Apostila 2023 Direito Constitucional Professor Gustavo Americano

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DIREITO

CONSTITUCIONAL
Prof. Gustavo Americano
SUMÁRIO
1 ESTADO: ELEMENTOS, FORMA DE ESTADO, FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO ............... 5
1.1 ESTADO: CONCEITO E ELEMENTOS INTEGRANTES ....................................................... 5
1.2 SISTEMAS E FORMAS DE GOVERNO E FORMAS DE ESTADO......................................... 6
2 DIREITO CONSTITUCIONAL: ORIGEM, FONTES E OBJETO ................................................... 12
2.1 CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL................................................................... 12
2.2 NATUREZA DO DIREITO CONTITUCIONAL ................................................................... 12
2.3 OBJETO DO DIREITO CONSTITUCIONAL ...................................................................... 12
2.4 ESPÉCIE OU DIVISÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL.................................................. 13
2.5 FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL ...................................................................... 13
3 CONSTITUCIONALISMO ....................................................................................................... 14
3.1 IDEIA ............................................................................................................................ 14
3.2 MOVIMENTOS ............................................................................................................. 14
4 CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES ................................................................................. 18
4.1 ORIGEM ....................................................................................................................... 18
4.2 FORMA ........................................................................................................................ 18
4.3 MODODE ELABORAÇÃO .............................................................................................. 19
4.4 ESTABILIDADE .............................................................................................................. 19
4.5 CONTEÚDO .................................................................................................................. 20
4.6 EXTENSÃO ................................................................................................................... 21
4.7 CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE POLÍTICA E SOCIAL ...................................... 22
4.8 FINALIDADE OU FUNÇÃO ............................................................................................ 22
4.9 IDEOLOGIA................................................................................................................... 23
5 PODER CONSTITUINTE ........................................................................................................ 24
5.1 IDEIA INICIAL, TITULARIDADE E CLASSIFICAÇÃO ......................................................... 24
5.2 PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO ............................................................................ 24
5.3 PODER CONSTITUINTE DERIVADO OU INSTITUÍDO OU DE 2º GRAU .......................... 26
5.4 PDER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL OU TRANSNACIONAL ................................... 31
5.5 PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL OU TRANSNACIONAL ................................ 32
6 APLICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS NO TEMPO ................................................. 34
7 APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS ............................................................ 36
7.1 DOUTRINA NORTE-AMERICANA.................................................................................. 36
7.2 DOUTRINA DE JOSÉ AFONSO DA SILVA ....................................................................... 36
8 INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO .................................................................................. 40
8.1 CLASSIFICAÇÕES DA INTERPRETAÇÃO ........................................................................ 40
8.2 CORRENTES INTERPRETATIVAS NORTE AMERICANAS ................................................ 41
8.3 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ..................................................... 41
8.4 METODO CLÁSSICO ..................................................................................................... 41
8.5 MÉTODOS PRÓPRIOS .................................................................................................. 42
8.6 PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ................................................... 43
9 DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO: SENTIDOS, CONSTITUCINALISMO, NORMAS
CONSTITUCIONAIS INCONSTITUCIONAIS, ESTRUTURA E ELEMENTOS ....................................... 46
9.1 SENTIDOS CLÁSSICOS E MODERNOS DE CONSTITUIÇÃO ............................................ 46
9.2 TEORIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS INCONSTITUCIONAIS ................................ 47
9.3 ESTRUTURA ................................................................................................................. 48
9.4 ELEMENTOS ................................................................................................................. 49
10 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ........................................................................................... 51
10.1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 51
10.2 FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ........................................... 51
10.3 OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ........................ 54
10.4 PRINCÍPIOS QUE REGEM A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL NAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS ..................................................................................................................... 54
10.5 MODELO DE DEMOCRACIA ......................................................................................... 55
10.6 SEPARAÇÃO DE PODERES ............................................................................................ 56
11 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .............................................................. 58
11.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS x DIREITOS HUMANOS ..................................................... 58
11.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS x GARANTIAS FUNDAMENTAIS ........................................ 58
11.3 CLÁUSULA GERAL DE COMPLEMENTARIEDADE .......................................................... 58
11.4 DIIREITOS FUNDAMENTAIS E TRATADOS INTERNACIONAIS ....................................... 59
11.5 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDMENTIS EM GERAÇÕES OU DIMENSÕES .......... 60
11.6 TITULARIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .......................................................... 61
11.7 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .................................................... 62
11.8 EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................... 63
12 DIREITOS FUNDAMENTAIS .............................................................................................. 65
12.1 DIREITO À VIDA ........................................................................................................... 65
12.2 DIREITOS RELACIONADOS ÀS LIBERDADES ................................................................. 67
12.3 DIREITO À IGUALDADE ................................................................................................ 79
12.4 DIEITOS RELACIONADOS À SEGURANÇA JURÍDICA ..................................................... 82
12.5 DIREITOS RELACIONADOS À PRIVACIDADE ................................................................. 90
12.6 DIREITOS RELACIONADOS AO DIREITO PENAL ............................................................ 96
13 DIREITOS SOCIAIS .......................................................................................................... 103

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13.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 103
13.2 TEORIAS ..................................................................................................................... 104
13.3 TEORIA DA RESERVA DO POSSÍVEL ........................................................................... 104
13.4 TEORIA DO MÍNIMO EXISTENCIAL............................................................................. 105
13.5 PROIBIÇÃO DO RETROCESSO .................................................................................... 105
14 DIREITOS DA NACIONALIDADE ...................................................................................... 106
14.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 106
14.2 ESPÉCIES E CRITÉRIOS DA NACIONALIDADE.............................................................. 106
14.3 BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS .................................................................. 107
14.4 QUASE NACIONAIS .................................................................................................... 110
14.5 DISTINÇÃO ENTRE BRAZILEIROS NATOS E NATURALIZADOS E ESTRANGEIROS ........ 110
14.6 PERDA NA NACIONALIDADE ...................................................................................... 111
15 DIREITOS POLÍTICOS E PARTIDOS POLÍTICOS ................................................................ 114
15.1 DIREITO AO SUFRÁGIO .............................................................................................. 114
15.2 ELEGIBILIDADE ........................................................................................................... 114
15.3 VOTO ......................................................................................................................... 120
15.4 PERDA OU SUSPENSÃO DOS DIREITS POLÍTICOS ...................................................... 122
15.5 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO...................................................... 123
15.6 PRINCÍPIO DA ANUALIDADE ...................................................................................... 124
15.7 PARTIDOS POLÍTICOS................................................................................................. 125
16 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA................................................................. 127
16.1 FEDERALISMO............................................................................................................ 127
16.2 SOBERANIA E AUTONOMIA ....................................................................................... 129
16.3 UNIÃO ........................................................................................................................ 131
16.4 ESTADOS-MEMBROS ................................................................................................. 132
16.5 MUNICÍPIOS............................................................................................................... 134
16.6 DISTRITO FEDERAL..................................................................................................... 137
16.7 TERRITÓRIOS FEDERAIS ............................................................................................. 137
16.8 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS .............................................................................. 137
16.9 JULGADOS IMPORTANTES SOBRE O TEMA ............................................................... 139
17 PODER LEGISLATIVO ...................................................................................................... 143
17.1 ESTRUTURA ............................................................................................................... 143
17.2 ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL ................................................................ 143
17.3 ATRIBUIÇÕES DA CÂMARA DOS DEPUTADOS ........................................................... 144
17.4 ATRIBUIÇÕES DO SENADO FEDERAL ......................................................................... 145
17.5 PODER DE CONVOCAÇÃO.......................................................................................... 145

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17.6 ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS .............................................................................. 146
17.7 PERDA DO MANDATO PARLAMENTAR...................................................................... 150
17.8 REUNIÕES .................................................................................................................. 152
17.9 COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO ......................................................... 155
18 PODER EXECUTIVO ........................................................................................................ 159
18.1 ESTRUTURA ............................................................................................................... 159
18.2 AUSÊNCIA DO CHEFE DO EXECUTIVO........................................................................ 160
18.3 LICENÇA PARA VIAGEM AO EXTERIOR ...................................................................... 161
18.4 ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA .......................................................... 161
18.5 RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ............................................... 164
19 PODER JUDICIÁRIO ........................................................................................................ 170
19.1 ESTATUTO DA MAGISTRATURA ................................................................................. 170
19.2 GARATIAS DO PODER JUDICIÁRIO: INSTITUCIONAIS E FUNCIONAIS ........................ 174
19.3 QUINTO CONSTITUCIONAL........................................................................................ 178
19.4 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL .................................................................................. 179
19.5 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA .............................................................................. 183
20 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ........................................................................ 186
20.1 REQUISITOS PARA INSTITUIÇÃODO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE EM UM
ORDENAMENTO JURÍDICO .................................................................................................... 186
20.2 PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS APLICADOS AO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE .. 186
20.3 NORMAS PRAMÉTRICAS ............................................................................................ 187
20.4 BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE .......................................................................... 191
20.5 OBJETO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ................................................. 191
20.6 ESPÉCIES DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ............................................... 193
20.7 CONTROLE REPRESSIVO DE CONSTITUIONALIDADE ................................................. 194
20.8 CONTROLE JURÍDICO DE CONSTITUCIONALIDADE .................................................... 195
20.9 ABSTRATIVAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO .................................................................. 197
20.10 TERIA DA TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES ............................ 197
20.11 CLAÚSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO .................................................................. 198
20.12 TIPO DE INCONSTITUCIONLIDADE......................................................................... 199
20.13 AÇÕES EM ESPÉCIE ................................................................................................ 201

Atualizada em Abril/2023

DIREITO CONSTITUCIONAL | 4
1 ESTADO: ELEMENTOS, FORMA DE ESTADO,
FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO

1.1 ESTADO: CONCEITO E ELEMENTOS INTEGRANTES

De acordo com Dalmo Dalari de Abreu, Estado deve ser entendido como “A ordem
jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em
determinado território.”

E para a formação de um Estado, necessário se faz a presença de 4 [quatro]


elementos, a saber:

• Povo;
• Território;
• Soberania e;
• Governo.

No que tange ao primeiro elemento [povo], necessário se faz promover uma


distinção entre ele e População, Nação e Cidadão, podendo ser sistematizado da
seguinte forma:

• Povo: Conjunto de cidadãos [nacionais] de um Estado. Unidos pelo vínculo da


nacionalidade.

• População: Expressão numérica dos habitantes de um Estado. Natos,


naturalizados, estrangeiros e apátridas.

• Nação: Comunidade histórica, cultural, étnica, linguística e tradicionalmente


homogênea.

• Cidadão: Pessoa que goza de direitos políticos.

Sobre o elemento Território, esse deve ser entendido como o espaço geográfico
dentro do qual o Estado exercita seu poder de mando, sua soberania.

No que diz respeito ao elemento Soberania, além de sua conceituação, é necessário


compreender os seus efeitos. A ideia de soberania pode ser sintetizada como o poder
de mando de última instância em uma sociedade politicamente organizada, sendo
que esse poder projeta efeitos tanto internos quanto externos: da seguinte forma:

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• Efeito interno: É compreendido como aquele poder superior a todos os
demais.

• Efeito externo: É compreendido como a independência em seu


relacionamento com os outros Estados e com as organizações internacionais,
não se sujeitando ou subordinando a nenhuma delas.

A ideia de Governo consiste na possibilidade de o Estado impor sua vontade sobre


os outros e exigir o cumprimento das leis. É a capacidade de editar as normas e de
fazê-las cumprir.

1.2 SISTEMAS E FORMAS DE GOVERNO E FORMAS DE ESTADO

Importante a distinção entre os institutos jurídicos de Sistema de Governo, Formas


de Governo e Formas de Estado.

SISTEMAS DE GOVERNO

Existem quatro formas de Sistemas de Governo: A) Presidencialismo, B)


Parlamentarismo, C) Semipresidencialismo ou Sistema misto, D) Sistema diretorial,
que podem ser assim sistematizados:

• Presidencialismo: Sistema de Governo criado nos Estados Unidos, pela


Constituição norte-americana de 1787, para substituir a figura do monarca,
em uma situação que as funções de Chefe de Estado e de Chefe de Governo
reúne-se em uma única pessoa; que exercerá suas funções por mandato
temporário, podendo perder o cargo apenas em caso de condenação pela
prática de crime de responsabilidade.

• Parlamentarismo: Sistema de Governo criado na Inglaterra, em uma situação


em que a função de Chefe do Estado é exercida pelo Presidente ou Monarca,
a depender da espécie do sistema [Parlamentarismo Republicano ou
Parlamentarismo Monárquico] e a função de Chefe de Governo é exercida
pelo Primeiro-Ministro. Saliente-se que, no Parlamentarismo, o Chefe de
Governo [Primeiro-Ministro] não tem um mandato determinado
permanecendo no cargo enquanto tiver a maioria e a confiança do
Parlamento.

Sobre eventual demissão do Primeiro-Ministro, em virtude do voto de desconfiança,


Dalmo Dalari de Abreu explica que “Se um parlamentar desaprova, no todo ou num
importante aspecto particular, a política desenvolvida pelo Primeiro-Ministro,

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propõe um voto de desconfiança. Se este for aprovado pela maioria parlamentar,
isso revela que o Chefe de Governo está contrariando a vontade da maioria do povo,
de quem os parlamentares são representantes. Assim sendo, deve demitir-se”.

Saliente que o Presidencialismo brasileiro apresenta uma dinâmica peculiar, no qual


o poder conferido aos Parlamentares vai além da elaboração e votação de leis, tendo
eles participação nas decisões de governo, inclusive em indicações de cargo no Poder
Executivo. Assim, para viabilizar a governabilidade é necessária essa coalizão entre
Legislativo e Executivo, recebendo, então, a denominação de Presidencialismo de
Coalizão.

As principais diferenças entre esses Sistemas de Governo, são as seguintes:

Presidencialismo Parlamentarismo
O Presidente é o Chefe de Estado e o O Primeiro-Ministro é apenas chefe de
Chefe de Governo governo
O presidente é escolhido pelo povo O Primeiro-Ministro é escolhido pelo
Parlamento
O Presidente tem mandato determinado O Primeiro-Ministro não tem mandato
determinado
O Legislativo não pode tirar o Presidente, O Primeiro-Ministro deve se demitir
salvo por crime de responsabilidade quando perde a maioria do Parlamento
O Presidente da República não pode O Primeiro-Ministro pode dissolver o
dissolver o Legislativo Parlamento e convocar novas eleições

• Semipresidencialista: Sistema adotado na França, Finlândia e Portugal,


apresenta traços do Presidencialismo e Parlamentarismo. Como explica
Flávio Martins, “No sistema semipresidencialista, há dois órgãos eleitos pelo
sufrágio direto: o Presidente e o Parlamento. Da mesma forma, há dupla
responsabilidade do governo (do gabinete), perante o Presidente da
República e perante o Parlamento. Outrossim, existe a possibilidade de
dissolução do Parlamento por decisão e iniciativa autônomas do Presidente
da República. O Presidente tem poderes de direção política próprios.” [Curso
de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 2049). Saraiva Jur.]

• Diretorial: No sistema Diretorial, todo o poder do Estado é concentrado no


Parlamento. Porém, a função executiva é exercida por uma junta de governo,
que recebe os poderes via delegação do Parlamento. A função executiva é
exercida por um órgão colegial, o Diretório, que é eleito pelo Parlamento,
sendo suas funções exercidas por um período certo. Ressalte-se não existir
um chefe de Estado autônomo, sendo essas funções exercidas pelo Diretório.

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FORMAS DE GOVERNO

Na concepção aristotélica, existe três formas de governo: a Monarquia, que é o


governo de um só; a Aristocracia, que é o governo de mais de um; a República, que
é o governo em que o povo governa no interesse do povo.

Existem duas espécies de Formas de Governo: a Monarquia e a República, que


podem ser assim sistematizadas:

• Monarquia: A ideia é de “Governo de um só”, ou, “Poder de um só”. Na


Monarquia o poder concentra-se com o Rei ou com o Monarca. E apresenta,
basicamente, as seguintes características: A) Irresponsabilidade política do
Governante; B) Hereditariedade; C) Vitaliciedade.

O art. 99 da Constituição brasileira de 1824 afirmava que “A pessoa do Imperador é


inviolável, e sagrada: ele não está sujeito a responsabilidade alguma.”.

Sobre a vitaliciedade saliente-se que o Monarca exerce o poder enquanto viver ou


enquanto tiver condições para governar. Em 2014, o Rei Juan Carlos I, da Espanha,
optou por abdicar o trono em favor de seu filho.

1) Irresponsabilidade política do governante;

2) Transmissão do poder pelo vínculo de


hereditariedade e;

3) Permanência no poder de maneira vitalícia.

• República: Essa forma de governo foi idealizada para implementar a


soberania popular, lembrando que a etiologia da palavra República significa
“coisa pública” ou “coisa de todos”. E apresenta, basicamente, as seguintes
características: A) Responsabilidade política do Governante; B) Eletividade; C)
Temporariedade.

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1) Responsabilidade política do governante, pelos seus
atos de governo e gestão;

2) Poder recebido pelo critério da eletividade, ou seja,


por meio de eleições populares e;

3) Permanência no poder de maneira temporária.

FORMAS DE ESTADO

As formas de estado existente podem ser basicamente sistematizadas da seguinte


forma:

• Estado Unitário: No Estado Unitário tem-se apenas um centro de poder, ou


seja, apenas um poder para toda população. A tomada de decisões fica a
cargo do Governo nacional. No Brasil, a forma de estado Unitária ou Simples
foi adotada desde a primeira constituição [1824] até a Proclamação da
República, em 1889.

O que ocorre após a tomada de decisões é que irá determinar a espécie do Estado
Unitário, sendo elas:

1.Estado Unitário Puro ou Centralizado: Nessa espécie de Estado


Unitário o poder é exercido apenas um órgão central, que vai atuar em
todas as áreas, existindo, portanto, uma absoluta centralização do
Poder. Como exemplo de Estado Unitário Puro ou Centralizado tem-se
o Vaticano.

Segundo Darcy Azambuja, “o tipo puro do Estado simples é aquele em que somente
existe um Poder Legislativo, um Poder Executivo e um Poder Judiciário, todos
centrais, com sede na capital. Todas as autoridades executivas ou judiciárias que
existem no território, são delegações do Poder central, tiram dele sua força; é ele que
as nomeia e lhes fixa as atribuições. O Poder Legislativo de um Estado simples é único,
nenhum outro órgão existindo com atribuições de fazer leis nesta ou naquela parte
do território”

2.Estado Unitário Descentralizado Administrativamente: Nessa


espécie de estado Unitário, existe uma divisão entre A) a tomada das
decisões políticas e; B) a execução dessas decisões políticas. O órgão
central mantém toda a concentração de poder, porém o cumprimento
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das ordens emanadas pelo órgão central cabe a determinados órgãos
criados pelo Governo Nacional. Assim, tem-se que a tomada de
decisões políticas e feita pelo Governo Nacional. E para a execução das
decisões políticas são criadas pessoas para que, em nome do Governo
Nacional, as administrem, as executem, atuando como um longa
manus do Governo Nacional.

3.Estado Unitário Descentralizado Administrativa e Politicamente:


Nessa espécie de Estado Unitário, apesar o Governo Nacional manter
tota a concentração de poder, o cumprimento das ordens por ele
emanadas cabe a determinados órgãos criados pelo Governo
Nacional, que, somado a isso, ainda tem a opção de escolher a melhor
medida a ser adotada. Ou seja, além de cumprir a decisão do órgão
central, os entes podem escolher a melhor alternativa a ser seguida.

• Estado Composto: Aqui existe mais de um centro de Poder dentro do Estado,


existindo as seguintes espécies:

1.Confederação: É uma espécie de Estado Composto que se origina


em um Tratado Internacional, sendo que as suas unidades parciais são
dotadas de soberania, possuindo, portanto, o direito de secessão, ou
seja, a permissibilidade de se desvencilhar do todo.

2.Federação: É uma espécie de Estado Composto que se origina em


uma Constituição, sendo que as suas unidades parciais são dotadas de
autonomia, não possuindo, portanto, o direito de secessão, tendo em
vista viger em um Estado Federal o Princípio da Indissociabilidade,
também conhecido como Princípio da Indissolubilidade.

A etiologia da palavra Federal decorre de foedus, foederis, que significa pacto,


aliança, sendo, portanto, a união de vários Estados, que sedem parcela de sua
autonomia para formação do Estado Federado.

A ideia de Federação tem origem nos Estados Unidos, em virtude da independência


das ex-colônias britânicas. Essas colônias, quando se declararam independentes se
uniram para a formação de um país, formado por unidades autônomas.

As principais diferenças entre a Confederação e a Federação são as seguintes:

Confederação Federação
É uma pessoa de Direito Público É mais que uma pessoa de Direito Público
Seus membros são soberanos Seus membros são autônomos

DIREITO CONSTITUCIONAL | 10
Os entes estão ligados por um Tratado ou Os entes estão ligados por uma
Convenção Internacional Constituição
É permitido o direito de secessão Não é permitido o direito de secessão

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

Com essas ponderações, fica fácil a compreensão do art. 1º da Constituição Federal,


que apresenta a seguinte redação:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:

Assim, a forma de governo adotada por nosso ordenamento jurídico é a Republicana;


a forma de estado adotada é uma Federação, em que não é permitido o direito de
secessão, ante ao Princípio da Indissociabilidade ou Indissolubilidade.

Saliente-se que a forma federativa de estado, nos termos do art. 60, §4º da
Constituição é considerada cláusula pétrea, não podendo ser objeto de deliberação
de proposta de Emenda à Constituição, ou seja, uma cláusula granítica, imutável, em
nosso ordenamento jurídico.

Saliente-se que o Brasil, tradicionalmente, adotou o Presidencialismo em


praticamente todas as suas Constituições, exceto na de 1824 e inobstante ter sido
utilizado por pouco tempo o parlamentarismo.

No que tange a forma de governo republicana, apesar de ela não constar


expressamente como uma cláusula pétrea, no art. 60, §4º, da Constituição Federal,
de acordo com a doutrina majoritária, bem como entendimento do Supremo
Tribunal Federal, á República deve ser compreendida como uma cláusula pétrea
implícita.

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2 DIREITO CONSTITUCIONAL: ORIGEM, FONTES E OBJETO

2.1 CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL

O Direito Constitucional não se restringe mais apenas ao estudo da Constituição:

Pensamento de Canotilho:

•“o direito constitucional é um intertexto aberto. Deve muito a experiências constitucionais,


nacionais e estrangeiras; no seu ‘espírito’ transporta ideias de filósofos, pensadores e políticos”
[...], não sendo “um singular movimento de rotação em torno de si mesmo, mas sim um gesto de
translação perante outras galáxias do saber humano”.

Segundo Flávio Martins:

•conceitua Direito Constitucional como sendo “o ramo do Direito Público que investiga e
sistematiza as instituições fundamentais do Estado, bem como estabelece a origem, a forma, o
desenvolvimento e os limites da aquisição e do exercício do poder, tendo como elemento central
a Constituição. Em outras palavras, Meirelles Teixeira definiu o Direito Constitucional como sendo
“o conjunto de princípios e normas que regulam a própria existência do Estado moderno, na sua
estrutura e no seu funcionamento, o modo de exercício e os limites de sua soberania, seus fins e
interesses fundamentais” [Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (pp. 317-318). Saraiva
Jur.]

2.2 NATUREZA DO DIREITO CONSTITUCIONAL

O Direito Constitucional é um ramo do Direito Público. E sobre o Direito Público


necessário destacar distinção realizada pela professora Maria Helena Diniz, que
leciona que “o direito público seria aquele que regula as relações em que o Estado é
parte, ou seja, rege a organização e atividade do Estado considerado em si mesmo
(direito constitucional), em relação com outro Estado (direito internacional) e em
suas relações com os particulares, quando procede em razão de seu poder soberano
e atua na tutela do bem coletivo (direito administrativo e tributário). O direito
privado é o que disciplina as relações entre particulares, nas quais predomina, de
modo imediato, o interesse de ordem privada, como compra e venda, doação,
usufruto, casamento, testamento, empréstimo etc.”

2.3 OBJETO DO DIREITO CONSTITUCIONAL

O Direito Constitucional tem por objeto “o conhecimento científico e sistematizado


da organização fundamental do Estado, através da investigação e estudo dos
princípios e regras constitucionais atinentes à forma do Estado, à forma e ao sistema
de Governo, ao modo de aquisição e exercício do poder, à composição e
funcionamento de seus órgãos, aos limites de sua atuação e aos direitos e garantias

DIREITO CONSTITUCIONAL | 12
fundamentais”. [Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p.
319). Saraiva Jur.]

2.4 ESPÉCIES OU DIVISÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL

São matérias integrantes do Direito Constitucional, conforme ensinamentos de


Paulo Bonavides: A) Direito Constitucional Positivo, Particular ou Especial: É aquela
disciplina que se ocupa do estudo de uma determinada Constituição, promovendo
uma análise dos princípios e regras de um determinado Estado. B) Direito
Constitucional Comparado: É aquela disciplina que se ocupa do estudo dos
diferentes ordenamentos jurídico-constitucionais de diversos países. C) Direito
Constitucional Geral: É aquela disciplina que se ocupa do estudo de uma Teoria
Geral do Direito Constitucional, sem realizar um estudo de uma Constituição
específica.

2.5 FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL

O estudo das fontes de determinada disciplina análise as suas origens, os meios pelos
quais essa disciplina se exterioriza.

As fontes são classificadas em fontes materiais, que são os fatos e elementos pelos
quais se fazem nascer o instituto, bem como em fontes formais, que correspondem
à forma de elaboração técnica do material.

No caso do Direito Constitucional, a Constituição é a principal fonte formal do Direito


Constitucional. Porém, não pode ser considerada a única, devendo ser levado em
consideração, também, os costumes, a doutrina, os princípios gerais do Direito
Constitucional e a jurisprudência.

E as fontes materiais do Direito Constitucional são os elementos materiais, racionais,


ideais e culturais da sociedade, dos quais emana o Direito Constitucional.

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3 CONSTITUCIONALISMO

3.1 IDEIA

O Constitucionalismo deve ser entendido como teoria / movimento, oposta ao


absolutismo, ao poder arbitrário, que visa a limitação dos poderes do Estado,
indispensável à conquista e efetivação de Direitos Fundamentais, possuindo,
portando, duas ideias centrais: Limitação de poder e Garantia de direito.

Ao longo da história o Constitucionalismo não se desenvolveu de forma idêntica,


motivo pelo qual alguns autores preferem a expressão Movimentos Constitucionais
em detrimento à Constitucionalismo.

Assim, é possível dividi-lo em três fases: A) Constitucionalismo Antigo; B)


Constitucionalismo Moderno, com viés liberal e social e; C) Neoconstitucionalismo,
conforme será abordado a seguir:

3.2 MOVIMENTOS

Os movimentos constitucionais podem ser sistematizados nas seguintes fases: A)


Constitucionalismo antigo; B) Constitucionalismo moderno, com uma versão liberal
e outra social; C) Neoconstitucionalismo

E a compreensão das características principais é indispensável, merecendo destaque


a sistematização abaixo.

CONSTITUCIONALISMO ANTIGO

Karl Loewestein identificou que as primeiras manifestações formais de movimento


constitucionalista foram encontradas na antiguidade, no povo hebreu e grego. O
povo hebreu, por meio do regime teocrático, promovia uma limitação do poder pelas
“regras divinas”, que eram aplicadas tanto aos governados quanto aos governantes.

CONSTITUCIONALISMO MODERNO

Prevalece que a Idade Moderna se inicia em 1453, com a tomada de Constantinopla


pelos turcos otomanos. E, no final do século XVI, nasce o Estado moderno,
absolutista, com representantes [monarcas] tocados pelo poder divino na terra.

Dois documentos podem ser elencados como marcos do Constitucionalismo


moderno:
DIREITO CONSTITUCIONAL | 14
A) Constituição dos Estados Unidos da América de 1787) e;
B) Constituição da França de 1791.

Inicialmente, o Constitucionalismo moderno se apresentou com um viés liberal,


buscou a consagração de valores relacionados à liberdade, proteção à propriedade
privada, aos direitos individuais e uma busca pelo absenteísmo estatal, ou seja, uma
proibição de ingerência indevida do Estado na esfera privada.

E, visto de maneira global, se apresentou como duas manifestações distintas, a


saber: A) Constitucionalismo Clássico e; B) Constitucionalismo Social.

A primeira forma de manifestação, Constitucionalismo clássico ou liberal, inicia-se


no século XVIII e perdura até a 1ª Guerra Mundial, com um pensamento liberal de
não intervenção do Estado na esfera privada, marcado por direitos fundamentais de
1ª dimensão.

A segunda forma de manifestação, Constitucionalismo social, surge em virtude da


falência do liberalismo, tendo em vista as desigualdades sociais geradas, além da
exploração da classe trabalhadora. E esse novo modelo constitucional passou a exigir
prestações positivas pelo Estado em favor dos cidadãos, visando à redução das
desigualdades geradas, sendo marcado por direitos fundamentais de 2ª dimensão.
Os documentos que, pela primeira vez, incorporaram direitos prestacionais ou
sociais em seus Textos, foram os seguintes: A) Constituição Mexicana (1917) e; B)
Constituição Alemã de Weimar (1919).

CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO OU NEOCONSTITUCIONALISMO

Essa nova etapa do Constitucionalismo surge após a 2ª Guerra Mundial e não


contesta o que foi conquistado pelos movimentos constitucionais anteriores, mas,
sim, aperfeiçoá-las estabelecendo novos paradigmas.

Com apoio no postulado normativo da Dignidade da Pessoa Humana, tendo em vista


as atrocidades que foram cometidas nos regimes nazistas e fascistas em face dos
seres-humanos, esse movimento constitucional colocou a Constituição no ápice do
ordenamento jurídico, reconhecendo sua supremacia, com conteúdo condicionante
da validade do ordenamento jurídico.

Os principais documentos que marcam esse movimento constitucional são:

A) Constituição alemã, de 1949 [Lei Fundamental de Bonn] e;


B) Constituição da Itália, de 1947.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 15
Assim, o Neoconstitucionalismo ou Constitucionalismo contemporâneo,
Constitucionalismo avançado ou Constitucionalismo de direitos pode ser assim
sistematizado:

A) Marco histórico: Pós 2ª Guerra Mundial. Após a 2ª Guerra Mundial


concluiu-se o quanto foi nocivo o positivismo “legicentrista”, haja vista que,
até então, diversas atrocidades foram praticadas com apoio na lei.

B) Marco filosófico: O marco filosófico desse movimento constitucional é o


declínio, a falência, do positivismo jurídico, com inauguração de uma nova
fase denominada pós-positivismo.

C) Marco Teórico: O marco teórico do Neoconstitucionalismo é uma grande


mudança de paradigma decorrente do reconhecimento da “força normativa
da Constituição”, passando esse documento a ter, além de força normativa,
um caráter vinculante e de cumprimento obrigatório.

Necessário se faz elencar as principais consequências que foram geradas por esse
movimento constitucionalista, na práxis do Direito Constitucional, podendo elencar
as seguintes:

1ª) Reconhecimento da eficácia dos princípios constitucionais, que passam a


ser concebidos como espécie de norma jurídica.

Os princípios devem ser compreendidos, então, como espécie de norma


constitucional, com caráter amplo, poroso, impreciso, abstrato e indeterminado com
vista concretizar o senso de justiça ou equidade.

Assim, os princípios que antes eram considerados como meras intenções,


recomendações, passam a ser espécies de novas.

2º) Expansão da jurisdição constitucional. E, como bem observado por Luis


Roberto Barroso, “antes de 1945, vigorava na maior parte da Europa um
modelo de supremacia do Poder Legislativo, na linha da doutrina inglesa de
soberania do Parlamento e da concepção francesa da lei como expressão da
vontade geral. A partir do final da década de 40, todavia, a onda
constitucional trouxe não apenas novas constituições, mas também um novo
modelo, inspirado pela experiência americana: o da supremacia da
Constituição” [Op, cit.]

DIREITO CONSTITUCIONAL | 16
3º) Surgimento de uma hermenêutica constitucional, tendo em vista que os
métodos e princípios de interpretação de uma Constituição não são idênticos
ao de interpretação de uma lei, apesar de existir pontos de contato entre eles.

4º) Maior protagonismo do Poder Judiciário, responsável por exigir a


implementação de políticas públicas e das normas constitucionais, que não
podem mais serem consideradas meras promessas do Poder Constituinte
Originário. E esse protagonismo consiste em uma participação maior e mais
intensividade do Poder Judiciário na concretização e efetivação de valores
constitucionais.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 17
4 CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

4.1 ORIGEM

Quanto à origem, as Constituições podem ser classificadas em:

• Outorgadas ou impostas ou ditatoriais ou autocráticas ou Cartas


Constitucionais: São aquelas Constituições que são impostas ao povo por
obra do agente revolucionário-ditatorial, sem qualquer participação popular
na sua formação. Exemplos: Constituições brasileiras de 1824,1937 e 1967 e
a EC nº 01/1969.

• Democráticas ou populares ou promulgadas ou votadas: Ao contrário das


outorgadas, o seu nascimento das Constituições Democráticas é fruto de
amplo debate popular, como concretização do processo democrático.
Exemplos: Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988.

• Cesaristas ou bonapartistas ou plebiscitárias: São pseudo Constituições


democráticas. Isso porque em um primeiro momento são outorgadas por
obra do agente revolucionário-ditatorial. Porém, em um segundo momento,
com o escopo de lhe conferir um caráter de legitimidade, são submetidas a
um referendo popular.

• Dualistas ou Pactuadas: São Constituições fruto de pactos celebrados entre


duas forças antagônicas de poderes, uma que se encontra em ascensão e
outra que se encontra em declínio, em enfraquecimento. Então, um pacto é
celebrado com o escopo de equalizar o exercício do poder.

4.2 FORMA

Quanto à forma, as Constituições podem ser classificadas em escritas ou


instrumentais ou dogmáticas, que, por sua vez, se subdividem em codificadas ou
unitárias e legais ou variadas ou pluritextuais e; não escritas ou costumeiras ou
consuetudinárias.

