Nota Tecnica Colera

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Ministério da Saúde

Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente


Departamento de Doenças Transmissíveis
Coordenação-Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial

NOTA TÉCNICA Nº 23/2024-CGZV/DEDT/SVSA/MS

Detecção de caso autóctone


de cólera no Brasil e
recomendações para o
fortalecimento das
vigilâncias epidemiológicas
de doenças diarreicas
agudas e da cólera (VE-DDA
e VE-cólera).
1. OBJETIVO
1.1. Comunicar e esclarecer sobre o caso de cólera autóctone confirmado
laboratorialmente no estado da Bahia e recomendar ações para o fortalecimento
das VE-DDA e VE-cólera.
2. CONTEXTUALIZAÇÃO
2.1. Foi confirmado laboratorialmente um caso de cólera autóctone no
Brasil, no município de Salvador, na Bahia, com a identificação do agente Vibrio
cholerae O1 Ogawa (toxigênico). O indivíduo não tem histórico de deslocamento
para países com ocorrência de casos confirmados, nem de contato com outro
caso suspeito ou confirmado da doença. Entretanto, o caso foi detectado por
meio de vigilância ativa laboratorial. Trata-se de um homem de 60 anos,
residente no município de Salvador, que apresentou um desconforto abdominal
e diarreia aquosa, em março de 2024. Duas semanas antes ele havia feito uso
de antibiótico para tratamento de outra patologia.
2.2. Trata-se de um caso isolado, tendo em vista que não foram
identificados outros casos, após a investigação epidemiológica realizada pelas
equipes de saúde locais junto às pessoas que tiveram contato com o paciente.
Considerando que o período de transmissibilidade da doença é de um a dez dias
após a infecção, mas que para as investigações epidemiológicas, no Brasil, está
padronizado o período de transmissibilidade de até 20 dias por uma margem de
segurança, o paciente não transmite mais o agente etiológico desde o dia
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3. CENÁRIO EPIDEMIOLÓGICO
3.1. No Brasil, os últimos casos autóctones ocorreram em Pernambuco
entre os anos de 2004 e 2005, com 21 e cinco casos confirmados,
respectivamente. A partir de 2006, não houve casos de cólera autóctones,
apenas importados: um de Angola, notificado no Distrito Federal (2006); um
proveniente da República Dominicana, em São Paulo (2011); um de
Moçambique, no Rio Grande do Sul (2016); e um da Índia, no Rio Grande do
Norte (2018).
3.2. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), de janeiro a
março de 2024, 31 países registraram casos ou declararam surto de cólera.
Seguindo a classificação da OMS, a Região Africana foi a mais afetada, com 18
países. Nas Américas há surtos declarados apenas no Haiti e na República
Dominicana.
3.3. O Ministério da Saúde mantém atualizações periódicas sobre a
situação epidemiológica cólera nas Américas e no mundo por meio do site Saúde
A - Z - Cólera — Ministério da Saúde (www.gov.br).

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3.4. Diante do cenário de casos de cólera no mundo, salienta-se a
necessidade de os profissionais de saúde estarem sensibilizados quanto à
situação epidemiológica de doença, à detecção de casos, à investigação
epidemiológica e às medidas de prevenção e controle.
4. DETECÇÃO DE CASOS
4.1. A cólera é causada pela enterotoxina do Vibrio cholerae O1 ou O139
e compõe as doenças diarreicas agudas (DDA)[1]. A grande maioria das pessoas
infectadas permanece assintomática (aproximadamente 75%) e, daquelas que
desenvolvem a doença, a maioria apresenta sintomas leves ou moderados, e
apenas de 10% a 20% desenvolvem a forma severa, que, se não for tratada
prontamente, pode levar a graves complicações e ao óbito.
4.2. Cabe ressaltar que o Vibrio cholerae pode ser encontrado no
ambiente aquático, pois faz parte da microbiota marinha e fluvial e pode se
apresentar de forma livre ou associado a crustáceos, moluscos, peixes, algas,
aves aquáticas, entre outros, incluindo superfícies abióticas.
4.3. Os profissionais de saúde devem conhecer a doença e as definições
de caso suspeito de cólera, conforme estabelecido no Guia de Vigilância em
Saúde, do Ministério da Saúde (MS) e descritos a seguir:

Figura 1 - Características da cólera.


Fonte: GT-DTHA/CGZV/DEDT/SVSA

[1] As DDA caracterizam-se pela diminuição na consistência das fezes, pelo aumento da
frequência (mínimo de 3 episódios em 24 horas) por até 14 dias, podendo ser
acompanhada de febre, náusea, vômitos.

4.4. Definição de caso suspeito


4.4.1. Em áreas SEM surto declarado de cólera, são considerados casos
suspeitos:

Indivíduo, proveniente de áreas com ocorrência de casos confirmados de

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cólera, que apresente doenças diarreicas agudas (DDA) até o décimo dia de
sua chegada.
Indivíduo com mais de 5 anos de idade que apresente diarreia súbita,
líquida e abundante. A presença de desidratação grave, acidose e colapso
circulatório reforça a suspeita.
Indivíduo contatante de caso suspeito ou confirmado de cólera que
apresente DDA em até dez dias após o contato, independentemente da
faixa etária. É importante que o contato tenha ocorrido durante o período
de transmissibilidade, ou seja, em no máximo 20 dias do início dos
sintomas do caso primário (suspeito ou confirmado).

4.4.2. Em áreas COM surto declarado de cólera, é considerado suspeito:

Indivíduo que apresente DDA e vínculo epidemiológico com caso suspeito


ou confirmado de cólera, independentemente da faixa etária.

