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O Avivamento Morávio e Seu Legado

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O Avivamento Morávio
e seu legado
Clériston Nascimento da Silva

Nova Almeida, 26 de março de 2022


Redação e diagramação: Clériston Nascimento da Silva
Imagem da capa: Selo Morávio ou Agnus Dei, Vitral na Capela dos Direitos na Igreja
Morávia da Trindade, Winston Salem, Carolina do Norte.

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Sumário
Uma história sendo escrita …………………………………….04

O poder da unidade …………………………………………….07

Vivendo um avivamento ………………………………………..11

Nossa responsabilidade …………………………………………17

Referências ……………………………………………………...22

3
Uma história sendo escrita
Enquanto escrevo essas páginas, a Nossa Igreja ora e aguarda um
grande avivamento. Ao mesmo tempo os irmãos estão estudando o
agir de Deus em avivamentos que ocorreram ao longo da história
da igreja. Conhecer esse agir é importante por certos motivos. O
primeiro é o impacto que tais histórias provocam nos corações de
crentes verdadeiros. Um coração em chamas continua incendiando
outros corações, mesmo depois da morte, por meio do seu legado.
A história de David Brainerd, por exemplo, foi uma forte
influência para muitos outros avivalistas e missionários¹. Willian
Carey foi um desses influenciados, que, por sua vez, teve sua
história a influenciar tantos outros. Ao lermos tais histórias, nossa
alma grita diante do Pai: “Faz novamente, Senhor!” Percebemos
que, se Deus usou homens simples, sujeitos as mesmas paixões
que nós, nós também podemos ser usados, se nos entregarmos
mais, se nos consagrarmos mais.
Um segundo motivo importante (o terceiro virá ao final do texto) é
entender que existe uma história sendo escrita pelo nosso Pai. A
cada avivamento, algo novo está sendo derramado. Um
avivamento dá origem a outro (O Vivamento da Rua Azuza, por
exemplo, foi fruto da intercessão do avivamento no País de Gales),

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uma história se complementa na outra². É muito conhecida a
história de Jonh Wesley, como ele tocou sua geração, e foi usado
por Deus para estabelecer bases de muito do que aconteceu
depois. Mas ao estudar sua história, um detalhe em sua conversão
não nos passa despercebido.
Wesley já era um pastor e estava a caminho da América como
missionário para pregar aos índios, quando na viajem de navio ele
conheceu um grupo de cristãos tão diferentes que o fez questionar
se de fato ele mesmo era um Cristão verdadeiro. Essas pessoas
estavam no navio servindo aos outros viajantes, tarefas que a
maioria não suportaria, e quando alguém oferecia pagamento,
recusavam dizendo que “aquilo era bom para seus corações
orgulhosos e, que o seu querido Salvador havia feito muito mais
por eles”. Se alguém fosse ríspido com esses irmãos, os
empurrasse, batesse ou até mesmo os jogasse no chão, eles se
levantavam e saíam. Pareciam não ter qualquer sentimento de
orgulho, ira ou vingança.
Em certo ponto da viagem, enquanto realizavam um culto, uma
grande tempestade se levantou. O pânico começou a tomar conta
da tripulação e o próprio Wesley, estando como Capelão, percebeu
que estava muito mais preocupado com a sua própria vida do que
com a dos outros. Então o mastro principal do navio se quebrou, a

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vela despedaçou-se, e as águas jorraram sobre o convés, como se
um grande abismo fosse engolir toda a embarcação. As pessoas
começaram a gritar e a uivar em desespero. Mas aquele grupo
especial de cristãos continuava sereno, cantando o salmo. Até
mesmo as crianças permaneciam tranquilas cantando juntos.
Passado o susto, Wesley perguntou a um deles: “vocês não
estavam com medo?” . O homem lhe respondeu: “Graças a Deus,
não”. Wesley insistiu, tentando entender: “Mas não estavam
amedrontadas as mulheres e crianças?”. Ao que ele respondeu
brandamente: “Nossas mulheres e crianças não tem medo da
morte”.
A respeito desse episódio, Wesley escreveu: “Fui à America
converter os índios, mas quem há de me converter?” Esse grupo
de cristãos, tão distinguível no meio dos outros, eram os irmãos
morávios. Ao retornar à Inglaterra, Wesley procurou um dos
líderes desse grupo e assim entregou sua vida definitivamente ao
Senhor Jesus³.
Nossa proposta com esse texto é, assim como Wesley,
conhecermos mais de perto os irmãos morários, aprender um
pouco do que Deus fez por meio desses irmãos e aplicar a nossas
vidas.

