Tributação e Desenvolvimento Econômico
Tributação e Desenvolvimento Econômico
Tributação e Desenvolvimento Econômico
Na Inglaterra, como decorrência de uma privado não atuasse, como a educação, e que fossem
nobreza fragilizada por guerras sucessivas, estabeleceu-se estratégicas para o desenvolvimento das nações. Assim, a
o Estado Absolutista inglês. As disputas entre várias racionalidade capitalista imputada ao Estado criou a
facções culminaram com a concentração do poder na burocracia estatal como elemento fundamental para o
figura do rei, cujo ponto culminante foi o reinado de avanço do capitalismo, atuando no controle da moeda e
Henrique VIII no século XVI reunindo pela primeira vez na educação entre outros setores (WEBER, 1968).
o poder temporal e o poder espiritual sob uma mesma Contudo, a defesa do livre cambismo era imcompatível
pessoa. A expansão do comércio interno e externo foi com a tributação do comércio exterior, calcada na taxação
sustentada pelo poderio militar e naval bancado por dos direitos alfandegários4. Daí o crescimento dos
contribuições dos grandes comerciantes ingleses que, em modernos impostos indiretos sob o consumo que obtinha
contrapartida, recebiam monopólios de atividades uma ampla base de incidência num comércio em plena
mercantis. expansão (HINRICHS, 1972).
A implantação da produção fabril inglesa, que, A contraposição ao livre cambismo, realizada
partindo do artesanato, passou pela manufatura, atingindo principalmente noutra potência européia emergente, a
a indústria têxtil, foi sustentada por uma ação estatal de Alemanha, mostrava tanto a inadequação do Estado
proteção do mercado interno e conquista de rotas Liberal para economias menos desenvolvidas como a
comerciais (OLIVEIRA, 1985). Para tanto, foi importante importância das tarifas aduaneiras como proteção do
o poderio naval e militar do Estado Absolutista que comércio interno de países emergentes contra a
quebrou as restrições internas ao comércio inglês e superioridade econômica inglesa. A Alemanha não tinha
alavancou a expansão do comércio internacional. O estrutura econômica compatível com a plena adoção do
tributo, nesse caso, protegia os interesses mercantis e era livre cambismo que só interessaria à Inglaterra em face da
arcado pelos detentores do capital comercial. Assim a pujante indústria de "consumo" que poderia destruir a
partir do século XIV, a principal fonte de receita do indústria alemã nascente. LIST (1983) advogava o
Estado inglês eram os direitos alfandegários (HINRICHS, protecionismo, pois a tese da não-regulação do comércio
1972). A política de proteção do mercado nacional e a externo de cada país só atenderia aos interesses ingleses.
própria sustentação da realeza numa simbiose com a Os tributos poderiam criar barreiras eficientes regulando
burguesia mercantil transformaram as tarifas aduaneiras o comércio exterior, de acordo com os desígnios da
no mais relevante instrumento tributário inglês no burguesia alemã. A proteção de setores nascentes frente à
período. Como no mercantilismo os circuitos produção estrangeira poderia ser engendrada com a
internacionais eram os mais dinâmicos, a taxação do adoção de medidas tarifárias.
comércio exterior propiciava maior soma de recursos sem Ainda que as políticas protecionistas de várias
confrontar a nobreza, nem penalizar o mercado interno. nações européias como a Alemanha, Rússia, França e
A Revolução Burguesa na Inglaterra que viria Itália tenham permitido a esses países conformarem
a constituir o Estado Liberal reduziria a participação dos estruturas industriais compatíveis com o padrão da 10
grandes comerciantes levando à primazia a burguesia Revolução Industrial e avançarem para a 20 Revolução
industrial e financeira no século XVIII. Daí, sob a égide Industrial, no século XIX a hegemonia inglesa mostrou-
do Estado Liberal seria concretizada a expansão se incontestável nos planos político, econômico e militar.
comercial que levaria à hegemonia britânica em termos A emergência dos Estados Unidos da América, como uma
mundiais. Os defensores da participação mínima do potência industrial e econômica no cenário mundial desde
Estado na economia propugnavam o livre cambismo no o início do século XX, iria progressivamente contraba-
plano internacional. O mercado, em função da ordem lançar o poderio inglês cujo fim da hegemonia foi selado
natural, equilibraria as condições de produção e com a Conferência de Bretton Woods em 1945, em que o
promoveria a justa distribuição dos benefícios; e quem padrão libra-ouro foi definitivamente substituído pelo
era fonte de problemas era o intervencionismo estatal3. padrão dólar-ouro.
