Efeito Potencial
Efeito Potencial
Efeito Potencial
Resumo: A aplicação do concreto como elemento estrutural na construção civil representa uma das opções mais
aplicadas no mundo. Esse material historicamente se destaca pela sua resistência mecânica e durabilidade, além
de resistir a intempéries as quais possa ser submetido. Desde sua descoberta uma série de parâmetros vêm sendo
estudados com o objetivo de aperfeiçoar ou adequar o concreto a agressividade do ambiente que este será
exposto. Porém, a literatura pouco reporta sobre o efeito da qualidade da água e do pH na resistência do
concreto, uma vez que se emprega a água disponível no local de preparação do concreto, seja usinado ou
fabricado in situ por betoneiras. Este estudo propôs a investigação do referido tema a fim de esclarecer melhor à
comunidade técnica e científica a influência do pH da água na resistência à compressão axial do concreto em
diferentes idades, frente apenas a variação do pH da água. Deste modo, foi concluído que há uma significativa
influência do pH da água na resistência do concreto à compressão, sobretudo em condições básicas tendo em
vista que o concreto não atingiu a resistência requerida aos 28 dias de cura para o qual foi dimensionado.
1. INTRODUÇÃO
Dentre os materiais de origem cerâmica, o concreto é um aglomerado constituído de
agregados e cimento como aglutinante, é, portanto, uma rocha artificial[1]. Sua fabricação é
feita pela mistura dos seus agregados (areia e brita) com cimento e água, à qual, conforme a
necessidade, são acrescentados aditivos, que influenciam as características físicas e químicas
do concreto fresco ou endurecido. No estado fresco é moldado em formas e adensado através
de vibradores e a perda de trabalhabilidade começa após poucas horas e, de acordo com o tipo
de cimento, atinge aos 28 dias cerca de 60 a 90% de sua resistência[2].
As tecnologias a respeito de tais materiais continuam sendo estudadas, normalizando
seu emprego, isto é, adequando a utilização do concreto à crescente exigência tecnológica que
vivenciamos hoje em dia, com o intuito de adquirir certas qualidades que se refletem em seu
uso final.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Caracterização dos Materiais
O cimento utilizado foi do tipo CP II F-32 – Cimento Portland composto com Fíler,
com adição de fíler calcário em teor entre 6 e 10%. O agregado miúdo foi utilizado uma areia
situada no município de Juazeiro do Norte-CE. Para o agregado miúdo foi realizado
primeiramente um processo de preparação da amostra de areia, que consistiu em selecionar 2
kg da jazida e dispor o solo distribuído em um recipiente, em seguida o mesmo foi levado a
estufa por 24h a 100ºC. Após este processo foi realizado o quarteiamento manual da areia e
selecionado duas diagonais distintas para compor a amostra.
A caracterização do agregado miúdo foi realizada com base no ensaio de Densidade
Real de acordo com NBR 6508[8], também conhecido como massa unitária e/ou ensaio do
picnômetro. Foram utilizados três picnômetros e ao final foi calculado a média dos valores
obtendo aproximadamente uma densidade real dos grãos da ordem de 2,64 g/cm³.
O agregado graúdo foi adquirido no município de Juazeiro do Norte-CE. O mesmo foi
caracterizado quanto a sua granulometria e determinado o volume compactado seco e o peso
específico. O processo de granulometria foi utilizado para estabelecer um agregado padrão
(Brita-01), para ser utilizado nos ensaios. Desta forma todo agregado graúdo foi peneirado
utilizando a peneira nº 4. O volume compactado seco do agregado foi determinado com um
cilindro de volume conhecido, preenchido com a brita, e posteriormente pesado esse material,
desconsiderando o peso do cilindro.
