre nós. Ela se levanta e eu sinto meu pau latejar dentro da calça com uma
visão muito privilegiada dos seus peitos — uma visão que eu não deveria
ter.
Gracie se senta do meu lado. Ela coloca a unha do polegar na boca e
rói num nervosismo que ela nem tenta esconder. Eu sei que, em dias
normais, ela não é do tipo que rói as unhas.
Sua boca se move, mas Gracie demora um bom tempo até formar uma
frase.
— É normal… — ela para no meio do caminho e fica me encarando
por um bom tempo, sem dizer mais nenhuma palavra. E ela não precisa
dizer, porque seus olhos descem até minha boca de tempos em tempos e ela
olha as tatuagens no meu braço como se quisesse tocar cada uma delas.
Sei reconhecer uma mulher com tesão quando vejo uma.
Tenho certeza que esse era o último efeito que Mrs. Mulligan queria
quando sugeriu que a gente bebesse. Tesão não ajuda em nada. Tesão
complica as coisas.
— Deixa pra lá — diz. — Tenho certeza que vou me arrepender se
falar isso.
O mais sensato seria concordar e mandar Gracie pro lado dela do
apartamento. Obviamente, não é isso que eu faço, porque brincar com fogo
é a minha especialidade. Ultrapasso a faixa cor de rosa que divide o sofá e a
observo mais de perto. Ela não se afasta, mas também não completa a frase
que começou.
Me aproximo mais um pouco, porque quero saber até onde posso ir
sem ganhar um olho roxo. Eu enrolo uma mecha do seu cabelo nos dedos e
faço a pergunta, mesmo já sabendo da resposta.
— Você tá com tesão?
Minha pergunta direta a deixa desconcertada por um momento. O seu
perfume floral enche meu olfato e sinto que vai ser difícil tirar esse cheiro
da cabeça. Ela dá uma olhada na minha boca de novo, como se estivesse
decidindo se vale a pena quebrar nossa regra de não envolvimento sexual na
minha primeira noite aqui. Eu não vou transar com ela, porque está bêbada,
chapada e carente dias depois de terminar um relacionamento merda de oito
anos. Mesmo assim, seria uma grande massagem no meu ego saber que
Gracie sente por mim o mesmo desejo que sinto por ela.
Quase consigo ver nos seus olhos o momento que ela decide abrir
mão da sua regra de não envolvimento. Ela coloca uma das mãos no meu
pescoço e seus dedos contornam a tatuagem de adaga na minha pele com
uma atenção impressionante. Como se soubesse que sua dona está prestes a
tomar uma péssima decisão, Ben late.
— Não estou. — Gracie se levanta de supetão e corre para pegar o
cachorro no colo. — O que foi, honey? — ela pergunta, fazendo uma careta
exclusivamente para ele. Então, ela se volta pra mim. — Eu só estava
pensando…
— Em transar comigo?
— Talvez isso tenha passado pela minha cabeça, sim, mas não
importa — Gracie fala, rápido, querendo encerrar o assunto. — As regras
que discutimos na viagem pra cá ainda estão valendo. Não vamos transar,
Oliver, nunca. Mesmo que o meu cérebro esteja tentando me pregar uma
peça por causa dessa maconha maldita.
— Tá dizendo isso pra mim, pra você ou pra sua boceta?
Gracie levanta o dedo do meio pra mim.
— Pra todos os três.
Ela se vira e, antes que eu possa responder, desaparece no corredor
com Ben no colo, respeitando as linhas cor de rosa e indo em direção aos
quartos que estão do seu lado do apartamento.
— Desgracie! — eu chamo.
Ela demora alguns minutos para aparecer na sala de novo, dessa vez
sem o cachorro, agora enrolada numa toalha. Gracie não se aproxima
demais, apoiando um dos braços no batente, como se temesse seu próprio
autocontrole. Seu cabelo escuro cai por cima da toalha de um jeito
bagunçado, as pontas ainda molhadas de gin. É cedo e as luzes do
apartamento estão desligadas, mas sua pele escura parece brilhar mesmo
assim. Normalmente, tem uma lista enorme de motivos pelos quais odeio
Gracie Salmon, mas, nesse momento, a odeio por ser tão bonita.
— Tenho certeza que eu te faria gozar.
Primeiro, ela ri, mas sei que é o efeito por termos fumado. Logo em
seguida, Gracie me mostra o dedo do meio e volta pro seu quarto, não sem
antes gritar pra mim:
— Vai se foder, Fisher!
NEWS: O retorno da lenda
O retorno da lenda
Depois de muitos dias de silêncio e especulação, finalmente os fãs de
Gracie Salmon (20) receberam uma atualização sobre a patinadora. A nota
que sua agente enviou para a imprensa foi curta, mas com informações
suficientes para fazer uma legião de entusiastas do esporte surtar.
Quem diria que beijar a pessoa que você odiou durante toda a
adolescência poderia trazer tamanha ressaca moral?
Estamos dentro do elevador em silêncio após estacionar a McLaren
na garagem. A festa não foi horrível, apesar dos olhares enviesados que
recebemos durante cada minuto que estivemos lá. No início, era uma
mistura de pena com deboche — coitadinha da patinadora que foi
abandonada —, mas depois, em parte pelo comentário da jurada, em parte
pela química que emanava toda vez que Oliver e eu estávamos juntos, os
olhares passaram a ser de receio. De novo, sou vista como uma competidora
à altura da competição. Esse era o objetivo principal da noite e o atingimos
com êxito.
O beijo foi dano colateral.
Eu podia ter evitado aquele momento, poderia apenas ficar com a
cabeça deitada nos ombros de Oliver e, no máximo, pedir para ele fazer
carinho no meu cabelo. Passaria uma imagem de que somos mais do que só
parceiros de patinação. Mas se tem uma coisa que Nora Salmon me ensinou
é nunca fazer algo pela metade. Se tem que fazer, faça perfeitamente. Por
isso apostei todas as minhas fichas naquele momento.
Os lábios dele fazem jus ao título de uma das maravilhas de
Guildford. O jeito que ele me puxou para o seu colo mostrou o quanto está
se acostumando a carregar o meu corpo e começo a pensar nas diferentes
formas que ele pode me jogar de um lado para o outro na cama.
— Acho que eu nunca te vi tão calada.
A voz dele interrompe o caminho perigoso dos meus pensamentos.
Levanto os ombros e olho para o elevador. Eu já gastei um minuto de
sincericídio para dizer que realmente estava com vontade de fazer o que eu
fiz e não vou insistir mais no assunto.
Oliver Fisher já se acha o bastante. Definitivamente, ele não precisa
saber que estou fantasiando com ele me jogando na cama.
— Cansada, eu acho. Eventos assim me desgastam mais do que várias
horas no rinque.
— Eu não sei como vocês aguentam.
A porta do elevador se abre e seguimos para o apartamento. Ben corre
na minha direção, pulando desesperadamente na intenção que eu o
carregue. Assim que está no meu colo, ele lança um olhar de poucos amigos
para Oliver, como de costume.
— Aguentam o quê? Vocês também tem festas no mundo do hóquei.
— É o que mais tem, mas não assim. — Ele se joga no seu lado do
sofá, pernas e braços abertos como se fosse um mafioso dono de todo o
prédio. — No hóquei tem menos fingimento. As pessoas falam o que
pensam e quando as palavras não dão conta do recado, a gente deixa os
punhos conversarem.
— Muito civilizados.
— Melhor do que dizer que está torcendo por você, mas no fundo está
desejando que tropece na barra do vestido, caia e tenha uma fratura exposta
na canela.
Sinto um arrepio percorrer o meu corpo ao imaginar a cena. Fraturas
nas pernas são uma das piores lesões que um patinador pode ter. O tempo
de recuperação é muito alto. Dependendo da gravidade, pode até mesmo
deixar o atleta parado por anos.
— Já foi em um baile de máscaras?
Oliver arqueia a sobrancelha sem a menor ideia do motivo da
pergunta.
— Eu sempre me imagino em um baile de máscara quando vou a
esses eventos — continuo, enquanto removo os meus saltos e estico os pés
no sofá ao lado do meu parceiro. Ben se deita entre nós dois como se fosse
uma lembrança viva da linha que separa as nossas partes do apartamento.
— Todo mundo ali esconde coisas atrás de uma máscara. Seja um caso que
está tendo com o treinador, uma frustração por não conseguir fazer um
programa novo ou, o que a grande maioria finge não sentir, inveja. Essa é
uma área onde nosso corpo é avaliado minuciosamente por uma equipe de
jurados, é quase doentio. Isso gera uma pressão muito grande pelo corpo
perfeito. Se você não estiver insatisfeita com o seu programa, com o seu
parceiro ou com o seu treinador, vai estar com o seu corpo.
— Você não parece esse tipo de pessoa.
— Graças a minha mãe.
Solto uma risada ao ver a expressão de confusão no rosto de Oliver.
— Eu cresci vendo o quanto ela se preocupa com aparências. Ela foi
criada para se adaptar ao meio da patinação, a vida dela gira ao redor disso.
Por isso, depois que se aposentou, ela meio que perdeu o propósito. Não
quero ser assim. Estou tentando não ser assim.
Ele assente e meus olhos demoram por alguns segundos pelo rosto
calmo de Oliver. Seus olhos proeminentes e estreitos parecem sorrir de
provocação ao me olhar. As tatuagens que aparecem através da gola da sua
camisa atiçam minha curiosidade, mas não quero ceder duas vezes no
mesmo dia.
Desvio minha atenção para Ben, além de ser um local mais seguro,
me dá tempo de pensar no que aconteceu na minha vida nos últimos dias.
Tanta coisa mudou e de forma tão rápida que ainda sinto um pouco de
dificuldade em acompanhar. Quem diria que eu estaria sentada na sala do
meu apartamento ao lado de Oliver e compartilhando um silêncio
confortável? Ainda acho difícil de acreditar.
— Posso fazer uma confissão?
— Mais um minuto de sincericídio? O que está acontecendo com
você?
Solto uma risada nervosa. Aquela é uma pergunta que tenho me feito
com uma frequência maior do que eu gostaria nas últimas semanas.
— Não é bem isso, é só que… — Não sei como dizer o que está na
minha mente. Odeio quando temos dificuldades de traduzir alguma
sensação ou sentimento complexo em palavras. — Hoje o evento foi
diferente.
— Em qual sentido?
— Eu não sei direito. Estou acostumada a ir em lugares assim com o
Pierre — Oliver faz uma careta ao ouvir o nome —, então nada disso é
novo para mim, mas hoje foi diferente. Acho que, pela primeira vez, eu
quase gostei de estar lá. Ainda não é o meu tipo de evento, mas eu acho que
pela primeira vez eu me senti acompanhada, sabe?
— Das outras vezes o queijo coalho não estava com você?
Contenho uma risada. Ele nunca diz o nome do meu ex.
— Estava, fisicamente. Uma coisa sobre ele é que ninguém nunca
será perfeito o bastante para estar no seu nível. O ego dele é gigante demais
para estar no mesmo lugar com outra pessoa. Ele pode estar ali com você,
se manter por perto, mas é mais como se fosse alguém vigiando uma
propriedade do que um parceiro ou namorado. É difícil de explicar.
— E você não se sentiu assim hoje?
Balanço a cabeça de um lado para o outro. Aproveito para desfazer o
meu penteado e deixar meu cabelo preto escorrer pelos meus ombros.
— Não. — Solto uma risada pelo nariz. — Foi até meio engraçado.
Era como se nós dois estivéssemos obrigados a ir para um lugar que não
gostamos. Aquela coisa de unidos por um ódio em comum. A escapada para
os jardins foi um exemplo. Pierre nunca teria topado. Queria sempre estar
no centro com os holofotes apontados para ele.
— Não sei se fico feliz por estar sendo comparado com seu ex.
Reviro os olhos. Tava tudo indo bem demais para ser verdade.
— Não é isso! Só quero dizer que, graças a você, a noite não foi tão
ruim quanto poderia ter sido.
Me levanto, sentindo que eu falei demais outra vez. É sempre assim.
Eu sou a única a compartilhar o que estou realmente pensando entre nós
dois. Oliver é uma parede de comentários sarcásticos e maliciosos, mas
nunca revela o que pensa de verdade.
— Vou me preparar para dormir.
Antes que eu dê o primeiro passo, sinto uma mão segurar o meu
pulso.
— Espera.
Ele se levanta e fica na minha frente, a fita rosa no chão passa a
centímetros entre os nossos pés. A mão dele atravessou o limite, mas estou
curiosa com o que ele tem a dizer, por isso, ignoro essa micro infração à
regra.
Olho para o rosto perfeito de Oliver e imagino quantas mulheres já se
apaixonaram por ele. Mais do que isso, quantas já tiveram seu coração
partido por ele? Tenho certeza que não foram poucas. Ele não é só bonito.
Tem um magnetismo natural, alguma coisa etérea que ninguém conseguiria
explicar. Tenho certeza que, em uma sala de homens bonitos, a atenção de
qualquer mulher cairia nele primeiro, porque só Oliver Fisher é Oliver
Fisher.
Ele sustenta o meu olhar por vários segundos e, em um movimento
muito rápido que me faz questionar se ele realmente aconteceu, seus olhos
pousam nos meus lábios antes de retomarem a posição inicial.
— Eu fico feliz em saber disso — ele começa, a voz em um tom
intermediário entre o sussurro e o normal. — É bom saber que você está
começando a ficar confortável perto de mim.
Assinto em um movimento leve. Não sei o que está acontecendo
comigo, mas parece que perdi a capacidade de formar palavras. Meu corpo
inteiro está pesado e parece feito de cimento, a exceção é minha cabeça que
está leve como um balão e parece prestes a se deslocar e sair vagando sem
rumo pelo apartamento.
O que diabos está acontecendo?
O contato da pele de Oliver no meu pulso faz um ardor se espalhar
desde o ponto do toque até meu último fio de cabelo.
— Isso é algo bom, não é? Pra patinação, quero dizer. Era o que Mrs.
Mulligan queria que fizéssemos.
Mais uma vez, apenas assinto. Já desisti de formar palavras.
— Boa noite, Gracie. — Ele se aproxima e encosta os lábios na lateral
do meu rosto fazendo minha pele queimar.
Ele me solta e volta a se sentar no sofá, me deixando como uma
estátua parada sem saber o que fazer. Por fim, giro nos calcanhares e saio
em passos lentos na direção do corredor sem dizer nada.
Assim que entro no meu quarto, fecho a porta e me jogo na cama.
Meu coração está disparado e sinto que vou ter um enfarte. O que foi
aquilo? Por que ele me beijou? E o mais estranho de tudo: ele não me
chamou de desgracie.
Durante vários minutos, faço minha rotina noturna no modo
automático. Enquanto tomo banho e visto o meu pijama, estou com a
cabeça na sala e no beijo na festa. Não era isso que eu tinha em mente
quando o chamei para patinar comigo. Eu acabei de sair de um
relacionamento traumatizante, não estou em condições de me envolver tão
cedo.
Balanço a cabeça.
É o Oliver.
Não tem a menor chance de eu me envolver com ele.
Repito isso como uma espécie de mantra. Eu preciso acreditar nisso,
ainda mais quando o meu corpo parece ter aceitado como algo normal parar
de funcionar quando ele chega muito perto. Felizmente, sou uma atleta
olímpica, aprendi desde cedo que é o corpo que obedece à mente, não o
contrário. Talvez eu precise sair com alguém diferente pra me distrair. Um
encontro no Tinder, uma fast foda. Não é a primeira vez que penso nisso.
Sinto a garganta seca e decido buscar um copo d’água antes de deitar.
Assim que chego no corredor, escuto barulho de portas de armário sendo
fechadas, por isso imagino que Oliver ainda não foi para o quarto. Me
aproximo devagar, curiosa com o que ele pode estar fazendo. Escuto a voz
dele vindo de algum lugar perto da cozinha.
— Por que tá com essa cara?
Por um minuto, penso que está falando comigo, mas não tem como
ele me ver do ponto onde estou. Dou mais alguns passos até conseguir vê-lo
agachado perto da varanda. Não sei o que está fazendo, mas há o barulho de
algo caindo em uma superfície de plástico.