No entanto, a garantia da segurança interna e externa A transformação progressiva de economia
exigia a ação estatal, protegendo a nação e a expansão mercantil para economia industrial no período de
comercial, sendo, nesse ínterim, tão somente uma predomínio inglês iria ganhar contornos distintos da
continuidade do absolutismo. formulação liberal. A presença marcante do Estado na
Apesar de adepto do livre comércio, SMITH conformação da estrutura produtiva das nações
(1983) admitia gastos públicos em áreas onde o setor emergentes, sejam os Estados Unidos, Japão ou Alema-
nha, exigiu reformulações das estruturas tributárias 1/3 da receita tributária". Outra conclusão diz respeito ao
compatíveis com os requerimentos de um Estado crescimento da carga tributária (porcentagem dos tributos
Intervencionista. Disso surgiram a moderna estrutura sobre a renda nacional) com o processo de desenvol-
tributária e a ampliação da parcela estatal na riqueza vimento, sendo que os países desenvolvidos tinham
nacional com maior carga tributária. cargas tributárias superiores a 30% do Produto Interno
Para a crítica mais contundente do Estado Bruto (PIB) no início da década de 70 deste século, dando
Liberal, realizada neste século por KEYNES (1983), o suporte a uma ampla ação redistributiva com a adoção de
capitalismo, longe de equilibrar-se naturalmente pelo políticas sociais.
mercado como queriam os liberais, era instável e os
gastos públicos poderiam desempenhar importante papel
nas crises. Uma vez que propulsiona a demanda efetiva, 3 - A ESTRUTURA TRIBUTÁRIA E O DESEN-
ao aumentar seus gastos, na situa-ção de crise, o Governo VOLVIMENTO NO BRASIL
estaria atenuando os efeitos desta sobre a estrutura de
emprego e encaminhando a solução. Dessa formulação A economia cafeeira predominante no Bra-sil
surgiram os contornos do Welfare State, onde as políticas nas três primeiras décadas deste século se caracterizava
sociais de sustentação do emprego e da demanda por ser uma atividade agroexportadora. No to-cante à
ganharam corpo nas economias modernas mais riqueza, uma transformação importante veio no bojo da
desenvolvidas. expansão dessa rubiácea; trata-se da meta-morfose da
Entretanto, o Estado Contemporâneo manteve renda. Anteriormente à Lei de Terras de 1850, a renda era
a característica primitiva como forma dos países capitalizada no escravo, e o rico canavicultor nordestino
vencedores imputarem aos perdedores o ônus das se destacava dentre seus pares pelo número de escravos
guerras5. Agrega a lógica da manutenção do poder militar que possuía. A edição da Lei de Terras deu uma base
que continua sendo uma tarefa estatal inquestionável. Na fundiária à riqueza na forma de renda capitalizada na
ótica do comércio exterior, a proteção a produtos terra, a renda fundiária. O rico, agora, era o que possuía a
estratégicos com tarifas aduaneiras e subsídios à maior extensão de terras cultivadas com café (MARTINS,
produção interna continua sendo praticada. O novo 1979). Essa metamorfose da renda foi importante para a
Estado Industrial tem funções fundamentais ao preservação de uma estrutura conservadora patrimo-
desenvolvimento, como investimento em pesquisa e nialista com o concomitante estabelecimento de
educação, e tem de intervir na atividade econômica dificuldades ao acesso à terra para não proprietários.
