GOMES, Emmily Gersica MELO, Aluísio Braz de - Caracterização Do Fluxo de Calor em Alvenaria Com Blocos EVA

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.

php/parc
http://dx.doi.org/10.20396/parc.v9i4.8651603

CARACTERIZAÇÃO DO FLUXO DE CALOR EM ALVENARIA COM


BLOCOS EVA
HEAT FLOW CHARACTERIZATION IN MASONRY WITH EVA BLOCKS
Emmily Gersica Santos Gomes1
Faculdades Integradas de Patos, Patos, PB, Brasil, [email protected]
Aluísio Braz de Melo2
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil, [email protected]

Resumo
Vários tipos de resíduos são gerados na fabricação de calçados, entre eles, os de Etileno Acetato de Vinila (EVA). Uma alternativa
para reduzir o impacto ambiental no tratamento de tais resíduos é utilizá-los como agregados leves na produção de blocos cimentícios
para vedações verticais de edificações. O presente artigo relata uma pesquisa que visa caracterizar o fluxo de calor através de vedações
executadas com os blocos EVA, baseada em análises comparativas entre amostras construídas com blocos EVA e outros tipos de
componentes convencionais (tijolos cerâmicos e blocos de concreto). A caracterização do fluxo de calor seguiu vários passos, dentre
os quais se destaca: determinar a diferença de temperatura (ΔT) entre as faces de cada amostra em ensaios na câmara térmica; e
calcular a resistência térmica (RT) e demais propriedades previstas na NBR 15220-2 (ABNT, 2005b). Os resultados experimentais
(ΔT) e calculados (RT) obtidos foram aplicados numa equação específica, utilizada para determinar o fluxo de calor através da
amostra. A análise demonstra que o menor fluxo de calor (1.467 W) entre as amostras com blocos cimentícios corresponde ao maior
percentual de EVA (80%) presente no compósito, cujo valor foi próximo ao verificado pela amostra executada com tijolos cerâmicos
(1.276 W). Os procedimentos adotados para determinar o fluxo de calor através das amostras evidenciaram as diferenças entre os
tipos de blocos cimentícios e cerâmicos, considerando suas diferentes geometrias (vazios internos e espessuras), materiais e teor de
resíduos de EVA.
Palavras-chave: Bloco EVA. Temperatura. Resistência térmica. Fluxo de calor.

Abstract
An abstract in English always is included when the article is in Portuguese or Spanish. If the article is in English than first the abstract
Footwear manufacturing generates different types of waste, and Ethylene Vinyl Acetate (EVA) is among them. Using such residues
as lightweight aggregates in cement blocks production for vertical sealing in buildings is an alternative to reduce their environmental
impact. This paper aims to characterize heat flow in envelopes of EVA blocks, through a comparative analysis between samples built
with EVA blocks and other conventional component types (ceramic bricks and concrete blocks). The heat flow characterization
followed several steps, amongst which the following stand out: determine the temperature difference (ΔT) between the surfaces of
each sample through tests conducted in a thermal chamber and calculate the thermal resistance (RT), as well as other properties
addressed in NBR15220-2 (ABNT, 2005b). The experimental (ΔT) and calculated (RT) results were applied to a specific equation,
which was used to determine the heat flow through the samples. The analysis demonstrated that the lowest heat flow (1,467 W) among
the cement block samples corresponded to blocks with the highest EVA percentage (80%) in the composite, whose value was close to
the one verified for samples built with ceramic bricks (1,276 W). The procedures adopted to set the heat flow through the samples
showed differences between the concrete and ceramic block types, when considering their different geometries (internal voids and
thicknesses), materials and EVA waste content..
Keywords: EVA block. Temperature. Thermal resistance. Heat flow.

How to cite this article:


GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de. Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA. PARC Pesquisa em
Arquitetura e Construção, Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018. ISSN 1980-6809. Disponível em:
<https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/parc/article/view/8651603>. Acesso em: 21 nov. 2018.
doi:https://doi.org/10.20396/parc.v9i4.8651603.

Received in 02.02.2018 - accepted in 23.08.2018


290 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

Introdução (GOULART; LAMBERT; FIRMINO, 1998). Entende-se


que a escolha dos elementos construtivos também faz parte
As alternativas para um destino adequado dos resíduos de das estratégias de projeto, e que tal escolha deve
calçados à base de Etileno Acetato de Vinila (EVA) têm considerar o comportamento climático do local.
sido alvo de pesquisas (GARLET, 1998; BEZERRA,
2002; POLARI FILHO, 2005; MELO; LIMA FILHO, Ao direcionar os dados para a região do litoral do Nordeste
2009). Já se sabe do seu grande potencial de utilização brasileiro, por exemplo, são destacadas aqui as diretrizes
como agregados leves, em substituição aos agregados construtivas para a Zona Bioclimática 8, previstas na NBR
naturais, na confecção de componentes (blocos EVA) para 15220-3 (ABNT, 2005a) para habitações unifamiliares de
alvenarias, sem função estrutural. interesse social, entre as quais se relaciona o tamanho
grande das aberturas (≥ 40% da área do piso), a
O bloco EVA proposto é um pré-moldado produzido com necessidade de seu sombreamento, o uso de ventilação
concreto leve, que aproveita um dos tipos de resíduos cruzada e o uso de paredes leves refletoras. É interessante
(aparas após o corte de solados dos calçados) gerados em destacar também os parâmetros específicos para os
grandes quantidades no setor calçadista. Este resíduo tem elementos verticais externos, como paredes leves
sido muito utilizado para alimentar fornos de indústrias refletoras, cujos valores admissíveis são: transmitância
cimenteiras, aproveitando apenas o seu potencial como térmica (U ≤ 3,6 W/m2.K); atraso térmico (φ ≤ 4,3 horas)
combustível. Tal prática tem sido comum na Paraíba, que e fator solar para superfícies opacas (FSo ≤ 4,0%). Assim,
se destaca na região Nordeste do Brasil pela grande para o litoral nordestino (Zona Bioclimática 8), que tem
produção de calçados e geração de resíduos. clima quente e úmido, a estratégia desejável é que a
Alternativamente, sua reciclagem, gerando agregados escolha dos componentes construtivos, para a execução
sintéticos leves, utilizados na confecção de componente das alvenarias externas, apresente comportamento térmico
pré-moldado cimentício com menor massa, tem que atenda aos parâmetros construtivos anunciados. Os
possibilidade de contribuir para o processo de execução valores admissíveis, segundo a NBR 15575-4 (ABNT,
dos edifícios. 2013b), para transmitância térmica (Zona Bioclimática 8)
Embora vislumbre um amplo espectro de utilização, o são diferentes, conforme o valor da absortância (α) à
tema aqui abordado está direcionado para a função do radiação solar da superfície externa da parede, ou seja,
envelope das edificações, especificamente o sistema de pode ser U ≤ 3,7 W/m2.K, caso α ≤ 0,6, e U ≤ 2,5 W/m2.K
vedação dos edifícios e o controle do fluxo de calor nos se α > 0,6. Com relação à capacidade térmica (ABNT,
ambientes internos. Isso porque se sabe que as edificações 2013b) não há exigência para a Zona Bioclimática 8. Tais
que não possuem o tipo de alvenaria externa adequada parâmetros para os elementos verticais externos são
podem apresentar problemas de conforto térmico, devido tomados como referência, visando confrontá-los com os
ao ganho excessivo de calor, proveniente do ambiente valores determinados para a parede executada com os
externo. Essa situação pode ser crítica para a fachada oeste blocos EVA propostos. Aqui há interesse em estabelecer
de edifícios verticalizados, construídos em localizações coerência entre os parâmetros definidos para a
com clima predominantemente quente e úmido, como é o região/localidade, onde há alta geração dos resíduos de
caso do litoral do Nordeste do Brasil, onde há pouca EVA, e o pré-moldado a ser caracterizado.
variação de temperatura durante o dia. Portanto, considerando a possibilidade de contribuir com
Lamberts, Dutra e Pereira (2014), ao tratarem sobre essa o conforto térmico nos ambientes internos a partir da
questão, lembram que se deve considerar que o litoral utilização de blocos EVA nas alvenarias externas das
nordestino tem chuvas abundantes no inverno e baixas edificações, assim como a necessidade de consolidar uma
amplitudes térmicas ao longo do ano, como é típico do proposta de destino alternativo para os resíduos de EVA,
clima tropical atlântico nas regiões de baixa latitude assume relevância o presente estudo, que busca
(próxima à linha do equador). Bittencourt e Cândido caracterizar o fluxo de calor através de blocos EVA.
(2008) ratificam que o grau de influência exercido pelos No presente artigo, a avaliação baseia-se no estudo do
parâmetros climáticos nos edifícios varia, entre outros comportamento térmico de amostras executadas com
aspectos, de acordo com cada região climática. blocos EVA com diferentes configurações geométricas,
Considerando que a tecnologia deve propiciar escolhas em comparação com outros elementos convencionais
adequadas dos elementos construtivos com o objetivo de (tijolos cerâmicos e blocos de concreto).
fornecer ao ambiente construído conforto higrotérmico
com baixo consumo de energia, é interessante a
observância do método que utiliza cartas bioclimáticas
para identificar as estratégias de projeto que resulte na
melhor adequação entre a edificação e o clima local.

