Efeito Potencial

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Revista de Engenharia e Tecnologia ISSN 2176-7270

EFEITO DO POTENCIAL HIDROGENIÔNICO DA ÁGUA


SOBRE A RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DO CONCRETO
CONVENCIONAL
Janilson Alves Ferreira. E-mail: [email protected]
David Araújo Macêdo. E-mail: [email protected]
Antônio Italcy de Oliveira Júnior. E-mail: [email protected]

Resumo: A aplicação do concreto como elemento estrutural na construção civil representa uma das opções mais
aplicadas no mundo. Esse material historicamente se destaca pela sua resistência mecânica e durabilidade, além
de resistir a intempéries as quais possa ser submetido. Desde sua descoberta uma série de parâmetros vêm sendo
estudados com o objetivo de aperfeiçoar ou adequar o concreto a agressividade do ambiente que este será
exposto. Porém, a literatura pouco reporta sobre o efeito da qualidade da água e do pH na resistência do
concreto, uma vez que se emprega a água disponível no local de preparação do concreto, seja usinado ou
fabricado in situ por betoneiras. Este estudo propôs a investigação do referido tema a fim de esclarecer melhor à
comunidade técnica e científica a influência do pH da água na resistência à compressão axial do concreto em
diferentes idades, frente apenas a variação do pH da água. Deste modo, foi concluído que há uma significativa
influência do pH da água na resistência do concreto à compressão, sobretudo em condições básicas tendo em
vista que o concreto não atingiu a resistência requerida aos 28 dias de cura para o qual foi dimensionado.

Palavras-chave: pH da água. Concreto. Resistência à compressão.

EFFECT OF THE HYDROGENIONIC POTENTIAL OF WATER


IN RESISTANCE TO CONVENTIONAL CONCRETE
COMPRESSION
Abstract: The application of concrete as a structural element in civil construction represents one of the most
applied options in the world. This material historically stands out for its mechanical resistance and durability, as
well as resisting the weather in which it can be submitted. Since its discovery a series of parameters have been
studied with the objective of perfecting or adapting the concrete to the aggressiveness of the environment that
this will be exposed. However, the literature reports little on the effect of water quality and pH on concrete
strength, since the available water is used at the site of the concrete preparation, whether it is machined or
fabricated in situ by concrete mixers. This study proposed the investigation of this topic in order to better clarify
to the technical and scientific community the influence of water pH on the axial compressive strength of concrete
at different ages, only the pH variation of the water. Thus, it was concluded that there is a significant influence of
the pH of the water on the compressive strength of the concrete, especially in the basic conditions, considering
that the concrete did not reach the required strength during the 28 days of curing for which it was dimensioned.

Keywords: PH of water. Concrete. Compressive strength.

1. INTRODUÇÃO
Dentre os materiais de origem cerâmica, o concreto é um aglomerado constituído de
agregados e cimento como aglutinante, é, portanto, uma rocha artificial[1]. Sua fabricação é
feita pela mistura dos seus agregados (areia e brita) com cimento e água, à qual, conforme a
necessidade, são acrescentados aditivos, que influenciam as características físicas e químicas
do concreto fresco ou endurecido. No estado fresco é moldado em formas e adensado através
de vibradores e a perda de trabalhabilidade começa após poucas horas e, de acordo com o tipo
de cimento, atinge aos 28 dias cerca de 60 a 90% de sua resistência[2].
As tecnologias a respeito de tais materiais continuam sendo estudadas, normalizando
seu emprego, isto é, adequando a utilização do concreto à crescente exigência tecnológica que
vivenciamos hoje em dia, com o intuito de adquirir certas qualidades que se refletem em seu
uso final.

