EPNCH Relatorios

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 135

Especialização Avançada de Neuropsicologia

Clínica em Contexto Hospitalar [E-Learning]

Módulo: Relatórios Neuropsicológicos

Formador: Ana Rita Sousa e Silva


Objetivos

- Identificar corretamente as principais


etapas do relatório de avaliação

neuropsicológica;
- Reconhecer a importância de competências
sociais e comunicacionais no momento de
devolução dos resultados.

2
Aula 12_IAP
• É um documento escrito que deve justificar o processo
de avaliação neuropsicológica realizado;
Relatório de avaliação
• Sendo um documento formal, deve apresentar um
balanço (nem sempre fácil) entre linguagem acessível
e profissionalismo (sem uso de jargão).
• As suas partes representam um produto lógico do
teste de hipóteses.
Relatórios
neuropsicológicos
Competência fundamental e tarefa incontornável: O RP
ocupa 14 a 18% do tempo dedicado pelos psicólogos à
avaliação (Cooper, 1995; Donders, 2001).
Objetivos

●Meio de comunicação escrita ou oral do processo e dos resultados da avaliação


psicológica.

● Caracterização objetiva e síntese integradora e significativa de aspetos


importantes do funcionamento psicológico
• (cognitivo, emocional, comportamental).
● Pode incluir indicação de estratégias de intervenção.
Objetivos

Responde às preocupações subjacentes ao pedido de avaliação.


Explica razão e modo como foi implementada a avaliação.
Assinala o termo do processo de avaliação.
Proporciona uma representação específica e realista acerca da pessoa.
Exige recurso a quadros de referência normativos.
Pode supor uma articulação entre dados da avaliação e da intervenção.
• Registo da avaliação para usos posteriores: facilita a
supervisão, discussão e monitorização da evolução
(progressos, ...) … [proporcionar um registo a longo
prazo que possa ser usado para reavaliações e acesso
a intervenções (Harvey, 2006)
Objetivos
• Documento independente que inclui informação
confidencial.
• Constitui um elemento de protecção profissional do
psicólogo.
RP: modelo de avaliação psicológica pedido de avaliação
[“Referral”: médico de família, diagnóstico]
informação necessária para Pontuações nos testes de memória
contexto do responder às questões consistentes com demência? Nível de
pedido associadas ao pedido de funcionamento pré-mórbido, AVD.
(info familiares, avaliação
Depressão?
queixas, …) Protocolo:
Entrevistas, rastreio cognitivo (MoCA,
incluindo CDR ACE-R, [MMSE]);
[Clinical inteligência (WAIS-III,
Dementia TeLPI); AVD (IAFAI),
usar dados
memória (SMC; WMS-III;
Rating], história obtidos para
FCSRT); funções executivas
clínica responder ao
(TMT A e B, Stroop, FVS,
FVF); funcionamento Obter infos, pedido de
emocional (BDI-II ou GDS- cotar instrumentos avaliação e
30; STAI ou GAI); e interpretar os delinear
personalidade (NPI, MMPI- dados conclusões
2, EPQ-R),
definir TVD (TOMM),TVS (SIMS)
questões
do pedido de comunicar achados
avaliação [entrevista de restituição da
informação + elaboração do RP] ADULTOS e IDOSOS
8
RP: modelo de avaliação (neuro*)psicológica pedido de avaliação (caso, 12 A)
[“Referral”: professor, pais. Problemas
de desempenho escolar.
informação necessária
contexto do para responder às
pedido questões associadas ao
(info pedido de avaliação
familiares, Protocolo: desempenho
queixas, …) escolar (testes, análise de
produtos); inteligência obter dados, cotar
Entrevistas,
(WISC-III); funções interpretar dados
(professor, Pontuações nos
cognitivas (BANC*), usar dados
pais, sujeito testes escolares
comportamento (CBCL, obtidos
[SCICA], consistentes com
TRF); funcionamento para
história emocional (YSR, CDI, DA? Problemas de
Comportamento? responder
clínica; STAI); personalidade ao pedido
Observação; Dificuldades
(MMPI-A, Piers-Harris de
… intelectuais/
SCS-2); validade de cognitivas?
avaliação e
desempenhos (TOMM) “Desmotivação”? delinear
Outro … conclusões
(re)definir
questões comunicar achados CRIANÇAS/ADOLESCENTES
do pedido [entrevista de restituição da CONTEXTO ESCOLAR
de informação + elaboração do RP]
avaliação
[adaptação] Goldfinger, K., & Pomeranz, A. M. (2014).
RP: Formatos, Estilos e Modelos

• Formatos
– Carta
– Narrativa breve
– Narrativa longa.

• Estilos
– Informal
– Formal.

• Modelos orientados por


– Hipóteses
– Áreas ou domínios do funcionamento
– Testes.
6

10 Ownby, R.L. (1997).


RP: Modelos de Organização: Domínio funcional (I)

▪Integrar a informação por domínio de funcionamento e não por fonte de informação* (Bagnato,
1980; Pelco et al., 2009; Groth− Marnat, 2009)

* testes, p. ex.,

Wiener, J., & Costaris, L. (2012). Teaching psychological report writing content and process. Canadian
Journal of School Psychology, 27(2), 119−135.

11
RP: Modelos de Organização: Domínio funcional (II)
Fonte de informação Domínio Funcional
Secções Secções
▪Informação contextual ▪ Aptidão Intelectual
(entrevistas, outros ▪Funcionamento Escolar
relatórios, etc.) (subtítulos/rubricas para: Leitura,
matemática, escrita)
▪Protocolo de avaliação
▪ Dificuldades de Aprendizagem
(testes usados)
▪Funcionamento Socio−
▪Observações do emocional
comportamento
▪Recomendações (colocação
▪Resultados nos testes e educativa, adaptações na sala de
outros instrumentos aula, modificações no
▪ Formulação ensino/instrução, gestão
/controlo do comportamento,
▪ Resumo envolvimento dos pais, recursos
▪ Recomendações adicionais 12
RP: Modelos de Organização: Domínio funcional (III)

Wiener, J., & Costaris, L. (2012). Teaching psychological report writing content and process. Canadian Journal of School Psychology, 27(2), 119-
135. 13
RP: Modelos de Organização

Problemas RP organizados por fontes de informação

▪RP que descrevem as pessoas apenas em termos de dados dos testes, apresentam resultados
teste−a−teste
▪Informação não relacionada com questões da avaliação (motivo da consulta)
▪Afirmações contraditórias (uma vez que resultados em diferentes testes podem ser aparentemente
inconciliáveis /incompatíveis)
▪Relatórios repletos de frases como “os resultados nos testes indicam que ….” e “pessoas com
este perfil frequentemente ….”

▪Relatórios mais acessíveis/legíveis para os leitores quando a informação presente nos vários domínios é
consistente com as questões e objectivos da avaliação (que podem ser reformulados), expressos nos
termos das questões inicialmente formuladas e respondidas no corpo do RNP.

14
RP: Competências requeridas

• Tarefa que requer a integração complexa de várias competências: avaliação


psicológica, formulação, comunicação, …

Competências sólidas:
• de relação
• técnicas de avaliação: entrevista(s), observação,
• administração e cotação de testes de avaliação estandardizados

• psicologia do desenvolvimento Redacção de RP promove:


• psicopatologia/ diagnóstico, . Competências para pensar;
• [intervenções psicológicas] . Auto−reflexão;
• formulação do caso, . Construção de explicações;
• ética e deontologia . Síntese de observações;
• prática profissional . Comunicação.
• sensibilidade às diferenças culturais

15
Princípios subjacentes aos RP: Utilidade e Credibilidade
• Utilidade
– Explicar comportamentos e desempenhos observados;

– Facilitar a intervenção: apresentar soluções para as dificuldades


identificadas.

• Credibilidade
– Clarificação de objetivos;
– Resposta às questões explícitas e implícitas subjacentes ao pedido de
avaliação;
– Escolha fundamentada dos instrumentos;
– Justificação das recomendações;
– Apresentação de afirmações credíveis e persuasivas.
Princípios subjacentes aos RP: Especificidade

• Definir um protocolo de avaliação que considere a especificidade da pessoa e das suas


dificuldades

• Responder concretamente às questões específicas colocadas pela avaliação

• Proporcionar uma descrição singular da pessoa concreta que foi examinada

• Formular conclusões e recomendações minuciosas atendendo às


circunstâncias de vida particulares da pessoa avaliada.
Reconhece-se neste “retrato”?

Problemas de Especificidade dos


RP

Southworth and Hawes, Unidentified girl with Gilbert Stuar’s


Reconhece-se neste “retrato”? Problemas de Especificidade dos RP

Tem necessidade de ser amado e admirado, mas é igualmente crítico para consigo próprio.
A sua personalidade apresenta alguns pontos fracos, que consegue de um modo geral compensar.
Tem um potencial considerável que ainda não explorou completamente a seu favor.
Observado do exterior, parece disciplinado e saber controlar−se mas, interiormente, tende a estar
preocupado e inseguro relativamente a si próprio.
Por vezes, interroga−se seriamente se tomou uma boa decisão ou se fez o que deveria ter feito.
Já descobriu que é inábil por se revelar muito facilmente aos outros.
Nalguns momentos, é extrovertido, falador e sociável, enquanto que noutros momentos, é introvertido,
circunspecto e reservado. Algumas das suas aspirações tendem a ser irrealistas.

13
19
Problemas relativos à Especificidade: Reconhece-se neste
“retrato”?
• Exemplo de análises “psicológicas” instantâneas/imediatas
• Texto compilado pelo psicólogo norte-americano Bertram Forer (1914-2000), em
1948, a partir de diversos horóscopos.

• Forer apresentou este texto como um estudo de personalidade, separadamente, a


cada um dos seus alunos.
• De um modo geral, os alunos julgaram as suas análises excelentes, ignorando que
elas eram todas iguais.

• Este “efeito Forer” (também denominado “efeito Barnum”) apoia-se sobre


enunciados suficientemente vagos para que possam ser aplicados a todas as
pessoas ... E tem sido largamente explorado ... por charlatães.
20
Princípios subjacentes aos RP: Legibilidade

Documento redigido:
• Linguagem compreensível e adequada aos destinatários
• Considera o nível de formação dos destinatários
• Responde às necessidades de informação dos destinatários

• Exclui o uso de terminologia complexa


• Se necessário, procede a uma explicitação dos conceitos usados

• Entrevista prévia de restituição de informação antecede envio do RP escrito


• Importância de tornar o RP útil e válido para os destinatários

• Possibilidade de diferentes tipos de relatórios no âmbito de um mesmo caso em função dos


destinatários.