291 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

Fundamentação teórica obtidos são compatíveis com os requisitos da NBR 15575-


4 (ABNT, 2013b).
Potencialidade do bloco EVA
A partir desses estudos, é importante determinar o
O EVA é um tipo de polímero micro poroso, que possui desempenho térmico proporcionado por tal material. Com
características físico-químicas diferenciadas dos demais base numa caracterização do comportamento térmico dos
materiais utilizados na construção civil. O resíduo blocos EVA, que seja favorável ao controle do fluxo de
composto por esse material tem grande potencial para a calor para os espaços internos, pode-se agregar valor ao
formação de novos produtos. Dentre algumas vantagens, componente, como opção para execução de vedações nos
Polari Filho (2005) aponta o fato de apresentar baixa edifícios. De acordo com Silva, Cahino e Melo (2012), a
densidade (100 kg/m3e 400 kg/m3), o que possibilita a geometria dos blocos EVA, bem como o teor de EVA
elaboração de componentes cimentícios mais leves, como incorporado, influencia no comportamento térmico dos
os blocos EVA (7 kg), com potencial de melhor componentes, sendo mais destacada a influência do teor de
comportamento térmico. EVA. Tal estudo avaliou apenas as diferenças de
Segundo Bezerra (2002), na fabricação dos calçados, os temperatura entre faces de amostras (paredes).
resíduos são gerados, principalmente, no momento dos Segundo Rocha et al. (2013), o bloco EVA, proposto como
cortes das placas expandidas de EVA, para obtenção dos pré-moldado cimentício com novas dimensões e geometria
formatos dos calçados. O grande volume de resíduos compatível com alvenaria intertravada, permitiu uma
gerados tem se constituído em um problema ambiental nas combinação interessante entre o desenho resultante, o alto
regiões que possuem polos industriais de calçados, pois a teor de EVA (80%) na dosagem, sem reduzir a resistência
deposição destes em aterros sanitários, ou mesmo em mecânica do componente. O resultado gerou expectativa
depósitos clandestinos a céu aberto, representa de melhoria no comportamento térmico, devido ao maior
preocupações, devido à sua baixa biodegradabilidade. teor de EVA presente no componente. Tal questão,
Ainda, segundo este mesmo autor, outro risco ao meio entretanto, não foi analisada pelos autores. Desse modo,
ambiente é a incineração desses resíduos com a percebe-se a importância da caracterização do fluxo de
consequente liberação de gases tóxicos. calor através das paredes com diferentes tipos de blocos
A alternativa encontrada é a reciclagem. O resíduo de EVA.
EVA, conforme visto em alguns trabalhos (GARLET, Desempenho térmico de elementos verticais nas
1998; BEZERRA, 2002; POLARI FILHO, 2005), pode ser edificações
utilizado como matéria-prima (agregado leve), para
produzir compósitos leves para aplicação na construção A vedação vertical é o subsistema que, além da função de
civil. O concreto leve com agregado de EVA, substituindo compartimentar a edificação, possui interface com vários
os agregados naturais, tem várias possibilidades de outros subsistemas do edifício, tais como: a estrutura, as
aplicação na construção civil; uma delas é a fabricação de instalações prediais e os elementos horizontais. Como
componentes para vedação vertical sem função estrutural plano vertical da construção, é também um dos principais
(GARLET, 1998; BEZERRA, 2002; POLARI FILHO, subsistemas que condicionam o desempenho do edifício,
2005). O estudo de Polari Filho (2005) confirma que existe inclusive do ponto de vista do desempenho térmico e
compatibilidade entre as propriedades físicas (absorção de acústico.
água < 10%; massa = 5,9 kg) e mecânicas (resistências à Segundo Frota e Schiffer (2001), ao incidir sobre as
compressão = 1,3 MPa), quando se utiliza na moldagem superfícies do edifício, o sol sempre resultará em certo
dos blocos EVA a proporção de 1:5 (cimento: agregados), ganho de calor. A questão é que esse ganho será
com 60% de EVA e 40% de areia (agregado natural). influenciado pela intensidade da radiação incidente e pelas
Os estudos de Melo e Lima Filho (2009) demonstram que características térmicas dos materiais presentes no
um pré-moldado produzido com concreto leve e com 60% envelope do edifício.
de agregados de EVA no compósito, testado em alvenaria Dentre os estudos que investigam as características
em um protótipo em escala real, é viável tecnicamente em térmicas dos materiais é interessante destacar alguns que
relação ao desempenho estrutural. O teste foi realizado avaliam soluções alternativas. Por exemplo, Al-Jabri et al.
considerando as solicitações frente às cargas verticais (2005) desenvolveram um estudo com blocos de concreto
(estabilidade, resistência à compressão, deslocamento e leve, no qual se faz a caracterização do desempenho de
fissuração) e horizontais (impactos de corpo mole e de isolamento térmico como elemento de vedação nas
corpo duro, cargas provenientes de peças suspensas, ações edificações. Dois tipos de blocos vazados (com grandes
transmitidas por portas), nos níveis em que, normalmente, vazios internos) foram avaliados, um deles produzido com
os sistemas de vedação vertical interno e externo dos vermiculita e outro com esferas de poliestireno, ambos
edifícios estão sujeitos. Cabe destacar que todos os valores como agregados leves em diferentes proporções nas

292 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

dosagens do concreto. No estudo comparativo das alcançada em 10 horas de cada ensaio, com as
propriedades térmicas desses elementos foram utilizados temperaturas nas superfícies das amostras registradas por
outros dois tipos de blocos com as mesmas dimensões: termopares a cada 10 minutos. Os resultados
bloco de concreto maciço produzido com poliestireno, demonstraram que a condutividade térmica do painel-
comercialmente reconhecido pela baixa condutividade parede com a configuração proposta (placas de argamassa
térmica (λ = 0,616 W/mºC) e bloco de concreto vazado aramada com uso de fibra de coco como isolante térmico
convencional (com mesmo tamanho dos vazios internos entre elas) foi a mais baixa (0,221 W/m.K), comparada
dos blocos de concreto leve). A equação de Fourier foi com as paredes com tijolos de argila vermelha (0,93
utilizada para calcular a resistência térmica e o fluxo de W/m.K), com blocos de concreto vazados (0,683 W/m.K)
calor através das amostras, a partir de ensaios realizados e com tijolos de concreto leve (0,536 W/m.K).
em aparato específico utilizado para determinar a
Como visto, a transferência de calor através dos diferentes
condutividade térmica dos blocos em análise. Os
componentes da vedação vertical testados constitui o
resultados indicaram que as esferas de poliestireno se
ponto de interesse, especificamente na condição de troca
destacaram como agregados leves com melhor isolamento
seca com variação de temperatura.
térmico. Além disso, os blocos vazados propostos com
esse material resultaram com menor massa e com O regime permanente ou a condição estacionária da
condutividade térmica (λ = 0,626 W/mºC) comparável ao transferência de calor representa a situação adequada para
bloco comercial (maciço) com o mesmo tipo de agregado a simulação de ensaios de amostras de vedações verticais,
leve. em câmara térmica ou em aparatos projetados
especificamente para essa finalidade. Também se observa
Turgut e Yesilata (2008) avaliaram, entre outras
a interessante combinação entre os dados coletados em
propriedades físicas e mecânicas, o desempenho de
ensaios e o uso de equações para alcançar o objetivo da
isolamento térmico de tijolos maciços produzidos com
avaliação.
mistura de cimento Portland e resíduo de borracha (raspa
de pneus) como agregado leve, substituindo de 20% a 60% A definição dos procedimentos metodológicos adotados
da areia nos compósitos. A estimativa da transmitância no presente estudo para determinar o fluxo de calor através
térmica das amostras foi obtida através de ensaios das amostras-paredes com bloco EVA se apoia na base
realizados num aparato específico, que consiste num típico teórica dos mecanismos de transferência de calor por
de câmara adiabática dinâmica. Os dados foram condução, convecção e radiação, bem como nas
processados, primeiramente em gráficos e depois propriedades físicas dos materiais necessárias para
utilizando equações, para estimar os percentuais de caracterizar o componente de vedação vertical de interesse
isolamento térmico das amostras. O estudo confirmou que na investigação.
comparado à amostra de controle (sem raspa de pneus) há Portanto, a partir das potencialidades constatadas para o
aumento no isolamento térmico das amostras entre 5% e bloco EVA proposto e da abordagem em relação à
11%, dependendo da quantidade da raspa de pneus usada influência dos materiais e características dos elementos
em substituição à areia, sendo maior quando se utiliza 60% verticais externos no desempenho térmico dos ambientes,
desses resíduos de borracha. na sequência, são apresentados os procedimentos
Alavez-Ramirez et al. (2012) avaliaram painéis-paredes metodológicos adotados neste estudo.
do tipo sanduíche executados com duas placas de
argamassa aramada paralelas com uso de fibra de coco Método
como isolante térmico entre elas. A condutividade térmica
medida foi comparada com dados obtidos com outros três No presente estudo buscou-se combinar resultados obtidos
tipos de elementos verticais, sendo um deles produzidos experimentalmente com parâmetros calculados, visando
com tijolos de argila vermelha, um segundo com blocos de caracterizar o fluxo de calor através das amostras
concreto vazados e outro com tijolos de concreto leve. A comparadas.
condutividade térmica das amostras foi obtida com ensaios O fluxograma apresentado na Figura 1 mostra as etapas
realizados num aparato, que tem como princípio a medição para determinação de duas variáveis principais: a
em estado estacionário da transferência de calor por diferença de temperatura entre as superfícies da amostra
condução. A partir dos valores obtidos para o fluxo de (ΔT), obtida experimentalmente, e a resistência térmica da
calor (q) e a diferença de temperatura (ΔT) através de cada amostra (RT), obtida através de cálculos previstos na NBR
amostra, considerando a sua espessura (15 cm para todas 15220-2 (ABNT, 2005b). Tais dados tornaram possível
as paredes) e a área da secção transversal (todas iguais a 1 calcular e caracterizar a densidade do fluxo de calor (“q”,
m2), se utilizou de uma equação, prevista na ASTM C 177 conforme a equação 2) e também o fluxo de calor (Q,
(ASTM, 1997), para calcular a condutividade térmica. A conforme equação 3), através de cada amostra,
condição estacionária da transferência de calor foi considerando os diferentes tipos de componentes.