promovendo ações governamentais que diminuam Durante todo esse período de três décadas do
desigualdades sociais notadamente no campo do emprego século XX, persistiu no Brasil uma estrutura tributária
(GALBRAITH, 1983). A prote-ção dos trabalhadores não típica do Estado Absolutista com a cobrança de tributos
garantida necessariamente pela lógica do mercado com base nos direitos alfandegários prevalecentes na
capitalista passou a ser uma atividade precípua do Estado Europa do século XIV ao século XVIII. Predominavam,
na construção do bem- estar social. A estrutura tributária no caso brasileiro, os impostos sobre o comércio exterior
foi modificada para procurar uma distribuição mais com o incidente sobre a exportação de competência das
eqüitativa dos benefícios do progresso transferindo renda unidades federativas e o de importação do Governo
dos ricos para pobres, via tributos e gastos públicos. Central. Tomando as receitas tributárias federais nota-se
Nesse processo de metamorfose do período que os impostos sobre importação representavam mais da
feudal à atualidade, a base da tributação muda-se da metade do valor arrecadado até 1930 (Tabela 1). A
agricultura para o comércio exterior, para gravar o cobrança sobre as exportações era atribuição provincial, o
consumo no passo seguinte, e, finalmente, passa a incidir que fortalecia aquelas mais dinâmicas, por ensejarem
sobre a renda líquida de pessoa física e/ou jurídica, os uma economia agroexportadora6.
chamados impostos diretos modernos. Para HINRICHS Apesar do liberalismo econômico, uma vez
(1972) "os impostos sobre a renda particular, e os que a Constituição Republicana de 1891 sequer
impostos em geral tendem a ser associados com sistemas contemplava o capítulo normativo da ordem econômica, a
políticos responsáveis, capazes de exercer eficiência burguesia cafeeira percebeu cedo a importância da
administrativa e incutir padrões de aquiescência intervenção estatal para obter ganhos econômicos. A
voluntária do público contribuinte. A tributação direta partir de 1903, os cafeicultores, dominando o panorama
pode captar até um máximo de 2/3 ou até o mínimo de político, ensejaram uma política de valorização do café na
primeira década do século, a qual, após uma trégua, na (IVC). Tal medida, se por um lado ia paulatinamente
década de 1910-1919, voltou a ser aplicada na década de estruturando o sistema tributário de acordo com as
vinte. Essa política de manutenção das cotações do café transformações da economia (OLIVEIRA, 1991), por
através da aquisição governamental teve papel relevante outro mantinha intacta a riqueza velha representada pelo
na economia com desdobramentos nas décadas seguintes patrimônio urbano ou rural.
(FURTADO, 1989). A transformação não alcançava a propriedade
Com a crise de 1929, afloramento de um rural, uma vez que a oligarquia rural tradicional e seus
processo ao final do qual, desbancando do poder a sucedâneos, os fazendeiros de café, mesmo derrotados
burguesia cafeeira em favor do segmento industrial- enquanto fração de classe hegemônica, tinham uma
financeiro, reformularam-se a estrutura social e política herança política ainda forte. O patrimonialismo
brasileira. Deu-se início a uma fase de dinamização do característico das classes dominantes no campo, presos a
processo de industrialização a partir da já instalada uma base territorial, também é esposado pelos seus
indústria leve de consumo, com base no padrão da 10 descendentes urbanos. Durante a maior parte do período
Revolução Industrial Inglesa, no primeiro quartel deste esse contingente deu suporte à manutenção de uma
século. De 1933 a 1955 tem-se um processo de estrutura tributária que não incidisse sobre o patrimônio e
industrialização restringida, onde apesar do crescimento a renda pessoal. A emergência de novas forças, as classes
industrial comandar a dinâmica da acumulação, não urbanas, permitiu a instituição do imposto sobre o
existia a capacidade de implantar a base técnica e consumo. Segundo SILVA (1976), "os impostos internos
financeira de uma indústria de bens de produção que só se revelavam frutíferos no Brasil... quando a base da
proporcionasse um avanço autodeterminado do massa urbana se expandiu o suficiente para arcar com o
desenvolvimento industrial (MELLO, 1982). custo da carga tributária. Nunca os setores dessas classes
A intervenção estatal, bancando o processo de dominantes ou da burguesia rural e urbana serviram de
industrialização pesada, nesse período, era limitada pela base ou se submeteram de bom grado ao aumento da
dificuldade de mobilizar recursos para o volumoso bloco carga tributária interna".