21
•Considerar as competências dos leitores;
•Frases curtas, minimização do número de palavras difíceis,
redução do jargão, poucos acrónimos (Groth− Marnat, 2016).
Princípios •Termos técnicos podem ser explicados através de descrição
subjacentes aos RP: qualitativa de respostas aos testes (p. ex., para memória de trabalho
Legibilidade / verbal: ter dificuldade de repetir séries de números em ordem
inversa).
Problemas •Possibilidade de um RP “breve” (p. ex., para pais menos
escolarizados) que resuma as conclusões da avaliação incluindo
áreas de funcionamento positivo (recursos), dificuldades,
etc(Groth−Marnat, 2016)

6
•Recomendações: específicas, claras/evidentes, realistas do
ponto de vista da sua implementação e consistentes com o
conhecimento, competências, experiências e atitudes de pais e
professores (Bagnato, 1980; Harvey, 2006;Wiener, 1987).
• RP deve ou não apresentar resultados quantitativos?
• Percentis (explicar; consensual; Harvey, 2006)
Legibilidade / Problemas:
Comunicação dos
resultados •Outros resultados emTabelas ou Anexos: casos em que é
necessária uma tomada de decisão ou em que a pessoa
manifesta desempenho/nível de funcionamento inferior
ao Percentil 1 (p.ex., diferença funcionamento adaptativo
entre pontuação padronizada de 65 e 40)

• Resultados por idade


• Resultados por idade e nível escolar
Legibilidade / Princípios organizadores: Ordenação dos resultados (I)

Ordenação dos resultados (curso da informação: Global -->


específico)

. de instrumentos mais compreensivos e globais (WAIS−III; WMS−III; MMPI−2) … para


instrumentos ou medidas de aptidões ou funções (mais) específicas, examinando
áreas mais circunscritas do funcionamento (Vocabulário, Cubos; F. C. de Rey; BDI−II)

. de resultados quantificados provenientes de medidas estandardizadas


(WAIS−III/QIEC= 80, intervalo de confiança/95%: 75−85) … para resultados informais (p.
ex. informação qualitativa como dificuldade de compreensão das instruções, necessidade de
mais tempo para concluir testes específicos, como p. ex., Pesquisa de Símbolos e Código, …)

objetivo: assegurar o fluxo lógico da informação


Legibilidade / Princípios organizadores: Ordenação dos resultados (II)

- Domínio a domínio
. inteligência, [realização escolar], comportamento adaptativo, funcionamento social e emocional,
personalidade.
. parágrafos separados por cada domínio de interesse. Cada parágrafo pode incluir dados provenientes de
vários testes.
- Aptidão a aptidão
. raciocínio, linguagem recetiva, memória, aptidão viso−espacial, apt. viso− motora
. Aptidões ou funções específicas, pode incluir dados provenientes de vários testes. [cf. Relatórios de
Avaliação neuropsicológica].
− . Teste a teste
. WAIS−III; Matrizes Progressivas de Raven; F. C. de Rey; Purdue; MMPI−2.
. parágrafos separados para descrever resultados em cada teste individualmente considerado.
. No final do relatório, e num único parágrafo, um resumo integrativo dos principais dados obtidos nos testes e
outros instrumentos de avaliação
TIPOS e OBJECTIVOS de RELATÓRIOS
PSICOLÓGICOS
▪ Inteligência
▪ Neuropsicológicos
▪ Personalidade
▪ Forense
▪ Escolares/Psico−educacionais
▪ Vocacionais
Distinções fluídas e artificiais:
– Cognitivo vs Neurocognitivo/neuropsicológico
– Inteligência/ Neuropsicológico e personalidade …. [Contexto Forense]
– Personalidade, neuropsicológicos, forenses … [Contexto Clínico]

OBJECTIVOS
– screening, diagnóstico, progresso (Sattler, 2008)

26
RELATÓRIOS PSICOLÓGICOS DE AVALIAÇÃO DA INTELIGÊNCIA/COGNIÇÃO (I): DOMÍNIOS
FUNCIONAIS COMUNS

Informação contextual relevante

▪História escolar (graus académicos, nível escolar alcançado, desempenhos em diferentes


disciplinas, possíveis dificuldades de aprendizagem)

▪ Desempenho vocacional/profissional (tipo e complexidade do trabalho)


▪História médica (presença de lesões cerebrais, exposição e substâncias neurotóxicas;
prescrição farmacológica)

▪ História dos tempos livres

27
Groth-Marnat, G., & Davis, A. (2014). Psychological report writing assistant. New York: Wiley.
RP AVALIAÇÃO DA INTELIGÊNCIA/COGNIÇÃO (II): DOMÍNIOS FUNCIONAIS
COMUNS
▪ Aptidão intelectual geral (WPPSI-R;WISC-III;WAIS-III;TeLPI)
▪ Aptidão verbal (Testes verbais,WPPSI-R;WISC-III;WAIS-III)
▪ Aptidão não verbal (Matrizes Progressivas de Raven [MPER; MPCR; MPRA])
▪ Velocidade de Processamento (IVP: Pesquisa de Símbolos, Código)
▪ Memória deTrabalho (Mem.Dígitos, Sent. Inverso;Tab. Corsi)
▪Memória (WMS-III; RAVLT; FCSRT; BANC [Lista de Palavras; Memória de Histórias; Fig. Compl. de Rey; Corsi;
Reconhecimento de Faces])
▪ Realização/Desempenho Escolar (ex., O rei, prova de leitura)
▪ Avaliação Funcional/Actividades deVida Diária (IAFAI)

Pedidos de Avaliação (Gerais, específicos)


? “Qual é o nível de funcionamento intelectual desta pessoa?”
? “Quais as áreas de funcionamento fortes/recursos?”
? “Quais as áreas de funcionamento deficitárias/problemáticas?”
? “capacidade para poder beneficiar de um programa educativo, reabilitação?”
? “capacidade para funcionar de forma autónoma/independente?”

28
RELATÓRIOS NEUROPSICOLÓGICOS (I): DOMÍNIOS FUNCIONAIS COMUNS

▪ Aptidão intelectual geral ▪ Atenção ▪ Funções Executivas


▪ Memória ▪ Linguagem ▪ Velocidade de Processamento
▪ Aptidões Espaciais ▪ Funções Sensório−motoras

Objectivos da Avaliação Neuropsicológica (ANP)


−Compreender o impacto de condições neurológicas específicas
–Avaliar o que a pessoa faz em consequência de disfunção cerebral: “esquecer informação relevante”, “dificuldade em
encontrar palavras”, “dificuldade em permanecer focado”, défices sensório−motores”

Relatório Neuropsicológico
– Contribuir para tomar decisões e desenvolver planos de intervenção/tratamento baseados na capacidade do cliente
para desempenhar actividades na sua vida diária
– Linguagem, termos técnicos que é necessário explicar: síndroma pós−concussão, afasia, neglect visual, agnosia

Groth-Marnat, G., & Davis, A. (2014). Psychological report writing assistant. New York: Wiley.
29
RELATÓRIOS NEUROPSICOLÓGICOS (II): DOMÍNIOS FUNCIONAIS COMUNS

RECOMENDAÇÕES: Exemplo: TCE moderado a severo


Foco da REABILITAÇÃO COGNITIVA
▪estratégias externas de compensação das dificuldades mnésicas (diário, notas num quadro, alertas para a medicação, ?
Encontros (appointments)
▪estratégias internas de compensação das dificuldades mnésicas (repetir as coisas várias vezes; PQRST: antecipação
(preview), questão (question), leitura (read), auto− recitação (self−recitation), teste (test)

▪participação num grupo focado no apoio para o uso de múltiplas técnicas de memória e apoio social para reduzir o
stress das dificuldades de memória

▪ alterações no meio/contexto através da remoção de riscos ou desorganização


▪compensação de dificuldades atencionais dividindo tarefas complexas em tarefas simples evitando tarefas múltiplas e
limitando distracções (ruído, música, pessoas a falar, e outras actividades similares).

Groth-Marnat, G., & Davis, A. (2014). Psychological report writing assistant. New York: Wiley.
30
RELATÓRIOS PSICOLÓGICOS DE AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE (I):
Estratégias para alargar as interpretações da personalidade

Pedidos de avaliação:
▪ [Qual é o] Diagnóstico?
▪ O que pode ser feito para ultrapassar impasse em psicoterapia?
▪Que tipo de intervenção psicológica é mais benéfica/eficaz para o cliente?
▪ Como é que o cliente lida com/funciona em situações de stress?
▪ Porque é que tem dificuldades em exprimir emoções?
▪ Quais são os seus padrões de relação interpessoal?

▪Objectivo: compreensão ampla o funcionamento da personalidade (positivo, problemático), tipos e grau de


severidade da psicopatologia, estilo de coping, qualidade dos processos de pensamento, motivações que
estruturam e orientam o comportamento, qualidade e nível de compreensão de si mesmo e das outras
pessoas.

Aula 13_IAP 31
Groth-Marnat, G., & Davis, A. (2014). Psychological report writing assistant. New York: Wiley.
RELATÓRIOS PSICOLÓGICOS DE AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE (II):
Estratégias para alargar as interpretações da personalidade

1. Formulação inicial geral relativa ao constructo personalidade

2. subcomponentes do constructo personalidade


3.descrição qualitativa das respostas a teste(s), ilustrativas do funcionamento da
personalidade (NEO−FI; MMPI−2; EPQ−R; 16PF; PAI)

4.descrição qualitativa ilustrativa do funcionamento da personalidade a partir da história/observações


comportamentais

5. Implicações para a vida quotidiana

6. Intervalos de confiança nos resultados

Aula 13_IAP 32
Groth-Marnat, G., & Davis, A. (2014). Psychological report writing assistant. New York: Wiley.
RELATÓRIOS FORENSES (I): TÓPICOS COMUNS

▪ Custódia de crianças
▪ Grau de perigosidade/risco de violência
▪ Risco de reincidência
▪ Dano pessoal (Personal injury)
▪ Capacidade para tomar decisões legais
▪ Falsas confissões
▪ Capacidade para viver com
autonomia/independência
▪ Ausência de culpabilidade por motivo de
insanidade

Groth-Marnat, G., & Davis, A. (2014). Psychological report writing assistant. New York: Wiley.
33
RELATÓRIOS FORENSES (II): CARACTERÍSTICAS

▪ Foco nas questões legais colocadas no pedido de avaliação


▪ Uso de instrumentos especificamente forenses
▪Tópicos adicionais: validade [desempenhos/sintomas], revisão de egistos, história
legal, competência/capacidade para desempenhar determinadas
atividades, relações crianças-pais
▪ Tradução de conceitos legais/psicopatológicos. numa linguagem compreensível/comum (do
dia−a−dia)
▪ Requisito de documentação pormenorizada
▪ Explicitação do processo de formulação de opiniões
▪ Incluir evidência contrária
▪ Não exagerar (overstate) opiniões/interpretações.

