3915-Texto Do Artigo-22237-1-10-20181001

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REL ATO DE EXPERIÊNCIA

SERVIÇO DE CONTROLE DE INFECÇÕES


RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE:
UM OLHAR DA ENFERMAGEM
HEALTH CARE INFECTION CONTROL SERVICE:
A NURSING EYE
Ariele Alves dos Santos 1

RESUMO
Objetivo: Descrever o olhar de acadêmicos de enfermagem em projeto de extensão, realizado no setor de
controle de infecções relacionadas à assistência à saúde. Método: Relato de experiência de caráter descritivo,
sobre a vivência dos acadêmicos de enfermagem, que participaram de um projeto de extensão, no período de
setembro de 2016 a abril de 2017, em um Hospital Universitário da região nordeste do Brasil. Resultados e
Discussão: Dentre as principais ações desenvolvidas pela enfermagem no setor foram o monitoramento da
adesão dos profissionais à higienização das mãos; busca ativa diária de infecções relacionadas à assistência à
saúde; participação em reuniões; orientações sobre medidas de precaução; exposição a material biológico e
perfurocortante; acompanhamento nas atividades de educação em serviço de saúde. Considerações finais: A
associação da teoria à prática possibilita o desenvolvimento de senso crítico a respeito das atividades elaboradas
pelo enfermeiro, bem como o envolvimento de acadêmicos de enfermagem nesta área.
Palavras-chave: Controle de Infecções. Educação em Enfermagem. Ensino.

ABSTRACT
Objective: To describe the view of nursing academics in an extension project carried out in the health care-
related infection control sector. Method: A descriptive experience report about the experience of nursing
students who participated in an extension project from September 2016 to April 2017 in a university hospital
in the Northeast region of Brazil. Results and Discussion: Among the main ones developed by the nursing in the
sector were the monitoring of the adhesion of the professionals to the hygiene of the hands; active daily search
for healthcare-related infections; participation in meetings; precautionary guidelines; exposure to biological
and piercing material; health education activities. Final considerations: The association of theory and practice
makes possible the development of a critical sense regarding the activities elaborated by the nurse, as well as the
involvement of nursing academics in this area.
Keywords: Infection Control. Education in Nursing. Teaching.

INTRODUÇÃO

O Serviço de Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (SCIRAS), que no passado


denominava-se Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), é responsável pelo programa de
controle de infecções relacionadas à assistência à saúde, para viabilizar a prevenção, diagnóstico, tratamento
e controle das infecções hospitalares(1).