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De acordo com a literatura[3], concreto é uma matriz cimentícia, onde o cimento


Portland utilizado em sua composição é constituído basicamente por clínquer e adições. As
adições variam de acordo com o tipo de cimento, porém o clínquer é o constituinte de maior
proporção presente neste material de construção, que por sua vez, é composto por rocha
calcária britada e argila obtidas, geralmente, em jazidas próximas as fabricas de cimento.
Com o passar do tempo, descobriu-se que o uso de certos materiais como a pozolana,
adicionado ao calcário, contendo elevada taxa de argila, resultava em uma argamassa de
melhor qualidade[4]. A fração argilosa de tais materiais apresentam caráter hidrofílico devido a
polaridade da água e da distribuição de íons nas partículas da argila. Isso evidencia a
fundamental importância da água para a confecção de tal elemento, e, face aos seus requisitos
de qualidade mais exigentes, tais como alcalinidade ou acidez[5,6].
Água é um item presente na construção civil e tema das mais diversas pautas.
Caracterizá-la em conjunto com o concreto é extremamente importante já que há uma
interrelação entre o uso da água e a qualidade requerida do concreto[7].
As quantidades de íons na água que reagirão para a neutralidade de íons de hidrogênio
é uma medição da capacidade da água de neutralizar os ácidos. Os principais constituintes da
alcalinidade são os bicarbonatos (HCO3-), carbonatos (CO32-) e os hidróxidos (OH-)[7]. A
acidez hídrica é a capacidade da água em resistir as mudanças de pH causadas pelas bases. É
devida principalmente à presença de gás carbônico (CO2) livre, onde o pH varia entre 4,5 e
8,2.
O assunto também ganha outras dimensões quanto ao estudo do pH e sua influência
na resistência do concreto, uma vez que se emprega a água disponível no local de preparação
do mesmo. Deve-se ter cuidado principalmente com a contaminação, haja vista que esta pode
ser encontrada em reservatório ou diretamente no sistema público.
É relevante, portanto, investigar o tema, a fim de esclarecer melhor a comunidade
técnica e científica a vulnerabilidade do concreto ao efeito do pH, frente às suas variações,
considerando que há pouca literatura disponível em respeito a tal assunto.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Caracterização dos Materiais
O cimento utilizado foi do tipo CP II F-32 – Cimento Portland composto com Fíler,
com adição de fíler calcário em teor entre 6 e 10%. O agregado miúdo foi utilizado uma areia
situada no município de Juazeiro do Norte-CE. Para o agregado miúdo foi realizado
primeiramente um processo de preparação da amostra de areia, que consistiu em selecionar 2
kg da jazida e dispor o solo distribuído em um recipiente, em seguida o mesmo foi levado a
estufa por 24h a 100ºC. Após este processo foi realizado o quarteiamento manual da areia e
selecionado duas diagonais distintas para compor a amostra.
A caracterização do agregado miúdo foi realizada com base no ensaio de Densidade
Real de acordo com NBR 6508[8], também conhecido como massa unitária e/ou ensaio do
picnômetro. Foram utilizados três picnômetros e ao final foi calculado a média dos valores
obtendo aproximadamente uma densidade real dos grãos da ordem de 2,64 g/cm³.
O agregado graúdo foi adquirido no município de Juazeiro do Norte-CE. O mesmo foi
caracterizado quanto a sua granulometria e determinado o volume compactado seco e o peso
específico. O processo de granulometria foi utilizado para estabelecer um agregado padrão
(Brita-01), para ser utilizado nos ensaios. Desta forma todo agregado graúdo foi peneirado
utilizando a peneira nº 4. O volume compactado seco do agregado foi determinado com um
cilindro de volume conhecido, preenchido com a brita, e posteriormente pesado esse material,
desconsiderando o peso do cilindro.
Para obter o peso específico do agregado graúdo, foi utilizado o princípio de
Arquimedes. Foram escolhidas quatro amostras de agregado graúdo (Figura 1) e nelas foi

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aplicada uma camada com parafina de forma a deixá-la impermeável, evitando as mesmas de
absorver água e alterar o resultado do ensaio. Usando quatro recipientes com água, com
volume conhecido, colocaram-se as britas impermeabilizadas, e observou-se a quantidade de
água deslocada, isso foi realizado para determinar o volume da brita. O peso específico da
brita será determinado pela relação do peso da brita pelo volume encontrado, como mostrado
na Tabela 1.

Figura 1 – Amostras de agregado graúdo


Fonte: Os autores.

Tabela 1 – Determinação do volume do agregado graúdo


Amostra Tara (g) Peso Bruto (g) Volume água (mL) Volume deslocado (mL)
1 10,27 11,32 110 4
2 12,98 13,93 110 5
3 12,41 13,50 110 6
4 6,94 10,58 110 4
Fonte: Os autores.