Groth-Marnat, G., & Davis, A. (2014). Psychological report writing assistant. New York: Wiley. p.101, p.104
34
Relatórios de Avaliação Psicológica FORENSE (adaptação)

▪ Informação relativa a elementos de Identificação da pessoa examinada


▪Informação relativa ao examinador (qualificações, experiência profissional
relevante)
▪ Fontes de informação
▪ Processo de consentimento informado
▪ Síntese da informação anterior
▪ (Procedimentos de) Avaliação
▪ Observações relativas ao empenhamento e apresentação do cliente
▪ Funcionamento atual/interpretação dos resultados nos testes
▪ Fatores que influenciam a fiabilidade/validade da avaliação
▪ Formulação
▪ Resposta às questões legais/opinião
▪ Limites das conclusões
▪ Medidas próximas /Planos de intervenção
Bowen, E. (2017).

35
Relatórios de Avaliação
Psicológica

▪ Informação relativa a elementos de


▪ Identificação
▪ Motivo do pedido de avaliação Relatórios de Avaliação Psicológica
▪ Procedimentos (de Avaliação)
▪ Informação contextual ▪Título e Informação relativa a
▪ Observações relativas ao elementos de Identificação
comportamento e exame do estado ▪ Motivo do pedido de avaliação
mental ▪ Informação contextual
▪ Resultados nos testes e Interpretação ▪ Observações do comportamento
▪ Resumo e Recomendações ▪Comunicação dos resultados nos
Goldfinger, K. & Pomerantz, A. M. (2014). testes
▪ Impressões diagnósticas e resumo
▪ Recomendações

Schneider, W.J., Lichtenberger, E. O., Mather,


N., & Kaufman, N. L. (2018).

36
Relatórios de Avaliação Neuropsicológica Relatórios de Avaliação
Neuropsicológica
▪ Elementos de identificação
▪ Elementos de identificação
▪ Motivo do pedido ▪ Motivo do pedido
▪ Revisão de relatórios anteriores relevantes ▪ Informação contextual
▪ História relevante ▪ Entrevista
▪ Observações do Comportamento ▪ Observações do Comportamento
▪ Testes administrados ▪ Resultados nosTestes
▪ Resultados nosTestes ▪ Impressões/Recomendações
▪ Resumo e Impressões
▪ Recomendações
▪Examinador e assinatura(s)
de quem redigiu o relatório

Hebben, N., & Milberg,W. (2009) Donders, J. & Strong, C.-A.. H. (2016)

37
Relatórios de Avaliação Neuropsicológica
▪ Elementos de identificação
▪ História relevante
▪ Revisão de relatórios anteriores relevantes
▪ Preocupações atuais
▪ Relato do(s) informador(es)
▪ Observações durante a aquisição da história clínica e a administração de
testes
▪ Resultados nosTestes
Inteligência geral
Realização escolar
Funções executivas
Atenção
Memória
Linguagem
Aptidões viso-espaciais
Função motora
Função sensorial
Funcionamento psicossocial
▪ Resumo e Opinião
▪ Recomendações
▪ Anexo:Testes administrados
Strauss, E., Sherman, M. S., & Spreen, O. (2006).

38
Relatório Responsivo* ao Consumidor (Consumer-Responsive Report)
▪ Elementos de identificação [Identifyng information]
▪ Motivo do pedido [Reason for referral]
▪ Procedimentos de avaliação [Assessment procedures]
▪ Informação contextual [Background Information]
- História das Intervenções [Intervention History]
- Entrevistas [Interviews]
▪ Observações do comportamento [Behavioral observations]
▪Resultados da avaliação (ou Resultados nos Testes) [Assessment results or
Test Results]
▪ Impressões Clínicas [Clinical impressions]
▪ Resumo [Summary]
▪ Recomendações [Recommendations]
▪ Resumo de Dados/Tabela com resultados [Data Summary]
* receptivo/adequado/adaptado/sensível/
Lichenstein, R. & Ecker, B. (2019)
39
• Informação relativa a elementos de Identificação
• Quem solicita o pedido de avaliação e questões de avaliação
[Motivo da consulta de avaliação]
• Instrumentos de medida administrados
• Notas relativas às sessões de teste (testing)
• Descrição do paciente/cliente
RP: Estrutura/Secções
• Apresentação do problema
• Informação contextual
(Wright, 2020)
História do problema atual
Avaliação sintomática
Avaliação Psicossocial
• Avaliação do estado mental
• Observações relativas ao comportamento
• Interpretação global dos resultados nos testes
Inteligência e funcionamento cognitivo
Personalidade e funcionamento emocional
Avaliação psico-social
• Formulação do caso: interpretações, impressões e conclusões
• Recomendações
• [Resumo/Sumário]
• Assinaturas
Anexos
Resultados nosTestes Wright, A. J. (2020)
Adenda feedback

40
• Informação relativa à Identificação RP: Formato
(Groth-Marnat & Davis, 2014)
• Questões do pedido de avaliação
• Procedimentos de Avaliação
• Observações relativas ao
comportamento/estado mental

• Informação contextual
• Resultados nos testes
• Impressões e Interpretações
• Resumo/Sumário
• Recomendações Groth-Marnat, G., & Davis, A. (2014).

• Assinatura /título
41
Relatório de Avaliação

• Informação de identificação

– Nome – Data do relatório

– Sexo – Datas do processo de


avaliação
– Idade

– Data de nascimento – Avaliador

– Etnia – Supervisor

42
• Identificação e informação
geral

Nome do sujeito: JJJJ Data do relatório: 27.10.2018


Sexo: Masculino Examinador: XYZ
(psicólogo,
doutorado em Avaliação
Secções Psicológica, cédula
profissional: …….. /OPP)

dos RP Idade: 37 [Supervisor: ------]


Data de nascimento: 22.08.1981

Datas de avaliação: 08.09.2018 (manhã)


08.09.2018 (tarde)
15.09.2018 (manhã)
15.09.2018 (tarde)

43
Fonte de referenciação | Motivo de avaliação

 É a primeira informação com que se depara o avaliador; Deve, igualmente,


ser das primeiras informações acessível por quem lê o relatório.

 E.g., para avaliar o atual funcionamento psicológico e emocional do cliente,


facultando indicações de intervenção.

44
Informações básicas

• Pode subdividir-se em 3 secções:


1. Historial do problema apresentado;

2. Avaliação dos sintomas;


3. Avaliação Psicossocial.

Limitar informação ao essencial!


Garantir que todas as áreas relevantes foram avaliadas (e reportadas).
Tempo verbal utilizado deve refletir presença (apenas no passado; no
presente) do problema apresentado.
45
Informações Básicas

• Historial do problema apresentado


– Fornece o contexto para o(s) problema(s)
atual/is.

– Deve ser especificada a duração do(s)


problema(s);

46
Informações Básicas

• Informação sintomática
– Sintomas reportados pelo cliente,
associados ao problema atual;

– E.g., Historial de abuso de substâncias;


automedicação.

47
Informações Básicas

• Avaliação Psicossocial
– Família;

– Escola;

– Grupos;

– Relacionamentos.

48
Avaliação do estado mental

• Inclui os seguintes tópicos


– Aparência e comportamento;

– Discurso e linguagem;
– Estado emocional e afetivo;

– Pensamento (processo e conteúdo);

– Cognição;

– Funcionamento pré-frontal.
49
OBSERVAÇÕES DO COMPORTAMENTO

1. Delimitar comportamentos
específicos que devem ser descritos
2. Explicar ao leitor hipóteses
interpretativas relativas aos
comportamentos indicados
3. Suportar hipóteses com exemplos
específicos

4. Organizar, de modo lógico,


raciocínio/pensamento o
comportamento acerca do

Lichtenberger, E.O., Mather, N., Kaufman,(Lichtenberger


N.L., & Kaufman,A.S.
et al., 2004) (2004)
50

50
OBSERVAÇÕES DO COMPORTAMENTO: TÓPICOS POSSÍVEIS
. aparência/apresentação física
. facilidade de estabelecer relação com o examinado
. estilo da linguagem
. resposta a situações de fracasso
. respostas bem sucedidas
. resposta ao encorajamento
. período/tempo de atenção
. Distractibilidade
. nível de atividade
. nível de ansiedade
. impulsividade/reflexibilidade
. estratégias de resolução de problemas
. atitude relativa ao processo de testing
. atitude relativa ao examinador
. atitude relativa a si próprio
. maneirismos ou hábitos inabituais
. validade dos resultados nos testes considerando os comportamentos observados
(Lichtenberger et al., 2004)

51
Observações do comportamento: Grelha …
- Compreende as questões colocadas (entrevista, testes)?
- Interage positivamente?

- Vocalização inapropriada
- Contacto visual

- Comportamento motor (não consegue estar quieto/a, comportamentos


repetitivos, …)
- Atenção (desatento/a, ….)
- Outros comportamentos: sonolência, queixa-se que não se sente bem
Grelha de observação - GATSB (WISC-III)

52
Observações do comportamento: Grelha GATSB

53
Observações do
comportamento:
Grelha GATSB

54
Resultados

• Nesta secção deve ser reportado sobre:


1. Funcionamento cognitivo;

2. Personalidade e funcionamento emocional;


3. Funcionamento vocacional.

55
Resultados

1. Funcionamento cognitivo;
– De que forma está a impactar no
funcionamento atual do sujeito avaliado; Como
se relaciona com o mundo;

– Reportar se o funcionamento cognitivo se


encontra (ou não) comprometido.

56
Resultados

1. Funcionamento cognitivo;
– E.g., sujeito com dificuldades de aprendizagem.
Devem ser apresentados os resultados do(s)
teste(s) de avaliação (e.g., inteligência) e
comparados face a um critério (e.g., resultados
académicos).

57
Resultados

1. Funcionamento cognitivo;
– Pode incluir avaliação neuropsicológica:

 Declínio cognitivo;  Memória;

 Motivação;  Linguagem;

 Orientação;  Funcionamento viso

 Atenção; espacial;

 Funcionamento Motor;  Funcionamento executivo.


 Velocidade de
processamento;
58
Resultados

2. Personalidade e funcionamento emocional


– Características/traços de personalidade;
– Como se está a sentir a pessoa e como é que isso
se repercute no seu funcionamento global.

– E.g., autoestima, falta de suporte social, humor,


raiva, ansiedade, estratégias de coping.

59
Resultados

3. Funcionamento Vocacional
– Aplicável nos casos em que são utilizados testes de
interesses vocacionais / aptidões;
– Dados relativos aos interesses do sujeito,
prioridades em termos de ambiente de trabalho,
segmentação de áreas vocacionais.

– Informação é depois combinada com funcionamento


cognitivo e características de personalidade.

60
Impressões de diagnóstico
• De acordo com a avaliação realizada, poderão ser
reportadas impressões de diagnóstico com base
nos 5 eixos do DSM-V

i. Perturbações clínicas;

ii. Perturbações de personalidade e atraso cognitivo;


iii. Condições médicas que possam impactar as
perturbações mentais (ou a gestão destas);

iv. Fatores ambientais / psicossociais;

v. Avaliação do funcionamento global (0 – 100)


61
Recomendações

• Facultar recomendações claras, diretas,


específicas e úteis à melhoria do
funcionamento/vida do sujeito.

