Unidade 4
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Neste capítulo estudaremos
PSICOTERAPIA PSICODINÂMICA E ABORDAGEM PSICANALÍTICA: RECORTE CLÍNICO
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PSICOTERAPIA PSICODINÂMICA E ABORDAGEM PSICANALÍTICA: RECORTE
CLÍNICO
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RECORTES CLÍNICOS
Assim que Aurora saiu registrei de forma escrita a sessão e apesar de ter
percebido o que aconteceu na sessão, marquei supervisão e discuti o caso com
minha supervisora. Tive certeza que um item de minha formação foi muito útil, não
apenas para este recorte clínico de Aurora, mas para outros casos clínicos que
representam estados emocionais primitivos da mente.
Trata-se do curso sobre a observação da relação mãe e bebê em que o analista
em formação acompanha uma dupla de mãe e bebê durante um ano e apenas
observa esta dupla por uma hora semanal sem intervir em absolutamente nada da
relação da dupla. Realizávamos supervisão semanal e discutíamos textos
importantes sobre o tema. Ao final do curso que dura em média um ano e meio a
dois anos, confeccionávamos relatório clínico contendo os relatos dos encontros
com a dupla e as construções teóricas decorrentes da experiência clínica. Inegável
a enorme contribuição deste curso para a minha formação por conduzir minha
atenção ao estado emocional primitivo manifestado em muitos analisandos de
forma singular. Este curso em Brasília é oferecido para Sociedade de Psicanálise
de Brasília.
Retornando ao recorte clínico em questão. Aurora compareceu a sessão seguinte
sorridente e aparentemente animada, cumprimentou-me e ao sentar-se perguntou-
me se havia ficado com medo dela na sessão anterior. Respondi que havia
percebido que ela convocou-me para sentir com ela o que acontecia internamente
com ela. Aurora sorriu e afirmou com a cabeça. E dali em diante pôde colocar em
palavras o que precisava primeiramente sentir. As sessões seguintes foram
repletas de questões psíquicas e emocionais de Aurora que permaneceu em
análise por cerca de um ano.
Este recorte clínico conduziu-me a pensar no papel do psicoterapeuta e analista,
uma vez que cada situação clínica convoca-nos a infinitos lugares psíquicos e
emocionais que precisamos reconhecer e seguir conjuntamente. Definitivamente
não é tarefa fácil e conhecer a teoria pode auxiliar, mas investir na formação é
essencial. No caso do psicoterapeuta o investimento precisa abarcar os aspectos
práticos supervisionados, teóricos, técnicos, metodológico e ainda pessoal no
sentido de realizarmos Psicoterapia e análise pessoal com o propósito de nos
conhecermos e identificarmos nossas questões psíquicas e emocionais. Uma
equação presente no contexto psicoterápico indica que quanto mais se avança
psíquica e emocionalmente na Psicoterapia pessoal mais avanços serão
proporcionados aos pacientes. Até mesmo pelo fato de reconhecermos em nós
mesmos o sofrimento nos ajuda e identificá-lo e, a partir disso, auxiliar no processo
psicoterápico.
Este primeiro recorte clínico destaca a postura do psicoterapeuta e as fases iniciais
da Psicoterapia. Já o segundo recorte clínico tratará do processo psicoterápico de
uma menina de 6 anos, Maria. A mãe de Maria fez contato telefônico para marcar
uma sessão para filha de 6 anos e, de acordo com a técnica psicoterápica e
psicanalítica, faz-se necessário uma sessão com os responsáveis pela criança
antes de iniciar a Psicoterapia com a criança. Na sessão com a mãe de Maria
reparei que a dupla mãe e filha investiam muito na relação delas e passavam muito
tempo juntas. A mãe de Maria, Antônia separou-se do pai dela quando ela estava
com 2 anos e mantém uma relação cordial com mesmo. Como Antônia relata, o
pai vê a filha com frequência e participa de sua vida no seu lugar de pai. Tratava-se
de pais que apenas deixaram de ter uma relação conjugal e mantinham, de forma
consciente, o lugar de pai e mãe. Antônia relatou que estava tendo dificuldades no
relacionamento com a filha no que tange os combinados e acordos do dia a dia.
Relatava que a filha passava a argumentar com ela a ordem dos afazeres e
propunha outros combinados que atendessem a ela e à mãe. Antônia relatou não
saber lidar com isso e via-se perdendo a paciência com frequência com a filha e
atribui à isso a sua criação e educação em que não havia espaço para combinados
com seus pais, apenas obedecia ou apanhava. Certamente Maria convocava essa
mãe a repensar e reformular o modelo de criação educação que recebeu, ou seja,
a construir com sua filha novas formas de relacionar e funcionar para além do que
vivera quando criança. Esta era a questão da mãe.
