Impactos Da Inserção de Geração Fotovoltaica Na Qualidade de Energia Elétrica: Uma Análise em Transformadores Da Rede de Distribuição

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Impactos da Inserção de Geração Fotovoltaica na

Qualidade de Energia Elétrica: Uma Análise em


Transformadores da Rede de Distribuição
Matheus Fanfa da Veiga Mateus Morais Colpo Iuri Castro Figueiró
Centro de Excelência em Energia e Departamento das Engenharias e Ciência Departamento das Engenharias e Ciência
Sistemas de Potência da Computação da Computação
Universidade Federal de Santa Maria Universidade Regional Integrada do Alto Universidade Regional Integrada do Alto
Santa Maria, Brasil Uruguai e das Missões Uruguai e das Missões
[email protected] Santo Ângelo, Brasil Santo Ângelo, Brasil
[email protected] [email protected]

Caroline Beatriz Fucks Darui Dion Lenon Prediger Feil Artur Spohr Ferst
Departamento das Engenharias e Ciência Centro de Excelência em Energia e Departamento das Engenharias e Ciência
da Computação Sistemas de Potência da Computação
Universidade Regional Integrada do Alto Universidade Federal de Santa Maria Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões Santa Maria, Brasil Uruguai e das Missões
Santo Ângelo, Brasil [email protected] Santo Ângelo, Brasil
[email protected] [email protected]
Resumo — A geração fotovoltaica é a fonte alternativa de Com o aumento das tarifas de energia no Brasil, desde
energia que mais cresce no Brasil e no mundo, na forma de mini 2015 houve crescimento na instalação dos sistemas
e microgeração. No Brasil, a exploração dessa fonte de energia fotovoltaicos. Especialmente em redes de baixa tensão,
está relacionada ao seu grande potencial, a questões ambientais caracterizados principalmente por consumidores comerciais e
e ao fato de se tratar de uma fonte de energia alternativa, residenciais, tendo em vista as vantagens econômicas e
renovável e sustentável. A medida em que o número da inserção ambientais, além de ser uma fonte de energia elétrica
de geração fotovoltaica aumenta, torna-se necessário conhecer renovável. A GF é a área de energia renovável que mais
como isso influencia no fluxo de potência em transformadores
emprega no mundo e, no período de 2012 a 2019, gerou
de redes de distribuição de baixa tensão (BT), assim como nos
aproximadamente 3,75 milhões de empregos, sendo que no
aspectos da Qualidade da Energia Elétrica (QEE). Desse modo,
este trabalho propõe realizar uma análise prática do
setor nacional, acumula mais de 254 mil empregos gerados
comportamento de um transformador submetido ao fluxo de [2].
potência reverso, decorrente da geração fotovoltaica, com ênfase Apesar dos benefícios, a inserção de GF pode trazer
na QEE. Além da análise, será feita uma comparação dos consigo alguns impactos negativos no que diz respeito a
resultados obtidos na prática com outros trabalhos, onde foram Qualidade de Energia Elétrica (QEE). Deve destacar que,
realizados estudos através de simulações utilizando softwares quando há presença de Sistemas de Fotovoltaicos Conectados
dedicados. Os resultados demonstraram na prática que, à
à Rede (SFCR), a determinação do fluxo de potência se altera
medida que se insere geração fotovoltaica no transformador, a
drasticamente, o qual ocorre simultaneamente com o baixo
QEE sofre alterações significativas, principalmente nos
parâmetros de tensão, corrente, potência e Fator de Potência consumo de carga residencial [3].
(FP), e que a bidirecionalidade do fluxo exerce influência sobre O termo QEE abrange uma variedade de fenômenos e
isso. Este estudo tem como finalidade contribuir para discussões distúrbios que envolvem a energia elétrica. Esses distúrbios
sobre a necessidade de adequação normativa e implantação de podem vir a acarretar problemas no funcionamento ou até
novas tecnologias para garantir que geração fotovoltaica redução da vida útil de equipamentos conectados à rede. Desta
beneficie todos os agentes do sistema de distribuição. forma, há grande preocupação por parte das concessionárias,
Palavras-chave — Geração Fotovoltaica. Fluxo de Potência.
em manter a conformidade dos parâmetros de QEE [2].
Transformadores. Qualidade de Energia Elétrica (QEE).
Devido essa preocupação, uma série de estudos vem sendo
I. INTRODUÇÃO realizados para verificar os impactos da inserção dos SFCR.
Uma grande parte da geração de energia elétrica no Brasil Porém quando se fala nos impactos internos da GF nos
é composta de fontes renováveis, com um maior destaque para transformadores das redes de distribuição, não há muitas
as usinas hidrelétricas que fornecem 55,82 % dos 182.841,3 referências sobre o assunto, uma vez que existe dificuldade de
MW da capacidade total instalada no país, conforme a realizar ensaios, com cenários ideais para que ocorra o
ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) que apresenta fenômeno da inversão do fluxo de potência. Desta forma,
a distribuição da matriz elétrica brasileira [1]. grande parte das pesquisas e análises é feita através de
simulação [3].
A partir da Resolução Normativa ANEEL nº482/2012,
desde 17 de abril de 2012 o consumidor brasileiro obteve o Com o aumento significativo dos SFCR, a inversão do
direito de gerar energia elétrica a partir de fontes renováveis. fluxo de potência vem ocorrendo com maior frequência. A
Esta atividade baseia-se da mini e da microgeração de energia inversão do fluxo de potência muitas vezes não ocorre em
elétrica, provinda a partir da Geração Fotovoltaica (GF), a todas as fases e quando acontece, a corrente da respectiva fase
qual contribui para a economia financeira, consciência também fluirá no sentido oposto. A condição de inversão do
socioambiental e autossutentabilidade [1]. fluxo da corrente representa para o transformador uma bobina
com polaridade invertida, que proporcionará também
desequilíbrio entre as tensões [4].