• As recomendações realizadas são razoáveis?


• E.g., consultar um psiquiatra; prosseguir com
a terapia atual; procurar aconselhamento de
carreira.

62
RnP: Sumário/Conclusão
O sumário/ conclusão constitui a secção principal, e provavelmente,
a única que vai ser lida ou, em situações mais positivas, aquela que vai
ser mais bem lida e relida, é a conclusão com hipótese diagnóstica
modal-funcional

Em função do pedido de avaliação + dados do exame


–> raciocínio clinico centrado sobre:
1. desempenhos relativos às diferentes funções neurocognitivas e
respectivos componentes
2. Associações e dissociações cognitivas devem ser explicitamente
apontadas.
3. Considerando factores individuais, clínicos e socioculturais da
história e contexto de vida actual da pessoa examinada

63
Relatórios Neuropsicológicos: Princípios de redação/escrita

1. Escrever frases curtas … mas completas, até máximo de 3 linhas


2.Planificar referência a um tema/tópico por parágrafo sem sair desse tema,
com algumas frases de suporte
3.Finalizar cada parágrafo com uma frase que seja a ideia principal que se
pretende comunicar // Usar a última frase do parágrafo como transição para o
parágrafo seguinte
4. Usar terminologia/vocabulário da neuropsicologia …
5.Respeitar a ordem das informações na estrutura do documento e evitar a
repetição de informações.
6.Ser objectivo, acessível e não prolixo ao escrever. Organizar o conteúdo que
se deseja informar, e não transformar o RnP num rascunho de ideias ou de
teorias complexas

64
Relatórios Neuropsicológicos: Princípios de redação/escrita

8.Evitar detalhes minuciosos sobre temas irrelevantes considerando


o pedido de avaliação ou a questão principal …
9.Evitar termos como “relativamente”, “um pouco” que dão a
entender que o RnP é pouco afirmativo, não tem certeza sobre
informações a comunicar. Questões em aberto, não fechadas/não
conclusivas (p. ex. diagnóstico) devem ser referidas na sua incerteza
com clareza.
10. Evitar termos (…) como “demais”, “muito”, “sempre” ou
“totalmente” …pois podem soar, desnecessariamente, agressivos
11.Enfatizar os principais achados de interesse, não deixando a
principal questão do RnP perder-se entre muitas informações
12. Escrever frases directas (…)

65
Relatórios Neuropsicológicos: Exigências/Critérios de avaliação

1. Identificação da fonte do pedido de avaliação


2. Inclui apresentação da história da doença/problema actual que
capte o contexto dos sintomas, doença ou disfunção, com alguma
cobertura da história passada relevante e contexto/background
apropriado
3. Baseado numa avaliação que reflecte uma abordagem
compreensiva que é suficiente para a questões de natureza
diagnóstica e de supervisão do caso, abrangendo todos os domínios
cognitivos e psicológicos relevantes
4. Inclui dados de testes (administração e cotação formalmente
correctas/estandardizadas, rigorosamente reportados e claramente
apresentados)
5. Proporciona interpretações dos dados dos testes que são baseadas
num grupo de referência com ajustamento razoável entre paciente e
amostra normativa

66
Relatórios Neuropsicológicos: Exigencias/Critérios de avaliação

6. Evidencia conhecimento e integração das relações cérebro-


comportamento, de uma forma que responde à questão clínica e
adaptado às necessidades de informação do
consumidor/destinatário identificado
7. Resultados nas conclusões são suportados pelos dados e
reflectem standards actuais da prática neuropsicológica
8. Identifica história relevante e factores médicos de risco que
informam a formulação diagnóstica e as recomendações
9. Proporciona recomendações de intervenção/tratamento
admissíveis/racionais … que podem incluir trabalho de
diagnóstico adicional, intervenções terapêuticas, adaptações
psico-sociais, e seguimento/reavaliação
10.Proporciona detalhe suficiente para implementar as
recomendações
67
Relatórios Neuropsicológicos: Exigencias/Critérios de avaliação

11. Incorpora factores emocionais e psicopatológicos


12.Reflecte questões relativas à diversidade individual e cultural
colocadas no processo de selecção de testes, recurso a grupo de
referência normativo e formulação do caso
13. Identifica questões legais e éticas colocadas pela avaliação …
14.Documenta processo de consulta a outros profissionais, bem
como encaminhamentos recomendados para outros profissionais
15.Escrito num estilo claro e profissional, adequado às necessidades
de informação do consumidor/destinatário principal identificado

68
Aula 13_IAP
Exemplo de um relatório de
Avaliação Neuropsicológica
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA/NEUROPSYCHOLOGICAL REPORT

1. Identificação
Nome: “Joana Z. Z. Z.” (nome fictíicio).
Idade: 52 anos (data de nascimento: 20.01.1968).
Residência: ……………………………., …, ….. XXXX-XXX, Porto.
Contacto telefónico: XXXXXXXXX.

2. Contextualização do pedido
O pedido de realização de um exame de Avaliação Neuropsicológica foi efectuado
Clínica XX pela Sr.ª “Joana Z. Z. Z.” por indicação da sua médica psiquiatra, Drª. “E.V.A.”
(nome fictício).

71
3. Dados sociodemográficos
1.Escolaridade. Completou o ensino secundário regular, sem reprovações,
descrevendo-se como uma aluna regular. Licenciada em Economia (nota final de 14
valores).
2.História Profissional. Iniciou actividade laboral aos 22 anos de idade como
professora do Ensino Secundário em XX. Em janeiro de 2017 começou a trabalhar na
empresa multinacional XX, exercendo a função que mantém actualmente de gestora
de recursos humanos.
3.Constelação familiar. Casada. Reside com o marido (Sr. XXXXX, 57 anos,
“advogado”) e a filha do casal (X, 20 anos, frequenta o Mestrado em “Farmácia”). É a
mais nova de uma fratria de três irmãos (Sr. X, 61 anos, professor primário; Sr.ª X, 60
anos, aposentada por incapacidade resultante de acidente de viação; Sr.ª X, 54 anos,
vive nos “EUA”). O pai (Sr. X, 80 anos) vive num lar de pessoas idosas. A mãe (Sr.ª, X,
faleceu há 10 anos com doença oncológica).

72
3. Dados sociodemográficos
4.História médica. Diagnóstico de Esclerose Múltipla em 2012 (acompanhamento
neurológico desde então pelo Dr. X, médico neurologista, no Hospital XXX, com
frequência semestral. Histerectomia total. Tiroidectomia em 2015 por nódulo
benigno. Sofre de hipertensão e menciona três bloqueios cardíacos sem impacto no
quotidiano. Sem história de acompanhamento psiquiátrico ou psicoterapêutico.
5.Medicação atual. Letter 0.1 mg (1 c. em jejum), Candesartan 8 mg (1 c. à noite),
Zumenon 2 mg (1 c. manhã), Sedoxil 1 mg (1 c. à noite), Atozet 10 mg/20 mg (1 c. à
noite), Acetato de Glatirâmero (inj. 2ª, 4ª e 6ª à noite), Fluoxetina 20 mg (1 ou 2 c. de
manhã), Alprazolam 0.5 mg (1 c. à noite), Amatadina (1 c. de manhã e à noite), Lexotan
1.5 mg (1 c. à noite em SOS) e Vitamina D (1 c. de manhã), Cianocobalamina, 1 mg (1 c.
à noite).

73
4. Informação clínica e contextual
• A informação seguidamente apresentada resulta dos dados recolhidos em entrevista
clínica individual com a Sr.ª Joana Z., bem como da informação que consta nos
elementos clínicos disponibilizados pela mesma.

• A Sr.ª Joana Z. reside em X [cidade] com o seu marido, Sr. X (casados há 25 anos) e com
a filha do casal, X. Oriunda de uma família que caracteriza como conservadora e
“patriarcal” (que interferiu na escolha do curso de ensino superior que pretendia seguir,
Direito, na Universidade de “Lisboa” e não Economia na Universidade do “Porto”, por
não concordarem que fosse estudar noutra cidade). É a mais nova de uma fratria de três
irmãos, identificando relações familiares de forte proximidade (“[somos] bastante
unidos”). Comenta que a família “é fonte de desgaste” ao percepcioná-la como elemento
de suporte (“contam com a minha ajuda”).

74
4. Informação clínica e contextual

• A Sr.ª “Joana Z.” indica ter sido diagnosticada com Esclerose Múltipla em 2012,
após ter sofrido o primeiro surto da doença (pouco tempo depois do falecimento da
mãe). Indica ter sofrido um total de três o surtos, mencionando o efeito adverso do
tratamento com doses elevadas de cortisona (“faço um efeito esquisito ao
tratamento (…) fico mais cansada”). Percepciona ter conseguido uma “adaptação
muito boa às minhas limitações”. Caracteriza-se como uma pessoa “emocionalmente
forte”. Contudo, considera que a sua condição de saúde tem vindo a agravar-se e
a interferir progressivamente no seu funcionamento habitual, particularmente
em contexto laboral, sinalizando fadiga, limitações de mobilidade e queixas de
memória e de concentração, agravadas pelo stress e com impacto negativo na sua
produtividade (por lentificação), com necessidade de mais tempo (horas) de
trabalho para concluir as suas tarefas.

75
4. Informação clínica e contextual

• A Sr.ª “Joana Z.” menciona ter trabalhado como professora do Ensino Secundário
durante 24 anos, experiência que descreve inicialmente com orgulho e entusiasmo.
• Contudo, refere que nos últimos anos de trabalho na escola “sentia que demorava
mais tempo a fazer as coisas” e “muita pressão” (relativa às exigências burocráticas,
à falta de educação de alguns alunos e à pressão dos pais preocupados apenas com
as notas dos filhos determinantes no acesso ao ensino superior.
• Menciona igualmente como dificuldade experienciada o clima de instabilidade que
se vivenciava na escola, com direcções muito autocráticas e discricionárias, que
constituíram uma fonte de stress.

76
4. Informação clínica e contextual

• Em janeiro de 2017 começou a trabalhar na empresa multinacional XX, exercendo


a função de gestora de recursos humanos, tarefa para a qual tinha particular
interesse e uma pós-graduação recente.
• Menciona como dificuldade experienciada o clima de insegurança que se vivencia
na empresa, com períodos de dispensa de colaboradores, que envolveram também
a sua participação, e para a qual não se sente emocionalmente preparada.
• A Sr.ª “Joana Z.” afirma ter sentido, “em muitos momentos”, que “não ia ser capaz”
de realizar as suas tarefas, exemplificando com actividades que envolviam
deslocações (invoca incapacidade física para tal devido à sua condição de saúde).