293 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

No cálculo da densidade do fluxo de calor, parte-se da Tais avaliações basearam-se na simulação de paredes
equação 1 (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014) e se externas, que recebem apreciáveis cargas de radiação
substitui a variável transmitância térmica pela resistência solar. Nesse processo, foram analisadas,
térmica, resultando na equação 2: comparativamente, vedações verticais convencionais
(executadas com blocos de concreto e tijolos cerâmicos) e
𝒒 = 𝑼. ∆𝑻 (1)
alternativas (compostas por quatro tipos de blocos EVA),
Onde: conforme especificações que constam na Tabela 1. As
amostras foram definidas como paredes, com 1,0 m de
q= Densidade de fluxo de calor (W/m2);
largura x 1,2 m de altura. Os dados experimentais foram
𝑈= transmitância térmica (W/m2.K); obtidos a partir de ensaios em câmara térmica com a
simulação de amostras (paredes com pequenas dimensões)
∆T= Diferença de temperatura entre as superfícies (K).
para determinar a diferença de temperatura entre as suas
superfícies. Essa estratégia possibilitou a redução do custo
𝒒 = ∆𝑻/𝑹𝑻 (2) e de consumo de material nos procedimentos
experimentais.
Onde:
Todos os blocos EVA utilizados nas amostras foram
q= Densidade de fluxo de calor (W/m2); moldados em laboratório. As moldagens dos blocos
𝑅𝑇= resistência térmica ((m2.K)/W); EVA_9_60%, EVA_14_60%, EVA_12,5_60% e
EVA_12,5_80% (os dois últimos com dimensões
∆T= Diferença de temperatura entre as superfícies (K). propostas por Rocha et al., 2013) foram feitas com
Aqui, busca-se dar ênfase no cálculo da resistência térmica dosagem 1:5 (cimento Portland: agregados; em volume).
da parede (ABNT, 2005b), pelo fato de se utilizar dados A confecção dos blocos EVA_9_60%, EVA_14_60% e
dimensionais (espessura) e térmicos (condutividade EVA_12,5_60% foi feita com a proporção de 60% de teor
térmica e calor específico) de cada amostra. Embora o de EVA e 40% de areia; enquanto que os blocos
interesse tenha sido determinar o valor da resistência EVA_12,5_80%, a proporção foi de 80% de EVA e 20%
térmica de cada amostra para aplicar na equação 2 e, desse de areia (Tabela 1). A massa unitária do EVA, utilizada
modo, calcular a densidade de fluxo de calor nas moldagens de todos os blocos, foi igual a 150 kg/m3.
correspondente, também foi realizada uma análise do O diâmetro máximo característico do agregado de EVA foi
comportamento térmico das amostras a partir dos valores sempre igual a 9,5 mm, o que significa menor tempo no
dos demais parâmetros calculados, tais como processo de trituração dos resíduos em moinho de facas.
transmitância térmica, capacidade térmica, atraso térmico Portanto, trata-se de um concreto leve, aqui identificado
e fator solar, conforme previsto na NBR 15220-2 (ABNT, como concreto EVA.
2005b). A proporção de água e cimento (a/c), em todos os blocos
Para Granja e Labaki (2004), a decisão sobre o tipo de com 60% de EVA (EVA_9_60%, EVA_14_60%,
vedação a especificar numa dada edificação deve EVA_12,5_60%) foi igual a 0,50. Na moldagem dos
considerar, além das propriedades térmicas do material blocos EVA_12,5_80%, a/c foi igual a 0,48. O cimento
(ex.: transmitância térmica), os parâmetros climáticos Portland, usado para todas as moldagens, foi o CP II E 32.
externos, os horários de uso dos ambientes e o grau de Foram moldadas 55 unidades de bloco EVA por tipo,
desconforto que poderá ser gerado ao longo do dia. Tal sendo estas quantidades suficientes para a construção de
abordagem não será aqui objeto das análises, o que cada amostra (parede) e para a realização de ensaios de
constitui uma limitação do presente estudo. caracterização das duas principais propriedades dos
componentes, quais sejam: resistência à compressão e
Finalmente, através da equação 3, determinou-se o fluxo absorção de água; ambos os ensaios para duas idades de
de calor de cada amostra, levando-se em conta a sua área controle, 07 e 28 dias. Em relação aos blocos de concreto
(A = 1,2 m2), que foi considerada na determinação (Conc_9) e aos tijolos cerâmicos (TC_9), tais ensaios só
experimental do ΔT. foram realizados para idade superior a 28 dias, pois estes
𝑸 = 𝒒. 𝑨 (3) foram adquiridos no mercado local. Os dois referidos
ensaios foram realizados segundo a NBR 12118 (ABNT,
Onde: 2013a). Os blocos com 60% de EVA resultaram em
Q = fluxo de calor (W); resistência à compressão média (28 dias) superiores a 1,2
MPa (valor que atende ao proposto por Melo e Lima Filho,
q = densidade de fluxo de calor (W/m2); 2009) e absorção de água entre 11% e 12%.
A = área da amostra/parede (m2).