de investimento exigido. O crescimento da economia A mudança na estrutura tributária seria
industrial foi acompanhado de um crescente processo de operada na constituição de 1937 que inaugurou o Estado
urbanização que criou condições de aplicação do imposto Novo, período ditatorial de Getúlio Vargas. Apesar de
sobre o consumo, típico do capitalismo concorrencial. A manter as linhas mestras do sistema, a participação dos
constituição de 1934 ampliou o imposto sobre vendas impostos internos aumentou consideravelmente e
mercantis criado pela Lei n1 4.625 de 31/12/1922, suplantou, a partir de então, os inciden-
denominando-o Imposto sobre Vendas e Consignações
TABELA 1 - Participação de Tributos na Receita Tributária Federal, Brasil, 1923-66
(em porcentagem)
tes sobre o comércio exterior (Tabela 1). A crise de 1942, principalmente, obteve recursos utilizando da emissão,
em função da II Guerra Mundial, levou o Governo a através, portanto, do imposto inflacionário arcado por
ampliar a base de captação do Imposto de Rendas toda sociedade notadamente as massas trabalhadoras.
(OLIVEIRA, 1991). É importante que se note a Essa opção foi feita haja vista que uma reforma tributária
preponderância dos impostos sobre o consumo em plena teria de confrontar os interesses patrimonialistas das
expansão do capital monopolista, quando esse tipo de oligarquias regionais, base de sustentação política do
tributo é típico do capitalismo concorrencial do século Governo e outros interesses políticos também de corte
XVIII em diante, quando do estabelecimento do Estado conservador. A associação com o capital externo foi
Liberal. importante com a internalização de equipamentos e
O Plano de Metas, ensejado no período 1956- máquinas por meio da importação sem lastro cambial,
61, foi realizado sem alteração de monta na estrutura isto é, as empresas traziam os equipamentos e
tributária (OLIVEIRA, 1991). Um portentoso bloco de registravam seu valor como capital de risco com direitos
investimento realizado concomitantemente implantou a de remessa de lucros (LESSA, 1975).
indústria pesada brasileira, incorporando o padrão metal- As formas de financiamento do desenvolvi-
mecânico da 20 Revolução Industrial com sua base mento nacional executadas mostram o prevalecimento de
técnica, financeira e de organização de empresas. Como o forma decisiva da feição patrimonialista da burguesia
Estado não mobilizou recursos fiscais para arcar com o nacional que não ensejou uma reforma tributária
investimento, efetuou via confisco cambial a compatível com o momento histórico vivido na economia
transferência de recursos da agricultura para a indústria e, brasileira. A estrutura da receita tributária federal dá
tributária após o ano de 1975 (Tabela 2). A linha de um sistema financeiro inadequado ao crédito de
menor resistência novamente prevaleceu para o investimento e um sistema fiscal inapropriado, uma vez
beneplácito das elites, com o aproveitamento do surto de que a base de tributação deveria ser alargada e atingir
rápida expansão do sistema financeiro internacional setores líquidos e o patrimônio para o que faltava força
desde o final da década de 60; surge no cenário econô- política para penalizar a base de sustentação do regime. A
mico um novo personagem: o aceleramento da dívida década de 70 representou a do crescimento da dívida
pública interna e externa7, realizado como meio de externa, da estatização dessa dívida através de inúmeras
financiar o investimento sem gravar a riqueza da elite medidas de proteção ao emprestador privado e do
nacional. impulsionamento da face interna da dívida com o
A partir de uma constatação discutível, a de lançamento de títulos para enxugamento da liquidez
existência de um hiato de recursos que obrigaria o Brasil proveniente da monetização das cambiais (CRUZ, 1984).