77
4. Informação clínica e contextual

• Realça com excepção das situações de rescisão de contractos de trabalho,


“gosto do que faço” (“quando não estou cansada, estou bem”).
• Contudo descreve elevado cansaço associado a carga de trabalho
excessiva (quer quanto ao grau de exigência das tarefas, quer quanto ao
tempo que despende para as realizar), ressaltando o “medo de falhar” que
percepciona como uma inevitabilidade (“ou falho na empresa ou falho com a
família [por falta de tempo]”).
• Com o agravamento das suas dificuldades em 2019, acabou por recorrer a
duas baixas médicas, em abril e dezembro de 2019, tendo permanecido de
baixa durante um mês em cada uma das situações.

78
4. Informação clínica e contextual

• A Sr.ª Joana Z. salienta que na sua entidade patronal “contam que eu faça as coisas,
têm expectativas sobre mim e não as quero defraudar”).
• Não sendo capaz de identificar soluções para a sua continuidade, considera
inevitável a saída da empresa, pelo que equaciona que o seu futuro profissional
passe pela procura de trabalhos cada vez menos qualificados (com associada
perda de rendimento) ou pela reforma antecipada.

79
4. Informação clínica e contextual
• Relativamente à sua rotina diária, a Sr.ª Joana Z. refere ter ocorrido uma reorganização
familiar com vista à adaptação às suas dificuldades (e.g., aproveita o fim-de-semana para
confeccionar as refeições da semana seguinte, partilha tarefas com o marido e a filha).
• O cansaço sentido é também evidente em período de férias ou outros momentos em que
“saio da rotina” (exemplifica que quando pretende passar um fim-de-semana fora
necessita de um dia adicional para poder recuperar antes de regressar ao trabalho).
Revela existirem fins-de-semana exclusivamente para descanso (“literalmente o fim-de-
semana [deitada a descansar]”), realçando que a sua família e amigos “não cobram, nem
ligam (…) à falta de energia”.
• Acrescenta visitar o pai, a residir num lar, em dias alternados e ao fim-de-semana, o que
sente com pressão acrescida por a mesma manifestar dificuldade em compreender
quando não a pode ir visitar (“sou a única que o pode ir ver”).

80
4. Informação clínica e contextual
• Nos tempos livres gostava de conviver socialmente (“iam amigos lá a casa”; “jantar
fora com amigos”), salientando que não o faz actualmente.
• A Sr.ª Joana Z. frisa o receio associado à percepção de perda de capacidade
relatando, emocionada, dois episódios recentes que a perturbaram (uma situação
em que deixou a porta do carro completamente aberta, num estacionamento de
centro comercial, enquanto foi às compras, tendo sido alertada pelos seguranças;
outra situação em que se esqueceu da chave de casa junto do caixote do lixo
próximo da habitação, tendo a mesma sido encontrada por um dos vizinhos e não
tendo a Sr.ª Joana Z. dado pela falta da mesma).

81
4. Informação clínica e contextual
• A Sr.ª Joana Z. disponibilizou informação clínica adicional, nomeadamente o Relatório de
Estudo Neuropsicológico do Serviço de Neurologia do Hospital X (Dr. X, Psicólogo),
datado de 18-03-2019. Nele é descrito que os resultados obtidos nos instrumentos de
avaliação cognitiva Montreal Cognitive Assessment (MoCA) e Bateria de Lisboa para a
Avaliação de Demências (BLAD) são compatíveis “com um perfil global de disfunção executiva
(com penalização em tarefas dependentes de tempo – por lentificação psicomotora e défice
atencional) e defeito de memória verbal e visual”. Este exame não detectou alterações no
domínio da linguagem ou em outras funções além das identificadas, realçando “a boa
capacidade cognitiva global da doente e preservação das restantes funções nervosas superiores.
Conclui-se que “o perfil descrito está tipicamente associado ao quadro neurológico de base
(Esclerose Múltipla) e justifica, por si só, limitação do exercício pleno de actividade profissional
com grau de exigência expectável atendendo à idade e escolaridade da doente (em termos de
velocidade e rendimento de trabalho)”.

82
4. Informação clínica e contextual

• O Relatório Clínico do Serviço de Neurologia do CHUC (Dr. X), de 19-03-


2019, reporta que a Sr.ª Joana M. é “seguida neste serviço com
internamento em 7 de Fevereiro de 2012 com diagnóstico de Esclerose
Múltipla”, queixando-se de “alterações sensitivas de predomínio esquerdo
em surto de agravamento clínico no ano anterior (...) falta de força no
membro inferior esquerdo e vertigem episódica”. A ressonância crânio-
encefálica revela “múltiplas lesões típicas de EM associado a lesão medular a
nível de C3 e Bandos Oligoclonais no LCR”, “atraso da latência à esquerda”,
“sequela da lesão medular não objetivada na RN medular e “alteração
inespecífica dos anticorpos antinucleares e anticitoplasmáticos”.

83
4. Informação clínica e contextual

• Consta que desde o início da doença se identifica “fadiga intensa que se vem
agravando ao longo do tempo” (física e mental, “muito incapacitantes”), “quadro
ansioso depressivo muito acentuado” e, mais recentemente, “queixas de lentificação
mental”, sendo reportadas “queixas cognitivas dominadas por falta de palavras no
discurso espontâneo, dificuldade na memória recente e défice de atenção”.
• Considerando igualmente os resultados obtidos em Avaliação Neuropsicológica e
detalhados supra (cf. Relatório de Estudo Neuropsicológico, de 18-03-2019) o
especialista é do parecer “que a doente deve ser reformada por incapacidade para
a sua profissão”.

84
4.1. Dados do funcionamento actual

A Sr.ª Joana Z. apresenta uma série de queixas e limitações progressivas e


cada vez mais incapacitantes até ao momento actual, atribuindo-as
maioritariamente ao seu problema neurológico:

(i) Problemas físicos: Perda de força muscular do lado esquerdo do corpo,


principalmente nos membros inferiores e superiores (“a perna falha, não
responde”, “digo ao meu braço para se mover, mas ele não se move”).
Tonturas e desequilíbrio (com consequência de quedas). Dores de cabeça
e dores no corpo (“permanentes”). Fadiga (“cansaço inexplicável”, “chego
do trabalho, nem me dispo, caio a dormir até ao dia seguinte”, “não aguento
fisicamente”).

85
4.1. Dados do funcionamento actual

(ii) Problemas de natureza cognitiva: Dificuldades de memória (“falta de memória”;


esquecimento de tarefas, tendo adoptado a estratégia de enviar e-mails para si própria;
revela ter deixado de ler livros (literatura) por frequentemente se perder na leitura e ter
de voltar atrás). Dificuldades de atenção/concentração (e.g., refere, com angústia,
episódios recentes em que se esqueceu da porta do carro aberta no centro comercial ou
da chave de casa do filho junto ao caixote do lixo). Lentificação psicomotora (“demoro
mais tempo a fazer as coisas” – refere trabalhar, por sua iniciativa, horas extra em casa
além das oito horas laborais diárias para conseguir realizar as suas tarefas).

86
4.1. Dados do funcionamento actual

(iii) Problemas de natureza emocional: Insegurança (“sinto que estou sempre em falta
com alguma coisa”, “sinto-me insegura em estar sozinha”, “tenho menos confiança em
mim”). Ansiedade (stress e tensão interior, “se estiver muito barulho, muito movimento,
fico mais stressada”, pressão sentida pela exigência do trabalho). Tristeza (“vontade de
chorar”). Frustração (“muito frustrada”, “magoada comigo própria”, “é um sofrimento
não ser independente”). Desespero (“sensação de limite de desespero”; “o medo de
perder a noção [crítica sobre a sua condição e dificuldades]… é assustador”).
Desesperança no futuro (“tenho estado a sentir-me cada vez mais entre a espada e a
parede”; “não vejo outra solução, vou ter de sair [da empresa]”).

87
4.1. Dados do funcionamento actual

(iv)Problemas de índole familiar e social: Alteração significativa na convivência


familiar e social (que associa ao cansaço e à falta de tempo [“a minha vida está reduzida
à empresa e dormir”]). Limitações funcionais na vida diária com alterações nas rotinas
familiares (e.g. deixou de realizar algumas tarefas como engomar ou fazer limpezas,
passando a contar com o apoio da sua afilhada neste âmbito; partilha a confecção de
refeições com o marido e com a sogra; deixou de realizar actividades anteriormente
tidas como agradáveis [e.g. natação, caminhadas] por falta de tempo ou por dificuldades
associadas ao esforço físico exigido).
(v)Problemas de índole laboral (falta de eficiência no desempenho de funções e
tarefas): Refere incapacidade para o exercício da sua actividade profissional devido às
dificuldades supramencionadas, informação também presente nos relatórios médicos
supracitados. Estes problemas têm impacto significativo na sua vida familiar e social e
também no seu funcionamento emocional.

88
5. Procedimentos de avaliação neuropsicológica

• Tendo como objetivo o estudo do funcionamento cognitivo/intelectual,


emocional, adaptativo e da personalidade, foram realizadas cinco sessões
de avaliação psicológica, que decorreram nos dias 10, 17 de fevereiro (todo o
dia) e 24 de fevereiro de 2020 (manhã).

• Foi administrada a seguinte bateria de instrumentos de avaliação


neuropsicológica (Tabela 1):

