Conforto Ambiental - Tipologias Climáticas

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CONFORTO

AMBIENTAL

Vanessa Guerini Scopell


Tipologias climáticas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as diferentes tipologias climáticas.


 Definir as características de cada clima.
 Reconhecer as interferências do clima na arquitetura.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar o que são as tipologias climáticas, enten-
dendo o seu conceito e a sua aplicação. Além disso, você vai estudar sobre
os diferentes climas, suas características e especificidades, reconhecendo
como as condições e tipologias climáticas podem influenciar os projetos
de arquitetura.

Tipologias climáticas
Quando se pensa em clima, percebe-se a sua influência direta na satisfação ou
não com o ambiente natural, bem como na sensação de frio ou calor, abrangendo
também diversos outros aspectos. Segundo Pena ([2018], documento on-line),
o clima pode ser compreendido como “[...] o comportamento e a dinâmica
das condições da atmosfera em um dado local, composto por um conjunto
de condições meteorológicas que se sucedem e repetem-se ciclicamente ao
longo de alguns meses ou anos”. O autor ressalta a distinção do termo clima
em relação ao termo tempo, esse último se referindo às condições naturais
momentâneas do ar. Conforme Nascimento, Luiz e Oliveira (2016, documento
on-line), “[...] o clima é o resultado das interações da radiação solar com os
aspectos físicos geográficos e a circulação atmosférica”.
Para se avaliar o clima de determinada área ou região, é preciso levar em
conta alguns fatores. Segundo Pena ([2018], documento on-line), é necessário
estabelecer “[...] um panorama sobre o regime anual de chuvas, as estações
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que se definem localmente, as temperaturas médias e uma série de elementos


que marca as suas condições naturais”.
Existem vários tipos de clima atuantes no nosso planeta, que são in-
fluenciados por aspectos como continentalidade, latitude, altitude, massas
de ar, correntes marinhas, entre outros. Assim, cada tipo de clima apresenta
especificidades relacionadas à temperatura, à pressão atmosférica, à radiação
solar e à umidade do ar. Conforme Pena ([2018]), é possível representar
as condições climáticas de um determinado lugar por meio de um climo-
grama, que se resume a um gráfico em que são demonstradas as tempera-
turas médias e o índice de precipitação a cada mês do ano (Figura 1). Esse
gráfico pode auxiliar no planejamento de cada atividade, prevendo ações
mais apropriadas para determinadas épocas do ano com base nos registros
climáticos.

Figura 1. Exemplo de climograma.


Fonte: Adaptada de Pena ([2018].

Para Nascimento, Luiz e Oliveira (2016, documento on-line), os estudos


sobre os aspectos climáticos são importantes para auxiliar nas atividades hu-
manas, uma vez que fatores variados “[...] são analisados de forma a sintetizar
as informações do clima de uma dada localidade e efetuar a classificação
climática”. Assim, considera-se todas as variações e classificações do clima
como tipologias climáticas, conforme leciona Ayoade (2003, p. 141):
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As tipologias climáticas dos diferentes lugares, definidas com base nas caracte-
rísticas dos parâmetros atmosféricos, correspondem a importantes insumos ao
planejamento urbano, rural, regional e ambiental, principalmente a atividades
diretamente relacionadas à organização e produção do espaço, a exemplo da
agricultura, da indústria e do turismo.

Segundo Vianello (1991, p. 216), “[...] uma região ou domínio climático


se refere a certa área da superfície da Terra delimitada por um conjunto de
condições climáticas aproximadamente homogêneas”. Mendonça e Danni-
-Oliveira (2007, p. 52) acrescentam que:

[...] apesar de que distintos lugares na superfície terrestre não apresentem


climas idênticos, é possível que a combinação de diferentes elementos e fatores
do clima resulte em uma região com condições climáticas homogêneas quando
comparada à outras, sendo denominada de região climática.