294 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

Figura 1 - Fluxograma do método de estudo

Fonte: Os autores

Os blocos com 80% de EVA tiveram pequena perda na ambientes. Um deles simula as condições externas e
resistência à compressão (0,9 MPa) e aumento na absorção apresenta, portanto, maior temperatura em relação ao
de água (20%). outro ambiente durante os testes (Figura 2). Dessa forma,
foi possível simular e analisar o comportamento térmico
Na execução das amostras, os blocos foram assentados
de vários tipos de vedações verticais externas, variando os
com argamassa no traço 1:2:10 (cimento: cal: areia), e,
materiais constituintes.
após três dias de espera, as superfícies receberam o
chapisco, utilizando o traço 1:3 (cimento: areia). As O aumento da temperatura no lado aquecido da câmara
amostras receberam o reboco (espessura de 1 cm em cada térmica é viabilizado por uma caixa metálica com 12
face), após 21 dias de espera para a cura do chapisco, que lâmpadas incandescentes de 150 W. A redução da
foi executado em massa única, no traço 1:2:10 (cimento: temperatura no lado refrigerado é viabilizada por ar
cal: areia), sendo todas posteriormente pintadas com cal, condicionado de 12.000 BTUs. A divisória de isolamento
na cor branca. A espessura total de cada amostra (parede) entre os espaços é em gesso acartonado (dry-wall), com
pode ser vista na Tabela 1. manta de lã de vidro no seu interior. Nesta divisória, há um
espaço onde é inserida a amostra a ser avaliada. O forro
Determinação da diferença de temperatura entre as interno da câmara também é executado com gesso
faces das amostras (ΔT) acartonado.
Os ensaios foram realizados no interior de uma câmara
térmica existente no laboratório, dividida em dois

295 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

Tabela 1 - Componentes utilizados na preparação das amostras

Blocos/tijolos Paredes
Espessura
Teor Teor Volume total
Dimensões total das
Imagem dos Nomenclatura de de Massa das câmaras
Descrição a/c LxAxC amostras-
Blocos/tijolos das amostras areia EVA de ar internas
paredes
dos blocos
rebocadas
kg/k
% % cm kg m3 cm
g
Tijolo cerâmico com oito
TC_9 - - 09 x 19 x 19 2,1 0,056 11
furos
Bloco EVA com 9 cm de
espessura e 60% de teor EVA_9_60% 40 60 0,50 09 x 19 x 39 7,3 0,038 11
de EVA
Bloco EVA com 14 cm de
espessura e 60% do teor EVA_14_60% 40 60 0,50 14 x 19 x 39 9,0 0,077 16
de EVA
Bloco EVA com 12,5 cm e 12,5 x 25 x
EVA_12,5_60% 40 60 0,50 8,0 0,015 14,5
60% de teor de EVA* 25

Bloco EVA com 12,5 cm e 12,5 x 25 x


EVA_12,5_80% 20 80 0,48 7,0 0,015 14,5
80% de teor de EVA* 25

Bloco de Concreto CONC_9 - - 09 x 19 x 39 10,5 0,035 11

* bloco EVA com dimensões propostas por Rocha et al. (2013). Fonte: Os autores

A câmara térmica está protegida da incidência direta do sol Todas as faces internas das paredes da câmara térmica, no
durante a maior parte do dia, uma vez que está inserida em lado aquecido, foram revestidas com placas de isopor com
uma área externa do laboratório, que é sombreada por 2 cm de espessura, para evitar a perda de calor para o
muitas árvores e construções no entorno (Figura 3). ambiente externo da câmara no período noturno, uma vez
Figura 2 - Desenho esquemático e imagem da câmara térmica utilizada durante os que a temperatura externa no local é sempre mais baixa do
ensaios com as amostras-paredes: (a esquerda) planta baixa da câmara térmica e que aquela do ambiente aquecido no interior da câmara.
(a direita) Vista da amostra-parede com termopares na face oposta ao calo Tais placas de isopor foram coladas também sobre a face
interna da porta de madeira maciça que dá acesso à câmara
e sobre a porta interna de madeira prensada, localizada
entre os dois ambientes da câmara.
Após as amostras serem posicionadas no interior da
câmara térmica, três sensores de temperatura (termopares)
foram colocados nas suas superfícies em cada lado e em
posições correspondentes. Para isso, adotou-se como
referência posicionar os três termopares alinhados
verticalmente em relação ao eixo central de cada face
(Figura 2 – a direita).
Fonte: Os autores.
Os termopares utilizados são do tipo T (compostos por fio
Figura 3 - Localização da câmara térmica (paredes brancas nas imagens) na área cobre (+) e constatam (-), com bainha e isolante de
externa do laboratório plástico). Em cada ambiente interno da câmara, foi usado
um termômetro de globo negro, posicionado no centro
geométrico do ambiente, ficando a 1,5 m de distância do
piso. O tipo de globo negro utilizado é artesanal
constituído por um termopar no interior de uma bola de
pingue-pongue pintado na cor preta, o qual se mostra
confiável em relação ao globo negro padrão (MORAES et
al., 2011).
Fonte: Os autores.
Todos os termopares (inclusive aqueles dos globos negros)
foram ligados ao sistema de aquisição de dados (MX840A

296 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

da HBM), o qual foi programado de maneira a registrar os em parafina fundida por várias vezes, com o intuito de
valores das temperaturas a cada segundo. Os termopares impermeabilizar todas as faces das amostras. Em seguida,
posicionados nas superfícies das amostras foram cobertos as amostras foram pesadas sucessivamente e, a cada
por pequenas placas de isopor, de modo a garantir o pesagem, era determinado o quanto de parafina havia sido
registro das variações de temperatura apenas pelo contato adicionada a cada uma delas. Como etapa final, adotou-se
direto do termopar com a superfície da amostra. O espaço o mesmo procedimento realizado por Bezerra (2003),
entre a amostra e a divisória em gesso acartonado foi quando os corpos de prova foram mergulhados num
preenchido com placas de isopor e massa PVA nas juntas béquer com água, sendo os mesmos acoplados em um
entre os diferentes materiais. sistema de balança, que fornecia a massa das amostras sob
o efeito do empuxo da água contida no béquer (Figura 4).
Os valores registrados pelo sistema de aquisição de dados
foram sistematizados de modo a obter a média aritmética Figura 4 - Determinação da densidade aparente dos compósitos utilizados nos
por hora. Os resultados são apresentados por meio de blocos EVA: (a esquerda superior) sem parafina; (a esquerda inferior) com
gráficos, mostrando a variação das temperaturas em parafina; (a direita) sistema de pesagem

função da duração do ensaio, que foi de 24 horas. Nesse


caso, foram consideradas, inicialmente, as temperaturas
medidas nos três termopares e feitas as médias finais por
hora para cada face das amostras-paredes. Com essas
médias, foram verificadas as variações de temperatura
entre as faces exposta e oposta ao calor de cada amostra
(externa e interna, respectivamente).
A temperatura média para cada face das amostras
ensaiadas foi calculada sem considerar os dados
registrados nas 14 horas iniciais. Isso foi adotado porque,
em geral, este foi o período em que havia variação nas
temperaturas dos termopares, não representando, ainda,
um regime permanente de transferência de calor.
Determinação da resistência térmica (RT) e demais
propriedades Fonte: Os autores.
Para calcular as propriedades térmicas (resistência
térmica, transmitância térmica, capacidade térmica, atraso Os valores da densidade de massa aparente para as
térmico e fator solar) previstas na NBR 15220-2 (ABNT, amostras com 60% e com 80% de EVA resultaram da
2005b), dentre elas a resistência térmica (RT) que é a de média de três corpos de prova ensaiados por amostra. O
maior interesse para os cálculos da densidade do fluxo de resultado para o compósito com 60% de EVA foi igual a
calor (equação 2), houve necessidade de determinar 1.373 kg/m3 e, para aquele com 80% de EVA, obteve-se
previamente outras três propriedades dos materiais um valor de 1.136 kg/m3, ou seja, a menor densidade de
envolvidos, considerados aqui como dados secundários. massa aparente ocorreu para a amostra com maior teor de
No caso do bloco EVA, a condutividade térmica (ABNT, EVA (agregado leve). Com relação aos materiais presentes
2005c) e a densidade aparente (BÓ; NEVES; AMARAL, nos outros dois componentes utilizados nas amostras-
2002) do compósito utilizado em sua moldagem foram paredes comparadas, cerâmica vermelha (tijolo cerâmico)
determinadas experimentalmente em laboratório. e concreto convencional (bloco de concreto), os valores
adotados nos referidos cálculos (1.600 kg/m3 e 2.400
Densidade aparente kg/m3, respectivamente) foram os indicados na Tabela B.3
A densidade de massa aparente dos compósitos presentes da NBR 15220-2 (ABNT, 2005b). Também foram
nos blocos EVA foi determinada aplicando o método adotados os valores de referência, indicados na mesma
desenvolvido por Bó, Neves e Amaral (2002), que utiliza tabela da norma, para as argamassas de assentamento e de
água e parafina, ao invés de mercúrio. Este método pode revestimento utilizadas na execução das amostras-paredes.
ser utilizado na obtenção da densidade de concretos leves, Condutividade térmica
conforme adotado por Bezerra (2003), sendo adequado
também para as duas dosagens de concreto leve nos blocos A condutividade térmica foi determinada para os dois
EVA. O procedimento consistiu na preparação de corpos compósitos presentes nos blocos EVA (com 60% de EVA
de prova em forma de cubos com arestas e com 80% de EVA) através de ensaio utilizando o
aproximadamente iguais a 5 cm. Todos os corpos de prova Condutivímetro K30 (Figura 5). Mais uma vez, em relação
foram devidamente pesados e, em seguida, mergulhados aos materiais presentes nos outros dois componentes