Cálculo da Dosagem do Concreto


Para a dosagem de um traço do concreto foi utilizado o método ABCP[9]. Incialmente
foi realizada a definição da relação água/cimento, a partir da estimativa da resistência ou a
durabilidade. Neste caso foi determinado uma resistência à compressão do concreto (fck)
requerida aos 28 dias equivalente a 25 MPa e a partir da curva de Abrams foi obtido um fator
água/cimento (a/c) igual a 0,59.
O consumo de água foi determinado através da dimensão máxima do agregado graúdo
(19mm) e da consistência do concreto (80 a 100 mm de abatimento de tronco de cone), sendo
o consumo de água obtido igual a 205 L/m³. Já o consumo de cimento foi encontrado pela
relação entre o consumo de água e a relação água/cimento, onde o valor encontrado foi de
341,45 Kg/m³.
O consumo de brita foi definido através dos valores do volume compactado seco do
agregado graúdo, pela relação da dimensão máxima característica do mesmo e do módulo de
finura da areia que foi de 2,6. O consumo de brita encontrado foi da ordem de 992,6 Kg/m³.
O consumo de agregado miúdo foi definido através dos valores das massas específicas
do cimento, agregados (graúdos e miúdos) e água. Por fim, com os dados descritos
anteriormente foi obtido um traço do concreto em 1: 2: 2,8 e fator água/cimento de 0,59.

Modificação do pH da Água

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Foi utilizado a água destilada para composição do concreto, sendo seu pH entre 5,75 a
5,46. Para realização do estudo, o pH da água foi modificado para concentrações ácidas com o
ácido clorídrico (HCl) e alcalinas com o hipoclorito de Sódio (NaClO). Todas as amostras
foram separadas em recipientes com volumes conhecidos e em seguida foi medido o pH de
cada mistura.
As Tabelas 2 e 3 apresentam os valores de pH para perfis ácidos e básicos,
respectivamente. Em seguida foram plotados gráficos volume de ácido versus pH (Figura 2) e
volume de base versus pH (Figura 3), os quais foram utilizados para obter as equações que
definem a proporção de ácido clorídrico e hipoclorito de sódio a serem usados para obtenção
de águas com pH desejados para composição do concreto.

Tabela 2 – Proporção de concentrações de ácido


Relação de Concentração solução de ácido clorídrico (HCl) e variação de pH
Volume do ácido (mL) Volume de Água (mL) Concentração pH
0,1 2000 0,00005 3,64
0,2 2000 0,0001 3,36
0,3 2000 0,00015 3,15
0,4 2000 0,0002 3,04
0,5 2000 0,00025 2,96
1 2000 0,0005 2,75
20 2000 0,01 1,37
60 2000 0,03 0,9
80 2000 0,04 0,61
180 2000 0,09 0,43
200 2000 0,1 0,37
pH da água destilada sem adição do ácido clorídrico = 5.76
Fonte: Os autores

Figura 2 - Curva volume de ácido clorídrico versus pH

Fonte: o autor.

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Tabela 3 – Proporções de concentrações de base


Relação de Concentração de Hipoclorito de Sódio (NaClO) e variação de pH
Volume da base (mL) Volume de Água (mL) Concentração pH
0,1 2000 0,00005 6,67
0,2 2000 0,0001 7,42
0,3 2000 0,00015 7,85
0,4 2000 0,0002 8,2
0,5 2000 0,00025 8,46
1 2000 0,0005 9,38
2 2000 0,001 9,92
3 2000 0,0015 10,13
4 2000 0,002 10,28
5 2000 0,0025 10,41
7 2000 0,0035 10,58
10 2000 0,005 10,74
15 2000 0,0075 10,93
20 2000 0,01 11,06
30 2000 0,015 11,24
40 2000 0,02 11,37
pH da água destilada sem adição do Hipoclorito de Sódio = 5.45
Fonte: Os autores.

Figura 3 - Curva volume de hipoclorito de sódio versus pH


Fonte: Os autores.

Em seguida foram utilizadas as equações logarítmicas encontradas nas curvas para


determinar o teor de ácido e base a serem utilizado para obtenção de águas com pH iguais a 3,
5, 7, 9 e 11. Posteriormente foram realizadas novas medidas para verificação dos valores
fixados.