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O poder da unidade
A história dos morávios é uma história de refugiados. A Morávia é
uma região na Europa localizada onde hoje é a República Tcheca.
Durante a guerra dos 30 anos, um rei católico impôs severa
perseguição a todos de origem protestante. 15 líderes das igrejas
foram decapitados e os outros fiéis enviados para calabouços ou
minas de trabalho forçado. Escolas foram fechadas, Bíblias,
hinários e catecismos foram queimados. Cerca de 16 mil famílias
se tornaram refugiadas, situação que perdurou por 100 anos 4. Os
cristãos protestantes, de maioria Hutita (seguidores de Jonh Huts),
precisaram formar uma grande rede clandestina, com reuniões em
pequenos grupos como forma de manter a sua fé.
Uma parte desses refugiados foi abrigada nas terras que Nicolau
Luiz, o Conde Zinzendorf, havia adquirido na Alemanha. Essas
terras se tornaram abrigo para vários grupos protestantes
refugiados da perseguição. Assim surgiu a comunidade de
Herrnhut, que quer dizer “O redil do Senhor”5.
Embora fosse uma comunidade formada por cristãos, que, além de
terem Cristo em comum, também possuíam a mesma situação de
refugiados, não havia paz entre eles no lugar. Os grupos, sendo de
denominações diferentes estavam em constantes conflitos que não

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se limitavam a discordâncias doutrinárias. Chegavam ao ponto de
um membro de uma igreja parar na frente de outra durante uma
pregação e começar a rebater o pregador, denunciando seus
supostos erros. A tensão no local era tanta que chegaram a chamar
o próprio Conde Zinzendorf, que tão bondosamente havia lhes
dado asilo, de “Besta do apocalipse”.
Mas esse conde vinha de uma formação diferente. Possuia forte
influência do movimento pietista, sendo ele mesmo afilhado de
Spener, considerado o maior dos pietistas 6. Esse detalhe é
importante para entendermos o desenho de Deus ao longo da
história, citado no início do texto. A história é escrita ao longo de
gerações, e também na vida dos homens que expirimentaram o
avivamento, antes mesmo de chegarem a esse momento.
Zinzendorf havia se convertido aos 4 anos de idade e desde então
tinha escolhido como lema de vida: “tenho apenas uma paixão, é
Jesus, somente Jesus”. Aos dezesseis anos, ao deixar o colégio de
Hale, entregou a um dos professores uma lista com sete grupos de
oração que havia formado. Teve uma boa formação teológica,
estudando na mesma Universidade de Lutero, e ainda formou-se
em direito, algo que colaborou para sua liderança.
Ao saber o que estava acontecendo na comunidade de Herrnhut,
Zinzendorf renunciou seus serviços na corte de Dresden e mudou-

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se para a vila. Ali, ele começou a pregar para as pessoas sobre o
pecado da divisão e sobre a unidade.
Tudo o que acontece a partir daí, percebemos ser consequência da
resposta desse grupo de cristãos ao chamado do Pai à unidade.
Nas histórias de avivamentos é recorrente encontrarmos situações
como essa. As placas de igrejas são deixadas de lado, o orgulho
denominacional é renunciado e abandonado e então o Senhor vem.
É princípio espiritual, é também uma promessa de Deus, expressa,
por exemplo, no Salmo 133, que nos diz que onde os irmãos
vivem em união (…), ali o Senhor ordena a bênção e a vida para
sempre.
Em 5 de agosto de 1727 um grupo de irmãos, após passar uma
noite em oração, entendeu que o principal problema que havia
entre eles era o partidarismo denominacional. A partir de então foi
elaborado um documento para que todos os que quisesse morar
naquelas terras devessem assinar. Esse documento foi chamado de
Aliança Fraterna e todos aqueles que o assinassem estariam assim
se comprometendo em deixar as desavenças denominacionais de
lado para focar somente no que eles possuiam em comum,
valorizando a unidade e comunhão entre os irmãos. O ambiente de
oração e quebrantamento era tal que, até aqueles que concordavam
com o documento somente “da boca pra fora” logo se viam