297 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

(tijolo cerâmico e bloco de concreto) utilizados nas indisponibilidade de equipamento apropriado. Este fato
amostras-paredes comparadas, foram adotados nos constitui uma limitação do estudo. Para a amostra com
referidos cálculos os valores de condutividade térmica tijolos cerâmicos, o calor específico também foi obtido da
indicados na Tabela B.3 da NBR 15220-2 (ABNT, 2005b), Tabela B3 da norma (ABNT, 2005b), sendo o valor de
que são de 0,90 W/m.K e 1,75 W/m.K, respectivamente. 0,92 kJ/(kg.K).
As amostras utilizadas nos ensaios foram placas planas, Cálculo do fluxo de calor (Q)
com dimensões iguais a 300 mm x 300 mm x 30 mm
No ensaio realizado em câmara térmica com cada amostra-
(largura x comprimento x espessura, respectivamente),
parede foi possível, após as 14 horas iniciais, identificar o
moldadas com os compósitos correspondentes às mesmas
sistema com a condição de regime permanente de
dosagens utilizadas na fabricação dos blocos EVA (60%
transferência de calor. Nessa fase, as temperaturas
de EVA; e 80% de EVA).
superficiais das amostras-paredes no lado aquecido e no
Tais placas, após 28 dias de cura, foram levadas ao lado resfriado foram praticamente constantes,
Condutivímetro K30, para medição do fluxo de calor e da possibilitando o cálculo das temperaturas médias
diferença de temperatura entre as suas faces, que são superficiais para cada face da amostra. A partir desses
submetidas a um determinado gradiente térmico. Este valores, determinou-se o ΔT (diferença de temperatura
equipamento atende ao que está prescrito na NBR 15220- entre as faces) para cada amostra-parede testada.
5 (ABNT, 2005c), que expressa o resultado de resistência
Com as respectivas resistências térmicas totais (RT)
térmica e de condutividade térmica do material em teste,
calculadas, foi possível calcular a densidade do fluxo de
pelo método fluximétrico. Após cada ensaio realizado,
calor “q” (W/m2), através da equação 2.
foram encontrados os valores de 0,66 W/m.K para a
amostra com 60% de EVA e 0,58 W/m.K para a amostra Deve-se lembrar que, no cálculo da resistência térmica
com 80% de EVA. (RT), conforme a NBR 15220-2 (ABNT, 2005b), é
considerada a resistência do ar presente nas câmaras
Figura 5 - Determinação da condutividade térmica dos compósitos utilizados nos internas não ventiladas dos blocos/tijolos. Dessa forma, a
blocos EVA: (a esquerda superior) placa com 60% EVA; (a esquerda inferior) placa
com 80% EVA; (a direita) placa no interior do equipamento densidade do fluxo de calor, calculada através da equação
2, além de considerar a diferença entre as temperaturas da
face quente e da face fria da amostra, também levou em
conta a resistência térmica do ar, que ocupa volumes
diferentes, conforme os tipos de blocos/tijolos presentes
nas amostras-paredes.
Finalmente, o produto da densidade do fluxo de calor “q”
(W/m2) pela área da amostra-parede (1,2 m2), ensaiada na
câmara térmica, possibilitou determinar o fluxo de calor
“Q” (W) representativo para cada amostra.
Adicionalmente, foi feita uma análise comparativa
correlacionando o somatório dos volumes das câmaras de
ar internas aos blocos utilizados em cada amostra-parede
e os correspondentes fluxos de calor pelas mesmas.
Fonte: Os autores.
Resultados e discussões
Calor específico
Diferença de temperatura (ΔT) entre as faces das
Os valores do calor específico do concreto leve com 80% amostras
e 60% de EVA foram obtidos a partir das indicações
constantes na Tabela B.3, anexada na NBR 15220-2 Na comparação entre as amostras-paredes executadas com
(ABNT, 2005b), sendo de 1,00 kJ/(kg.K). Isso se justifica, diferentes componentes, considera-se importante agrupar
uma vez que todos os materiais que têm a presença de por variáveis que interferem na análise do elemento
cimento Portland em sua composição têm o mesmo valor vertical como barreira à passagem de calor entre
de 1,00 kJ/(kg.K) para o seu calor específico. Isso acontece ambientes: espessuras e materiais e teores de EVA.
tanto para os concretos convencionais, quanto para os Amostras com mesma espessura
concretos leves cavernosos, com pozolona ou escória
expandida. Acrescente-se a isso, a dificuldade para As amostras identificadas como CONC_9, EVA_9_60% e
determinar experimentalmente o calor específico das TC_9 são compostas por diferentes materiais presentes
amostras de concreto com EVA, devido à nos blocos/tijolo, mas todas possuem a mesma espessura

298 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

total (11 cm – vide Tabela 1), considerando a espessura aquecido, considerando os resultados dos ensaios
dos componentes (9 cm) e a espessura do revestimento em realizados com as 3 (três) amostras.
ambas as faces (1 cm de cada lado). A Figura 6 apresenta
a variação das temperaturas superficiais das três amostras
Amostras com diferentes teores de EVA
durante o ensaio realizado em câmara térmica. Nesta análise foram avaliados os desempenhos das
amostras EVA_12,5_80% e EVA_12,5_60%, constituídas
Figura 6 - Variação das temperaturas superficiais durante o ensaio com amostras- por blocos EVA com mesma espessura (12,5 cm), mas
paredes (blocos EVA_9_60%, TC_9 e CONC_9)
48,0
com 80% e 60% de resíduos/agregados EVA em sua
46,0
EVA_60%_9 face composição, respectivamente. Ambas as amostras
44,0 exposta ao calor
42,0 CONC_9 face possuem espessura total igual a 14,5 cm, considerando que
Temperatura (ºC)

40,0 exposta ao calor elas são revestidas em ambos os lados com reboco
38,0 TC_9 face exposta
36,0 (argamassa cimentícia), com 1 cm de espessura e também
ao calor
34,0
EVA_60%_9 face
são pintadas na cor branca. Os resultados de diferença de
32,0
30,0 oposta ao calor temperatura entre as faces das amostras são apresentados
28,0 CONC_9 face na Figura 7.
26,0 oposta ao calor
24,0
TC_9 face oposta
22,0
ao calor Figura 7 - Variação das temperaturas superficiais durante o ensaio com amostras-
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 paredes (blocos EVA_12,5_80% e EVA_12,5_60%)
duração do ensaio (horas) 48,0
EVA_60%_12,5
46,0
face exposta ao
Fonte: Os autores. 44,0
calor
42,0
40,0 EVA_80%_12,5
Temperatura (ºC)

38,0 face exposta ao


Considerando-se a face exposta ao calor durante as 6 (seis) 36,0 calor
primeiras horas de ensaio, as amostras EVA_9_60% e 34,0
EVA_60%_12,5
32,0
TC_9 apresentaram curvas semelhantes com menor 30,0
face oposta ao
calor
incremento nas suas temperaturas superficiais, se 28,0
26,0 EVA_80%_12,5
comparadas com a amostra CONC_9, o que indica mais 24,0 face oposta ao
22,0 calor
rápida elevação da temperatura na fase inicial do ensaio 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
(regime transitório) para a amostra-parede com blocos de duração do ensaio (horas)
concreto. Fonte: Os autores

Após às 14 horas iniciais de ensaio, percebe-se que a


Nota-se que a amostra de EVA_12,5_80% resultou em
transferência de calor passa ao regime permanente, ou pelo
maior barreira ao calor, ou seja, melhor comportamento do
menos se aproxima disso, considerando a baixa variação
ponto de vista da resistência térmica. De fato, ao se
entre as temperaturas de cada face das amostras (exposta e
considerar as temperaturas superficiais médias das últimas
oposta ao calor).
10 horas de ensaio no cálculo de diferença de temperatura
A partir dos registros para as 10 últimas horas de ensaio, (ΔT), observa-se que as duas amostras têm resultados
as temperaturas médias superficiais foram calculadas para muito diferentes: EVA_12,5_80% (15,7ºC) e
cada face das amostras (exposta e oposta ao calor). Aqui, EVA_12,5_60% (11,4ºC), resultando em uma diferença
constata-se comportamento diferente para cada tipo de de 4,3°C entre as duas amostras. Com base nessa análise,
material: as amostras EVA_9_60%, TC_9 e CONC_9 fica caracterizado o melhor comportamento térmico, do
atingiram diferenças nas temperaturas entre as faces (ΔT) ponto de vista da retenção do calor, da amostra
iguais a 13,5°C, 11,8°C e 13,3°C, respectivamente. EVA_12,5_80%. Tendo em conta que as duas amostras
têm a mesma espessura total, pode-se afirmar que o maior
Verifica-se que as amostras que têm em comum o fato de
teor de EVA (80%) presente no bloco EVA_12,5_80% é
serem pré-moldadas com material cimentício resultaram
determinante para o seu comportamento térmico,
em valores maiores e muito próximos. Isto pode indicar
considerando que essa é a única variável entre as amostras
que a presença do cimento Portland é mais determinante
em análise.
no comportamento térmico da amostra do que o agregado
de EVA. Amostra com blocos EVA de maior espessura
A temperatura média registrada em cada ambiente dentro A Figura 8 apresenta a variação das temperaturas durante
da câmara térmica nas 10 horas finais do experimento o ensaio em câmara térmica com a amostra EVA_14_60%,
(medições registradas pelo termômetro de globo negro), se de maior espessura dentre todos os blocos estudados (14
manteve em cerca de 18,6ºC no lado resfriado (desvio cm) e teor de EVA de 60%. A espessura total para essa
padrão = 0,34) e 58,1ºC (desvio padrão = 0,74) no lado amostra também é a maior (16 cm), dentre todas as
estudadas.