• Escritas ou instrumentais ou dogmáticas: São as Constituições que foram


elaboradas por um órgão encarregado da tarefa de sistematizar em um
documento solene as matérias que foram eleitas para constar no Texto
Constitucional, subdividindo-se em:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 18
Codificadas ou unitárias, as matérias eleitas se encontram
sistematizadas em um único texto, podendo ser citado como exemplo
a Constituição Federal de 1988 e;

Legais ou variadas ou pluritextuais, as matérias eleitas se encontram


dispersadas em vários documentos solenes.

• Não escritas ou costumeiras ou consuetudinárias ou históricas: São as


Constituições cujas normas estão espalhadas por diversas fontes normativas,
como leis, costumes, jurisprudência, acordos e convenções. Atente-se as
Constituições não escritas possuem, sim, normas escritas. E como exemplo
pode ser citado a Constituição inglesa.

4.3 MODO DE ELABORAÇÃO

Quanto ao modo de elaboração, as Constituições podem ser classificadas em:

• Dogmáticas ou sistemáticas: São as Constituições elaboradas por um órgão


constituído com essa finalidade, de acordo com os dogmas e valores que
estão presentes naquele momento, naquela nação, subdividindo-se em
ortodoxas, que refletem uma única ideologia e heterodoxas ou ecléticas, que
refletem ideologias distintas. Entende-se que a Constituição Federal de 1988
é classificada, quanto ao modo de elaboração, como dogmática heterodoxa.

• Históricas ou costumeiras: São as Constituições criadas de acordo com os


valores históricos consolidados na consciência daquela nação ao longo do
tempo.

4.4 ESTABILIDADE

Quanto à estabilidade, as Constituições podem ser classificadas em:

• Imutável ou granítica ou intocável ou permanente ou eterna: São as


Constituições cujo texto jamais pode ser alterado.

• Superrígida: São as Constituições que possuem um núcleo de normas


imutáveis [cláusulas pétreas], e outro núcleo de normas que apenas podem
ser alteradas por um procedimento legislativo mais dificultoso do que aquele
de alteração da legislação infraconstitucional. Ressalte-se que o Ministro

DIREITO CONSTITUCIONAL | 19
Alexandre de Moraes entende que a Constituição Federal de 1988 é do tipo
superrígida. Porém, essa é uma posição minoritária e o Supremo Tribunal
Federal não a adota pois entende que as matérias previstas em cláusulas
pétreas podem ser alteradas, o que não se permite é a supressão do núcleo
duro do objeto de tutela, isto é, não se permite uma abolição e aniquilação
dos preceitos petrificados.

• Rígida: São as Constituições cujo texto apenas pode ser alterado por um
procedimento legislativo mais dificultoso do que aquele de alteração da
legislação infraconstitucional. A posição majoritária é a de que a Constituição
de 1988 é do tipo rígida.

• Semirrígida ou semiflexível: São as Constituições que possuem um núcleo de


normas que apenas podem ser alteradas por um procedimento legislativo
mais dificultoso do que aquele de alteração da legislação infraconstitucional
e outro núcleo de normas que podem ser alterados da mesma forma que a
legislação infraconstitucional. A Constituição Imperial de 1824 foi um
exemplo do tipo Constituição semirrígida ou semiflexível.

• Flexível: São as Constituições cujo texto é alterado pelo mesmo


procedimento de alteração da legislação infraconstitucional, inexistindo
qualquer peculiaridade que torne seu procedimento de alteração mais
dificultoso.

4.5 CONTEÚDO

Quanto ao conteúdo, as Constituições podem ser classificadas em:

• Material ou substancial: As Constituições que recebem essa classificação se


preocupam, na verdade, em regular os aspectos fundamentais que devem
estruturar um Estado, tais como, forma de Estado, forma de Governo,
estrutura do Estado, organização dos Poderes, Direitos e Garantias
fundamentais, estando tais normas inseridas ou não em um documento
escrito. As normas que regulam os aspectos retromencionados,
independentemente de estarem inseridas em um documento solene
intitulado Constituição, formarão a Constituição material daquele Estado que
adota essa classificação.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 20
Frise que as normas de uma Constituição do tipo material não precisam estar
positivadas em um texto constitucional, podendo estarem em um esparso de
normas, tendo em vista que o que importa aqui é o conteúdo, a essência.

• Formal: As Constituições que recebem essa classificação não se preocupam


exclusivamente com o conteúdo, como as Constituições materiais, mas, sim,
se as normas estão inseridas em um documento escrito solenemente
elaborado e intitulado “Constituição”, ou seja, se preocupam mais com a
forma, com a rotulagem em detrimento da matéria. Em uma Constituição do
tipo formal todas as suas normas possuem caráter constitucional,
independente do conteúdo que estampam.

A Constituição brasileira é classificada tradicionalmente como formal. Porém, por


restringir a Constituição ao que positivado no texto solene, sem importar com o
conteúdo, essa classificação passou a ser criticada pela doutrina, especialmente os
adeptos da Teoria do Bloco de Constitucionalidade.

E essa crítica é bem sintetizada pela doutrina, especialmente, ante a redação do art.
5º, §3º, da Constituição Federal de 1988: “cada vez mais se chega à conclusão de que
a Constituição brasileira não se resume ao texto constitucional aprovado em 1988,
com as supervenientes emendas. Destarte, a Constituição brasileira, que sempre foi
formal, circunscrita ao texto constitucional, está “se materializando”, motivo pelo
qual parte da doutrina entende que, em vez de material ou formal, a Constituição de
1988 passou a ser mista. [Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª edição
2022 (p. 423). Saraiva Jur.]

4.6 EXTENSÃO

Quanto à extensão, as Constituições podem ser classificadas em:

• Analíticas ou prolixas ou extensas ou longas: São Constituições que possuem


conteúdo extenso, tecendo a minucias disposições que poderiam,
perfeitamente, serem tratadas pela legislação infraconstitucional. São
Constituições típicas de estado de bem-estar social.

• Sintéticas ou concisas ou sumárias ou curtas ou breves: São Constituições


que possuem conteúdo curto, restringindo-se a disciplinar os elementos
substancialmente materiais, tais como, forma de Estado, forma de Governo,
estrutura do Estado, organização dos Poderes, Direitos e Garantias
fundamentais. Ex. Constituição norte-americana.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 21
4.7 CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE POLÍTICA E SOCIAL

Quanto à correspondência com a realidade política e social ou classificação


ontológica [Karl Loewenstein], as Constituições podem ser classificadas em A)
Normativas, B) Nominativas ou Nominais e; C) Semânticas, sendo assim
sistematizadas:

• Normativas: São as Constituições que efetivamente conseguem regular o


processo político do Estado e, por consectário, o texto constitucional guarda
perfeita sintonia com a realidade política e social vivenciada por aquela
nação.

• Nominativas ou Nominais: São as Constituições que buscam, que objetivam,


regular o processo político do Estado, mas não conseguem perpetrar esse
escopo.

• Semânticas: São as Constituições que não têm por objetivo regular a o


processo político do Estado, servindo apenas como um instrumento de
manutenção dos agentes políticos no poder.

4.8 FINALIDADE OU FUNÇÃO

Quanto à finalidade ou função, as Constituições podem ser classificadas em:

• Garantia ou funcional ou negativa ou liberais ou texto reduzido: São as


Constituições cujas normas possuem o papel primordial de proteger os
cidadãos contra o poder arbitrário do Estado, garantindo aos cidadãos
liberdades negativas, ou seja, uma não intromissão indevida do Estado na
vida privada do cidadão.

• Constituição-dirigente ou aspiracional ou plástica ou programática: São as


Constituições cujas normas traçam diretrizes que devem nortear a ação
estatal na implementação das políticas públicas.

• Constituição-balanço ou constituição-registro: São as Constituições cujas


normas são destinadas a reger a ordem constitucional de um Estado durante
determinado lapso temporal estabelecido pela própria Constituição.
Ultimado esse prazo, é elaborada uma nova Constituição, com adaptação do
texto para a nova realidade que irá se reger.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 22
4.9 IDEOLOGIA

Quanto à ideologia ou objeto ideológico, as Constituições podem ser classificadas


em:

• Liberais: São Constituições que incorporam o ideal de uma não intervenção


do Estado na ordem econômica e social, sendo marcada pelo ideal do Estado
Mínimo. Ex. Constituição norte-americana.

• Sociais: São as Constituições que incorporam o ideal uma intervenção do


Estado na ordem econômica e social.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 23
5 PODER CONSTITUINTE

5.1 IDEIA INICIAL, TITULARIDADE E CLASSIFICAÇÃO

Segundo José Afonso da Silva, Poder Constituinte “é o poder que cabe ao povo de
dar-se uma constituição. É a mais alta expressão do poder político, porque é aquela
energia capaz de organizar política e juridicamente a Nação”. [Poder Constituinte e
Poder Popular, p. 67.]

O Poder Constituinte deve ser entendido como um gênero, do qual decorrem 4


[quatro] espécies, a saber: A) originário, B) derivado, C) difuso e D) supranacional,
cada um deles desempenhando uma função específica, conforme se demonstrará.

Tratando o Poder Constituinte como gênero, a doutrina moderna, entende que a sua
titularidade pertence ao povo e tal entendimento é extraído do parágrafo único do
art. 1º da Constituição Federal, que assim dispõe: “Todo o poder emana do povo, que
o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.”.

5.2 PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO

IDEIA INICIAL, ESPÉCIES, CLASSIFICAÇÃO, NATUREZA JURÍDICA, CARACTERÍSTICAS,


FORMAS DE EXPRESSÃO

Ideia: O Poder Constituinte Originário, também recebe as nomenclaturas: inicial,


inaugural, genuíno, de 1º grau, e é o responsável por inaugurar, pela primeira vez,
uma ordem constitucional em um determinado Estado, bem como por romper,
completamente, com uma ordem constitucional anterior, inaugurando uma nova
ordem constitucional.

Espécies: A) Histórico ou Fundacional: Responsável por estruturar, pela primeira vez,


uma ordem constitucional em um determinado Estado. B) Revolucionário:
Responsável por romper com uma ordem constitucional inaugurando uma nova
ordem constitucional, ou seja, todas manifestações posteriores ao Poder
Constituinte Histórico ou Funcional são manifestações do Poder Constituinte
Revolucionário.

Natureza Jurídica: Existem duas correntes que divergem sobre a natureza jurídica
do Poder Constituinte Originário, a saber: A) Corrente Positivista e B) Corrente
Jusnaturalista, com as seguintes ideias: Corrente Positivista: Defende que o Poder
Constituinte Originário é um Poder Político, por não ser criado pelo ordenamento
DIREITO CONSTITUCIONAL | 24
jurídico e por ser, então, um poder de fato ou político, que retira seu fundamento
de validade da força social. É a corrente adotada por nosso ordenamento jurídico.
Corrente Jusnaturalista: Defende que o Poder Constituinte Originário é um Poder
Jurídico, haja vista que sua manifestação está subordinada, condicionada às normas
de Direito Natural, um direito que se encontra acima do direito positivo.

Características do Poder Constituinte Originário: O Poder Constituinte Originário


apresenta as seguintes características:

• Inicial: Seja inaugurando, pela primeira vez, uma ordem constitucional em um


determinado Estado, seja rompendo, por completo, com uma ordem
constitucional anterior. Um novo Estado Constitucional sempre será
inaugurado com sua manifestação.

• Autônomo: O Poder Constituinte Originário tem autonomia para eleger as


matérias que estarão presentes na nova ordem constitucional.

• Ilimitado juridicamente: O Poder Constituinte Originário não precisa


respeitar eventuais limites impostos pela ordem constitucional anterior.

• Incondicionado: O Poder Constituinte Originário não se submete a nenhuma


forma de manifestação pré-estabelecida, inexistindo, portanto, forma
condicionada de sua apresentação.

• Poder de Fato / Político: O Poder Constituinte Originário é uma manifestação


da força social, tendo natureza “pré-jurídica”, haja vista que sua manifestação
antecede a elaboração e inauguração da ordem constitucional positiva.

• Latente / Permanente: O Poder Constituinte Originário não se esgota com a


inauguração da nova ordem constitucional, permanece em estado de
latência, de repouso, podendo acordar desse estado a todo e qualquer
momento em que se faça necessário sua atuação.

Formas de expressão: O Poder Constituinte Originário pode se manifestar, em um


ordenamento jurídico, de duas maneiras:

A) Outorga, em que a nova ordem constitucional é imposta por obra


unilateral do agente revolucionário ou;

DIREITO CONSTITUCIONAL | 25
B) Assembleia Nacional Constituinte, também, conhecida por Convenção,
em que existe um processo democrático, plural, para a inauguração da nova
ordem constitucional.

5.3 PODER CONSTITUINTE DERIVADO OU INSTITUÍDO OU DE 2º GRAU

IDEIA INICIAL E ESPÉCIES

Ideia: O Poder Constituinte Derivado, também, recebe as nomenclaturas: instituído,


constituído, secundário, de 2º grau ou remanescente e, por ser uma criação do
Poder Constituinte Originário, tem a função jurídica de alterar formalmente o texto
constitucional e conferir aos Estados-membros a capacidade de elaborarem suas
próprias Constituições Estaduais.

Espécies: O Poder Constituinte Derivado apresenta 3 [três] espécies, a saber: A)


Reformador, B) Decorrente e; C) Revisor.

PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR

Ideia: É o poder jurídico responsável por alterar o texto da Constituição Federal, por
meio de um procedimento formal, decorrente do devido processo legislativo
constitucional, situação que é materializada por meio das Emendas à Constituição.

Art. 60, CF. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:[...]

As principais características do Poder Constituinte Derivado Reformador são as


seguintes:

• Secundário: Tem sua origem na própria Constituição, sendo, portanto, um


poder de direito. Conforme ensina Flávio Martins, “Ao contrário do poder
originário, que, por ser anterior à Constituição, é um poder de fato, e não de
direito, o poder derivado é exatamente o contrário: é um poder de direito,
regulamentado pelo direito.” [Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022
(p. 635). Saraiva Jur.]

• Condicionado: Existe forma preestabelecida na Constituição para a sua


atuação, a fim de que a Constituição possa ser alterada, forma esta
instrumentalizada pelas Emendas à Constituição.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 26
• Limitado: Encontrando-se limites na própria Constituição, conforme será
detalhado no capítulo abaixo.

LIMITAÇÕES AO PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR

O Poder Constituinte Derivado Reformador encontra limitações, a saber: A)


limitações temporais; B) limitações circunstanciais; C) limitações formais ou
procedimentais ou processuais e D) limitações materiais ou substanciais, sendo que
a primeira delas [limitações temporais] é a única que não tem previsão em nosso
ordenamento jurídico, sendo elas detalhadas da seguinte forma:

• Limitações Temporais: Impedem a alteração do texto da Constituição Federal


durante determinado lapso temporal. Essa limitação, como dito, não existe
em nossa atual constituição, porém, já existiu na Constituição do Império de
1824:

Art. 174, Constituição do Império. Se passados quatro annos, depois


de jurada a Constituição do Brazil, se conhecer, que algum dos seus
artigos merece roforma, se fará a proposição por escripto, a qual deve
ter origem na Camara dos Deputados, e ser apoiada pela terça parte
delles.

• Limitações Circunstanciais: Impedem a alteração do texto da Constituição


Federal na vigência de circunstâncias excepcionais, em que a livre
manifestação do poder constituinte esteja ameaçada. Essa limitação está
prevista na Constituição Federal de 1988, no art. 60, §1º:

Art. 60º, §1º, CF: A Constituição não poderá ser emendada na vigência
de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.

• Limitações Formais, procedimentais ou processuais: Impõe a observância de


determinadas formalidades durante o processo de alteração do texto da
Constituição. Elas podem ser:

A) Formais subjetivas: Estão relacionadas a fase de iniciativa da


Proposta de Emenda à Constituição, em situação em que apenas
legitimados especiais podem deflagrar esse procedimento. Essa
limitação está prevista na Constituição Federal de 1988, no art. 60, I a
III:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 27
Art. 60, CF: A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I. de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados
ou do Senado Federal; II. do Presidente da República; III. de mais da
metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação,
manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus
membros.

B) Formais objetivas: Estão relacionadas às formalidades existentes no


procedimento posteriores a fase de iniciativa, quais sejam: quórum de
3/5, dois turnos de votação, não existe sanção ou veto do Presidente,
promulgação e publicação pelas mesas da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal. Essa limitação está prevista na Constituição Federal
de 1988, no art. 60, §§2º e 3º:

Art. 60, §2º, CF: A proposta será discutida e votada em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se
obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.

Art. 60, §3º, CF: A emenda à Constituição será promulgada pelas


Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o
respectivo número de ordem.

• Limitações Materiais ou Substanciais: Impede que determinados conteúdos


sejam retirados do texto da Constituição Federal, com o escopo de preservar
a identidade material da Constituição, proteger institutos e valores essenciais
do Estado, bem como assegurar a continuidade do processo democrático,
sendo que tais disposições são conhecidas como cláusulas pétreas, cláusulas
intangíveis, cláusulas de eternidade, cláusulas entrincheiradas ou cláusulas
encravadas na pedra. Essa limitação está prevista na Constituição Federal de
1988, no art. 60, §4º:

Art. 60º §4º: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda


tendente a abolir: I. a forma federativa de Estado; II. o voto direto,
secreto, universal e periódico; III. a separação dos Poderes; IV. os
direitos e garantias individuais.

Atenção: Cláusulas pétreas implícitas: A doutrina entende que a


impossibilidade A) de se alterar o titular do poder constituinte

DIREITO CONSTITUCIONAL | 28
originário e o titular do poder constituinte derivado reformador, B) de
se violar as próprias limitações expressadas, bem como; C) de se
alterar o Sistema Presidencialista e a Forma Republicana de Governo
são cláusulas pétreas implícitas.

PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE

Ideia: É o poder jurídico, derivado da capacidade de auto-organização dos Estados-


membros, prevista no art. 25 da Constituição Federal e concedido pelo art. 11 do Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias, que permite que esses entes políticos
elaborem suas próprias Constituições Estaduais.

Art. 25, CF. Os Estados organizam-se e regem-se pelas


Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta
Constituição.

Art. 11, ADCT. Cada Assembléia Legislativa, com poderes


constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um
ano, contado da promulgação da Constituição Federal,
obedecidos os princípios desta.

O Poder Constituinte Derivado Decorrente apresenta duas espécies:

A) Inicial, instituidor ou institucionalizador, responsável pela elaboração da


Constituição do Estado;

B) De revisão estadual ou de 2º grau, responsável por alterar o texto da


Constituição do Estado.

Saliente-se que o Poder Constituinte Derivado Decorrente é conferido apenas aos


Estados-membros e ao Distrito Federal, não sendo extensível aos Municípios.

As principais características do Poder Constituinte Derivado Decorrente são as


seguintes:

• Secundário: Tem sua origem na própria Constituição, sendo, portanto, um


poder de direito. Conforme ensina Manoel Gonçalves Ferreira Filho, “ele
retira sua força do Poder Constituinte originário, e não de si próprio, como
ocorre com o Poder Constituinte originário”. [Op. cit., p. 112.]

DIREITO CONSTITUCIONAL | 29
• Condicionado: Como ensina Flávio Martins, “Ao contrário do poder originário,
que não possui formas preestabelecidas de manifestação, o poder decorrente
possui formas já determinadas na Constituição: em se tratando dos Estados,
trata-se das constituições estaduais (art. 25, caput, CF), e, em se tratando do
Distrito Federal, trata-se da Lei Orgânica do Distrito Federal (art. 32, caput,
CF).” [Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 634). Saraiva Jur.]

• Limitado: Encontrando-se limites na própria Constituição, conforme será


detalhado no capítulo abaixo.

LIMITAÇÕES AO PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE

Conforme visto, o art. 25 da Constituição Federal dispõe que “Os Estados organizam-
se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta
Constituição.”

Assim, necessário esclarecer quais os princípios constitucionais que os Estados-


membros devem observar ao elaborarem suas Constituições Estaduais.

E, a observância deve se dar a seguinte linha de princípios:

• Princípios Constitucionais Sensíveis ou Enumerados ou Apontados: São os


limites fixados no art. 34, VII, a-e, da Constituição Federal, a saber:

Art. 34, VII, CF: assegurar a observância dos seguintes princípios


constitucionais: A) forma republicana, sistema representativo e
regime democrático; B) direitos da pessoa humana; C) autonomia
municipal; D) prestação de contas da administração pública, direta e
indireta. E) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de
impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências,
na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços
públicos de saúde.

• Princípios Constitucionais Estabelecidos ou Organizatórios: São as normas


previstas na Constituição Federal que proíbem os Estados-membros de
praticarem determinada conduta, como, por exemplo, a norma prevista do
art. 19 da Constituição Federal que impede o estabelecimento, por Estado-
membro de culto religioso oficial.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 30
Art. 19, CF. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: I. estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-
los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na
forma da lei, a colaboração de interesse público; II. recusar fé aos
documentos públicos; III. criar distinções entre brasileiros ou
preferências entre si.

• Princípios Constitucionais Extensíveis: São as normas previstas na


Constituição Federal que, por simetria devem ser observadas pelos Estados-
membros, como, por exemplo, a forma de investidura em cargos eletivos:

Art. 28, CF. A eleição do Governador e do Vice-Governador de


Estado, para mandato de 4 (quatro) anos, realizar-se-á no primeiro
domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de
outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do
término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 6
de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o
disposto no art. 77 desta Constituição.”

PODER CONSTITUINTE DERIVADO DE REVISÃO

Ideia: Consistiu na possibilidade conferida pelo art. 3º do Ato das Disposições


Constitucionais Transitórias de se realizar uma revisão do texto da Constituição, após
decurso do lapso temporal de 5 anos, da sua promulgação, por um procedimento
mais simplificado do que daquele decorrente das Emendas à Constituição.

Art. 3º, ADCT: A revisão constitucional será realizada após cinco


anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da
maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão
unicameral.

5.4 PODER CONSTITUINTE DIFUSO OU MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL

O Poder Constituinte Difuso deve ser compreendido como um mecanismo informal


de alteração do sentido interpretativo do texto da Constituição Federal,
implementado pela Mutação Constitucional, também conhecida por Vicissitude
Constitucional Tácita ou Mudança Constitucional Silenciosa ou Processo de
Informação de Mudança da Constituição.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 31
A mutação constitucional pode ocorrer de três formas, a saber:

• Mudança de interpretação da Constituição;


• Praxe constitucional;
• Construção constitucional.

Mudança de interpretação da Constituição: De acordo com Flávio Martins,


“Hipótese mais frequente, a mudança da interpretação da Constituição pode ser feita
por qualquer intérprete da Constituição, mas principalmente pelo Judiciário (e, claro,
pelo guardião da Constituição Federal, o STF). Embora o texto constitucional
permaneça o mesmo, a interpretação do texto é alterada.” [Curso de direito
constitucional - 6ª edição 2022 (p. 651). Saraiva Jur.]

Praxe constitucional: De acordo com o autor citado, “a praxe constitucional é uma


reiteração de atos políticos que acabam por alterar o sentido da Constituição, sem
alteração do seu texto. [Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 656).
Saraiva Jur.]. E exemplifica da seguinte forma: “Exemplo contemporâneo de mutação
constitucional decorrente da praxe constitucional é a devolução da Medida
Provisória, claramente inconstitucional, pelo presidente do Senado Federal (que
também é o presidente do Congresso Nacional). Embora não haja previsão
constitucional para tal, tornou-se uma prática política brasileira o ato do presidente
do Senado diante de uma Medida Provisória claramente inconstitucional editada
pelo presidente da República, que, em vez de ser submetida à análise do Congresso
Nacional, é imediatamente devolvida ao Chefe do Poder Executivo.”

Construção constitucional: É uma criação doutrinária ou jurisprudência, inovadora,


do sentido da Constituição, como ocorreu na Constituição de 1891 com a “teoria
brasileira do habeas corpus”. Segundo José Afonso da Silva, “a construção
constitucional é uma forma de interpretação fecunda na medida em que, partindo
de uma compreensão sistemática de princípios e normas constitucionais, constrói
instituições explicitamente não previstas”.

5.5 PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL OU TRANSNACIONAL

O professor Marcelo Neves demonstra a tendência mundial de superação do


“constitucionalismo provinciano ou paroquial pelo transconstitucionalismo”, mais
adequado para solução dos problemas de direitos fundamentais ou humanos e de
organização legítima de poder.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 32
E, assim, baseado, na ideia de uma cidadania universal, fala-se em um Poder
Constituinte Supranacional, que transcende os limites geográficos de um Estado,
regendo diversas nações.

De acordo com Flávio Martins, “Consiste na elaboração de uma só Constituição


aplicável a vários países. Cada país abre mão de uma parcela de autonomia, elege
seus representantes que farão parte de uma Assembleia Legislativa Transnacional e
elaboram uma só Constituição. Trata-se de uma decorrência do processo de
globalização, experimentado principalmente na União Europeia.” [Curso de direito
constitucional - 6ª edição 2022 (pp. 660-661). Saraiva Jur.]

DIREITO CONSTITUCIONAL | 33
6 APLICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS NO TEMPO

NORMAS CONSTITUCIONAIS NO TEMPO

A atuação do Poder Constituinte Originário, ao elaborar uma nova Constituição e


romper completamente com a ordem constitucional anterior, criando uma nova
ordem constitucional, promove o surgimento de um novo Estado

Nesse momento, com o surgimento de uma nova ordem constitucional, três efeitos
se estabelecem, a saber:

• 1º efeito: Ocorre a revogação integral da Constituição anterior, ou seja, a


Constituição anterior é extirpada completamente do ordenamento jurídico.

• 2º efeito: A legislação infraconstitucional editada sob a égide da antiga ordem


constitucional, caso seja compatível materialmente com a nova ordem
constitucional, será por ela recepcionada. Necessário salientar que para a
recepção da legislação infraconstitucional é necessário apenas uma
compatibilidade material dela com a Constituição, não sendo necessário uma
compatibilidade formal. Veja que o Código Tributário Nacional [Lei
5.172/1966] foi editado na vigência da Constituição de 1946, com a roupagem
de Lei Ordinária, e apesar da Constituição Federal de 1988 prever a
necessidade de edição de Lei Complementar para o estabelecimento de
normas gerais sobre Direito Tributário, o Código Tributário foi em grande
parte recepcionado, naquilo em que suas normas guardassem
compatibilidade material com a atual ordem constitucional.

• 3º efeito: A legislação infraconstitucional editada sob a égide da antiga ordem


constitucional, caso seja materialmente incompatível com a nova ordem
constitucional, serão por ela tácita e automaticamente revogadas, por
ausência de recepção.

Além dos três efeitos acima mencionados, necessário o conhecimento da definição


dos institutos jurídicos da desconstitucionalização, recepção e repristinação de
normas, sendo assim apresentados:

• Desconstitucionalização: Essa teoria que, diga-se de passagem, não é


adotada pelo nosso ordenamento jurídico, defende que a nova Constituição
não revoga as normas da Constituição anterior, mas as recepciona, porém,
com status infraconstitucional.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 34
Interessante pontuar que Jorge Miranda ensina sobre o fenômeno da “recepção
material de norma constitucional”, em que uma nova Constituição pode determinar
que parte da Constituição pretérita permaneça em vigor, ainda que por pouco
tempo, com status constitucional.

• Recepção: Quando da inauguração de uma nova ordem jurídica, a legislação


infraconstitucional com ela compatível materialmente é por ela
recepcionada.

Saliente-se que a legislação infraconstitucional anterior à nova Constituição com


essa incompatível será não recepcionada.

Ressalte-se que, com apego ao tecnicismo, necessário destacar que esse fenômeno
não se trata de uma revogação de normas, haja vista que a revogação apenas ocorre
com atos da mesma hierarquia e natureza, ou seja, apenas uma lei ordinária revoga
uma lei ordinária.

• Repristinação: O fenômeno da repristinação consiste em volver vigência à


normas que já foram revogadas, destacando que esse fenômeno só é
admitido de forma excepcional e desde que expressamente.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 35
7 APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

Inicialmente, necessário salientar que toda e qualquer norma constitucional


apresenta juridicidade, possuindo eficácia, seja jurídica ou social, distinguindo-se
apenas no grau de eficácia.

E feito esse alerta, podemos então passar a análise das principais classificações sobre
a aplicabilidade das normas constitucionais.

7.1 DOUTRINA NORTE-AMERICANA

A clássica doutrina americana, seguida por Ruy Barbosa, distingue as normas


constitucionais, quanto a sua aplicabilidade, em duas espécies:

• Normas autoexecutáveis ou self-executing ou self-enforcing ou self acting


ou autoaplicáveis ou bastantes em si: São normas constitucionais completas,
bastantes em si mesmas, podendo ser aplicadas de pronto, sem necessidade
de regulamentação pela legislação infraconstitucional.

• Normas não-autoexecutáveis ou not self-executing ou not silf-acting ou não


autoexecutáveis ou não aplicáveis ou não bastantes em si: São normas
constitucionais incompletas, que não são bastantes em si mesmas, haja vista
que necessitam da existência de legislação infraconstitucional,
regulamentando o preceito constitucional, para serem aplicadas.

7.2 DOUTRINA DE JOSÉ AFONSO DA SILVA

O professor José Afonso da Silva, em sua obra de monografia, intitulada


Aplicabilidade das Normas Constitucionais, as classificou da seguinte forma: A)
Normas de eficácia plena; B) Normas de eficácia contida e; C) Normas de eficácia
limitada.

NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA PLENA

Desde a entrada em vigor do Texto Constitucional, essa norma produz ou tem a


possibilidade de produzir todos os seus efeitos, citando, como exemplo, a seguinte
norma constitucional: Art. 5º, II, CF: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. As normas de eficácia plena possuem as
seguintes características:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 36
• Autoaplicabilidade: Não dependem de legislação infraconstitucional
posterior regulamentadora para que seus efeitos sejam alcançados;

• Não restringíveis: Por mais que venha a ser elaborada uma legislação
abordando o assunto tratado pela norma constitucional, esta jamais poderá
restringir a aplicação de seus efeitos;

• Aplicabilidade direta, imediata e integral: Não dependem de norma


regulamentadora para produzir seus efeitos, sendo aplicada ao caso concreto
sem intermediação legislativa; estão aptas a produzir seus efeitos desde o
momento em que é promulgada a Constituição Federal e; por não podem
sofrer limitações ou restrições por eventual legislação infraconstitucional.

NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA CONTIDA OU PROSPECTIVA OU


REDUTÍVEL OU RESTRINGÍVEL

Desde a entrada em vigor do Texto Constitucional, essa norma tem a possibilidade


de produzir todos os seus efeitos, porém, pode vir a ter os seus efeitos restringidos,
contidos, por regulamentação legal posterior, citando, como exemplo, a seguinte
norma constitucional: Art. 5º, XIII, CF: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício
ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.

Veja que a norma constitucional assegura a liberdade constitucional e, desde 5 de


outubro de 1988, todos poderiam exercer qualquer trabalho, ofício ou profissão.
Porém, em determinadas situações, em que está presente um potencial lesivo da
atividade profissional a ser exercida, restrições ao exercício profissional pode incidir,
como é o caso do desempenho da profissão de médico.

As normas de eficácia contida possuem as seguintes características:

• Autoaplicabilidade, por não dependerem de legislação infraconstitucional


posterior regulamentadora para que seus efeitos sejam alcançados, ou seja,
antes de eventual e futura regulamentação os direitos decorrentes daquela
norma constitucional podem ser exercitados de maneira plena, sendo que
apenas após eventual regulamentação é que haverá eventual restrição ao
exercício do direito;

• Restringíveis, haja vista que estão sujeitas a restrições ou limitações de


efeitos, seja por uma legislação infraconstitucional ou por outra norma
constitucional;

DIREITO CONSTITUCIONAL | 37
• Aplicabilidade direta, imediata e, possivelmente, não integral,
respectivamente, não dependem de norma regulamentadora para produzir
seus efeitos, sendo aplicada ao caso concreto sem intermediação legislativa;
estão aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que é
promulgada a Constituição Federal e; estão sujeitas a limitações ou
restrições.

Importante consignar que a legislação infraconstitucional que pode restringir o


alcance de uma norma constitucional de eficácia contida deve observar o seguinte:

A) Não pode aniquilar o direito, ou seja, seu núcleo essencial deve ser
preservado;

B) A restrição deve ser razoável e proporcional.

NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA

Com a entrada em vigor do Texto Constitucional, essa norma não tem a possibilidade
de produzir os seus efeitos, necessitando, para tanto, de regulamentação futura por
legislação infraconstitucional, citando, como exemplo, a seguinte norma
constitucional: Art. 37, VIII, CF: “o direito de greve será exercido nos termos e nos
limites definidos em lei específica”.

As normas de eficácia limitada possuem as seguintes características:

• Não-autoaplicabilidade, por dependerem de legislação infraconstitucional


posterior regulamentadora para que seus efeitos sejam alcançados, ou seja,
antes de eventual e futura regulamentação os direitos decorrentes daquela
norma constitucional não podem ser exercitados, sendo que apenas após
eventual regulamentação é que haverá a possibilidade, em regra, do exercício
do direito;

• Aplicabilidade indireta, mediata e não integral, haja vista que,


respectivamente, dependem de norma regulamentadora para produzir seus
efeitos, sendo aplicada ao caso concreto somente com intermediação
legislativa; a promulgação da Constituição Federal não é suficiente para que
possam produzir todos os seus efeitos e; possuem um grau de eficácia restrito
quando da promulgação do Texto Constitucional.

Ressalte-se que o professor José Afonso da Silva subdividiu as normas de eficácia


limitada em dois grupos:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 38
• Normas declaratórias de princípios institutivos ou organizativos: São as
normas constitucionais que dependem da regulamentação por legislação
infraconstitucional para que instituições e órgãos previstos na Constituição
Federal venham a ser estruturados e organizados, citando, como exemplo, a
seguinte norma constitucional: Art. 88: “A lei disporá sobre a criação e
extinção de Ministérios e órgãos da administração pública.”.

• Normas declaratórias de princípios programáticos ou normas


programáticas: São as normas constitucionais que estabelecem programas a
serem desenvolvidos pelo legislador infraconstitucional na execução de
políticas públicas, citando, como exemplo, a seguinte norma constitucional:
Art. 196. “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação.”