a obter poupança externa para completar a interna para As dívidas internas e externas avançaram de
financiar o desenvolvimento, deu-se impulso ao processo forma vertiginosa em contrapartida com uma carga
de endividamento externo, alargando o nível das reservas tributária bruta, estagnada, ou cadente. Por outro lado, os
internacionais brasileiras. As tomadas, no início, subsídios e, principalmente, as transferências - no que
efetuadas pelo setor privado foram sendo estão contemplados recursos para fazer frente aos
progressivamente realizadas pelo setor público, serviços da dívida interna, crescem de forma abrupta
principalmente pelas empresas do sistema produtivo saindo de um patamar de 10% do PIB na metade dos anos
estatal. Argumentando com base na existência do "hiato 70 para atingir 19% do PIB no período 1985/86. Isso
de recursos", o Governo reforçava a tendência ao produz uma situação de carga tributária líquida em
endividamento, quando na verdade, o que acontecia era queda drástica o que reduz
uma incapacidade do Estado de mobilizar recursos, dado
TABELA 2 - Carga Tributária Bruta e Líquida no Brasil, 1965-90
(em % do PIB)
1
Inclui juros da dívida estatal.
2
Estimativa.
Fonte: Centro de Estudos Fiscais, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV).
profusão algumas versando sobre questões tributárias e trabalhadores. É uma situação cômoda para aqueles que
mesmo orçamentárias, numa afronta à especulativamente mantêm seu estoque de riqueza
constitucionalidade. Finalizando, a única tentativa nesse patrimonial.
sentido, mas que foi derrotada de forma cabal no
Congresso Nacional, foi a iniciativa governamental de
reajustar o Imposto Territorial Rural (ITR) numa 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
demonstração de força do patrimonialismo agrário.
A questão tributária como questão eminen- O sistema tributário revela-se mutante no
temente política reproduz nos seus resultados a correlação tempo para acompanhar o desenvolvimento econômico
de forças que produziu o sistema tributário. No Brasil, a que transformando a base produtiva exige novos tipos de
presença marcante do perfil conservador das elites nos tributos e outra agenda de políticas públicas. As cargas
planos econômico, social e político pereniza um sistema tributárias mostram-se crescentes para acompanhar o
calcado nos tributos indiretos sobre o consumo e sobre a contínuo aumento da necessidade de intervenção
renda na forma de salários, de forma que não alcancem governamental para constituir maior eqüidade social. Isso
de maneira expressiva a renda que aumenta o estoque de ocorre porque no correr dos anos, em várias economias e
riqueza das elites. Isso ocorre mesmo que de modo realidades sociais, a presença do Estado se faz exigida,
extemporâneo frente à modernidade do parque produtivo tanto para engendrar as bases de infra-estrutura e de
nacional. Essa perspectiva mantém-se e com ela o mobilização de recursos para investimento, para
processo de desenvolvimento que aumenta a desigual- sustentação do processo de desenvolvimento, como
dade social, onde os recursos para o financiamento das para realizar
políticas públicas são originários da massa de
TABELA 3 - Carga Tributária Bruta de Alguns Países Desenvolvidos, 1965-84
(em % do PIB)
Ano França Alemanha Dinamarca EUA Itália Noruega Suíça Suécia Brasil
1965 34,9 31,6 29,9 26,3 27,2 33,2 20,7 35,7 19,1
1970 35,6 32,9 40,4 29,8 27,9 39,2 23,8 40,2 25,7
1975 37,4 35,7 41,3 29,6 29,0 44,8 29,6 43,9 26,2
1976 39,4 36,8 41,5 28,6 30,3 46,2 31,3 48,2 25,3
1977 39,4 38,1 41,9 30,0 30,9 47,2 31,6 50,5 25,6
1978 39,5 37,9 43,4 29,9 31,3 46,5 31,6 50,8 24,7
1979 41,1 37,7 44,5 29,9 30,5 45,7 31,1 49,5 23,3
1980 42,5 38,0 45,5 30,3 33,2 47,1 30,8 49,4 23,2
1981 42,8 37,6 45,3 30,8 36,1 48,7 30,6 51,1 23,6
1982 43,8 37,4 44,5 30,5 38,9 47,9 31,0 49,9 25,1
1983 44,6 37,4 46,5 29,0 42,1 46,7 31,6 50,6 24,4
1984 45,5 37,7 48,0 29,0 41,1 46,4 32,2 50,5 21,5
Fonte: Statistiques de Recettes Publiques da Organization for Economic Cooperation and Development (OECD).