XV CONFERÊNCIA BRASILEIRA SOBRE QUALIDADE DA ENERGIA EÉTRICA – CBQEE 2023


No momento em que ocorre a inversão do fluxo de
potência, tem-se uma redução de potência ativa, o que
influência no fator de potência (FP) do transformador podendo
interferir no seu rendimento.
Diante desta problemática, o presente trabalho tem como
objetivo contribuir para compreensão e analise os efeitos
causados pela GF em transformadores de redes de distribuição
com ênfase na QEE. Sendo realizado um estudo de análise
prática, de forma comparativa com os resultados obtidos em
trabalhos existentes, os quais foram concebidos por meio de
simulações em softwares.
II. REFERENCIAL TEÓRICO
A. Geração Fotovoltaica (GF) Fig. 2. Evolução da geração fotovoltaica no Brasil.
A GF pode ser definida em síntese como a conversão
direta de energia solar em energia elétrica, através de células B. Qualidade de Energia Elétrica (QEE)
fotovoltaicas, para utilização instantaneamente ou Uma definição geral para a QEE se refere como sendo uma
posteriormente por meio de armazenamento. A principal medida de quão bem a energia elétrica pode ser utilizada pelos
vantagem para o sistema elétrico é a possibilidade de gerenciar consumidores. Essa medida inclui características de
a demanda de forma descentralizada, uma vez que as usinas estabilidade de suprimento e de conformidade com certos
geradoras de grande porte ficam distantes dos centros parâmetros considerados desejáveis para a operação segura,
consumidores, incidindo em gastos com linhas de tanto do sistema supridor como das cargas elétricas [8].
transmissão, além de um maior impacto ambiental [5]. A preocupação com a QEE se dá em parte pela
A curva típica, em que há geração apenas no horário necessidade do setor elétrico em viabilizar a implantação de
diurno, com pico no período de maior radiação entre 11 e 13 um mercado consumidor, onde o produto passa a ser a própria
horas, dependendo do local de instalação do sistema, tem o energia elétrica [8]. Nesse caso, as concessionárias de energia
comportamento conforme a Fig. 1. responsáveis pelos sistemas elétricos são estimuladas tanto
pela ANEEL como pelo próprio mercado, a manter os níveis
adequados de energia, prestar informações sobre as condições
de operação ou fornecer detalhes acerca dos eventos ocorridos
e que afetaram os consumidores.
O módulo 8 dos Procedimentos de Distribuição de Energia
Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (PRODIST), que se
refere a qualidade do produto e serviço, regulamentado pela
ANEEL, define para a qualidade do produto, as terminologias
e os indicadores, caracteriza os fenômenos, estabelece os
limites ou valores de referências, a metodologia de medição e
os estudos específicos de QEE para fins de acesso aos sistemas
de distribuição [9].
Com o crescente aumento do número de unidades de
SFCR, a preocupação com a inserção desta fonte de energia
Fig. 1. Exemplo de curva de geração fotovoltaica. sobre o desempenho do sistema e a preservação da QEE, vêm
ganhando especial atenção. Os principais tópicos abordados
A característica intermitente da geração fotovoltaica
nessa pesquisa, referente a influência da GF em sistemas