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Moldagem dos Corpos de Prova


Os corpos de prova foram moldados seguindo a NBR 5738[10]. Foram utilizados os
equipamentos do laboratório de materiais de construção da Universidade Federal do Cariri.
Os agregados e o cimento foram peados de acordo com o traço calculado anteriormente. Na
Figura 4 são apresentados os equipamentos e os materiais utilizados neste procedimento.
Foi verificado para cada amostra de concreto um ensaio de plasticidade, também
conhecido como Slump Test, de forma a realizar o controle tecnológico do concreto produzido
e como forma de validação do traço elaborado/ calculado.

Moldes

Agregados
e Cimento

Água
Slump Test

Figura 4 - Execução do concreto para moldagem dos corpos de provas


Fonte: Os autores.

Após a rodagem do traço do concreto em betoneira, foram moldados os corpos de


provas de seção cilíndrica de 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura, em duas camadas
adensadas com 12 golpes cada. Foram moldados 6 corpos de prova para cada concentração de
pH analisado e cada tempo de cura (3, 14 e 28 dias), totalizando 90 amostras (corpos de
prova) que posteriormente foram ensaiados. Logo após a moldagem foi iniciado o processo de
cura em câmara com umidade em torno de 93 a 95%.

Ensaio de Compressão

O ensaio de compressão foi realizado seguindo a normatização estabelecida na NBR


– 5739[11]. O ensaio teve o intuito de determinar a resistência de cada corpo de prova com seu
respectivo pH, conforme ilustrado Figura 5. Foram calculadas as médias para cada variação
de pH e tempo após desforma do concreto.

Figura 5 - Ensaio de resistência a compressão do concreto


Fonte: Os autores

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em todos as condições de potencial hidrogeniônico avaliados, não foi verificado nenhum
comportamento anormal no desenvolvimento da resistência a compressão do mesmo com o
passar o tempo. Isto é, houveram apenas incrementos de resistência a compressão axial do
concreto ao longo do tempo, não sendo observado nenhuma perda de resistência para o
mesmo pH da água entre os estágios de tempo, conforme verificado na Tabela 4. Vale
ressaltar que o slump test dos concretos variaram entre 8,5 e 10 cm validando o calculado do
traço estimado.

Tabela 4 - Resistência a compressão do concreto obtida para os diferentes pH da água


Descrição pH = 3 pH = 5 pH = 7 pH = 9 pH = 11
Tempo (Dias) 3 14 28 3 14 28 3 14 28 3 14 28 3 14 28
Média (MPa) 12,70 21,83 27,97 11,38 17,14 28,31 10,25 16,24 27,32 11,94 23,40 24,13 14,58 18,19 20,69
Erro padrão 0,09 0,30 0,61 0,34 0,34 0,40 0,53 0,57 0,76 0,61 0,32 0,22 0,35 0,23 0,60
Mediana 12,63 22,00 27,74 11,69 17,14 28,15 10,81 16,32 27,04 11,94 23,35 24,19 14,58 18,25 20,61
Desvio padrão 0,23 0,74 1,49 0,83 0,84 0,98 1,31 1,41 1,85 1,49 0,79 0,55 0,85 0,56 1,47
Variância 0,05 0,55 2,21 0,69 0,71 0,95 1,72 1,97 3,43 2,23 0,62 0,30 0,72 0,32 2,16
CV (%) 1,83 3,40 5,31 7,31 4,92 3,45 12,78 8,65 6,78 12,51 3,37 2,26 5,83 3,09 7,11
Mínimo 12,46 20,95 26,15 9,99 15,89 27,13 7,90 14,03 25,00 9,42 22,33 23,42 13,36 17,34 18,65
Máximo 13,10 22,87 30,37 12,16 18,34 29,71 11,24 18,17 30,20 13,92 24,47 24,77 15,63 18,90 22,92
Fonte: Os autores