— Eu sei que a gente não se dá muito bem, mas nem por isso vou te
deixar morrer de fome.
Vejo Ben se aproximar de Oliver e, pela primeira vez, passa por ele
sem lançar um olhar de raiva. Lentamente, seu rabinho começa a balançar
de um lado para o outro. Demoro alguns segundos, mas percebo que
esqueci de colocar a ração do Benjamin quando cheguei.
Oliver fez isso por mim.
Volto para o quarto sem beber água.
Acho que não vou conseguir dormir tão cedo.
CAPÍT ULO 20 - OLIVER FISHER
Nunca vou admitir em voz alta, mas ser patinador é mais cansativo do
que ser jogador de hóquei. Em todos os anos jogando nos Owls, me lembro
de ter chegado em casa destruído de um treino poucas vezes, sempre no
auge da temporada. Eu sei que estamos treinando num nível muito acima da
média por causa da proximidade dos jogos olímpicos, mas tenho a
impressão que meus dedos dos pés vão se desfazer a qualquer momento.
Pelo menos a dor de ficar um dia inteiro com os patins nos pés me
distrai de pensar em toda a confusão com o Tyler. Eu adoraria poder apagar
da minha memória que ele vai correr hoje.
Acho que estou provando do meu próprio veneno. É assim que as
pessoas que se preocupam comigo se sentem quando faço as coisas sem
pensar?
Antes que minha mente caminhe nessa direção, Ben late. Ele está
sentado na porta do meu quarto desde que saí do banho. O cachorro tomba a
cabeça pro lado, me observando com curiosidade. Acho que ainda não gosta
de mim. Talvez esteja pensando se deve ou não fazer xixi na minha cama
quando estiver sozinho em casa.
Eu apoio a toalha no ombro e caminho até a área de serviço para
deixá-la na máquina de lavar. Gracie está na cozinha. Ela ainda olha pra
mim com aquele olhar de “eu sei que tem alguma coisa acontecendo”, mas
não me faz perguntas, o que é ótimo. Não quero ter que explicar que o Tyler
fez merda.
— Planos pra hoje? — ela pergunta, enquanto coloca um pacote de
pipoca dentro do microondas.
Olho as horas pelo relógio do aparelho. São quase onze, o que
significa que a corrida já deve ter começado. Eu deveria ter mandado uma
mensagem pro Erik e dito pra ficar de olho no Tyler, mas sei como é
irritante quando ele começa a dar uma de irmão mais velho. Eu não tenho
motivos pra ficar preocupado.
Relaxa, porra.
— Você realmente entrou em outro mundo — Gracie protesta, diante
da minha falta de resposta. — O que foi? A agente era uma gostosa e você
ficou desconcertado? Sua ex mandou mensagem? Homem quando fica
assim é porque tem mulher no meio.
— Não reparei se ela era gostosa.
Gracie arqueia uma das sobrancelhas, em dúvida.
— Foi a ex, então?
— Você sabe que eu não tenho ex, desgracie.
— Oficialmente, não, mas…
— A única mulher que me interessa no momento criou uma regra pra
não transar comigo — digo, diretamente, enquanto abro a geladeira em
busca de um refrigerante. Já que a Gracie é uma atleta, só temos suco
natural e kombucha. Opto pela segunda opção com uma careta. Não confio
totalmente em bebidas fermentadas, com exceção da cerveja. — Então não,
não estou tendo problemas com mulheres.
— Para de papinho — ela reclama, observando o seu saco de pipoca
aumentar de tamanho. — E você não respondeu a pergunta.
— Sem planos por enquanto.
— Ótimo. Eu tenho 40 episódios de uma novela turca pra assistir,
então se quiser me fazer companhia — ela sugere. — No seu lado do sofá,
obviamente.
O comentário de Gracie me traz lembranças muito específicas.
Costumávamos ver todo tipo de novela latina e turca nas poucas ocasiões
em que não estávamos brigando quando éramos menores.
— Você ainda assiste?
Ela move a cabeça em afirmativa.
— Me ajuda a desestressar.
Concordo com ela, bebendo um gole da kombucha de fruta. As bolhas
da bebida estouram na parede da minha boca e eu ainda não sei se é uma
sensação agradável. Não respondo a sua proposta. Gracie ainda está vendo
suas pipocas estourarem e eu aproveito para observá-la. Sei que ela disse
que eu deveria ficar do meu lado do sofá, mas não consigo deixar de pensar
que tem alguma coisa implícita naquele convite.
Meu celular vibra no bolso da calça de moletom e eu deixo a garrafa
de kombucha apoiada em cima da pia pra atender a notificação.
ERIK: Fiquei sabendo que tem uma galera da polícia por lá.
ERIK: E ambulâncias.
∞∞∞
Quando meu despertador toca às quatro e meia da manhã, Oliver
ainda não chegou em casa. Meu corpo está dolorido pela péssima posição
dormindo no sofá e eu me arrasto para um banho de cinco minutos antes de
vestir minhas roupas de treino. Checo todas as minhas redes sociais, mas
Oliver não deu nenhum sinal de vida desde o momento que saiu.
Espero até às cinco e mando uma mensagem para Mrs. Mulligan
dizendo que Oliver teve um imprevisto e não vai conseguir chegar no
treino. Ela me responde quinze minutos depois dizendo que não tenho como
treinar saltos e arremessos sozinha. Tire um dia de folga, querida.
Solto um suspiro irritado. Eu não quero tirar um dia de folga, eu
quero planejar o assassinato de Oliver Fisher de forma lenta e dolorosa. Por
um segundo, quase sinto saudades do Pierre. Ele pode ser um babaca que
fode mal, mas, ao longo da nossa parceria, nunca perdemos um treino.
Ben acorda quando o relógio marca seis horas. Ele corre pra cozinha e
se senta do lado do pote de ração, esperando pelo café da manhã. Encho seu
pratinho e abro a geladeira, tirando uma porção da salada de frutas que fiz
alguns dias atrás.
Eu como e volto pra sala. Me pergunto se deveria registrar uma
queixa de desaparecimento à essa altura. Minha novela turca ainda está
passando na televisão quando eu a desligo. Como na noite anterior, minha
mente começa a criar várias hipóteses sobre o que está acontecendo, mas
agora elas são um pouco mais macabras. E se ele tiver sofrido algum
acidente? Devo começar a checar hospitais? Vou ficar com fama de
patinadora viúva pro resto da vida?
Considero descer alguns andares e perguntar se Vincent sabe de algo,
mas desisto da ideia. Os primeiros raios de sol invadem o apartamento e eu
percebo que meu dia de treino foi oficialmente arruinado quando noto que
já são sete horas.
— Eu vou correr, honey — digo para Ben. — Se o Oliver aparecer,
arranque as bolas dele bem devagar.
Ben late, em concordância.
Eu coloco meus tênis e dou uma olhada na sala antes de sair. Tenho a
impressão incômoda de que esqueci de alguma coisa importante quando
acordei, mas ignoro.
Entro no elevador e encaro meu reflexo no espelho. Ajeito o cabelo
num rabo de cavalo, percebendo que a noite mal dormida no sofá cobrou
seu preço. Minha visão está um pouco turva, como se meu corpo ainda não
tivesse despertado por completo. Faço alguns exercícios de respiração e
saio pela portaria do prédio, satisfeita em sentir o calor do sol no meu
corpo.
Como se tivéssemos marcado algum encontro, Oliver está
estacionando na frente do meu prédio. Preciso de uma quantidade
gigantesca de autocontrole para não subir lá em cima, pegar uma faca e
furar os pneus dessa moto maldita.
— Onde você estava? — pergunto, mas não estou interessada na
resposta, não de verdade. Na situação em que estamos, eu ficaria irritada
por perder um treino mesmo que ele dissesse que tinha ido alimentar
animais em situação de rua.
— Foi mal — ele responde, mas não parece mesmo arrependido. —
Foi uma noite longa e cheia de imprevistos.
— Que tipo de imprevisto faz você perder um treino?
Oliver morde o lábio. Ele tira o celular do bolso e dá uma olhada no
relógio, só então percebendo que as cinco horas da manhã já se foram faz
tempo.
— Você não leva nada a sério — resmungo, me virando na direção da
rua que leva ao Holland Park. É um dos meus parques favoritos em Londres
e tenho certeza que algumas horas entre as árvores vai tirar a minha vontade
de assassinar o homem na minha frente.
Eu não espero que Oliver venha atrás de mim, mas ele vem.
— Foi mal mesmo — repete, como se adiantasse de algo. O fato dele
desconhecer a palavra desculpa me deixa ainda mais irritada. — Acho que
as coisas saíram de controle.
Ignoro seu comentário e acelero o passo. Ele aumenta a velocidade da
sua moto, dirigindo próximo ao meio fio para tentar me acompanhar.
— A gente pode treinar o dobro amanhã.
— Não é assim que as coisas funcionam — reclamo. — Nossos
músculos também precisam de tempo pra descansar.
Oliver assente. Nós passamos por vários quarteirões enquanto ele
tenta me acompanhar. Nossa dupla inusitada — ele na moto, eu a pé —
atrai o olhar de algumas pessoas.
— Ainda acho que não é o fim do mundo. Mulligan disse que
estamos melhorando.
— Não é o fim do mundo porque você não quer ganhar — eu
continuo aumentando o passo e estranho o fato do meu corpo parecer tão
cansado. Foi a dose de gin ontem? Eu costumo correr vários quilômetros
antes dos meus pulmões começarem a reclamar. — A patinação nunca vai
ser uma prioridade pra você. Não acredito que foi correr antes de um treino
importante.
— Eu não estava correndo ontem. Já disse que tive um imprevisto.
— É mesmo? Quem morreu? — reviro os olhos. — Nenhum
imprevisto no mundo é mais importante do que um treino quando estamos a
quase duas semanas das olimpíadas, Oliver!
— Caralho — ele solta um sussurro. Seu tom de voz é rouco e
cansado, talvez pela noite que passou em claro na farra. — Você é
igualzinha a sua mãe.
Eu paro de correr. Quase consigo sentir meu sangue borbulhando nas
veias.
— Eu sou igual a minha mãe?
— São obcecadas por patinação porque não tem mais nada na vida.
Sinto meus olhos arderem. Minha visão se torna mais turva e eu
respiro fundo mais uma vez.
— E o que você tem? Arruinou a própria carreira por falta de
inteligência emocional. Você devia ter me agradecido quando te chamei pra
patinarmos juntos. Eu te salvei da obscuridade de ser eternamente o
nepobaby que foi expulso do time do papai. Honestamente? Eu fui burra de
achar que você aproveitaria a oportunidade e levaria essa merda a sério —
por um segundo, ele parece chocado em me ver soltando um palavrão. —
Se não tivesse perdido a aposta você nem estaria aqui.
— Eu não perdi a aposta.
Arqueio uma das sobrancelhas. Quero voltar a correr, mas minha
respiração está estranha. Minhas pernas começaram a formigar.
— Você perdeu a corrida naquela noite.
Oliver deixa uma risada irônica escapar.
— Acreditou mesmo nisso? — ele balança a cabeça em negativa. —
Em nenhum momento você pensou que era estranho que o vencedor invicto
tivesse perdido uma corrida logo quando tantas coisas estavam em jogo?
Acorda, Gracie. Você não é a única que manipula as pessoas por aqui.
Eu demoro um segundo para entender o que ele está dizendo. Melhor
que isso, o que ele está confessando.
— Você…
— Perdi de propósito.
Não sei o que fazer com essa informação. A ponta dos meus dedos
está gelada e minha cabeça parece leve, como se eu tivesse tomado várias
doses seguidas de gin. Passo os olhos no relógio digital no meu pulso e
percebo que ele aponta batidas cardíacas acima do normal.
Minha visão se turva um pouco mais. Meu raciocínio é lento, mas
consigo entender, finalmente, que esqueci de tomar minha dose de insulina
antes de sair de casa. Oliver me encara. Acho que ele percebe que tem
alguma coisa de errado, porque estaciona a moto de qualquer jeito e desce
para me examinar mais de perto.
Minha boca fica seca.
— Esqueci de… — é como se as palavras estivessem na ponta da
minha língua, mas eu não sei ao certo como pronunciá-las. — Insulina.
Com o gin de ontem à noite e as frutas que comi no café da manhã,
minha glicemia deve ter ido parar no teto. Eu tento sugerir que Oliver me
leve de volta pra casa, mas não tenho certeza se eu conseguiria me segurar
na moto. Ao invés disso, ele apoia as mãos na minha cintura e me leva até o
meio-fio, dando apoio para que eu me sente.
Não sei se perco a consciência em algum momento, mas os instantes
seguintes passam como um borrão. Eu perco Oliver de vista por um
segundo e quando os meus olhos o localizam de novo, tem uma caneta de
insulina nas mãos. Eu não entendo. Talvez eu esteja alucinando, mas estou
certa de que estamos longe demais do apartamento para que ele tenha ido
até lá em segundos.
Oliver se senta do meu lado no meio-fio. Eu ofereço um dos braços
na sua direção e não preciso fazer mais nada, porque ele sabe exatamente
como tenho o costume de aplicar. Sinto a caneta picar minha pele enquanto
me pergunto quanto Oliver Fisher tem me observado nos últimos dias.
Demora alguns minutos, mas minha visão volta ao normal. Ainda me
sinto um pouco fraca, como se estivesse prestes a desmaiar a qualquer
momento, mas minha respiração se normaliza. Meu coração continua
batendo forte, então não me levanto.
Eu me viro pra Oliver. Observo cada centímetro do seu rosto, dos
olhos escuros até o maxilar marcado. Por alguns minutos, estou disposta a
ignorar a raiva que ainda estou sentindo.
— Você tinha uma caneta de insulina no bagageiro da sua moto?
— Também tenho no carro.
— Por quê?
— É um costume, desde que aprendi a dirigir. Sempre tenho algumas.
Nós passávamos muito tempo juntos em Guildford quando éramos mais
novos… Eu não queria correr o risco de ter uma emergência sem estar
preparado.
Não sei o que responder. Tenho milhares de perguntas, algumas mais
burocráticas que outras. Não sei se meu choque é maior por saber que ele
comprou canetas de insulina pra mim ao longo dos anos ou porque ele
perdeu a corrida de propósito.
— Por quê? — Devo estar parecendo uma idiota fazendo a mesma
pergunta um milhão de vezes, mas é tudo que escapa da minha boca.
— Porque eu me preocupo com você, desgracie. E odeio ver você
sofrendo por qualquer motivo que seja — ele diz, então se levanta do meio-
fio, me oferecendo uma das mãos como apoio. — Mas se falar sobre isso
mais tarde, vou fingir que você estava alucinando.
NEWS: O beijo no jardim
O beijo no jardim
Aconteceu na última quarta-feira (10) a festa de integração para os
atletas olímpicos da Grã-Bretanha. O evento, que é muito aguardado, serve
como uma oportunidade para os nossos atletas conhecerem e se
familiarizarem uns com os outros, tudo em nome de mostrar uma frente
unida representando o nosso país. Como é de conhecimento geral, nessa
festa não é permitido tirar fotos, muito menos gravar vídeos. Ainda assim,
nosso compromisso com a verdade mantém toda a equipe do EstherNews
atenta para captar o menor cheiro de notícias. E não voltamos de mãos
vazias dessa festa.
Obviamente, o casal mais aguardado do ano não demorou a
aparecer. Usando um vestido rosa claro com mangas bufantes, Gracie
Salmon (20) entrou ao lado de Oliver Fisher (22), também impecável no
seu smoking sob medida, evidenciando os músculos bem definidos. O casal
chama a atenção pelo belo par que formam, mas há muito por trás dessa
dupla além da aparência deslumbrante. Durante algumas conversas entre
os patinadores, um dos nossos jornalistas ouviu cochichos de que o novo
casal talvez seja mais do que apenas parceiros no rinque. Durante uma
escapada para os jardins, nossa equipe flagrou o momento onde os dois se
beijaram com uma intimidade que indica que aquele é um gesto comum
entre eles.