dificulta a operação do sistema em termos de previsões e
planejamentos, já que a intensidade da geração é variável ao elétricos são:
longo do ano, além da quantidade de energia gerada ser • Fator de Potência;
variável ao longo do dia. O conhecimento da irradiância solar • Fluxo de Potência Reverso.
se torna, então, uma das principais variáveis para o correto C. Fator de Potência (FP)
dimensionamento de sistemas fotovoltaicos. Nesse caso, o
Brasil se destaca na energia solar fotovoltaica, uma vez que o O FP de uma instalação elétrica corresponde a relação de
país possui uma ampla disponibilidade dessa fonte [6]. potência ativa (P), que efetivamente produz trabalho, e a
reativa (Q), trocada entre gerador e carga devido aos
A GF conta com instalações no Brasil desde 2012. No elementos indutivos e capacitivos [8]. O valor do fator de
entanto, foi em 2016 que sua implementação teve um avanço potência é calculado a partir dos valores registrados de P e Q,
significativo de incentivos para instalações residenciais e de acordo com (1).
comerciais. Atualmente considera-se que a GF é uma das
𝑃
indústrias com maior perspectiva de crescimento no Brasil, 𝑓𝑝 =
principalmente com seu crescimento em 2020 de 70% com √𝑃2 + 𝑄2 (1)
relação ao ano anterior, segundo dados da Associação
Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) [7]. A
Fig. 2 mostra a evolução da GF nos últimos anos. Para unidade consumidora ou conexão entre distribuidoras
com tensão inferior a 230 kV, o fator de potência no ponto de
conexão deve compreender entre 0,92 e 1 indutivo ou 1 e 0,92
capacitivo [1].
Controlar o FP assegura uma boa utilização da rede, em
razão de que baixos valores para o FP podem causar perdas
técnicas, aquecimento e limitação de condutores e
equipamentos de rede, flutuação ou queda de tensão, bem
como a necessidade de maior capacidade do transformador
[2].
Segundo [2], os cenários em que há maior injeção de
potência na rede provinda da GF, ou seja, quando o sistema
estiver gerando mais energia do que consumindo, representará
condições de maiores impactos. Entre os equipamentos, o
transformador requer uma maior atenção, devido a sua
importância para qualidade e confiabilidade do sistema. Do
ponto de vista técnico, a redução do FP eleva as perdas e reduz
o rendimento do transformador.
A Fig. 3 representa a curva de rendimento para um
Fig. 4. Sistema de distribuição com fluxo de potência unidirecional.
transformador trifásico de distribuição sobre a influência de
geração fotovoltaica levando em conta seu FP. A GF depende de fatores como temperatura e irradiação
solar, assim esse tipo de geração de energia possui uma
natureza variável em sua geração. Em situações em que a
geração é superior ao consumo, o sistema fotovoltaico passa a
injetar potência na rede, assim, o fluxo de potência flui da GF
para a subestação, causando um fluxo de potência
bidirecional, também chamado de fluxo reverso [10].
A Fig. 5 mostra um sistema de distribuição com um fluxo
de potência bidirecional, onde o fluxo de potência flui da GF
até a subestação.

Fig. 3. Relação FP e rendimento (η) de um transformador.