Segundo o relatório 214 expedido pelo comitê do American Concrete Institute de


2002[13] para fck < 34,5 MPa em concreto executados em laboratórios, a qualidade da
representatividade dos ensaios pode ser mensurada através do desvio padrão da seguinte
forma: excelente para desvio padrão < 1,4 MPa, muito bom para desvio padrão de 1,4 a 1,7,
bom para desvio padrão de 1,7 a 2,1, regular para desvio padrão de 2,1 a 2,4 e pobre para
desvio padrão > 2,4. Dessa forma, os resultados dos ensaios de compressão para os diferentes
tempos de cura e pH da água (Tabela 4) podem ser classificados de excelente a muito bom,
atestando assim a qualidade dos mesmos.
Nota-se que nos casos de pH da água iguais a 3 e 9, o acréscimo de resistência entre 3
e 14 dias foi mais expressivo quando comparado entre 14 e 28 dias. Por outro lado, os casos
de pH da água iguais a 5 e 7 o acréscimo de resistência é mais expressivo entre 14 e 28 dias.
Já o pH igual a 11, não houve grande diferença de incrementos de resistência a compressão
entre os estágios de tempo.
Esse comportamento pode indicar que em condições mais próximas da neutralidade da
água do concreto, pode fazer com que o mesmo necessite de menos tempo para desenvolver
sua resistência a compressão[12].
Ao final dos 28 dias observa-se um comportamento padrão em que quanto maior o pH,
ou seja, quanto mais básica é a água, menor é a resistência do concreto a compressão. No
entanto, a água com pH 9 proporciona elevado ganho de resistência inicial, com tudo a
resistência final não apresenta acréscimos significativos.
Verifica-se ainda que para valores de pH iguais a 5 e 7, a resistência a compressão do
concreto manteve um comportamento semelhante ao longo dos dias, conforme observado na
Figura 6 e na Tabela 5, é notável respectivamente uma tendência de comportamento linear
diferente das demais curvas de pH onde nota-se um comportamento logaritmo. Embora o pH
da água igual a 3 seja ácido, a curva resistência a compressão versus tempo apresenta
comportamento logaritmo, similar as curvas de pH básico (Tabela 5).

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Em condições de pH mais extremos, isto é, mais distante da neutralidade,


possivelmente o incremento de resistência a compressão do concreto ao longo do tempo tende
a ser menos linear[14]. Por outro lado, quanto mais próximo da neutralidade for o pH mais
linear é o incremento de resistência a compressão do concreto ao longo do tempo.

Figura 6 - Curvas Resistência versus Tempo para os diferentes pH da água


Fonte: Os autores.

Tabela 5 - Curvas de tendência obtidas para cada pH da água

pH a b R² Equação
3 6,6833 5,0837 0,9895 y = a*ln(x) + b
5 0,6827 8,7057 0,9872 y = a*x + b
7 0,6874 7,6281 0,9897 y = a*x + b
9 5,7878 6,1861 0,9367 y = a*ln(x) + b
11 2,6677 11,532 0,9876 y = a*ln(x) + b
Fonte: Os autores.

Analisando em termos percentuais, constata-se que o comportamento de 3 a 14 e


de 14 a 28 dias, apresentam comportamentos distintos da resistência do concreto entre os
diferentes pH de águas analisadas. A partir da Figura 7, pode-se destacar que:
 Com pH 3 e 9, houve um rápido crescimento dos 3 aos 14 dias (71,90% e
95,95%, respectivamente). Particularmente, para pH 3, o aumento de
resistência foi menor, dos 14 dias em diante (28,08%). E para pH 9, nesse
mesmo intervalo, houve um aumento muito baixo, de apenas 3,13%;
 Para pH 5 e 7, o crescimento das resistências foi mais lento até os 14 dias
(aproximadamente 50%), embora elas tenham atingido, aos 28 dias, valores
bastante próximos daquele obtido com pH 3;
 O caso mais singular na análise foi realmente o pH 11. Apesar de ter
apresentado o valor mais alto aos 3 dias, o crescimento total da resistência foi
de apenas 49%, fato associado ainda à menor resistência final atingida.