O que esse beijo revela? Será que teremos um novo casal de
namorados no gelo? Será que é um sinal de que Gracie já superou Pierre
menos de um mês depois do término? O EstherNews tentou entrar em
contato com os agentes dos atletas, mas não conseguiu informação
relevante. Uma das agentes disse à nossa equipe: “A vida pessoal do meu
agenciado não lhe diz respeito”. Essa foi uma resposta que julgamos
desnecessária, especialmente para alguém que acabou de abrir uma
empresa.
Seguimos na cobertura dessas e de outras notícias e mais ansiosos do
que nunca para ver os pombinhos nas Olimpíadas de Paris.
Sexta-feira, 12 de julho de 2024
CAPÍT ULO 24 - OLIVER FISHER
Minha relação com Gracie Salmon sempre foi estranha, mas ela
atingiu um outro nível de esquisitice depois que eu assumi que perdi a nossa
aposta de propósito. Enquanto Gracie já tentou engatar uma conversa sobre
esse assunto várias vezes nos últimos dias, eu estou evitando ao máximo
falar com ela mais do que o necessário. Não tem sido uma tarefa muito
difícil porque, embora Gracie esteja grata pelas insulinas, ela ainda não
esqueceu que eu perdi um treino importante.
Eu poderia ter contado que fiquei a noite inteira no hospital com Tyler
e que os médicos pediram centenas de exames para garantir que o seu
tornozelo estava mesmo bem quando perceberam que se tratava de um
atleta da NHL. Eu não contei. Se ela acha que sou um babaca irresponsável
que larga sua mão na primeira oportunidade, vou mostrar quão babaca
irresponsável eu posso ser.
Embora nenhum de nós tenha dito em voz alta, sinto que estamos
muito perto de começar uma guerra.
— Vou no cinema hoje. — Gracie aparece na porta do meu quarto,
dentro de um vestido muito curto que não deixa quase nada pra imaginação.
É arrumado demais pra uma simples ida ao cinema. — Pode ser que eu
demore.
Franzo o cenho.
Não tenho certeza de que horas são, mas desconfio que sejam quase
seis da tarde. Nosso treino hoje não foi dos melhores e, embora Mrs.
Mulligan não tenha nos dado um esporro, a decepção estava visível no seu
rosto.
— Com quem? — eu pergunto.
Pode ser um pensamento escroto, mas sei que Gracie não tem muitas
amigas.
— Não é da sua conta — diz, ríspida. — Dá ração pro Ben, por favor.
Eu afundo o corpo no colchão enquanto ouço o barulho dos seus
saltos altos se afastando do meu quarto. Tento não me importar com o que
ela pode estar planejando fazer, mas a ideia de imaginar Gracie em um
encontro me deixa mais irritado do que eu gostaria de assumir em voz alta.
Ela vai… Sair com outro cara? Eu respiro fundo. Sei que não é da
minha conta, mas, ao mesmo tempo, passei a vida inteira vendo a Gracie
com outro cara e, honestamente, acho que prefiro levar uma facada do que
passar por isso de novo.
Me levanto da cama.
Ela ainda está na sala quando eu chego.
— É um encontro?
Gracie passa os dedos pelo cabelo, ajeitando as pontas. Ela pega sua
bolsa no sofá e dá um longo suspiro.
— Já disse que não é da sua conta.
— Sim ou não?
Gracie morde o lábio. Me analisa por alguns segundos, mas dá uma
resposta honesta.
— Sim.
— Com quem?
— Um cara do Tinder — ela diz, dando de ombros —, mas Oliver…
— Você não pode ir em um encontro.
Gracie me encara, incrédula.
— E eu posso saber por quê?
Porque eu não quero.
Não tenho uma justificativa boa o suficiente, então invento uma:
— Isso tiraria seu foco das olimpíadas.
Mas o que eu quero dizer é: isso tiraria o seu foco de mim.
Gracie ri.
— Não é você que diz que eu preciso ter uma vida fora da patinação?
— Não era nisso que eu estava pensando quando falei…
— Tchau, Oliver — ela corta.
Gracie ameaça se virar na direção da porta, mas eu seguro seu pulso
um segundo antes que ela se afaste.
— Cancela.
Ela desce os olhos até minha mão, irritada.
— Cancela o encontro — peço.
Sei que estou sendo ridículo, mas, no fundo, meu pedido até que é
razoável. Não estava mentindo quando disse que um encontro tão perto das
olimpíadas poderia tirar o seu foco das medalhas de ouro. Aliás, quem é
esse Cara-do-Tinder? Em silêncio, minha mente começa a traçar um milhão
de possibilidades, mas não tenho muitos suspeitos. Além do Pierre, de que
tipo de homem a Gracie gosta?
Em quem eu tenho que bater?
— Deixa de maluquice. — Ela balança as mãos, se livrando do meu
toque.
— Você precisa focar no treino.
— Eu estou focando nos treinos, muito mais do que você, Fisher. —
Ela confere alguma coisa dentro da sua bolsa, então um sorriso toma conta
dos seus lábios, como se uma pequena luz tivesse se acendido na sua
cabeça. — Espera… Você tá com ciúmes?
— Não. — eu reviro os olhos. — Estou preocupado com a nossa
medalha de ouro.
Gracie bufa, descrente.
— Até parece. O meu Uber chegou, então, boa noite pra você. E não
traga uma mulher aqui pra casa ou eu vou te colocar pra dormir na rua de
novo.
Eu aperto meus dedos quando ela desaparece dentro do elevador, seu
perfume floral tomando conta de toda a sala mesmo quando sua presença
não está mais aqui. Não consigo acreditar que Gracie jogou uma regra de
não envolvimento sexual na minha cara e agora vai sair com outro. Como
ela… Argh. Maldita.
Uma ideia passa pela minha cabeça quando Ben late, quase como se
estivesse fazendo uma sugestão. Passo os olhos por ele, depois pelo
elevador que acabou de sair daqui e me dirijo para as escadas de
emergência, descendo os degraus de dois em dois. Estou correndo o risco de
ganhar uma fratura, mas acho que consigo chegar na garagem antes do
elevador deixar a Gracie na portaria.
Observo o pilotis assim que abro a porta das escadas. Pela quantidade
de vezes que estacionei a minha moto nas últimas semanas, aprendi a
conhecer esse lugar como ninguém. Se eu não estiver errado, o quadro
elétrico do prédio fica na parede atrás do bicicletário.
Abro um sorriso de vitória quando o encontro. Pode ser que as
câmeras da portaria me vejam aqui, mas se eu tiver que pagar uma multa
por ter desligado os elevadores do prédio, que seja. Assim que abro a porta
de metal, percebo que os controles não são etiquetados.
Na dúvida, eu desligo todas as chaves.
Apesar do sol do lado de fora, a garagem se transforma em um breu.
Eu volto pelas escadas de emergência e subo até a portaria. Não
encontro ninguém na cabine do porteiro o que, em outras palavras, significa
que tirei a sorte grande.
Ouço batidas na porta do elevador.
— Mr. Quigley? — a voz de Gracie soa abafada por causa da
estrutura metálica entre nós. — Acho que aconteceu uma queda de energia.
— Que azar o seu, hein?
— Oliver? — Gracie bufa do outro lado, confusa. — Chama o
porteiro pra mim.
— Só quando você cancelar o encontro.
— O quê? — Ela demora um segundo para entender. — Oliver
Fisher! Foi você, não foi?
— Eu?
— Não acredito que me trancou no elevador.
— Você deu azar — respondo. — Quedas de energia acontecem o
tempo todo. Uma pena que eu não to vendo nenhum sinal do Mr. Quigley
por aqui, tenho certeza que ele poderia ajudar a gente a resolver…
— Cara de pau. — Ela bate na estrutura metálica mais uma vez.
— Vamos lá, desgracie. Cancela o encontro e eu te tiro daí em dois
minutos.
— Eu vou ligar pros bombeiros.
— Tenho certeza que os bombeiros têm situações mais urgentes pra
resolver.
— Quando eu sair daqui, eu juro que você vai precisar de pontos.
Eu respondo com uma risada despreocupada que parece deixar Gracie
ainda mais puta. Depois de alguns minutos, o porteiro aparece.
— Aconteceu uma queda de energia? — ele pergunta. Está com um
brinquedo de criança molhado em mãos, o que me faz pensar que estava
fazendo um resgate na área das piscinas.
— Sim — digo. — Minha colega de apartamento ficou presa no
elevador.
— Ele me trancou aqui!
— Ela tá brincando. — Forço um sorriso. — Você é tão engraçada,
Gracie.
— Eu vou ligar pra companhia de energia — Mr. Quigley diz, com
um sorriso simpático. Ele caiu na minha. — Infelizmente eles costumam
demorar algumas horas pra resolver problemas elétricos nessa área. Se
quiser se sentar, senhorita Salmon…
Gracie solta um suspiro frustrado. O porteiro se afasta e eu dou mais
um sorriso satisfeito ao perceber que ele não pensou em checar os quadros
de energia, o que me dá mais algumas horas de vantagem.
— E aí? — pergunto. — O que vai ser?
CAPÍT ULO 25 - GRACIE SALMON
Ficar alegre não estava nos meus planos, mas tem uma lista de coisas
que me obrigam a beber no momento. Primeiro, os dedos ensanguentados
de Vincent. Ok, não é sangue o suficiente para manchar o meu tapete, mas
tenho agonia de ficar vendo as manchas vermelhas aumentarem cada vez
que Oliver passa a máquina de tatuagem. Segundo, o jantar me deixou
tensa. Racionalmente falando, sei que eu e Oliver temos poucas chances de
vencer as olimpíadas. Também sei que Pierre e Kate não estão em uma
situação muito diferente. Mesmo assim, meu lado otimista gostaria que as
coisas acontecessem como num filme: eu e meu melhor amigo — inimigo
— de infância nos reencontramos depois de anos e temos uma química tão
impressionante dentro dos rinques que os jurados não tem outra opção
senão nos entregar o ouro. Eu sei. Um típico conto de fadas. Terceiro, não
sei o que deu em mim. Depois de tantos anos mentindo pra mim mesma,
pareceu boa ideia declarar meus sentimentos conturbados para Oliver
Fisher, assim, sem nenhum preparo, no elevador do nosso apartamento.
Tudo bem, não foi bem uma declaração, mas ele não disse nada em
resposta.
Você assustou ele, desgracie.
A vozinha no fundo da minha cabeça meio que tem razão. Se eu tiver
uma filha um dia, vou ensiná-la que não deve ser tão sincera. Se for se
declarar pra um homem, evite contar as partes constrangedoras. Não fale
que passou anos da sua vida stalkeando todas as redes sociais dele ou que
pensava nele mesmo quando tinha um relacionamento perfeito. Perfeito?
Perfeito. Tá bom.
Nada disso vai adiantar. Sinto pena da minha filha — que não existe
— desde agora, porque tenho certeza que Nora Salmon, algum dia, gastou
várias horas do seu tempo para dizer a uma pequena Gracie que não deveria
se humilhar pelos homens. Malditos.
Eu bebo mais um gole de gin no meu copo. Acho que meu corpo teria
altas chances de entrar em colapso caso eu decidisse me esbaldar de whisky.
Oliver termina a tatuagem nos dedos de Vincent e, por mais bizarro que seja
o resultado, o loiro parece muito satisfeito com ele.
— Dá pra dizer que é conceitual — eu comento, vendo o traço um
pouco trêmulo ao longo dos dedos. Ao menos os desenhos são
reconhecíveis: uma cobra, uma cruz, o nome da sua falecida banda.
Oliver pode ter feito um trabalho ruim, mas, com toda certeza, podia
ser pior.
— Ficou fantástico — Vincent observa, e tenho a impressão que
absolutamente nada no mundo seria capaz de deixá-lo de mau humor. —
Sinto muito por atrapalhar a rotina de vocês.
— Não sente nada — Oliver zomba.
Tenho certeza que ele está feliz por não ter que ficar sozinho comigo
depois do que eu falei no elevador.
Vincent se levanta.
— Então eu já…
— Não — eu corto Vincent, porque agora não sei se eu quero ficar
sozinha com o Oliver. — Fica mais um pouco. Nós podemos aproveitar que
estamos bebendo e jogar quem é mais provável.
Sério, o que aconteceu comigo nas últimas cinco horas? Acho que
perdi toda a minha capacidade de manejo social.
— Você amava esse jogo quando era adolescente — Oliver lembra.
— Sim — movo a cabeça em afirmativa. — Sou uma vencedora
invicta.
— O que, em outras palavras, significa que é uma careta.
Vincent ri do comentário de Oliver, se sentando de novo. Eu me
levanto e pego os copos de shot no bar, enchendo dois com whisky e um
com gin. Vincent arqueia uma sobrancelha, mas Oliver não diz nada,
provavelmente por causa da minha condição. Coloco os três copos na
mesinha de centro e ligo minha playlist na Alexa pelo celular.
— Vai, Vincent. Você começa.
Vincent esfrega as mãos cheias de plástico, pensativo. Por incrível
que pareça, ele começa com uma pergunta leve.
— Quem é mais provável de matar o seu parceiro de patinação?
Oliver e Vincent apontam pra mim. Reviro os olhos e me dou por
derrotada, apontando para mim mesma também. Bebo o shot de gin e me
concentro para fazer uma pergunta.
— Quem é mais provável de ir pra cadeia?
Dessa vez, Vincent aponta pra Oliver e Oliver aponta pra Vincent, o
que significa que eu preciso desempatar.
— Eu teria que ver a ficha criminal de vocês antes de responder essa
pergunta, então os dois bebem — digo, arrancando uma risada irônica de
Oliver.
Ele não perde a oportunidade de me provocar na sua vez de fazer a
pergunta.
— Quem é mais provável de fingir um orgasmo?
Oliver sabe que eu fingia com Pierre. Não que eu tenha falado
diretamente, mas algumas coisas são óbvias. Um relacionamento não dura
oito anos se você diz na cara do seu namorado que ele fode mal.
Vincent aponta pra mim.
— Ei! — protesto.
— Mulheres sempre fingem — diz, simples. — Homens são uns
merdas que não sabem transar direito.
Oliver concorda. Eu encho meu copo de gin e bebo de novo.
— Quem é mais provável… — dou uma pausa, considerando o que
perguntar. De repente, tenho a ideia perfeita. — De fazer sexo em público.
Os lábios de Oliver se erguem suavemente. Sei que ele está pensando
no que fizemos no estúdio de dança, mas, depois de alguns segundos,
aponta para Vincent. Eu sigo seu movimento.
— Acho que já gabaritei Londres inteira — ele assume. —
Principalmente os camarins de boates.
— Isso é suficiente pra dizer que a ficha criminal dele é maior que a
minha — Oliver alfineta.
— Atentado ao pudor nem é crime de verdade.
— É claro que é!
— Vamos lá — Vincent vira o seu shot. — Eu não ia fazer perguntas
desse tipo, mas já que vocês baixaram o nível… — Ele abre um sorriso
malicioso, e eu tenho medo do que pode vir a seguir. — Quem é mais
provável de fazer um ménage?
Eu deixo uma risada nervosa escapar. Oliver passa os olhos por mim
e, de novo, tenho aquela sensação estranha do jantar, quando me dei conta
de que não fazia ideia do que ele estava pensando.
— Qualquer pessoa, menos a Gracie.
O seu tom me irrita.
Ele me acha careta? Vou mostrar quem é careta.
— Eu faria — solto, sem hesitar.
Oliver franze o cenho.
— Vocês dois seriam boas opções — acrescento.
Vincent balança a cabeça em negativa.
— Quanto você bebeu?
— Ainda estou em pleno domínio das minhas faculdades mentais —
respondo, e é verdade. Apesar dos shots de gin, sempre paro de beber
quando começo a sentir os efeitos do álcool. — A proposta é séria.
— De jeito nenhum — Oliver responde.
— Quem está sendo careta agora? — reclamo.
Os olhos de Oliver estão mais escuros que o normal. Sinto que ele
está puto comigo e saber que o feitiço se virou contra o feiticeiro tem um
gostinho de vitória.
— Vai recusar um ménage? — Vincent pergunta, num tom
zombeteiro e descrente.
— Você vai, Oliver?
Eu me arrasto pelo sofá, sentando ao lado de Vincent. O jogador não
responde, mas acompanha cada movimento meu como se estivesse perto de
explodir. Não sei dizer se ele está com raiva ou com tesão. Talvez um pouco
dos dois.