É importante destacar que toda classificação ou tipologia climática é ba-


seada nos diferentes padrões do clima e tem como objetivo “[...] sistematizar,
sintetizar, simplificar, condensar e comunicar a grande quantidade de infor-
mações referentes às características do clima de dada localidade, denominada
de região ou de domínio climático”, conforme lecionam Nascimento, Luiz
e Oliveira (2016, documento on-line). Ressalta-se ainda que, em virtude da
transitividade gradual entre os diferentes tipos de clima, a delimitação de cada
tipologia e a classificação de cada área não pode ser considerada com exatidão.
As diferenças climáticas vêm sendo estudadas desde o início da civilização
grega. Segundo Strauss (2007, p. 34, documento on-line):

É nesse contexto que se enquadra a primeira classificação climática, realizada


por Parmênides em 500 a.C., na qual foram definidas, conforme a influência
da latitude na insolação e, por conseguinte, na temperatura, três zonas gerais:
a zona tórrida, entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio; a zona temperada,
entre os Trópicos e os Círculos Polares e; a zona frígida, entre os Círculos
Polares e os Polos.

Segundo Mendonça e Danni-Oliveira (2007), com a evolução dos sistemas


de meteorologia e o desenvolvimento da tecnologia, atualmente existem pelo
menos 200 esquemas de classificações climáticas. Dentre eles, duas abordagens
se destacam, sendo a primeira delas considerada empírica, que leva em conta
a combinação de vários elementos ou características do clima, e a segunda
chamada de genética, que considera os controladores ou fatores climáticos.
Sobre a abordagem empírica, Maluf (2000, p. 147) explica o seguinte:
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A abordagem empírica, também considerada como descritiva, apresenta


dois segmentos. Um dos segmentos utiliza essencialmente a descrição dos
elementos climáticos, com base em dados meteorológicos, enquanto o outro
se baseia no efeito do clima sobre os elementos naturais, geralmente sobre
a vegetação ou o solo. Os sistemas de classificação do clima apoiados na
abordagem empírica se baseiam geralmente na descrição dos elementos climá-
ticos: temperatura do ar, precipitação, umidade e evapotranspiração. Alguns
empregam como critérios o balanço de radiação, as amplitudes térmicas, a
temperatura dos meses mais frios e mais quentes, a duração dos períodos
chuvosos e de estiagem ou a quantidade de dias com chuva.

A abordagem genética também se divide em duas vertentes: uma delas


leva em consideração a “[...] dinâmica das massas de ar e o regime das chu-
vas, enquanto a outra considera o balanço de energia como principal fator
controlador do clima”, conforme lecionam Nascimento, Luiz e Oliveira (2016,
documento on-line).
Uma importante classificação climática é datada do ano de 1874 e foi
criada por De Candolle, um cientista francês. O autor, a partir de uma vertente
empírica, classifica o clima com base no desenvolvimento da vegetação,
elencando cinco zonas: megatherms, xerophiles, mesotherms, microtherms
e hekistotherms (Figura 2).

Figura 2. Classificação climática proposta por De Candolle.


Fonte: Nascimento, Luiz e Oliveira (2016).
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No ano de 1879, Alexandre Supan elaborou outro tipo de classificação


climática, a qual dividia o planeta nos climas quente, frio e temperado, usando
como referência as temperaturas médias de cada região (Figura 3).

Figura 3. Classificação climática elaborada por Alexandre Supan.


Fonte: Nascimento, Luiz e Oliveira (2016).

Essas primeiras propostas definiram regiões climáticas de uma maneira


mais generalizada. Nascimento, Luiz e Oliveira (2016, documento on-line) res-
saltam que, após essa primeira fase, surgiram outras propostas mais completas:

Mais do que uma classificação dos climas, Herbertson propôs em 1905 uma
classificação das principais regiões naturais do mundo. Para tanto, utilizou
como critério as idades geológicas, as médias anuais de temperatura, a de-
finição da estação chuvosa, os diferentes tipos de vegetação e a densidade
populacional. O autor destaca que o clima não pode ser visto apenas como um
dos elementos físicos a serem quantificados e considerados na classificação,
mas, sobretudo, como a síntese das várias influências que atuam na superfície.