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quebrantados e aceitando de coração a Aliança Fraterna. Nesse
contexto, descontentamentos, preconceitos, ainda que secretos
eram confessados publicamente e postos de lado.
Foi então marcado um culto de ceia unindo todos esses irmãos,
para celebrarem esse novo momento, para o meio-dia de 13 de
agosto de 1727. O assunto do culto foi o amor entre os irmãos, a
unidade e a fraternidade. De repente, no decorrer do culto, o poder
e a presença de Deus caíram sobre eles, com tamanha força que
todos se puseram de joelhos em grande quebrantamento, tomados
por um tipo de êxtase coletivo. Humilhados diante de Deus, com o
rosto no pó, muitos tiveram a visão do cordeiro ensanguentado, o
servo sofredor descrito por Isaías, imagem que posteriormente
tornou-se símbolo do movimento morávio. O culto durou até a
meia-noite.
O Livro História da Igreja Morávia descreve esse momento da
seguinte forma:

Então, no mesmo momento, todos presentes, absorvidos em


profunda devoção, foram estimulados pelo toque místico e
maravilhoso de um poder que ninguém poderia definir ou
entender. Lá na igreja paroquial de Bethels Door, eles finalmente
conseguiram a firme convicção de que eram um em Cristo e, ali,
acima de tudo, acreditavam e sentiam que neles, assim como nos

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12 discípulos no dia de pentecostes, havia descansado o fogo
purificador do Espírito Santo”7

E assim começou o mais longo avivamento de todos até o presente


momento.

Vivendo um avivamento
Poucos dias depois, no dia 26 de agosto foi iniciada a maior
reunião de oração da história, tendo durado mais de 100 anos sem
interrupção. Um grupo de 24 irmãos decidiu cada um assumir um
horário do dia de maneira que a oração jamais parasse. Pouco
depois esse grupo aumentou para setenta e sete e até as crianças
foram despertadas a fazer parte. Um rendia o outro em sua escala
e a oração não parava, 24 horas por dia, 7 dias por semana, por
mais de 100 anos. Esses intercessores não eram obreiros
remunerados pela igreja. Eram servos e filhos que se
comprometeram em não deixar a chama se apagar.
O versículo que esses irmãos tiveram por base foi Levíticos 6.13:
“O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará”.
Numa leitura desatenta, a frase “não se apagará” pode soar como
uma profecia, mas, na verdade, ela era um mandamento. Na

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narrativa de Levíticos, Deus havia ele mesmo incendiado o altar e
aquele fogo deveria ser diariamente conservado perpetuamente
pelos sacerdotes. Os irmãos morávios entenderam o princípio
espiritual ilustrado nesse mandamento sobre o tabernáculo e
aplicaram à realidade da intercessão. Dia e noite, noite e dia, como
na visão do trono de Deus em Apocalipse, como prefigurado no
tabernáculo de Moisés e ainda, como foi praticado no tabernáculo
de Davi (voltaremos a esse ponto mais tarde). Um grupo na Terra
reproduzindo o que acontece no céu, um grupo se alinhando com o
céu.
Toda semana os intercessores tinham uma reunião para elaboração
de uma lista com os itens que deveriam ser apresentados em
oração. Esses motivos eram levados de hora em hora ao Senhor.
Pessoas novas e idosas eram atingidas por esse mover do Espírito.
As crianças sentiam um forte impulso pela oração, e suas súplicas
eram profundamente comoventes de se ouvir. Uma testemunha
relatou:

“Não posso explicar a causa do grande despertamento das


crianças em Herrnut de outra maneira que não seja um
maravilhoso derramamento do Espírito Santo de Deus sobre a
congregação reunida naquela ocasião.”3