Subo uma das mãos até o pescoço de Vincent e aproximo meu rosto
do dele. Tenho certeza que vejo o ódio preencher a expressão de Oliver
quando, sem fazer cerimônia alguma, Vincent me beija. O gosto de whisky
me invade, se mistura com o gin e eu me sinto inebriada pelo cheiro forte
do seu perfume, mas nossas línguas mal têm tempo de se conhecerem antes
que Oliver nos interrompa.
— Chega! — É tudo que ele diz, suas mãos apoiadas na minha
cintura enquanto me arrasta até o outro lado do sofá. É delicado o suficiente
para não me machucar, mas firme o bastante para eu saber que ele está puto.
— Cai fora, Vincent. Deu sua hora.
Eu observo a boca de Vincent, a marca do meu batom borrado no
canto esquerdo do seu lábio inferior. Tanto eu quanto ele achamos graça da
situação, mas Oliver mantém sua postura séria.
— Viu? — Vincent se levanta, erguendo os braços em sinal de
rendição. Ele tem amor o suficiente aos seus ossos para não arranjar briga
com Oliver. — Vocês são um casal divorciado.
Eu rio do seu comentário, levando mais um pouco de gin até os
lábios. Oliver não responde. Ele apoia uma das mãos nos ombros de
Vincent de uma forma nada amigável e o conduz até o elevador,
resmungando alguma coisa que eu não consigo ouvir. Vincent continua
achando graça e eu tenho a impressão que meu parceiro está muito perto de
quebrar o nariz dele, mas, felizmente, o elevador chega no apartamento
antes que ele possa fazer isso.
Eu me levanto do sofá, observando as portas se fecharem.
Seguro a vontade de repetir que ele está sendo careta. Nem sei se eu
realmente queria fazer um ménage, mas tem alguma coisa no fato de tirá-lo
do sério que me deixa muito satisfeita. Talvez eu esteja tentando provar —
pra Oliver ou pra mim mesma — que não sou uma maluca. E que os meus
comentários no elevador não mudam em nada a nossa relação.
— O que foi? — me divirto ao perguntar. — Quem te tirou do sério,
Fisher?
Oliver bufa, deixando uma risada sarcástica escapar. Normalmente, é
ele quem me deixa irritada. Pela primeira vez no jogo implícito entre nós,
estou em vantagem.
— Você, desgracie.
— Eu? Sou só uma mulher solteira colocando a minha solteirice em
prática.
Oliver move a cabeça em negativa.
— Não beija outro cara na minha frente.
— É só fechar os olhos.
Ele morde o lábio inferior como se precisasse descontar sua raiva em
algum lugar. Seus punhos estão cerrados, sua respiração é pesada. Quase
consigo ver o sangue correndo por suas veias num ritmo acelerado.
— Por que você se importa? — pergunto, finalmente. — E não ouse
me devolver o questionamento. As coisas entre nós eram mais simples
quando nossos sentimentos eram óbvios.
— Nunca foram óbvios.
— Você pintou o meu cachorro de verde limão quando eu tinha
quinze anos.
— Então agora você quer discutir coisas que aconteceram anos
atrás…
— Você me odeia — solto, com todas as letras. — E eu odeio você.
Não é isso? Sempre foi isso.
Do outro lado da sala, Oliver me encara. Tenho a impressão que o
mundo ao nosso redor está em câmera lenta, esperando uma resposta. Eu só
preciso que ele diga sim. Que me confirme que ainda nos odiamos, que
nada mudou entre nós desde o dia que começamos a patinar. Que vamos pra
Paris, vamos ganhar uma medalha e nunca mais olhar na cara um do outro
exceto pelos eventos na casa dos Fisher e dos Salmon. É o que eu preciso
que ele diga, mas ele não diz.
— Responda — peço, e meu tom é praticamente uma súplica.
Tudo que eu preciso é de alguma certeza, mas o que Oliver tem a me
oferecer é tempestade.
Ele não diz nada. Ignora por completo o meu pedido e caminha na
minha direção. De um segundo para o outro, esse apartamento se torna
muito grande, porque sinto que uma eternidade de anos passam do
momento em que ele dá o primeiro passo até o momento em que ele me
alcança.
Oliver continua em silêncio. Suas mãos seguram meu rosto e eu não
tenho tempo de assimilar seu toque, porque sua boca se choca contra a
minha um segundo depois. Eu consigo sentir sua raiva na forma como sua
língua se move violentamente, explorando cada centímetro da minha boca.
Não sei se essa é a resposta que eu estava procurando, mas meu corpo
inteiro reage como um fósforo acendendo.
Minhas mãos encontram seu peito e por um segundo eu considero
empurrá-lo, mas, em vez disso, eu aperto os dedos contra a borda da sua
camisa e puxo seu corpo para mais perto, desejando sentir cada parte dele.
Seus dedos deslizam até o meu cabelo e ele segura os fios com força
enquanto aprofunda o beijo, como se essa fosse uma tentativa de se fundir a
mim. Meu coração dispara e eu tenho a sensação terrível de que ele pode
escapar da caixa torácica a qualquer momento.
Meu corpo inteiro se arrepia. Cada toque das suas mãos acende uma
nova chama em lugares dentro de mim que eu sequer sabia que eram
passíveis de calor. Um gemido escapa da minha boca quando ele solta meu
cabelo e sua mão desce até o meu pescoço, apertando minha garganta como
se os seus dedos fossem uma coleira. Não sei se estamos nos beijando ou
começando uma briga, mas minhas barreiras derretem mais um pouco
quando ele morde meu lábio inferior com força, me fazendo pulsar.
Sem tirar a mão do meu pescoço, ele se afasta apenas o suficiente
para me olhar nos olhos e a intensidade nas suas orbes escuras me deixa
perdida. Oliver não diz nada, mas sua mão livre desliza pelo meu corpo até
alcançar a borda do meu casaco. Ele brinca com o zíper, descendo-o para
baixo e para cima enquanto me olha, esperando que eu afaste seu corpo ou
me renda de uma vez por todas. Minha resposta é um pequeno acenar de
cabeça, um que ele nem notaria se não estivesse tão focado nos meus
movimentos.
Oliver termina de descer o zíper, tirando meu casaco devagar, como
se quisesse me dar tempo para mudar de ideia. Com um movimento hábil,
ele puxa a blusa pela minha cabeça e a deixa despencar até o tapete,
chamando atenção de Ben, que late.
Eu encaro meu cachorro pulando ao redor da blusa, curioso,
provavelmente pensando que se trata de um novo brinquedo. Dou uma
risada nervosa.
— Não dá pra fazer esse tipo de coisa na frente do meu filho —
murmuro.
Oliver acha graça do meu comentário. Por um segundo, o clima tenso
entre nós se dissipa, mas ainda estou sentindo sua mordida no meu lábio
inferior.
— No seu quarto ou no meu?
— Me surpreenda.
Oliver assente, suas mãos voltam a contornar minha cintura e ele tira
os meus pés do chão, arrancando um suspiro assustado da minha garganta.
Meus braços envolvem o seu pescoço e, com a mesma facilidade que tem
nos treinos, ele me carrega até o meu quarto, fechando a porta atrás de nós.
O baque da madeira contra o batente me traz de volta para realidade e
minha mente analítica me força a pensar nas consequências do que estou
prestes a fazer, mas, pela primeira vez, eu não me importo.
Oliver me deita na cama e minha pele arrepia diante do toque frio dos
lençóis de seda. Antes que meu lado racional ameace estragar minha noite,
eu apoio os dedos no seu queixo e puxo seu rosto para perto do meu,
avançando na sua boca em um beijo ainda mais urgente que antes. Suas
mãos descem até meus seios e seus dedos provocam os mamilos através do
tecido fino do sutiã. Meu corpo se arqueia contra ele e um gemido escapa
dos meus lábios enquanto ele aperta e massageia, seus polegares circulando
toda área até que meus bicos estejam duros e sensíveis.
Oliver desliza uma das mãos até a parte de trás do meu sutiã e, com
um movimento rápido, ele desabotoa a peça, livrando-se da lingerie em
algum canto do quarto. Seus lábios descem até o meu pescoço e formam
uma trilha de beijos e mordidas até a minha clavícula. Seus movimentos
lentos me deixam ansiosa e um gemido alto escapa da minha garganta
quando sua língua toca meu mamilo, o contraste entre minha pele quente e
o seu piercing gelado me fazendo arquejar.
Sua outra mão se move lentamente pelo meu corpo, descendo pela
minha barriga, explorando cada curva da minha pele até chegar na minha
saia. Ele puxa o tecido pelas minhas pernas e me observa seminua por
tempo demais, como se seus olhos pudessem tirar uma fotografia que
ficaria eternamente presa nos fundos do seu cérebro. Minhas pernas
envolvem seu quadril e eu o puxo para mais perto, alcançando seu tronco
com as mãos e finalmente me livrando da sua camisa dos Owls.
Dessa vez eu não preciso me preocupar em parecer discreta. Meus
dedos traçam linhas imaginárias em cima das tatuagens do seu peito
enquanto meus olhos percorrem cada centímetro do seu abdômen definido.
Consigo sentir minha boceta encharcada melar todo o tecido da minha
calcinha e isso só se intensifica quando Oliver volta a me beijar.
Suas mãos descem pelas minhas coxas e ele brinca com o elástico da
lingerie antes de deslizar a peça para baixo, expondo minha intimidade.
Seus dedos contornam minha pele e, descaradamente, ele evita o centro das
minhas pernas, me provocando.
— Onde você guarda aquele maldito vibrador, desgracie? — ele
pergunta, e até mesmo aquele apelido infame parece sexy agora. Eu aponto
para o armário com a cabeça, lembrando de todas as vezes que o deixei
intencionalmente perdido pela casa nas últimas semanas.
É inegável dizer que o feitiço virou contra o feiticeiro.
Oliver sai da cama e abre a porta, encontrando o meu brinquedinho
rosa. Mesmo sendo de borracha, ele foi um dos grandes pilares do meu
relacionamento com Pierre. Eu engulo uma risada. Talvez eu tenha acertado
em alguma coisa na vida, porque sei que, pelo menos, não vou sair dessa
foda sem gozar.
Oliver se ajoelha entre minhas pernas, suas mãos firmes nas minhas
coxas. Ele se inclina para frente, beijando e mordendo minha barriga,
marcando cada centímetro da minha pele como se fosse sua por direito. Um
arrepio percorre meu corpo quando ele posiciona o vibrador na minha
entrada, observando cada reação minha.
Ele começa com um movimento lento, deslizando a ponta do vibrador
para dentro. Meu corpo se contorce diante do contato, meus quadris se
movendo para encontrar o brinquedo, buscando mais fricção.
Oliver balança a cabeça em negativa, como se me repreendesse.
— Você tá molhada e ansiosa demais pra alguém que não queria
transar comigo.
Sinto vontade de xingá-lo, mas ele liga o vibrador dentro de mim e eu
perco um pouco mais da minha sanidade.
— Agora você quer?
Antes que eu responda, Oliver se abaixa e sua língua encontra o meu
clitóris, percorrendo-o devagar. Um gemido alto escapa pela minha
garganta, meu corpo arqueando diante da sensação intensa e imediata. O
piercing, sua língua habilidosa deslizando pela minha intimidade, o
vibrador na minha boceta. São tantos estímulos ao mesmo tempo que eu
sinto minha cabeça pesar.
Como se não fosse o bastante, uma das mãos de Oliver sobem até os
meus seios e ele volta a brincar com meus bicos duros, beliscando-os. Eu
me sinto tão excitada que meu clitóris dói. Sua língua aumenta a pressão,
alternando movimentos rápidos e lentos enquanto seus dedos apertam meus
mamilos com mais força, puxando e torcendo, intensificando ainda mais o
meu tesão.
— Responda a pergunta, Gracie.
Ele aumenta a velocidade do vibrador e eu me sinto ainda mais
desnorteada. Sua língua percorre a parte interior das minhas coxas, sobe até
os meus grandes lábios e volta a se concentrar na minha boceta, fazendo
suas palavras perderem a importância. Meu cérebro esqueceu como formar
frases.
Oliver avança com o vibrador, me preenchendo um pouco mais.
Minhas pernas estão moles e eu sinto o orgasmo se aproximando quando ele
aumenta a velocidade mais uma vez, me deixando zonza.
Tenho certeza que estou há poucos segundos de gozar quando Oliver
para. Ele tira o vibrador de dentro de mim e sua boca se afasta da minha
boceta, me deixando ainda mais necessitada de cada toque seu. Eu demoro
um segundo para conseguir elaborar uma reclamação, meus pensamentos
ainda aéreos. Um choramingo incompreensível escapa da minha garganta e
eu esfrego meus dedos pelo lençol, frustrada.
— Não acredito que fez isso.
— Você não respondeu a minha pergunta.
Uma risada irônica escapa da minha garganta. É óbvio que ele não me
deixaria escapar dessa situação com o meu orgulho intacto, ou ele não seria
Oliver Fisher.
— Isso é algum fetiche de humilhação?
É a vez de Oliver rir. Ele se inclina pra frente, seu hálito roçando a
pele sensível da minha coxa. Seu dedo traça linhas imaginárias na região,
provocando arrepios que percorrem meu corpo inteiro.
— Só quero deixar as coisas claras.
— Acho que uma parte de mim foi clara o suficiente.
— Pode ser — seus dedos descem até a minha intimidade molhada,
mas ele não me toca o suficiente para aliviar a pressão —, mas você não foi.
— Você também não — protesto.
Eu não preciso especificar do que estou falando. É a pergunta que
paira entre nós desde o momento que nos beijamos pela primeira vez: A
gente ainda se odeia?
Para minha frustração, Oliver não responde. Aparentemente, ele é o
único que pode fazer perguntas aqui. Se eu tivesse um pouquinho mais de
autopreservação, levantar e ir embora seria uma alternativa. Na verdade,
não posso fazer isso. Estou no meu quarto.
A ideia de ir embora é afastada completamente da minha cabeça
quando ele leva o vibrador até os lábios e lambe toda minha lubrificação da
superfície de borracha, seus olhos fixos nos meus. Tenho certeza que passo
pelo menos alguns segundos de boca aberta, sem ter certeza se o oxigênio
que entra no meu corpo está chegando nos meus pulmões. Minha
intimidade pulsa e eu percebo que é uma batalha perdida. Eu faria loucuras
pra esse homem me comer.
— Eu quero — respondo, finalmente.
— Seja mais especifica.
Ele coloca o vibrador dentro de mim mais uma vez, a sensação de ser
preenchida arranca um gemido da minha garganta. Oliver move o
brinquedo lentamente dentro de mim e eu sei que não vai me dar o que eu
quero até eu dar o que ele quer.
— Quero transar com você. Eu estava sendo orgulhosa quando disse
que não. — Ele liga o vibrador. Eu ergo os meus quadris contra o
brinquedo, numa tentativa desesperada de conseguir mais contato, então ele
desliga o aparelho. — Oliver, por favor… Me deixa gozar, inferno.
Oliver ri do meu desespero, um brilho malicioso nos olhos,
apreciando o controle que tem sobre mim. Ele inclina seu corpo sobre o
meu e seus lábios roçam minha orelha quando ele sussurra:
— Diga mais um vez.
Ele tira o vibrador dentro de mim e o enfia de novo, tão lentamente
que sinto vontade de gritar.
— Quero transar com você — eu repito, meu corpo ardendo em um
tesão que nunca senti antes. — Eu preciso, Oliver, por favor…
Oliver assente, finalmente satisfeito. Eu mal tenho tempo de respirar
antes que sua língua quente e ágil encontre meu clitóris. A sensação me faz
arquear as costas, um gemido profundo escapando dos meus lábios.
Ele liga o vibrador de novo e a combinação deixa todos os nervos do
meu corpo à flor da pele, como se eu estivesse perto de explodir. Minhas
mãos descem até o seu cabelo e eu puxo os fios escuros enquanto meus
quadris se movem contra sua boca, implorando por mais.
Seus dedos guiam o brinquedo para dentro e para fora de mim, me
deixando tonta de prazer. Sua língua se move ao redor do meu clitóris,
lambendo, sugando, me destruindo naqueles malditos lençóis de seda.