O estudo de Herbertson resultou em uma divisão de seis regiões principais,


subdividas em outras categorias, sendo elas: polar, temperada fria, temperada
quente, deserto ocidental, montanhas tropicais ou subtropicais elevadas (tipo
tibetano) e planícies equatoriais (tipo amazônico). No ano de 1947, Holdridge
classificou o clima em 37 regiões, denominadas por ele de zonas vitais. Segundo
Nascimento, Luiz e Oliveira (2016, documento on-line), “[...] essas zonas corres-
ponderiam aos tipos de vegetação condicionados pelos parâmetros de temperatura
média anual, precipitação média anual, evapotranspiração e umidade”.
Um dos principais sistemas que classifica as tipologias climáticas foi
elaborado em 1918 por Wladimir Köppen. Esse estudo sofreu uma alteração
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no ano de 1936 e recebeu contribuições de Rudolf Geiger no ano de 1961. A


partir desses estudos, surge a classificação climática de Köppen-Geiger.
Segundo Nascimento, Luiz e Oliveira (2016, documento on-line):

A classificação Köppen-Geiger relaciona o clima com a vegetação e se baseia


em critérios numéricos da temperatura média do mês mais frio para definir
cinco regiões climáticas principais: tropical, árida, temperada, fria e polar,
representadas por letras maiúsculas — A, B, C, D e E, respectivamente. Com
base na distribuição sazonal da precipitação e em características adicionais
de temperatura, este sistema divide-se, respectivamente, em tipos e subtipos,
representados por letras minúsculas.

A tabela de Köppen-Geiger foi transformada por Kottek e seus colaboradores em um


mapa que facilita a visualização das tipologias climáticas de cada região do mundo.
Para acessá-lo, visite o link a seguir.

https://goo.gl/51YKut

Outra classificação bastante utilizada como referência é o estudo elaborado


por Strahler. O mesmo criou grupos climáticos divididos em 13 zonas, base-
adas em aspectos como as massas de ar e as latitudes. Conforme Sant’Anna
Neto (2001, p. 41):

Além de considerar os elementos precipitação e temperatura para definir e dis-


tinguir as regiões climáticas do mundo, na proposta de classificação de Strahler
também é incorporado o paradigma dinâmico no que se refere às características
e aos regimes das massas de ar, sendo apontada como a contribuição mais sig-
nificativa na busca de uma classificação climática de base genética e dinâmica.

Para visualizar o mapa da classificação utilizada por Strahler, acesse o link a seguir.

https://goo.gl/UUpeyt
Tipologias climáticas 7

Pode-se perceber que os estudos desenvolvidos apresentam algumas se-


melhanças entre si. As tipologias climáticas, apesar de serem tratadas por
meio de diferentes nomenclaturas, têm como referência aspectos em comum,
tratando as regiões a partir de reflexões e percepções diferentes. Nota-se
que a diferença entre os sistemas se baseia principalmente nas vertentes de
pesquisa, sendo a classificação empírica voltada especificamente à descrição
das características do clima de cada área, enquanto a vertente genética busca
esclarecer os motivos dos diferentes climas do planeta.

O que é climatologia e para que serve?