Saliente-se que mesmo recebendo a classificação de normas constitucionais de


eficácia limitada, elas, como dito, possuem eficácia jurídica, sendo dotadas de dois
efeitos: A) Efeito Negativo: Consiste na revogação de disposições anteriores em
sentido contrário e na proibição de leis posteriores que se oponham a seus
comandos. B) Efeito Vinculativo: Consistente na obrigação de que o legislador
infraconstitucional venha a editar a legislação regulamentando o preceito
constitucional.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 39
8 INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO

8.1 CLASSIFICAÇÕES DA INTERPRETAÇÃO

QUANTO AO SUJEITO

Quanto ao sujeito, a interpretação pode ser classificada em A) doutrinária, B)


judicial; C) autêntica; D) aberta, que pode ser sistematizada da seguinte forma:

• Doutrinária: É a interpretação feita pela doutrina, por meio de livros,


pareceres, artigos e outros. De acordo com Luis Roberto Barroso, é o
“produto do trabalho intelectual dos jurisconsultos, professores e escritores
em geral. Também os advogados, elaborando teses jurídicas e ousando
criativamente na defesa dos interesses que patrocinam, prestam importante
contribuição de cunho doutrinário.” [Interpretação e Aplicação da
Constituição, p. 118.]

• Judicial: É a interpretação realizadas pelos Magistrados, Tribunais e Cortes


Superiores.

• Autêntica: É a interpretação que é conferida pelo próprio legislador [lei


interpretativa].

• Aberta: É a interpretação realizada por aqueles que são seus destinatários. É


uma classificação que decorre de teoria elaborada por Peter Harbele,
denominada Sociedade Aberta dos Intérpretes Constitucionais, que entende
que a interpretação da norma constitucional não pode ser realizada apenas
pelo Poder Judiciário, mas por todos os seus destinatários.

QUANTO AOS EFEITOS

Quanto aos efeitos, a interpretação pode ser classificada em A) declarativa; B)


restritiva e C) extensiva, que pode ser sistematizada da seguinte forma:

• Declarativa: A interpretação não reduz, nem amplia, o sentido da norma


constitucional.

• Restritiva: A interpretação reduz o sentido da norma constitucional, haja


vista que o legislador disse mais do que pretendida.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 40
• Extensiva: A interpretação elastece o sentido da norma constitucional, haja
vista que o legislador disse menos do que pretendia.

8.2 CORRENTES INTERPRETATIVAS NORTE AMERICANAS

INTERPRETATIVISTAS E NÃO INTERPRETATIVISTAS

Existem duas correntes doutrinárias que se posicionam em relação a interpretação


da Constituição pelos Magistrados, a saber: A) interpretativistas e B) não-
interpretativistas, sendo assim sistematizadas: Interpretativistas: Os
interpretativistas entendem que os Magistrados devem limitar sua atuação à análise
e aplicação dos preceitos constitucionais, não podendo, quando da realização da
atividade judicante, promover uma atividade hermenêutica que transcenda o que
diz a literalidade do texto legal. Não-interpretativistas: Os não-interpretativistas
entendem que os Magistrados devem pautar suas atuações dentro dos ideais de
justiça, liberdade e igualdade e para aplicação efetiva desses valores é dado ao
Magistrado uma autonomia que lhe permite transcender o que diz a literalidade do
texto legal.

8.3 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL

Para promover uma interpretação do texto constitucional, além das técnicas de


interpretação clássica [gramatical, histórica, teleológica, dentre outras], métodos
próprios e específicos devem ser utilizados.

8.4 MÉTODO CLÁSSICO

MÉTODO JURÍDICO OU HERMENÊUTICO CLÁSSICO

Método de interpretação desenvolvido por Friedrich Carl von Savigny e Ernest


Forsthoff, que apresenta a ideia de que a norma constitucional deve ser interpretada
da mesma forma como o é a legislação infraconstitucional, podendo ser, então,
adotados os métodos A) literal ou gramatical; B) lógico; C) teleológico; D) histórico
e; E) sistemático, que podem ser sistematizados da seguinte forma:

• Literal ou gramatical: Interpretação que consiste em utilizar a etiologia da


palavra, com o uso das técnicas gramaticais.

• Lógico: Interpretação que se utiliza de raciocínios lógicos.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 41
• Teleológico: Interpretação que objetiva extrair os fins, os escopos, os
propósitos da norma.

• Histórico: Interpretação que busca a vontade existente no momento da


elaboração da norma.

• Sistemático: Interpretação que considera a norma dentro do arcabouço


normativo que ela está inserida e não isoladamente.

8.5 MÉTODOS PRÓPRIOS

Os métodos próprios de interpretação da norma constitucional consistem nos


seguintes:

MÉTODO TÓPICO PROBLEMÁTICO

Método de interpretação desenvolvido por Thedor Viehweg que ensina que o


intérprete parte de um problema para chegar à norma.

MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR

Método de interpretação desenvolvido por Konrad Hesse que ensina que o


intérprete parte de uma pré-compreensão da norma constitucional para solucionar
o problema.

CIENTÍFICO ESPIRITUAL OU INTEGRADOR

Método de interpretação desenvolvido por Rudolf Smend que ensina que se deve
buscar valores implícitos existentes na Constituição. E J. J. Gomes Canotilho ensina
que “o recurso à ordem de valores obriga a uma ‘captação espiritual’ do conteúdo
axiológico último da ordem constitucional. A ideia de que a interpretação visa não
tanto dar resposta ao sentido dos conceitos do texto constitucional, mas
fundamentalmente compreender o sentido e realidade de uma lei constitucional,
conduz à articulação desta lei com a integração espiritual real da comunidade (com
os seus valores, com a realidade existencial do Estado).” [Op. cit., p. 1196.]

MÉTODO NORMATIVO ESTRUTURANTE

Método de interpretação desenvolvido Friedrich Muller que ensina que a norma não
se confunde com o texto, sendo esse apenas a ponta do iceberg, devendo, portanto,

DIREITO CONSTITUCIONAL | 42
o intérprete buscar compreender todo o domínio normativo, conhecendo a
realidade social.

8.6 PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL

Para promover uma interpretação do texto constitucional, além dos métodos acima
mencionados, princípios próprios e específicos devem ser aplicados, a saber:

• Princípio da Unidade da Constituição: A Constituição é una, devendo ser


interpretada como um todo e não deve ter suas normas interpretadas de
maneira isolada, de forma a evitar eventual contradição entre as normas
constitucionais, de modo que eventual conflito entre normas constitucionais
será sempre aparente. Com apoio no Princípio da Unidade da Constituição,
extrai-se a conclusão de:

1ª) Inexistência hierárquica entre normas Constitucionais;


2ª) Inexistência de normas constitucionais originárias
inconstitucionais.

• Princípio da Eficiência ou Máxima Efetividade: O intérprete da norma


constitucional deve extrair e atribuir o sentido que lhe confira a maior
efetividade social possível, maximizando seus efeitos e extraindo todas as
suas potencialidades.

• Princípio da Justeza ou Conformidade Funcional ou da Correição Funcional:


O agente ou órgão encarregado de interpretar a norma constitucional jamais
pode chegar a uma conclusão que subverta, que altere, o esquema
organizatório traçado pelo Poder Constituinte Originário. Ou seja, por meio
de uma interpretação, as regras de competência estabelecidas
originariamente jamais podem ser alteradas.

• Princípio da Concordância Prática ou Harmonização: Os bens jurídicos


protegidos constitucionalmente devem ser harmonizar e em caso de conflito
deve ser analisado na aplicação do caso concreto, acautelando-se para que
não haja o sacrifício total de um deles em detrimento do outro. Com esse
princípio compatibiliza-se direitos fundamentais que, eventualmente,
estejam em conflito.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 43
• Princípio da Força Normativa: De acordo com Konrad Hesse, toda norma
Constitucional é revestida de real eficácia jurídica e não poderia ser diferente,
caso contrário, figuraria apenas como “letra morta em papel”.

• Princípio da Interpretação conforme à Constituição: Diante de uma norma


infraconstitucional plurissignificativa, também, conhecida como polissêmica,
ou seja, que permite diversas interpretações, a interpretação que deve
prevalecer é aquela que mais se aproxime do sentido que lhe preserve sua
constitucionalidade. Essa também é uma leitura do Princípio da Economia
Legislativa ou Princípio da Conservação das Normas, permitindo a
conservação da norma no ordenamento jurídico, com prevalência da
Constituição. Saliente-se que a aplicação desse princípio não pode resultar
em uma interpretação totalmente separada daquela objetivada pelo
Legislador, sob pena de ofensa ao Princípio da Separação dos Poderes.

Existem duas modalidades de interpretação conforme a Constituição:

A) Com redução de texto e;


B) Sem redução de texto.

Sobre a primeira modalidade, a doutrina ensina que “o Judiciário, malgrado


considere a norma constitucional, entende que um pequeno trecho, uma palavra, é
inconstitucional, suprimindo-a, portanto.” Martins, Flávio. Curso de direito
constitucional - 6ª edição 2022 (p. 747). Saraiva Jur.

Sobre a segunda modalidade, a doutrina ensina que “Trata-se da verdadeira


interpretação conforme à Constituição, pois, nesse caso, o Judiciário não declara
parte da lei inconstitucional. Apesar de existir interpretação plausível pela
inconstitucionalidade da norma, o Judiciário opta pela interpretação segundo a qual
a lei é constitucional. [Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª edição
2022 (p. 748). Saraiva Jur.]

E a interpretação conforme à Constituição sem redução de texto ainda apresenta


duas subespécies:

A) Com fixação da interpretação constitucional, em que o Poder Judiciário


entende que a norma é constitucional desde que interpretada da forma como
fixada e;

DIREITO CONSTITUCIONAL | 44
B) Com exclusão da interpretação inconstitucional, em que o Poder Judiciário
entende que a norma é constitucional desde que não interpretada de certa
maneira.

• Princípio do Efeito Integrador: A interpretação sempre deve ser responsável,


de mordo que a integridade política e social sempre seja preservada.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 45
9 DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO: SENTIDOS,
CONSTITUCIONALISMO, NORMAS CONSTITUCIONAIS
INCONSTITUCIONAIS, ESTRUTURA E ELEMENTOS

9.1 SENTIDOS CLÁSSICOS E MODERNOS DE CONSTITUIÇÃO

Quando se estuda os sentidos clássicos da Constituição, necessário se faz promover


uma associação do autor com o sentido por ele proposto:

• Sentido Sociológico: Ideia: A Constituição não pode ser compreendida


simplesmente como uma norma jurídica, mas, sim, como um fato social. E,
para tanto, Ferdinand Lassale promoveu a distinção entre Constituição real e
efetiva x Constituição escrita ou jurídica. A Constituição real e efetiva seria a
soma dos fatores reais de poder que dominavam determinada sociedade em
determinada época, ou seja, a Constituição era o que a nobreza, o clero, a
burguesia, os militares, quando estavam no poder, diziam ser constituição.
Ao passo que a Constituição escrita ou jurídica tinha a missão de reunir, em
um documento formal, os fatores reais de poder que dominavam aquela
sociedade. E diante disso, caso a Constituição escrita ou jurídica não refletisse
em seu texto os fatores reais de poder vigentes, não passaria de mera “folha
de papel”. Assim, de acordo com o autor, a Constituição deve ser
compreendia mais como um fato social do que como uma norma jurídica,
priorizando o ser em detrimento do dever ser, devendo corresponder aquilo
que é fruto dominante em uma sociedade.

• Sentido político: Ideia: A Constituição deve ser compreendida como uma


decisão política fundamental, deve ser compreendida como as normas que
estruturam e organizam os elementos fundamentais de um Estado. E para
tanto, Carl Schmitt promoveu a distinção entre Constituição x Leis
constitucionais. A Constituição corresponderia àquelas normas de grande
envergadura constitucional, como, por exemplo, os direitos e garantias
fundamentais, as normas referentes a organização do estado, bem como as
normas referentes à separação dos poderes. Ao passo que as Leis
constitucionais seriam aquelas normas que formalmente estão inseridas
dentro do texto constitucional, porém, são de envergadura menor, haja vista
que poderiam, perfeitamente, serem disciplinadas, exclusivamente, pela
legislação infraconstitucional. Exemplo: Se Carl Schmitt, analisasse a
Constituição Federal de 1988, classificaria o art. 242, §2º como uma lei

DIREITO CONSTITUCIONAL | 46
constitucional, mas classificaria o art. 5º como Constituição, propriamente
dita. Art. 242, §2º, CF. O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de
Janeiro, será mantido na órbita federal.

• Sentido jurídico: Ideia: A Constituição deve ser entendida como uma norma
jurídica pura, que não sofre influência de qualquer consideração de cunho
social, cultural, político, ideológico, apenas caráter normativo, um dever-ser.
O intérprete não deve analisar a qualidade da norma [boa ou má, moral ou
imoral] porque tal análise estaria fora do Direito. E, para tanto, Kelsen
promoveu a distinção entre Constituição no sentido lógico-jurídico x
Constituição no sentido jurídico-positivo. A Constituição no sentido lógico-
jurídico seria a norma hipotética fundamental, que estaria no mundo do
pressuposto e que serviria de fundamento lógico transcendental para a
Constituição no sentido jurídico-positivo. E essa seria a norma suprema,
localizada no ápice da pirâmide normativa. Todas as normas que lhe estão
abaixo lhe devem obediência, devendo harmonizar com seus ditames, sob
pena de serem consideradas inconstitucionais. A Constituição no sentido
lógico-jurídico não encontra fundamento de validade no direito posto, mas,
sim, no plano do pressuposto lógico, em valores metajuridicos. Seria algo no
seguinte sentido: “cumpra-se a Constituição e as leis”. Assim, resultou a
criação da Teoria da Construção Escalonada do Ordenamento Jurídico.

9.2 TEORIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS INCONSTITUCIONAIS

Aproveitando a relação com os temas, Sentidos Político e Jurídico da Constituição,


idealizados, respectivamente, por Carl Schmitt e Hans Kelsen, necessário destacar
que não existe hierarquia entre normas constitucionais originárias e derivadas. E
todas elas, até mesmo o citado art. 242, §2º, da Constituição Federal possuem o
mesmo status hierárquico normativo.

Porém, merece destaque a teoria elaborada pelo alemão Otto Bachof, denominada
Normas constitucionais inconstitucionais, em que é feita a defesa da possibilidade
de existir normas constitucionais originárias inconstitucionais.

Otto Bachof defende a existência de duas espécies de normas constitucionais: A) As


cláusulas pétreas, que não podem ser abolidas do texto magno e; B) As normas
constitucionais originárias

DIREITO CONSTITUCIONAL | 47
E com base nessa distinção, Bachof defende que as cláusulas pétreas seriam
superiores às demais normas constitucionais e que, portanto, poderiam servir de
parâmetro de constitucionalidade para as normas constitucionais originárias.

Assim, para o citado autor, normas constitucionais originárias poderiam ser


declaradas inconstitucionais caso fossem de encontro com eventual norma
insculpida em dispositivo constitucional de cláusula pétrea.

Porém, necessário salientar que o ordenamento jurídico brasileiro não acolhe a


mencionada teoria, estando aqui as cláusulas pétreas no mesmo patamar
hierárquico das demais normas constitucionais originárias.

9.3 ESTRUTURA

De uma maneira geral e analisando especialmente a Constituição Federal de 1988, é


possível dividi-la em 3 [três] partes, a saber:

1ª Parte: Preâmbulo: Parte da Constituição que não se encontra no domínio do


Direito, que se encontra no domínio da política, sendo apenas uma consagração da
ideologia que marcava o pensamento do Poder Constituinte Originário no momento
da promulgação do texto constitucional, podendo ser utilizado, no máximo, como
vetor interpretativo das demais normas constitucionais, nada mais por não estar,
como dito, no âmbito do Direito.

Três teorias discutem sobre a natureza jurídica do Preâmbulo da Constituição


Federal de 1988, a saber:

Teoria da irrelevância jurídica: Entende que o Preâmbulo da Constituição se


encontra no domínio da política, consagrando apenas o pensamento que
permeava os ideais do Poder Constituinte Originário naquele momento.

Teoria da plena eficácia: Entende que o Preâmbulo da Constituição se


encontra no domínio do Direito e possui a mesma eficácia jurídica de
qualquer outra norma existente na parte dogmática ou nas disposições
transitórias.

Teoria da relevância jurídica indireta: Entende que o Preâmbulo da


Constituição se encontra no domínio do Direito, tendo, portanto, natureza
jurídica, mas diferindo das demais normas constitucionais, por não possuir a
mesma relevância e eficácia jurídica das normas existentes na parte
dogmática ou nas disposições transitórias.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 48
Das três teorias acima, que discutem sobre a natureza jurídica do Preâmbulo da
Constituição, a doutrina majoritária, bem como o Supremo Tribunal Federal
adoraram a Teoria da irrelevância jurídica.

2ª Parte: Dogmática: A parte dogmática da Constituição é o seu texto constitucional


propriamente dito, e no nosso caso, na Constituição Federal de 1988 vai do art. 1º
ao art. 250, que se inicia com os Fundamentos da República Federativa do Brasil e
finaliza no estudo atinente aos Índios.

3ª Parte: Transitória: Com o escopo de evitar a ocorrência de um colapso normativo


em virtude da instauração de uma nova ordem constitucional, a parte transitória das
Constituições visa, em regra, promover uma integração entre a antiga ordem
constitucional à nova ordem constitucional. No nosso caso, na Constituição Federal
de 1988 são os 144 [cento e quarenta e quatro] artigos que compõe os Atos das
Disposições Constitucionais Transitórias.

9.4 ELEMENTOS

Apesar de a Constituição ser una, a doutrina a divide em elementos, a fim de


promover uma sistematização do todo para fins didáticos. E, com base na doutrina
do professor José Afonso da Silva, os elementos constitucionais foram agrupados em
5 [cinco] categorias, a saber:

• Elementos orgânicos: São as normas constitucionais que regulamentam a


organização e estruturação do Estado e do Poder. E na nossa Constituição
Federal estão previstos no “Título III”, que trata da organização do Estado,
bem como no “Título IV”, que trata da organização dos Poderes.

• Elementos limitativos: São as normas constitucionais que limitam os poderes


do Estado, além de garantirem a efetivação de Direitos Fundamentais. E na
nossa Constituição Federal estão previstos no “Título II”, que trata dos
Direitos e Garantias Individuais e Coletivos; Direitos da Nacionalidade e
Direitos Políticos e dos Partidos Políticos. Atenção: O Título II da Constituição
Federal prevê, também, Direitos Sociais, que são liberdades positivas,
prestações positivas que devem ser implementadas pelo Estado em favor do
cidadão. E tais direitos, apesar de previstos no Título II não podem ser
considerados como elementos limitativos.

• Elementos socioideológicos: São as normas constitucionais que objetivam


que um estado de bem-estar social seja alcançado, ou seja, são normas que
preveem prestações positivas que devem ser implementadas pelo Estado em
DIREITO CONSTITUCIONAL | 49
favor do cidadão. E na nossa Constituição Federal estão previstos no “Título
II”, especificamente em seu Capítulo II, das normas que tratam sobre os
Direitos Sociais, além de estarem previstas, também, no Título VII, intitulado
Da Ordem Econômica e Financeira, bem como no Título VIII, intitulado Da
Ordem Social.

• Elementos de estabilização constitucional: São as normas jurídicas


constitucionais que são destinadas a promover uma solução de eventual
conflito constitucional, além de promover uma defesa da própria
Constituição Federal, bem como das instituições democráticas. E na nossa
Constituição Federal podem ser extraídos como elementos de estabilização
constitucional as normas referentes ao controle de constitucionalidade, que
objetivam a defesa do texto da constituição, bem como aquelas relacionadas
a intervenção em entes políticos:

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a


guarda da Constituição, cabendo-lhe: I. processar e julgar,
originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo federal ou estadual e a ação declaratória de
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;

Art. 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal,
exceto para: [...];

Art. 35, CF. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos
Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:

• Elementos formais de aplicabilidade: São as normas constitucionais que


estabelecem regras da aplicação de institutos previstos na própria
Constituição. E na nossa Constituição Federal está previsto, por exemplo, no
art. 5º, §1º, que assim dispõe:

Art. 5º, §1º, CF. As normas definidoras dos direitos e garantias


fundamentais têm aplicação imediata.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 50
10 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

10.1 INTRODUÇÃO

O primeiro título da Constituição Federal é denominado “Dos Princípios


Fundamentais” e se refere aos valores basilares que orientaram tanto a elaboração,
quanto os passos presentes e futuros que devem ser realizados pela República
Federativa do Brasil.

Esse título é dividido basicamente em 3 [três] institutos fundamentais, a saber: A)


Fundamentos da República Federativa do Brasil; B) Objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil; C) Princípio de regência das relações internacionais.

10.2 FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Os fundamentos da República Federativa do Brasil são apresentados no art. 1º da


Constituição Federal e representam os pilares, a base, do nosso ordenamento
jurídico constitucional.

O art. 1º da Constituição Federal apresenta a seguinte redação:

Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I. a
soberania; II. a cidadania; III. a dignidade da pessoa humana; IV. os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V. o pluralismo
político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.

Antes de analisar especificamente os fundamentos da República Federativa do


Brasil, necessário compreendermos pontos específicos do caput do art. 1º, referente
à:

• Forma de Governo e;
• Forma de Estado.

Forma de Governo: Existem duas formas de governo: A) Monarquia e; B) República.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 51
• Monarquia: Em uma Monarquia temos o governo de “um só”, em que o
poder é concentrado na figura do Rei. Essa forma de governo apresenta as
seguintes características: 1) Irresponsabilidade política do governante; 2)
Transmissão do poder pelo vínculo de hereditariedade e; 3) Permanência no
poder de maneira vitalícia.

• República: A forma de governo republicana foi idealizada para implementar


a soberania popular, haja vista que o governante administra a res pública, ou
seja, a coisa pública, um bem que não pertence a ele, mas, sim, a toda a
coletividade. Essa forma de governo apresenta as seguintes características:
1) Responsabilidade política do governante, pelos seus atos de governo e
gestão; 2) Poder recebido pelo critério da eletividade, ou seja, por meio de
eleições populares e; 3) Permanência no poder de maneira temporária

Forma de Estado: Conforme ensinamentos do professor José Afonso da Silva, “O


modo de exercício do poder político em função do território dá origem ao conceito
de forma de Estado. Se existe unidade de poder sobre o território, pessoas e bens,
tem-se Estado unitário. Se, ao contrário, o poder se reparte, se divide, no espaço
territorial (divisão espacial de poderes), gerando uma multiplicidade de organizações
governamentais, distribuídas regionalmente, encontramo-nos diante de uma forma
de Estado composto, denominado Estado federal ou Federação de Estados”. Assim,
percebe-se a existência de duas formas de estado:

• Estado Unitário: Existe apenas um centro de poder, ou seja, apenas um


poder para toda população. A tomada de decisões fica a cargo do Governo
Nacional. No Brasil, a forma de estado unitária foi adotada na Constituição
de 1824, sendo abolida apenas em 1889. Hoje, em direito comparado, temos
um Estado Unitário, por exemplo, na França, Chile, Uruguai e Paraguai.

• Estado composto: Existe mais de um centro de poder e se apresenta com as


seguintes espécies:

Confederação: Espécie de estado composto que se origina em um


tratado internacional, sendo que as suas unidades parciais são dotadas
de soberania, possuindo, portanto, o direito de secessão, ou seja, a
permissibilidade de se desvencilhar do todo.

Federação: Espécie de estado composto que se origina de uma


Constituição, sendo que as suas unidades parciais são dotadas de
autonomia, não possuindo, portanto, o direito de secessão, tendo em

DIREITO CONSTITUCIONAL | 52
vista viger em um Estado Federal o Princípio da Indissociabilidade,
também conhecido como Princípio da Indissolubilidade.

Feitos esses esclarecimentos, fica fácil, agora, compreender a primeira parte do


caput do art. 1º da Constituição Federal, quando traz: “A República Federativa do
Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal
[...].”.

Dessa forma, analisando a norma acima destacada, podemos afirmar que A) a nossa
forma de governo é uma República e; B) a nossa forma de estado é uma Federação,
inexistindo, portanto, a possibilidade de as unidades parciais [União, Estados-
membros, Distrito Federal e Municípios], pretenderem se desvencilhar da nossa
República Federativa do Brasil, haja vista que a eles não é dado o direito de secessão.

Feitos esses esclarecimentos, podemos analisar, então, os fundamentos da


República Federativa do Brasil, que são os seguintes:

• Soberania: A República Federativa do Brasil não se curva, não se subordina a


nenhum outro Estado, na ordem internacional, nem a nenhum outro ente
político, na ordem interna.

• Cidadania: A República Federativa do Brasil tem um compromisso direto com


o povo e, por um dos seus pilares ser a cidadania, pode-se afirmar que existe
uma busca pela participação popular nas decisões políticas que irão guiar os
rumos do nosso Estado.

• Dignidade da pessoa humana: A República Federativa do Brasil, com a edição


da Constituição Federal de 1988, se preocupou, de sobremaneira, com a
figura do ser-humano que, a partir de então, passou a ocupar lugar de
destaque, sendo ponto central de tutela do nosso Estado.

• Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa: A República Federativa do


Brasil adotou como sistema econômico o capitalismo e os valores do trabalho
e da livre iniciativa são tutelados pelo nosso ordenamento jurídico.

• Pluralismo político: A República Federativa do Brasil garante aos seus


cidadãos uma ampla liberdade de convicção política, eliminando qualquer
forma de autoritarismo de grupo dominante, motivo pelo qual garante que
diferentes grupos sociais possam participar do processo político de formação
da vontade nacional.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 53
10.3 OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil estão previstos no art.


3º da Constituição Federal de 1988 da seguinte forma:

Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República


Federativa do Brasil: I. construir uma sociedade livre, justa e
solidária; II. garantir o desenvolvimento nacional; III. erradicar
a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
e regionais; IV. promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.

Os objetivos fundamentais devem ser compreendidos como aquilo que é almejado


pela República Federativa do Brasil como um “Estado perfeito”. Porém, para a
construção desse “Estado perfeito” necessário se faz a concretização de ações. E,
exatamente por isso, é que cada um dos incisos do art. 3º é materializado por um
verbo no infinitivo: construir, garantir, erradicar, reduzir e promover.

10.4 PRINCÍPIOS QUE REGEM A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL NAS RELAÇÕES


INTERNACIONAIS

Os princípios que regem a República Federativa do Brasil nas relações internacionais


estão previstos no art. 4º da Constituição Federal de 1988 da seguinte forma:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações


internacionais pelos seguintes princípios: I. independência nacional;
II. prevalência dos direitos humanos; III. autodeterminação dos
povos; IV. não-intervenção; V. igualdade entre os Estados; VI. defesa
da paz; VII. solução pacífica dos conflitos; VIII. repúdio ao terrorismo
e ao racismo; IX. cooperação entre os povos para o progresso da
humanidade; X. concessão de asilo político.

Veja que todos os princípios elencados no art. 4º da Constituição Federal


apresentam um ponto comum: garantia da paz. Não existe nenhum princípio que
fuja desse ideal, haja vista que foi uma norma inspirada na Carta da Organização das
Nações Unidas, de 1945, que visa tutelar o respeito aos direitos e liberdades do
indivíduo, manutenção da paz e segurança internacional.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 54
Saliente-se que o parágrafo único do art. 4º prevê que “A República Federativa do
Brasil buscará a integração Econômica, Política, Social e Cultural dos povos da
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de
nações.”.

Assim, deve-se ter atenção para a busca integrativa da República Federativa do


Brasil, que gira em torno dos seguintes pontos: Integração Econômica; Integração
Política; Integração Social; Integração Cultural.

E essa integração deve ser buscada entre os povos da América Latina, com um
objetivo comum: formar uma comunidade latino-americana de nações.

10.5 MODELO DE DEMOCRACIA

O parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal tem a seguinte redação:

Art. 1º, Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.

Sobre esse dispositivo, necessário sabermos que o regime democrático pode ser
classificado da seguinte forma:

• Democracia direta: Modelo de democracia caracterizado pelo exercício do


poder sem a presença de intermediários. Atualmente, é pouco utilizada,
sendo observada a sua presença em alguns cantões da Suíça, de pequena
dimensão territorial. [Jaime Barreiros Neto, 2022, p. 24]

• Democracia Indireta ou Representativa: Modelo de democracia marcado


pela pouca atuação efetiva do povo no poder, uma vez que ao povo, neste
momento, cabe apenas escolher, através do exercício do sufrágio, seus
representantes políticos, de forma periódica. [Jaime Barreiros Neto, 2022, p.
24]

• Democracia Semidireta ou Participativa: Modelo de democracia dominante


no mundo contemporâneo, caracteriza-se pela preservação da
representação política aliada, entretanto, por meios de participação direta do
povo no exercício soberano no Estado. Na democracia semidireta, o povo
exerce a soberania popular não só elegendo representantes políticos, mas
também participando de forma direta da vida política do Estado, através dos

DIREITO CONSTITUCIONAL | 55
institutos da democracia participativa [plebiscito, referendo e iniciativa
popular de lei]. [Jaime Barreiros Neto, 2022, p. 24]

Dentre os três modelos acima apresentados, necessário saber que a República


Federativa do Brasil adotou o modelo de uma democracia semidireta ou
participativa, ao dispor que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”.

Saliente-se que, como regra, temos representantes eleitos que adotam as decisões
políticas que irão reger a República Federativa do Brasil. Porém, temos instrumentos
da democracia direta em nosso ordenamento jurídico-constitucional, a saber:

Plebiscito e Referendo: São institutos jurídicos disciplinados na Lei


9.709/1998 e se tratam de consultas formuladas ao povo para que delibere
sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa
ou administrativa.

Iniciativa popular: É a possibilidade, prevista no art. 61, §2º, da Constituição


Federal, de os cidadãos deflagrarem, iniciarem, o devido processo legislativo
constitucional, no que tange a elaboração de Leis Complementares e Leis
Ordinárias:

10.6 SEPARAÇÃO DE PODERES

O art. 2º da Constituição Federal dispõe que “São Poderes da União, independentes


e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”.

A norma acima colacionada consagra a teoria da Separação dos Poderes, elaborada


por Montesquieu, formada pela ideia de que os três poderes de um Estado
[Legislativo, Executivo e Judiciário] devem atuar de maneira harmônica, porém,
separadas, evitando, portanto, que exista uma concentração de poderes nas mãos
de uma única pessoa, o que era típico do Estado Absolutista.

Em sua obra “O Espírito das Leis”, Montesquieu ensina que cada Poder deveria
desempenhar uma função específica prioritariamente, podendo, também, exercer
funções de outros poderes.

E, assim, todos os Poderes desempenham tanto funções típicas, quanto funções


atípicas.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 56
A título exemplificativo, o Poder Legislativo desempenha funções típicas de legislar,
quando elabora atos normativos, bem como de fiscalizar, quando, por meio de
Comissões Parlamentares de Inquérito, fiscaliza atos de interesse público. Mas,
também, desempenha funções atípicas, de natureza administrativo-executivo,
quando promove a organização de seus serviços internos, bem como de natureza
julgadora, quando o Senado Federal julga o Presidente da República por crimes de
responsabilidade.

Em complemento, hoje se fala em um Sistema de Freios e Contrapesos [Checks and


Balances System], que consiste no controle do Poder pelo próprio Poder, ou seja, um
determinado Poder, seja ele o Legislativo, Executivo ou Judiciário exerceria, de
maneira autônoma sua função, porém, seria controlado pelos outros Poderes,
devendo, dessa forma, trabalhar em harmonia com os demais.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 57
11 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

11.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS X DIREITOS HUMANOS

A expressão Direitos Humanos é uma expressão utilizada, especialmente, em Direito


Internacional, ao passo que a expressão Direitos Fundamentais é utilizada,
especialmente, em Direito Constitucional. Porém, saliente-se que ambos possuem o
ponto comum de proteger e promover a dignidade, liberdade e igualdade.

11.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS X GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Ressalte-se que Direitos Fundamentais e Garantias Fundamentais são institutos


jurídicos que não se confundem, merecendo ser feita a seguinte distinção:

• Direitos Fundamentais: São normas que possuem conteúdo declaratório. Ex.


Liberdade de locomoção [art. 5º, XV, CF].

• Garantias Fundamentais: São normas de conteúdo assecuratório. Ex. Habeas


Corpus [art. 5º, LXVIII, CF].

Dessa forma, os Direitos Fundamentais são os objetos, os bens jurídicos, as


prerrogativas que são tuteladas pelo ordenamento jurídico, ao passo que as
Garantias Fundamentais são os instrumentos assecuratórios que possibilitam que
seja evitada uma lesão a esse bem jurídico tutelado [caráter preventivo] ou, então,
reparar essa lesão praticada [caráter repressivo].

11.3 CLÁUSULA GERAL DE COMPLEMENTARIEDADE

A Constituição Federal, em seu art. 5º, §2º, dispõe que “Os direitos e garantias
expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte”.

A norma consagra uma verdadeira cláusula geral de complementariedade, se


apresentando como uma normal geral inclusiva, que permite afirmar que o rol dos
Direitos Fundamentais não se esgotam na Constituição Federal, haja vista que outros
direitos figuram como Direitos Fundamentais adotados por nosso ordenamento
jurídico, mesmo que não previstos no Texto Superior, desde que decorrentes de A)
princípios adotados pela Constituição ou B) de tratados internacionais celebrados
pela República Federativa do Brasil.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 58
Sobre o Duplo Grau de Jurisdição, a doutrina ensina, “Todavia, a jurisprudência
majoritária do Supremo Tribunal Federal reconhece-o como direito fundamental,
embora não previsto expressamente na Constituição. Primeiramente, decorreria do
devido processo legal (art. 5º, LIV, CF). Outrossim, aplicado à seara penal, decorreria
do art. 8º, do Pacto de São José da Costa Rica, que o assegura expressamente.”
[Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1109). Saraiva
Jur.]

Um direito fundamental implícito na nossa Constituição é o Direito à Busca da


Felicidade [the pursuit of happines], sendo objeto de proposta de Emenda
Constitucional para introdução no rol do art. 6º, bem como tendo sido utilizado
como fundamento pelo Supremo Tribunal Federal para reconhecer a união
homoafetiva como entidade familiar:

Trecho do voto do Ministro Celso de Mello no julgamento da ADPF


132: “entendo que a extensão, às uniões homoafetivas, do mesmo
regime jurídico aplicável à união estável entre pessoas de gênero
distinto justifica-se e legitima-se pela direta incidência, dentre outros,
dos princípios constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade,
da segurança jurídica e do postulado constitucional implícito que
consagra o direito à busca da felicidade, os quais configuram, numa
estrita dimensão que privilegia o sentido de inclusão decorrente da
própria Constituição da República (arts. 1º, III, e 3º, IV), fundamentos
autônomos e suficientes aptos a conferir suporte legitimador à
qualificação das conjugalidades entre pessoas do mesmo sexo como
espécie do gênero entidade familiar”.