A pressão crescente ameaça me consumir. Eu puxo seu cabelo com
mais força e inclino a cabeça pra trás, perdida nas sensações. Meus quadris
se movem de forma frenética e ele aumenta a intensidade dos seus toques à
medida que os meus gemidos aumentam.
Eu gozo na sua boca. Meu corpo inteiro treme. Estou suada,
desnorteada, gemendo seu nome e implorando por mais enquanto Oliver
continua os movimentos, prolongando meu orgasmo até que meu corpo
esteja esgotado. Porra.
— Alguém que te odeia te faria gozar assim? — Oliver pergunta, no
auge da sua cara de pau.
Uma resposta que não responde nada.
Para a sorte do jogador, eu estou relaxada demais pra questionar.
— Vamos ter uma DR mais tarde — eu zombo, mas não sei quanto
disso é mentira.
Me levanto da cama e puxo Oliver na minha direção, um movimento
que só é possível porque ele se deixa ser levado. Ele é muito maior que eu,
em todos os sentidos, e volto a ficar melada quando penso no seu pau me
preenchendo. Meu plano é ir até o chuveiro da suíte, mas nos beijamos no
meio do quarto e tenho a impressão que vamos acabar com isso muito antes
de chegar lá.
Oliver me empurra contra a parede e nosso beijo se torna feroz, sem
nenhuma cerimônia. Sinto seu pau duro dentro da calça e desço uma das
mãos até os botões do jeans, focada em me livrar deles o quanto antes. Ele
se afasta por um momento, apenas o suficiente para arrancar sua última
peça de roupa e se livrar da cueca, o que me deixa… Impressionada. Oliver
não estava mentindo quando disse que seu pau era acima da média, mas ele
esqueceu de mencionar que também era grosso. Muito grosso.
— Se vira — Oliver ordena, e a excitação no meio das minhas pernas
faz parecer que não gozei há menos de cinco minutos atrás. Na verdade, é
como se eu não tivesse feito sexo pelos últimos dez anos de vida.
Eu obedeço sem hesitação, me virando e apoiando as mãos na parede.
Oliver se posiciona atrás de mim, suas mãos grandes segurando meus
quadris com força.
— Você aguenta tudo? — ele pergunta, a voz rouca me deixando com
mais tesão.
A resposta racional pra essa pergunta é não.
— Sim — sussurro. — O esporte me ensinou a ser resiliente.
Oliver ri da minha piadinha sem graça e por um momento eu sinto
que, ao contrário do que as pessoas dizem, nós temos sim alguma sincronia.
Antes que eu possa pensar muito nisso, ele se empurra pra dentro de mim,
me preenchendo por inteiro, com uma estocada dura e forte que quase me
deixa sem ar.
Minha entrada arde e eu sinto lágrimas de reflexo nublarem meus
olhos, mas até mesmo a dor é prazerosa. Ele se move rapidamente dentro de
mim e eu sinto que cada centímetro do meu corpo reage a ele, da ponta dos
pés ao topo da cabeça.
Oliver segura meus quadris com mais força, seus dedos cravando
minha pele enquanto ele acelera o ritmo um pouco mais. O som dos nossos
corpos se chocando ecoa pelo quarto, se mistura com nossos gemidos,
criando uma sinfonia só nossa. Eu sinto cada estocada profunda, cada
movimento desesperado e intenso.
Ele inclina seu corpo sobre o meu, sua respiração quente e ofegante
contra a minha orelha.
— Você é tão gostosa — ele murmura, sua voz um rosnado rouco. —
Tão apertada.
Tudo que eu consigo é gemer em resposta, minhas mãos tocando a
parede enquanto tento me equilibrar contra o seu ritmo implacável. Minha
mente é uma página em branco, preenchida apenas pela sensação do corpo
dele contra o meu, dentro de mim, cada movimento me levando mais perto
do limite.
Oliver puxa meu cabelo para trás, fazendo minhas costas arquearem.
Com meu pescoço exposto, sua boca encontra minha pele sensível,
mordendo e chupando enquanto se move dentro de mim. Eu rebolo contra
ele cada vez mais rápido, ansiosa por mais, desesperada por mais.
Eu não duro muito tempo. Meu corpo se contorce, cada músculo se
contraindo enquanto o orgasmo estremece meu corpo. Eu murmuro seu
nome enquanto Oliver continua a se mover dentro de mim, prolongando
meu prazer.
Ele goza logo depois. Seu corpo se tensiona contra mim enquanto eu
sinto sua porra quente me preencher, acompanhada de um gemido profundo
que escapa da sua boca. Oliver se move algumas vezes mais, sua respiração
irregular tocando meu pescoço. Ainda dentro de mim, ele para.
Nós dois ficamos aqui por um momento, ofegantes e suados até que
Oliver se afasta lentamente, seus dedos traçando padrões preguiçosos na
minha pele. Eu me viro, encarando-o, parte do meu corpo ainda trêmula.
Ele me puxa para mais perto, sua boca encontrando a minha em um beijo
possessivo.
Meus olhos encontram os seus quando ele se afasta. Eu tenho medo
de dizer qualquer coisa depois desse momento, porque sinto que estou
completamente entorpecida pela sua presença. Independente da pergunta,
agora, minha resposta seria sim.
Do outro lado da porta, Ben late, cruelmente nos arrancando da bolha
completamente distante da realidade onde estávamos inseridos.
— Acho que não coloquei a comida dele — murmuro.
— Eu vou colocar — Oliver diz, depositando um beijo na minha
bochecha. — Boa noite, Gracie.
Eu assinto em resposta e ele se afasta em definitivo, recuperando suas
roupas esquecidas no chão. Observo o jogador passar pela porta e a
hesitação toma conta de mim. Eu deveria chamá-lo para dormir aqui ou…
Não.
Foi emoção demais pra uma noite só.
Sem me preocupar em colocar roupas eu me deito na cama, esperando
que minha respiração se normalize. Uma pitada de preocupação toma o lado
racional do meu cérebro, só então reconhecendo o perigo.
Oliver Fisher faz eu me sentir como uma adolescente, em todos os
sentidos da palavra.
CAPÍT ULO 30 - OLIVER FISHER
∞∞∞
— Eu estou feliz com o resultado do treino de vocês — diz Ciara, se
aproximando de nós depois de gritar por horas as mesmas três palavras. —
Eu juro que, se não tivesse visto como estavam nos primeiros dias, não
acreditaria que estão juntos há tão pouco tempo.
Abro um sorriso. Uma das características de Mrs. Mulligan é não ter
freio na língua: da mesma forma que ela não se contém para criticar,
também solta elogios com extrema facilidade quando acredita neles. Para
quem cresceu sob a asa sombria de Nora Salmon, receber elogios depois de
uma prática parece algo de outro mundo.
— Acha que ele está bom para o programa, Mrs Mulligan? —
pergunto, um pouco receosa com a resposta. Não temos muito mais tempo
para treinar. — Podemos voltar durante a tarde para repassar mais vezes.
Pelo canto do olho, percebo Oliver me fuzilando com o olhar, mas
ignoro.
— Está ótimo, treinaram mais do que o suficiente. O corpo de vocês
já sabe como fazer o salchow mesmo de olhos fechados. — Ela cruza os
braços, um sorriso se espalhando pelo rosto bondoso e cheio de rugas. Acho
que se tivéssemos um pouco mais de intimidade, ela viria me abraçar. —
Além disso, tenho outros planos pra nossa tarde.
Olho para Oliver, curiosa, mas ela caminha para fora do rinque antes
de responder.
— Nós já terminamos todos os dois programas — Oliver diz, assim
que começamos a seguir a treinadora pela pista. — Falta alguma coisa?
Vejo o cabelo curto ruivo e grisalho se mover de um lado para o outro
enquanto ela continua se afastando sem olhar para trás.
— Não é treino. Treinamos tudo o que dava para treinar no tempo que
tínhamos. — Agora, quero que continuem trabalhando na sincronia entre
vocês. — Ela lança um olhar para nós, um sorriso brincalhão nos lábios. —
Mas quanto a isso, não preciso me preocupar. Dá pra ver que estão
trabalhando isso de uma forma muito efetiva, bem longe do gelo.
Ela solta uma risada como se tivesse feito a piada do ano.
Olho para Oliver, que também tem um olhar confuso no rosto.
— Como ela sabe? — sussurro para o meu parceiro, tomando o
cuidado para só ele ouvir, mas recebo apenas um erguer de ombros.
Não houve nenhum vazamento na mídia, nenhuma foto reveladora,
nenhuma cena nossa em público que pudesse afirmar que realmente existe
algo entre nós além do trabalho.
Será que ela deduziu pela nossa dinâmica no gelo?
— O que preparei para vocês hoje, é algo diferente — ela continua,
enquanto tira os patins ao sair do rinque. — Já treinamos o corpo, treinamos
a sincronia, agora precisamos trabalhar a imagem. Mas só vamos fazer isso
depois que estivermos com a barriga cheia.
Desisto de tentar descobrir o que ela está falando e me limito a segui-
la enquanto caminha para um dos restaurantes próximos à pista de gelo.
Durante a refeição, minha mente fica uma bagunça. A proximidade da
competição faz o nervosismo no meu corpo ganhar espaço. Nossos
programas são bons o suficiente para valer uma medalha? Sei que são
coreografias simples, mas minha mãe sempre diz que o simples bem feito é
melhor que o mirabolante mal executado. Gostaria de perguntar a opinião
da Ciara mas tenho medo que ela, na sua sinceridade extrema, me dê uma
resposta que não quero ouvir.
Como se não bastasse a questão das olimpíadas, tem outra pessoa
fazendo caos na minha cabeça: Oliver Fisher. Meus olhos passam por ele,
mas meu parceiro está focado na sua lasanha e em alguma piada irlandesa
que a Mrs. Mulligan acabou de contar, mas eu não ouvi. Ele parece
despreocupado e presente no momento, o que faz eu questionar se ele tem
as mesmas dúvidas que eu. Sinto que a conversa a luz de velas foi um passo
importante no nosso relacionamento, mas, ainda sim, existem dúvidas nos
cercando. Como vai ser depois de Paris? Ele vai voltar pro hóquei? Ele quer
voltar pro hóquei? Vamos continuar morando juntos ou…
Eu não faço ideia de como é viver uma vida onde você não é o centro.
As palavras de Oliver voltam a minha mente e eu sinto meus ombros
relaxarem por um segundo, como se tivesse acabado de usar uma dose da
mais potente das drogas. Por mais louco que seja, acho que temos tudo que
precisamos pra fazer isso dar certo.
— Sua comida vai esfriar — diz Oliver me trazendo de volta para o
almoço. Sinto uma mão gentil apoiada no meu braço e percebo que Mrs.
Mulligan não deixou o gesto passar despercebido, mas apenas abre um
sorriso.
Assim que terminamos de comer, seguimos a treinadora de volta para
o rinque, mas antes que possamos ir para o vestiário nos prepararmos para
mais uma tarde de treino, ela segue para uma sala na entrada das
arquibancadas onde nunca estive. Vejo uma mulher parada lá dentro e um
notebook aberto em cima da mesa. Apesar de nunca ter visto ela antes,
percebo pelo olhar curioso que é alguém da mídia.
— Eu marquei uma entrevista.
Olho para a treinadora sem entender o que ela quer dizer. Clarice não
me falou nada sobre isso e sempre temos uma longa discussão antes de
qualquer entrevista para alinhar os tópicos que devo dizer a ponto de evitar
qualquer furo ou escândalo.
Pelo olhar surpreso de Oliver, percebo que aquilo também é novidade
para ele.
— Eu sei, eu sei, devia ter avisado antes, mas eu não queria nada
muito engessado. Quero que as pessoas vejam vocês como são. Do jeito que
eu vejo vocês no gelo todos os dias. Sem máscaras, sem respostas prontas,
sem discurso ensaiado. Pensei de vocês entrarem e terem uma conversa
com ela. O que acham? Já me adiantei e deixei claro que vocês não
responderão nada polêmico. E não vai ter fotos também. Só conversa.
Apesar de não me sentir confortável com a ideia, não vejo como isso
poderia ser algo problemático. Tenho certeza que Clarice vai me xingar
depois e me mostrar um milhão de motivos pelos quais eu não deveria ter
aceitado sem um planejamento cuidadoso antes, mas com minha agente eu
lido depois.
Sinto uma pontada de alívio ao perceber que confio na Mrs. Mulligan.
— O que você acha? — pergunto Oliver, mesmo sabendo qual vai ser
sua resposta.
Ele assente e dá de ombros, como quem diz que não tem nada a
esconder.
Faço um aceno para Mrs. Mulligan, concordando. Pensando bem,
essa vai ser a única entrevista oficial que daremos antes de deixar o país.
Vai ser bom ter uma forma de alcançar diretamente os nossos fãs antes de
chegarmos nas Olímpiadas.
Assim que entramos na sala, somos cumprimentados por uma mulher
loira, jovem e com um sorriso simpático no rosto.
— Oi, meu nome é Lilian Anderson, sou jornalista independente no
canal EstherNews e estou muito feliz por conhecer vocês. Vi uma parte do
treino hoje e posso dizer que estou muito animada e esperançosa com o
trabalho que vieram construindo.
Retribuo o cumprimento e me sento ao lado de Oliver na frente de
uma mesa onde ela está com o notebook aberto. Ciara senta em uma cadeira
ao nosso lado e puxa o celular, logo ficando imersa em um mundo só dela.
Ainda assim, ter a presença da treinadora ali ajuda a manter minha calma.
— Eu fiquei muito feliz quando a Mrs. Mulligan aceitou a proposta
que enviei de fazer a entrevista. Meu blog, apesar de ser independente, tem
um alcance expressivo, e as pessoas amam saber mais sobre vocês. Mas
podem ficar despreocupados, enviarei o texto pra suas agentes antes de
publicar. Minha ideia aqui não é expor nada que deixe vocês
desconfortáveis, apenas quero que os fãs conheçam um pouco mais do casal
do momento.
Ela fala tudo isso de uma vez, sem dar tempo para que possamos
comentar nada, por isso, apenas me limito a concordar.
— Ótimo! — ela retoma. — Então vamos?
CAPÍT ULO 34 - OLIVER FISHER
∞∞∞
Depois do incidente com o Tyler e a batida policial no último final de
semana, prefiro participar das corridas sem participar das corridas. Eu levo
Gracie até uma estrada de terra abandonada entre Canterbury e Guildford, o
lugar perfeito para arrancar uma moto em alta velocidade sem correr o risco
de sermos vistos. Por pura paranóia — ou como a Gracie diz, precaução —
estamos usando máscaras. Ela diz que jornalistas são como larvas, surgem
do nada e infestam tudo. Sei que correr de moto é uma área muito distante
da zona de conforto de alguém como a Gracie, por isso estou fazendo as
coisas do jeito dela.
— Tá pronta? — eu pergunto, e minha voz sai abafada por conta da
máscara na frente do rosto.
Gracie segura minha cintura com força.
— Não mata a gente — ela murmura. — Não é desse jeito que
queremos entrar pra história.
Uma risada escapa dos meus lábios e eu acelero a moto, sentindo seus
dedos apertarem um pouco mais ao redor da minha cintura. Meus olhos
observam o ponteiro vermelho do velocímetro se mover, alcançando
números cada vez mais altos. Oitenta quilômetros, noventa, cem, cento e
dez, cento e vinte. O vento frio da estrada atinge nossos corpos como se
fosse uma navalha, mas a adrenalina no meu sangue mantém minha pele
quente. Meu pé pressiona o acelerador e, aos poucos, Gracie parece mais
tranquila, mesmo que a velocidade tenha aumentado.
Acho que correr é a forma mais próxima que temos de experimentar a
liberdade. O motor vibra como se tivesse vida própria e o mundo ao meu
redor se torna um borrão de cores e luzes, completamente desfocado. Sinto
que todos os problemas fora daqui borram junto com ele. De repente não
existe Paris, jogos e muito menos a pressão nos meus ombros para ser o
melhor parceiro que Gracie pode ter. Não existem decisões. Tudo que eu
preciso fazer é acelerar.