A climatologia é fundamental na medida em que fornece dados para projetar
edificações, possibilitando uma arquitetura mais regionalista e eficiente em termos
de conforto humano e consumo de energia. Trata-se de um ramo da geografia física
que se dedica a estudar o clima e o tempo. Como vimos, entende-se como “tempo”
o estado meteorológico da atmosfera, como condições de vento, ar, temperatura e
umidade, e como “clima” o conjunto de condições atmosféricas que caracterizam um
determinado local ou região.
A climatologia, como ciência, tem se tornado cada vez mais importante, já que
inúmeras atividades humanas, como agricultura, economia, indústria e comércio,
dependem de dados do clima para a tomada de decisões e a obtenção de eficiência.
Um agricultor tem necessidade de informações do clima para saber quais decisões
tomar com relação às melhores épocas do ano para plantio, como poderá plantar e
em que época colher determinado gênero agrícola.
A partir de dados de satélites e de estações medidoras, a climatologia moderna
vem fornecendo dados e informações mais precisas sobre chuvas, geadas, secas,
ventanias, temporais, furacões, etc. Em países que estão ainda em desenvolvimento,
a climatologia tem se desenvolvido mais devido à sua importância para a agricultura
e a aviação. No Brasil, já existem estudos, pesquisas e, inclusive, informações prontas
e disponíveis para auxiliar e orientar projetos de edificações que seguem diretrizes
bioclimáticas (Renato ([2018]).

Características do clima
Dentre diversos estudos, mapas e tipologias climáticas, algumas propostas
se destacam por serem voltadas especificamente para o território brasileiro.
Jurca (2005) cita as propostas de Delgado de Carvalho, Peixoto, Guimarães
e Bernardes, e destaca a proposta de Henrique Morize (Quadro 1), iniciada
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no ano de 1889 e aprimorada no ano de 1922. Conforme Sant’Anna Neto


(2001, p. 13), essa classificação climática

[...] foi elaborada com base em dados de 106 estações meteorológicas no


território brasileiro e se baseou nos conceitos apresentados por Köppen,
utilizando-se de médias anuais de temperatura e de totais pluviométricos para
definir três tipos climáticos: equatorial, subtropical e temperado — divididos
em outros nove subtipos.

Quadro 1. Classificação climática de Henrique Morize

Tipo Subtipo Localização

Equatorial Superúmido Amazônia


Úmido continental Interior do Norte
Semiárido Nordeste
Subtropical Semiúmido marítimo Litoral oriental
Semiúmido de altitude Altiplanos centrais
Semiúmido continental Interior do Brasil
Temperado Superúmido marítimo Litoral meridional
Semiúmido/latitudes médias Planícies do interior do Sul
Semiúmido das altitudes Locais de grande altitude

Fonte: Adaptado de Nascimento, Luiz e Oliveira, 2016.

Para Sant’Anna Neto (2001), essa proposta é considerada como um marco


para a evolução da climatologia e meteorologia do Brasil, pois reúne um conjunto
de registros das estações meteorológicas que servem de embasamento para as
análises climáticas. Segundo Nascimento, Luiz e Oliveira (2016), as classifi-
cações foram se desenvolvendo cada vez mais, tornando-se mais específicas
e fundamentadas. Nesse contexto surge a proposta de Nimer, que é utilizada
como referência pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A proposta de classificação dos climas brasileiros de Nimer se apoia na de-


finição de três sistemas: o primeiro é relativo à gênese climática baseada nos
padrões de circulação atmosférica, configurando três climas zonais (equatorial,
tropical e temperado); o segundo emprega as frequências médias de valores
extremos de temperatura, definindo regiões térmicas (quente, subquente, meso-
térmico brando e mesotérmico mediano); e o terceiro, que relaciona o número
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de meses secos com o tipo de vegetação natural predominante, define regiões


com padrões homogêneos de umidade e seca (que variam de superúmido a
semiárido) (NASCIMENTO; LUIZ; OLIVEIRA, 2016, documento on-line).

Os climas zonais brasileiros considerados pelo IBGE são: equatorial,


tropical (dividido em zona equatorial, Nordeste oriental e Brasil central) e
temperado.