Na Psicoterapia de crianças deve-se destacar a importância de o psicoterapeuta
diferencia a demanda dos responsáveis da demanda da criança, o que muitas
vezes pode ser muito diferentes. Na sessão com Maria, de acordo com a prática e
com a experiência clínica, perguntei a ela se sabia porque estava ali e se ela
achava que sua mãe tinha motivos para estar preocupada com ela. Maria
respondeu que estava ali para ser educada e que sua mãe não a compreendia
como ela gostaria. Nas brincadeiras Maria sempre reproduzia as rotinas que
vivenciava com a mãe e com o pai e, utilizava uma casinha e os bonecos para
ilustrar o que acontecia. Reproduzia os momentos que antecediam a escola, o
dormir, fazer tarefas tanto com o pai como com a mãe. Usava sempre tons mais
expressivos ao reproduzir o que acontecia com a mãe. Certo dia Maria perguntou-
me: Tia, porque minha mãe não me deixa escolher minhas roupas ou o que quero
fazer quando chego da escola? Respondi perguntando por que ela achava que
acontecia isso e Maria respondeu dizendo que gostaria muito de ser diferente da
mãe. Na sessão seguinte deixei disponível na sala tintas e papéis. Ao reparar a
presença desses materiais Maria demonstrou alegria e disse que queria pintar,
mas não no papel. Queria colorir a si mesma para ficar diferente da mamãe.
Acreditava que com isso sua mãe a perceberia. Depois dessa sessão marque uma
sessão com Antônia por sugestão da minha supervisora que enxergou o momento
de intervir com a mãe, já que na sessão que Maria se pintou, assim que viu a filha
Antônia demonstrou não ter gostado do que viu.
Na sessão com Antônia foi possível reparar que o incômodo reproduzia sua
dificuldade de enxergar a filha como um sujeito de desejo e singular. Foi muito
interessante o fato de Maria precisar concretamente ficar de cor diferente para que
a mãe a enxergasse como um sujeito, um indivíduo, uma criança que constrói a si
mesma e demanda novas posturas da mãe. Ao passo que Antônia cedeu ao seu
modelo de educação em razão das demandas da filha enquanto sujeito, a relação
das duas melhorou significativamente. Ou seja, Maria ansiava pelo olhar existencial
da mãe para poder existir e não hesitou em se pintar concretamente para que ser
vista.
Este recorte clínico de Maria traduz o que compreende o processo psicoterápico e
o manejo clínico do material e do conteúdo psicológico no decorrer das sessões de
Psicoterapia. Isto requer do psicoterapeuta especial atenção às demandas
apresentadas e as possibilidades clínicas vislumbradas no processo psicoterápico.
ReflexãoFechar
Diante do descrito sobre os recortes clínicos apresentados, vamos refletir sobre a
importância da formação profissional considerando o tripé dr formação que
compreende o estudo teórico, o a atendimento e a supervisão de casos clínicos e a
Psicoterapia individual?
Como você atuaria e compreenderia, enquanto psicoterapeuta, o sofrimento
psíquico de Aurora e Maria? Como identificaria cada uma delas no processo
psicoterápico?
Saiba MaisFechar
Aurora - Nome fictício para fins de relato de recorte clínico. Pelo fato de utilizarmos
recortes clínicos que não identificam as pessoas atendidas, mas apenas ilustram o
que pretendo ilustrar da experiência e prática clínica, não foi necessário colher
consentimento livre e esclarecido das pacientes.
CAPÍTULO 2Partes
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Neste capítulo estudaremos
PSICOTERAPIA EM GRUPO
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PSICOTERAPIA EM GRUPO
Saiba MaisFechar
Referimos Lei como a Lei simbólica incorporada pelo sujeito ao longo de seu
desenvolvimento psíquico e emocional, e, lei como a lei social, ordenamento
individual e coletivo regido por normas e regras individuais e coletivas.
CAPÍTULO 3Partes
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Neste capítulo estudaremos
ABORDAGEM PSICANALÍTICA: INTERVENÇÃO EM GRUPOS NO CONTEXTO DA JUSTIÇA
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ABORDAGEM PSICANALÍTICA: INTERVENÇÃO EM GRUPOS NO CONTEXTO DA
JUSTIÇA
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CARACTERIZAÇÃO DO SETTING GRUPAL
Desse modo, propomos que o GIP seja realizado em cinco encontros semanais
com temas predefinidos e com o objetivo de proporcionar espaço reflexivo e
elaborativo dos desdobramentos intersubjetivos convocados pelo envolvimento
com a Justiça por uso de drogas. No início de todos os encontros, como
aquecimento e como “elemento diferencial” do grupo, definimos a utilização de
objetos intermediários temáticos e caracterizados como registros escritos prévios.
Logo que chegavam aos encontros, os participantes preenchiam o objeto
intermediário correspondente, que visava promover uma maior conexão entre eles.
Apostamos que esses registros escritos prévios auxiliavam na organização das
ideias que seriam compartilhadas no grupo.