299 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

Figura 8 - Variações das temperaturas superficiais na amostra-parede, com a Tabela 2 - Diferença de temperatura (ΔT) entre as faces para cada amostra
amostra EVA_14_60% Amostras
48,0

EVA_12,5_60%

EVA_12,5_80%

EVA_14_60%
46,0

EVA_9_60%

CONC_9
44,0
EVA_60%_14

TC_9
42,0
40,0 face exposta
Temperatura (ºC)

38,0 ao calor
36,0
34,0
32,0
ΔT entre as K 286,7 285,0 286,5 284,6 288,9 289,0
30,0
28,0 EVA_60%_14 faces das
26,0 face oposta ao paredes ◦C 13,5 11,8 13,3 11,4 15,7 15,8
24,0 calor
22,0 Fonte: Os autores
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
duração do ensaio (horas) Resistência térmica e demais propriedades
Fonte: Os autores
Na Tabela 3 são apresentados os dados secundários
O comportamento da amostra EVA_14_60% é (condutividade térmica “λ”; densidade de massa aparente
praticamente o mesmo observado nos casos anteriores, “ρ” e calor específico “c”) utilizados nos cálculos da
demonstrando que há um padrão. Ou seja, após as quatorze resistência térmica (RT) e demais propriedades.
primeiras horas, as temperaturas nas faces exposta e Tabela 3 - Dados secundários para os cálculos da resistência térmica (RT) e
oposta ao calor tendem a se estabilizar, nesse caso, em demais propriedades de cada amostra
patamares bem definidos. λ ρ c
Amostras
As temperaturas médias superficiais nas 10 horas finais do W/(m.K) kg/m3 kJ/(kg.K)
ensaio resultaram em 45,6°C, na face exposta ao calor e EVA_9_60% 0,66 1.373 1,00
29,8°C na face oposta ao calor, o que significou uma TC_9 0,90 1.600 0,92
variação dessa temperatura entre as duas faces (ΔT) de CONC_9 1,75 2.400 1,00
15,8°C, praticamente o mesmo valor obtido com a amostra EVA_12,5_60% 0,66 1.373 1,00
EVA_12,5_80%. Deve lembrar-se que o bloco EVA_12,5_80% 0,58 1.136 1,00
EVA_14_60%, além de ter maior espessura, tem em sua
EVA_14_60% 0,66 1.373 1,00
geometria maiores câmaras de ar (vazios internos aos Fonte: Os autores
blocos), na comparação como bloco EVA_12,5_80%.
Então, o maior teor de EVA (acréscimo de 20%) na As amostras EVA_12,5_80% e EVA_12,5_60%, que têm
amostra EVA_12,5_80%, certamente compensou a sua diferentes teores de EVA e mesmas espessuras,
menor espessura (12,5 cm), inclusive os seus menores apresentam diferenças importantes nos dados secundários.
volumes de ar parado nas câmaras internas ao componente Por exemplo, a diferença de 20% no teor de EVA na
(EVA_12,5_80% tem câmara de ar 8,5 vezes menor do dosagem das amostras produziu uma diferença de 237
que EVA_14_60%). kg/m3 nas densidades de massa aparente (ρ) dos dois
concretos com EVA. Os valores da condutividade térmica
Com relação à variação da temperatura do ar nos dois determinados também apresentam diferença, que é de 0,08
ambientes isolados no interior da câmara, medida pelos W/(m.K) entre as duas amostras.
termômetros de globo negro, o comportamento é muito
semelhante ao ocorrido durante os ensaios com todas as Na Tabela 4 apresentam-se os resultados dos cálculos para
amostras. Aqui a temperatura média registrada em cada a resistência térmica (RT), a transmitância térmica (U), a
ambiente dentro da câmara térmica nas 10 horas finais do capacidade térmica (CT), o atraso térmico (φ) e o fator
experimento, se manteve em cerca de 17,1ºC no lado solar (FSo) de cada amostra.
resfriado e 58,2ºC no lado aquecido. De acordo com os resultados, percebe-se que a amostra
A Tabela 2 apresenta todas as diferenças de temperatura CONC_9 apresenta uma combinação que caracteriza o
entre as faces (ΔT), determinadas experimentalmente para desempenho térmico típico do material (concreto), na
cada amostra testada, cujos valores foram utilizados para medida em que expressa a menor resistência térmica (RT),
calcular o fluxo de calor correspondente. a maior capacidade térmica (CT) e a maior transmitância
térmica (U). Os cálculos mostram também resultados
opostos para a amostra TC_9, com alta resistência térmica
(RT), baixa capacidade térmica (CT) e baixa transmitância
térmica (U). A amostra EVA_9_60% apresenta valores
intermediários entre as duas amostras anteriores,
confirmando que o concreto leve tende a melhorar o
desempenho térmico da parede com os blocos EVA,
reduzindo a transferência de calor entre suas faces, bem