11.4 DIREITOS FUNDAMENTAIS E TRATADOS INTERNACIONAIS

O art. 5º, §3º, da Constituição Federal dispõe que “Os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais.”.

Aqui, interessa apontar que os tratados internacionais sobre direitos humanos


podem ingressar no ordenamento jurídico brasileiro com duas hierarquias
diferentes, a saber:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 59
O tratado internacional tem que preencher um requisito material, qual seja:
dizer respeito a Direitos Humanos, bem como preencher um requisito
Hierarquia equivalente a de uma
material, qual seja, ser aprovado pelo mesmo rito de uma emenda à
Emenda à Constituição:
Constituição [aprovação em 2 turnos de votação + votação das duas Casas
Legislativas + Quórum qualificado de 3/5 dos membros.]

Caso os tratados internacionais preencham o requisito material, qual seja,


dizer respeito a Direitos Humanos, mas não preencha os requisitos formais
acima apontados.
Hierarquia Supralegal:
Aqui, o tratado ingressa no ordenamento jurídico, na pirâmide do
escalonamento normativo, acima da legislação infraconstitucional, porém,
abaixo da Constituição Federal.

Os seguintes tratados internacionais ingressaram no ordenamento jurídico com


status equivalente a de uma Emenda à Constituição:

Decreto nº 10.932, de 10.1.2022: Promulga a


Convenção Interamericana contra o Racismo, a Convenção Internacional sobre os Direitos das
Discriminação Racial e Formas Correlatas de Pessoas com Deficiência e seu respectivo Protocolo
Intolerância, firmado pela República Federativa do Facultativo − Convenção de Nova Iorque
Brasil, na Guatemala, em 5 de junho de 2013;

Tratado de Marraqueche: Facilita o acesso a obras


publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou
com outras dificuldades para aceder ao texto
impresso.

11.5 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS EM GERAÇÕES OU DIMENSÕES

O jurista tcheco-francês Karel Vasak classificou os Direitos Fundamentais em 3 [três]


gerações. Porém, antes de abordar cada uma dessas espécies, ressalte-se que, hoje,
prefere-se a utilização da palavra “dimensões” em detrimento de “gerações”, haja
visto que “a expressão “geração” dá a ideia de substituição do velho pelo novo. Bem,
não é o que ocorre com os direitos fundamentais. Uma nova dimensão de direitos
fundamentais não substitui a primeira. Pelo contrário, ambas coexistem e se
complementam, motivo pelo qual é preferível utilizar a expressão dimensão.”
[Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1141). Saraiva
Jur.]

Passa-se, então, a abordagem de cada uma delas:

1ª Dimensão: Marco: Passagem de um Estado Absolutista autoritário para um


Estado de Direito. Ideia: Os Direitos Fundamentais de 1ª dimensão caracterizam-se

DIREITO CONSTITUCIONAL | 60
pela conquista do respeito às liberdades individuais, marcado por um absenteísmo
estatal, ou seja, um não fazer do Estado, uma liberdade negativa, referente a uma
não ingerência indevida do Estado no domínio privado.

2ª Dimensão: Marco: A Revolução industrial acarretou péssimas situações de


trabalho, o que fez eclodir movimentos como o Cartista, na Inglaterra, e a Comuna
de Paris, na Franca, que reivindicavam melhorarias trabalhistas. Ideia: Com o
fracasso do Estado Liberal, surge um Estado Social, com consagração de Direitos
Sociais, Econômicos e Culturais. Conquistou-se, aqui, liberdades positivas, direitos
prestacionais, exigindo um fazer do Estado, a fim de que esse levasse determinados
bens jurídicos a quem não tivesse acesso.

3ª Dimensão: Com base nos Princípios da Solidariedade e da Fraternidade, que


devem permear todas as formações sociais, deve-se promover uma tutela efetiva
interesses e bens de titularidade difusa e coletiva. São direitos meta ou
transindividuais, que pertencem a uma coletividade de pessoal, em que se pode citar
como exemplo o meio ambienta devidamente sadio.

4ª Dimensão: Norberto Bobbio defende que os Direitos Fundamentais de 4ª


dimensão seriam aqueles decorrentes dos avanços da engenharia genética; lado
outro Paulo Bonavides sustenta uma ideia de globalização de Direitos
Fundamentais, entende que esses direitos seriam decorrentes da democracia,
informação e pluralismo.

5ª Dimensão: Da mesma forma que na geração anterior, aqui, também, não existe
um consenso doutrinário. Paulo Bonavides sustenta que a 5ª Dimensão estaria
compreendida pelo Direito à Paz Universal, um direito supremo da humanidade.
Outra parte da doutrina defende, ainda, que a 5ª dimensão, abarcaria “o dever de
cuidado, amor e respeito para com todas as formas de vida, bem como direitos de
defesa contra as formas de dominação biofísica geradores de toda sorte de
preconceitos.” [Ingo Wolfgang Sarlet, op. cit., p. 313.]

11.6 TITULARIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Dispõe o art. 5º da Constituição Federal que “todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade”.

Por uma interpretação literal do texto, pode-se afirmar que os titulares dos Direitos
Fundamentais são apenas os brasileiros e estrangeiros residentes no país.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 61
Porém, a doutrina majoritária, bem como a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, são adeptos à corrente ampliativa sobre o tema. E, assim, com base na
característica da Universalidade dos Direitos Fundamentais, os brasileiros, sejam
natos ou naturalizados; os estrangeiros, de passagem, de passeio; as pessoas
jurídicas, sejam elas de direito público ou privado, podem ser, sim, titulares de
Direitos Fundamentais.

Merece destaque o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal:

STF: A garantia de inviolabilidade dos direitos fundamentais, salvo as


exceções de ordem constitucional, se estende também aos estrangeiros
não residentes ou domiciliados no Brasil. O caráter universal dos direitos
do homem não se compatibiliza com estatutos que os ignorem. A
expressão residentes no Brasil deve ser interpretada no sentido de que a
Carta Federal só pode assegurar a validade e o gozo dos direitos
fundamentais dentro do território brasileiro. (HC 74.051, voto do Min.
Marco Aurélio, 2ª Turma, j. 18-6-1996).

Porém, sempre tenham em mente que cada o exercício dos Direitos Fundamentais
deve ser feito de acordo com a compatibilidade da natureza jurídica, isso porque,
por exemplo, uma pessoa jurídica não é titular do direito fundamental à liberdade
de locomoção.

11.7 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

As principais características dos Direitos Fundamentais podem ser assim


sistematizadas:

• Limitabilidade ou Relatividade: Não existem direitos fundamentais


absolutos, todos eles, inclusive, o proto direito do nosso ordenamento
jurídico, o direito à vida pode ser relativizado em algumas situações.

• Concorrência: Direitos Fundamentais podem ser exercidos simultaneamente,


ou seja, o exercício de um direito fundamental não aniquila outro aplicável à
espécie.

• Inalienabilidade: Por serem desprovidos de conteúdo econômico


patrimonial, os Direitos Fundamentais não podem ser alienados ou
comercializados.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 62
• Irrenunciabilidade: Embora possa deixar de exercer, o titular de um Direito
Fundamental não pode dele dispor.

• Imprescritibilidade: O transcurso de determinado lapso de tempo não


impede que o exercício do Direito Fundamental seja levado a efeito pelo seu
titular.

11.8 EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Sobre a eficácia dos Direitos Fundamentais, merece destaque as seguintes teorias


elaboradas sobre o tema, a seguir:

• Teoria da Eficácia Vertical dos Direitos Fundamentais: Os Direitos


Fundamentais foram concebidos para serem aplicados nas relações entre
Estado e Particular.

• Teoria da Eficácia Horizontal ou Privada ou Externa dos Direitos


Fundamentais: Trata-se da possibilidade de aplicação dos Direitos
Fundamentais nas relações entre particulares.

• Eficácia Diagonal dos Direitos Fundamentais: Trata-se de aplicação dos


Direitos Fundamentais nas relações entre Particulares, com o destaque que
essa relação é marcada por uma grande desigualdade fática, como, por
exemplo, as relações de cunho trabalhista.

Sobre a Teoria da Eficácia Horizontal ou Privada ou Externa dos Direitos


Fundamentais existem teorias dela decorrentes, que defendem, cada um do seu
ponto, como os Direitos Fundamentais são aplicados nas relações privadas, a saber:

• Teoria da Ineficácia Horizontal: Com origem nos Estados Unidos, defende


que os Direitos Fundamentais são aplicáveis apenas nas relações entre Estado
e Particular. Porém, para contornar a rigidez da situação, foi criada a doutrina
do state action, que equipara certos atos privados a atos estatais, permitindo,
então, a aplicação dos Direitos Fundamentais nas relações privadas.

• Teoria da Eficácia Horizontal Direta; Os Direitos Fundamentais são aplicáveis


diretamente nas relações privadas, independentemente de intermediação
legislativa, porém, tal aplicação não deve se dar na mesma intensidade das
relações particular e Estado, a fim de não aniquilar a autonomia privada.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 63
• Teoria da Eficácia Horizontal Indireta: Com origem na Alemanha, defende
que os Direitos Fundamentais não permeiam no cenário privado de maneira
direta, sendo necessário intermediação legislativa para que seja viabilizada a
sua aplicação.

• Teoria Integradora: Robert Alexy defende que primordialmente, para


aplicação dos Direitos Fundamentais nas relações privadas, o ideal é que se
tenha uma intermediação legislativa. Mas, na ausência de lei disciplinando tal
situação, a aplicação dos Direitos Fundamentais pode se dar de maneira
direta, sem necessidade de intermediação legislativa.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 64
12 DIREITOS FUNDAMENTAIS

12.1 DIREITO À VIDA

O Direito à Vida é tutelado pelo art. 5º, caput, da Constituição Federal, nos seguintes
termos: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: [...].”

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, assinada na Conferência


Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José, Costa Rica, em
22 de novembro de 1969, dispõe expressamente sobre o Direito à Vida em seu art.
4º, merecendo destaque o seguinte:

4.1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve
ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém
pode ser privado da vida arbitrariamente.

4.2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá
ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de
tribunal competente e em conformidade com lei que estabeleça tal pena,
promulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá
sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atualmente.

4.3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam
abolido.

4.4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos políticos,
nem por delitos comuns conexos com delitos políticos.

4.5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da


perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem
aplicá-la a mulher em estado de gravidez.

4.6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou
comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não
se pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de
decisão ante a autoridade competente.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 65
No momento que o inc. LXVII, do art. 5º da Constituição, veda, como regra geral, a
adoção de penas de morte em nosso ordenamento jurídico, tem-se, mais uma vez,
uma demonstração de tutela do direito à vida:

Art. 5º, XLVII. não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra
declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de
trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;

Ressalte-se que, como regra geral, tem-se a impossibilidade de adoção de pena de


morte, em virtude da tutela da preservação do Direito à Vida; porém,
excepcionalmente, é possível a sua utilização, em casos de guerra declarada, nos
termos do art. 84, XIX, da Constituição Federal [guerra declarada pelo Presidente da
República, com autorização do Congresso Nacional ou, eventualmente, ratificação],
o que demonstra uma relativização constitucional desse direito.

Frise-se que a possibilidade de adoção de pena de morte, em nosso ordenamento


jurídico, apenas é possível excepcionalmente e por se tratar de um direito
fundamental individual, previsto no art. 5º, XLVII, da Constituição Federal, não é
possível sua supressão, via Emenda Constitucional, por se tratar de um direito
petrificado no Texto Constitucional, ante a limitação material imposta ao Poder
Constituinte Derivado Reformador pelo art. 60, §4º, da Constituição Federal.

Art. 60, §4º: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda


tendente a abolir: [...] IV. os direitos e garantias individuais.

Saliente-se que o Direito à Vida também foi relativizado pelo legislador


infraconstitucional, especificamente, quando foi permitido o abortamento nos casos
legalmente permitidos, em gravidez decorrente de estupro ou caso não exista outra
forma de salvar a vida da gestante.

Código Penal: Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário: I. se não há outro meio de salvar a vida da
gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: II. se a
gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento
da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Por fim, necessário se faz destacar que o Supremo Tribunal Federal, quando do
julgamento da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamenta n. 54, permitiu,
da mesma forma, a relativização do direito à vida, ao permitir o abortamento de

DIREITO CONSTITUCIONAL | 66
fetos anencefálicos, merecendo destaque a transcrição abaixo com o seguinte
julgado em frase:

Julgado em Frase: Não é crime o abortamento de feto anecéfalo, não


se configurando tal conduta um injusto penal. (ADPF 54, Relator(a):
Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 12/04/2012,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 29-04-2013 PUBLIC 30-04-
2013 RTJ VOL-00226-01 PP-00011)

Por fim, ressalte-se a prolação de importante julgado, proferido pela 1ª Turma do


Supremo Tribunal Federal, com eficácia inter partes, em sede de julgamento de
Habeas Corpus, oportunidade em que a Corte entendeu que a interrupção da
gravidez no primeiro trimestre da gestação provocada pela própria gestante (art.
124) ou com o seu consentimento (art. 126) não é crime.

Deve-se ter atenção a forma como esse julgado pode ser cobrando em prova, haja
vista que não se trata de uma decisão com eficácia erga omnes, muito menos
oriunda do Plenário da Suprema Corte. Porém, seu conhecimento é importante,
oportunidade em que foi firmada a seguinte ideia:

Julgado em Frase: A interrupção da gravidez no primeiro trimestre da


gestação provocada pela própria gestante (art. 124) ou com o seu
consentimento (art. 126) não é crime. (HC 124306, Relator(a): Min.
MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO,
Primeira Turma, julgado em 29/11/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
052 DIVULG 16-03-2017 PUBLIC 17-03-2017)

12.2 DIREITOS RELACIONADOS ÀS LIBERDADES

A liberdade, em sentido amplo, é tutelada pelo art. 5º, caput, da Constituição


Federal, nos seguintes termos: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:”.

E, ao longo do texto constitucional, várias espécies de liberdades receberam a devida


atenção e tutela do Legislador.

LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO

DIREITO CONSTITUCIONAL | 67
A liberdade de locomoção é um direito fundamental previsto no art. 5º, incs. XV e
LXI, da Constituição Federal, com as seguintes redações:

Art. 5º, XV: É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz,


podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer
ou dele sair com seus bens.

Art. 5º, LXI, CF: Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por
ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente,
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei.

Caso esse direito fundamental seja ameaçado ou seja efetivamente violado, para
evitar tal lesão ou reparar a lesão perpetrada, surge a possibilidade de utilização da
garantia fundamental do Habeas Corpus, prevista no art. 5º, LVIII, da Constituição
Federal, com a seguinte redação:

Art. 5º, LXVIII: Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer
ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

Essa garantia constitucional, também conhecida como remédio constitucional,


surgiu em 1.215, na Carta Magna Libertatum. O rei João-Sem-terra, em troca de sua
permanência no poder, reconheceu determinados direitos à burguesia, dentre os
quais foi previsto e garantido o direito de locomoção e como garantia de exercício a
esse direito, previu-se no documento o habeas corpus.

Em nosso ordenamento jurídico, a teoria brasileira do Habeas Corpus foi prevista


pela primeira vez no Código Penal de 1832.

Como visto, essa garantia pode ser usada tanto de maneira preventiva, oportunidade
em que o Poder Judiciário emitirá um Salvo-Conduto ao Impetrante, ou de maneira
repressiva, oportunidade em que será concedida uma Ordem de Habeas Corpus,
instrumentalizada com a expedição do pertinente Alvará de Soltura.

Essa garantia fundamental, gratuita, diga-se de passagem, não prevê maiores


formalidades na sua impetração, podendo ser manejado por qualquer pessoa,
nacional ou estrangeira, natural ou jurídica, inclusive menores de idade,
independente de representação ou assistência ou de capacidade postulatória ou de
obediência a pressupostos processuais ou condições da ação.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 68
Mas, atenção, haja vista que apesar de a pessoa jurídica ser legitimada a impetrar o
Habeas Corpus, ela apenas o poderá fazer na qualidade de Impetrante, visando
beneficiar terceira pessoa, jamais na condição de Paciente, tendo em vista uma
incompatibilidade lógica na sua utilização, vez que, por se tratar de uma ficção
jurídica, jamais terá comprometido eventual tutela de sua liberdade de locomoção.

Foque no fato de que o Habeas Corpus apenas pode ser manejado quando a
liberdade de locomoção estiver ameaçada ou tiver sido violada, não sendo possível,
portanto, seu manejo, em face de decisões condenatórias cuja pena de multa seja a
única cominada; decisões que decretam perda de função pública; com o objetivo de
trancar procedimentos referentes à crimes de responsabilidade ou; quando já
extinta a pena privativa de liberdade.

Habeas Corpus Coletivo: Saliente-se a permissibilidade, chancelada pelo Supremo


Tribunal Federal, atinente a possibilidade de impetração de Habeas Corpus Coletivo,
com o escopo de conferir a maior amplitude possível para a tutela do direito de
liberdade de locomoção, propiciando, também, a máxima eficácia ao mandamento
constitucional da razoável duração do processo, previsto no art. 5º, LXXVIII, da
Constituição Federal, bem como ao princípio universal da efetividade da prestação
jurisdicional.

Ressalte-se que, apesar de não existir uma previsão expressa no ordenamento


jurídico para a impetração coletiva do remédio constitucional, de acordo com o
Supremo Tribunal Federal, existem dois dispositivos legais, previstos no Código de
Processo Penal, que, indiretamente, por via obliqua, permitem sua impetração:

Art. 580. CPP: No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25),
a decisão do recurso interposto por um dos réus, se fundado em
motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal,
aproveitará aos outros.

Art. 654, §2º, CPP: Os juízes e os tribunais têm competência para


expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de
processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer
coação ilegal.

A norma prevista no art. 654, §2º, do Digesto Processual permite a expedição de


ofício de ordem de habeas corpus quando constatado violação a liberdade
locomoção, ao passo em que a norma prevista no art. 580 confere a possibilidade de
extensão da ordem para todos que se encontram na mesma situação.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 69
E, por fim, saliente-se que, diante da inexistência de regramento legal sobre a
debatida impetração coletiva, o Supremo Tribunal Federal entendeu que, utilizando-
se a técnica da analogia, no que diz respeito aos legitimados, deve-se aplicar o art.
12 da Lei 13.300/2016, que traz os legitimados para a propositura do Mandado de
Injunção Coletivo, a saber:

• Ministério Público;

• Defensoria Pública;

• Partido Político com representação no Congresso Nacional;

• Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente


constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano.

Segue abaixo a ementa do julgado com o seguinte julgado em frase:

Julgado em Frase: É possível a impetração de Habeas Corpus Coletivo,


mesmo sem previsão legal para tanto, figurando como legitimados os
mesmos para a impetração do Mandado de Injunção Coletivo. (HC
143641, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,
julgado em 20/02/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-215 DIVULG
08-10-2018 PUBLIC 09-10-2018)

LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO

A liberdade de manifestação de pensamento é apresentada por uma cláusula geral,


prevista no art. 5º, IV, da Constituição Federal, que apresenta a seguinte redação: “É
livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.”.

Veja que a regra é a liberdade de manifestação de pensamento, porém, como todos


os direitos fundamentais devem ser exercícios com base em marcos civilizatórios
mínimos, eventual abuso cometido no exercício de um direito fundamental estará
sujeito a responsabilização nas esferas cível e/ou criminal, motivo pelo qual a norma
constitucional, no exercício desse direito, vetou o anonimato.

Temática debatida dentro da liberdade de manifestação de pensamento diz respeito


ao discurso de ódio, hate speech, que constitui manifestações de ódio, desprezo ou
intolerância proferidas em face de determinados grupos de indivíduos, geralmente,
marcados por uma vulnerabilidade étnica, racial, religiosa, sexual, dentre outras. E o

DIREITO CONSTITUCIONAL | 70
questionamento que é feito é se essa forma de manifestação estaria tutelada pela
liberdade de manifestação de pensamento.

E a resposta só pode ser negativa, tendo o Supremo Tribunal Federal já consignado,


por mais de uma vez, que essas espécies de manifestações não guardam guarida no
Texto Constitucional.

Interessante pontuar alguns julgados proferidos pelo Supremo Tribunal Federal que
estão diretamente relacionados com a liberdade de manifestação de pensamento,
que trazem as seguintes ideias:

Julgado em Frase: Liberdade de expressão não tutela opiniões criminosas,


discurso de ódio ou qualquer atentado contra o Estado Democrático de
Direito. STF. Plenário. AP 1044/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 20/4/2022 (Info 1051).

Julgado em Frase: Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado


em plataforma de “streaming” apenas porque seu conteúdo desagrada
parcela da população, ainda que majoritária, não encontra fundamento em
uma sociedade democrática e pluralista como a brasileira. Rcl 38782/RJ, rel.
Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3.11.2020. (Rcl-38782)

Julgado em Frase: Lei Estadual que proíbe, no âmbito da programação das


emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de proselitismo, religioso é
inconstitucional por violar a liberdade de expressão e religiosa. (ADI 2566,
Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 16/05/2018, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-225 DIVULG 22-10-2018 PUBLIC 23-10-2018)

Julgado em Frase: A prática do proselitismo, ainda que feita por meio de


comparações entre as religiões (dizendo que uma é melhor que a outra) não
configura, por si só, crime de racismo. (RHC 134682, Relator(a): Min. EDSON
FACHIN, Primeira Turma, julgado em 29/11/2016, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-191 DIVULG 28-08-2017 PUBLIC 29-08-2017)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 71
Julgado em Frase: Não é necessária autorização do biografado, de eventuais
coadjuvantes ou de seus familiares a fim de que seja publicada uma obra
biográfica. (ADI 4815, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno,
julgado em 10/06/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 29-01-
2016 PUBLIC 01-02-2016)

Julgado em Frase: Denúncia anônima, por si só, não permite a instauração,


pela Autoridade Policial, de Inquérito Policial, sendo necessária a realização
de diligências preliminares para certificar (HC 106152, Relator(a): Min. ROSA
WEBER, Primeira Turma, julgado em 29/03/2016, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-106 DIVULG 23-05-2016 PUBLIC 24-05-2016)

Julgado em Frase: Discurso de ódio religioso não é tutelado pela cláusula da


liberdade de expressão. (RHC 146303, Relator(a): Min. EDSON FACHIN,
Relator(a) p/ Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em
06/03/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-159 DIVULG 06-08-2018 PUBLIC
07-08-2018)

Julgado em Frase: O injusto penal de desacato é tanto constitucional quanto


convencional, não sendo tutelado pela liberdade de expressão. (HC 141949,
Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 13/03/2018,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-077 DIVULG 20-04-2018 PUBLIC 23-04-2018)

Julgado em Frase: Manifestação favorável a liberação da maconha é tutelada


pela liberdade de expressão, mas, nesses eventos, não pode ocorrer a
participação de crianças e adolescentes, bem ser realizado o consumo de
substância psicotrópica. (ADPF 187, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal
Pleno, julgado em 15/06/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-102 DIVULG
28-05-2014 PUBLIC 29-05-2014 RTJ VOL-00228-01 PP-00041)

Julgado em Frase: Edital de concurso público não pode prever a eliminação


de candidato com tatuagem, salvo se a tatuagem ofender valores
fundamentais da República Federativa do Brasil. (RE 898450, Relator(a):
Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 17/08/2016, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-114 DIVULG 30-05-2017
PUBLIC 31-05-2017)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 72
Sobre os dois últimos julgados [Marcha da Maconha e Tatuagem e Concurso
Público], apontamentos devem ser feitos.

Conforme se verifica do penúltimo aresto colacionado, o Supremo Tribunal Federal


liberou os eventos intitulados Marcha da Maconha, porém, duas consignações
importantes devem ser feitas, a saber: 1ª) Nesses eventos não é permitida a
participação de crianças e adolescentes e; 2º) Nesses eventos não é possível o uso
de qualquer substância entorpecentes, haja vista que tal conduta ainda permanece
tipificada em nosso ordenamento jurídico.

Por fim, sobre o último julgado, apesar de consignado na ementa, necessário


salientar que caso a tatuagem viole valores constitucionalmente assegurados será
possível eventual restrição do candidato no certame público.

Um exemplo seria um candidato que tivesse tatuado a foto do terrorista Osama Bin
Laden, em total afronta a um dos princípios que regem a República Federativa do
Brasil nas suas relações internacionais, qual seja: repúdio ao terrorismo [art 4º, VIII,
Constituição Federal].

LIBERDADE RELIGIOSA

Esse Direito Fundamental decorre da conjugação de dois dispositivos


constitucionais, art. 5º, VI e VII, da Constituição, que possuem, respectivamente, a
seguinte redação: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e a suas liturgias” e “É assegurada, nos termos da lei, a
prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação
coletiva”.

Esse direito fundamental goza de uma ampla tutela em nosso ordenamento jurídico,
abrangendo a liberdade de escolha da religião, de aderir a qualquer seita religiosa,
de mudar de religião, de não aderir a religião alguma [direito de apostasia], de ser
ateu, dentre outras formas de manifestações religiosas.

Nesse ponto, merece ser salientado o enunciado 403 do Conselho da Justiça Federal,
que aborda a temática da liberdade religiosa e possui a seguinte redação:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 73
Enunciado 403, CJF: O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença,
previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal, aplica-se também à pessoa
que se nega a tratamento médico, inclusive transfusão de sangue, com ou
sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta dele, desde que
observados os seguintes critérios: A) capacidade civil plena, excluído o
suprimento pelo representante ou assistente; B) manifestação de vontade
livre, consciente e informada; e C) oposição que diga respeito exclusivamente
à própria pessoa do declarante.

E, aliado à 1ª parte do art. 19, I, da Constituição Federal, que assim dispõe “É vedado
à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: estabelecer cultos
religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter
com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança”, permite-se
afirmar que: A República Federativa do Brasil é um Estado: -leigo, -laico, -não
confessional, não adotando, portanto, nenhum vínculo oficial com nenhuma forma
religiosa.

Feitos esses apontamentos e compreendido o alcance do instituto, necessário


colacionar o Preâmbulo da Constituição Federal e questionar e a invocação à
proteção de Deus viola a laicidade do nosso Estado:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia


Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado
a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da
República Federativa do Brasil.

E a resposta para o questionamento é negativa. Porém, para sua fundamentação, é


necessário compreendermos a natureza jurídica do Preâmbulo da Constituição
Federal, destacando as principais teorias que debatem sobre o tema, a saber:

A Teoria da Irrelevância Jurídica defende que o Preâmbulo não está no domínio do


Direito, não possuindo força normativa-jurídica, encontrando-se no domínio da
política, sendo uma consagração dos valores que permeavam o pensamento do
Poder Constituinte Originário no momento da promulgação da Constituição Federal,
podendo, no máximo, ser considerado como um vetor interpretativo das normas.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 74
Já a Teoria da Plena Eficácia Jurídica defende que o Preâmbulo possui a mesma
eficácia jurídica, a mesma densidade normativa que as demais normas que compõe
a parte dogmática da Constituição Federal [arts. 1º a 250], bem como a parte
Transitória do Texto Magno [arts. 1º a 144].

Por fim, a Teoria da Relevância Jurídica Indireta defende que o Preâmbulo faz parte
das características jurídicas da Constituição Federal, entretanto, não deve ser
confundido com as demais normas jurídicas desta.

Destaque-se que, para contornar essa aparente antinomia entre normas


constitucionais, adotou-se, tanto na doutrina majoritária, quando pelo Supremo
Tribunal Federal a Teoria da Irrelevância Jurídica do Preâmbulo da Constituição,
motivo pelo qual a laicidade do nosso Estado não resta comprometida pela
invocação que é feita à proteção de Deus na parte preambular do texto
constitucional.

Veja a manifestação da Corte Suprema sobre a temática, com o julgado em frase:

Julgado em Frase: O Preâmbulo A) serve para certificar a legitimidade e a


origem do novo texto; B) trata de proclamação de princípios, de
consagração do pensamento que permeava o Poder Constituinte Originário
no momento da promulgação do texto constitucional; C) não integra o
bloco de constitucionalidade; D) não tem força normativa, não criando
direitos, nem estabelecendo deveres. STF. Plenário. ADI 2076, Rel. Min.
Carlos Velloso, julgado em 15/08/2002.

Por fim, diretamente relacionados com a temática da liberdade religiosa, merece


destaque os seguintes julgados, com as respectivas sínteses prévias:

Julgado em Frase: É inconstitucional lei estatual que determina que escolas


públicas e bibliotecas públicas mantenham um exemplar da Bíblia Sagrada.
(ADI 5256, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em
25/10/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-217 DIVULG 04-11-2021 PUBLIC
05-11-2021)

Julgado em Frase: É constitucional lei estatual que permite o sacrifício de


animais em cultos de religiões de matriz africana. (RE 494601, Relator(a):
MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 28/03/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-251 DIVULG 18-11-
2019 PUBLIC 19-11-2019)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 75
Julgado em Frase: É permitido a alteração de data e horário de
concurso público para candidato que invoque escusa de consciência
religiosa, desde que presente a razoabilidade da alteração, a
preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não
acarrete ônus desproporcional à Administração pública, que deverá
decidir de maneira fundamentada. (RE 611874, Relator(a): DIAS
TOFFOLI, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 26/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-068 DIVULG 09-04-2021 PUBLIC 12-04-2021)

LIBERDADE RELIGIOSA, FILOSÓFICA E POLÍTICA

Como regra, a Constituição prevê que nenhuma pessoa sofrerá privação de seus
direitos em virtude de sua crença religiosa, filosófica ou política. Porém, caso essa
pessoa invoque sua(s) crença(s) para se eximir de obrigação legal a todos imposta e
recusar a cumprir prestação alternativa fixada em lei, poderá vir a sofrer sanções
políticas, com a suspensão de seus direitos políticos.

Para compreensão desse cenário, deve ser feita a leitura conjunta do art. 5º, VIII, e
art. 15, IV, ambos da Constituição Federal:

Art. 5º, VIII, CF: Ninguém será privado de direitos por motivo de crença
religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para
eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou


suspensão só se dará nos casos de: [...] IV. recusa de cumprir obrigação
a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

Saliente-se que, apesar do art. 15 da Constituição Federal, em seu rol, não especificar
quais hipóteses dizem respeito a casos de perda e quais dizem respeito a casos de
suspensão dos direitos políticos, apesar de termos conhecimento de posição
doutrinária em sentido contrário, entendemos ser mais prudente levar para a prova
que a recusa de cumprimento de obrigação legal a todos imposta e prestação
alternativa é uma hipótese de suspensão dos direitos políticos, tendo em vista a
dicção do art. 438 do Código de Processo Penal:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 76
Art. 438, CPP: A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa,
filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob
pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço
imposto.

LIBERDADE INTELECTUAL, ARTÍSTICA OU CIENTIFICA OU DE COMUNICAÇÃO

A Constituição Federal veda, de maneira expressa, qualquer forma de censura,


impedimento ao exercício da liberdade constitucional objeto de estudo, ou de
licença, necessidade de autorização prévia para seu exercício, conforme prevê seu o
art. 5º, IX:

Art. 5º, IX, CF: É livre a expressão da atividade intelectual, artística,


científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.

E sobre esse direito constitucional, necessário se faz destacar os seguintes julgados


a ele relacionados, com os respectivos julgados em frase:

Julgado em Frase: Retirar produto audiovisual de circulação configura


censura, o que não é admissível em uma sociedade democrática e pluralista
como a brasileira. (Rcl 38782, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma,
julgado em 03/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-034 DIVULG 23-02-
2021 PUBLIC 24-02-2021)

Julgado em Frase: Retirar matéria jornalística de sítio eletrônico afronta a


liberdade de expressão e de informação, além de constituir censura prévia.
(Rcl 22328, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em
06/03/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-090 DIVULG 09-05-2018 PUBLIC
10-05-2018)

Julgado em Frase: Não é necessário autorização da pessoa biografada, de


eventuais coadjuvantes ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas
ou ausentes, para publicação de biografia. (ADI 4815, Relator(a): Min.
CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 10/06/2015, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC 01-02-2016)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 77
LIBERDADE PROFISSIONAL

O art. 5º, XIII, da Constituição Federal garante o direito à liberdade profissional, nos
seguintes termos: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.”.

É um direito que se encontra revestido em uma norma constitucional de eficácia


contida, também conhecida como de eficácia prospectiva ou restringível, que, desde
a entrada em vigor do Texto Constitucional, tem a possibilidade de produzir todos
os seus efeitos, porém, pode vir a ter os seus efeitos restringidos, contidos, por
regulamentação legal posterior.

Saliente-se que não são todas as atividades profissionais que podem ser restringidas
pelo legislador infraconstitucional, mas, tão somente, aquelas que apresentem um
potencial lesivo; motivo pelo qual a profissão de Delegado de Polícia, Promotor de
Justiça, Magistrado, cujos profissionais lidam diariamente com restrições a direitos
fundamentais, foram regulamentadas; e as profissões de fotógrafo e músicos não
foram regulamentadas, merecendo destaque o seguinte julgado com sua ideia
basilar:

Julgado em Frase: A exigência de que o leiloeiro preste caução para o


exercício da profissão é compatível com a Constituição Federal, tendo
em vista a norma prevista em seu art. 5º, XIII. (RE 1263641, Relator(a):
MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES,
Tribunal Pleno, julgado em 13/10/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-259 DIVULG 27-10-2020 PUBLIC
28-10-2020)

LIBERDADE DE REUNIÃO

A liberdade de reunião em local público, para fins pacíficos, é direito fundamental


previsto no art. 5º, XVI, da Constituição Federal, que independe de autorização
estatal para seu exercício:

Art. 5º, XVI, CF: todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,
em locais abertos ao público, independentemente de autorização,
desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para
o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 78
José Afonso da Silva entende que o direito à liberdade de reunião é uma verdadeira
“liberdade-condição”, porque, sendo um direito em si, constitui também condição
para o exercício de outras liberdades: de manifestação do pensamento, de expressão
de convicção filosófica, religiosa, científica e política e de locomoção. Exige,
portanto, para seu exercício, os seguintes requisitos:

Reunião pacífica:

Recentemente, o Supremo Tribunal Federal enfrentou o alcance da expressão


“prévio aviso” e, conforme julgado abaixo, entendeu ele é aperfeiçoado com
qualquer forma de veiculação da informação de que o direito de reunião será
exercido:

Julgado em Frase: A exigência constitucional de aviso prévio


relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de
informação que permita ao poder público zelar para que seu
exercício se dê de forma pacífica ou para que não frustre outra
reunião no mesmo local. (RE 806339, Relator(a): MARCO AURÉLIO,
Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em
15/12/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL)

12.3 DIREITO À IGUALDADE

O direito à igualdade é previsto na Constituição Federal, no art. 5º, caput, bem como
no seu inc. I, com a seguinte redação:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 79
Art. 5º, CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I. homens e mulheres
são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.