Desse modo, os cinco encontros do GIP abrangem, respectivamente, cinco
momentos sequenciais propostos por temas previamente pensados, quais sejam,
acolhimento, relação com as drogas, relações familiares, relações sociais e projeto
de vida. E todos os encontros seguem um roteiro de realização que consiste no
uso do objeto intermediário como aquecimento pelo registro escrito individual dos
conteúdos correspondentes e posterior socialização desses conteúdos e de suas
ressonâncias subjetivas e intersubjetivas.
Na perspectiva da discussão acerca da relação com as drogas, que perpassou em
maior ou menor expressão todos os encontros do GIP, apesar de ter sido definido
um encontro para esse tema, pautou-se pela perspectiva da redução de danos,
com o propósito de ouvir as experiências com as drogas e repassar informações
para um uso consciente, tendo como marco a adoção de estratégias norteadoras
da Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral ao Usuário de Drogas e
da Política de Saúde Mental, como alternativa à política global de “guerra às
drogas” (PASSOS; SOUZA, 2011).
Neste estudo, a utilização da teoria e da técnica psicanalítica como possibilidade
interpretativa dos conteúdos advindos do desvelamento hermenêutico,
evidentemente, não recobriu toda a perspectiva clínica, bem como, não
negligenciou a importância de outras correntes teóricas mais relacionadas com os
processos sociais. Tal como afirma Levy (2001):
Recolher tais narrativas é aceitar ser por elas modificado; e fazê-las conhecer é
esperar, sem dúvida, quebrar um silêncio, talvez desfazer certezas; a menos que,
ao testemunhar a importância da história, ao renovar sua abordagem, ao reafirmar
os vínculos entre a vida das pessoas e da coletividade, essas narrativas sejam
uma forma de resposta para a angústia e para a desorientação que caracterizam
nossas sociedades modernas e ultra organizadas, ao “mal-estar na identificação”
que as impregna e cujo entusiasmo atual pelas “histórias de vida” é, talvez, o sinal.
(LEVY, 2001, p. 98)
O fenômeno humano se situa entre uma causalidade que reclama ser explicada e
uma motivação que reclama ser compreendida. Estes dois exercícios, o da
explicação e o da compreensão, exigem rigor e sensibilidade, uma escuta
informada cuja construção é desafio contínuo do pesquisador. (p. 7)
Primeiro, porque não aceitamos e, mais que isso, repudiamos, a ideia de que a
população pobre deva ser assistida em massa pelo fato de ser pobre. Segundo,
porque nada em nosso conhecimento nos autoriza a afirmar que o atendimento em
grupo seja a poção mágica para todos os problemas psíquicos apresentados pelos
clientes. Terceiro, enfim, porque os resultados obtidos por esta prática ainda
permanecem sujeitos a críticas por várias razões. (pp. 14-15)
Entre as razões das críticas ao trabalho com grupo, Costa (1989) aponta o curto
tempo de experiência e as anomalias dos modelos. Mesmo hoje, quase trinta anos
após sua publicação, identificamos nesse cenário de trabalho com grupos essas
críticas e uma diversidade de modelos e aportes teóricos e técnicos no campo da
Psicanálise. Mas verificamos que nos aproximamos de Costa (1989) justamente
pela condição de lançarmos outro olhar ao sujeito envolvido com a Justiça por uso
de drogas e utilizamos o espaço grupal como subjetivação da experiência. A
proposta do GIP não aceita a ideia de assistência em massa, opção mágica e
prática acrítica.
Compreendemos que a proposta do GIP convocada pela Justiça, revela na Justiça
possibilidades para além de seu papel, apesar de qualificar sua função
metabolizada pela oportunidade gerada de trânsito entre a obrigação à reflexão, ao
pensamento, à elaboração e a novos sentidos ontológicos (SUDBRACK, 1992,
2003; SAFRA, 2006).
Consideramos ainda que, sem dúvida, os participantes contribuíram enormemente
com a proposta metodológica do GIP, tanto pelos registros escritos nos objetos
intermediários, como por meio do retorno à equipe acerca do que vivenciaram nos
encontros, como avaliaram o GIP e como se avaliaram no decorrer dos encontros.
NÃO FINALIZAR
Figura 13.
Saiba MaisFechar
Perlaborar consiste no “processo pelo qual a análise integra uma interpretação e
supera as resistências que ela suscita. Seria uma espécie de trabalho psíquico que
permitiria ao sujeito aceitar certos elementos recalcados e libertar-se da influência
dos mecanismos repetitivos. A perlaboração é constante no tratamento, mas atua
mais particularmente em certas fases em que o tratamento parece estagnar EME
que persiste uma resistência, ainda que interpretada. Correlativamente ao ponto de
vista técnico, a perlaboração é favorecida por interpretações do analista que
consistem principalmente em mostrar como as significações em causa se
encontram em contextos diferentes” (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001, p. 339).