Para visualizar o mapa da classificação climática adotada para o Brasil, acesse o link a seguir.

https://goo.gl/NhTayZ

O clima equatorial está localizado mais especificamente na área da Floresta


Amazônica, ao norte do território brasileiro e em parte do estado do Mato Grosso.
Essa tipologia climática prevalece nas áreas próximas à Linha do Equador. As
suas principais características são a alta umidade do ar e a temperatura elevada,
que geram chuvas constantes. Segundo dados do IBGE, a temperatura média
do clima equatorial é de 26ºC, com umidade relativa média de 90%.
O clima tropical é encontrado nas áreas entre o Trópico de Capricórnio e
o Trópico de Câncer. Apresenta como características gerais a temperatura alta,
porém com menos precipitações se comparado ao clima equatorial. O clima
tropical da zona equatorial compreende áreas dos estados de Piauí, Tocantins,
Ceará, Rio Grande de Norte, Pernambuco, Maranhão, leste de Roraima e
oeste da Paraíba. Nessas áreas, os invernos sãos mais secos e os verões, mais
chuvosos. O clima tropical Brasil central tem como características mais
acentuadas a estiagem e os verões bastante chuvosos. Com temperatura média
anual de 20º C, compreende os estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo,
Mato Grosso do Sul, Bahia, sul do Piauí e do Tocantins e norte do Paraná.
Já a tipologia tropical Nordeste oriental concentra-se na faixa litorânea da
região nordeste e tem temperatura média anual de 25ºC.
O clima temperado pode ser caracterizado como a tipologia mais fria se
comparada ao clima equatorial e tropical. Esse clima é encontrado na Região
Sul do país, mais especificamente nos estados de Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul. Esse clima apresenta as estações bem definidas; durante o
inverno, a temperatura dessa região pode chegar a menos de 0ºC, com granizo
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e neve. A média de temperatura do clima temperado fica em torno de 19ºC,


com umidade relativa do ar de 80%.

Interferências do clima na arquitetura


À medida que o desenvolvimento das cidades foi acontecendo, as edificações
foram evoluindo, considerando para as suas adaptações também as regiões
em que estavam inseridas. Após a Revolução Industrial, com o surgimento
da arquitetura moderna, muitas edificações passaram a ser padronizadas,
tornando-se independentes de especificidades e condições climáticas das
áreas em que estavam inseridas. Segundo Renato ([2018], documento on-line),
“[...] esta arquitetura, cujas características convergiam, seja onde é que fosse
construída, foi chamada de ‘Estilo Internacional’, e em muito ignorava os
princípios da arquitetura regionalista, fomentando gasto excessivo de energia”.
A maioria das edificações propostas nesse período era conformada em
grandes volumes quadrados ou retangulares, com concreto e panos de vidro,
implantados em qualquer espaço, independentemente do solo, da vegetação
e do clima. Segundo Renato ([2018]), para obter conforto térmico interna-
mente utilizava-se ventiladores, ar-condicionado ou aquecedores. Esse estilo
arquitetônico ocasionou falta de energia e demandou a construção de usinas
hidrelétricas, no Brasil, e termoelétricas e nucleares, na Europa. Ainda con-
forme Renato ([2018], documento on-line):

Tais práticas degradam o meio ambiente, aquecem e destroem belos cenários


naturais, o que faz o mundo acordar para fontes alternativas de energia e edifi-
cações com melhor eficiência energética, que aproveitem os recursos naturais, e
assim produzindo construções e edificações que sejam adequadas ao clima local.

O preceito de adequar a edificação ao clima em que será inserida, apesar


de ter sido esquecido durante o movimento moderno, vem de muito antes
desse período, destacado ainda por Vitrúvio na arquitetura romana. O mesmo
dizia que, para as edificações estarem bem adequadas, era necessário levar
em conta o clima local de cada construção. Para Renato ([2018]):

[...] ter boas informações do local e do clima onde uma edificação será cons-
truída, é importante para que se obtenha um resultado de qualidade em termos
de projeto e consequentemente de conforto e eficiência energética com relação
à edificação à ser construída. É baseado nestas informações com relação às
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variáveis climáticas (como temperatura, umidade, ventos, movimentos do


sol) que se adotam as estratégias de conforto térmico (técnicas apropriadas)
para se obter soluções eficientes com relação às variáveis do meio ambiente.