4.5. Outra estratégia para detectar casos oportunamente é a realização


do monitoramento sistemático das doenças diarreicas agudas por meio da VE-
DDA. O MS disponibiliza, no link:
https://public.tableau.com/app/profile/dda.brasil, o monitoramento das DDA,
como uma ferramenta para contribuir com a oportunidade da análise
epidemiológica pelos municípios e estados.
4.6. Dessa forma, é importante que as VE, especialmente as locais,
estejam atentas às alterações de padrão epidemiológico dos casos de DDA,
para suspeitar da ocorrência de surtos e investigar o vínculo epidemiológico
entre os casos e com locais em que há surtos declarado de cólera, como viagens
realizadas, a fim de, caso haja suspeita de cólera, dispare a investigação
epidemiológica específica para identificar sua etiologia e, caso confirmado,
quebrar a cadeia de transmissão conforme NOTA TÉCNICA Nº 68/2023-
CGZV/DEDT/SVSA/MS (0033677502).

5. INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
5.1. A investigação epidemiológica tem como objetivo identificar a fonte
de infecção e o modo de transmissão, confirmar o diagnóstico, identificar
fatores de risco, identificar populações vulneráveis e grupos expostos a maior
risco, determinar as principais características epidemiológicas e orientar quanto
às medidas de prevenção e controle. A investigação (Figura 2) deve ser iniciada
imediatamente após a notificação do caso suspeito ou confirmado, utilizando-se
a Ficha de Investigação de Cólera.

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Figura 2 - Fluxograma de investigação de casos suspeitos de cólera
Fonte: DEDT/SVSA/MS - Guia de Vigilância em Saúde

6. MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE


6.1. A prevenção e controle das DDA, incluindo a cólera, dependem de
condições adequadas de saneamento básico, hábitos de higiene pessoal e
manipulação segura de alimentos. Ações de educação em saúde devem
enfatizar a importância da lavagem das mãos e cuidados com alimentos. Em
áreas sem infraestrutura de água e esgoto, é crucial orientar sobre desinfecção

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da água e manejo de resíduos.
6.2. Dessa forma, para prevenção e controle das DDA, incluindo a cólera,
orienta-se a realização das seguintes ações:

Figura 3 - Medidas de prevenção.


Fonte: GT-DTHA/CGZV/DEDT/SVSA
7. CONCLUSÃO
7.1. Os achados da investigação epidemiológica realizada até o momento
indicam se tratar de um caso isolado, localizado e sem evidências de
ocorrência de outros casos. Considerando o período de transmissibilidade da
doença, o paciente não transmite mais o agente etiológico desde o dia
10/04/2024.
7.2. O Ministério da Saúde tem acompanhado a situação e apoiado,
conjuntamente com a Secretaria Estadual de Saúde da Bahia, às secretarias
municipais de saúde nas ações de investigação e tomada de decisão visando
minimizar os possíveis impactos à saúde da população.
7.3. As orientações constantes nesta nota técnica deverão ser
amplamente disponibilizadas aos profissionais de saúde das vigilâncias
epidemiológica, sanitária e ambiental; da Atenção Primária à Saúde (APS); das
Unidades de Urgência e Emergência e hospitalares com o objetivo de
sensibilizar sobre a suspeição, notificação, investigação, prevenção e controle
de cólera.
7.4. Para informações adicionais, contatar a Coordenação-Geral de
Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial- CGZV, pelo e-mail
[email protected].

Atenciosamente,
FRANCISCO EDILSON FERREIRA DE LIMA JÚNIOR
Coordenador-Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão
Vetorial
De acordo,
ALDA MARIA DA CRUZ
Diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis
De acordo,
ETHEL MACIEL
Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente

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De acordo,
ROBERTA SILVA DE CARVALHO SANTANA
Secretária de Saúde do Estado da Bahia

Documento assinado eletronicamente por Alda Maria da Cruz, Diretor(a)


do Departamento de Doenças Transmissíveis, em 19/04/2024, às
15:44, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º, do art.
4º, do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020; e art. 8º, da Portaria
nº 900 de 31 de Março de 2017.

Documento assinado eletronicamente por Francisco Edilson Ferreira de


Lima Junior, Coordenador(a)-Geral de Vigilância de Zoonoses e
Doenças de Transmissão Vetorial, em 19/04/2024, às 15:47, conforme
horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º, do art. 4º, do Decreto nº
10.543, de 13 de novembro de 2020; e art. 8º, da Portaria nº 900 de 31 de
Março de 2017.
Documento assinado eletronicamente por Roberta Silva de Carvalho
Santana, Usuário Externo, em 19/04/2024, às 18:22, conforme horário
oficial de Brasília, com fundamento no § 3º, do art. 4º, do Decreto nº 10.543,
de 13 de novembro de 2020; e art. 8º, da Portaria nº 900 de 31 de Março de
2017.

Documento assinado eletronicamente por Ethel Leonor Noia Maciel,


Secretário(a) de Vigilância em Saúde e Ambiente, em 19/04/2024, às
18:26, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º, do art.
4º, do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020; e art. 8º, da Portaria
nº 900 de 31 de Março de 2017.

A autenticidade deste documento pode ser conferida no site


http://sei.saude.gov.br/sei/controlador_externo.php?
acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0, informando o
código verificador 0040218983 e o código CRC A562739B.

Referência: Processo nº 25000.056009/2024-81 SEI nº 0040218983

Coordenação-Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial - CGZV


SRTVN Quadra 701, Via W 5 Norte Edifício PO700, 6º andar - Bairro Asa Norte, Brasília/DF, CEP 70719-040
Site - saude.gov.br

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