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Além da oração, a adoração e a meditação na palavra foram
fortemente ativados por Deus nesses dias. Muitos hinos foram
escritos nessa comunidade, e a meditação na palavra foi
fortemente difundida. Só o Conde Zinzendorf escreveu mais de
200 hinos. Chegaram a criar uma modalidade de culto que
consistia em um sermão cantado. Vários hinos eram selecionados
dentro de um mesmo tema e cantados em sequência ao longo da
programação.
Em certo culto, Zinzendorf leu um texto da Bíblia e a seguir pediu
que cada irmão meditasse naquela passagem. O ato de meditar
acabou por se tornar um costume, e todas as noites um versículo
era apresentado para que toda a comunidade meditasse nele. Esse
versículo seria então usado nas visitas pastorais e demais
atividades do dia. Com o tempo, essa prática deu origem aos
Daily Texts, que posteriormente foi transformado em uma
publicação de um livro devocional.
O formato desses devocionais seguia a estrutura de uma conversa
com Deus. Um texto da Bíblia era apresentado para ser meditado.
Essa era a parte de Deus falando. Na sequência do texto, um hino
era proposto, sendo a parte que cantaríamos a Deus, como uma
resposta nossa para Ele.

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Nossa cultura ocidental contemporânea não é muito dada à
meditação bíblica. A maioria dos crentes nem mesmo sabem o que
isso significa. Mas a Bíblia nos chama a meditar na Palavra de
Deus. As tão conhecidas promessas do Salmo 1º, por exemplo, são
para aquele que “tem o seu prazer na lei do Senhor e na sua Lei
medita de dia e de noite.”
Os Daily Texts são publicados até hoje, tendo sido usados por
vários homens de Deus ao longo da história.
Além do avivamento da oração, da palavra e da adoração, Deus
derramou sobre eles um grande despertamento missionário.
Em uma viagem, durante o ano de 1731, Zinzendorf teve contato
com um grupo de esquimós que havia sido convertido a Cristo por
um missionário Luterano chamado Hans Edge 5. Aquela
experiência abriu-lhe o coração para a possibilidade das missões
transculturais.
Nesse período, as igrejas protestantes ainda não haviam entendido
com clareza que a ordem de Jesus para fazer discípulos de todas as
nações era aplicado a eles. A ortodoxia reformada entendia que
pelo fato de algumas nações terem em algum momento recebido
um apóstolo no passado e mesmo assim se voltado ao paganismo,
elas já haviam perdido sua chance. Outros ainda se firmavam
numa compreenção distorcida da doutrina da eleição para não

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enviar missionários ao campo. Mas nas terras de Zinzendorf, os
irmãos acreditavam que almas poderiam ser salvas por meio da
conversão. Ali, céu e terra estavam se alinhando.
Em 1732 saiu o primeiro grupo de missionários morávios,
partindo para o Caribe e se instalando nas Ilhas Virgens e depois
Guiana. Em 1935 um grupo partiu para Geórgia, na América do
Norte, com o objetivo de evangelizar os índios. Logo depois outro
grupo também partiu, dessa vez para Pensilvânia. Fundaram assim
várias cidades na América, procurando replicar o que viviam em
Herrnhut.
Estabeleceram missões na America do Sul, do Norte, Índia,
África, em lugares as vezes de difícil sobrevivência, como
Groelândia e Alasca.
Em pouco tempo, aquele grupo que havia começado com cerca de
200 refugiados agora já havia enviado mais de 100 missionários
para várias partes do mundo. Em 1747, o grupo agora com cerca
de 2500 irmãos já havia convertido e batizados mais de 3.000
pessoas ao redor do mundo5. Começaram sua história fugindo,
mas então, pela oração, estavam agora atacando o reino das
trevas.
Entre as histórias dos envios missionário dos morávios, uma não
pode deixar de ser contada. Dois rapazes de 20 anos souberam da

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existência de uma ilha no leste da Índia com mais de 2.000
escravizados africanos que iriam viver e morrer sem nunca
conhecerem a Jesus8. O dono da ilha era um britânico ateu, que, ao
ser contatado pelos rapazes respondeu de imediato que não
deixaria nenhum pregador ou clérigo chegar à sua ilha para falar
coisas sem sentido. Os rapazes voltaram a orar e apresentaram a
ele outra proposta: “e se fossemos para sua ilha como escravos
para sempre?”. O homem finalmente aceitou, mas disse que não
pagaria nem mesmo os custos da passagem. Os rapazes usaram
então o valor da sua venda para custear a viagem.
No dia da partida, familiares e irmãos do grupo de oração estavam
lá para se despedirem. O choro era intenso em todos. Aqueles dois
rapazes tão amados não estavam indo numa viagem passageira,
numa decisão impulsiva. Era um caminho sem volta, para uma
ilha tomada pela selva, viver como escravos até a morte, para ter a
chance de levar a salvação para aquelas pessoas, em uma época
em que a sociedade europeia nem mesmo creditava humanidade
aos povos africanos. Quando o navio tomou certa distância, os
rapazes se abraçaram e gritaram para os seus as últimas palavras
que aqueles ouviriam deles:

16
“Que o Cordeiro que foi imolado receba a recompensa do seu
sofrimento”

A história por si já nos constrange o coração. Mas outros atos


semelhantes começaram a acontecer. Mais jovens se venderam
como escravos e partiram em navios negreiros usando assim suas
vidas para evangelizar escravos.
Como esses irmãos puderam chegar a esse nível de entrega? Como
eles puderam prosseguir por mais de cem anos em uma escala de
oração sem deixar falhar? A fonte de toda a motivação para essa
entrega, não vinha do fanatismo ou da pressão da liderança, mas
de uma compreensão do grande amor de Jesus por nós. Ele merece
a recompensa pelo seu penoso trabalho. O Cordeiro é digno de
receber.

Nossa responsabilidade
Iniciamos esse texto falando sobre a importância em se estudar os
feitos do nosso Deus em avivamentos passados. O terceiro grande
motivo que gostaria de apresentar nesse breve texto é sobre o que
vamos fazer a partir de tais revelações.

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Em cada avivamento o Senhor entrega algo novo, ou ainda,
restaura algo perdido ao longo do tempo. Precisamos entender
que, ao ter contato com tais fatos, cabe a nós dar o próximo passo
na história. Deus moveu esses homens à unidade, depois a um
formato de oração que os levou a um trabalho missionário sem
precedentes. Como vamos dar continuidade a uma obra tão
grande? A história a seguir talvez nos ajude a concluir.
Jame W. Goll, autor do livro A Arte Perdida da Intercessão, no ano
de 1993 esteve no cemitério dos morávios e disse ter vivido uma
forte experiência com Deus9. Ele ouviu o próprio Deus lhe
falando, como em Ezequiel 37.3: “Filho do Homem, acaso,
poderão reviver esses ossos?” Ou seja, poderia o Senhor reviver
um movimento de oração tão comprometido como aquele? Fato é
que daqueles dias para cá, Deus tem levantado salas de oração
nesse formato de 24 horas, sete dias por semana por todo o
mundo.
A Casa Internacional de Oração em Kansas City é um desses
exemplos. Desde 1999 eles sustentam uma sala de oração 24/7.
Até o preente momento, são 23 anos de adoração e intercessão
ininterruptos. Em vários outros lugares, como Brasil, Israel,
Indonésia, Egito, Irã, China. Nos espanta o fato de que até mesmo
em países de grande perseguição aos cristãos, salas de oração

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como essas tem se mantido. O dirigiente diz: “Vamos cantar o
hino tal!”. Os irmãos fecham os olhos e cantam o hino apenas em
pensamento, para não atrair a atenção dos perseguidores. E mesmo
nesse contexto, perceveram e se multiplicam intercessores.
Existem dados que falam em mais de 25 mil salas de oração 24/7
em todo o planeta10. Algo que começou em uma vila há séculos
atrás, agora está se tornando global.
Entendemos que esse movimento de oração está totalmente
relacionado ao avanço da obra missionária. Foi assim com os
Morávios, está sendo assim hoje, e o modelo foi estabelecido nos
tempos do tabernáculo.
Há algumas páginas atrás, falamos sobre o fogo arder
continuamente, sem se apagar no tabernáculo construído por
Moisés. Mas vale a pena trazer a memória o tabernáculo de Davi.
Durante o seu reinado, quando a arca foi trazida a Jerusalém, Davi
colocou a arca em uma tenda e escalou cantores, músicos e toda
uma estrutura de funcionamento para que fosse apresentada
adoração ao Senhor de contínuo. Os adoradores não se
apresentavam a um público, mas ao Senhor, dia e noite.
Séculos depois desse sistema de culto deixar de funcionar, o
Senhor falou por meio do profeta Amós “Naquele dia, levantarei o
tabernáculo caído de Davi” (Amós 9.11). Chama atenção o fato de