89
• Entrevista clínica.
• Avaliação Cognitiva/Intelectual Global: Escala de Inteligência de Wechsler
para Adultos – Terceira Edição (WAIS-III; Wechsler, 1997, 2008); Avaliação
Cognitiva de Addenbrooke – Revista (ACE-R; Firmino et al., 2008; Gonçalves
et al., 2015; Simões et al., 2018), incluindo Exame do Estado Mental (MMSE;
Freitas et al., 2015; Santana et al., 2016; Simões et al., 2018).
• Funcionamento Emocional: Inventário de Sintomas Breves (BSI; Derogatis,
1982; Canavarro, 2007); Inventário de Depressão de Beck-II (BDI-II; Beck, et
al., 1996; Oliveira, Simões, & Paúl, 2014).
• Personalidade: Questionário de Personalidade de Eysenck – Forma
Revista (EPQ-R; Eysenck & Eysenck, 1993; Almiro & Simões, 2014).
• Validade das Respostas/Sintomas: Escala de Desejabilidade Social de 20
Itens (EDS-20; Simões, Almiro & Sousa, 2014;Almiro et al., 2017).
90
• Memória: Cenas de Família (CF) e Localização Espacial (LE) da Escala de
Memória de Wechsler – Terceira Edição (WMS-III; Wechsler, 1997, 2008);
Figura Complexa de Rey (Rey, 1964; Bonifácio et al., 2003); Rey Auditory
Verbal LearningTest (RAVLT; Rey, 1964; Cavaco et al., 2015).
• Atenção e Funções Executivas: Bateria de Avaliação Frontal (FAB; Dubois
et al, 2000; Lima et al., 2008); Trail Making Test A e B (Reitan & Wolfson,
1985; Cavaco, 2013); Fluência Verbal Semântica (FVS) e Fonémica (FVF)
(Cavaco et al., 2013); STROOP – Teste de Cores e Palavras (Golden &
Freshwater, 1994; Fernandes, 2013); Barragem de 3 sinais (Rodrigues do
Amaral, 1967; Lima et al., 2018); D2 (Brickenkamp, 2002; Ferreira & Rocha,
2007).
• Funcionamento Emocional: Inventário de Ansiedade Estado-Traço de
Spielberg (STAI-Y1 e Y2; Spielberg, et al., 1970; Silva, 2003); Escala de
Ansiedade e Depressão Hospitalar (HADS; Zigmond & Snaith, 1983; McIntyre
et al., 1999; Pais-Ribeiro et al., 2007).
91
• Personalidade: Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota – 2
(MMPI-2; Hathaway & McKinley, 1989; adaptação portuguesa: Silva, Novo,
Prazeres, & Pires, 2006).
• Dor: Inventário Resumido da Dor (BPI; Cleeland, 1991; Azevedo et al., 2007);
Questionário McGill sobre a Dor – forma reduzida (SF-MPQ; Melzack, 1987).
• Avaliação Funcional: Inventário de Avaliação Funcional de Adultos e Idosos
(IAFAI; Sousa et al., 2013) – administrado à própria, presencialmente, e ao
marido, por contacto telefónico.
• Funcionamento Emocional: Questionário de Vulnerabilidade ao Stress (23
QVS;Vaz Serra, 2000).
• Validadedas Respostas/Sintomas: Test of Memory Malingering (TOMM;
Tombaugh, 1996; Simões et al., 2017); Structured Inventory of Malingered
Symptomatology (SIMS;Widows & Smith, 2005; Simões et al., 2017).

92
• Memória: Teste de Recordação Seletiva Livre e Guiada (FCSRT; Buschke,
1984; Grober & Buschke, 1987; Lemos, et al., 2014; Lemos et al., 2015); Brief
Visuospatial Memory Test – Revised (BVMT-R; Benedict, 1997); Teste de
Símbolos e Dígitos (SDMT; Smith, 1973).
• Fadiga: Escala do Impacto da Fadiga (Fisk et al., 1994; Gomes, 2011); Escala
de Severidade da Fadiga (FSS; Krupp et al., 1989; Gomes, 2011).
• Personalidade: InventárioClínico de Autoconceito (ICAC;Vaz Serra, 1985).
• Validade das Respostas/Sintomas: Teste de Memória de Rey – 15 Itens (15-
IMT; Rey, 1964; Boone, et al., 2002; Vilar et al., 2017); Escala de Validade de
Sintomas – Versão 2 (EVS-2; Cunha, 2011; Simões et al, 2017); Self-Report
Symptom Inventory (SRSI; Merten et al., 2016; estudos de adaptação para
validação portuguesa: Dwarkadas, Pinheiro, Domingues, & Simões, 2019).

93
6. Observações do comportamento

• A Sr.ª Joana M. compareceu pontualmente às sessões de avaliação, sozinha,


apresentando-se de forma cuidada e ajustada à sua idade e estatuto
socioeconómico. Adoptou uma postura adequada e colaborante,
estabelecendo uma relação empática e comunicativa com as psicólogas que
realizaram a avaliação neuropsicológica.
• Comunicou a necessidade de utilização de óculos para ver ao perto.
• Evidenciou orientação no espaço e no tempo e um discurso fluente, claro e
organizado e crítica preservada relativamente às suas dificuldades.
• Manifestou problemas no equilíbrio (observáveis na oscilação do corpo quando
de pé, bem como alguns segundos de demora a estabilizar quando se levantou
da cadeira na sala de espera, na primeira sessão) e pontuais dificuldades de
atenção ou mnésicas (dificuldade em precisar cronologicamente alguns dos
acontecimentos de vida que foi referindo [e.g. ano/data do diagnóstico e
desenvolvimento da história médica].
94
6. Observações do comportamento
• Na primeira sessão não se recordava das indicações fornecidas para a
presente avaliação neuropsicológica [sala da avaliação, ter-lhe sido
solicitado que se fizesse acompanhar de elementos de informação clínica
disponíveis na sua posse, como relatórios de exames médicos]). Apresentou
humor eutímico, com pontuais manifestações depressivas (verbalizações de
desesperança, choro) e ansiosas (verbalizações de preocupação, sobretudo
na perceção de insucesso). Revelou cansaço fácil durante as sessões
realizadas, particularmente no período da tarde. Foi também visível ligeiro
tremor nas mãos em algumas tarefas manipulativas (e.g., manuseamento
dos materiais no subteste Cubos). Não obstante as dificuldades referidas,
manifestou investimento adequado nas tarefas propostas, procurando
esclarecer dúvidas e compreender o objetivo da utilização de determinados
instrumentos de avaliação (e.g., domínios avaliados).

95
7. Resultados da avaliação neuropsicológica*

* Os resultados obtidos na avaliação psicológica e respetivos parâmetros de análise encontram-se


pormenorizadamente descritos em ANEXO ao presente relatório.

96
7.1. Avaliação cognitiva/intelectual global

• Os desempenhos obtidos na Escala de Inteligência de Wechsler para Adultos


(WAIS-III) apontam para capacidade intelectual global “média-superior” no
Quociente Intelectual Escala Completa.

• São observados resultados “superiores” no Quociente Intelectual Verbal


(conhecimentos adquiridos, raciocínio verbal e atenção aos materiais verbais) e
resultados “médios” no Quociente Intelectual de Realização (raciocínio fluido,
processamento espacial, atenção ao detalhe e integração viso-motora).

97
7.1. Avaliação cognitiva/intelectual global

• Ao nível da distribuição de resultados nos índices fatoriais, registam-se valores


“superiores” no Índice de Compreensão Verbal (aptidões verbais relativas à capacidade
de manipulação/tratamento mental de conceitos, conhecimentos lexicais,
conhecimento de regras e normas sociais e expressão verbal), valores “médio-
superiores” no Índice de Organização Perceptiva (relativo ao raciocínio lógico-espacial
e coordenação viso-motora) e valores “médios” nos restantes (Índice de Memória de
Trabalho [capacidade de processamento sequencial e medida de atenção e dos
processos mais imediatos da memória de trabalho], e Índice de Velocidade de
Processamento [aspectos relacionados com a velocidade motora e de pensamento,
atenção sustentada, memória e compreensão de instruções]).

98
7.1. Avaliação cognitiva/intelectual global

• Ao nível da distribuição de resultados nos índices factoriais, registam-se valores


“superiores” no Índice de Compreensão Verbal (aptidões verbais relativas à
capacidade de manipulação/tratamento mental de conceitos, conhecimentos
lexicais, conhecimento de regras e normas sociais e expressão verbal), valores
“médio-superiores” no Índice de Organização Perceptiva (relativo ao raciocínio
lógico-espacial e coordenação viso-motora) e valores “médios” nos restantes (Índice
de Memória de Trabalho [capacidade de processamento sequencial e medida de
atenção e dos processos mais imediatos da memória de trabalho], e Índice de
Velocidade de Processamento [aspetos relacionados com a velocidade motora e de
pensamento, atenção sustentada, memória e compreensão de instruções]).

99
7.1. Avaliação cognitiva/intelectual global
• Tendo por referência a análise das discrepâncias entre QIs e Índices Factoriais,
destacam-se desempenhos mais reduzidos (mas ainda “médios”) particularmente na
velocidade psicomotora (diferença de 26 pontos, observada em 4.9% da população da
amostra de referência), mas também na memória de trabalho associada à capacidade
de atenção e processamento de informação verbal (diferença de 18 pontos,
encontrada em 13.8% da amostra de referência) e na coordenação viso-motora
(diferença de 16 pontos, observada em 15% da amostra normativa), tendo por
comparação as aptidões verbais relativas a raciocínio verbal e conhecimentos
adquiridos.
• Considerando os dados normativos para o seu grupo etário e nível de escolaridade, os
resultados obtidos no Mini-Mental State Examination (MMSE) e na Avaliação
Cognitiva de Addenbrooke – Revista (ACE-R) são “médios”, sugerindo ausência de
declínio cognitivo, observando-se alterações ligeiras circunscritas ao domínio viso-
espacial.

100
• 7.2. Memória
• No que reporta à Memória Verbal, registam-se resultados médios ao nível da
evocação imediata, evocação diferida, evolução da aprendizagem e capacidade de
retenção, conforme avaliadas pelo Auditory Verbal Learning Test (AVLT). No mesmo
sentido, os valores alcançados no Teste de Recordação Selectiva Livre e Guiada
(FCSRT) sugerem ausência de alterações nos processos de recuperação mnésica
verbal imediata e diferida, com e sem recurso a pistas semânticas.
• Na Memória Visual de material estruturado (subteste Cenas de Família da Escala de
Memória de Wechsler [WMS-III]), foram obtidos valores superiores ao nível da
evocação imediata e diferida e valores médio-superiores na capacidade de retenção.
Na memória visual de material não estruturado (Brief Visual Memory Test - Revised
[BVMT–R]), observam-se resultados médios na evocação imediata, evolução da
aprendizagem e capacidade de retenção, sendo médios-superiores os valores obtidos
na evocação diferida.

101
• 7.2. Memória

• [Memória Visual] No ensaio de Evocação Imediata da Figura Complexa de


Rey, o resultado médio registado sinaliza ausência de dificuldades na
evocação de material visual não estruturado após um breve intervalo
posterior à sua apresentação (3 minutos).

• Observam-se ainda pontuações médias na Memória de Trabalho Visuo-


Espacial (subteste Localização Espacial da WMS-III; Symbol Digit
Modalities Test [SDMT]) e na Memória de Trabalho Verbal (cf. resultado
“médio” no Índice de Memória deTrabalho daWAIS-III).