Pode ser observado na Fig. 3, que a GF tem influência


direta nos parâmetros de rendimento do transformador, tendo
em vista que o resultante sobre o saldo de potência ativa da
rede pode ou não, induzir perdas e variações diretas nos
transformadores.
D. Fluxo de Potência Reverso (FPR)
Com uma grande concentração de GF em determinada
área, aliado ao baixo consumo da carga, compatibilizando
com uma elevada radiação solar, o sistema fotovoltaico
poderá atender a carga e injetar o excedente de energia na rede
elétrica, alterando o fluxo de potência unidirecional para
bidirecional [6].
Os impactos da inserção de GF na rede de distribuição da
concessionária de energia elétrica ocorrem principalmente
pela elevada injeção de energia. A rede convencional, Fig. 5. Sistema de distribuição com fluxo de potência bidirecional.
concebida inicialmente como unidirecional alimentado por
geração centralizada, suporta determinada quantidade de Contudo a inversão do fluxo de potência pode causar
geração fotovoltaica sem a necessidade de alterações, porém problemas na coordenação e operação do sistema de proteção
à medida que os níveis de geração aumentam, são necessários e na regulação de tensão. No que se refere aos condutores e
ajustes para que a rede fique apta a nova configuração transformadores de TAPs fixos, não apresentam grandes
estabelecida [3]. impactos uma vez que tais equipamentos funcionam
adequadamente em ambos os sentidos de fluxo de potência.
A Fig. 4 mostra um sistema de distribuição com um fluxo Entretanto, quanto a coordenação da proteção e
de potência unidirecional, onde o fluxo de potência flui da transformadores com comutadores sob carga pode ocorrer
subestação até a carga. problemas com o FPR, que pode prejudicar na atuação dos
relés e reguladores de tensão, resultando na atuação indevida
ou ausência de atuação dos equipamentos de proteção,
conduzindo a sérios problemas [11].
III. METODOLOGIA do estado do Rio Grande do Sul. As coletas foram feitas em
Devido a crescente inserção de GF nos últimos anos, o um período de 14 (quatorze) dias.
FPR vem ocorrendo com mais frequência em O equipamento foi desenvolvido para uso em sistemas de
transformadores, ocasionando um desequilíbrio de tensão e distribuição de energia elétrica, podendo ser aplicado para
alterações no seu FP. A Fig. 6 mostra o fluxograma de como medição de valores instantâneos, agregados e estatísticos das
foi realizado o estudo prático referente ao comportamento do principais grandezas elétricas utilizadas em estudos de
transformador submetido a esses impactos. eficiência energética e na avaliação da QEE.
O aparelho possui o software PowerMANAGER desktop,
o qual permite analisar graficamente as medições realizadas e
gerar relatórios de acordo com o Módulo 8 do PRODIST da
ANEEL. A Fig. 8 mostra o Equipamento PowerNET P-600
G4.

Fig. 6. Fluxograma da metodologia prática.

A. Área de Desenvolvimento do Estudo


Primeiramente definiu-se o local onde existe uma grande
concentração de GF para a realização do estudo. A Fig. 7
localizada na Rua Cruz Alta, no município de Caibaté – RS,
mostra um dos três locais onde foram realizados os estudos.
Fig. 8. Equipamento PowerNET P-600 G4.

IV. RESULTADOS E DISCUSSÕES


Os resultados foram obtidos para 3 (três) transformadores
no período de 14 (quatorze) dias. O transformador 01 (TR 01)
é uma rede composta por consumidores residenciais, com 14
(quatorze) SFCR, o transformador 2 (TR 02) é uma rede
composta por consumidores residenciais, com 13 sistemas
fotovoltaicos conectados à rede, e o transformador 3 (TR 03)
é uma rede composta por consumidores residenciais, com 13
sistemas fotovoltaicos conectados à rede. As informações
gerais de cada transformador estão representadas na Tabela 1.

TABELA I. DADOS DOS TRANSFORMADORES.


Fig. 7. Área de localização do estudo. Transformador 01 02 03
Nº Placa 3347 5764 3344
B. Caracterização da Rede de Distribuição Ligação Trifásica Trifásica Trifásica
Após ter sido escolhidas as áreas de estudos, foram Potência (kVA) 112,5 75 75
realizados os levantamentos e as caracterizações das redes Demanda Máx. (kVA) 74,64 51,07 45,58
Potência de GF
elétricas, com os seguintes dados: Instalada (kW) 70,05 43,39 100,93
• Potência do transformador. Quantidade de GF 14 13 13
• Demanda máxima do transformador.
A. Estudo e Análise do Transformador 03 (TR 03)
• Quantidade de GF conectada à rede.
• Potência total de GF conectada à rede. O TR 03, número 03344, está endereçado na Rua Cruz
Alta, no município de Caibaté – RS. A Fig. 9 mostra situação
C. Definição dos Transformadores a localização do transformador.
Após definir a área de estudo e a caracterização da rede,
foram escolhidos os três transformadores com maiores
números de consumidores que possuem GF.
D. Processo de Coleta de Dados
O processo de coleta de dados foi realizado com o
analisador e registrador portátil de grandezas elétricas modelo
PowerNET P-600 G4, disponibilizado por uma permissionária
Fig. 11. Corrente nas fases A, B, C do TR 03.