Duzentos. O som do motor aumenta, o rugido ecoando pelas nossas
cabeças e abafando qualquer outro ruído noturno. A paisagem corre ao
nosso redor, desaparecendo em segundos. O cheiro do perfume de Gracie se
mistura ao cheiro de terra e árvore e eu demoro para perceber que uma
chuva fina começou a nos acompanhar.
Eu me inclino nas curvas da estrada, sentindo a moto como se fosse
uma extensão do meu corpo. Gracie solta um grito quando acelero mais um
pouco, mas depois consigo ouvir uma risada escapar dos seus lábios, o que
me faz pensar que ela finalmente entendeu porque sou viciado nisso. A
sensação de estar no controle e, ao mesmo tempo, estar à mercê da
velocidade. Um erro e tudo termina.
A chuva engrossa, o que me faz diminuir a intensidade com a que
aperto o acelerador. Aos poucos, a moto volta a uma velocidade normal e eu
consigo ouvir nossas respirações descompassadas se normalizando.
Estamos no meio do nada. Tudo que consigo ver ao nosso redor é a
iluminação da estrada e algumas casas solitárias, muito distantes para que
qualquer pessoa dentro delas note nossa presença.
Eu paro a moto. As estrelas no céu brilham muito mais intensamente
por causa da falta de iluminação e eu gasto alguns segundos em silêncio,
apenas admirando parte delas.
— Sua vez — eu digo, descendo da moto.
Por trás da máscara de gatinho — um gatinho macabro — Gracie me
encara.
— Não sei pilotar uma moto.
— Eu te ensino — eu aponto para o assento da frente e, desconfiada,
Gracie senta nele, apoiando as mãos no guidão da moto.
Eu me sento atrás dela.
— É como andar de bicicleta, só que com mais velocidade.
— Ótimo — Gracie suspira. — Não sei andar de bicicleta.
Rio.
— Vai — murmuro, apoiando as mãos na sua cintura — Acelera.
Timidamente, Gracie segue minhas instruções. Ela não passa dos
trinta quilômetros por hora, mas, em alguns momentos, perde o controle da
força no acelerador e acaba nos impulsionando pra frente. Ela não é uma
boa motociclista, mas acho que não vai nos matar.
— Você consegue quarenta — sugiro e, timidamente, ela aumenta um
pouco a velocidade.
Minhas mãos descem pela sua cintura, contornando o tecido da sua
saia até chegar nas coxas. Sua pele se arrepia contra os meus dedos.
— Não vale distrair a motorista — ela reclama.
— Continua pilotando.
Gracie se esforça para focar sua atenção na estrada, mas consigo ver
pela forma como ela segura o guidão que sua mente está em outro lugar.
Felizmente, as chances de um carro passar por aqui nas próximas horas são
poucas.
Eu apoio uma das mãos no seu joelho e abro suavemente suas pernas,
meus dedos encontrando sua calcinha. Ela se perde por um momento e
deixa a moto morrer.
— Não para — eu enfatizo, de novo, e Gracie leva alguns minutos
para conseguir fazê-la voltar a andar.
Meus dedos se infiltram dentro do tecido e o gemido que escapa dos
seus lábios é suficiente para me deixar duro. Eu deslizo pelo seu clitóris até
chegar na sua boceta e senti-la escorrendo é uma coisa que mexe com todos
os meus sentidos. Coloco um dedo na sua entrada e apenas aproveito a
sensação de vê-la desse jeito, molhada e minha. Gracie deixa a moto morrer
de novo, o que me faz rir.
Eu aumento o ritmo, deslizando meu dedo para dentro enquanto ela
tenta ligar o motor. Meu polegar massageia seu clitóris em círculos lentos e
os seus gemidos se misturam com o barulho da moto quando, finalmente,
Gracie consegue colocá-la andando mais uma vez. Seus quadris se movem
contra a minha mão, sua respiração rápida e irregular. Meu pau pulsa dentro
da calça, implorando por mais espaço.
— Estou ficando boa nisso — ela murmura em meio a um suspiro
desajeitado, quando consegue recuperar a velocidade da moto.
— Nisso o quê? — Eu me movo mais rápido dentro dela e seu corpo
derrete contra o meu, suas mãos resistindo bravamente no guidão da moto.
— Gemer pra mim?
— Nisso também — Gracie zomba.
Coloco mais um dedo dentro dela enquanto meu polegar contorna seu
clitóris várias vezes seguidas. Sua cabeça tomba para trás, se apoiando no
meu ombro, e é nesse momento que ela desiste de manter o controle da
moto, deixando-a morrer aos poucos. Seus quadris se movem contra os
meus dedos num ritmo desesperado e ela geme tão deliciosamente alto que
eu sinto como se fosse parte de uma música.
Eu puxo seu cabelo pra trás, mantendo-a apoiada no meu ombro. Ela
ainda está com os fios cacheados, o que faz com que fiquem ainda mais
bagunçados quando atingidos pelo vento. É uma confusão linda. Sinto sua
boceta pulsar ao redor dos meus dedos, sua umidade escorrendo, cada vez
mais molhada. Gracie morde o lábio inferior quando chega ao ápice, o
gemido escapando da sua boca em um fio de voz. Suas pernas tremem ao
redor da moto e ela arranha meus braços, na ansiedade de conseguir tocar
em algo.
— Você me deixa com tesão demais para o meu próprio bem. —
Gracie ri, e eu sei que o seu tom de protesto não é uma reclamação.
Eu desço da moto mais uma vez. Ela se vira na minha direção e eu
subo a máscara do rosto apenas o suficiente para colocar meus dedos sujos
do seu gozo na boca. A língua de Gracie contorna seu lábio inferior
enquanto ela observa a cena, atentamente.
Seguro sua mão e levo até a minha calça.
Gracie dá um sorriso malicioso quando percebe meu pau duro.
— Acho que posso dizer o mesmo.
— Também não é desse jeito que queremos entrar pra história.
— Por fazer sexo em público? — debocho. — Não vamos entrar na
história por isso, muita gente já fez. Mas se quer minha opinião, é
prazeroso.
— Você é um cafajeste, Fisher.
— São experiências. — Eu rio do ciúme no seu tom de voz. — Mas
nenhuma delas teve importância perto de você.
Gracie sobe uma das mãos até a minha máscara.
— Um cara mascarado se declarando pra mim no meio do nada. E de
alguma forma eu sinto que estamos prestes a fazer sexo. Como foi que eu
acabei virando protagonista de Devil’s Night? — ela ri. — É sexy e bizarro
ao mesmo tempo.
— Espero que mais sexy do que bizarro.
Gracie levanta minha máscara um pouco mais, passando os dedos
pelo meu queixo. Ela levanta a sua apenas o suficiente para que sua boca
fique visível, murmurando contra a minha:
— Com certeza mais sexy.
Ela me encara por trás da máscara e ficamos alguns segundos assim,
sua mão dedilhando meu rosto calmamente, alternando entre tocar meu
queixo e tocar minha boca. Nós não duramos muito. Meus lábios avançam
nos seus e o nosso beijo desesperado faz parecer que estamos nos tocando
pela primeira vez. Talvez seja o ambiente, a adrenalina que ainda corre nas
nossas veias ou o fato de que sempre vou ser faminto por ela, não importa
quantas vezes tenhamos fodido.
Suas pernas entrelaçam meu quadril, me pressionando com firmeza.
Minhas mãos deslizam pela sua cintura, explorando cada curva enquanto a
puxo para mais perto. Ela geme baixinho contra meus lábios e o som ressoa
dentro de mim, aumentando minha urgência. Movo os dedos até a barra da
sua camisa, infiltrando uma das mãos por debaixo do tecido.
Os dedos de Gracie puxam meu cabelo e arranham suavemente minha
nuca quando eu aperto seus seios, brincando com os mamilos por cima do
sutiã. Meus lábios descem pelo seu queixo e eu crio uma trilha de beijos
contra sua pele, do pescoço ao decote da sua blusa. Ela espera que eu refaça
o caminho de volta até sua boca, mas eu continuo a trilha, depositando um
beijo na sua barriga por cima da blusa e, finalmente, na parte interna das
suas coxas. Dessa vez, eu tiro sua calcinha e Gracie me encara, como se
estivesse pensando na ideia de montar nessa moto de novo, de saia.
— Você não vai precisar dela agora — murmuro, me ajoelhando na
frente da moto.
Gracie morde o lábio inferior e consigo ver seus olhos fixos em mim
por trás da máscara. Consigo ver sua boceta molhada pelas suas pernas
entreabertas e, porra, ela é tão gostosa que me deixa doente.
Minha língua encontra o seu clitóris, deslizando suavemente sobre
ele. As pernas de Gracie se apertam ao redor da minha cabeça, seus dedos
se emaranhando no meu cabelo enquanto ela me puxa para mais perto,
exigente.
— Esse piercing é muito útil — Gracie murmura, deixando um
suspiro escapar.
— Claro que é útil — digo, me afastando da sua boceta por um
segundo. — Por que eu teria um piercing na língua se não fosse pra te
chupar melhor?
Gracie ri, sua risada se misturando com um suspiro. Minha boca volta
a encontrar sua intimidade e ela arqueia as costas, pressionando-se contra
mim. Seus gemidos se tornam gritos abafados à medida que eu aumento o
ritmo e seu corpo treme contra a minha língua, fazendo a cabeça do meu
pau pulsar ainda mais. Minhas mãos seguram suas coxas com firmeza,
mantendo-a no lugar.
Grazie goza de novo, gemendo meu nome baixo como se fosse uma
oração feita em segredo. Toda vez que ela geme pra mim… Porra, é
simplesmente mágico.
— Eu preciso te comer agora — digo, assim que me levanto, meus
lábios percorrendo seu pescoço. — É tão urgente quanto respirar.
— Vai ser o terceiro da noite — Gracie sibila, sua respiração ainda
descompassada. Suas mãos descem até o fecho da minha calça e ela sente
meu pau, fechando minimamente os olhos. — Você vai acabar comigo.
— Depois de tanto tempo com um namorado meia bomba, acho que
vai demorar um pouco até você se acostumar a ser fodida direito —
debocho —, mas você aguenta o tranco.
Gracie tem um sorriso malicioso no rosto e, mesmo que ela não
admita, sei que a parte diabólica do seu cérebro se diverte toda vez que o
seu ex vira motivo de piada entre nós. Finalmente, ela abre o zíper da minha
calça e esfrega a cabeça do meu pau por cima da cueca, arrancando um
gemido da minha garganta.
— Sem me torturar — eu peço, segurando seu pulso, e tenho a
impressão que ela poderia ficar me provocando a noite inteira se não
estivéssemos em público.
Gracie puxa minha calça pra baixo e consigo ver o brilho faminto nos
seus olhos quando observa meu pau. Meus dedos descem até os seus
joelhos e eu afasto as suas pernas, pronto para entrar dentro dela.
Me alinho com a sua entrada e coloco a cabeça do pau dentro dela,
conquistando um gemido que ecoa pelas árvores entre nós. Com um
movimento firme, penetro sua boceta de uma vez, sentindo seu interior
quente e molhado me apertar. Caralho.
Com as pernas ao meu redor, Gracie me puxa para mais perto, suas
mãos subindo pelas minhas costas por baixo da jaqueta de couro. Eu entro e
saio dentro dela, num ritmo cada vez mais rápido, os gemidos de Gracie
aumentando e se juntando aos meus.
Com uma das mãos, eu finalmente tiro a sua máscara e minha boca
encontra a sua mais uma vez, num beijo ainda mais lascivo que antes.
Nossas línguas se entrelaçam enquanto continuamos nos movendo um
contra o outro, nossas respirações ofegantes e nossos pulmões implorando
por oxigênio. Gracie rebola contra mim, se esfregando no meu pau num
ritmo alucinado que me faz gemer mais forte. Está frio pra caralho essa
noite, mas suor escorre pela minha nuca, nossos corpos derretendo em
brasa.
Gracie se afasta apenas o suficiente para olhar nos meus olhos, um
brilho de desejo incontrolável cintilando em suas íris. Seus quadris não
param de se mover, esfregando-se contra mim com uma precisão que faz
meu pau pulsar ainda mais dentro dela. Minha mão sobe até o seu pescoço e
ela geme ao sentir o aperto ao redor da sua garganta.
— Bate.
Sinto que poderia ter um orgasmo só ouvindo a forma manhosa como
ela pede.
— Você gosta disso?
— Estou tentando descobrir se gosto disso.
Eu diminuo o ritmo dos movimentos dentro dela e minha mão sobe
até o seu rosto, acariciando sua bochecha antes de acertar um tapa. Não é
forte, apenas o suficiente para fazer sua pele arder. Gracie morde o lábio,
então um sorriso mínimo surge no canto da sua boca, e estou certo de que
essa é a expressão mais safada que eu já vi nesse rosto.
— Definitivamente gosto disso.
Eu acerto mais um tapa e Gracie geme, rebolando mais lentamente
contra mim, concentrada em aproveitar cada toque do meu pau contra sua
boceta. Sua pele se aquece diante do impacto e seus olhos se fecham por um
segundo, embriagada pela mistura de dor e prazer.
Meus dedos se entrelaçam nos cachos do seu cabelo mais uma vez,
puxando sua cabeça para trás, expondo seu pescoço. Minha língua desce
pela sua pele escura, alternando entre mordidas e lambidas enquanto minha
mão toca os seus seios, apertando-os por cima da blusa. A boceta de Gracie
pulsa contra mim, apertando meu pau, quase me fazendo perder o controle.
Ela apoia as mãos no meu pescoço e me puxa na sua direção, nossos lábios
se encontrando de novo. Ouço o som da minha máscara caindo no chão,
mas, nessa altura, ninguém mais se importa. A língua de Gracie se esfrega
na minha, os movimentos do seu quadril se tornando mais rápidos, assim
como os meus. Cada vez que entro dentro dela, me sinto mais perto de
explodir.
As unhas de Gracie arranham minha nuca e ela murmura alguma
coisa contra os meus lábios, mas suas palavras são só suspiros desconexos.
Sua boceta me aperta ao mesmo tempo que ela morde o meu lábio inferior,
suas coxas tremendo ao meu redor enquanto um gemido mais alto que todos
os outros escapa da garganta. Vê-la gozar é um espetáculo ao qual eu não
me acostumei ainda.
— Caralho, Gracie — eu murmuro, e ela me puxa para mais um
beijo, suas pernas ainda trêmulas ao meu redor.
Eu entro dentro dela outra vez, mais rápido e mais urgente que todas
as estocadas anteriores. O orgasmo toma conta do meu corpo e eu sinto o
jato de porra escorrer pela sua boceta enquanto nossas línguas se esfregam.
Depois de gozar, é como se eu tivesse fumado um caminhão de maconha.
Meu corpo relaxa instantaneamente e a impressão que tenho é que não
existe absolutamente nada dentro do meu cérebro. Pela expressão satisfeita
no rosto de Gracie, tenho certeza que ela se sente da mesma forma.
— Apesar do que eu disse — ela sussurra, inebriada, afastando seus
lábios dos meus apenas o suficiente para conseguir falar. Estamos no meio
do nada, numa noite fria, as estrelas brilham no céu acima de nós e é como
estar em uma bolha onde nada pode nos alcançar. — Foi uma boa forma de
entrar pra história.
CAPÍT ULO 35 - GRACIE SALMON
Eu odeio despedidas.
Quando vou a festas, sempre tento sair despercebida, sem ter que
despedir de um milhão de pessoas no caminho. Acho desnecessário. Se
despedir parece algo definitivo, como se fosse a última vez que estou
encontrando com aquela pessoa. Prefiro deixar encontros em aberto. É por
isso que, na medida que o dia da viagem se aproxima, mais minha
ansiedade ataca.
Nosso voo está marcado para depois de amanhã, então voltamos para
Guildford para nos despedirmos antes de seguirmos para os jogos
olímpicos. Na verdade, vim mais por insistência do Oliver, já que a família
dele não vai pra França. Meus pais, por outro lado, compraram as passagens
antes mesmo de eu decidir se iria competir — o que eu não sei se amo ou
odeio, honestamente.
Apesar de tudo, até que o almoço na casa dos Fisher foi divertido.
Erik estava animado como se fosse ele a disputar uma medalha olímpica.