E, hoje, é um direito composto por 3 [três] dimensões, conforme veremos.

A igualdade formal ou processual foi uma conquista do Liberalismo Clássico e


promoveu um tratamento igualitário entre os indivíduos, porém, sem levar em
consideração, eventual, desnivelamento natural, diferença, existente entre os
sujeitos de direito. E, na nossa Constituição Federal encontra-se prevista no art. 5º,
caput, bem como no seu inc. I, da Constituição Federal.

Porém, tratar todos de maneira igual, sem levar em consideração eventual diferença
existente, apesar de ter sido uma grande conquista para a época, com a evolução da
sociedade, se mostrou insuficiente.

E, assim, surge a igualdade real ou substancial ou material que garante e tutela que
pessoas em situação de igualdade devem receber tratamento igualitário; mas
quando estiverem em situação de desequilíbrio, isso deve ser considerado e essa
diferença levada em consideração na concretização da situação. E, na nossa
Constituição Federal, a igualdade real ou substancial ou material está prevista no art.
3º, IV, que assim dispõe:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa


do Brasil: IV. promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Importante instrumento que objetiva concretizar a igualdade real ou substancial ou


material são as Ações Afirmativas, que são medidas especiais e temporárias,
adotadas ou determinadas em políticas públicas ou programas privados, com os
objetivos de eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantir a
igualdade material e compensar perdas provocadas pela discriminação e
marginalização.

Como exemplos de ações afirmativas podemos citar as quotas raciais em concursos


públicos e a Lei Maria da Penha.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 80
O princípio da igualdade material permite levar bens jurídicos a indivíduos que não
possuem acesso, promovendo uma participação equitativa nos bens sociais,
efetivando uma inclusão social de pessoas que estavam às margens da sociedade, o
que somente pode ser alcançado com a efetivação de uma “justiça distributiva”
[John Rawls].

Atente-se para o fato de que toda e qualquer política, referente a uma ação
afirmativa, direta ou indiretamente, discrimina o segmento que não foi tutelado pela
medida, o que pode gerar uma discriminação inversa ou reversa. Assim, para que a
ação afirmativa não padeça de inconstitucionalidade, ela deve observar os critérios
de proporcionalidade.

Por fim, a igualdade como reconhecimento decorre do respeito que se deve ter para
com as minorias, sua identidade e suas diferenças, sejam raciais, religiosas, sexuais
ou quaisquer outras, retirando fundamento do retromencionado art. 3º IV, da
Constituição Federal.

Ainda, no campo teórico e diretamente relacionada a aplicação do Princípio da


Isonomia, necessário se faz o conhecimento da Teoria da Discriminação Indireta ou
Teoria do Impacto Desproporcional (Disparate impacte doctrine) ou Teoria do
Impacto Adverso, em que condutas, seja do âmbito público ou privado, tidas formal
e aparentemente como neutras, quando de sua aplicação prática acarretam
prejuízos desproporcionais a determinados grupos, categorias ou classes de pessoas.

Como aplicação do Direito à Igualdade, necessário colacionar os seguintes julgados,


com as respectivas ideias basilares:

Julgado em Frase: Estabelecimento de limite de idade em concurso


público apenas é legitimo quanto as atribuições do cargo assim
exigirem. (ARE 874851 AgR, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Primeira
Turma, julgado em 15/03/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-068
DIVULG 12-04-2016 PUBLIC 13-04-2016)

Julgado em Frase: Em virtude do Princípio da Igualdade, a remarcação


de teste de aptidão para candidata gestante (e lactante) independe de
previsão em edital. (RE 1058333, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno,
julgado em 21/11/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-185 DIVULG 24-
07-2020 PUBLIC 27-07-2020)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 81
Julgado em Frase: É constitucional a ação afirmativa de cota racial.
(ADC 41, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
08/06/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-180 DIVULG 16-08-2017
PUBLIC 17-08-2017)

Julgado em Frase: É inconstitucional lei que preveja requisitos


diferentes entre homens e mulheres para que recebam pensão por
morte. (RE 659424, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno,
julgado em 13/10/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-280 DIVULG 25-11-2020 PUBLIC 26-11-2020)

Julgado em Frase: Lei que proíbe que policiais exerçam a atividade de


advocacia não fera o princípio da isonomia. (ADI 3541, Relator(a):
Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 12/02/2014,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-057 DIVULG 21-03-2014 PUBLIC 24-03-
2014)

12.4 DIREITOS RELACIONADOS À SEGURANÇA JURÍDICA

Inicialmente, destaque-se que, ao tutelar o direito à segurança, o art. 5º da


Constituição Federal tutela a segurança jurídica, que é um direito de 1ª dimensão, e
não a segurança pública que, por sua vez, é um direito de 2ª dimensão, previsto no
art. 6º da Constituição Federal:

Art. 5º, CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Art. 6º, CF: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o


trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

O Princípio da Legalidade, com origem no surgimento do Estado de Direito e previsão


no art. 5º, II, da Constituição Federal, é apresentado da seguinte forma: “Ninguém
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.
DIREITO CONSTITUCIONAL | 82
A criação do Princípio da Legalidade, com submissão dos particulares e do Poder
Público ao império legal, foi uma insurgência a toda e qualquer forma de
manifestação de poder autoritário e antidemocrático do Estado.

Saliente-se que tal princípio apresenta-se em duas dimensões diferentes, a saber:

1ª) Para o Direito Público: O Poder Público apenas pode atuar e cumprir
dentro dos limites que é determinado ou autorizado pelo ordenamento
jurídico, incorrendo em um critério conhecido como critério da subordinação
à lei.

2ª) Para o Direito Privado: Ao passo que o Particular pode fazer tudo aquilo
que não seja proibido, vedado, pelo ordenamento jurídico, incorrendo em um
critério conhecido como critério de não contradição à lei.

ESTABILIDADE DAS RELAÇÕES JURÍDICAS

O art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, tutela 3 [três] institutos jurídicos, quais
sejam: A) direito adquirido, B) ato jurídico perfeito e; C) coisa julgada ou caso
julgado, nos seguintes termos: “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada.”

Os institutos podem ser assim definidos:

• Direito Adquirido: São os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa
exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou
condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.

• Ato Jurídico Perfeito: O ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em


que se efetuou. Aperfeiçoamento de todos os elementos considerados
necessários à validade do ato.

• Coisa Julgada ou Caso Julgado: A decisão judicial de que já não caiba recurso.
O esgotamento de todos os módulos processuais capazes de influir na decisão
judicial. Revestida dessa eficácia, a decisão judicial não pode mais ser alvo de
alteração.

Saliente-se que existem três situações em que não se é possível alegar o instituto do
Direito Adquirido, a saber: A) Em face de uma nova Constituição; B) Em face de

DIREITO CONSTITUCIONAL | 83
mudança de padrão monetário (mudança de moeda); C) Em face de mudança de
regime jurídico estatutário.

E, pelo fato de inexistirem direitos fundamentais absolutos, como já dito e repisado,


necessário salientar que existe exceção constitucional à estabilidade das relações
jurídicas, como, por exemplo, a retroatividade da lei penal benéfica [novatio legis in
mellius], prevista no art. 5º, LX, da Constituição Federal, com a seguinte redação: “A
lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”, que pode desconstituir uma
situação, em tese imutabilizada pelo manto da coisa julgada.

PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO

O art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, dispõe que “A lei não excluirá da apreciação
do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.”, o que configura o Princípio da
Inafastabilidade da Jurisdição.

E, assim, é permitido acionar o Poder Judiciário sempre que se estiver presente uma
ameaça ou uma lesão a um direito, o que demonstra a possibilidade de uma atuação
tanto preventiva quanto repressiva, excluindo e demonstrando a inexistência do
Princípio da Jurisdição Condicionada ou Instância Administrativa de Curso Forçado,
que se exige, antes de acionar o Poder Judiciário, o exaurimento das instâncias
administrativas.

Ressalte-se que existem situações em que a parte é obrigada a exaurir instâncias


administrativas prévias antes de acionar o Poder Judiciário, como por exemplo em
questões atinentes à A) Justiça Desportiva, B) impetração de Habeas Data, C)
algumas ações previdenciárias, D) descumprimento de Súmula Vinculante, dentre
outras:

Art. 217, CF: É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-
formais, como direito de cada um, observados: §1º O Poder Judiciário só
admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após
esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.

Sum. 02, STJ: Não cabe o habeas data se não houve recusa de informações
por parte da autoridade administrativa.

Algumas vozes doutrinárias se levantam no sentido de apontar para a


inconstitucionalidade da Lei de Arbitragem, ao fundamento de que, ao se valer do
procedimento, o interessado, posteriormente, não poderia questionar a o mérito da

DIREITO CONSTITUCIONAL | 84
decisão perante o Poder Judiciário, o que violaria o princípio da inafastabilidade da
jurisdição.

Porém, tal entendimento não prospera, haja vista que a legislação, em nenhum
momento, impõe a utilização da arbitragem, que apenas é instaurada caso o
interessado manifeste sua vontade nesse sentindo, inexistindo imposição para
tanto.

Ondas Renovatórias de Acesso à Justiça: Ligado ao princípio da inafastabilidade da


jurisdição, Mauro Cappelletti e Bryant Garth produziram um ensaio para o “Projeto
de Florença”, oportunidade em que, com base em uma observação empírica, entre
as dificuldades de acesso ao Poder Judiciário e o que foi feito para promover sua
superação, identificaram 3 [três] ondas renovatórias no processo evolutivo de
acesso à ordem jurídica justa, assim esquematizada:

Lei de Assistência
Entrave: Custos de
Judiciária Gratuita,
1ª Onda Renovatória acesso ao Poder
Defensoria Pública e
Judiciário.
Advogados Dativos.

Lei de Ação Civil


Entrave: Legitimidade Pública, com instituição
2ª Onda Renovatória para tutelar bens de legitimidades
Ondas Renovatórias coletivos especiais para tutela dos
direitos transindividuais.

Justiça Multiportas, com


possibilidade de se
Entrave: Uma única
utilizar formas
possibilidade, dentro do
alternativas de solução
3ª Onda Renovatória Poder Judiciário, para
dos conflitos, como
resolver um conflito de
conciliação, arbitragem,
interesses.
mediação, dentre
outros.

DEVIDO PROCESSO LEGAL, CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

Tais institutos jurídicos são apresentados em dois dispositivos constitucionais, que


apresentam a seguinte redação:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 85
Art. 5º, LIV, CF: Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal;

Art. 5º, LV, CF: Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e


aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes;

Devido Processo Legal: O devido processo legal impede que um indivíduo seja
privado de seus bens ou de sua liberdade sem que antes tenha sido observado uma
sequência concatenada e sucessiva de atos processuais e procedimentos
previamente dispostos em lei, oportunidade em que ao final deverá ser proferida
uma decisão proporcional, razoável, justa.

O devido processo legal nem sempre teve essa definição, isso porque na época da 1ª
Dimensão dos Direitos Fundamentais, vigorava a dimensão formal ou processual do
instituto e, com o surgimento de novos anseios sociais, passou-se a se exigir uma
dimensão material ou substancial do instituto.

Isso porque, o Devido Processo Legal Formal ou Processual se satisfazia com a


observação de uma sequência concatenada de atos processuais previamente
estipulada em lei. Porém, essa dimensão, apesar de ter sido uma grande conquista
na época, culminava em decisões desarrazoadas, desproporcionais, injustas.

Para aperfeiçoar tal situação, surgiu, então, a segunda dimensão do Devido Processo
Legal, qual seja, a Material ou Substancial, que entende que os direitos
fundamentais devem ser tutelados com base nos critérios da razoabilidade e
proporcionalidade.

Os Princípio da Proporcionalidade e Razoabilidade não são princípios constitucionais


expressos, retirando, portanto, seus fundamentos de validade do Devido Processo
Legal na sua dimensão material.

Sobre o devido processo legal, necessário a colação do julgado abaixo com a seguinte
ideia prévia:

Julgado em Frase: Lei estadual que proíbe a Administração Pública de


contratar empresa que tenha nos seus quadros empregado condenado
por crime ou contravenção fere o devido processo legal e a
intranscendência da pena, sendo, portanto, inconstitucional. (ADI 3092,
Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 22/06/2020,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-204 DIVULG 14-08-2020 PUBLIC 17-08-2020)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 86
Contraditório: A ideia do contraditório é a de assegurar às partes o direito de serem
cientificadas de todos os atos e fatos havidos no curso do processo, podendo
manifestar-se e produzir as provas necessárias antes de ser proferida a decisão
jurisdicional, sendo composto, portanto, de 3 [três] elementos, a saber: Direito à
cientificação: A parte adversa deve estar ciente da existência da demanda ou dos
argumentos da parte contrária. Direito de participação: Possibilidade de a parte
oferecer reação, manifestação ou contrariedade à pretensão da parte contrária.
Possibilidade real de influenciar na decisão.

Ampla Defesa: Constitui no direito que todo indivíduo, submetido a um


procedimento administrativo ou judicial, tem de ser patrocinado por profissional
legalmente habilitado, com direito de escolha desse profissional, podendo exercer
sua autodefesa.

Importante pontuar que, apesar de um dos elementos da ampla defesa ser a defesa
técnica, o Supremo Tribunal Federal editou enunciado de Súmula Vinculante,
chancelado pelo n. 05, com a seguinte redação:

Súmula Vinculante 5: A falta de defesa técnica por advogado no processo


administrativo disciplinar não ofende a Constituição.

Apesar de não concordamos, é enunciado sumular que se encontra válido, sendo


aplicável aos casos postos a apreciação e, especialmente, cobrado em provas de
concursos públicos.

Sobre a autodefesa, na espécie “direito à audiência”, necessário salientar ter sido


ela que fundamentou a instituição da Audiência de Custódia, que é o direito que o
indivíduo tem, uma vez preso, de ser conduzido e apresentado à uma autoridade
judicial, no prazo máximo de 24 [vinte] quatro horas, para que haja uma análise
sobre a legalidade e necessidade da prisão, bem como se os Direitos Fundamentais
do Flagranteado foram respeitados.

Hoje, o instituto encontra-se previsto no Código de Processo Penal, no art. 3º, §1º,
com a seguinte redação:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 87
Art. 3º-B, §1º, CPP: O preso em flagrante ou por força de mandado de
prisão provisória será encaminhado à presença do juiz de garantias no
prazo de 24 horas, momento em que se realizará audiência com a presença
do Ministério Público e da Defensoria Pública ou de advogado constituído,
vedado o emprego de videoconferência. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

Lembrando que encontra previsão, também, na Convenção Americana Sobre


Direitos Humanos, assinada na Conferência Especializada Interamericana sobre
Direitos Humanos, San José, Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, sem seu art.
8.1, com a seguinte redação:

8.1.Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e


dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração
de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se
determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista,
fiscal ou de qualquer outra natureza.

PRINCÍPIO DO JUIZ OU JUÍZO NATURAL E DO PROMOTOR NATURAL

O art. 5º, LIII, da Constituição Federal dispõe que “Ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente.”, apresentando, portanto, os
Princípios do Juiz e do Promotor Natural.

O Princípio do Juiz Natural objetiva assegurar ao acusado o direito de ser submetido


a processo e julgamento não apenas no juízo competente, como também por órgão
do Poder Judiciário regularmente investido, imparcial e, sobretudo, previamente
conhecido segundo regras objetivas de competência anteriormente estabelecidas.
Em consequência, veda-se a criação de tribunais ou juízos de exceção, assim como a
designação de magistrado para atuar, especificamente, em um determinado caso.

De acordo com o Princípio do Promotor Natural, ninguém será processado senão


pela autoridade competente, vedando-se, portanto, a designação de membro do
Ministério Público para atuar em caso específico, quando isso implicar abstração das
regras gerais de atribuições estabelecidas anteriormente à prática da infração penal.

Durante algum tempo houve discussão acerca do fato de o art. 5º, LIII, da
Constituição Federal realmente agasalhar o Princípio do Promotor Natural, o que foi
pacificado no Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do PP 13142,
merecendo destaque, também, a síntese abaixo:
DIREITO CONSTITUCIONAL | 88
Julgado em Frase: O Princípio do Promotor Natural, previsto no art. 5º,
LIII, da Constituição Federal, apresenta uma dupla garantia. Uma para a
coletividade que tem certeza de que somente será processada por um
membro do Ministério Público prevista investido em suas atribuições.
Outra para o próprio membro do Ministério Público que sabe que não
sofrerá designações casuísticas para atuações. (HC 67759, Relator(a):
CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 06/08/1992, DJ 01-07-
1993 PP-13142 EMENT VOL-01710-01 PP-00121)

E, umbilicalmente ligado a norma existente no inc. LIII, tem-se o inc. XXXVII que
dispõe que “não haverá juízo ou tribunal de exceção”.

O dispositivo promove uma garantia de limitação do poder estatal ao proibir a


criação de órgão julgador criado para processar e julgar um caso específico, haja vista
que, conforme art. 8º da Convenção Americana de Direitos Humanos todo indivíduo
tem o direito de ser ouvido por um juiz ou tribunal competente, independente e
imparcial, estabelecido anteriormente pela lei:

8.1.Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e


dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que
se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista,
fiscal ou de qualquer outra natureza.

RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO

Incluído na Constituição Federal, no art. 5º, LXXVIII, por atuação do Poder


Constituinte Derivado Reformador, Emenda à Constituição n. 45, o Princípio da
Razoável Duração do Processo prevê o seguinte:

Art. 5º, LXXVIII, CF: A todos, no âmbito judicial e administrativo, são


assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação. (Incluído pela EC 45/2004).

Saliente-se que o que a Constituição Federal garante é um processo que tenha uma
duração razoável, de acordo com a complexidade do objetivo envolvido no litígio.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 89
A celeridade deve ser garantida e observada na tramitação de seu procedimento,
com a implementação do processo judicial eletrônico, malotes digitais para
comunicação entre Juízos, realização de audiência via sistema audiovisual, dentre
outros.

12.5 DIREITOS RELACIONADOS À PRIVACIDADE

INVIOLABILIDADE DOMICILIAR

Como regra, a casa é asilo inviolável do indivíduo. Mas, como todo direito
fundamental pode ser objeto de relativização, essa inviolabilidade pode ser afastada
em situações constitucionalmente previstas, merecendo destaque a transcrição da
disposição constitucional que trata sobre instituto:

Art. 5º, XI, CF: A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia,
por determinação judicial.

Saliente-se que para compreensão da norma constitucional, necessário se faz a


compreensão do alcance das palavras “casa”, “dia” e “noite”.

Casa: Para fins de Direito Constitucional, “casa” deve ser compreendido como todo
e qualquer compartimento habitável, desde que ocupado, abrangendo escritórios,
oficinas, garagens, quartos de hotéis, trailers, etc.

E o fato do local ser habitado é importante para a definição do instituto, haja vista
que o Superior Tribunal de Justiça entende que a “falta de mandado não invalida
busca e apreensão em apartamento desabitado”: (HC 588.445/SC, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 25/08/2020, DJe
31/08/2020)

Relacionado a temática em estudo, o Superior Tribunal de Justiça entente que


quando se trata de local aberto ao público a norma constitucional não deve incidir:

Julgado em Frase: Local aberto ao público não recebe a proteção


constitucional da inviolabilidade domiciliar. (Desembargador Convocado do
TRF 1ª Região), Sexta Turma, julgado em 6/12/2022, DJe de 15/12/2022.)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 90
Porém, tal situação não se confunde com a situação em que um determinado
indivíduo habita um prédio público abandonado, bem de uso especial. Aqui, incide a
proteção constitucional, dando-se destaque à interpretação extensiva que é dada ao
instituto jurídico-constitucional “casa”:

Julgado em Frase: O fato de o indivíduo habitar o prédio abandonado


de uma escola municipal não descaracterizaria o conceito de domicílio,
para fins de proteção constitucional. (AgRg no HC n. 712.529/SE, relator
Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 25/10/2022, DJe
de 4/11/2022.)

Dia e noite: Para a definição do deve ser considerado dia ou noite, necessário se faz
a combinação de dois critérios, a saber:

• Critério temporal, que entende dia como aquele período compreendido das
06h00min até as 18h00min e noite todo o período subsequente e;

• Critério físico-astronômico, que entende dia como o período compreendido


entre a autora e o crepúsculo e noite todo o período subsequente.

Conforme se verifica da transcrição do dispositivo constitucional, a relativização da


inviolabilidade domiciliar pode ocorrer, a qualquer momento, seja dia ou noite, em
casos de: Flagrante, Desastre ou para Prestar socorro.

E, em casos envolvendo o cumprimento de ordem judicial, a relativização apenas


pode ser efetivada durante o dia.

Dúvidas inexistem de que diversos agentes da área de segurança pública praticaram


atos configuradores de abuso de autoridade, ao relativizaram a regra da
inviolabilidade domiciliar e adentrarem em determinada casa ao argumento de que
nas suas interdependências estaria ocorrendo alguma situação flagrancial.

Com o escopo de trazer contornos objetivos à atuação dos agentes de segurança


pública, bem como garantir a preservação dos Direitos Fundamentais, tanto o
Superior Tribunal de Justiça, quanto o Supremo Tribunal Federal, promoveram a
distinção entre “fundadas razões justificantes” x “mera intuição policial”, surgindo
um critério a ser seguir para se permitir ou não a relativização do direito.

Para as Cortes Superiores, uma mera intuição policial não é capaz de permitir a
relativização da inviolabilidade domiciliar; é necessário que estejam presentes
fundadas razões, devidamente justificadas, de que no interior da residência esteja,

DIREITO CONSTITUCIONAL | 91
realmente, ocorrendo a prática de um injusto penal, sob pena de responsabilização
administrativa, civil e criminal do agente, bem como nulidade dos atos praticados.

Vejam os julgados que enfrentaram a temática, com as ideias nucleares:

Julgado em Frase: A atitude suspeita de um dos moradores da residência,


por si só, não dispensa investigações prévias ou mandado judicial para ser
realizada a violação do domicílio. (AgRg no HC n. 708.400/RS, relator
Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, julgado em 12/12/2022,
DJe de 15/12/2022.)

Julgado em Frase: Denúncia anônima, amparada por diligências prévias para


a constatação de sua veracidade, podem configurar fundadas razões para a
relativização da inviolabilidade domiciliar para verificação da ocorrência de
tráfico de drogas. (AgRg nos EDcl no RHC n. 143.066/RJ, relator Ministro
Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, julgado em 19/4/2022, DJe de
22/4/2022.) (RHC 83.501/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 06/03/2018, DJe 05/04/2018)

Julgado em Frase: Comportamento suspeito de indivíduo que empreende


fuga ao ver uma viatura policial não permite, por si só, a relativização da
inviolabilidade domiciliar, necessitando de diligências complementareis ou
mandado judicial. STJ. 6ª Turma. HC 695980-GO, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, julgado em 22/03/2022 (Info 730).

Julgado em Frase: A autorização judicial que permite o ingresso em


domicílio, não significa um salvo contudo para vasculhar todo o interior da
casa, em uma pescaria probatória, por configurar desvio de finalidade do
ato. STJ. 6ª Turma. HC 663055-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 22/03/2022 (Info 731).

Julgado em Frase: Desde que presentes fundadas razões de ocorrência de


flagrante delito, a entrada de policiais, sem autorização judicial, em quarto
de hotel, configura-se licita. (HC 659.527/SP, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/10/2021, DJe 25/10/2021)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 92
Julgado em Frase: Para ingresso em domicílio, em hipótese de flagrante
delito, exige-se justa causa, fundadas razoes, aferidas de modo objetivo e
devidamente justificadas, não servindo mera intuição policial. (HC
616.584/RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
30/03/2021, DJe 06/04/2021)

Julgado em Frase: A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é


lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões,
devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa
ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar,
civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados.
(RE 603616, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em
05/11/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-
093 DIVULG 09-05-2016 PUBLIC 10-05-2016)

Julgado em Frase: A mera intuição acerca de eventual traficância praticada


pelo recorrido, embora pudesse autorizar abordagem policial, em via
pública, para averiguação, não configura, por si só, justa causa a autorizar o
ingresso em seu domicílio, sem o consentimento do morador.(REsp
1574681/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado
em 20/04/2017, DJe 30/05/2017)

INTIMIDADE, VIDA PRIVADA, HONRA E IMAGEM

O art. 5º, X, da Constituição Federal dispõe que “São invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação”. A Norma Constitucional tutela
os institutos da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, que podem
ser assim definidos: Intimidade: É o direito que o indivíduo tem de estar só, em seu
momento de preservação. Vida privada: É o direito que o indivíduo tem se ver
respeitado no seu seio privado, sem a intervenção de outrem. Honra: Se apresenta
em duas espécies, honra objetiva, que é a visão da sociedade sobre o indivíduo,
como ele qualificado no meio social, bem como honra subjetiva, que é a visão do
próprio indivíduo sobre sua pessoa, como ele se autoqualifica. Imagem das pessoas:
É a representação da pessoa, por meio de desenhos, fotografias e outros, podendo
ser apresentada como imagem-retrato, que é o conceito de imagem visualmente
perceptível, abrangendo tudo que puder ser concretamente individualizado, com
todos os aspectos que individualizam a pessoa: corpo, voz, etc.; bem como imagem-
atributo, que são as qualidades intrínsecas da pessoa: prestigio, reputação no meio
social, etc.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 93
No que diz respeito ao direito à imagem, necessário colacionar o enunciado da
Súmula 403 do Superior Tribunal de Justiça, que incorpora regra de responsabilidade
civil objetiva, nos seguintes termos:

Súmula 403, STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela


publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou
comerciais.

SEGURANÇA DAS COMUNICAÇÕES PESSOAIS

O art. 5º, XII, da Constituição Federal assim dispõe “é inviolável o sigilo da


correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.”.

A norma constitucional tutela 4 [quatro] direitos fundamentais, todos eles


diretamente ligados com o direito à privacidade, a saber: A) comunicação telefônica;
B) correspondência, C) comunicação telegráfica e; D) comunicação de dados.

Para relativização das comunicações telefônicas é necessário ordem judicial, sendo


necessário a presença, o colorido do Direito Penal, por ser exigido a presença de
investigação criminal ou instrução processual penal.

Lado outro, o sigilo das correspondências, das comunicações telegráficas e das


comunicações de dados podem ser relativizados por determinação de outras
autoridades.

Conforme previsão existente no art. 1º, §3º, da LC 105/2001, é conferida à Receita


Federal a possibilidade de determinar a quebra de sigilo bancário
independentemente de autorização judicial. Da mesma forma, uma Comissão
Parlamentar de Inquérito, em âmbitos federal e estadual, poderá promover
diretamente a relativização desse direito fundamental ao sigilo, prevalecendo o
entendimento, em âmbito doutrinário, de que uma Comissão Parlamentar de
Inquérito, em âmbito municipal não possui esse poder. Lado outro, Autoridades
Policiais e membros do Ministério Público necessitam de autorização judicial para
afastarem o sigilo bancário.

Vejam os julgados que enfrentaram a temática:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 94
STJ: Não é possível a quebra de sigilo de dados informáticos estáticos
(registros de geolocalização) nos casos em que haja a possibilidade de violação
da intimidade e vida privada de pessoas não diretamente relacionadas à
investigação criminal. (Desembargador convocado do TJDFT), Quinta Turma,
por unanimidade, julgado em 15/03/2022, DJe 28/03/2022.

STF: É possível que o Fisco requisite de instituições financeiras informações


sobre movimentações bancárias sobre os contribuintes, sem intervenção do
Poder Judiciário. ADI 2390/DF.

STJ: É ilegal a requisição, sem autorização judicial, de dados fiscais pelo


Ministério Público. O STF não autorizou que o Ministério Público faça a
requisição direta (sem autorização judicial) de dados fiscais, para fins criminais.
STJ. 3ª Seção. RHC 83233-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
09/02/2022 (Info 724).

STJ: É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias de


contas de titularidade da Prefeitura Municipal, com o fim de proteger o
patrimônio público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário.
HC 308.493-CE.

STJ: Não há ilicitude das provas por violação ao sigilo de dados bancários, em
razão do compartilhamento de dados de movimentações financeiras da
própria instituição bancária ao Ministério Público. Isso porque não se trata de
informações bancárias sigilosas relativas à pessoa do investigado, senão de
movimentações financeiras da própria instituição. RHC 147.307-PE, Rel. Min.
Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma,
por unanimidade, julgado em 29/03/2022.

STF: A administração do presídio, com fundamento em razões de segurança


pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode,
sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41,
parágrafo único, da LEP, interceptar a correspondência que seria dirigida ao
preso. STF. 1ª Turma. HC 70814, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
01/03/1994.

Para além dos julgados acima, necessário conhecer a peculiaridade de que o


Supremo Tribunal Federal considerou constitucional a previsão legal de que o
Corregedor Nacional de Justiça promova a requisição direta de dados sigilosos em
processos ou procedimentos administrativos de sua competência regularmente
instaurado para apuração de infração por sujeito determinado, mediante decisão
fundamentada e baseada em indícios concretos da prática do ato:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 95
Julgado em Frase: O Corregedor Nacional de Justiça pode requisitar
diretamente dados sigilos em processos ou procedimentos
administrativos de sua competência. (ADI 4709, Relator(a): ROSA WEBER,
Tribunal Pleno, julgado em 30/05/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-112
DIVULG 08-06-2022 PUBLIC 09-06-2022)

Por fim, destaque que os dados obtidos de maneira sigilosa, por algum legitimado
para tanto, devem permanecer em sigilo, não sendo possível a sua publicização,
conforme decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, quando do
julgamento do MS 25940: “Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário,
telefônico e fiscal devem ser mantidos sob reserva. Assim, a página do Senado
Federal na internet não pode divulgar os dados obtidos por meio da quebra de sigilo
determinada por comissão parlamentar de inquérito (CPI)”.

12.6 DIREITOS RELACIONADOS AO DIREITO PENAL

TRIBUNAL DO JÚRI

Sobre direitos relacionados ao Direito Penal e Processo Penal, iniciamos o estudo


com a análise do Tribunal do Júri, com previsão no art. 5º, XXXVIII, com a seguinte
redação: “é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos
veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida”.

Os crimes que são submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri são os dolosos
contra a vida que se resumem a: Homicídio, Induzimento, instigação ou auxílio a
suicídio ou a automutilação, Infanticídio e Aborto.

Art. 121, Código Penal: Matar alguém: [...].

Art. 122, Código Penal: Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar


automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: [...].

Art. 123, Código Penal: M]atar, sob a influência do estado puerperal, o


próprio filho, durante o parto ou logo após: [...].

Art. 124, Código Penal: Provocar aborto em si mesma ou consentir que


outrem lho provoque: [...].

DIREITO CONSTITUCIONAL | 96
Art. 125, Código Penal: Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:

Art. 126, Código Penal: Provocar aborto com o consentimento da gestante:

Questão importante diz respeito ao foro de prerrogativa de função e o Tribunal do


Júri, devendo ser fixado o seguinte cenário:

• Foro de Prerrogativa de Função na Constituição Federal: Se houver


instituição de competência especial por prerrogativa de função na
Constituição Federal, haverá afastamento da norma geral. Ex. Art. 29, X, CF,
que estabelece que os Prefeitos são julgados pelo Tribunal de Justiça.

• Foro de Prerrogativa de Função exclusivamente na Constituição Estadual:


SV 45: A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro
por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição
Estadual.

PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, ANTERIORIDADE E IRRETROATIVIDADE

Os Princípios da Legalidade, Anterioridade e Irretroatividade da Lei Penal vêm


previstos no art. 5º, XXXIX e XL, com a seguinte redação:

Art. 5º, XXXIX: Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal;

Art. 5º, XL: A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

O Princípio da Legalidade, também conhecido como Princípio da Reserva Legal,


garante que um indivíduo não pode ser condenado pela prática de um fato que não
era, no momento da conduta, uma situação prevista como injusto penal. E, da
mesma forma, não poderá sofrer qualquer restrição sancionadora que não esteja
prevista em Lei.

O Princípio da Anterioridade da Lei Penal decorre do Princípio da Reserva legal e


proíbe a responsabilização criminal por atos que tenham sido praticados em
momento anterior a entrada em vigor da lei que definiu a conduta como uma
infração penal.

Por fim, o Princípio da Irretroatividade da Lei Penal estabelece que uma lei penal
que estabelece uma situação mais severa, mais restritiva, não pode retroagir para

DIREITO CONSTITUCIONAL | 97
prejudicar a situação do Réu. Porém, ressalte-se que existe possibilidade de a lei
penal retroagir para alcançar situações pretéritas desde que, de alguma forma,
venha a beneficiar a situação Réu.

RACISMO, AÇÃO DE GRUPOS ARMADOS E CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS

Racismo: Previsto no art. 5º, XLII, da Constituição Federal, com a seguinte redação:
“a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;”

Ação de grupos armados: Previsto no art. 5º, XLIV, da Constituição Federal, com a
seguinte redação: “constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos
armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;”

Crimes equiparados a hediondos: Previsto no art. 5º, XLIII, da Constituição Federal,


com a seguinte redação: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;”.

Atenção ao fato de que são imprescritíveis a prática de racismo e a ação de grupos


armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático,
inexistindo imprescritibilidade punitiva no que diz respeito aos crimes equiparados
a hediondos. E, todos eles são inafiançáveis.

Em reforço questão atinente a tortura, ressalte-se que o inc. III, do art. 5º, da
Constituição Federal, dispõe que “ninguém será submetido a tortura nem a
tratamento desumano ou degradante;”.