300 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

como reduzindo a capacidade de armazenar calor nos EVA_12,5_80% se destaca dentre aquelas com materiais
componentes. Tais resultados estão coerentes com a cimentícios, por ser mais isolante termicamente, reduzindo
análise anterior, baseada nos ensaios das amostras em a transferência de calor entre as faces, bem como
câmara térmica, na medida em que apontam para um reduzindo a capacidade de armazenar calor nos
comportamento semelhante entre TC_9 e EVA_9_60%, componentes. Este é um aspecto importante na
pelo menos nas seis primeiras horas, durante o regime de caracterização do desempenho térmico desse componente,
transferência de calor transitório. sobretudo ao levar em conta a afirmação de Givoni (1992)
de que a capacidade térmica do envelope das edificações
Em relação ao atraso térmico, a despeito das pequenas
deve ser baixa quando a ideia é prevenir a acumulação do
diferenças entre todas as amostras com as mesmas
calor durante o dia e evitar a elevação da temperatura
espessuras (11 cm), seu valor é muito menor nas amostras
interna no período da noite, a partir da liberação desse
TC_9 e EVA_9_60% (apenas 0,1 hora de diferença entre
calor armazenado. Além disso, enfatiza-se que é
elas), o que também aproxima o comportamento térmico
importante utilizar materiais com maior resistência
dos dois materiais. Neste caso, o maior atraso térmico
térmica para minimizar o fluxo de calor proveniente do
ocorreu na amostra com bloco de concreto, que é o
exterior.
componente com a maior massa (10,5 kg).
A presente análise também está coerente com os resultados
Tabela 4 - Propriedades térmicas calculadas para cada amostra em análise dos ensaios realizados em câmara térmica, uma vez que a
RT CT U Φ FS
Amostra o
amostra com blocos EVA_12,5_80%, em ambos os casos,
(m2.K)/W KJ/ m2. W/m2.K Horas %
K se destaca, por transmitir menos calor entre suas faces,
EVA_9_60% 0,1903 119,4 2,8 2,9 3,3 comparado à amostra com os blocos EVA12,5_60%.
TC_9 0,2680 88,7 2,3 2,8 2,7
CONC_9 0,1369 197,1 3,3 3,2 3,9
Em relação ao atraso térmico, percebe-se que é maior na
amostra com blocos EVA_12,5_60%, que tem maior
EVA_12,5_60% 0,2174 176,6 2,6 4,1 3,1
massa (8,0 kg). Aqui, merece destacar que os valores de
EVA_12,5_80% 0,2363 154,1 2,5 3,7 3,0 atraso térmico para os dois blocos com 12,5 cm de
EVA_14_60% 0,2257 145,2 2,5 3,5 3,0 espessura (EVA_12,5_60% = 4,1 horas; EVA_12,5_80%
Recomendaçõe = 3,7 horas) são maiores quando comparados ao valor
s da NBR ≤
≤ 3,6 ≤ 4,3 obtido com o bloco com 9 cm de espessura (EVA_9_60%
15220-3 4,0
(ABNT, 2005a) = 2,9 horas). Nesse caso, é importante lembrar também
Fonte: Os autores que há diferença na geometria entre os blocos comparados
(EVA_12,5 x EVA_9), que significam variáveis
Pelas características analisadas nas amostras TC_9, importantes na análise: diferentes massas (entre 7,0 kg e
CONC_9 e EVA_9_60%, percebe-se que todas são 8,0 kg), diferentes espessuras e diferentes volumes de
classificadas como paredes leves refletoras, que são câmaras de ar internas (quase quatro vezes maior para os
indicadas para o clima quente e úmido (ABNT, 2005a), blocos EVA_9). Tais aspectos justificam os valores
considerando o requisito de que, durante a exposição diferentes para atraso térmico.
diária ao sol, o calor absorvido pela parede externa não
Outro aspecto interessante nesse estudo é que a amostra
deve ser armazenado por um longo período. Contudo,
com blocos EVA_12,5_60% resultou em valor mais alto
confirma-se o desempenho térmico inferior para a amostra
para capacidade térmica (176,6 KJ/m2.K), porém essa
CONC_9, que tem maior capacidade térmica e tende a
característica combinada com o valor baixo para
armazenar mais calor durante a exposição ao sol na sua
transmitância térmica (2,6 W/m2.K) permite o seu
superfície externa. Embora a amostra CONC_9 tenha sido
enquadramento também como parede leve refletora,
também classificada como parede leve refletora, os
segundo os requisitos das NBR 15220-3 (ABNT, 2005a) e
resultados dos parâmetros (RT, CT, U, φ, FSo) indicam
NBR 15575-4 (ABNT, 2013b).
que os seus valores se aproximam do limite, conforme os
enquadramentos prescritos na NBR 15575-4 (ABNT, Na análise das propriedades térmicas para o bloco
2013b) e na NBR 15220-3 (ABNT, 2005a). EVA_14_60%, destaca-se o valor da resistência térmica
(RT), que é intermediário entre aqueles obtidos com as
Os resultados comparando os blocos cimentícios com
duas amostras comparadas anteriormente,
mesma espessura, igual a 12,5 cm (Tabela 4), mostram que
EVA_12,5_60% e EVA_12,5_80%. Em relação à
aquele com o maior percentual de resíduo EVA
capacidade térmica e ao atraso térmico, os valores se
(EVA_12,5_80%) tem uma combinação interessante que
mantêm mais baixos, nessa mesma comparação, mas a
agrega maior resistência térmica (RT) e menores valores
transmitância térmica é praticamente a mesma. Da mesma
para capacidade (CT) e transmitância térmicas (U). A
forma, levando-se em conta os requisitos estabelecidos
partir dessa análise, a vedação vertical com blocos
pelas normas NBR 15220-3 (ABNT, 2005a) e NBR

301 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

15575-4 (ABNT, 2013b), percebe-se que a amostra com obtido com a amostra com bloco EVA_14_60%, que tem
EVA_14_60% também se enquadra como parede leve maior espessura (14 cm) e maiores câmaras de ar internas,
refletora. o que influencia na obtenção de um valor mais baixo para
o seu fluxo de calor.
Fluxo de calor pelas amostras
A amostra TC_9 destacou-se, como esperado,
A resistência térmica (RT) das amostras, determinada
apresentando o menor fluxo de calor dentre todas as
através dos cálculos realizados, foi utilizada para calcular
analisadas, sendo a alta resistência térmica do material
a densidade do fluxo de calor (q), através da equação 2, e
cerâmico o fator determinante para o mais baixo fluxo de
o fluxo de calor (Q), através da equação 3, considerando a
calor obtido nessa amostra.
unidade de área (1,2 m2) perpendicular à direção das
transferências de calor em cada amostra estudada. Os Quando o objetivo é diminuir o fluxo de calor na direção
resultados são apresentados na Tabela 5, na qual são exterior/interior da edificação, a parcela de contribuição
também incluídos os dados de resistência térmica através dos elementos de vedação externos pode ser
(fornecida pelos cálculos) e a diferença de temperatura alcançada, a partir da escolha adequada dos materiais a
(fornecido pelos ensaios na câmara térmica). serem utilizados. Nesse caso, é interessante que o sistema
de vedação tenha alta resistência térmica, baixas
Tabela 5 - Fluxo de calor (Q) calculado para cada amostra condutividade, capacidade e transmitância térmicas, bem
Resistência Densida Fluxo de como baixo fluxo de calor, sem precisar aumentar a
térmica Diferença de de fluxo calor
(RT) de calor para a espessura da parede externa.
temperatura
entre as (q) amostra-
Na Figura 9, apresentam-se os resultados de fluxo de calor
Amostra faces (ΔT) parede
com 1,2 em função do volume das câmaras de ar internas das
m2 (Q) amostras avaliadas.
(m2.K)/W K ◦C W/m2 W Figura 9 - Relação entre os volumes de ar nas câmaras internas das amostras e o
fluxo de calor através das respectivas amostras
EVA_9_60% 0,1903 286,7 13,5 1506 1808
2600
TC_9 0,2680 285,0 11,8 1063 1276
fluxo de calor por amostra (W)

2400 CONC_9
CONC_9 0,1369 286,5 13,3 2092 2511
2200
EVA_12,5_60% 0,2174 284,6 11,4 1309 1571 2000
EVA_12,5_80% 0,2363 288,9 15,7 1222 1467 1800
EVA_14_60% 0,2257 289,0 15,8 1280 1536 1600 EVA_12,5_60% EVA_9_60%

Fonte: Os autores 1400 EVA_14_60%


EVA_12,5_80%
1200
Verifica-se que o maior fluxo de calor foi encontrado na TC_9
1000
amostra com blocos CONC_9, que, por sua vez, está entre 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08
as amostras com menor espessura (9 cm). Este resultado
volume das câmaras de ar por amostra (m3)
está coerente com a característica do concreto
convencional, que é um material com baixa resistência Fonte: Os autores
térmica e, reconhecidamente, com alta condutividade
térmica (vide Tabela 3). Então, considerando a condição Nota-se que, apesar da amostra EVA_12,5_80%, se
de clima quente e úmido, este resultado confirma que, comparada à amostra TC_9, ter menor volume de ar nas
entre as amostras aqui comparadas, aquela com blocos câmaras internas a seus componentes, as duas amostras
CONC_9 apresenta o pior comportamento, uma vez que a apresentam fluxo de calor mais baixos (1.467 W e 1.276
alta resistência térmica e a boa capacidade de isolamento W, respectivamente) e com valores próximos, comparadas
térmico são estratégias bioclimáticas essenciais para esse às demais. Também é possível observar que a amostra
tipo de clima, que abrange a maior parte do território EVA_14_60%, apesar de ter a maior espessura e as
brasileiro, segundo dados da NBR 15220-3 (ABNT, maiores câmaras de ar internas, teve seu fluxo de calor
2005a). mais alto do que a amostra EVA_12,5_80%.
Dentre as amostras com blocos EVA_12,5_60% e
EVA_12,5_80%, fica claro que quanto maior a proporção
Conclusões
de resíduo de EVA, maior é a resistência térmica do Os procedimentos de análise permitem esclarecer que há
material. Por conta disso, a amostra com EVA_12,5_80% diferenças no comportamento térmico entre os tipos de
teve o menor fluxo de calor entre aquelas com material blocos cimentícios e cerâmicos comparados, considerando
cimentício, chegando a ser menor do que o resultado suas diferentes geometrias (espessuras e tamanhos de

302 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

câmara de ar interna, etc.) e percentuais de resíduos EVA materiais diferentes. As principais variáveis que
reciclados como agregados leves, que substituem os interferem no fluxo de calor foram contempladas no
naturais. Com base nas comparações feitas em relação ao procedimento adotado.
tijolo cerâmico e ao bloco de concreto convencional, foi
Dentre os blocos EVA avaliados, a amostra
possível verificar que o fluxo de calor característico dos
EVA_12,5_80%, que apresenta o maior percentual de
blocos EVA se enquadra numa faixa entre 1.467 W e 1.808
EVA (80%) no compósito, se destaca com menor fluxo de
W, cujos valores são intermediários ao tijolo cerâmico
calor (1.467 W), cujo valor é o mais próximo em relação
(1.276 W) e ao bloco de concreto (2.511 W).
aos tijolos cerâmicos (1.276 W). Além disso, o bloco
O procedimento analítico adotado, no qual foram EVA_12,5_80% se diferenciou dos blocos de material
combinados dados experimentais (ΔT) e dados calculados cimentício, por combinar as seguintes características:
(RT), se mostrou confiável para determinar o fluxo de menor fluxo de calor, menor volume de câmaras de ar
calor através das amostras. Tal procedimento possibilitou internas, maior resistência térmica e maior teor de EVA
evidenciar uma caracterização numérica precisa para as (resíduos da indústria de calçados), substituindo agregados
amostras comparadas, que foram executadas com naturais.