Assim como no TR 01 e 02, a corrente é proporcional a


potência conforme a Fig. 11, ou seja, as fases com maiores
valores de potência, também terão os maiores valores de
corrente, porém nota-se que a corrente na fase B é
praticamente nula, exceto entre os dias 5 e 9.
A Fig. 12 mostra os dados de potência ativa liquida no TR
03.

Fig. 9. Planta construtiva da rede de distribuição do TR 3.

A Fig.10 representa os dados de potência ativa liquida no


TR 03 nas fases A, B e C. Fig. 12. Potência ativa no TR 03.

Do mesmo modo que os TRs 01 e 02, nota-se que pelo fato


de a GF ser composta apenas por potência ativa, o gráfico da
FIG. 11 mostra os momentos em que há FPR. Pode-se
observar que o TR 03 possui um elevado número de FPR
comparado aos TR 01 e 02.
A Fig. 13 mostra os dados de potência aparente liquida no
TR 03.

Fig. 10. Potência ativa nas fases A, B, C do TR 03.

Pode-se observar que a fase que há maior FPR no


transformador é a fase C, já a fase A também possui elevados
valores de FPR, e a fase B é praticamente nula e possui um
pouco de carga e FPR somente entre os dias 6 e 8.
A Tabela 2 mostra o comportamento das potências nas
fases A, B e C no momento de maior índice de GF.
Fig. 13. Potência aparente no TR 03.

Da mesma maneira que o TRs 01 e 02, observa-se que a


TABELA II. POTÊNCIAS NAS FASES A B E C DO TR 03, NO MOMENTO DE potência aparente não possui seu sentido revertido, porém sua
MAIOR ÍNDICE DE GF.
análise se torna importante no momento em que se analisa o
Horário PA (kW) PB (kW) PC (kW) FP do transformador, pelo fato do FP se dar a partir da relação
11 Horas - 264,88 0 - 411,33 entre potência ativa e aparente, conforme (4).
12 Horas - 301,67 0 - 525,28
13 Horas - 327,57 0 - 530,38 A Fig. 14 mostra o comportamento do FP no TR 03.
14 Horas - 305,47 0 - 502,73
15 Horas - 218,01 0 - 447,1

Os resultados com valores negativos na Tabela 2


significam o FPR no transformador, podendo confirmar que a
fase C é a fase em que ocorre o maior FPR, consequentemente
é a fase que mais possui concentrações de GF. A fase A
também possui um número elevado de concentração de GF, e
a fase B não possui concentração de GF e demanda de carga.
Fig. 14. Fator de potência no TR 03.

Verifica-se que assim como nos TR 01 e 02, o FP também


vária de capacitivo e indutivo pelo fato de a potência ativa
também variar do positivo para o negativo, ou seja, pelo FPR.
Pode-se concluir que o TR 03 é o que possui o maior índice
de FPR, isso acontece pelo fato de o transformador possuir
uma demanda máxima de 45,58 kVA, e uma potência máxima
de GF instalada de 100,93 kW.
Pelo fato de o TR 03 possuir o maior índice de FPR, e o
TR 01 o menor índice, foi feita uma comparação no período FPb = 0 ÷ 0 = Indeterminação
de 24 horas referente à Potência Ativa, FP e Tensão dos
transformadores. FPc = (−53,03) ÷ 54,76 = − 0,96
As Fig, 15, 16 e 17 mostram os gráficos do comportamento
de Potência Ativa liquida, Tensão e do FP do TR 03. A Fig. 18 mostra os fasores do TR 03 no horário das 13:00
horas.

Fig. 15. Potência Ativa no TR 03.

Fig. 16. Fator de potência no TR 03.

Fig. 18. Fasores do FP no TR 03 no horário das 13:00 Horas.