102
• 7.3. Atenção e Funções executivas
• No domínio da Atenção, o desempenho temporal no Trail Making Test A indica um
desempenho muito inferior nos processos gerais da atenção, considerando o género,
idade e escolaridade da examinada.
• Na Barragem 3 Sinais, a qualidade global do desempenho da Sr.ª Joana M. (Índice de
Eficácia) situa-se num nível médio-inferior ao esperado para a sua idade e
escolaridade. Contudo, o resultado total obtido (que penaliza erros, omissões e
lentidão nos desempenhos) é considerado muito inferior, sendo principalmente
atribuível ao elevado número de omissões cometidas. Tal indica dificuldades na
atenção selectiva/sustentada que parecem particularmente associadas a fragilidade
na capacidade de controlo volitivo da atenção, traduzindo comprometimento na
capacidade perceptiva e atencional sustentada devido à influência de um padrão de
desatenção que origina falhas na deteção de estímulos relevantes, prejudicando o
rendimento.
103
• 7.3. Atenção e Funções executivas
• No Teste de Atenção D2 os valores “médio-inferiores” registados no Índice de
Concentração e no Total de Eficácia sinalizam alterações ligeiras ao nível da
capacidade de concentração e da combinação entre precisão e velocidade do
desempenho, divergindo parcialmente dos resultados anteriores por ponderarem a
quantidade de estímulos correctamente processados comparativamente ao número
de erros cometidos.
• No domínio das Funções Executivas, o resultado no teste Trail Making Test B sinaliza
dificuldades severas na capacidade de alternância entre sequências do
funcionamento executivo considerando o género, idade e escolaridade da examinada.
• Na Bateria de Avaliação Frontal (FAB), o desempenho da Sr.ª Joana M. revela
dificuldades pontuais relativamente ao esperado para a sua idade e escolaridade,
associadas a perda de pontos nos domínios Controlo Inibitório, Programação de Séries
Motoras e Autonomia Ambiental.
104
• 7.3. Atenção e Funções executivas
• No teste Stroop, considerando a idade e escolaridade da Sr.ª Joana M., os resultados
identificam capacidade normativa de leitura de palavras, nomeação de cores e na tarefa de
interferência, apontando para ausência de dificuldades ao nível da nomeação e inibição de
resposta.
• No Ensaio de Cópia da Figura Complexa de Rey, o resultado médio-inferior obtido indica
dificuldades ligeiras no planeamento e resolução de problemas viso-espaciais.
• Destaca-se a existência de tarefas cujos resultados são penalizados por lentificação na
sua execução (e.g. subtestes Código e Pesquisa de Símbolos, SDMT, Trail Making Test A,
Stroop), incluindo provas onde se regista resposta correcta após o tempo limite (e.g.
subtestes Completamento de Gravuras e Cubos), sugerindo que as dificuldades na
velocidade de processamento de informação (comparativamente às suas aptidões
verbais) tendem a prejudicar os seus desempenhos em vários testes que têm em comum a
sensibilidade a défices de atenção.

105
7.4. Funcionamento emocional

• As respostas ao Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI) identificam a


ausência de problemas significativos de natureza psicopatológica (Total de
Sintomas Positivos [TSP] e Índice Geral de Sintomas [IGS] com resultados médios
quando comparados com a amostra da população geral, Índice de Sintomas Positivos
[ISP] com resultados médio-superiores), identificando-se uma alteração
circunscrita à dimensão Obsessões-Compulsões que sinaliza presença de
comportamentos e/ou pensamentos persistentes sentidos como intrusivos
(identificados na entrevista e em outros instrumentos, relativos a ineficácia pessoal,
medo de falhar e de não suportar exigências profissionais, preocupações com a
memória, atenção e fadiga), e que é comum encontrar em pessoas diagnosticadas
com Esclerose Múltipla.

106
7.4. Funcionamento emocional

• A pontuação no Inventário de Depressão de Beck-II (BDI-II) detecta sintomatologia


depressiva ligeira, com significado clínico.
• Na Escala de Depressão e Ansiedade Hospitalar (HADS) a pontuação obtida nas dimensões
Depressão e Ansiedade detecta sintomatologia ligeira com significado clínico.
• No Inventário de Ansiedade Estado-Traço de Spielberg (STAI) os valores obtidos são médios
na dimensão Estado e superiores na dimensão Traço (sendo nesta dimensão característicos da
população com perturbação de ansiedade), o que traduz tendência para reagir de forma ansiosa
a situações do dia-a-dia percebidas como stressoras/ameaçadoras.
• A pontuação média no Questionário de Vulnerabilidade ao Stress (23 QVS) que sugere
ausência de vulnerabilidade global ao stress é explicada pela presença de itens relativos a
factores protectores associados à rede de suporte familiar e social e condições socioeconómicas
favoráveis presentes na vida da Sr.ª Joana M.. No entanto, é identificada neste instrumento a
presença de reação emocional de stress em situações adversas.

107
7.5. Personalidade

• As respostas ao Questionário de Personalidade de Eysenck – Forma Revista (EPQ-


R) revelam valores médios em todos os fatores avaliados (Extroversão, Neuroticismo,
Psicoticismo e Escala de Desejabilidade Social).
• No Inventário Clínico de Auto-Conceito (ICAC) destaca-se uma ligeira propensão
para a existência de crenças de ineficácia pessoal na resolução de problemas
compensada por uma percepção de aceitação social, resultando numa pontuação
global indicadora de autoconceito normativo.

108
7.5. Personalidade
• O perfil obtido no Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota – 2 (MMPI-2),
considerado válido atendendo aos resultados obtidos nas escalas de validade, identifica
presença de desajustamento pessoal e sofrimento psicológico caracterizados pela
elevação significativa das escalas clínicas pertencentes à denominada “tríade neurótica”
(escalas Depressão, Histeria e Hipocondria) bem como, de forma mais ligeira, na escala de
Introversão Social. Estas elevações são características de pessoas com diagnóstico de
Esclerose Múltipla e são igualmente corroboradas por resultados elevados nas escalas de
conteúdo Preocupações com a saúde e na escala de Ansiedade. Do ponto de vista
interpretativo, estes resultados traduzem angústia, propensão para instabilidade emocional
e maior incidência de emoções negativas associadas à existência de queixas somáticas e
preocupações com a saúde, o que é passível de ser enquadrado no quadro clínico da Sr.ª
Joana M., sendo este perfil de resultados comummente observado em pacientes com
Esclerose Múltipla.

109
7.5. Personalidade

• Pessoas com perfil de personalidade semelhante podem manifestar dificuldades no


controlo de impulsos, insuficientes estratégias de coping para lidar com o stress e
presença de pensamentos intrusivos e desajustados, bem como melancolia, dificuldades
de concentração, sentimentos de ineficácia pessoal e profissional, insegurança, tensão e
ansiedade associados à tomada de decisão, pessimismo e desesperança relativamente ao
futuro.
• A denominação das escalas deste inventário não traduz, literalmente, psicopatologias ou
quadros clínicos com o mesmo nome.

110
7.6. Dor
• Os resultados obtidos no Inventário Resumido da Dor (BPI) são característicos da
população de pacientes com dor crónica, tanto no Índice de Severidade da dor (classificação
da severidade da dor no seu mínimo, no seu máximo, em média e no momento actual) como
no Índice de Interferência nas actividades de vida diária. É sinalizada a existência de dor com
múltiplas localizações (cabeça, ombros, membros superiores e inferiores, lombar), com
frequência variável e com alívio parcial por terapêutica medicamentosa (a examinada
refere percepção de 50% de melhoria no alívio da dor).
• As pontuações registadas no McGill Pain Questionnaire – Short Form (MPQ-SF) identificam
valores compatíveis com os encontrados em estudos com pacientes com Esclerose Múltipla,
recorrendo a examinada a descrições sensoriais e afectivas da dor. São identificadas dores,
com intensidades forte (dor tipo “cãibra” ou “moer”) e moderada (dor “cansativa-
esgotante”), características do quadro de Esclerose Múltipla (espasticidade e dores músculo-
esqueléticas), sendo a intensidade máxima da dor classificada como “71 em 100” e a
intensidade actual descrita como “forte”.

111
7.7. Fadiga

• As pontuações obtidas na Escala de Impacto da Fadiga Modificada (MFIS) e na


Escala de Severidade da Fadiga (FSS) identificam a presença de fadiga de
intensidade severa. Regista-se maior prevalência de queixas de fadiga cognitiva
(dificuldades na manutenção de tarefas cognitivas intensivas, i.e., em manter um
desempenho cognitivo óptimo relativamente à capacidade da examinada) por
comparação à fadiga relacionada com a capacidade física.

112
• 7.8. Avaliação funcional
• As respostas da Sr.ª Joana M. ao Inventário de Avaliação Funcional de Adultos e Idosos
(IAFAI) identificam 31.9% de incapacidade funcional global na realização de actividades de
vida diária (Percentil 6). Estas dificuldades verificam-se nas actividades de vida diária (19.2%,
inferior ao Percentil 5), nas actividades instrumentais familiares de vida diária (10.6%,
Percentil 8) e nas actividades instrumentais avançadas de vida diária (2.1%, Percentil 25).
• Relativamente às actividades básicas de vida diária, são assinaladas dificuldades
associadas à tarefa de vestir e despir autonomamente, higiene (lavar e limpar o corpo
todo, cortar as unhas dos pés) e de mobilidade (deslocar-se sem perder o equilíbrio ou cair,
subir e descer degraus, alcançar objectos acima da linha dos ombros, deitar e levantar da
cama, entrar e sair do banho em segurança) que se agravam particularmente quando sente
dores. Nas actividades instrumentais familiares foram comunicadas dificuldades em cuidar
da casa (que se traduzem em ter deixado de realizar tarefas como aspirar, varrer ou lavar o
chão ou cuidar dos animais ou do jardim por dificuldades em realizar esforços físicos) ou em
manter a segurança na habitação (lembrar-se de onde estão objectos importantes, não
esquecer de desligar o forno, o fogão ou o ferro de engomar, assegurar que o
aquecedor/lareira não causam perigo).

113
• 7.8. Avaliação funcional
• Nas atividades instrumentais avançadas foram assinaladas dificuldades circunscritas à compreensão e comunicação
(e.g. ler um livro ou jornal e perceber o que leu). A Sr.ª Joana M. atribui estas dificuldades maioritariamente a
limitações de natureza física (fraqueza, perda de equilíbrio, dor), mas também a dificuldades de natureza cognitiva
(problemas de concentração e memória) e de natureza emocional (associadas a ansiedade).
• Por sua vez, as respostas do Sr. X (marido), ao IAFAI identificam, relativamente ao reportório comportamental atual
da sua esposa, 21.3% de incapacidade funcional global na realização de atividades de vida diária (Percentil 12).
Estas dificuldades verificam-se nas atividades básicas de vida diária (4.3%, Percentil 21, mobilidade e transferências),
nas atividades instrumentais familiares de vida diária (10.6%, Percentil 7, cuidar da casa e da segurança em casa) e nas
atividades instrumentais avançadas de vida diária (6.4% Percentil 10, dificuldades no lazer e relações interpessoais).
Aos problemas sinalizados pela esposa, o Sr. X (marido) acrescenta que esta diminuiu a frequência ou deixou mesmo de
realizar algumas tarefas anteriormente tidas como agradáveis como ler, fazer caminhadas, organizar convívios
familiares/sociais. O Sr. X atribui estas dificuldades sobretudo a limitações de natureza cognitiva (associadas a fadiga
cognitiva e problemas de concentração e memória) e, em menor grau, a limitações de natureza física (fraqueza, dor),
não identificando dificuldades de origem emocional.