Agradecimentos
À CAPES, pelo financiamento parcial da presente pesquisa, e aos Laboratórios do Centro de Tecnologia da UFPB, que deram suporte
para a realização dessa pesquisa.

Referências
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220-3: Desempenho térmico de edificações- Parte 3:
Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro,
2005a.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220-2: Desempenho Térmico das Edificações- Parte
2: Método de cálculo da transmitância térmica, da capacidade térmica, do atraso térmico e do fator solar de elementos e
componentes construtivos. Rio de Janeiro, 2005b.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220-5: Desempenho térmico de edificações - Parte 5:
Medição da resistência térmica e da condutividade pelo método fluximétrico. Rio de Janeiro 2005c.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12118. Blocos vazados de concreto simples para
alvenaria–Métodos de ensaio. Rio de Janeiro, 2013a.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-4: - Edificações habitacionais — Desempenho
Parte 4: Sistemas de vedações verticais internas e externas - SVVIE. Rio de Janeiro, 2013b.

AL-JABRI, K.S., HAGO, A.W.; AL-NUAIMI, A.S., AL-SAIDY, A.H. Concrete blocks for thermal insulation in hot climate.
Cement and Concrete Research, v. 35, n. 8, p. 1472– 1479, aug. 2005. ISSN: 0008-8846.
DOI:https://doi.org/10.1016/j.cemconres.2004.08.018.

ALAVEZ-RAMIREZ, R.; CHIÑAS-CASTILLO, F.; MORALES-DOMINGUEZ, V.J.; ORTIZ-GUZMAN, M. Thermal


conductivity of coconut fibre filled ferrocement sandwich panels. Construction and Building Materials. v. 37, p. 425-431, dec.,
2012. ISSN: 0950-0618. DOI:http://dx.doi.org/10.1016/j.conbuildmat.2012.07.053

ASTM - AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C177-97, Standard Test Method for Steady-State
Heat Flux Measurements and Thermal Transmission Properties by Means of the Guarded-Hot-Plate Apparatus, ASTM
International, West Conshohocken, PA, 1997. Disponível em: https://www.astm.org/DATABASE.CART/HISTORICAL/C177-
97.htm. Acesso em: 22/10/2018

BEZERRA, A. J. V. Utilização do Resíduo da Indústria de Calçados (EVA – Etileno Acetato de Vinila) como agregado Leve
na Produção de Blocos Vazados de Concreto para Alvenaria sem Função Estrutural. 2002. 138f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFPB. Campina Grande.

303 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809
GOMES, Emmily Gérsica Santos; MELO, Aluísio Braz de
Caracterização do fluxo de calor em alvenaria com blocos EVA

BEZERRA, L. A. C. Análise do desempenho térmico de sistema construtivo de concreto com EPS como agregado graúdo
2003. 50f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica). Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica. UFRN. Natal.

BITTENCOURT, L; CÂNDIDO, C. Introdução à ventilação natural, p.173, 3ª ed. EDUFAL, Maceió, 2008.

BÓ, M. D; NEVES W. F; AMARAL, S. Substituição do mercúrio por água na determinação da densidade aparente do suporte
cerâmico cru. Cerâmica industrial, v. 7, n.2, p. 42-46. São Paulo, 2002. Disponível em:
http://www.ceramicaindustrial.org.br/pdf/v07n02/v7n2_8.pdf. Acesso em: 22/10/2018.

FROTA, A. B.; SCHIFFER, S. R. Manual de conforto térmico. 5ª Ed. Studio Nobel Editora. São Paulo, 2001, 248p.

GOULART, S. V. G.; LAMBERTS, R.; FIRMINO, S. Dados climáticos para projeto e avaliação energética de edificações para
14 cidades brasileiras. 2 ed. Florianópolis: Núcleo de Pesquisa em Construção/UFSC. 1998, 345p.

GARLET, G. Aproveitamento de Resíduos de E.V.A. (Ethylene Vinyl Acetate) como Agregado para Concreto Leve na
Construção Civil. 1998. 146f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Escola de Engenharia, UFRGS. Porto Alegre, 1998.

GIVONI, B. Comfort Climate Analysis and Building Design Guidelines. Energy and Buildings, v.18, n.1, p. 11-23, 1992. DOI:
https://doi.org/10.1016/0378-7788(92)90047-K.

GRANJA, A. D.; LABAKI, L. C. Paredes orientadas a leste e a oeste: uma abordagem crítica em relação ao conforto e à eficiência
energética. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 4, n. 4, p. 65-75, out./dez. 2004. ISSN 1415-8876.

LAMBERTS, Roberto; DUTRA, Luciano; PEREIRA, Fernando. O. R. Eficiência Energética na Arquitetura. 3ª Ed. Editora
Eletrobras/Procel. Rio de Janeiro, 2014.

MELO, A.B.; LIMA FILHO, M.R.F.. Avaliação de desempenho estrutural de protótipo com paredes construídas com blocos EVA.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 9, n. 4, p. 141-155, out./dez. 2009. ISSN 1415-8876. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/ambienteconstruido/article/view/9471. Acesso em 21/10/2018

MORAES. S. R. P.; OLIVEIRA. A. L. R.; SIMÃO, P. S.; RODRIGUES. J. S. Eficiência bioclimatológica dos termômetros
construídos com Luminária plástica e bola de pingue-pongue, em comparação ao Globo negro padrão - outono e primavera.
Enciclopédia Biosfera. Goiânia. vol.7, n.12; p. 1-14. 2011. ISSN 2317-2606. Disponível em:
http://www.conhecer.org.br/enciclop/2011a/exatas/eficiencia%20bioclimatologica.pdf. Acesso em 22/10/2018.

POLARI FILHO, R.S. Contribuição ao processo de reciclagem dos resíduos da Indústria de calçados na Construção Civil:
Bloco EVA – Uma alternativa às alvenarias das construções. 2005. 88f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana). –
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana. UFPB. João Pessoa.

ROCHA, F.M.D.; MELO, A. B.; SILVA, E. P.; TORRES, S. M. Pré-moldado (bloco EVAi) para alvenaria intertravada: projeto,
produção, desempenho e simulação de uso em habitação social. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 2, p. 47-60, abr./jun.
2013. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/ambienteconstruido/article/view/35265. Acesso em 22/10/2018.

SILVA, E. P. da; CAHINO J. E. M.; MELO A. B. de. Avaliação de desempenho térmico de blocos EVA. In: ENCONTRO
NACIONAL DE TECNOLOGIA NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 14., 2012, Juiz de Fora. Anais ... Porto Alegre: ANTAC,
2012, p. 1478-1484. Disponível em http://www.infohab.org.br/entac2014/2012/docs/1131.pdf. Acesso em 22/10/218

TURGUT, Paki; YESILATA, Bulent. Physico-mechanical and thermal performances of newly developed rubber-added bricks.
Energy and Buildings. v. 40, n. 5, p. 679-688, 2008. ISSN: 0378-7788. DOI:https://doi.org/10.1016/j.enbuild.2007.05.002

1Emmily Gersica Santos Gomes


Designer de interiores pelo IFPB. Mestrado em Arquitetura e Urbanismo/PPGAU-UFPB. Faculdades Integradas de Patos. Endereço
Postal: Rua Norberto de Castro Nogueira, 1436, Bessa, João Pessoa, PB, Brasil, 58037-603

2Aluísio Braz de Melo


Arquiteto pela UFPB. Doutor em Ciência e Engenharia de Materiais/EESC-USP. Universidade Federal da Paraíba. Endereço
Postal: Avenida Guarabira, 1125, Manaíra, João Pessoa, PB, Brasil, 58038-142

304 | PARC Pesq. em Arquit. e Constr., Campinas, SP, v. 9, n. 4, p. 290-304, dez. 2018, ISSN 1980-6809

Você também pode gostar