Neutropenia Febril
Neutropenia Febril
Neutropenia Febril
Definições
Neutropenia
- Contagem de neutrófilos < 1.500 células/µl.
- Risco de infecções se torna progressivamente maior com contagens < 1.000 céls/µl. segundo guidelines
atuais, a definição de neutropenia febril considera como neutropenia uma contagem de neutrófilos < 500
céls/µl ou < 1.000 céls/µl com previsão de queda para menos de 500 céls/µl nas próximas 48h.
- < 100 céls/µl é neutropenia profunda.
Febre
- Temperatura oral: ≥ 38,3° C (medida única) ou ≥ 38° C (por mais de uma hora).
- Temperatura axilar: > 37,8° C (medida única).
Atenção
- Mesmo na ausência de febre, pacientes neutropênicos com sinais clínicos de infecção devem ser
abordados como se tivessem neutropenia febril. Ex.: pacientes idosos que além de QT recebem
corticoterapia no tratamento de neoplasias hematológicas. Este grupo pode não desenvolver febre na
vigência de infecção. Outros sinais de deterioração clínica: dispneia, hipotermia, hipotensão arerial.
Etiologia e epidemiologia
- Todo neutropênico febril deve ser considerado portador de uma infecção grave potencialmente letal em
curto espaço de tempo. No início do quadro de infecção no neutropênico febril, a febre costuma ser o
único sinal. Assim, todos os neutropênicos febris devem receber terapia antimicrobiana empírica.
- Possíveis causas não infecciosas: tromboflebite, medicamentos, febre tumoral, mucosite sem infecção,
doença enxerto x hospedeiro, reabsorção de grandes hematomas.
- Estima-se que entre 10-50% dos pacientes com tumores sólidos e > 80% daqueles com neoplasias
hematológicas desenvolverão febre em ao menos um episodio de neutropenia durante o tratamento.
- 20-30% das neutropenias febris tem outros indícios sugestivos de infecção e 10-25% têm hemocultura
positiva. Na maioria dos casos, nenhuma infecção será documentada!
- QT promove: mucosite + neutropenia. A mucosite do TGI acarreta soluções de continuidade, como ele é
colonizado por enterobactérias, as aberturas são portas de entrada. Ocorre chance aumentada de
translocação bacteriana (e/ou fúngica) para o interior da circulação sistêmica.
- Apesar da baixa sensibilidade dos exames, a maioria dos casos de neutropenia febril está associada a
processo infeccioso subjacente.
- Bactérias mais encontradas atualmente: Staphylococcus coagulase-negativos. Outras: S. aureus,
enterococcus, Streptococcus do grupo viridans, S. pneumoniae, S. pyogenes (Gram-positivos – 57%), E.
coli, Klebsiella, Enterobacter, P. aeruginosa, Citrobacter, Acinetobacter, Stenotrophomonas maltophilia
(Gram-negativos – 34%).
- Aumento na incidência de infecções por germes multirresistentes. Ex.: ESBL (produtoras de
betalactamase de espectro estendido – Klebsiella, E. coli), MRSA, KPC, VRE (enterococo resistente a
vancomicina), Streptococcus resistente a penicilina.
- Duração da neutropenia: após uma semana, a incidência de infecções fúngicas por leveduras aumenta;
após a segunda semana, aumenta o risco de infecções por fungos filamentosos, como Aspergillus e
Fusarium. Outros sinais para suspeita de fungo: melhora após tratamento, com piora em seguida; febre
persistente após início da antibioticoterapia; cultura positiva; clínica de fungo.
Avaliação inicial
Estratificação do risco
- Clínica + escore de risco.
Estratificação clínica
- Alto risco: qualquer um dos critérios abaixo.
Avaliação laboratorial
- Exames adicionais – raios X de tórax, culturas específicas como urina, escarro e liquor – deverão ser
solicitadas conforme suspeita clínica.
Tratamento
Antimicrobiano empírico
- Sempre cobrir P. aeruginosa, Streptococcus do grupo viridans (translocação de enterobactérias do TGI).
Drogas anti-pseudomonas: penicilinas (ticarcilina e piperacilina), penicilina + inibidor de betalactamase,
ceftazidima, cefepima, aztreonam (monobactâmico), carbapenêmicos (imipinem e meropenem),
fluoroquinolonas (ciprofloxacino), colistina (multirresistente).
- Gram-positivos (Staphylococcus coagulase-negativos): cobrir de rotina no doente grave (ex.:
vancomicina).
Situações que modificam o esquema terapêutico oficial
- Infecção ou colonização prévia por germes multirresistentes, ou tratamento em hospitais com alta
prevalência desses germes. Principalmente se o doente está em péssimo estado clínico.
- Se suspeita de superinfecção intestinal por C. difficile (ex.: queixas abdominais graves) associar
metronidazol ou vancomicina VO.
- Baixo risco com persistência de febre após o 2º dia de tratamento: reinternar + drogas IV e tratar como
alto risco.
- Alto risco estável com persistência da febre após 2-4 dias de tratamento: não precisa mudar tratamento
empírico.
- Alto risco instável: estender espectro de cobertura para germes multirresistentes e fungos.
- Alto risco com surgimento de úlceras orais e/ou odinofagia: tratar herpes simples e cândida
empiricamente.
Diagnóstico
- Partes que mais se infectam: lúmen e túnel subcutâneo.
- Túnel subcutâneo: exame clínico (inspeção + palpação com sinais flogísticos evidentes). Como
costumam estar ausentes no paciente neutropênico, a inexistência de sinais não exclui a infecção.
- Hemocultura coletada pelo lúmen positiva > 120 minutos antes da hemocultura coletada
simultaneamente em veia periférica.
Tratamento
- Maioria dos casos: retirar cateter (menos em germes pouco virulentos e em que o cateter é essencial). Se
mantido, administrar antimicrobiano pelo lúmen do cateter.
- Para evitar a infecção: higienizar as mãos; assepsia e antissepsia rigorosas durante a implantação;
clorexidina como degermante.