Por fim, saliente-se que, no julgamento do Habeas Corpus 154248, o Supremo


Tribunal Federal entendeu que o crime de injuria racional é espécie de racismo,
motivo pelo qual, também, é imprescritível e inafiançável.

Julgado em Frase: O crime de injúria racial, espécie do gênero racismo, é


imprescritível. (STF - HC: 154248 DF 0067385-46.2018.1.00.0000, Relator:
EDSON FACHIN, Data de Julgamento: 28/10/2021, Tribunal Pleno, Data de
Publicação: 23/02/2022)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 98
PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA DA PENA

Princípio previsto no art. 5º, XLV, da Constituição Federal, com a seguinte redação:
“nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar
o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.”

Prevê que a pena não pode ultrapassar a pessoa do condenado. Porém, é possível
que a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens sejam
executadas contra os sucessores, pois seriam efeitos da condenação diversos da
pena. Já a multa, por ser uma pena, não pode ser cobrada dos sucessores.

PENAS PERMITIDAS E PROIBIDAS

A Constituição Federal, em seu art. 5º, XLVI e XLVII, traz um rol de penalidades que
podem ser adotadas em nosso ordenamento e penalidades que não podem ser
adotadas, com a seguinte redação:

Art. 5º, XLVI, CF. a lei regulará a individualização da pena e adotará,


entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda
de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou
interdição de direitos;

Art. 5º, XLVII, CF. não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de
guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c)
de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;

Especificamente sobre a pena de multa, necessário destacar que o Superior Tribunal


de Justiça entende que o seu inadimplemento impede a extinção de punibilidade do
apenado:

Julgado em Frase: O inadimplemento da pena de multa obsta a extinção


da punibilidade do apenado. (STJ - AgRg no REsp: 1850903 SP
2019/0355868-8, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
Data de Julgamento: 28/04/2020, T5 - QUINTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 30/04/2020)

PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA

O art. 5º, XLVIII, da Constituição Federal dispõe que “a pena será cumprida em
estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do
DIREITO CONSTITUCIONAL | 99
apenado”. E, na mesma linha, seu inc. L assim dispõe “às presidiárias serão
asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o
período de amamentação”.

Ligado a esse dispositivo constitucional, tem-se as Regras Mínimas para Tratamento


de Presos, também chamadas de “Regras de Mandela”, que prevê que as diferentes
categorias de apenados devem ser mantidos em estabelecimentos separados ou em
diferentes zonas de um mesmo presídio, sendo que nesse último caso devem ser
separados por gênero, idade, antecedentes penais, razões da detenção e medidas
necessárias a aplicar.

PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU DA NÃO CULPABILIDADE

O Princípio da Presunção de Inocência, também conhecido por Princípio da Não


Culpabilidade, vem previsto no art. 5, LVII, da Constituição Federal com a seguinte
redação: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória;”.

Ressalte-se que é com base nesse princípio, que o Superior Tribunal de Justiça
entende que inquéritos policiais e ações penais em curso não podem ser utilizadas
para prejudicar o Acusado, agravando sua pena base:

Súmula 444, STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais


em curso para agravar a pena-base.

E sobre essa temática, necessário se faz o conhecimento sobre os seguintes julgados:

Julgado em Frase: É constitucional a regra do Código de Trânsito que impõe a


aplicação de multa e infrações administrativas aos motoristas que se recusem
a fazer bafômetro, exames clínicos ou perícias visando aferir influência de
álcool ou outra substância psicoativa. STF. Plenário. RE 1224374/RS, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 18 e 19/5/2022 (Repercussão Geral – Tema 1079) (Info
1055).

Julgado em Frase: Se o indivíduo possui contra si uma condenação criminal


transitada em julgado, ele não poderá ser vigilante, mesmo que já tenha
cumprido a pena há mais de 5 anos. (REsp 1597088/PE, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/08/2017, DJe
12/09/2017)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 100


PRISÃO

O art. 5º, LXI, da Constituição Federal, dispõe que “ninguém será preso senão em
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei;”.

Essa restrição da liberdade de locomoção, bem como o local onde o detido se


encontre deve ser comunicada ao Juiz competente e à família do preso ou à pessoa
por ele indicada, conforme prevê o art. LXII da Carta Magna.

Com o recebimento da comunicação da detenção, o Juiz competente deve realizar


uma audiência, conhecida por Audiência de Custódia, que tem por objetivo verificar
a legalidade da prisão realizada, se os direitos fundamentais do indivíduo foram
preservados, além de ser feita uma análise da possibilidade de concessão de
liberdade provisória ao Apresentado.

Na Audiência de Custódia, o Magistrado deverá verificar se os seguintes direitos


foram observados, desde o momento da detenção até sua apresentação:

Art. 5º, XLIX. é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

Art. 5º, LVIII. o civilmente identificado não será submetido a identificação


criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;

Art. 5º, LXIII. o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;

Art. 5º, LXIV. o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua
prisão ou por seu interrogatório policial;

Caso a prisão seja considerada ilegal, por não obedecer ao que prevê a legislação de
regência, será ele relaxada conforme prevê o art. 5º, LXV, da Constituição Federal,
que assim dispõe “a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade
judiciária”.

Caso a prisão seja considerada legal, será ela homologada pelo Juiz, passando-se a
análise da possibilidade de concessão de liberdade provisória ao Apresentado,
conforme prevê o art. 5º, LXVI, da Carta Magna, que tem a seguinte redação
“ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança;”.
DIREITO CONSTITUCIONAL | 101
DIREITO DE QUEIXA SUBSIDIÁRIA

O art. 5º, LIX, da Constituição Federal, dispõe que “será admitida ação privada nos
crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal”.

Como é cediço, o titular da ação penal pública é o Ministério Público, sendo


responsável pelo oferecimento de Denúncia no prazo estabelecido pela lei. Porém,
caso o órgão ministerial quede-se inerte no oferecimento da Denúncia, surge para a
Vítima ou seus Representantes a possibilidade de promoverem uma Ação Penal
Subsidiária da Ação Penal Pública, ou seja, surge para eles a possibilidade do direito
de queixa.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 102


13 DIREITOS SOCIAIS

13.1 INTRODUÇÃO

O Constitucionalismo Moderno se apresentou em dois momentos distintos. Em um


primeiro momento, com um viés Liberal e, em um segundo momento, com um viés
Social.

Os ideais liberais fracassaram, isso porque um absenteísmo estatal não era mais
suficiente, surgiu-se a necessidade de exigir do Estado uma postura ativa, com o
escopo de promover o Princípio da Igualdade, levando bens jurídicos a quem não
tinha acesso. E, diante disso, surge o Constitucionalismo Social, que é um segundo
momento do Constitucionalismo Moderno.

A grande conquista do Constitucionalismo Social foram os Direitos Sociais, que são


direitos de 2ª Dimensão, que se apresentam como prestações positivas a serem
implementadas pelo Estado (Estado Social de Direito) e tendem a concretizar a
perspectiva de uma isonomia substancial e social.

Os primeiros documentos constitucionais que positivaram Direitos Sociais em seus


textos foram os seguintes: Constituição Mexicana, de 1917; Constituição de Weimar,
na Alemanha, de 1919; Constituição Brasileira, de 1934

Constituição do México, de 1917: A Constituição Política dos Estados Unidos


Mexicanos, de 1917, foi “A primeira Constituição que atribuiu o caráter de
fundamentalidade aos direitos sociais, ao lado das liberdades públicas e dos direitos
políticos” Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1753).
Saraiva Jur.

Constituição de Weimar, Alemã, de 1919: Conforme ensinamentos de Flávio


Martins, a Constituição de Weimar “Foi pioneira na previsão da igualdade entre
marido e mulher (art. 119), na equiparação de filhos legítimos e ilegítimos (art. 121),
na tutela estatal da família e da juventude (art. 119 e 122), mas tem importância
histórica marcante na previsão de disposições sobre educação pública e direito
trabalhista, a partir do art. 157.” (2022, p. 1756).

Constituição Brasileira, de 1934: Inspirada das Constituições Mexicanas, de 1917, e


Alemã, de 1919, a Constituição Brasileira de 1934 foi a primeira, em nosso
ordenamento jurídico, a prever direitos sociais.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 103


E a nossa atual Constituição Federal, traz em seu art. 6º, um rol exemplificativo, não
taxativo, de Direitos Sociais, nos seguintes termos:

Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o


trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.

Interessante destacar que a Emenda Constitucional nº 114, de 2021 incluiu um


parágrafo único ao art. 6º da Constituição Federal, conferindo o direito a uma renda
familiar básica ao brasileiro em situação de vulnerabilidade:

Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá


direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em
programa permanente de transferência de renda, cujas normas e
requisitos de acesso serão determinados em lei, observada a legislação
fiscal e orçamentária.

13.2 TEORIAS

Diversas teorias debatem sobre a aplicação dos Direitos Sociais, merecendo


destaque as seguintes:

13.3 TEORIA DA RESERVA DO POSSÍVEL

De forma singela, podemos sintetizar essa teoria da seguinte forma: Surgimento:


Alemanha, em 1970; Ideia: Limitações fáticas e jurídicas que impedem a
concretização de Direitos Sociais.

Apesar de recepcionada essa Teoria por nossa doutrina e jurisprudência, ela sofreu
adaptações em relação aos termos originais [alemã], haja vista que em sua
concepção original essa teoria era utilizada para se referir aquilo que era
razoavelmente concebido como devido em âmbito social, afastando pretensões
desproporcionais e irrazoáveis.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 104


13.4 TEORIA DO MÍNIMO EXISTENCIAL

Quem, pela primeira vez, em nosso ordenamento jurídico, trabalhou com essa teoria
foi o professor Ricardo Lobo Torres, em artigo intitulado “O Mínimo Existencial e os
Direitos Fundamentais”.

De acordo com o autor, o Mínimo Existencial compreende “condições mínimas de


existência humana digna que não pode ser objeto de intervenção do Estado e que
ainda exige prestações estatais positivas”.

Ressalte-se que não existe consenso sobre os direitos que compõe o Mínimo
Existencial, merecendo destaque o pensamento da professora Ana Paula de Barcelos
que defende que direitos relacionados à educação, saúde, assistência em caso de
necessidade e acesso ao Poder Judiciário compõe o mínimo existencial.

Por fim, saliente-se que o Mínimo Existencial, que é o mínimo necessário para que
uma pessoa tenha uma coexistência digna, não se confunde com Mínimo Vital que
se reduz a questão da sobrevivência física, sendo aquele muito mais amplo que este,
tendo o Superior Tribunal de Justiça já enfrentado a questão:

STJ: “o mínimo existencial não se resume ao mínimo vital, ou seja, o mínimo


para se viver. O conteúdo daquilo que seja o mínimo existencial abrange
também as condições socioculturais, que, para além da questão da mera
sobrevivência, asseguram ao indivíduo um mínimo de inserção na ‘vida’
social”. [AgRg em Aresp 790.767/MG]

13.5 PROIBIÇÃO DO RETROCESSO

Essa teoria, de origem alemã, remonta ao ano de 1970, também é apresentada com
as seguintes denominações “vedação do retrocesso”, “prohibición de regresividad”,
“ratchet effect”, “efeito cliquet”, e guarda relação direta com o Princípio da
Segurança Jurídica.

Essa teoria entende que os Direitos Sociais devem ser trabalhados com a ideia de
cumulação sucessiva no ordenamento jurídico e não uma retrocessão ou ausência
de progressividade. Deve-se ter em mente que é vedado a redução do nível dos
direitos sociais dos cidadãos.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 105


14 DIREITOS DA NACIONALIDADE

14.1 INTRODUÇÃO

A nacionalidade é o vínculo jurídico político que une um determinado individuo a


um determinado Estado, fazendo com que este passe a ser titular de direitos e,
também, de deveres perante esse ente soberano.

14.2 ESPÉCIES E CRITÉRIOS DE NACIONALIDADE

Existem duas espécies de nacionalidade, a saber:

• Nacionalidade Primária ou Originária ou Involuntária ou de 1º grau: É a


nacionalidade imposta, de maneira unilateral, independentemente da
vontade do indivíduo, pelo Estado, no momento do seu nascimento.

• Nacionalidade Secundária ou Adquirida ou Voluntária ou de 2º grau: É a


nacionalidade que se adquire por vontade própria, depois do nascimento.

No nosso ordenamento jurídico, a nacionalidade primária está ligada aos casos de


nacionalidade nata e a nacionalidade secundária aos casos envolvendo
naturalização.

Existem dois critérios de aquisição da nacionalidade, a saber:

• Critério do Jus soli ou critério da territorialidade: A definição da


nacionalidade é dada pelo critério do local de nascimento do indivíduo, ou
seja, pelo território de seu nascimento.

• Critério do Jus sanguinis ou critério do sangue: A definição da nacionalidade


é pelo critério do sangue, da ascendência, ou seja, o que determina a
nacionalidade, de acordo com esse critério, são seus vínculos de
ancestralidade.

Saliente-se que ambos os critérios não precisam ser utilizados isoladamente, sendo
permitida a aplicação conjunta dos critérios, conforme ficará demonstrado.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 106


14.3 BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS

Para balizar o estudo dessa temática, necessário se faz a colação do art. 12 da


Constituição Federal com os seguintes apontamentos:

Art. 12. São brasileiros:

I. natos:

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de


pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de
seu país;

Ponto 1: Aqui tem-se o critério do jus soli. E, além disso,


para que não se adquira a nacionalidade brasileira,
mesmo nascendo no Brasil, é necessário que ambos os
pais estrangeiros estejam a serviço de seu país ou que
um deles esteja apenas acompanhando o outro.

Ponto 2: O território brasileiro deve ser compreendido


como a soma do território material com o território por
extensão. O território material compreende o solo e o
subsolo, as águas internas, o espaço aéreo
correspondente e o mar territorial, que compreende
uma faixa de 12 milhas marítimas de largura. O conceito
de território por extensão é extraído do art. 5º, §1º, do
Código Penal, compreendendo os navios e aeronaves
públicos, onde quer que estejam e os navios e aeronaves
privados que estiverem dentro do Brasil ou em alto mar.

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe


brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da
República Federativa do Brasil;

Ponto 1: Aqui tem-se o critério do jus sanguinis, somado


a um critério funcional.

Ponto 2: De acordo com a doutrina, a expressão “estar


a serviço da República Federativa do Brasil” significa
“estar a serviço do Estado Brasileiro, numa missão
diplomática, ou a serviço da Administração Pública
direta ou indireta, federal, estadual ou municipal.”

DIREITO CONSTITUCIONAL | 107


[Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª
edição 2022 (p. 1821). Saraiva Jur.]

c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe


brasileira, desde que sejam registrados em repartição
brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de
atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;

Alínea “c” 1ª parte: Aqui tem-se o critério do jus


sanguinis somado a um critério do registro. E por
repartição competente deve ser compreendido como
repartição consular.

Alínea “c” 2ª parte: A opção pela nacionalidade


brasileira é um ato personalíssimo que deve ser
postulado perante a Justiça Federal, após o indivíduo
atingir a maioridade.

II. naturalizados:

a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade


brasileira, exigidas aos originários de países de língua
portuguesa apenas residência por 1 ano ininterrupto e
idoneidade moral;

Ponto 1: Os requisitos da naturalização ordinária estão


previstos na legislação infraconstitucional,
especificamente no art. 65 do Estatuto do Imigrante [Lei
13.445/2017].

Ponto 2: Para os originários de países de língua


portuguesa [Angola; Açores; Cabo Verde; Moçambique;
Portugal; Timor Leste], exige-se apenas os dois
requisitos constitucionais acima mencionados.

Ponto 3: Mesmo que todos os requisitos estejam


preenchidos, seja da legislação infraconstitucional, seja
da Constitucional Federal, não terá o estrangeiro direito
subjetivo a naturalização, haja vista que tal ato é
considerado um ato de soberania do Estado. Nas
palavras de Valério Mazzuoli: “Não existe direito público

DIREITO CONSTITUCIONAL | 108


subjetivo à naturalização, a qual é sempre discricionária
do governo e se opera em atenção aos interesses
nacionais, mesmo que o requerente satisfaça todos os
requisitos necessários à sua concessão” [Op. cit. p. 694]

b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na


República Federativa do Brasil há mais de 15 anos
ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram
a nacionalidade brasileira.

Ponto 1: A norma constitucional exige residência


regular, portanto, não é possível estender sua aplicação
aos imigrantes ilegais.

Ponto 2: A norma constitucional, ao exigir que o lapso


temporal de 15 anos seja ininterrupto, não impede a
ausência temporária do estrangeiro, podendo ele se
ausentar temporariamente do território nacional.

Ponto 3: [...] segundo entendimento doutrinário e


jurisprudencial, ao contrário da naturalização ordinária,
preenchidos os dois requisitos da naturalização
extraordinária ou quinzenária, o estrangeiro terá direito
subjetivo à naturalização.” [Martins, Flávio. Curso de
direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1838). Saraiva
Jur.]

Especificamente sobre a naturalização, a Constituição Federal de 1988 não prevê a


naturalização tácita ou grande naturalização ou nacionalização unilateral, como
aconteceu na vigência das Constituições de 1824 e 1891, mas tão somente
naturalização expressa, que se divide em: A) ordinária e B) extraordinária, podendo
ser esquematizada da seguinte forma:

• Naturalização ordinária: Prevista no art. 12, II, “a”, da Constituição Federal,


bem como no Estatuto do Imigrante, em situações que não se cria um direito
público subjetivo para o pretenso indivíduo. Isso porque, mesmo que o
Requerente preencha todos os requisitos legais para a concessão da
naturalização, a palavra final fica sob um juízo de conveniência e
oportunidade política da autoridade competente, por se tratar de ato de
soberania estatal do Chefe do Poder Executivo Federal.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 109


• Naturalização extraordinária: Prevista no art. 12, II, “b”, da Constituição
Federal, em situação que se cria um direito público subjetivo para o pretenso
indivíduo. Isso porque, preenchidos os requisitos constitucionais [residência
ininterrupta por mais de 15 anos + ausência de condenação penal], o
Requerente adquire o direito público subjetivo, o direito potestativo, de
adquirir a nacionalidade brasileira.

14.4 QUASE NACIONAIS

Os quase-nacionais são estrangeiros, especificamente estrangeiros oriundos do país


Portugal, aos quais são atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, conforme
dicção da norma prevista no art. 12, §1º, da Constituição Federal:

Art. 12, §1º: Aos portugueses com residência permanente no País, se


houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos
inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.

Vejam que os portugueses não perdem a sua cidadania e, por consectário,


continuam sendo portugueses, estrangeiros, mas podendo exercer os direitos
conferidos aos brasileiros, desde que não sejam vedados e haja, como visto, a
reciprocidade para brasileiros em Portugal. E, o gozo dos direitos políticos no Brasil
importa em suspensão do exercício dos mesmos direitos em Portugal.

14.5 DISTINÇÃO ENTRE BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS E ESTRANGEIROS

Em razão do Princípio da Igualdade, a Lei não pode estabelecer distinção entre


brasileiros natos e brasileiros naturalizados. Apenas a Constituição Federal pode
estabelecer eventual tratamento diferenciado nesse sentido.

E a nossa Constituição Federal apresentou 4 [quatro] grupos de situações em que é


conferido um tratamento diferenciado ao brasileiro nato, a saber;

• Cargos exclusivos de brasileiros natos: Conforme dispõe o art. 12, §3º, da


Constituição Federal, são cargos exclusivos e que apenas podem ser
ocupados por brasileiros natos os seguintes: Oficial das Forças Armadas,
Carreira Diplomática, Ministro de Estado da Defesa, Ministro do Supremo
Tribunal Federal, Presidente do Senado Federal, Presidente da Câmara dos
Deputados, Presidente e Vice-Presidente da República.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 110


• Funções exclusivas de brasileiros natos: 6 [seis] assentos existentes no
Conselho da República são destinados e apenas podem ser ocupados por
brasileiros natos, merecendo destaque a transcrição da norma constitucional:

Art. 89, CF: O Conselho da República é órgão superior de consulta do


Presidente da República, e dele participam: I. o Vice-Presidente da
República; II. o Presidente da Câmara dos Deputados; III. o
Presidente do Senado Federal; IV. os líderes da maioria e da minoria
na Câmara dos Deputados; V. os líderes da maioria e da minoria no
Senado Federal; VI. o Ministro da Justiça; VII. seis cidadãos
brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo
dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo
Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos
com mandato de três anos, vedada a recondução.

• Extradição Passiva: Impossibilidade de extradição de brasileiro nato: A


norma constitucional prevista no art. 5º, LI, impede que brasileiro nato seja
extraditado, permitindo a extradição apenas de estrangeiros e brasileiros
naturalizados.

• Propriedade de empresas jornalísticas e de radiofusão sonora e sons e


imagens: A Constituição Federal, em seu art. 222, estabelece que a
propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e
imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos,
ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede
no País.

14.6 PERDA NA NACIONALIDADE

Sobre a perda da nacionalidade brasileira, necessário colacionar a norma prevista no


art. 12, §4º, da Constituição Federal:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 111


Art. 12, §4º, CF: Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

I. tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de


atividade nociva ao interesse nacional;

II. adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: A) de reconhecimento de


nacionalidade originária pela lei estrangeira; B) de imposição de
naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado
estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o
exercício de direitos civis;

Veja que, como regra, o nosso ordenamento jurídico não admite a dupla
nacionalidade, salivo nas hipóteses previstas nos incisos I e II acima transcritos.

Inciso I: A hipótese prevista no inciso I é denominada como perda punição e é


aplicável única a exclusivamente para casos envolvendo brasileiros naturalizados,
podendo ser aplicada somente por ação judicial, proposta pelo Ministério Público
Federal, perante a Justiça Federal.

Com o cancelamento da naturalização do estrangeiro ele não poderá, mais uma vez,
se naturalizar brasileiro, sendo-lhe franqueado como única alternativa a propositura
de Ação Rescisória em face da sentença judicial transitada em julgado que decretou
a perda de sua nacionalidade.

Inciso II: A hipótese prevista no inciso II é denominada perda mudança e é aplicável


aos brasileiros natos, hipótese em que a perda da nacionalidade independe de ação
judicial e se concretiza em âmbito de procedimento administrativo, conforme se
depreende do julgado abaixo:

STF: CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. BRASILEIRA NATURALIZADA


AMERICANA. ACUSAÇÃO DE HOMICÍDIO NO EXTERIOR. FUGA PARA O BRASIL. PERDA
DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA EM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO REGULAR.
HIPÓTESE CONSTITUCIONALMENTE PREVISTA. NÃO OCORRÊNCIA DE ILEGALIDADE OU
ABUSO DE PODER. DENEGAÇÃO DA ORDEM.

1. O Supremo Tribunal Federal é competente para o julgamento de mandado de


segurança impetrado contra ato do Ministro da Justiça em matéria extradicional. (HC
83.113/DF, Rel. Min. Celso de Mello).

DIREITO CONSTITUCIONAL | 112


2. A Constituição Federal, ao cuidar da perda da nacionalidade brasileira, estabelece
duas hipóteses: (i) o cancelamento judicial da naturalização (art. 12, § 4º, I); e (ii) a
aquisição de outra nacionalidade. Nesta última hipótese, a nacionalidade brasileira só
não será perdida em duas situações que constituem exceção à regra: (i)
reconhecimento de outra nacionalidade originária (art. 12, § 4º, II, a); e (ii) ter sido a
outra nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condição de permanência
em seu território ou para o exercício de direitos civis (art. 12, § 4º, II, b).

3. No caso sob exame, a situação da impetrante não se subsume a qualquer das


exceções constitucionalmente previstas para a aquisição de outra nacionalidade, sem
perda da nacionalidade brasileira.

4. Denegação da ordem com a revogação da liminar concedida. (MS 33864, Relator(a):


Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 19/04/2016, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-200 DIVULG 19-09-2016 PUBLIC 20-09-2016)

A doutrina ensina que “Essa hipótese se aplica tanto aos brasileiros natos como os
brasileiros naturalizados. Assim, se um brasileiro nato se naturaliza americano,
português, argentino etc., perderá a nacionalidade brasileira, em regra. Trata-se de
um resquício no direito brasileiro do “princípio da aligeância”. [Martins, Flávio. Curso
de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1857). Saraiva Jur.]

Porém, existem duas situações em que a Constituição Federal admite a dupla


nacionalidade, a saber:

• Reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;

• Imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro


residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu
território ou para o exercício de direitos civis;

Por fim, merece destaque o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal sobre
perda de nacionalidade:

Julgado em Frase: Brasileiro, titular de green card, que adquire


nacionalidade norte-americana, perde a nacionalidade brasileira e pode ser
extraditado pelo Brasil. (MS 33864, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO,
Primeira Turma, julgado em 19/04/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-200
DIVULG 19-09-2016 PUBLIC 20-09-2016)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 113


15 DIREITOS POLÍTICOS E PARTIDOS POLÍTICOS

15.1 DIREITO AO SUFRÁGIO

A Constituição Federal, em seu art. 14, caput, dispõe que a soberania popular será
exercida pelo sufrágio universal, destacando que existem dois aspectos compõe o
direito de sufrágio, a saber: Alistabilidade: É o direito de votar, também conhecido
como capacidade eleitoral ativa. Elegibilidade: É o direito de ser votado, também
conhecido como capacidade eleitoral passiva.

ALISTABILIDADE

De acordo com o Código Eleitoral Brasileiro, o alistamento eleitoral é a primeira fase


do processo eleitoral, tratando-se de um procedimento administrativo cartorário
que compreende dois atos: a qualificação e a inscrição do eleitor, se apresentando
como duas espécies: Obrigatório: Para os indivíduos com idade compreendida entre
18 anos e 70 anos. Facultativo: Para os indivíduos com idade compreendida entre
16 anos e 18 anos, maiores de 70 anos de idade, bem como para os analfabetos.
Quanto a esses últimos [analfabetos], tenha em mente o seguinte: podem votar,
porém, não podem candidatar a nenhum mandato eletivo

Ressalte-se que o alistamento eleitoral e o voto são proibidos, nos termos do art. 14,
§2º, para os estrangeiros e para os militares conscritos, durante o serviço militar
obrigatório.

15.2 ELEGIBILIDADE

CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE

A elegibilidade, também, conhecida como capacidade eleitoral passiva, é o direito a


ser votado. E para o exercício desse direito, necessário se faz a presença de
condições cumulativas, a seguir discriminadas: A nacionalidade brasileira: Para se
candidatar a determinado mandato eletivo, a pessoa deve ser brasileira nata ou
naturalizada, não se podendo perder de vista que os cargos de presidente e vice-
presidente da República são privativos de brasileiros natos. O pleno exercício dos
direitos políticos: Assim, o pretenso candidato não poderá estar com seus direitos
políticos perdidos ou suspensos, nos termos do art. 15 da Constituição Federal. O
alistamento eleitoral; O domicílio eleitoral na circunscrição; A filiação partidária:
Nosso ordenamento jurídico não admite candidaturas avulsas, como é permitido nos
Estados Unidos, devendo o pretenso candidato estar filiado a um partido politico. A
idade mínima de: A) 35 anos para Presidente e Vice-Presidente da República e
DIREITO CONSTITUCIONAL | 114
Senador; B)30 anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito
Federal; C)21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito,
Vice-Prefeito e juiz de paz; D)18 anos para Vereador.

Em regra, essas condições de elegibilidade devem ser aferidas no momento do


registro da candidatura. Porém, a condição da idade mínima deve ser verificada no
momento da posse. Inobstante, em virtude da Lei 13.165/2015, a idade mínima para
o cargo de vereador deve ser aferida no momento do registro da candidatura e não
no da posse, como para os demais cargos públicos eletivos.

CONDIÇÕES DE INELEGIBILIDADE

As condições de inelegibilidade são as situações que, caso presentes, privam o


individuo de concorrer a um mandato eletivo e subdividem em:

A) Absolutas, que somente podem ser previstas na Constituição Federal e


privam o indivíduo, de maneira integral, a concorrer a qualquer mandato
eletivo e;

B) Relativas, que podem ser previstas tanto na Constituição Federal, quanto


em Lei Complementar [Lei da Ficha Limpa: Lei Complementar 64/90] e privam
o indivíduo, de maneira temporária, a concorrer a determinado mandato
eletivo.

Os casos de inelegibilidade absoluta são os seguintes:

• Estrangeiros [inalistáveis];
• Durante o serviço militar obrigatório, os conscritos [inalistáveis];
• Analfabetos.

Os casos de inelegibilidade relativa são os seguintes:

• Inelegibilidade relativa para um 3º mandato sucessivo: Os chefes do Poder


Executivo [Prefeito, Governador e Presidente] não podem ser eleitos para um
terceiro mandato sucessivo, tendo previsão no art. 14, §5º, da Constituição
Federal:

Art. 14, §5º: O Presidente da República, os Governadores de Estado e do


Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no
curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período
subseqüente.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 115


Ressalte-se que pretensas candidaturas em Municípios diversos, em terceira
linha sucessiva, é considerada pelo Tribunal Superior Eleitoral como uma
burla a vedação do terceiro mandato, situação que ficou conhecida como
Prefeito Profissional ou Itinerante:

TSE: “[...]. Recurso contra expedição de diploma. Mudança de domicílio


eleitoral. ‘prefeito itinerante’. Exercício consecutivo de mais de dois mandatos
de chefia do executivo em muncípios diferentes. Impossibilidade. Violação ao
art. 14, § 5º da Constituição Federal. [...]. 2. A partir do julgamento do Recurso
Especial nº 32.507/AL, em 17.12.2008, esta c. Corte deu nova interpretação
ao art. 14, § 5º, da Constituição Federal, passando a entender que, no Brasil,
qualquer Chefe de Poder Executivo - Presidente da República, Governador de
Estado e Prefeito Municipal - somente pode exercer dois mandatos
consecutivos nesse cargo. Assim, concluiu que não é possível o exercício de
terceiro mandato subsequente para o cargo de prefeito, ainda que em
município diverso. 3. A faculdade de transferência de domicílio eleitoral não
pode ser utilizada para fraudar a vedação contida no art. 14, § 5º, da
Constituição Federal, de forma a permitir que prefeitos concorram
sucessivamente e ilimitadamente ao mesmo cargo em diferentes municípios,
criando a figura do ‘prefeito profissional’. 4. A nova interpretação do art. 14, §
5º, da Constituição Federal adotada pelo e. TSE no julgamento dos Recursos
Especiais nos 32.507/AL e 32.539/AL em 2008 é a que deve prevalecer, tendo
em vista a observância ao princípio republicano, fundado nas ideias de
eletividade, temporariedade e responsabilidade dos governantes. [...] (Ac. de
27.5.2010 no AgR-REspe nº 4198006, rel. Min. Aldir Passarinho Junior.)

• Desincompatibilização: Caso os Chefes do Poder Executivo [Prefeito,


Governador e Presidente da República], caso pretendam concorrer a outros
cargos [não estamos falando de reeleição], devem renunciar aos respectivos
mandatos até 6 [seis] meses antes do pleito para o cargo que pretendam
concorrer, conforme prevê o art. 14, §6º, da Constituição Federal:

Art. 14, §6º, CF: Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República,
os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem
renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

De acordo com Flávio Martins, “Caso um desses três queira se candidatar a


qualquer outro cargo público eletivo (se o prefeito quiser se candidatar a
governador, se o governador quiser se candidatar a senador etc.), deverá

DIREITO CONSTITUCIONAL | 116


renunciar ao atual mandato até seis meses antes do pleito eleitoral.” [2022
(p. 1972).]

• Inelegibilidade relativa reflexa, em razão do parentesco: Essa


inelegibilidade, diferente das duas anteriores, não macula o próprio agente
político, mas, sim, o conjunge e os parentes até 2º grau dos Chefes do Poder
Executivo [Prefeito, Governador e Presidente da República].

De acordo com o art. 14, §7º, da Constituição Federal, o cônjuge e os parentes


dos Chefes do Executivo não podem se candidatar a mandato eletivo no
território onde aqueles exerçam jurisdição, salvo se já forem titular de
mandato eletivo e candidato a reeleição:

Art. 14, §7º: São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e


os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do
Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
reeleição.

O quadro sinóptico abaixo traz uma dimensão da materialização da norma:

Cônjuge e Parentes Não poderão se candidatar aos seguintes cargos


do (...) (...)
Presidente Nenhum cargo eletivo no país, seja ele municipal,
estadual ou federal.
Governador Nenhum cargo no mesmo Estado, ou seja, aos
seguintes cargos: Vereador ou Prefeito de
qualquer município do respectivo Estado,
Deputado Estatual e Governador do respectivo
Estado, Deputado Federal e Senador nas vagas do
respectivo Estado.
Prefeito Vereador ou Prefeito

Ressalte-se a existência de atecnia normativa no omento em que a


Constituição Federal utilizada a palavra “jurisdição”, quando deveria utilizar
a palavra “circunscrição”, haja vista que aquela é reservada aos membros do
Poder Judiciário.

De acordo com o Supremo Tribunal Federal, as hipóteses de inelegibilidade


previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo de seis meses, são
aplicáveis às eleições suplementares:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 117


STF: CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
REPERCUSSÃO GERAL. PREFEITO AFASTADO POR DECISÃO DO TRE. ELEIÇÃO
SUPLEMENTAR. PRAZO DE INELEGIBILIDADE. ART. 14, § 7º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. APLICAÇÃO. 1. As hipóteses de inelegibilidade
previstas no art. 14, § 7º, da Constituição Federal, inclusive quanto ao prazo
de seis meses, são aplicáveis às eleições suplementares. Eleição
suplementar marcada para menos de seis meses do afastamento do
prefeito por irregularidades. 2. Recurso improvido. (RE 843455, Relator(a):
Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 07/10/2015, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-018 DIVULG 29-01-2016
PUBLIC 01-02-2016)

Essa inelegibilidade se aplica ao companheiro e companheira na constância


da união estável, bem como nas uniões homoafetivas, conforme
entendimento do Tribunal Superior Eleitoral.

Saliente-se que tentativas de burla à vedação da inelegibilidade relativa


reflexa/pelo parentesco foram perpetradas, com a dissolução do vínculo
conjugal, pelo divórcio, no curso do mandato, o que obrigou o Supremo
Tribunal Federal a editar o enunciado da Súmula Vinculante 18:

Súmula Vinculante 18: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no


curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14
da Constituição Federal.