1
Acadêmica de Enfermagem. Universidade Federal de Sergipe. [email protected]
A infecção hospitalar (IH) é aquela adqui- ficação, registro, controle e prevenção das IRAS
rida após admissão do paciente, que se manifesta identificadas através de culturas microbiológicas;
durante a internação ou após a alta; quando re- elaboração de pareceres sobre métodos, materiais
lacionada à internação ou a procedimentos hos- para reprocessamento de artigos médico-hospita-
pitalares/ambulatoriais; ou aquelas manifestadas lares, limpeza e desinfecção de superfícies fixas;
antes de 72 horas da internação, porém associadas orientações quanto ao uso/troca de artigos médico
a procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos, hospitalares reprocessáveis, além de investigação
realizados durante este período(2). de eventos adversos.
O termo IH foi substituído, na década Nesse contexto, a atuação do enfermeiro
de 1990, por infecções relacionadas à assistência SCIRAS promove ações que se refletem
à saúde (IRAS), tornando mais abrangente o diretamente na assistência, contribuindo para o
conceitoe incorporando infecções adquiridas e cuidado mais seguroe para uma melhor interface
relacionadas à assistência em qualquer ambiente. com a equipe assistencial, e também é percebida
As IRAS consistem em eventos adversos através do retorno hábil das orientações.
ainda persistentes nos serviços de saúde. Sabe-se No âmbito educativo, o planejamentoe
que a infecção leva a uma considerável elevação a execução de treinamentos e eventos de caráter
dos custos no cuidado do paciente, além de técnico educativo, expandindo os limites intra-
aumentar o tempo de internação, a morbidade e a hospitalares, visam a formação e a sensibilização
mortalidade nos serviços de saúde do país(3). dos profissionais de saúde e estudantes, em relação
O papel da Enfermagem no controle da IH às boas práticas para o controle das IRAS(5).
está presente desde suas primeiras descobertas. Desse modo, o trabalho tem por intuito
Florence Nightingale já apresentava preocupação retratar a atuação do enfermeiro SCIRAS – HU/
com essa problemática, e durante a Guerra da UFS, por intermédio de um projeto de extensão
Criméia padronizou procedimentos de cuidados voltado para formação de recursos humanos em
de enfermagem voltados à higiene e limpeza dos Controle de Infecções e segurança do paciente,
hospitais, introduzindo principalmente técnicas para acadêmicos de enfermagem.
de antissepsia, com a finalidade de diminuir os Durante a graduação, os acadêmicos que
riscos desse tipo de infecção(4). participam de projetos de extensão possuem uma
A equipe do SCIRAS do Hospital Univer- oportunidade a mais de inserção na realidade que
sitário de Sergipe (HU-SE) é multiprofissional, encontrará quando tornar-se um profissional. A
composta por: médico infectologista, enfermeiros, extensão possibilita experiência do contato entre o
oficial administrativo e colaboração de farmacêu- aprendizado na universidade e a aplicabilidade de
tico da Unidade de Gestão de Riscos Assistenciais sua profissão na sociedade, conhecendo a prática
e Tecnológicos. de sua profissão(6).
Nas ações de prevenção e controle das A vigilância epidemiológica no controle
IRAS, estabelecer prioridades é fundamental. de IRAS é um tema ainda pouco explorado na
O estabelecimento de políticas e a padronização graduação, no contexto das disciplinas e estágios
de procedimentos relacionados à implantação e obrigatórios. Por isso a relevância desse relato
manutenção de procedimentos invasivos devem de experiência, cujo objetivo é descrever o olhar
ser priorizados(3). de acadêmicos de enfermagem em projeto de
O enfermeiro do SCIRAS desempenha vá- extensão, realizado no setor de controle de
rias atividades referentes ao controle de infecções infecções relacionadas à assistência à saúde.
relacionadas à assistência à saúde, entre elas: orien-
tação para segregação correta dos resíduos; noti-

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MÉTODO a fluidos corporaise após contato com áreas
próximas ao paciente.
O presente trabalho trata-se de um relato de Após a coleta, os dados são processados em
experiência de caráter descritivo, sobre a vivência software Epiinfo versão 7, e a partir do cálculo dos
dos acadêmicos de enfermagem que participaram indicadores utilizados, os enfermeiros SCIRAS
de um projeto de extensão, no período de definem e executam estratégias de conscientização
setembro de 2016 a abril de 2017, em um Hospital na adesão à prática de higienização das mãos.
Universitário da região nordeste do Brasil. Essa atividade permitiu compreender
O relato foi dividido nas seguintes a importância da higienização das mãos na
abordagens: monitoramento da adesão dos prevenção das infecções relacionadas à assistência
profissionais à higienização das mãos; busca à saúde, impedindo a transmissão de micro-
ativa diária de IRAS nas clínicas médicas, organismos devido ao contato entre diferentes
cirúrgicas, pediatria e Unidade de Terapia superfícies, em especial, envolvendo as mãos dos
Intensiva (UTI); participação em reuniões com profissionais de saúde.
equipe multidisciplinar da UTI; participação A segurança da assistência à saúde depende
em reuniões administrativas e científicas do de diversos fatores, dentre eles a mudança de
SCIRAS; orientações a familiares/acompanhantes comportamento dos profissionais de saúde diante
e pacientes, sobre medidas de precaução; das recomendações de práticas seguras, como por
orientações e acompanhamento sorológico de exemplo a adesão à higienização das mãos como
principal estratégia de prevenção de IRAS.
profissionais/estudantes, vítimas de acidente com
exposição à material biológico e perfurocortante;
Busca ativa diária de IRAS nas clínicas médicas,
acompanhamento nas atividades de educação em
cirúrgicas, pediatria e UTI
serviço de saúde.
A vigilância epidemiológica por culturas
RESULTADOS E DISCUSSÃO positivas tem a finalidade de identificar, além
de IRAS, portadores de micro-organismos
Entre diversas atribuições do enfermeiro no multirresistentes oriundos de outras instituições
SCIRAS foram realizadas as seguintes atividades: ou internados, oportunizando a instituição de
medidas para conter a disseminação da transmissão
Monitoramento da adesão dos profissionais durante a internação. A vigilância epidemiológica
à higienização das mãos por culturas positivas é uma atribuição do
enfermeiro do SCIRAS, e através dos dados
Essa ação é realizada por enfermeiros, obtidos acerca das culturas dos micro-organismos
residentes e acadêmicos de enfermagem, por meio mais prevalentes, direciona o tratamento do
de um formulário de observação, padronizado paciente, e auxilia no diagnóstico de IRAS.
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, A vigilância cirúrgica consiste no
no qual são registrados o número de vezes que acompanhamento diário, pela equipe do SCIRAS,
cada categoria profissional ou estudante higieniza dos pacientes submetidos a procedimentos dentro
as mãos com água e sabonete líquido, realiza do cirúrgico, em que haja pelo menos uma incisão
fricção com preparação alcoólica a 70%, ou não e sutura, e permaneçam internados por mais de
realiza a higienização em nenhuma oportunidade 24 horas. A coleta é feita mediante sistematização
indicada. São considerados os cinco momentos: de dados relevantes ao procedimento, e avaliação
antes e após contato com o paciente, antes de de conformidade de preenchimento do checklist
procedimento asséptico, após risco de exposição cirúrgico recomendado pela ANVISA. Os