Para obter o peso específico do agregado graúdo, foi utilizado o princípio de
Arquimedes. Foram escolhidas quatro amostras de agregado graúdo (Figura 1) e nelas foi
aplicada uma camada com parafina de forma a deixá-la impermeável, evitando as mesmas de
absorver água e alterar o resultado do ensaio. Usando quatro recipientes com água, com
volume conhecido, colocaram-se as britas impermeabilizadas, e observou-se a quantidade de
água deslocada, isso foi realizado para determinar o volume da brita. O peso específico da
brita será determinado pela relação do peso da brita pelo volume encontrado, como mostrado
na Tabela 1.
Modificação do pH da Água
Foi utilizado a água destilada para composição do concreto, sendo seu pH entre 5,75 a
5,46. Para realização do estudo, o pH da água foi modificado para concentrações ácidas com o
ácido clorídrico (HCl) e alcalinas com o hipoclorito de Sódio (NaClO). Todas as amostras
foram separadas em recipientes com volumes conhecidos e em seguida foi medido o pH de
cada mistura.
As Tabelas 2 e 3 apresentam os valores de pH para perfis ácidos e básicos,
respectivamente. Em seguida foram plotados gráficos volume de ácido versus pH (Figura 2) e
volume de base versus pH (Figura 3), os quais foram utilizados para obter as equações que
definem a proporção de ácido clorídrico e hipoclorito de sódio a serem usados para obtenção
de águas com pH desejados para composição do concreto.
Fonte: o autor.
Moldes
Agregados
e Cimento
Água
Slump Test
Ensaio de Compressão
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em todos as condições de potencial hidrogeniônico avaliados, não foi verificado nenhum
comportamento anormal no desenvolvimento da resistência a compressão do mesmo com o
passar o tempo. Isto é, houveram apenas incrementos de resistência a compressão axial do
concreto ao longo do tempo, não sendo observado nenhuma perda de resistência para o
mesmo pH da água entre os estágios de tempo, conforme verificado na Tabela 4. Vale
ressaltar que o slump test dos concretos variaram entre 8,5 e 10 cm validando o calculado do
traço estimado.
pH a b R² Equação
3 6,6833 5,0837 0,9895 y = a*ln(x) + b
5 0,6827 8,7057 0,9872 y = a*x + b
7 0,6874 7,6281 0,9897 y = a*x + b
9 5,7878 6,1861 0,9367 y = a*ln(x) + b
11 2,6677 11,532 0,9876 y = a*ln(x) + b
Fonte: Os autores.
4. CONCLUSÕES
O desenvolvimento da resistência a compressão axial do concreto em relação ao tempo para
condições de potencial hidrogeniônico próximo da neutralidade demonstrou um
comportamento retilíneo. Já para condições mais extremas, tanto ácidas como básicas, o
comportamento mostrou-se mais ajustável há uma curva logarítmica. Isso fez com nessas
condições de potencial hidrogeniônico os incrementos de resistência a compressão fossem
relativamente maiores em tempos de curas iniciais e expressivamente menores em tempos
finais de cura.
A resistência final do concreto aos 28 dias demonstrou ser inversamente proporcional
ao pH. As águas mais alcalinas utilizadas na composição do concreto proporcionaram uma
redução da resistência a compressão aos 28 dias, não sendo atingido o fck do
dimensionamento do traço do concreto.
REFERÊNCIAS
[1] LEONHARDT, F; MÖNNIG, E. Construções de Concreto: Princípios Básicos do
dimensionamento de Estruturas de Concreto Armado. Vol. 1. Trad: David Fridman.
Rio de Janeiro: Interciência, 2008.
[2] BAUER, L. A. F. Materiais de Construção. vol. 2. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2005.
[12] SILVA, P; BRITO, J. Experimental study of the mechanical proprieties and shrinkage of
sef-compacting concrete with binary and ternary mixes of fly ash and limestone.
European Journal of Evironmental and Civil Engineering, 2016.
[13] ACI COMMITTEE 214. Evaluation of Strength Test Results of Concrete (ACI 214R-
02). American Concrete Institute, 2002.