Porém, como a dissolução do vínculo conjugal pode se dar tanto pelo


divórcio, quanto pela morte, posteriormente à edição da Súmula Vinculante,
o Supremo Tribunal Federal relativizou o enunciado da Súmula em casos
envolvendo a morte do Chefe do Executivo no curso do mandato:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 118


STF: CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. MORTE DE PREFEITO NO CURSO DO
MANDATO, MAIS DE UM ANO ANTES DO TÉRMINO. INELEGIBILIDADE DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE. CF, ART. 14, § 7º. INOCORRÊNCIA. 1. O que orientou a
edição da Súmula Vinculante 18 e os recentes precedentes do STF foi a
preocupação de inibir que a dissolução fraudulenta ou simulada de sociedade
conjugal seja utilizada como mecanismo de burla à norma da inelegibilidade
reflexa prevista no § 7º do art. 14 da Constituição. Portanto, não atrai a
aplicação do entendimento constante da referida súmula a extinção do
vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges. 2. Recurso extraordinário a
que se dá provimento. (RE 758461, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI,
Tribunal Pleno, julgado em 22/05/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-
2014)

• Inelegibilidade relativa em relação aos militares: De acordo com o art. 14,


§8º, da Constituição Federal, o militar alistável é elegível, atendidas as
seguintes condições: 1ª) se contar menos de 10 anos de serviço, deverá
afastar-se da atividade; 2ª) se contar mais de 10 anos de serviço, será
agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no
ato da diplomação, para a inatividade:

Por fim, destaque-se que Lei Complementar poderá estabelecer outros casos de
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade
administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa
do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do
poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na
administração direta ou indireta, conforme dicção da norma prevista no art. 14, §9º,
da Constituição Federal.

A Lei Complementar que regulamentou esse dispositivo constitucional é a Lei


Complementar 64/1990, conhecida como Lei da Ficha Limpa.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 119


Estrangeiros [inalistáveis]
Somente podem ser previstas
na Constituição Federal e
Durante o serviço militar obrigatório, os
Absolutas privam o indivíduo, de
conscritos [inalistáveis]
maneira integral, a concorrer
a qualquer mandato eletivo
Analfabetos
Inelegibilidade

Inelegibilidade relativa para um 3º


mandato sucessivo
Previstas tanto na
Constituição Federal, quanto
em Lei Complementar [Lei da Desincompatibilização
Ficha Limpa: Lei
Relativas Complementar 64/90] e
privam o indivíduo, de Inelegibilidade relativa reflexa, em
maneira temporária, a razão do parentesco
concorrer a determinado
mandato eletivo
Inelegibilidade relativa em relação aos
militares

15.3 VOTO

De acordo com o art. 60, §4º, II, da Constituição Federal, o voto, em nosso
ordenamento jurídico, apresenta as seguintes características:

• Direto: O voto é direto, haja vista que somente o eleitor pode exercê-lo, ou
seja, não pode se valer de mandatário ou interposta pessoa para o exercício
do ato. A doutrina ensina que “Voto direto é aquele em que o eleitor escolhe
diretamente seu representante (presidente, governador, deputado, senador,
vereador etc.), sem intermediários. O povo vai diretamente às urnas e escolhe
seus representantes. Importante frisar que há uma exceção prevista na
Constituição, de voto indireto: ocorrendo a vacância dos cargos de presidente
e vice-presidente da República nos dois últimos anos do mandato, “a eleição
para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo
Congresso Nacional, na forma da lei” (art. 81, § 1º, CF).” [Martins, Flávio.
Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1954). Saraiva Jur.]

• Secreto: O voto é secreto, haja vista que a cabine eleitoral é inviolável e


ninguém deve revelar os candidatos em que votou, merecendo destacar que
o Supremo Tribunal Federal entendeu que é inconstitucional a lei que
determina que, na votação eletrônica, o registro de cada voto deverá ser
impresso, justamente por violar essa característica do voto:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 120


STF: CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. LEGITIMIDADE DO CONGRESSO
NACIONAL PARA ADOÇÃO DE SISTEMAS E PROCEDIMENTOS DE ESCRUTÍNIO
ELEITORAL COM OBSERVÂNCIA DAS GARANTIAS DE SIGILOSIDADE E
LIBERDADE DO VOTO (CF, ARTS. 14, 60, § 4º, II). MODELO HÍBRIDO DE
VOTAÇÃO PREVISTO PELO ART. 59-A DA LEI 9.504/1997. POTENCIALIDADE DE
RISCO NA IDENTIFICAÇÃO DO ELEITOR CONFIGURADORA DE AMEAÇA À SUA
LIVRE ESCOLHA. CAUTELAR DEFERICA COM EFEITOS EX TUNC. 1. A
implementação do sistema eletrônico de votação foi valiosa contribuição para
assegurar a lisura dos procedimentos eleitorais, mitigando os riscos de fraudes
e manipulação de resultados e representando importante avanço na
consolidação democrática brasileira. 2. A Democracia exige mecanismos que
garantam a plena efetividade de liberdade de escolha dos eleitores no
momento da votação, condicionando a legítima atividade legislativa do
Congresso Nacional na adoção de sistemas e procedimentos de escrutínio
eleitoral que preservem, de maneira absoluta, o sigilo do voto (art. 14, caput, e
art. 60, §4º, II, da CF). 3. O modelo híbrido de votação adotado pelo artigo 59-
A da Lei 9.504/97 não mantém a segurança conquistada, trazendo riscos à
sigilosidade do voto e representando verdadeira ameaça a livre escolha do
eleitor, em virtude da potencialidade de identificação. 4. Medida cautelar
concedida para suspender, com efeito ex tunc, a eficácia do ato impugnado,
inclusive em relação ao certame licitatório iniciado. (ADI 5889 MC, Relator(a):
GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 06/06/2018, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-187 DIVULG 28-07-2020 PUBLIC 29-07-2020)

• Universal: O voto é universal, haja vista é um direito político reconhecido a


todos os nacionais do país, independentemente da pertinência a dado grupo
ou a dada classe ou da apresentação de certa qualificação. Preenchidos
requisitos constitucionais mínimos, todos podem votar e ser votados.

Saliente-se que, hoje, em nosso ordenamento jurídico, o sufrágio é


universal, mas é necessário conhecer outra espécie de sufrágio, qual
seja: o sufrágio restrito, que se apresenta nas seguintes espécies: A)
Capacitário: Prevê critérios concernentes à qualificação ou à
capacidade do eleitor, especialmente no que diz respeito ao preparo
ou à habilidade intelectual. B) Censitário: Concede-se o direito do voto
apenas a quem disponha de certa condição ou qualificação econômica.

Atenção: O que distingue o sufrágio universal do restrito não é o fato


de existirem restrições ao exercício do poder democrático, mas sim a
razoabilidade, ou não, de tais restrições. [Jaime Barreiros Neto, 2022,
p. 31]

DIREITO CONSTITUCIONAL | 121


• Periódico: O voto é periódico, haja vista que condições devem ser propiciadas
para permitir que aos cidadãos seja conferido de tempos em tempos,
escolher seus representantes.

15.4 PERDA OU SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS

Dentro dessa temática, a primeira informação que deve ser apresentada é a de que
é vedada a cassação de direitos políticos, ou seja, a retirada arbitrária dos direitos
políticos.

Porém, lado outro, é permitida a perda ou suspensão dos Direitos Políticos,


conforme dicção do art. 15 da Constituição Federal:

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão


só se dará nos casos de:

I. cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;

II. incapacidade civil absoluta;

III. condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus


efeitos;

IV. recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa,


nos termos do art. 5º, VIII;

V. improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

O grande problema que gravita em torno desse dispositivo constitucional é que ele
não estabelece qual(is) é(são) a(s) hipótese(s) de perda e de suspensão dos direitos
políticos.

Porém, de antemão, necessário salientar que, conforme ensinamento doutrinário,


“Embora o mencionado dispositivo legal não estabeleça as diferenças entre ambas
as penalidades constitucionais, podemos afirmar que a perda se dá por prazo
indeterminado e a suspensão se dá por prazo determinado.” [Martins, Flávio. Curso
de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1987).]

E a grande divergência gira em torno do inciso IV, haja vista que parte da doutrina
entende tratar-se de hipótese de perda e outra parte entende tratar-se de hipótese
de suspensão.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 122


Porém, como o Código de Processo Penal, em seu art. 438, dispõe que tal situação é
uma hipótese de suspensão dos direitos políticos, essa é a posição mais segura a ser
adotada:

Art. 438, CPP: A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa,


filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob
pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço
imposto.

Assim, em conclusão, defende-se que a única hipótese de perda dos direitos políticos
é a prevista no inciso I, qual seja, cancelamento da naturalização por sentença
transitada em julgado; sendo todas as demais hipóteses de suspensão dos Direitos
Políticos.

Por fim, no que tange à situação posta no inciso III, necessário destacar que a
suspensão de Direitos Políticos será aplicada mesmo nos casos de substituição da
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos:

STF: PENAL E PROCESSO PENAL. SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS.


AUTOAPLICAÇÃO. CONSEQUÊNCIA IMEDIATA DA SENTENÇA PENAL
CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO. NATUREZA DA PENA IMPOSTA
QUE NÃO INTERFERE NA APLICAÇÃO DA SUSPENSÃO. OPÇÃO DO
LEGISLADOR CONSTITUINTE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. A regra de
suspensão dos direitos políticos prevista no art. 15, III, é autoaplicável, pois
trata-se de consequência imediata da sentença penal condenatória
transitada em julgado. 2. A autoaplicação independe da natureza da pena
imposta. 3. A opção do legislador constituinte foi no sentido de que os
condenados criminalmente, com trânsito em julgado, enquanto durar os
efeitos da sentença condenatória, não exerçam os seus direitos políticos. 4.
No caso concreto, recurso extraordinário conhecido e provido. (RE 601182,
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ALEXANDRE
DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 08/05/2019, DJe-214 DIVULG 01-
10-2019 PUBLIC 02-10-2019)

15.5 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO

A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo [AIME] tem seu âmbito de cabimento


restrito, apenas podendo ser proposta, perante a Justiça Eleitoral, nos casos em que

DIREITO CONSTITUCIONAL | 123


se comprove que o candidato foi eleito ou diplomado graças ao: A) Abuso do poder
econômico; B) Atos de corrupção ou; C) Fraude.

Conforme prevê o art. 22 da Lei Complementar 64/1990, os legitimados para a


propositura da demanda são:

A) Partidos Políticos,
B) Coligações,
C) Candidatos e
D) Ministério Público Eleitoral.

Saliente-se que o prazo decadência para a propositura da demanda é de 15 dias,


contados da diplomação, devendo a demanda tramitar em segredo de justiça,
respondendo o autor, na forma da lei, caso litigue de maneira temerária ou de má-
fé.

Apesar de a Constituição Federal dispor que a AIME tramitará em segredo de justiça,


o Tribunal Superior Eleitoral já decidiu que o seu julgamento deve ser público: “O
trâmite da ação de impugnação de mandato eletivo deve ser realizado em segredo
de justiça, mas o seu julgamento deve ser público” (Res. n. 21. 283, de 5-11-2002,
rel. Min. Ellen Gracie).

Por fim, destaque que a presente demanda não admite desistência ou composição
entre as partes.

15.6 PRINCÍPIO DA ANUALIDADE

Segundo art. 16 da Constituição Federal, a lei que alterar o processo eleitoral entrará
em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até 1 ano
da data de sua vigência.

Assim, apesar de a lei que modificar o processo eleitoral entrar em vigor


imediatamente, ela apenas poderá ser aplicada às eleições que venham a ocorrer
pelo menos `anos depois de sua vigência.

Destaque que o Supremo Tribunal Federal entende que a aplicação retroativa da Lei
Complementar 64/1990 [Lei da Ficha Limpa] não fere o princípio em questão,
ressaltando que esse já era o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 124


As inelegibilidades da Lei Complementar n. 135/2010 incidem de imediato
sobre todas as hipóteses nela contempladas, ainda que o respectivo fato seja
anterior à sua entrada em vigor, pois as causas de inelegibilidade devem ser
aferidas no momento da formalização do pedido de registro da candidatura,
não havendo, portanto, que se falar em retroatividade da lei. (Ac. de 30-9-
2010 no AgR-RO n. 60.998, rel. Min. Arnaldo Versiani).

15.7 PARTIDOS POLÍTICOS

É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados


a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos
fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:

I. caráter nacional;

II. proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo


estrangeiros ou de subordinação a estes;

III. prestação de contas à Justiça Eleitoral;

IV. funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e
estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes
e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os critérios de
escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua
celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus
estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.

Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil,


registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.

Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à


televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente:

I. Obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% dos


votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
Federação, com um mínimo de 2% dos votos válidos em cada uma delas; ou

DIREITO CONSTITUCIONAL | 125


II. Tiverem elegido pelo menos 15 Deputados Federais distribuídos em pelo
menos 1/3 das unidades da Federação.

Ao eleito por partido que não preencher os requisitos acima previstos é assegurado
o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que os
tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos
recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão.

É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.

Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados Distritais e os


Vereadores que se desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o
mandato, salvo nos casos de anuência do partido ou de outras hipóteses de justa
causa estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso, a migração de partido
para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de outros fundos
públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão.

Sobre os Partidos Políticos, destaque que o Supremo Tribunal Federal entende que
as contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais e partidos políticos
são inconstitucionais, lado outro as contribuições feitas por pessoas físicas são
consideradas válidas:

STF: [...] A preliminar de inadequação da via eleita não merece acolhida, visto
que todas as impugnações veiculadas pelo Requerente (i.e., autorização por
doações por pessoas jurídicas ou fixação de limites às doações por pessoas
naturais) evidenciam que o ultraje à Lei Fundamental é comissivo, e não
omissivo. [...]. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente
procedente para assentar apenas e tão somente a inconstitucionalidade
parcial sem redução de texto do art. 31 da Lei nº 9.096/95, na parte em que
autoriza, a contrario sensu, a realização de doações por pessoas jurídicas a
partidos políticos, e pela declaração de inconstitucionalidade das expressões
“ou pessoa jurídica”, constante no art. 38, inciso III, e “e jurídicas”, inserta no
art. 39, caput e § 5º, todos os preceitos da Lei nº 9.096/95. (ADI 4650,
Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-034 DIVULG 23-02-2016 PUBLIC 24-02-2016)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 126


16 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

16.1 FEDERALISMO

IDEIA INICIAL

Quando se trabalha o instituto do Federalismo, surgem três ideias basilares, que


podem ser assim sintetizadas:

1ª Ideia: Denominação feita à relação existente entre as diversas unidades da


Federação, tanto entre si, quanto com o Governo Federal.

2ª Ideia: É um sistema político em que Municípios, Estados e Distrito Federal,


sendo independentes um do outro, formam um todo que valida um governo
central e federal, que governa sobre todos os entes.

3ª Ideia: É um sistema de governo, em que várias unidades parciais se reúnem


para formar um Estado; cada um conservando sua autonomia.

MOVIMENTOS DE FORMAÇÃO

O Federalismo apresenta tipologias, também conhecido como Movimentos de


Formação, que podem ser assim sistematizados:

A) Federalismo por movimento centrípeto ou por agregação;


B) Federalismo por movimento centrífugo ou por desagregação

No Federalismo por movimento centrípeto ou por agregação, a Federação se origina


da união de entes antes soberanos, que renunciam à parcela da soberania, para a
formação da federação. E como exemplo podemos citar os seguintes países: Estados
Unidos da América, Alemanha e Suíça.

No Federalismo por movimento centrífugo ou por desagregação a Federação se


origina de um Estado unitário, que se divide. Há, assim, a desagregação (divisão) do
poder central, nas novas unidades que se formam. No entanto, parcela maior deste
poder continua com o Estado central, que restringe a autonomia dos estados-
membros. E como exemplo podemos citar o Brasil, desde 1891.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 127


ESPÉCIES

Existem espécies de Federalismo, que podem ser sistematizadas da seguinte forma:

O Federalismo Dual ou Dualista caracteriza-se por uma repartição horizontal de


competências entre a União e os Estados Membros. A Constituição divide as
competências de forma equilibradas. Como a repartição é horizontal, pode-se dizer
que os entes estão no mesmo plano/patamar. Isso porque as entidades autônomas
são distintas, estanques, não se comunicam. A divisão é feita de maneira rígida, não
havendo interferência de um em outro e muito menos cooperação ou
interpenetração entre os entes.

O Federalismo Cooperativo flexibiliza o modelo de Federalismo Dual. O Federalismo


cooperativo surge com o Estado do Bem-Estar Social, com o exercício das atribuições
de modo comum ou concorrente, promovendo-se uma aproximação entre os entes
políticos.

O Federalismo Simétrico é apresentado pela doutrina com ideias diferentes. A


primeira ideia apresentada defende que o Federalismo Simétrico seria o típico
federalismo, pressupõe a adoção de um modelo tradicional com as características
dominantes de uma federação clássica, quais sejam: Soberania do Estado federal;
Descentralização política; Existência de uma Constituição rígida; Existência de um
órgão guardião da Constituição; Inexistência do direito de secessão.

O Federalismo Assimétrico é apresentado, também, pela doutrina com ideias


diferentes. A primeira ideia apresentada defende que é um federalismo atípico. É
aquele em que há um rompimento com as linhas tradicionais do federalismo
simétrico. E como exemplo, cita-se o Brasil, haja vista que na federação brasileira
temos algumas características que nenhuma outra federação do mundo possui,
como, por exemplo, a consagração de um Município ser um ente federativo. A
segunda ideia apresentada defende que o Federalismo Assimétrico apresenta uma
diversidade de cultura, língua ou desenvolvimento. Ex. Canadá.

O Federalismo de Integração caracteriza-se por uma repartição vertical de


competências, nas quais há uma relação de sujeição dos Estados em relação à União.
Há o fortalecimento do ente central em detrimento dos entes periféricos. O
professor André Ramos Tavares ensina que “No extremo, o federalismo de
integração será um federalismo meramente formal, cuja forte assimetria entre
poderes distribuídos entre as entidades componentes da federação o aproxima de
um Estado unitário descentralizado, com forte e ampla dependência, por parte das
unidades federativas, em relação ao Governo da União federal”.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 128


Ressalte-se que o §único do art. 23 da Constituição Federal dispõe que “Leis
complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do
bem-estar em âmbito nacional.”, o que dá conta que nosso ordenamento tende para
a adoção de um modelo de Federalismo Cooperativo.

ALTERAÇÃO DA FORMA FEDERATIVA DE ESTADO

A forma federativa de Estado foi incluída pelo Poder Constituinte Originário, no art.
60, §4º, da Constituição Federal, como cláusula pétrea, o que implica em afirmar
que tal instituto não pode ser objeto de supressão do nosso ordenamento jurídico:

Art. 60, §4º: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda


tendente a abolir: I. a forma federativa de Estado; II. o voto direto, secreto,
universal e periódico; III. a separação dos Poderes; IV. os direitos e garantias
individuais.

16.2 SOBERANIA E AUTONOMIA

Importante a diferenciação dos institutos da Soberania e Autonomia. A Soberania é


o poder supremo que permite que uma Nação se autodeterminar perante as demais
Nações e Organizações Internacionais A Autonomia consiste no conjunto de
capacidades atribuídas pela Constituição aos Entes Políticos, a fim de que possam
atuar dentro de suas esferas de competência.

Necessário que se tenha em mente que o Titular da Soberania é a República


Federativa do Brasil; porém, quem Exerce a Soberania em nome da República
Federativa do Brasil, é o ente político União.

Lado outro, quem possui autonomia são os entes políticos União, Estados-Membros,
Distrito Federal e Municípios. E essa autonomia consiste nas seguintes capacidades:

Capacidade de Autogoverno: Elegem diretamente os membros dos poderes


Legislativo e Executivo.

Capacidade de Autoadministração: Podem exercer livremente as


competências legislativas, tributárias e executivas delimitadas pela
Constituição.

Capacidade de Auto-legislação: Capacidade de os entes políticos elaborarem


suas próprias leis.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 129


Capacidade de Auto-organização: Estados-membros tem Constituições
próprias e Municípios tem Leis orgânicas próprias.

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Sobre a República Federativa do Brasil, os seguintes dispositivos precisam ser


destacados:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]

Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do


Brasil. §1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o
hino, as armas e o selo nacionais.

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do


Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
todos autônomos, nos termos desta Constituição.

Art. 210, §2º: O ensino fundamental regular será ministrado em língua


portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de
suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.

CONDUTAS VEDADAS AOS ENTES POLÍTICOS

Quando do estudo dos Direitos e Garantias Fundamentais, foi estudado a Liberdade


Religiosa, direito previsto no art. 5º, VII e VIII da Constituição Federal, que
compreende a Liberdade de escolha da religião, Liberdade de aderir a qualquer seita
religiosa, Liberdade (ou o direito) de mudar de religião [direito de apostasia],
Liberdade de não aderir a religião alguma [direito de apostasia] e a Liberdade de ser
ateu.

O art. 19 do Texto Magno traz três condutas vedadas aos Entes Políticos, a saber:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 130


Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: I. estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,
embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma
da lei, a colaboração de interesse público; II. recusar fé aos documentos
públicos; III. criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

E a conjugação das duas normas constitucionais permite afirmamos que o Brasil é


um país: Leigo, Laico, Não confessional.

Por fim, merece destaque o seguinte aresto do Supremo Tribunal Federal:

STF: O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro quanto


às religiões [ADPF 54, rel. min. Marco Aurélio, j. 12-4-2012, P, DJE de 30-4-
2013]

16.3 UNIÃO

A União é um ente político dotado de dupla personalidade, internamente é uma


pessoa jurídica de direito público interno, componente da Federação brasileira.
internacionalmente representa a República Federativa do Brasil em suas relações
internacionais.

A União detém a titularidade de determinados bens, conforme dicção do art. 20 da


Constituição, a saber:

Art. 20. São bens da União:

I. os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;

II. as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações


e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação
ambiental, definidas em lei;

III. os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio,


ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou
se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os
terrenos marginais e as praias fluviais;

DIREITO CONSTITUCIONAL | 131


IV. as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as
praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que
contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço
público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;

V. os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica


exclusiva;

VI. o mar territorial;

VII. os terrenos de marinha e seus acrescidos;

VIII. os potenciais de energia hidráulica;

IX. os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

X. as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-


históricos;

XI. as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.

Sobre os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal, necessário destacar o


enunciado de Súmula 650 do Supremo Tribunal Federal:

Súmula 650, STF: Os incisos I e XI do art. 20 da CF não alcançam terras de


aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado
remoto.

16.4 ESTADOS-MEMBROS

O processo de formação de um novo estado pode se dar de três formas distintas, a


saber:

Incorporação ocorre uma fusão entre dois ou mais estados, dando origem à
formação de um novo estado ou território federal.

Subdivisão ocorre uma cisão do estado originário, que se transforma em novos


estados ou territórios.

Desmembramento, um estado, já formado, cede parte de seu território geográfico,


a fim de que um novo estado ou território seja formado [desmembramento para
DIREITO CONSTITUCIONAL | 132
formação de novos estados ou territórios] ou para acrescer a um território de outro
ente político, sem que haja criação de uma nova unidade [desmembramento para
anexação].

Para que qualquer desses processos seja realizado, é necessário que três requisitos
sejam preenchidos, a saber:

A) Plebiscito, que é um instrumento da democracia direta, uma forma de


consulta à população, diretamente interessada, abarcando tanto a população
da área desmembrada quanto da área remanescente, de acordo com o
Supremo Tribunal Federal:

STF: Sendo o desmembramento uma divisão territorial, uma separação, com


o desfalque de parte do território e de parte da sua população, não há como
excluir da consulta plebiscitária os interesses da população da área
remanescente, população essa que também será inevitavelmente afetada.
O desmembramento dos entes federativos, além de reduzir seu espaço
territorial e sua população, pode resultar, ainda, na cisão da unidade
sociocultural, econômica e financeira do Estado, razão pela qual a vontade
da população do território remanescente não deve ser desconsiderada, nem
deve ser essa população rotulada como indiretamente interessada.
Indiretamente interessada – e, por isso, consultada apenas indiretamente,
via seus representantes eleitos no Congresso Nacional – é a população dos
demais Estados da Federação, uma vez que a redefinição territorial de
determinado Estado-membro interessa não apenas ao respectivo ente
federativo, mas a todo o Estado Federal.
[ADI 2.650, rel. min. Dias Toffoli, j. 24-8-2011, P, DJE de 17-11-2011.]

B) Projeto de Lei Complementar e;

C) Aprovação da Lei Complementar.

E tais pontos estão previstos no art. 18, §3º, da Constituição Federal, que possui a
seguinte redação:

Art. 18, §3º: Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou


desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou
Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente
interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei
complementar.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 133


16.5 MUNICÍPIOS

A criação de novos Municípios é disciplinada pelo art. 18, §4º, da Constituição


Federal, que apresenta a seguinte redação:

Art. 18, §3º: Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou


desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou
Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente
interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei
complementar.

Para uma melhor compreensão da norma, melhor se faz a análise dos requisitos na
seguinte ordem sequencial:

A) Lei Complementar Federal estabelecendo o período dentro do qual isso


poderá ocorrer;

B) Divulgação de Estudos de Viabilidade Municipal;

C) Plebiscito;

D) Aprovação por Lei Ordinária Estadual.

Saliente-se que a Lei Complementar Federal que deve estabelecer o procedimento e


período dentro do qual novos Municípios poderão ser criados ainda não foi
promulgada, o que implica em afirmar que todos os Municípios que forem formados
serão inconstitucionais, porque inexiste o diploma normativo exigido pela
Constituição Federal, sendo ele o primeiro requisito para a criação, incorporação,
fusão ou desmembramento de Municípios.

E sobre essa temática, necessário se faz a colação do seguinte julgado:

Julgado em Frase: O STF reconheceu a mora do Congresso Nacional em


editar a Lei Complementar prevista no §4º do art. 18 da Constituição
Federal e estabeleceu um prazo razoável para que a omissão legislativa
fosse sanada. [ADI 3.682, rel. min. Gilmar Mendes, j. 9-5-2007, P, DJ de 6-
9-2007.]

Porém, mesmo ante a ausência da Lei Complementar, foram criados diversos


Municípios sem a observância do requisito imposto na Constituição Federal, o que

DIREITO CONSTITUCIONAL | 134


implicou na necessidade de acrescentar o art. 96 ao Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias:

Art. 96, ADCT. Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação


e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de
dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do
respectivo Estado à época de sua criação. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 57/2008)

Assim, convalidou-se a criação dos Municípios criados até 31.12.2006, em


inobservância à exigência constitucional, tendo sido consignado que os criados
posteriormente seriam considerados inconstitucionais.

E sobre essa temática, necessário a colação dos seguintes julgados:

STF: O processo de emancipação municipal viciado não pode ser corrigido


por mera retificação legislativa, sem a observância do artigo 18, § 4º, da
Constituição Federal. Deveras, uma vez criada a nova entidade federativa,
não se admite a alteração da lei que a formalizou sem novo processo de
incorporação, fusão ou desmembramento, com prévia consulta
plebiscitária às populações envolvidas. O plebiscito consultivo conflui para
concretizar o princípio da soberania popular, da cidadania e da autonomia
federativa, de forma que as populações afetadas possam exercer
efetivamente suas prerrogativas de autogoverno. A criação, fusão,
incorporação ou desmembramento municipal produz efeitos de ordem
social, política e econômica, com sensíveis ressonâncias tributárias e
institucionais, as quais afetaram de forma direta e imediata a população
envolvida. Nesse prisma, a consulta plebiscitária é verdadeira condição de
procedibilidade da norma que altera limites municipais, constituindo
relevante meio de exercício da soberania popular. [ADI 1.825, rel. min.
Luiz Fux, j. 15-4-2020, P, DJE de 20-5-2020.]

DIREITO CONSTITUCIONAL | 135


STF: A redação original do art. 18, § 4º, da CF/1988 condicionava a criação de
municípios à edição de lei estadual, obedecidos os requisitos previstos em Lei
Complementar estadual, e a uma consulta prévia, mediante plebiscito, às
populações diretamente interessadas. Esse procedimento simplificado, que
delegou exclusivamente à esfera estadual a regulamentação dos parâmetros
para a emancipação, propiciou a proliferação de entes municipais no Brasil após
a promulgação da Constituição de 1988. Atento a essa realidade, o constituinte
derivado alterou o texto constitucional e dificultou a criação de municípios,
restringindo a fragmentação da federação. O art. 18, § 4º, da CF/1988, com
redação dada pela EC 15/1996, passou a exigir, além dos requisitos
anteriormente previstos, a edição de lei complementar federal e a divulgação
prévia dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na
forma da lei. (...) A atual dicção desse dispositivo constitucional impõe a
aprovação prévia de leis federais para que os Estados sejam autorizados a iniciar
novos processos de emancipação municipal. Até que isso ocorra, leis estaduais
que versem sobre o tema são inconstitucionais. [ADI 4.711, rel. min. Roberto
Barroso, j. 8-9-2021, P, DJE de 16-9-2021.]

STF: Com o advento da EC 57/2008, foram convalidados os atos de criação de


Municípios cuja lei tenha sido publicada até 31-12-2006, atendidos os requisitos
na legislação do respectivo Estado à época de sua criação. [ADI 2.381 AgR, rel.
min. Cármen Lúcia, j. 24-3-2011, P, DJE de 11-4-2011.]

STF: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei 7.619/2000, do Estado da Bahia,


que criou o Município de Luís Eduardo Magalhães. Inconstitucionalidade de lei
estadual posterior à EC 15/1996. Ausência de lei complementar federal prevista
no texto constitucional. Afronta ao disposto no art. 18, § 4º, da Constituição do
Brasil. Omissão do Poder Legislativo. Existência de fato. Situação consolidada.
Princípio da segurança jurídica. Situação de exceção, estado de exceção. (...) A
exceção resulta de omissão do Poder Legislativo, visto que o impedimento de
criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios, desde a
promulgação da EC 15, em 12 de setembro de 1996, deve-se à ausência de lei
complementar federal. Omissão do Congresso Nacional que inviabiliza o que a
Constituição autoriza: a criação de Município.(...) Julgamento no qual foi
considerada a decisão desta Corte no MI 725, quando determinado que o
Congresso Nacional, no prazo de dezoito meses, ao editar a lei complementar
federal referida no § 4º do art. 18 da Constituição do Brasil, considere,
reconhecendo-a, a existência consolidada do Município de Luís Eduardo
Magalhães. Declaração de inconstitucionalidade da lei estadual sem pronúncia
de sua nulidade. Ação direta julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade, mas não pronunciar a nulidade pelo prazo de 24 meses,
da Lei 7.619, de 30 de março de 2000, do Estado da Bahia. [ADI 2.240, rel. min.
Eros Grau, j. 9-5-2007, P, DJ de 3-8-2007.]

DIREITO CONSTITUCIONAL | 136


16.6 DISTRITO FEDERAL

No julgamento da ADI 3756, o STF decidiu que o DF não é estado e nem Município,
mas sim uma unidade federada com competência parcialmente tutelada pela União.

16.7 TERRITÓRIOS FEDERAIS

Os Territórios Federais não mais existem em nosso ordenamento jurídico, mas são
considerados autarquias territoriais que integram a União, e sua criação,
transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em
Lei Complementar.

Diferentemente do Distrito Federal, os Territórios Federais podem ser divididos em


Municípios, tem seu Governador nomeado pelo Presidente da República, após
aprovação do Senado Federal [Art. 84, XIV, CF] e elegem um número fixo de 4
Deputados.

16.8 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Competência Exclusiva: A competência exclusiva é atribuída a uma entidade


federada com exclusão de todas as demais, sem possibilidade de delegação.

Competência Privativa: A competência privativa, é atribuída a uma entidade


federada, porém, com possibilidade de delegação a outra, conforme prevê o art. 22,
§ único, da Constituição Federal: “Lei complementar poderá autorizar os Estados a
legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.”.

Competência Concorrente: A competência corrente estabelece um condomínio


legislativo entre mais de um ente político com atuação em níveis distintos. Porém,
necessário destacar que, conforme prevê o art. 24 da Constituição Federal, os
Municípios estão excluídos dessa espécie de competência, apesar de poderem
legislar quando o assunto for de interesse local:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:

Competência Comum: Por fim, a competência comum, que é essencialmente


administrativa, é aquela que é atribuída entre todos os entes federados, conforme
prevê o art. 23 da Constituição Federal:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 137


Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios:

COMPETÊNCIA CONCORRENTE

Quando se fala em Competências Concorrentes, deve-se ter em mente que cabe ao


ente político União a edição de Normas Gerais. E, aos Estados cabe a Competência
Suplementar. Se a União não editar as normas gerais, os Estados podem exercer a
competência plena sobre o assunto. E no caso de, posteriormente, a União editar
essa Norma Geral, a norma do Estado terá sua eficácia suspensa.

As competências concorrentes vêm disciplinadas no rol do art. 24 da Constituição


Federal:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:

I. direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;

II. orçamento;

III. juntas comerciais;

IV. custas dos serviços forenses;

V. produção e consumo;

VI. florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo


e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da
poluição;

VII. proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e


paisagístico;

VIII. responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens


e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IX. educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa,


desenvolvimento e inovação;

X. criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;

DIREITO CONSTITUCIONAL | 138


XI. procedimentos em matéria processual;

XII. previdência social, proteção e defesa da saúde;

XIII. assistência jurídica e Defensoria pública;

XIV. proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;

XV. proteção à infância e à juventude;

XVI. organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.

COMPETÊNCIA DOS ESTADOS

Sobre os Estados-membros necessário salientar que lhes são reservadas as


competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição [competência
residual].

Porém, é importante destacar duas competências constitucionais que são


reservadas aos Estados-membros:

A) Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os


serviços locais de gás canalizado, vedada a edição de medida provisória para
a sua regulamentação.