Mantinha o assunto com perguntas e cenários possíveis sem deixar de
incluir uma ou outra recomendação, como de costume. Tyler passou a
metade do jantar cochichando com Oliver e trocando risos à meia voz. Em
muitos momentos, percebi que olhava na minha direção, o que me faz
pensar que Oliver contou para o irmão que estamos juntos. Joshua apenas
observa a conversa dos pais com Nora e Liam, os olhos indo de um lado
para o outro, uma expressão de tédio no rosto como se preferisse estar no
quarto jogando alguma coisa ou perdendo horas deslizando pelo TikTok
como um típico pré adolescente.
Mas isso não era nada perto da expressão de sofrimento no rosto de
Archie. Ele parecia torturado enquanto levava os pedaços de apple pie até a
boca e fazia esforço para não olhar na minha direção. Eu sei que ele está
chateado comigo. Desde o término com Pierre, eu me afastei muito,
deixando nossa amizade em segundo — na verdade, mais para quinto —
plano. Tantas coisas aconteceram que não tive tempo para dar a atenção que
ele merecia.
— Acho que você precisa conversar com ele.
A voz de Oliver no meu ouvido me faz dar um pequeno pulo na
minha cadeira, mas por sorte, a mesa está envolvida em conversa e não
percebe o que aconteceu. Eu estava tão mergulhada em pensamentos, que
não notei que estava encarando Archie.
Sinto a mão de Oliver procurar a minha debaixo da mesa. Nossos
dedos se entrelaçam e sinto um calor confortável se espalhar pelo meu
corpo. Eu realmente deveria conversar com Archie. Antes de toda essa
confusão que minha vida se tornou, ele era a pessoa mais próxima a um
melhor amigo que eu tinha. Depois do Benjamin, é claro.
— Vai lá.
— Agora? — respondo de volta, à meia voz.
— Sim, ninguém está prestando atenção. E olha pra cara dele, é
melhor você puxar o band-aid de uma vez e acabar com isso.
— O que você quer dizer? — Minhas sobrancelhas se juntam no meio
da testa.
— Sua água acabou, Gracie — Oliver diz, quase gritando.
A desculpa mais esfarrapada do mundo.
Inspiro uma quantidade enorme de ar e me levanto.
— Vou buscar mais uma garrafa.
— Não seja boba, menina — Hank responde. — Eu peço pra algum
dos empregados trazer.
Ele levanta uma das mãos, mas balanço a cabeça de um lado para o
outro, um dos cachos do meu cabelo caindo no meu rosto. Gostaria de dizer
que não tem um motivo específico para manter meus cabelos cacheados
hoje, mas não vou negar que os elogios de Oliver tiveram algum impacto.
— Não precisa, Hank. Preciso dar uma volta também. Acho que eu
comi muito. — Caminho ao redor da mesa e paro atrás da cadeira de
Archie. — Você me faz companhia?
Archie é pego de surpresa, mas logo se recompõe e se levanta, me
acompanhando até a cozinha. Em vez de seguir para a geladeira, continuo
caminhando até chegarmos no imenso jardim. Caminhamos em silêncio,
Archie não questiona onde vamos, apenas me segue com as mãos enfiadas
no bolso da calça. Chegamos em um banco ao lado de uma pequena fonte
circular rodeada de violetas e margaridas. Me sento e meu gesto é copiado
pelo meu amigo. Será que ainda posso chamá-lo?
Ficamos alguns minutos apenas ouvindo o som da água da fonte e um
ou outro canto de pássaro perdido vindo da mata no fundo da propriedade.
É um dia ensolarado, o que é muito raro de se ver por aqui.
— Acho que eu te devo desculpas — digo, decidindo que já tinha
esperado demais.
— Pelo o quê? — Seu tom de voz é curioso e ele parece
genuinamente intrigado pelo motivo que o chamei até aqui.
— Por ter te deixado de lado esse último mês. A gente trocava nossas
cartas toda semana, mas já tem tempo desde que você mandou a sua e eu
nunca mais respondi.
Essa é uma tradição nossa que desenvolvemos na adolescência e
mantivemos durante muitos anos. Através de um aplicativo, enviamos
cartas virtuais semanalmente contando como foi a semana, os problemas, as
dificuldades e as raras felicidades da vida adulta. De certa forma, éramos
meio que os confidentes um do outro.
Ele fica em silêncio. Seu rosto desvia para a fonte e ele parece muito
interessado em ver a água correndo no meio das pedras coloridas. Ótimo,
ele não quer olhar pra mim.
— Eu poderia dizer que aconteceu muita coisa, que o término me
desestabilizou e depois com a chegada do seu irmão minha vida virou de
cabeça pra baixo, mas acho que essas são só desculpas. Eu não fui muito
legal com você, é isso.
Ele escuta tudo em silêncio, o que começa a me incomodar.
— Tudo bem, Gracie. Não precisa se desculpar.
Ele abre um sorriso triste, mostrando que o que diz são palavras
vazias. É como se estivesse desapontado com alguma coisa. Não, como se
estivesse desapontado comigo. Eu preciso corrigir isso.
— Eu tenho uma novidade. Ainda não contei para ninguém, então
você vai ser o primeiro a saber.
Vejo o brilho de curiosidade nos olhos de Archie. Seus olhos cor de
mel fazem uma combinação harmônica com seu cabelo loiro escuro. Não é
à toa que os irmãos Fisher são chamados de as maravilhas de Guildford.
Ele é lindo. Muito diferente do Oliver, porque tem uma aura de bom garoto
ao seu redor, o tipo de cara que as mães adorariam conhecer. Apesar disso,
sei que ele não é um bom garoto de verdade, não totalmente.
— Eu e Oliver estamos juntos. Juntos mesmo… Como um casal, mais
do que só parceiros de patinação.
Eu nunca vi uma planta murchar na minha frente, mas imagino que
deve ser parecido com a reação que Archie teve ao ouvir as minhas
palavras. Seus ombros se movem na direção do peito enquanto ele solta o
ar, esvaziando como um balão.
Ok, essa não era a reação que eu esperava.
— Vocês estão namorando?
Sua voz é baixa, quase um sussurro, como se fosse algo abominável
de se dizer em voz alta.
— Não. Quero dizer, ninguém falou em namoro. E não sei como vai
ser depois das olimpíadas, a gente meio que tá evitando falar nisso. — Sem
perceber, começo a despejar os meus medos em cima de Archie. É bom
poder falar isso para alguém. — Mas estamos… Curtindo o momento. Acho
que é isso.
Ele se levanta, o rosto se torna uma máscara fria e sem expressão.
— Beleza — Archie diz, sem emoção — Eu acho melhor a gente
voltar…
Ele faz menção de se virar para retornar para casa, mas eu seguro o
seu pulso. Não sei o que está acontecendo, ele nunca ficou assim antes. De
todos os Fisher, Archie é o menos extrovertido — impossível pensar em um
Fisher introvertido —, mas ele nunca me escondeu nada, por que agora
estava agindo desse jeito?
Encaro os seus olhos e, finalmente, percebo o que está acontecendo.
Não, não, não, não.
— Acho que eu deveria pedir desculpas — diz — acabei confundindo
as coisas.
Sinto vontade de enfiar minha cabeça na fonte e esquecer do resto do
mundo. Então era por isso que ele estava estranho desde que anunciamos
que Oliver seria minha dupla?
— Archie, eu…
— Não precisa falar nada, Gracie. Eu que vacilei. Me deixei levar.
Vou só precisar de um tempo pra processar tudo isso... tudo bem?
Concordo, sem saber o que dizer.
Ele começa a caminhar de volta para casa, mas eu acordo do meu
atordoamento e corro na direção dele.
— Archie, espera! — Paro na frente dele, para que ele não possa me
evitar. — Vou respeitar o seu tempo, mas quero dizer que você é uma
pessoa muito importante pra mim, peço desculpas se dei a entender alguma
outra coisa. É um dos meus únicos amigos, na verdade, então, quando
estiver melhor… eu não queria te perder.
Archie assente. Me pegando de surpresa, ele se aproxima e me dá um
abraço.
— Obrigado, Gracie — ele sussurra, um meio sorriso no rosto. —
Acho que você precisa voltar pra mesa, ou vão começar a estranhar.
Ainda com o sorriso no rosto, ele retorna para casa, me deixando
sozinha no meio do jardim. Mil pensamentos passam pela minha cabeça.
Era por isso que Oliver disse que eu precisava conversar com Archie. Ele
sabia. Fico aliviada e, ao mesmo tempo, frustrada por ele ter me deixado
resolver a situação. É realmente algo que eu precisava fazer, mas meu lado
covarde gostaria de não ter sido a portadora da notícia que certamente
partiu o coração do right winger da família.
É por isso que odeio despedidas.
CAPÍT ULO 36 - OLIVER FISHER
∞∞∞
O anel que Gracie desenha na minha mão direita não é perfeito. Na
verdade, eu nem sei se dá pra dizer que é um anel. É uma pequena linha
fina que ela se esforçou muito para não ficar torta — o que nenhum de nós
esperava que desse certo —, acompanhada de um pequeno peixe no centro.
Se parece com um daqueles peixes em formato de número oito que as
crianças desenham no fundamental, mas Gracie foi muito firme ao explicar
a teoria de que o símbolo do nosso relacionamento precisava ser um peixe,
por causa dos nossos sobrenomes.
— Você já partiu o coração de alguém sem querer? — ela pergunta,
de repente.
Estamos sentados no sofá, sua cabeça apoiada no meu ombro,
observando uma noite sem estrelas. Uma garrafa inteira de vinho já foi e
Gracie acaba de configurar a jacuzzi para esquentar a água, o que significa
que em breve estaremos dentro dela. Ela ergue a minha mão e observa o
desenho que marcou na minha pele, agora embalado por papel adesivo.
— Acho que todo mundo faz isso alguma vez na vida — respondo,
bebendo o meu último gole de vinho. — É difícil de saber, principalmente
se não foi intencional.
— Minha conversa com o Archie não foi muito boa.
— Em que sentido?
— Ele parecia decepcionado comigo — Gracie suspira. — Eu não
sabia que ele tinha sentimentos por mim.
— Não foi culpa sua.
Ela não parece convencida, então eu continuo:
— É sério, o Archie se apaixona por todo mundo — eu brinco, mas é
verdade. — Você não lembra, no aniversário de doze anos, quando ele
chorou porque cantaram com quem será e ele percebeu que não ia poder
casar com a Taylor Swift?
Gracie ri.
— Sim, mas isso não conta…
— E quando ele surtou duas temporadas atrás e disse que sairia dos
Owls pra se mudar pra Austrália por causa de uma surfista que ele tinha
conhecido há três dias? Ou quando ele…
— Tudo bem, entendi seu ponto.
— Ele vive seus amores intensamente. — E a minha crítica é irônica,
considerando que acabei de tatuar um anel de namoro. — E sofre por cada
um deles como se fossem relacionamentos de anos. Além disso, todos os
Fisher sabiam que era questão de tempo até você se apaixonar por mim.
Gracie faz uma careta, ultrajada.
— Tudo bem, senhor narcisista.
— Não, é sério dessa vez, eles meio que sabiam — eu rio. — Por que
acha que o Tyler nunca deu um cima de você?
— Você criou alguma regra bizarra pra eles não se aproximarem de
mim?
— Agora que você falou, eu devia ter feito isso — zombo —, mas
não. Eles só perceberam algumas coisas muito antes de você. Acho que eu
sempre fui óbvio.
— Só na sua cabeça você estava sendo óbvio — ela dá um tapa no
meu ombro, indignada.
Gracie se levanta do sofá, aproximando-se da jacuzzi com a garrafa
de vinho praticamente vazia nas mãos. Ela coloca um dedo dentro da água e
inspira o perfume dos sais de banho que ela mesmo jogou lá dentro, com
um sorriso satisfeito.
— Não me estressa mais — diz, sentando-se na beirada da banheira
— ou vou te afogar aqui mesmo.
— Com quantas ameaças de morte se faz um relacionamento sério?
— Você tem sorte — Gracie brinca, seus pés afundando na água
enquanto ela tira o nó do seu roupão. — As olimpíadas são o seu seguro de
vida.
— Vou me lembrar de nunca mais ficar sozinho com você quando as
olímpiadas acabarem.
— Escolha sensata.
Gracie termina de tirar o seu roupão, jogando o tecido para fora da
jacuzzi. O biquíni que ela está usando por baixo é tão pequeno que parece
uma calcinha e eu sinto que todos os pensamentos do meu cérebro foram
varridos pra longe junto com aquele roupão. Eu nem consigo me importar
com a sua ameaça de morte implícita.
— Você não vai entrar? — ela pergunta, me despertando do transe.
Eu me levanto do sofá e Gracie me passa a garrafa quando chego
perto da jacuzzi. Bebo o último gole de vinho enquanto os dedos de Gracie
percorrem a faixa do meu roupão, se demorando mais do que o necessário
antes de se livrar do tecido. Seus dedos percorrem as tatuagens do meu
peito, criando um rastro com a água quente que escorre da sua pele.
Meus olhos descem pelo seu corpo, agora descaradamente. Nunca
vou me cansar de olhar pra ela. É como se eu descobrisse um detalhe novo
a cada vez: agora, por exemplo, acabei de notar que ela tem uma marca de
nascença na barriga, perto do umbigo. É uma sensação boa, conhecer uma
pessoa há tanto tempo e ainda sim descobrir coisas novas sobre ela.
— Você tá vestindo roupa demais.
Meus dedos alcançam o laço do seu biquíni. O nó se desfaz e eu jogo
a peça em algum canto do espaço, observando seus seios com mais atenção.
São redondos, empinados, cabem perfeitamente na minha mão e esses bicos
duros… o meu pau pulsa dentro da bermuda só de olhar pra eles.
— Você também — Gracie protesta, e suas mãos descem até o cós da
minha bermuda, livrando-se dela.
Ela se ajoelha dentro da banheira e seus dedos deslizam pelas minhas
coxas enquanto tira minha cueca. Seus olhos percorrem meu pau e, por
mais que Gracie já tenha o visto antes, o seu olhar admirado me deixa com
mais tesão.
Com um sorriso malicioso, Gracie segura meu pau com uma mão,
envolvendo-o, acariciando-o de forma lenta. A sensação da sua pele contra
a minha é um tormento delicioso — porque é bom, mas com certeza não
suficiente — e meu corpo responde imediatamente ao seu toque. Gracie se
inclina para frente e sua respiração envolve a cabeça do meu pau, um
arrepio descendo pela minha espinha.
Ela passa a língua pelos lábios grossos antes de envolver minha
cabeça com a boca e um gemido escapa da minha garganta. Gracie move a
cabeça para cima e para baixo, sua língua explorando cada centímetro do
meu pau enquanto seus olhos permanecem fixos nos meus, acompanhando
minhas reações. É uma visão maravilhosa: ela me chupando, a água
cintilando em sua pele, a ponta úmida dos seus cabelos grudando nos
ombros… ela parece uma deusa. A minha deusa.
Minha mão se infiltra nos seus fios de cabelo e eu guio seus
movimentos, sentindo uma necessidade ardente crescer dentro de mim.
Gracie geme em torno do meu pau, uma das suas mãos descendo até as
minhas bolas, apertando suavemente enquanto continua trabalhando com a
língua. Ela aumenta o ritmo e sua boca se move com mais intensidade, me
chupando com urgência. Seus olhos não deixam os meus, um olhar faminto
que arrepia cada centímetro do meu corpo. Minha mão aperta seu cabelo
com mais força e ela entende meu recado, me engolindo até a base.
Consigo ver lágrimas de reflexo se formarem no canto dos seus olhos,
mas Gracie não se afasta. Ela continua indo e voltando, engolindo o meu
pau inteiro com um pouco de dificuldade, mas sem desistir da missão. Eu
sinto o controle do meu corpo se perder mais um pouco cada vez que ela me
engole. Sua outra mão acaricia minhas coxas, as unhas arranhando minha
pele, seus movimentos se tornando mais frenéticos.
— Caralho, Gracie. — A minha voz é um grunhido áspero e não faço
ideia se é compreensível.