Fator de Potência Fase A: A Fig. 18 mostra o FPa da fase


A com o valor de - 0,94 para diferente das 08:00 horas, agora
está localizado dentro do limite e continua na parte capacitiva.
Isso se deve pelo fato de que as 13:00 é um dos horários de
maior índice de GF e consequentemente aumenta o FPR na
fase A, fazendo com que a potência ativa continue negativa,
porém neste momento as potências ativas e aparentes estão
Fig. 17. Tensão nas fases A, B e C no TR 03. equilibradas, como mostra a Tabela 3.
Observa-se que apesar do TR 03 possuir um FPR muito Fator de Potência Fase B – Pode-se observar na Fig. 18
maior que o TR 01, o FP no TR 03 é mais constante que o FPb é nulo, isso se deve pelo fato de a fase B não possuir
comparado ao TR 01. A seguir são feitas análises comparando potência ativa e aparente como mostra a Tabela 3.
os fasores de FP do TR 01 com TR 03. Fator de Potência Fase C – Pode-se verificar na Fig. 18 o
Conforme descrito no módulo 8 do PRODIST, o FP deve valor de - 0,96 para o FPc, diferentemente das 08:00 horas,
estar compreendido entre 0,92 e 1,00 indutivo, ou 1,00 e 0,92 estando localizado dentro do limite e continua na parte
capacitivo. Os valores são medidos pela relação entre os capacitiva. Isso se deve pelo fato de que as 13:00 é um dos
módulos da Potência Ativa (W) e Aparente (VA). horários de maior índice de GF e consequentemente aumenta
o fluxo reverso de potência na fase C, fazendo com que a
A seguir, a análise com o objetivo de comparar os sentidos potência ativa continue negativa, porém agora as potências
dos fasores do FP dos TRs 01 e 03, nos horários das 08h, 13h ativas e aparentes estão equilibradas, como mostra a Tabela 3.
e 17h. A Tabela 2 mostra os valores de potência ativa e
aparente nas fases A, B e C registrados no TR 03, no horário B. Análise dos Impactos no TR 01, TR 02 e TR 03
de pico às 13:00 horas. Os estudos realizados na prática demonstraram que a
TABELA III. POTÊNCIA ATIVA E APARENTE NAS FASES A, B E C DO TR alteração do fluxo de potência é responsável pelas demais
03, ÀS 13:00. variações nos parâmetros de QEE. Os horários em que há
maior inserção de GF, para todos os transformadores,
Fase Hora Potência Ativa (kW) Potência Aparente (kVA)
A 13:00 - 32,75 34,75
representaram condições de maiores impactos. Como forma
B 13:00 0 0 de análise comparativa, que contribui para o entendimento e
C 13:00 - 53,03 54,76 justificativa dos impactos observados, tem-se na Tabela 4 uma
síntese dos resultados encontrados para os três
Utilizando (4), temos os seguintes resultados para os FPs: transformadores analisados.
FPa = (−32,75) ÷ 34,75 = − 0,94
Os resultados obtidos na prática, demonstraram uma diferentes cenários de carga. Os resultados obtidos na prática
drástica redução no FP do transformador, causada pela realizados demonstram que à medida que se insere GF no
alteração do fluxo de potência ativa e que implica tanto nas transformador, observou-se alterações, mais especificamente
questões técnicas como na questão comercial. De acordo com nos níveis de potência, corrente e no FP. Além disso,
[5], do ponto de vista técnico a redução do FP eleva as perdas observou-se a alteração nos níveis de condução de potência e
e reduz o rendimento do transformador, já na parte comercial, a ocorrência de fluxo bidirecional. Esses impactos podem
a redução da demanda de potência ativa, faz com que a proporcionar uma série de implicações para a QEE.
concessionaria permaneça fornecendo energia reativa, que
não sofre faturamento, enquanto que o consumo de energia A metodologia utilizada permitiu analisar e comparar os
ativa é intensamente reduzido. resultados obtidos na prática com outros trabalhos acadêmicos
desenvolvidos através da simulação. Através da comparação
TABELA IV. PRINCIPAIS IMPACTOS DA BIDIRECIONALIDADE NOS TRS. pode-se confirmar as teses propostas na simulação, com os
resultados obtidos na prática, porém em um número muito
menor de tempo, isso indica que a inserção de GF vem
crescendo muito rápido.
Analisar o FPR na prática foi um fator determinante para
a obtenção de resultados que acontecem no dia a dia. A
condição de fluxo de potência reverso merece destaque, pois
comprometem o rendimento e a vida útil do transformador.
Os impactos observados podem trazer implicações para o