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Figura 7 - Percentuais de ganho de resistência do concreto


Fonte: Os autores

Na Figura 8 observa-se que ao elevar o valor do pH, ou seja passando de ácido


para básico, as resistências dos três primeiros dias apresentaram um acréscimo à medida que o
pH foi se tornando mais básico, já aos quatorze dias a reação foi irregular, pois em pH mais
ácidos ocorreu um decréscimo de resistência, e do pH 7 para o pH 9 a reação foi mais
expressiva do que nos demais, tendo como pico no pH 9. Aos 28 dias observa-se um
comportamento decrescente em relação à resistência, quanto maior o pH, ou seja, mais básica
é a água, menor é a resistência do concreto a compressão.
De todas os valores de tempo os corpos de prova com 3 dias e os de 28 dias a
partir do pH 7, tiveram um comportamento oposto onde a curva de 3 dias tende a apresentar
um crescimento de resistência com o aumento do pH e o outro tende a apresentar um
decréscimo com o aumento do pH, respectivamente.
O concreto analisado neste trabalho foi dimensionado para obter uma resistência
requerida aos 28 dias de cura (fck) equivalente a 25 MPa. No entanto, os concretos com águas
básicas, isto é, com pH iguais a 9 e 11 obtiveram resistência a compressão da ordem de
24,134 e 20,688, respectivamente. Isto é, não obtiveram fck para o qual o concreto foi
dimensionado.

Figura 8 - pH versus Resistência a Compressão


Fonte: Os autores.

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Estabelecendo uma análise de comportamento do pH 3 ao 7 e do 7 ao 11, verificam-se


comportamentos distintos da resistência do concreto entre os diferentes tempos de cura
analisados. De acordo com as Figuras 11 e 12, pode-se destacar que:
 Nos tempos iniciais de cura (3 e 14 dias), a resistência decresceu com o
acréscimo do pH, até o pH neutro, ou seja, pH 7, a partir desse pH as
resistências começam a subir de valor no mesmo instante em que os pH's se
tornam mais básicos, menos o de 14 dias que tem um desvio nos pH's entre 9 e
14;
 Para as amostras das datas entre 14 e 28 dias, os pH's 5 e 7, apresentaram um
crescimento das resistências (aproximadamente 50%);
 Nota-se que a resistência dos corpos de prova com tempos entre 14 e 28 dias
apresentam valores aproximados no pH 9, uma diferença de 0,733MPa;
 O caso mais singular foi aos 14 dias, pois apresentou um acréscimo muito
expressivo no valor da resistência em relação ao pH 7 para o pH 9, com um
aumento de 30,59% na resistência a compressão, fato seguido de um
decréscimo da resistência no intervalo de pH seguinte, pH 9 até pH 11, um
decréscimo de 22,28%.

4. CONCLUSÕES
O desenvolvimento da resistência a compressão axial do concreto em relação ao tempo para
condições de potencial hidrogeniônico próximo da neutralidade demonstrou um
comportamento retilíneo. Já para condições mais extremas, tanto ácidas como básicas, o
comportamento mostrou-se mais ajustável há uma curva logarítmica. Isso fez com nessas
condições de potencial hidrogeniônico os incrementos de resistência a compressão fossem
relativamente maiores em tempos de curas iniciais e expressivamente menores em tempos
finais de cura.
A resistência final do concreto aos 28 dias demonstrou ser inversamente proporcional
ao pH. As águas mais alcalinas utilizadas na composição do concreto proporcionaram uma
redução da resistência a compressão aos 28 dias, não sendo atingido o fck do
dimensionamento do traço do concreto.

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1984.

[9] ASSUNÇÃO, J. W.; Curvas de dosagem para concretos convencionais e aditivados


confeccionados com materiais da região Noroeste do Paraná. 2002. 254f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5738: Concreto –


Procedimentos para moldagem e cura de corpos-de-prova. Rio de Janeiro, 2003.

[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto –


Ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007.

[12] SILVA, P; BRITO, J. Experimental study of the mechanical proprieties and shrinkage of
sef-compacting concrete with binary and ternary mixes of fly ash and limestone.
European Journal of Evironmental and Civil Engineering, 2016.

[13] ACI COMMITTEE 214. Evaluation of Strength Test Results of Concrete (ACI 214R-
02). American Concrete Institute, 2002.

[14] YILDIRIM, H; SENGUL, O. Modulus of elasticity of substandard and normal concretes.


Construction and Building Materials, v. 25, p. 1645-1652, 2011.

V. 10. No. 1, Abr/2018 Página 140

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