Os lábios dela me percorrem com mais vontade. Seus movimentos se
tornam borrões na minha mente e sinto que cada toque da sua língua me
leva mais perto do limite. Gracie se afasta por um segundo, me
masturbando com uma das mãos.
— Goza na minha boca — ela pede, o que é suficiente pra me fazer
perder o rumo.
Sua boca volta a envolver meu pau, me engolindo com um desejo
voraz. Seus movimentos são rápidos, chupando e lambendo com uma
habilidade que me deixa alucinado. Sua língua percorre a minha cabeça, me
provocando. Não acredito que ela passou tantos anos fazendo um boquete
desses e aquele imbecil sequer conseguia fazê-la gozar de verdade.
Eu puxo seu cabelo com mais força, meu corpo tremendo com a
proximidade do orgasmo. Gracie nota minha urgência e aumenta seu
esforço, a pressão da sua boca contra minha carne me enlouquecendo
lentamente. Ela me chupa mais rápido, me suga com mais força e eu perco
o controle. Um gemido alto escapa da minha garganta e meu corpo se
contorce enquanto eu gozo dentro da sua boca. Seus lábios continuam
apertados ao redor do meu pau enquanto ela engole cada gota de porra,
prolongando meu orgasmo o máximo que consegue.
Puta que pariu.
Gracie não espera eu me recuperar para levantar da banheira e me
puxar na sua direção, seus lábios encontrando os meus de forma
desesperada, meu gosto se misturando na saliva. Eu entro na jacuzzi e
Gracie apoia as mãos no meu ombro, me movendo para baixo, indicando
que eu me sente.
— Quero sentir você dentro de mim — ela pede, a voz rouca e
manhosa. — Preciso de você dentro de mim.
A ansiedade dentro do seu tom me endurece tão rápido que nem
parece que acabei de ter um orgasmo. Gracie apoia as mãos no meu ombro
mais uma vez e guia meu pau até a sua boceta molhada. Com um gemido
baixo ela monta em mim, me tomando por completo. Nossos suspiros se
misturam, sua boceta quente e apertada pressionando o meu pau. Ela
começa a se mover, seus quadris se balançando contra mim em um ritmo
rápido.
Minhas mãos encontram sua bunda, apertando a área firme enquanto
a guio, empurrando-a para baixo com mais força. Seus gemidos aumentam
de volume e cada movimento dela cria uma fricção deliciosa que me deixa
perto do limite.
Gracie se inclina pra frente, seus seios balançando perto do meu rosto.
Minha boca toma um dos seus bicos duros e ela geme alto, sua boceta
pulsando ao redor de mim. Eu chupo e mordo seu mamilo enquanto Gracie
cavalga no meu pau com uma intensidade que quase me deixa sem ar. A
água ao nosso redor borbulha, nossos corpos criando ondas na banheira à
medida que se chocam um contra o outro.
Levo uma das mãos até o seu pescoço, apertando sua garganta com
cuidado. Como resposta, Gracie aumenta o ritmo contra mim, água
espirrando para fora da jacuzzi enquanto nossos corpos se chocam sem
parar. Minha língua encontra o seu outro seio, formando círculos no seu
mamilo duro. Ela arqueia as costas, perdida em um suspiro e outro.
— Oliver… — ela geme, mordendo o lábio, seus olhos entreabertos.
Acho que eu poderia gozar só olhando pra ela.
Suas unhas marcam a pele do meu ombro enquanto ela me engole por
inteiro, seus movimentos cada vez mais rápidos e desconexos. Sua pele
brilha de suor e minha boca encontra a sua, nossas línguas se esfregando no
mais puro desespero. Os movimentos de Gracie se tornam mais erráticos e
seu corpo treme à medida que ela se aproxima do orgasmo. Eu desço uma
das mãos até o seu clitóris e esfrego a área com o polegar enquanto ela
senta em mim.
O corpo de Gracie se arqueia quando o orgasmo finalmente a
consome. Sua boceta me aperta com uma força quase dolorosa, cada
pulsação enviando ondas de prazer pelo meu corpo. Eu gozo logo em
seguida e Gracie continua se movendo, prolongando nosso prazer, meus
lábios contra os seus no mesmo beijo sem sentido de antes. Nossas línguas
se entrelaçam enquanto nossos corpos se consomem dos últimos momentos
do clímax. Sinto cada pulsação da sua boceta, cada espasmo do seu corpo e
isso me deixa completamente bêbado, extasiado.
Gracie se afasta minimamente, sua respiração voltando ao normal aos
poucos. A água quente ao nosso redor relaxa nossos corpos e ela não faz
menção de sair do meu colo. Um de seus dedos percorre minha mandíbula
marcada, traçando o caminho.
— Eu te amo — ela solta, tão repentina e espontaneamente que eu
demoro um segundo para entender que realmente disse.
— Isso é o tesão falando por você ou…
Gracie ri.
— Não. Eu realmente te amo.
— Diz de novo.
Ela balança a cabeça em negativa, incrédula, mas tem um sorriso no
seu rosto quando o faz. Apesar do movimento, Gracie faz o que eu pedi.
— Eu te amo — murmura.
Um sorriso toma conta do meu rosto.
— Eu também te amo — sussurro. — E essa é a melhor coisa que eu
já ouvi.
NEWS: Entrevista Exclusiva
Entrevista EXCLUSIVA
É com imensa satisfação que o EstherNews traz a você algo que
nenhum outro jornal conseguiu: uma conversa divertida com o casal
sensação do gelo. SIM! Você não leu errado! Você sabe que não tem nada
que a nossa equipe não faça para trazer as últimas atualizações para
nossas leitoras. Agora sem mais delongas, com vocês Gracie Salmon (GS) e
Oliver Fisher (OF).
[PAUSA]
[TROCA DE OLHARES]
O que foi essa entrevista!? Esse casal com certeza deixou muita coisa
aberta para nossa imaginação nem um pouco fértil. Agora, mais do que
nunca, nossa equipe estará atenta a qualquer detalhe envolvendo a dupla
sensação do momento.
Mal podemos esperar para o que esses dois vão apresentar nas
Olimpíadas.
Sexta-feira, 19 de julho de 2024
CAPÍT ULO 37 - GRACIE SALMON
∞∞∞
Fomos muito bem recebidos pela comissão responsável por organizar
e alojar os atletas na vila olímpica. Dessa vez, ela foi construída do zero
para os jogos e servirá como um bairro residencial depois do evento.
Felizmente, além dos quartos individuais, existe a opção para quartos de
casal para os esportes em dupla, porém, antes que eu pudesse imaginar
passar as noites nos braços de Oliver, um balde de água fria é jogado em
cima de mim ao ouvir o discurso de uma das funcionárias.
— Pensando em servir de exemplo, a Vila Olímpica de Paris foi
construída para ser modelo para os jogos futuros. Duas palavras resumem o
projeto: sustentabilidade e economia. As camas, todas de solteiro, são feitas
de papelão, mas não pensem que são frágeis! Conseguem suportar até 200
kg, apesar de não ser recomendado movimentos muito bruscos em cima
delas.
Troco um olhar com Oliver, sem conseguir me conter. É evidente o
que está escondido atrás das palavras da funcionária. Nada de sexo. Ou pelo
menos, não na cama. Eu entendo a preocupação da comissão organizadora,
porque o mundo inteiro sabe da fama das vilas olímpicas. Milhares de
atletas com hormônios transbordando estresse e preocupação. Não podemos
abusar das drogas, então é óbvio que o sexo se torna a saída mais fácil.
Mesmo assim, apesar do aviso, no final da pequena reunião foi distribuída
caixas e mais caixas de preservativos. Parece o pai dizendo aos filhos para
não dar uma festa, mas escondendo os pertences mais caros antes de sair de
casa.
Meus olhos caem em Oliver de novo. O riso no seu rosto mostra que
ele tem várias ideias de como gastar aqueles preservativos — passou da
hora de começarmos a usá-los, para começo de conversa — e preciso me
conter para não me deixar levar. Estou aqui por um motivo, não posso
perder o foco justo agora.
O momento pelo qual me preparei nos últimos anos está mais perto
do que nunca. E o mais incrível é que eu sinto como se já tivesse ganhado
uma coisa muito mais importante do que uma medalha de ouro.
CAPÍT ULO 38 - OLIVER FISHER
Sinto minha cabeça ficar leve ao ver uma nota tão alta no placar. Eu
esperava, no máximo, chegar perto de 80 e, ainda sim, sendo otimista.
Jamais passar disso. A tela logo muda para a classificação geral, mostrando
que estamos em primeiro e, a cereja do bolo, mostrando que a dupla em
segundo lugar é Kate Willians e Pierre Durant.
Sei que esse não é um pensamento digno, muito menos algo do qual
eu deveria me orgulhar, mas não posso negar que ver Pierre perder a
liderança para mim vale mais do que qualquer pontuação. Não sei o que vai
acontecer na execução do programa longo, mas sinto que já valeu a pena vir
até aqui.
CAPÍT ULO 42 - OLIVER FISHER
“I was tame, I was gentle till the circus life made me mean
Don't you worry, folks, we took out all her teeth
Who's afraid of little old me?
Well, you should be”[23]
Who’s afraid of little old me? — Taylor Swift
Quinto romance. Você tem noção que agora preciso usar todos os dedos
de uma mão para dizer quantos livros eu tenho? Ainda é difícil acreditar no
rumo maravilhoso que minha vida tomou desde a publicação de Wild
Players e isso tudo é graças a vocês.
Correndo o risco de soar repetitiva, mas não tem como começar os
agradecimentos sem agradecer ao meu namorado. Obrigada por não
implicar quando pego o seu celular e faço o algoritmo só entregar vídeos de
patinação. E pela última vez, não vamos tatuar anéis nos dedos!
Obrigada às betas mais maravilhosas que uma autora poderia ter. Bruna e
Gabi, vocês sempre entregam tudo! E me desculpa por criar padrões
inalcançáveis de relacionamentos.
À Kim Kardashian, minha gatinha fofa que logo será homenageada no
meu perfil. Olha só, entregando um spoiler para você que lê até os meus
agradecimentos.
E, óbvio, muito obrigada, leitora fiel que está sempre
surtando/sorrindo/chorando com as minhas histórias. Se estou aqui
escrevendo mais uma página de agradecimentos, é porque eu sei que tem
pessoas maravilhosas esperando por mais esse livro.
Te vejo na nossa próxima aventura!
[1]
Não é fácil amarmos um ao outro/ Mas quando nossos dedos se entrelaçam/ Não posso negar/ Não
posso negar que você vale a pena
[2]
Bandeira xadrez nas cores preto e branco usada nas corridas.
[3]
Salto assistido pelo dedão do pé, que começa com o atleta patinando para trás em uma curva
ampla e saltando pelo lado de trás de fora da lâmina e retornando no lado de fora de trás do pé
oposto.
[4]
Protagonista de Padrinhos em guerra, livro da mesma autora
[5]
Do francês, Senhor Traidor.
[6]
Movimento onde o patinador mantém o corpo ereto e, dobrando levemente os joelhos, faz uma
sequência de afastar e aproximar os pés, o que gera um impulso para frente.
[7]
Mesmo procedimento do swizzle, porém impulsionando o corpo para trás.
[8]
Movimento onde o patinador muda o peso do corpo de um pé para o outro enquanto impulsiona o
corpo para fazer uma curva. Muito usado nas laterais do rinque.
[9]
Para entender melhor essa história, leia Wild Choices, outro livro da autora.
[10]
Foram apenas seis segundos e eu tive que fingir.
[11]
Criado pelo patinador sueco Ulrich Salchow, é um salto que começa do lado de dentro de um pé
e termina do lado de fora do outro pé.
[12]
Inventado pelo norueguês Axel Paulsen, esse famoso salto da patinação artística começa de uma
posição para frente e consiste de meios-giros extras, decolando da ponta da frente e de fora da lâmina
e retornando no lado de trás e de fora da lâmina.
[13]
Protagonista do livro Padrinhos em Guerra da mesma autora.
[14]
Um salto simples. Salto assistido pelo dedão do pé, saltando e aterrissando do mesmo lado da
lâmina.
[15]
Salto assistido pelo dedão do pé, que começa no lado de trás de dentro de um pé e retorna no lado
de fora de trás do outro pé.
[16]
Uma série de voltas na dança no gelo, patinando com uma perna e fazendo uma ou mais rotações
rápidas e contínuas.
[17]
Protagonista do livro Wild Lovers da mesma autora
[18]
TODOS À BORDO!
[19]
Talvez não seja tarde demais/Para aprender a amar e se esquecer de como odiar.
[20]
Estou saindo dos trilhos em um trem maluco.
[21]
Giro em posição sentada, perto do gelo, com o patinador girando com uma perna dobrada e a
outra estendida.
[22]
Eu sei que as coisas estão dando errado pra mim.
[23]
Eu fui mansa, fui gentil até o circo da vida me tornar cruel/ Não se preocupem pessoal,
arrancamos todos os dentes dela/ Quem tem medo da minha velha eu?/ Bem, você deveria ter.
[24]
Se você me queria morta, era só dizer.
[25]
Giro usando a perna e o tronco estendidos, fazendo um ângulo de 90 graus.
[26]
Eu era mansa, era gentil, até que a vida de circo me deixou cruel.
[27]
A antiga Gracie não pode vir ao telefone neste momento.
Sobre a autora
Esther Moretti tem 22 anos e é apaixonada por livros de romance desde que
se entende por gente.
Padrinhos em Guerra
ENEMIES TO LOVERS + FAKE DATING + CEO E EX-FUNCIONÁRIA
Animada com a ideia de passar uma semana por conta dos noivos na
paradisíaca Mykonos, na Grécia, Trinity descobre cedo demais que seu
sonho está perto de se tornar pesadelo.Isso porque um dos padrinhos do
matrimônio é justamente Alex Fletcher — seu ex chefe e principal motivo
da sua demissão.
∞∞∞
Wild Players
FAKE DATING + FRIENDS TO ENEMIES TO LOVERS + EX-MELHORES AMIGOS +
QUARTERBACK x ESCRITORA
É por isso que ela pede ajuda para Atlas Campbell. Afastado dos
estádios pelos próximos três meses, o jogador lesionado dos Pythons tem
arrancado suspiros por onde passa desde que chegou em Los Angeles, com
a promessa de transformar os perdedores da UCLA em jogadores de
verdade.
Com uma lista muito extensa de “relacionamentos” que nunca passam de
uma semana, Atlas sabe exatamente o que Taylor precisa fazer para
conquistar um cara como Hunter.
Entretanto, o destino parece ter outros planos, e Atlas Campbell acaba se
esquecendo de que os cupidos não devem se apaixonar por quem estão
ajudando.
Romance não indicado para menores de 18 anos.
∞∞∞
Wild Choices
CLICHÊ INVERTIDO + ROMANCE PROIBIDO + REALITY SHOW
Chad Jacobs acabou de entrar na lista dos solteiros mais cobiçados dos
Estados Unidos. Apesar da quantidade de mulheres interessadas, o tight end
dos Pythons raramente é visto em clima de romance com alguém, o que
alimenta a curiosidade das revistas de fofoca: Quem vai ser a primeira a
derreter seus sentimentos congelados?
Cursando cinema na UCLA, Cleo Evans conquista uma lista de
corações partidos por onde passa. Sendo uma das melhores alunas da sua
turma, ela precisa de um grande projeto para participar de um concurso que
pode mudar sua carreira: E nada melhor para uma conquistadora do que
produzir um reality show de namoro. A ideia se encaminha bem mas, nas
vésperas dos primeiros dias de filmagem, uma confusão faz a influencer
que participaria do show cancelar sua participação. Agora, Cleo precisa
encontrar uma subcelebridade desesperada — ou simpática — o bastante
para levar a sua ideia maluca para frente.
Numa tentativa de ajudar Cleo, Chad decide participar do programa. Ele
só não esperava que aquela escolha aproximaria os dois de uma forma
perigosa e proibida, já que, sendo a cunhada do seu melhor amigo, ela está
fora dos seus limites. Depois de um vídeo viral, o Estados Unidos está
torcendo para que ele escolha uma das dez participantes do reality como sua
nova namorada, mas o que fazer quando seu coração bate mais forte pela
única pessoa que você não pode ter?