sistema, as quais devem ser consideradas nas previsões de
alteração das normativas da GF como já está sendo feito a
partir do dia 06 de janeiro de 2023 com a Lei 14.300/22, não
a fim de criar barreiras para conexão dos sistemas de geração,
mas com intuito de garantir a qualidade e confiabilidade do
sistema.
O desenvolvimento de novas tecnologias é essencial, pois
para hospedar todo o potencial da GF nos transformadores é
necessário que eles sejam efetivamente inteligentes, capazes
de se adequar às variações proporcionadas pelo
aproveitamento de uma fonte intermitente.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da
Coordenação de Aperfeiçoamento e Pessoal de Nível Superior
- Brasil (CAPES/PROEX) - Código de Financiamento 001
Observou-se que com a inserção de GF e REFERÊNCIAS
consequentemente o FPR, o FP se encontrou capacitivo nos
horários de GF. Na condição inicial os fasores de tensão e [1] Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). “Geração
Distribuída”. Disponível em: <
corrente do transformador estão defasados 120º entre si, o FP http://www2.aneel.gov.br/scg/gd/VerGD.asp>. Acesso em: 29 de julho
capacitivo adianta os ângulos de corrente, alterando sua de 2022.
defasagem, fazendo com que ocorra um desequilíbrio de [2] DARUI, C. B. F. et al. Análise de Impactos da Instalação de Sistema
tensão e corrente entre as fases do transformador. Fotovoltaico sob a Ótica da Qualidade de Energia. Congresso
Brasileiro de Qualidade de Energia Elétrica – CBQEE, 2017.
Pode-se observar um aumento de corrente no [3] NUNES, E. A. F. Análise de Impactos na Rede de Distribuição de
transformador, submetido ao FPR. De acordo com [3], quanto Energia Elétrica Decorrentes da Inserção de Sistemas de Geração
maior a corrente maior as linhas de fluxo que passarão pelo Fotovoltaicos. Dissertação de Mestrado, PPGEE-UFRN, 2017.
núcleo no transformador e para isso o núcleo deverá estar apto [4] KARIMI, M. et al. Photovoltaic penetration issues and impacts in
a fornecer essas linhas de fluxo. No entanto, pode ocorrer que distribution network – A review. Renewable and Sustainable Energy
o núcleo não consegue mais aumentar as linhas de fluxo em Reviews, v. 53, p. 594–605, 2016.
resposta a um aumento adicional da corrente. Isto significa [5] BERNARDON, D. P. et al. Sistemas de Distribuição no Contexto das
Redes Elétricas Inteligentes. Santa Maria: Editora Pallotti, 2016.
que um aumento adicional da corrente produz apenas um
[6] DARUI, C. B. F. et al. Metodologia para Maximização da Inserção da
discreto aumento de linhas de fluxo. Quando atinge essa Geração Fotovoltaica nas Redes de Distribuição de Baixa Tensão.
situação, dizemos que o núcleo está saturado. Depois de Dissertação de Mestrado, PPGEE-UFSM, 2020.
atingida a saturação, qualquer aumento da corrente do [7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA SOLAR
primário não será totalmente transferido para o secundário FOTOVOLTAICA (ABISOLAR). Energia Solar Cresce 70% no Brasil
implicando assim em perda de potência disponível pelo Apesar da Pandemia e Pspera 2021 Positivo. Disponível em: <
transformador. https://www.absolar.org.br/noticia/energia-solar-cresce-70-no-brasil-
apesar-da-pandemia-e-espera-2021-positivo/>.
V. CONSIDERAÇÕES FINAIS [8] DECKMANN, S. M. POMILIO, J. A. Avaliação da Qualidade da
Energia Elétrica. UNICAMP/FEEC/DSE. 2017. Diponível em:
Este trabalho apresentou um estudo dos impactos na <www.fee.unicamp.br/dse/antenor/it012>.
qualidade do produto energia elétrica em transformadores de [9] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL).
potência em redes de distribuição, na inserção de GF. Foram Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico
considerados diferentes transformadores, bem como Nacional – PRODIST - Módulo 8 – Qualidade da Energia Elétrica.
Brasília, 2018b. Disponível em: [11] COHEN, M. A.; CALLAWAY, D. S. Effects of distributed PV
<http://www2.aneel.gov.br/arquivos/PDF/Modulo8_Revisao_7.pdf>. generation on California’s distribution system, part 1: Engineering
[10] M. Reinaldo, P., Scortegagna Dupczak, B., & A. C. Aranha Neto, E. simulations. Solar Energy, v. 128, p. 126–138, 2016.
(2020). Impact Assessment of Photovoltaic Distributed Generation on
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