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que entre tantas coisas do Antigo Pacto, tantas estruturas, a que
Deus parece “sentir saudade”, se me permitem usar poeticamente
essa expressão, é justamente o tabernáculo de Davi. A estrutura
terrena que mais se assemelhou com a adoração de contínuo que
acontece diante do seu trono no céu.
Quando o evangelho começou a chegar a outras nações, lemos em
Atos 15 que a igreja precisou se reunir e entender o que de fato
estava acontecendo. Num dado momento, Tiago tomou a palavra e
citou essa profecia de Amós, aplicando o texto maior ao avanço do
evangelho aos outros povos:

E com isto concordam as palavras dos profetas; como está


escrito:
Depois disto voltarei,e reedificarei o tabernáculo de Davi,
que está caído, levantá-lo-ei das suas ruínas, e tornarei a
edificá-lo.
Para que o restante dos homens busque ao Senhor,e todos
os gentios, sobre os quais o meu nome é invocado,diz o
Senhor, que faz todas estas coisas, Atos 15. 15-17

A relação entre avanço missionário e esse modelo de


adoração/intercessão, ou melhor dizendo, desse sacerdócio, é
bíblica, como pudemos ver. Cremos que a igreja dos últimos

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tempos irá vivenciar um grande avivamento, e pregará o
evangelho como testemunho a todas as nações. Jesus ensinou que
os últimos dias serão marcados por esfriamento do amor e por
abandono da fé. Mas também ensinou que a verdadeira igreja
desses dias será perseverante (Mateus 24.13), e levará o evangelho
a toda a Terra.
Conhecer os avivamentos não deve servir apenas para nos
despertar, ou nos fazer conhecer o que Deus já fez. Precisamos
entender o que Ele está nos dizendo agora, e a partir desse
conhecimento responder a Ele. Cada ensino já dado a gerações
anteriores, cada mover do Espírito já liberado nos avivamentos
passados nos aponta que há um próximo passo a ser dado, uma
continuidade na história. Portanto, não tem a ver com o que ele fez
no passado, mas sim com o que ele faz no presente e fará a partir
de nós.
Meu convite a você, leitor, é que ao final dessa leitura reserve um
bom tempo de oração e se renda ao Pai. Não se contente em ser
um observador do que Ele já fez, mas se torne participante do que
Ele está fazendo. Posicione-se. Comprometa-se. Coloque o Reino
de Deus em primeiro lugar como fizeram os Moravianos. Entre
em uma torre de oração 24/7. Se necessário, abra uma. Em
qualquer situação que porventura o Senhor esteja te desafiando,

21
responda a Ele. Porque o Cordeiro é digno de receber a
recompensa.

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Referências
(1) BOYER, Orlando. “Heróis da fé”. CPAD-Casa Publicadora
das Assembleias de Deus, 2014.

(2) BARTLEMAN, Frank. "A história do avivamento Azusa."


D’Sena, 2010.

(3) THM, Rafael Ribeiro. “Sangue e fogo, a história do


avivamento morávio”. Disponível em:
http://ruach.com.br/livretos/avivamento.no.congo.pdf

(4) ROSANE, Gláucia. “Documentário: Herrnhuter e o


Avivamento Moraviano”. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=vDHc3I3ejxM&t=360s

(5) GONZÁLEZ, Justo L. "História Ilustrada do Cristianismo-


Volume 2" Vida Nova, 2011.

(6) TILLICH, Paul. “História do pensamento cristão”. Aste, 2004.

(7)BAZZO, Carol. “A história do avivamento morávio”.


Disponível: https://youtu.be/XoVu0ct5o7w

(8) VOLTEMOSAOEVANGELHO.COM. Vinícius. “Jovens


Moravianos”. Voltemos ao Evangelho. Em 26 de agoto de 2009,
diponível em:

23
https://voltemosaoevangelho.com/blog/2009/08/jovens-
moravianos/

(9) REVISTAIMPACTOTV. “CPPI 2016-Pietismo e Avivamento


Morávio-Michel Duque Estrada”. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=9IbjMVifhUE

(10) VEIGA, Elismar. “Pai, assim na terra como no céu”.1. ed. do


Autor, 2021.

24

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