tarefas distributivas que o mercado auto-regulável se tal em geral. Os impostos indiretos são repassados para a
revelou incapaz de executar. Dessa maneira as cargas ponta do consumo onde os trabalhadores são a maioria
tributárias mais elevadas são hoje praticadas em dos compradores e o imposto de renda tem nos salários
economias em que prevalece os maiores padrões de bem- sua principal base de incidência. Dessa maneira, em
estar social, menores níveis de desigualdade e altos linhas gerais, no Brasil os recursos fis-cais que sustentam
índices de qualidade de vida, como é o caso de inúmeros as políticas públicas têm um per-fil extremamente
países europeus. regressivo no tocante a renda ao deixar imunes segmentos
No Brasil, a estrutura tributária tem tido sua detentores de montantes ex-pressivos da riqueza nacional.
modernização entravada por posturas conservadoras que Por outro lado, tem-se uma carga tributária reduzida
impedem a taxação das riquezas de uma elite de cunho comparada com os pa-drões vigentes na economia
patrimonialista. Dessa forma os efeitos dis-tributivos são nacional. Assim, deve-se discutir a reforma tributária
perversos dada a prevalência dos im-postos indiretos e incorporando outros elementos que não somente a defesa
quando são adotados os modernos impostos diretos, o são de interesses restritos de parcela da sociedade,
com a taxação da renda da pessoa física com menores exatamente aquela bem aquinhoada na distribuição
alíquotas gravando o capi- desigual da riqueza.
NOTAS
1
Trabalho referente ao projeto SPTC 16-011/92. O autor agradece os comentários da Pesquisadora Científica Regina Helena Varella Petti
que contribuíram para o aprimoramento do trabalho. Contudo, os erros e equívocos restantes são de responsabilidade do autor. Recebido
em 08/03/95. Liberado para publicação em 24/04/95.
2
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA).
3
HOBBES (1983) via no Estado um mal necessário, o Leviatã, monstro criado pela sociedade que se voltara contra ela. LOCKE (1963)
contrapunha a isso o argumento de que a ordem natural colocaria as coisas no lugar.
4
Um dos baluartes do livre cambismo inglês foi RICARDO (1986). A discussão da época é que mudou o sentido da fonte dos recursos
públicos, de tributo ao senhor, ao vencedor, para imposto pelo rei, pelo Estado.
5
A dívida de guerra imputada à Alemanha como derrotada na 10 Guerra Mundial, com perdas territoriais e pagamentos de indenizações,
e mesmo o fato atual de que as várias nações industrializadas se cotizaram para arcar com os gastos da guerra contra o Iraque, efetuados
pelos Estados Unidos (vassalagem moderna em relação à potência hegemônica) e a indenização imposta para ser paga pelo Iraque; são
fatos que mostram quão vivo está o sentido primitivo de tributo.
6
A Proclamação da República no Brasil reveste-se da descentralização do poder político como forma de garantir maior flexibilidade das
oligarquias regionais frente ao Poder Central. Isso vem de encontro aos anseios dos cafeicultores paulistas em processo de emergência
desde a fase final do Império, cujas propostas eram obstaculizadas pelas forças regionais dominantes no período imperial, especialmente
nordestinas. Entretanto, o café mesmo que percursor da modernidade econômica brasileira estava essencialmente calcado numa
concepção de hegemonia do capital comercial.
7
A arrecadação do ano de 1990 corresponde a um fato excepcional do primeiro ano do Plano Collor que não se repetiria nos seguintes.
LITERATURA CITADA
SINOPSE: A questão tributária nunca foi ponto pacífico no seio das sociedades, sendo motivo de lutas intensas
por envolver diretamente interesses diversos. Olhando a conformação da estrutura tributária ela é mutante no
tempo correspondendo à prevalência de uma tipologia de tributo em função dos diversos momentos históricos. O
trabalho enfoca a questão tributária no contexto do desenvolvimento econômico abordando as mudanças gerais
dos princípios tributários em âmbito mundial e da economia brasileira.
ABSTRACT: The tributary question has never been a pacific point in the societies. It has been reason of intense
fights by envolving directly diverse interests. The conformation of the tributary structure is mutable in the course
of time corresponding a prevailing tipology of tribute according to different historic moments. This essay
focuses on the tributary question in the economic development.