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pacientes submetidos a procedimentos sem precauções para prevenção na disseminação de
instalação de implante são acompanhados durante bactérias multirresistentes. Os profissionais de
trinta dias, já aqueles em que esse item foi instalado, diferentes categorias participam de forma ativa
são acompanhados durante noventa dias. das discussões, nas quais cada um expõe suas
A vigilância na UTI é realizada diariamente, considerações a respeito do caso, todos com uma
com monitoramento voltado para: permanência/dia finalidade em comum: a construção de um plano
de dispositivos invasivos, além de visitas realizadas terapêutico voltado para minimizar o risco de
à beira leito e discussões com a equipe do setor; IRAS, prestando uma assistência humanizada e
o uso de dispositivos, bem como a observação de de qualidade.
não conformidade de processos assistenciais. Esse A participação nas reuniões possibilitou
acompanhamento tem por finalidade identificar entender a importância da comunicação entre
os problemas, para que haja o gerenciamento de os profissionais, bem como a importância do
medidas para prevenção de IRAS. envolvimento da equipe na inserção dos cuidados
Os casos de IRAS são discutidos e investi- voltados para prevenção de IRAS.
gados pela equipe do SCIRAS, para definição dos
fatores que contribuíram para o acontecimento Participação em reuniões administrativas
dos eventos adversos, resultando, nesse proces-
e científicas do SCIRAS
so, em ações de intervenção. As IRAS agrupadas
As reuniões são realizadas para discussão
por topografia, ou seja, infecções relacionadas
de casos; investigação de surtos de infecção;
a procedimentos cirúrgicos, IRAS monitoradas
planejamento de ações educativas e de campanhas;
durante a assistência na UTI, e diagnosticas por
elaboração e revisão de protocolos; aprovação dos
culturas, são informadas para Coordenação Es-
procedimentos operacionais padrão; construção e
tadual de Controle de Infecção da Vigilância Sa-
implementação de projetos de pesquisa na área de
nitária Estadual, e coordenações das unidades da controle de IRAS.
instituição. Esses dados são trabalhados através
do planejamento de ações educativas, para pre- Orientações a familiares/acompanhantes
venção de novos eventos infecciosos. e pacientes sobre medidas de precaução
Participação em reuniões com equipe O enfermeiro orienta os familiares/
multidisciplinar da UTI acompanhantes e pacientes que estão sob
precauções e demais cuidados, baseados na
As reuniões são realizadas semanalmente transmissão, como por contato; respiratória
com os profissionais da UTI (médico, enfermeiro, por gotículas ou por aerossóis; associando aos
nutricionista, farmacêutico, psicólogo, fonoau- cuidados específicos para evitar a transmissão de
diólogo, fisioterapeuta, residentes e estudantes), doenças infectocontagiosas.
e os membros da equipe SCIRAS. Os casos dos O enfermeiro aborda, de forma cordial e
pacientes internados na unidade são discutidos, respeitosa, de acordo com os princípios éticos e
na perspectiva multidisciplinar, para definição das a política de humanização, o paciente e familiar/
condutas no tratamento. acompanhante, e explica de forma simples a
As pautas das reuniões são voltadas importância da higienização das mãos antes e
para desenvolver melhorias no processo de após o contato com o paciente e áreas próximas,
comunicação, englobando o lado multifatorial da nas quais os equipamentos de proteção individual
assistência, uso racional de dispositivos invasivos serão necessários para aproximação do familiar
e de antimicrobianos, orientação sobre a prática ao paciente, como utilizá-lo e até quando poderá
de higienização das mãos e a importância das ser reutilizado.