114
• 7.8. Avaliação funcional
• Os problemas identificados pelo Sr. X (marido) em entrevista independente são
convergentes com os dados reportados pela sua esposa, conferindo consistência às
dificuldades funcionais comunicadas. O marido sublinha que os problemas
manifestados, associados à condição de dor permanente e cansaço e às características
exigentes do trabalho da Sr.ª Joana M. (“o ritmo é muito exaustivo”), têm vindo a
contribuir para a “exaustão” da esposa, destacando ainda o forte impacto emocional
que esta vivencia (traduzido em ansiedade, irritabilidade, sentimentos de frustração e
desânimo).

115
7.9. Exame deValidade de Respostas

• No sentido de detectar eventuais enviesamentos de resposta ao presente


exame neuropsicológico, foram aplicados testes específicos e analisados
indicadores de validade de desempenho em tarefas cognitivas,
nomeadamente oTOMM e o 15-IMT (resultados válidos).
• Para o exame da sintomatologia psicopatológica foram administrados
testes de validade de sintomas (SIMS, SRSI e EVS-2), todos com resultados
válidos.
• Os dados da desejabilidade social (EDS-20, escala L do EPQ-R e escala L do
MMPI-2) não comprometem a ideia de validade das respostas ao protocolo.

116
7.9. Exame de Validade de Respostas

• Considerando estes dados, a observação do empenho e cuidado colocados


na realização das tarefas propostas ao longo do exame e a informação que
consta da história e do processo clínico, bem como os dados convergentes
obtidos a partir das entrevistas e de instrumentos como o BDI, BSI, STAI,
HADS, BPI, MPQ-SF, MFIS, FSS (para avaliação de sintomatologia, dor e
fadiga), EPQ-R e MMPI-2 (instrumentos de avaliação da personalidade que
incluem escalas de controlo da validade das respostas e cujas pontuações
apontam para a credibilidade das respostas comunicadas), concluímos pela
validade dos resultados reportados na presente avaliação
neuropsicológica.

117
8. Conclusões

• O presente exame neuropsicológico realizado à Sr.ª Joana M. é considerado


válido e aponta para capacidade intelectual global “média-superior”.
• Ainda que as pontuações obtidas sejam “médias” é identificada a presença
de desempenhos comparativamente mais baixos no domínio da rapidez
no processamento de informação comparativamente ao domínio das
aptidões verbais (predictoras do funcionamento pré-mórbido da
examinada).
• Os valores alcançados nos testes de rastreio cognitivo sugerem ausência de
declínio cognitivo.

118
8. Conclusões
• A avaliação dos domínios cognitivos específicos revela prejuízo no domínio
da atenção/concentração e em algumas tarefas do funcionamento
executivo. Observam-se dificuldades na capacidade de concentração
(sobretudo atribuíveis a défices na velocidade de processamento de
informação) e, de forma mais acentuada, ao nível dos processos gerais da
atenção e da capacidade de atenção selectiva/sustentada (imputáveis a
dificuldade na manutenção do controlo volitivo da atenção que prejudica o
rendimento da examinada ao conduzir a um elevado número de omissões no
desempenho).
• São identificadas alterações severas na capacidade de alternância
cognitiva (que podem também ser explicados pelos problemas atencionais
identificados) e alterações ligeiras no planeamento e resolução de
problemas viso-espaciais.

119
8. Conclusões

• Na presente avaliação não foram identificados, na resposta aos restantes


testes, problemas em outros domínios do funcionamento executivo ou ao
nível da memória (processos de evocação imediata e diferida, retenção e
recuperação, quer de material verbal como de material visual). As queixas
mnésicas identificadas pela Sr.ª Joana M. parecem ser melhor explicadas
pelos défices atencionais detectados em vários testes e tarefas.

• A avaliação do domínio emocional sugere sintomatologia depressiva ligeira


com significado clínico (inclusive quando controladas queixas somáticas) e
tendência para reagir de forma ansiosa a situações do dia-a-dia.

120
8. Conclusões

• Os resultados na avaliação da personalidade apontam para dificuldades de


natureza adaptativa e sofrimento psicológico tradutores de angústia,
propensão para a instabilidade emocional e maior incidência de emoções
negativas associadas à existência de queixas somáticas e preocupações
com a saúde, compreensíveis no contexto do quadro clínico (Esclerose
Múltipla) da examinada.

• Os resultados na avaliação da personalidade são sugestivos de uma etiologia


física na origem das dificuldades emocionais vivenciadas.

121
8. Conclusões

• Refira-se ainda a tendência para dificuldades no controlo de impulsos e nas


estratégias de coping, a presença de pensamentos intrusivos geradores de
desconforto, dificuldades de concentração, melancolia, insegurança, tensão e
ansiedade associados à tomada de decisão, sentimentos de ineficácia pessoal e
profissional (convergente com o observado na avaliação do autoconceito, ainda que
as crenças de ineficácia pessoal na resolução de problemas pareçam ser
compensadas por uma perceção de aceitação social), bem como pessimismo e
desesperança relativamente ao futuro, com interferência/impacto no
funcionamento pessoal ao nível profissional e familiar.

122
8. Conclusões

•É sinalizada a presença de fadiga severa, tanto cognitiva como física,


verificando-se maior interferência na capacidade de manter o
desempenho em tarefas cognitivamente exigentes (traduzida em
sentimentos de exaustão após a realização das mesmas).

• As queixas relativas ao domínio da dor correspondem a valores


característicos observados na população de pacientes diagnosticados com
dor crónica e também em pacientes com Esclerose Múltipla.

123
8. Conclusões

• Os dados da avaliação da funcionalidade apontam para um prejuízo funcional importante


decorrente principalmente das dificuldades físicas, mas também dificuldades cognitivas e
emocionais secundárias ao quadro clínico de Esclerose Múltipla, observável tanto em
tarefas mais simples (e.g. mobilidade, higiene, vestir) como em tarefas mais complexas do
dia-a-dia (e.g. cuidar da casa, segurança em casa).
• Tal prejuízo é igualmente observável na esfera profissional da examinada, com renúncia a
tarefas fisicamente exigentes (e.g. que requerem deslocações a várias cidades do país) ou
necessidade de realizar horas extraordinárias não remuneradas para cumprir os prazos
estipulados, resultando em stress, fadiga e exaustão com potencial de agravamento da
sua condição de saúde (por vezes acompanhados de períodos de baixa médica).

124
8. Conclusões

• Em resumo, e considerando o seu nível de funcionamento pré-mórbido, a


presente Avaliação Neuropsicológica permite corroborar parcialmente as queixas
e dificuldades comunicadas pela Sr.ª Joana M. e que surgem após o diagnóstico
de Esclerose Múltipla, em convergência com informação clínica previamente
existente.

• É de salientar o efeito protector da reserva cognitiva, mitigando no presente o


impacto da sua doença neurológica no funcionamento cognitivo. As limitações
identificadas (ao nível da atenção, dor, fadiga e alterações na funcionalidade),
agravadas pelo seu impacto emocional, têm um impacto significativo na
execução das suas atividades profissionais e familiares.

125
8. Conclusões
• É de ponderar a possibilidade de reorganização das atividades
profissionais (e.g. diminuição do tempo de trabalho) da Sr.ª
Joana M. considerando as limitações identificadas e a sua
condição clínica.

Coimbra, XX Março 2019

126
Tabelamento de resultados
Trabalho prático
Sessão de devolução de.
Resultados de avaliação
Feedback sobre o processo de avaliação

• Facultar ao paciente/cliente informações claras


sobre a avaliação, culminando nas recomendações:
• Requer habilidades terapêuticas;

• Feedback sobre o feedback.

13
0
Feedback sobre o processo de avaliação

• Cliente pode não ser o recetor do feedback acerca do processo


de avaliação psicológica.

• Se avaliador e terapeuta não são a mesma pessoa, é útil a


presença deste último na sessão de feedback, particularmente
em casos de perturbações de personalidade.

13
1
Cópia do relatório
A não ser que exista um motivo para não o
fazer, deve ser facultado o relatório de
avaliação ao sujeito avaliado.

 Se for causador de angústia;


 Se existir potencial de dano.

13
2
Estrutura da sessão

A estrutura da sessão de feedback pode seguir


uma de duas vias:

– Adotar a estrutura do relatório de avaliação;

– Estruturar-se em torno das recomendações.

13
3
Divulgar o diagnóstico

Não existem respostas cabais sobre se deve ou não ser divulgado o


diagnóstico. A regra de ouro é não causar dano.

Deve ser considerado o potencial de estigmatização;


Ser (psico)educativo, explicando o que significa exatamente aquele
“rótulo”.
Bibliografia

• Kvaal, S., Choca, J. & Groth-Marnat, G. (2003). The Integrated Psychological Report. In L. E. Beutler & G. Groth-Martnat (Eds.), Integrative
Assessment of Adult Personality (2nd ed., pp. 398-433).The Guilford Press.
• Wright, A. J. (2010). Conducting psychological assessment: A guide for practitioners. Hoboker, New Jersey: John Wiley & Sons.
• Baron, I. S. (2018). Neuropsychological evaluation of the child: Domains, methods, and case studies (2nd ed.) [chapter 6: Communication of results:
The interpretative session and the written report, pp. 207-244]. New York: Oxford University Press. Donders, J. & Strong, C.-A. H. (2016). General
principles of Neuropsychological Report preparation. In J. Donders (Ed.). Neuropsychological report writing (pp. 1-29). NewYork: Guilford.
• Donders, J. (2001a). A Survey of Report Writing by Neuropsychologists, II: Test data, report format, and document lenght. The Clinical
Neuropsychologist, 15(2), 137-149. *
• Postal, K., Chow, C., Jung, S., Erickson-Moreo, K., Geier, F., & Lanca, M. (2018). The stakeholders’ project in neuropsychological report writing: A
survey of neuropsychologists’ and referral sources’ views of neuropsychological reports. The Clinical Neuropsychologist, 32(3), 326-344.
• Schoenberg, M. R., & Scott, J. G. (2011). The neuropsychology referral and answering the referral question. In M. Schoenberg & J. G. Scott (Eds.), The
little black book of Neuropsychology: A syndrome based approach (pp. 1-37). NewYork: Spring
• Simões, M. R. (2001). Informes psicológicos en contexto forense. In F. Jiménez Gómez (Coord.), Evaluación psicológica forense – Vol. III: Ámbitos
delictivos, laboral y elaboración de informes (pp. 157-186). Salamanca: Amarú. *
• Strauss, E., Sherman, E.M.S., & Spreen, O. (2006). Report writing and feedback sessions. In E. Strauss, E. M. S. Sherman, & O. Spreen (Eds.), A
compendium of neuropsychological tests: Administration, norms, and commentary (3rd. ed., pp. 86-97). NewYork: Oxford University Press.

13
5
Aula 13_IAP

Você também pode gostar