Pode-se dizer que adequar a edificação por meio de propostas para obtenção do
conforto térmico é um papel importante da arquitetura, e o seu resultado é diretamente
influenciado pelas condições climáticas de cada local. Conforme Lamberts (2017), em
locais com altas temperaturas, a adoção de ventilação natural e proteção solar das
paredes é um importante artifício para amenizar o calor, que pode ser feito por meio
de beirais e do isolamento térmico com mantas ou outros materiais. Além disso, em
áreas onde a luz direta do sol é importante em algumas estações e em outras não,
pode-se utilizar os brises móveis, que ajudam no controle da entrada de sol na edificação.

Já para climas mais frios é importante o isolamento térmico da edificação,


que evita a entrada do vento na mesma, mantendo o calor interno. Para as co-
berturas, quanto mais área tiverem, mais calor conseguirão reter, melhorando a
temperatura interna. Além disso, com essas condições climáticas, é necessário
esquadrias duplas e com boa vedação, juntamente com paredes mais grossas e
o uso de alguns revestimentos especiais. Segundo Soares (2012), é importante
utilizar nas paredes revestimentos com alta inércia térmica, pois são materiais
que vão retendo o calor do sol durante o dia e, com o pôr do sol, começam a troca
de calor com a parte interna da vedação. São boas opções as paredes externas
revestidas em pedras e as internas com revestimento drywall e lã de rocha.
Quando as condições climáticas são consideradas, é possível propor constru-
ções adequadas para cada região do Brasil e do mundo, garantindo que todas as
necessidades dos ocupantes daquela edificação possam ser satisfeitas, amenizando
também os impactos ambientais da mesma e o consumo de energia. Para Lamberts
(2017, documento on-line), “[...] conhecer os dados climáticos de um local permite
identificar os períodos de maior probabilidade de desconforto e, consequentemente,
definir as estratégias que devem ser incluídas no projeto para compensar essas
condições”. Assim, a ideia de relacionar a arquitetura com o clima, levando em
conta as condições climáticas e os aspectos sustentáveis, possibilita chegar a uma
harmonia entre o espaço construído e o espaço natural existente, minimizando os
impactos e considerando as modificações na paisagem urbana.
12 Tipologias climáticas

Como adotar estratégias arquitetônicas que sejam adequadas para o inverno


e o verão?
Para evitar ambientes muito quentes, é importante priorizar a ventilação cruzada,
que se dá por janelas em fachadas opostas, permitindo a saída do ar quente e a
entrada do ar fresco.

Fonte: Adaptada de Instituto Brasileiro de desenvolvimento da Arquitetura ([2018]).

Já para a proteção contra o frio, o ideal é usar materiais que tenham grande inércia
térmica para o revestimento das paredes. Trata-se de materiais que vão retendo o
calor do sol lentamente durante o dia e, com o pôr do sol, começam a troca de calor
com os ambientes ao seu redor. Paredes revestidas de pedra voltadas para o poente
são um exemplo disso.
O ideal é que haja a associação de ambas as soluções, já que, no Brasil, as estações
causam mudanças bruscas na temperatura, e temos regiões em que há calor durante
o dia e frio à noite. Até mesmo os revestimentos podem ser associados, como os
carpetes, tapetes e pisos de madeira, que aquecem os ambientes, e as cerâmicas, vidros
e algumas pedras, que esfriam os espaços. Esses materiais precisam ser combinados
no mesmo projeto para garantir não somente o conforto em relação ao clima, mas a
eficiência e a durabilidade da edificação.
Além disso, é importante estudar o posicionamento da casa em relação ao sol,
verificando as necessidades do verão e do inverno. As fachadas devem ser analisadas
para que as aberturas sejam suficientes para circulação do ar e para que o sol não
invada o interior da casa, gerando desconforto no calor, mas que, ao mesmo tempo,
ofereça proteção no frio (SOARES, 2012).
Tipologias climáticas 13

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