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Orientações voltadas para precaução são IRAS, entre as técnicas mais utilizadas estão as
realizadas, também, pelo enfermeiro residente lúdico-pedagógicas, de forma a facilitar o processo
do serviço, e foram acompanhadas durante de aprendizagem, e o público alvo dessas ações
a participação do projeto de extensão. A são funcionários, estudantes, acompanhantes e
sensibilização de todos envolvidos no processo de familiares. Como exemplo dessa técnica, tem-se a
assistência à saúde, sejam pacientes ou familiares, campanha de higienização das mãos, que reforça
é um dos pilares preconizados pelo Ministério a importância da prática por meio de jogos, com
da Saúde, a participação do paciente/família perguntas e respostas, paródias e brincadeiras. As
no processo de atendimento, esses precisam de atividades são efetuadas de maneira simples, clara
informação para não auxiliar na contenção da e objetiva, para facilitar o entendimento.
transmissão de infecções.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Orientações e acompanhamento sorológico de
profissionais/estudantes vítimas de acidente Diante desse relato de experiência,
com exposição a material biológico percebe-se que a participação nas atividades do
e perfurocortantes SCIRAS amplia de forma significativa o olhar
dos acadêmicos de enfermagem, principalmente
O atendimento inicial e acompanhamento em relação às responsabilidades do enfermeiro
dos profissionais de saúde, estudantes e desse setor.
terceirizados que sofrem acidentes com exposição O projeto de extensão universitária
a material biológico e perfurocortantes, é possibilita associação da teoria à prática, bem como
realizado pelo serviço. Essa ação é executada por o desenvolvimento de senso crítico a respeito das
enfermeiros, residentes, oficial administrativo, e atividades elaboradas pelo enfermeiro na gestão
alunos do projeto, a fim de agilizar as condutas e controle de IRAS, tornando-se um diferencial
necessárias quanto à otimização do tempo, em para a formação acadêmica.
caso de indicação de quimioprofilaxia para HIV Por fim, o projeto de extensão demostrou
e hepatite B. O acidentado é orientado quanto uma perspectiva de envolvimento de acadêmicos
aos cuidados imediatos com a área de exposição; de enfermagem na área de prevenção e controle
solicitação de consentimento do paciente-fonte de IRAS, permitindo a aquisição de novos
para realização dos testes sorológicos para hepatite conhecimentos por meio das discussões, pesquisas
B e C, e vírus HIV; avaliação da imunização para realizadas durante as atividades e práticas de
hepatite B do acidentado; quimioprofilaxia para o planejamento e educação.
vírus HIV, de acordo com indicação do protocolo
institucional/MS para o acidentado; e orientações REFERÊNCIAS
sobre riscos de soroconversão pós-exposição.
1. Ministério da Saúde.(BR) Implantação do
Acompanhamento nas atividades de educação Núcleo de Segurança Do Paciente Em Serviços
em serviço de saúde De Saúde.Brasília, 2014
2. Brasil. Portaria n. 2.616, de 12 de maio de 1998.
São realizados treinamentos periódicos
Regulamenta as ações de controle de infecções
em temas diversos, para prevenção e controle de
hospitalares no Brasil. Gabinete do Ministro,
infecções e outros, relacionados à notificação de
Brasília. 12 maio 1998.
eventos adversos relatados ao serviço.
As atividades de educação em saúde são 3. Ministério da Saúde.(BR) Medidas de Prevenção
voltadas para os principais temas relacionados à de Infecção Relacionada à Assistênciaà Saúde.
Brasília: Ministério da Saúde, 2017

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4. Fontana RT. As infecções hospitalares e a
evolução das infecções. Rev. bras. enferm. V. 58,
n. 5, p. 703-6, 2006
5. Conceição SC; Pereira GL; Montenegro HRA.
Implementação de um banco de dados para a
CCIH de um hospital: relato de experiência. J.
res.: fundam. care. online v.6, n.1, p. 408-413,
jan./mar. 2014.
6. Manchur J et al. A contribuição de projetos de
extensão a formação profissional de graduandos
de licenciaturas. Revista Conexão UEPG. v.9, n.
2., p.334-341, jul./dez. 2013

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