B) Os Estados poderão, mediante Lei Complementar Estadual, instituir


regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas
por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o
planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

16.9 JULGADOS IMPORTANTES SOBRE O TEMA

COMPETÊNCIA DA UNIÃO

Julgado em Frase: Lei federal não pode conceder anistia a policiais e


bombeiros militares estaduais que praticaram infrações disciplinares.
(ADI 4869, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em
30/05/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-118 DIVULG 17-06-2022
PUBLIC 20-06-2022)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 139


Julgado em Frase: É inconstitucional a lei estadual que proíbe utilização de
pontos na renovação da CNH. (ADI 5482, Relator(a): CELSO DE MELLO,
Tribunal Pleno, julgado em 24/08/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-229
DIVULG 16-09-2020 PUBLIC 17-09-2020)

Julgado em Frase: É inconstitucional lei estadual que discipline a instalação de


antenas transmissoras de telefonia celular (ADI 2902, Relator(a): EDSON
FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 04/05/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
143 DIVULG 09-06-2020 PUBLIC 10-06-2020)

Julgado em Frase: Lei estadual que obriga concessionárias a instalarem


bloqueadores de celular é inconstitucional. STF. Plenário. ADI 3835/MS, Rel.
Min. Marco Aurélio, ADI 5356/MS, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, ADI
5253/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, ADI 5327/PR, Rel. Min Dias Toffoli, ADI
4861/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 3/8/2016 (Info 833).

Julgado em Frase: Lei estadual não pode fixar prazos para as empresas de
planos de saúde. (ADI 4701, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal
Pleno, julgado em 13/08/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-163 DIVULG 22-
08-2014 PUBLIC 25-08-2014)

COMPETÊNCIA DOS ESTADOS-MEMBROS

Julgado em Frase: É inconstitucional lei estadual que concede isenção da


tarifa de energia elétrica para os consumidores atingidos por enchentes. STF.
Plenário. ADI 7337 MC-Ref/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
01/03/2023 (Info 1084).

Julgado em Frase: É formalmente inconstitucional lei estadual que proíba


linguagem neutra nas escolas. STF. Plenário. ADI 7019/RO, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 10/02/2023 (Info 1082).

DIREITO CONSTITUCIONAL | 140


Julgado em Frase: É constitucional lei estadual que proíbe, no âmbito de seu
território, a fabricação, a venda e a comercialização de armas de brinquedo
que simulam armas de fogo reais. (ADI 5126, Relator(a): GILMAR MENDES,
Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-007
DIVULG 17-01-2023 PUBLIC 18-01-2023)

Julgado em Frase: Lei estadual pode exigir assinatura física de idosos em


operação de crédito. (ADI 7027, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal
Pleno, julgado em 17/12/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-012 DIVULG 24-
01-2023 PUBLIC 25-01-2023)

Julgado em Frase: É inconstitucional lei estadual que proíba os planos de


saúde de restringir tratamentos para pessoas com autismo e com
deficiência. (ADI 7172, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado
em 18/10/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-217 DIVULG 26-10-2022
PUBLIC 27-10-2022)

COMPETÊNCIA DOS MUNICÍPIOS

Julgado em Frase: É inconstitucional lei municipal que concede gratuidade a


idosos nas salas de cinema, de segunda a sexta-feira. STF. 2ª Turma. ARE
1307028/SP, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Gilmar
Mendes, julgado em 22/11/2022 (Info 1077).

Julgado em Frase: Lei municipal pode obrigar a substituição das sacolas


plásticas comuns por sacolas biodegradáveis. STF. Plenário. RE 732686/SP,
Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/10/2022 (Repercussão Geral – Tema 970)
(Info 1073).

Julgado em Frase: É inconstitucional lei municipal que disponha sobre a


instalação de estação rádio base (ERB) em seu território. (ARE 1370232 RG,
Relator(a): MINISTRO PRESIDENTE, Tribunal Pleno, julgado em 08/09/2022,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-182 DIVULG 12-
09-2022 PUBLIC 13-09

DIREITO CONSTITUCIONAL | 141


Julgado em Frase: É inconstitucional lei municipal que dispõe sobre a
autorização e exploração de serviço de radiodifusão comunitária. (ADPF 335,
Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 30/08/2021,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-185 DIVULG 15-09-2021 PUBLIC 16-09-2021)

Julgado em Frase: É constitucional lei municipal que estabelece que os


supermercados ficam obrigados a colocar à disposição dos consumidores
pessoal suficiente nos caixas, de forma que a espera na fila não seja superior
a 15 minutos. (RE 839950, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno,
julgado em 24/10/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-081 DIVULG 01-04-
2020 PUBLIC 02-04-2020)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 142


17 PODER LEGISLATIVO

17.1 ESTRUTURA

O Poder Legislativo desempenha funções típicas, de 1) legislar e; 2) fiscalizar,


podendo ser uma fiscalização político-administrativa, bem como econômica-
orçamentária; bem como funções atípicas, de 3) administrar e; 4) julgar.

Em âmbito federal, o Poder Legislativo é bicameral, sendo exercido pelo Congresso


Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo


sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal, ao
passo que o Senado Federal se compõe de representantes dos Estados e do Distrito
Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.

Na Câmara dos Deputados, o número total dos parlamentares que a compõe


[Deputados Federais], bem como a representação por Estado e pelo Distrito Federal,
será estabelecido por Lei Complementar, proporcionalmente à população,
procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que
nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de 8 [oito] ou mais de 70
[setenta] Deputados, destacando que o mandato dos Deputados Federais é de 4
[quatro] anos.

Apesar de não existirem, hoje, Territórios Federais, podem, perfeitamente, serem


criados, desde que cumpridos os requisitos constitucionais, e, nesse caso, a regra
acima não é aplicada, haja vista que cada Território elegerá 4 [quatro] Deputados.

No Senado Federal, cada Estado e o Distrito Federal elegerão 3 [três] Senadores, com
2 [dois] suplementes e mandato de 8 [oito] anos, ressaltando que a representação
de cada ente político será renovada de 4 [quatro] em 4 [quatro] anos,
alternadamente, por 1/3 [um terço] e 2/3 [dois terços].

17.2 ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL

O Congresso Nacional, de acordo com o art. 49 da Constituição Federal, possui


competências exclusivas, sendo as principais as seguintes:
I. Resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais
que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

DIREITO CONSTITUCIONAL | 143


II. Autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a
permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele
permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei
complementar;

III. Autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem


do País, quando a ausência exceder a quinze dias;

IV. Aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de


sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;

V. Sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder


regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;

VI. Julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e


apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;

VII. Fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos


do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;

VIII. Apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de emissoras


de rádio e televisão;

IX. Escolher 2/3 [dois terços] dos membros do Tribunal de Contas da União;

X. Autorizar referendo e convocar plebiscito.

17.3 ATRIBUIÇÕES DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

A Câmara dos Deputados, de acordo com o art. 51 da Constituição Federal, possui


competências privativas, sendo as principais as seguintes:

I. autorizar, por 2/3 [dois terços] de seus membros, a instauração de processo


contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de
Estado;

II. proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não


apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura
da sessão legislativa;

III. eleger membros do Conselho da República.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 144


17.4 ATRIBUIÇÕES DO SENADO FEDERAL

O Senado Federal, de acordo com art. 52 da Constituição Federal, possui


competências privativas, sendo as principais as seguintes:

I. processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes


de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza
conexos com aqueles, destacando que nesse caso funcionará como
Presidente do julgamento o Presidente do Supremo Tribunal Federal;

II. processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros


do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério
Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos
crimes de responsabilidade, destacando, da mesma forma, que nesse caso
funcionará como Presidente do julgamento o Presidente do Supremo
Tribunal Federal;

III. aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha
de: a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição; b) Ministros
do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República; c)
Governador de Território; d) Presidente e diretores do banco central; e)
Procurador-Geral da República;

IV. aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em sessão secreta,
a escolha dos chefes de missão diplomática de caráter permanente;

V. suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada


inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;

VI. aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício,
do Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato;

VII. eleger membros do Conselho da República;

17.5 PODER DE CONVOCAÇÃO

O art. 50 da Constituição Federal prevê o Poder de Convocação do Poder Legislativo,


nos seguintes termos: “A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de
suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de
órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para prestarem,

DIREITO CONSTITUCIONAL | 145


pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado, importando
crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada.”

Trata-se de norma de reprodução obrigatória, que deve ser respeitada pelos


Estados-membros. Assim, pelo Princípio da Simetria, os Estados-membros devem
obedecer ao modelo previsto na Constituição Federal, podendo convocar apenas
autoridades do Poder Executivo e não do Poder Judiciário ou do Ministério Público,
conforme se verifica do julgado abaixo:

Julgado em Frase: O Poder de Convocação do Legislativo Federal é norma de


reprodução obrigatória pelos Estados-membros. (ADI 5300, Relator(a):
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 20/06/2018, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-128 DIVULG 27-06-2018 PUBLIC 28-06-2018)

Assim, eventual Constituição Estadual que preveja disposição diferente daquela


traçada pelo art. 50 da Constituição Federal estará maculada pela eiva da
inconstitucionalidade.

17.6 ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS

O Estatuto dos Congressistas, normas previstas na Constituição Federal, a partir do


art. 53 e seguintes, garante aos Parlamentares prerrogativas para que possam
exercer seu mandato com liberdade e independência, assegurando, portanto, a
independência do Poder e a liberdade de seus Membros.

E, por se tratar de prerrogativas institucionais não podem ser renunciadas pelos


Parlamentares, pois dizem respeito ao exercício do mandato e não à figura da pessoa
do Parlamentar.

Segundo o Min. Alexandre de Moraes, as imunidades parlamentares surgiram como


corolário da defesa da livre existência e da independência do parlamento no sistema
constitucional inglês (MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 21. ed. São
Paulo: Atlas, 2007.), existindo duas espécies de imunidade parlamentar:

A) Imunidade material, que garante aos Parlamentares inviolabilidade por


opiniões, palavras e votos, com previsão no art. 53 da Constituição Federal: e

B) Imunidade formal, que pode ser de duas espécies, a saber:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 146


B.1) Em relação a prisão, que garante que, via de regra, os
Parlamentares não poderão ser presos. A exceção encontra-se no
texto do art. 53, §2º, da Constituição Federal e;

B.2) Em relação ao processo, que garante ao Parlamentar o foro por


prerrogativa de função no Supremo Tribunal Federal, bem como a
possibilidade de a Casa respectiva sustar o andamento da ação penal,
com previsão no art. 53, §2º, da Constituição Federal, sendo assim
mais detalhadas:

• Imunidade material ou inviolabilidade ou freedon of speech: Prevista no art. 53


da Constituição Federal e garante que os Parlamentares [Deputados Federais e
Senadores] são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões,
palavras e votos.

Tendo em vista que inexistem Direitos Fundamentais absolutos; que o instituto da


imunidade material deve ser exercício com base em marcos civilizatórios mínimos, o
entendimento atual do Supremo Tribunal Federal não faz mais distinção se a
manifestação foi feita dentro do Parlamento ou fora dele, devendo, sempre, ser
necessário que a manifestação tenha relação com o exercício do seu mandato [STF.
1ª Turma. PET 7174/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Marco
Aurélio, julgado em 10/3/2020 (Info 969).], bem como:

Julgado em frase: Entendimento superado: Para incidir a imunidade


parlamentar material, independente do âmbito espacial, é necessário que a
declaração tenha conotação política, não sendo permitido abusos. (REsp
1642310/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 15/08/2017, DJe 18/08/2017)

• Imunidade Formal em relação ao processo: Caso uma denúncia contra um


Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, venha a ser
recebida pelo Supremo Tribunal Federal, este dará ciência à Casa respectiva, que,
por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus
membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. O pedido de
sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de 45
[quarenta e cinco] dias do seu recebimento pela Mesa Diretora, ressaltando que,
por se tratar de prerrogativa e não de privilégio, a sustação do processo suspende
a prescrição, enquanto durar o mandato.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 147


• Imunidade Formal em relação à prisão freedon from arrest: Previsto no art. 53,
§2º, da Constituição Federal, prevê que desde a expedição do diploma, os
membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de
crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de 24 [vinte e
quatro] horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus
membros, resolva sobre a prisão.

Assim, os membros do Congresso Nacional, em regra, não podem ser presos antes
de uma condenação definitiva. Apenas excepcionalmente poderão ser presos, caso
estejam em flagrante delito de um crime inafiançável, que, de acordo com o art. 5º,
incisos XLII, XLIII e XLIV, da Constituição Federal e o art. 323 do Código de Processo
Penal, são os seguintes:

A) Racismo;
B) Tortura;
C) Tráfico de drogas;
D) Terrorismo;
E) Crimes hediondos;
F) Crimes cometidos por ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático.

Ressalte-se que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende que é


possível, também, a prisão dos Parlamentares decorrente de sentença judicial
transitada em julgado. [STF. Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min.
Cármen Lúcia, 26/6/2013 (Info 712)].

Saliente-se que os Deputados Estaduais gozam das mesmas imunidades materiais e


formais garantidas aos Deputados Federais e Senadores, tendo em vista disposição
expressa constitucional, em seu art. 27, §1º, e entendimento do Plenário do
Supremo Tribunal Federal [ADI 5823 MC/RN, ADI 5824 MC/RJ e ADI 5825 MC/MT,
rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgados em 8/5/2019
(Info 939).]

Porém, atenção ao fato de que os Vereadores gozam, nos termos do art. 29, VIII, da
Constituição Federal, de inviolabilidade por suas opiniões, palavras e votos no
exercício do mandato e na circunscrição do Município, possuindo, portanto,
imunidade material, sem, contudo, possuírem imunidade formal em qualquer uma
de suas espécies.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 148


Julgado em frase: Os Vereadores possuem apenas imunidade material e
limitada a circunscrição do Município onde exercem a vereança. (RE 600063,
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO
BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 25/02/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-090 DIVULG 14-05-2015 PUBLIC 15-05-
2015).

Por fim, dentro do Estatuto dos Congressistas, necessário fazer menção a 3 [três]
institutos, a saber:

A) Foro de prerrogativa de função;


B) Limitação ao dever de testemunhar e
C) Isenção do serviço militar do Parlamentar, assim esquematizados:

• Foro por prerrogativa de função: Os Deputados e Senadores, desde a expedição


do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.

Atente-se para que caso um Parlamentar venha a perder seu mandato parlamentar,
o procedimento deve ser remetido para o Juízo competente, deixando Supremo
Tribunal Federal de ter jurisdição sobre o caso, tendo em vista a regra da atualidade
do mandato.

Porém, interessante anotar que o Supremo Tribunal Federal entende pela


possibilidade de prorrogação de sua competência criminal originária quando esse
parlamentar perder o seu mandato, mas, sem solução de continuidade, investir-se
em novo mandato federal em Casa Legislativa distinta:

Julgado em frase: Admite-se a excepcional e exclusiva prorrogação da


competência criminal originária do Supremo Tribunal Federal, quando o
parlamentar, sem solução de continuidade, encontrar-se investido, em novo
mandato federal, mas em casa legislativa diversa daquela que originalmente
deu causa à fixação da competência originária. STF. Plenário. Pet 9189, Rel.
Min. ROSA WEBER, Relator(a) p/ Acórdão: Edson Fachin, julgado em
12/05/2021.

Registra-se, também, que o Supremo Tribunal Federal tem entendimento no sentido


de prorrogar sua jurisdição quando o Parlamentar renunciar ao seu mandato após o
término da instrução processual, especificamente, após a intimação para
apresentação das alegações finais:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 149


Julgado em frase: A renúncia ou posse em outro cargo com foro de
prerrogativa de função em outro Tribunal prorrogará a jurisdição do
Supremo Tribunal Federal caso feita após a intimação para as alegações
finais. (AP 937 QO, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno,
julgado em 03/05/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-265 DIVULG 10-12-
2018 PUBLIC 11-12-2018)

Quando se trata da instauração de Inquérito Policial em face de Parlamentar,


necessário destacar que: 1º) A Polícia Federal não está autorizada a instaurar de
ofício o Inquérito Policial; 2º) Para a instauração do Inquérito Policial é necessária
autorização do Supremo Tribunal Federal; 3º) Não é necessária licença da respectiva
Casa Legislativa para a instauração do Inquérito Policial.

• Limitação ao dever de testemunhar: Os Deputados e Senadores não serão


obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do
exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles
receberam informações.

• Isenção do serviço militar: A incorporação às Forças Armadas de Deputados e


Senadores, embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de
prévia licença da Casa respectiva.

Por fim, destaca-se que as imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão


durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de 2/3 dos
membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do
Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.

17.7 PERDA DO MANDATO PARLAMENTAR

A Constituição Federal estabelece que perderá o mandato o Deputado ou Senador:

I. que infringir qualquer das proibições acima estabelecidas, oportunidade em


que a perda do mandato será decida pela Casa Legislativa respectiva;

II. cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar,


como, por exemplo, além de outros casos definidos no Regimento Interno, o
abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a
percepção de vantagens indevidas, oportunidade em que a perda do
mandato será decida pela Casa Legislativa respectiva;

DIREITO CONSTITUCIONAL | 150


III. que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das
sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta
autorizada, oportunidade em que a perda do mandato será simplesmente
declarada pela Mesa da Casa Legislativa respectiva, de ofício ou mediante
provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político
representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa;

IV. que perder ou tiver suspensos os direitos políticos, oportunidade em que


a perda do mandato será simplesmente declarada pela Mesa da Casa
Legislativa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus
membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa;

V. quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta


Constituição, oportunidade em que a perda do mandato será simplesmente
declarada pela Mesa da Casa Legislativa respectiva, de ofício ou mediante
provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político
representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa;

VI. que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado,


oportunidade em que a perda do mandato será decida pela Casa Legislativa
respectiva.

Sobre o item II, pergunta-se: em procedimento de cassação de mandato por quebra


de decoro parlamentar é permitido a intervenção do Poder Judiciário? Em regra,
não. Entendeu o Supremo Tribunal Federal, no julgado do MS 34.327/DF, que a
intervenção do Poder Judiciário em procedimentos legislativos, como é o caso,
apenas pode se dar em uma das seguintes hipóteses, em observância ao Princípio da
Deferência:

A) Para assegurar o cumprimento da Constituição Federal;

B) Para proteger direitos fundamentais; ou

C) Para resguardar os pressupostos de funcionamento da democracia e das


instituições republicanas.

Sobre o item VI, pergunta-se: a condenação criminal acarreta a perda automática


do mandato eletivo do Deputado Federal ou Senador? Sobre essa temática,
necessário registrar a existência de divergência entre as Turmas do Supremo
Tribunal Federal, devendo ser anotado o seguinte cenário:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 151


• 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal: Entende que deve ser feita uma
distinção, a saber:

Se o Parlamentar sofrer uma condenação a uma pena superior a 120


[cento e vinte] dias em regime fechado: A perda do cargo será uma
consequência da condenação, devendo a Mesa da respectiva Casa
Legislativa apenas declarar a perda. E o fundamento utilizado pauta-
se na no art. 55, III, e §3º, haja vista que aquele Parlamentar que for
condenado a uma pena dessa monta, necessariamente, deixará de
comparecer, na sessão legislativa, à mais de 1/3 das sessões
ordinárias, merecendo ser transcrito as disposições constitucionais:

Art. 55, CF: Perderá o mandato o Deputado ou Senador: [...]; III - que deixar
de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões
ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta
autorizada;

§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa
da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus
membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa.

Se o Parlamentar for condenado a uma pena em regime aberto ou


semiaberto: A condenação não gerará a perda automática do cargo,
devendo a respectiva Casa Legislativa deliberar sobre a perda do
mandato.

• 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal: Entende que sempre a Casa Legislativa


deve deliberar sobre a perda do mandato.

Por fim, saliente-se que caso o Parlamentar se ausente de suas funções por período
superior a 120 [cento e vinte] dias, o suplente será convocado e, vagando o mandato
parlamentar e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la se faltarem
mais de 15 [quinze] meses para o término do mandato.

17.8 REUNIÕES

O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro


a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro, sendo que as reuniões marcadas
para essas datas serão transferidas para o primeiro dia útil subsequente, quando

DIREITO CONSTITUCIONAL | 152


recaírem em sábados, domingos ou feriados, e não será interrompida sem a
aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias.

A Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir-se-ão em sessão conjunta para:

I. inaugurar a sessão legislativa;

II. elaborar o regimento comum e regular a criação de serviços comuns às


duas Casas;

III. receber o compromisso do Presidente e do Vice-Presidente da República;

IV. conhecer do veto e sobre ele deliberar.

Sessão Preparatória: O art. 57, §4º, da Constituição, ao dispor sobre a Sessão


Preparatória, dispõe que “A partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura,
cada uma das Casas, reunir-se-á em sessões preparatórias, para a posse de seus
membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 [dois] anos, vedada a
recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente.”

Anote que o Supremo Tribunal Federal, diante do art. acima apontado, entende que
os Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal não podem ser
reconduzidos para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente.

Porém, faz uma importante distinção, qual seja: a recondução não pode se dar
dentro da mesma legislatura, ou seja, dentro do período compreendido de 4
[quatro] anos. Por outro lado, é possível a reeleição dos Presidentes da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal em caso de nova legislatura, merecendo ser
anotado o seguinte entendimento:

Julgado em frase: Não é permitida a recondução de Membro da Mesa para


o mesmo cargo, na eleição imediatamente subsequente. Porém, tal vedação
se aplica dentro da mesma legislatura, não tendo lugar em caso de nova
legislatura, situação em que se constitui Congresso novo. (ADI 6524,
Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 15/12/2020,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-062 DIVULG 05-04-2021 PUBLIC 06-04-2021)

Atenção ao fato de que o Supremo Tribunal Federal entende que essa norma não é
de reprodução obrigatória pelos estados-membros, especialmente no que diz
respeito a seguinte parte: “vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição
imediatamente subsequente”, merecendo ser anotado o seguinte entendimento:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 153


Julgado em frase: A norma prevista no art. 57, §4º, da Constituição Federal
não é uma norma de reprodução obrigatória. (ADI 6721 MC-Ref, Relator(a):
ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 27/09/2021, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-248 DIVULG 16-12-2021 PUBLIC 17-12-2021)

E, além disso, merece destaque o fato de que o Supremo Tribunal Federal, no


julgamento das ADI 6684/ES, ADI 6707/ES, ADI 6709/TO e ADI 6710/SE, fixou as
seguintes teses:

1ª) A eleição dos membros das mesas das assembleias legislativas estaduais
deve observar o limite de uma única reeleição ou recondução, limite cuja
observância independe de os mandatos consecutivos referirem-se à mesma
legislatura;

2ª) A vedação à reeleição ou recondução aplica-se somente para o mesmo


cargo da mesa diretora, não impedindo que membro da mesa anterior se
mantenha no órgão de direção, desde que em cargo distinto; e;

3) O limite de uma única reeleição ou recondução, acima veiculado, deve


orientar a formação das mesas das assembleias legislativas que foram eleitas
após a publicação do acórdão da ADI 6.524, mantendo-se inalterados os atos
anteriores.

Saliente-se que o Congresso Nacional pode ser convocado de maneira


extraordinária nas seguintes hipóteses:

I. pelo Presidente do Senado Federal, em caso de decretação de estado de


defesa ou de intervenção federal, de pedido de autorização para a decretação
de estado de sítio e para o compromisso e a posse do Presidente e do Vice-
Presidente da República;

II. pelo Presidente da República, pelos Presidentes da Câmara dos Deputados


e do Senado Federal ou a requerimento da maioria dos membros de ambas
as Casas, em caso de urgência ou interesse público relevante, em todas as
hipóteses deste inciso com a aprovação da maioria absoluta de cada uma das
Casas do Congresso Nacional.

E, na sessão legislativa extraordinária, o Congresso Nacional somente deliberará


sobre a matéria para a qual foi convocado, sendo vedado o pagamento de parcela
indenizatória, em razão da convocação, merecendo destaque o fato de que o

DIREITO CONSTITUCIONAL | 154


Supremo Tribunal Federal entende que essa vedação é extensível, também, os
Deputados Estaduais:

Julgado em frase: O Parlamentar não pode receber remuneração pela


convocação decorrente de sessão extraordinária. (ADPF 836, Relator(a):
CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 03/08/2021, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-159 DIVULG 09-08-2021 PUBLIC 10-08-2021)

17.9 COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO

Ideia: A Comissão Parlamentar de Inquérito é uma comissão temporária constituída


dentro do Poder Legislativo, seja ele Federal, Estadual, Distrital ou Municipal, criada
para, dentro de prazo certo, investigar determinado fato de interesse público, com
gozo de poderes próprios de autoridades judicial, além de outros que estejam
previstos no respectivo Regime Interno.

Criação: A criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito configura o que é


conhecido como Direito Público Subjetivo das Minorias, haja vista que sua
instalação não se submete a nenhum juízo discricionário de nenhuma autoridade ou
órgão, bastando o preenchimento dos seguintes requisitos, conforme decidido pelo
Supremo Tribunal Federal no MS 37760 MC-Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 14/4/2021 (Info 1013):

1º) O requerimento de 1/3 dos membros das Casas Legislativas;


2º) A indicação de fato determinado a ser apurado; e
3º) A definição de prazo certo para sua duração.

Veja o seguinte julgado:

Julgado em frase: A instauração de inquérito parlamentar está vinculada,


unicamente, à satisfação de três (03) exigências definidas, de modo taxativo,
no texto da Lei Fundamental da República: (1) subscrição do requerimento
de constituição da CPI por, no mínimo, 1/3 dos membros da Casa legislativa,
(2) indicação de fato determinado a ser objeto da apuração legislativa e (3)
temporariedade da comissão parlamentar de inquérito. (MS 26441,
Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 25/04/2007, DJe-
237 DIVULG 17-12-2009 PUBLIC 18-12-2009 EMENT VOL-02387-03 PP-
00294 RTJ VOL-00223-01 PP-00301)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 155


Poderes de uma Comissão Parlamentar de Inquérito: Sobre a temática poderes de
uma Comissão Parlamentar de Inquérito, necessário ter em mente a literalidade da
disposição Constitucional, art. 58, §3º: “As comissões parlamentares de inquérito,
que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros
previstos nos regimentos das respectivas Casas”.

Porém, é necessário fazer uma distinção precisa, com base no entendimento do


Supremo Tribunal Federal, sobre os reais poderes de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito.

É permitido à uma Comissão Parlamentar de Inquérito:

• Determinar diligências que reputarem necessárias;

• Requerer a convocação de Ministros de Estado, Secretários de Estado


ou Secretários Municipais, de acordo com a esfera de atuação; se
criada em âmbito federal, estadual ou municipal;

• Tomar o depoimento de autoridades, com atenção para o fato de que


o Supremo Tribunal Federal entende que Governador de Estado não
pode ser obrigado a depor em Comissão Parlamentar de Inquérito
instaurada no âmbito do Congresso Nacional, merecendo anotação o
julgado abaixo:

Julgado em frase: Comissão Parlamentar de Inquérito, em âmbito federal,


não tem o poder de convocar Governadores de Estado para prestarem
depoimento. (ADPF 848 MC-Ref, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal Pleno,
julgado em 28/06/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-209 DIVULG 20-10-
2021 PUBLIC 21-10-2021)

• Ouvir os investigados;

• Inquirir testemunhas sob compromisso;

• Requisitar da administração pública direta, indireta ou fundacional


informações e documentos;

• Realizar inspeção in locu;

DIREITO CONSTITUCIONAL | 156


• Efetuar prisões em flagrante em caso de crime praticado na presença
dos membros da Comissão;

No que tange a temática da “quebra de sigilos”, deve ser feita uma distinção se a
quebra é pretendida por uma Comissão em âmbito federal, estadual ou distrital ou
se em âmbito municipal, devendo assim ser esquematizado:

• Comissão Parlamentar de Inquérito Federal, Estadual ou Distrital:


Pode determinar a quebra de sigilos, seja ele fiscal, bancário e de
dados telefônicos.

• Comissão Parlamentar de Inquérito Municipal: Não pode determinar


a quebra de sigilos, seja ele fiscal, bancário e de dados telefônicos.

Além disso, um questionamento, também, precisa ser enfrentado: Se uma


testemunha, devidamente intimada, não comparece para depor perante uma
Comissão Parlamentar de Inquérito, qual consequência? Nesse caso, é necessário
que a Comissão Parlamentar de Inquérito requeira, ao juiz criminal da localidade em
que ela resida ou se encontre, sua condução forçada, nos termos do art. 218 do
Código de Processo Penal.

E, por fim, o investigado pode se recusar a comparecer perante os trabalhos de


uma Comissão Parlamentar de Inquérito na qual seria ouvido? Aqui é necessário
apresentar, previamente, dois cenários distintos que existem dentro da 2ª Turma do
Supremo Tribunal Federal, a saber:

• Ministros Gilmar Mendes e Celso de Melo: Entendem que o comparecimento do


Acusado perante os trabalhos é facultativo, podendo não comparecer. E, caso
decida comparecer, terá garantido o direito ao silêncio, a assistência de um
advogado, de não prestar o compromisso de dizer a verdade e não sofrer
nenhum constrangimento.

• Ministros Edson Fachin e Carmem Lúcia: Entendem que o comparecimento do


Acusado perante os trabalhos é obrigatório, devendo comparecer. Porém, da
mesma forma que a solução acima apontada, comparecendo, terá garantido o
direito ao silêncio, a assistência de um advogado, de não prestar o compromisso
de dizer a verdade e não sofrer nenhum constrangimento.

E, como a votação sobre essa temática acabou empatada, no julgamento do HC


171438/DF prevaleceu a decisão mais favorável ao paciente, estabelecendo-se

DIREITO CONSTITUCIONAL | 157


então que o comparecimento do Acusado perante os trabalhos é facultativo,
podendo não comparecer, merecendo destaque a seguinte anotação:

Julgado em frase: Investigado não pode ser conduzido coercitivamente para


depor perante uma Comissão Parlamentar de Inquérito. (HC 171438,
Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 28/05/2019,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-204 DIVULG 14-08-2020 PUBLIC 17-08-2020)

Por fim, atente-se ao que não é permitido a uma Comissão Parlamentar de Inquérito:

I. Não permitido à uma Comissão Parlamentar de Inquérito:

II. Promover interceptação telefônica [Matéria sujeita a Cláusula de Reserva


de Jurisdição];

III. Decretar a indisponibilidade de bens do investigado [Matéria sujeita a


Cláusula de Reserva de Jurisdição];

IV. Decretar qualquer medida cautelar, como arresto, sequestro, prisões


preventivas, temporárias, ou qualquer outra medida cautelar real ou pessoal
[Matéria sujeita a Cláusula de Reserva de Jurisdição].

DIREITO CONSTITUCIONAL | 158


18 PODER EXECUTIVO

18.1 ESTRUTURA

O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos


Ministros de Estado.

A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á,


simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último
domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término
do mandato presidencial vigente.

A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente com ele


registrado.

Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político,
obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos.

Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova


eleição em até 20 dias após a proclamação do resultado, concorrendo os dois
candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos
votos válidos.

Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento


legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação.

Se remanescer, em segundo lugar, mais de um candidato com a mesma votação,


qualificar-se-á o mais idoso.

O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão posse em sessão do


Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a
Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a
união, a integridade e a independência do Brasil, exercendo um mandato de 4
[quatro] anos que, nos de acordo com a Emenda Constitucional 111/2021, terá início
em 5 [cinco] de janeiro do ano seguinte ao de sua eleição.

Se, decorridos 10 dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente,


salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago.

Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o


Vice-Presidente.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 159


O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições que lhe forem conferidas
por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para
missões especiais.

18.2 AUSÊNCIA DO CHEFE DO EXECUTIVO

Inicialmente, sobre o tema ausência do Chefe do Executivo, necessário fazer a


distinção entre os institutos jurídicos do impedimento, que corresponde a uma
ausência temporária, e vacância, que corresponde a uma ausência definitiva.

O Presidente da República possui um substituto natural, que é o Vice-Presidente da


República, bem como substitutos eventuais, que são o Presidente da Câmara dos
Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.

Atente-se ao fato de que caso os substitutos eventuais do Presidente da República


sejam réus em processos criminais, perante o Supremo Tribunal Federal, estes não
poderão exercer a função presidencial:

Julgado em Frase: Caso os substitutos do Presidente da República sejam réus


em processo criminal, não poderão assumir as funções presidenciais. (ADPF
402 MC-Ref, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: CELSO DE
MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 07/12/2016, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-177 DIVULG 28-08-2018 PUBLIC 29-08-2018)

Caso o cargo presidencial fique acéfalo, ou seja, sem qualquer representante, com
uma ausência definitiva tanto do Presidente quanto do Vice-Presidente da
República, necessário se faz o seu preenchimento, porém, deve-se atentar ao
seguinte detalhe:

Vacância nos 2 [dois] primeiros anos do exercício do mandato presidencial:


Eleições diretas, com convocação da população para ir às urnas serão
realizadas no prazo de 90 [noventa] dias, depois de aberta a última vaga.

Vacância nos 2 [dois] últimos anos do exercício do mandato presidencial:


Eleições indiretas, serão realizadas pelo Congresso Nacional, no prazo de 30
[trinta] dias, depois de aberta a última vaga.

Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus


antecessores, instituto conhecido como mandato tampão.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 160


Essa exposição é sintetizada pelo art. 81 da Constituição Federal, que possui a
seguinte redação:

Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República,


far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. §1º Ocorrendo
a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para
ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso
Nacional, na forma da lei.

Mas, deve ser destacado que a norma acima colacionada não se trata de norma de
reprodução obrigatória pelos Estados-membros, Distrito Federal e Municípios, ou
seja, os entes políticos não precisam seguir o modelo de vacância traçado ela
Constituição Federal, devendo ser anotado o seguinte:

Julgado em Frase: O art. 81 da Constituição Federal não é norma de


reprodução obrigatória pelos Estados-membros. (ADI 1057, Relator(a): DIAS
TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 17/08/2021, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-214 DIVULG 27-10-2021 PUBLIC 28-10-2021)

18.3 LICENÇA PARA VIAGEM AO EXTERIOR

O Presidente e o Vice-Presidente da República não poderão, sem licença do


Congresso Nacional, ausentar-se do País por período superior a 15 [quinze] dias, sob
pena de perda do cargo, sendo que tal disposição vem prevista no art. 83
Constituição Federal.

E os Estados-membros devem seguir o mesmo modelo traçado pelo Poder


Constituinte Federal, não podendo dispor um lapso temporal inferior a 15 [quinze]
dias para que incida o controle da Assembleia Legislativa dos Estados sobre a
ausência de seu chefe do Executivo.

18.4 ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Compete privativamente ao Presidente da República:

I. nomear e exonerar os Ministros de Estado;

II. exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da


administração federal;

DIREITO CONSTITUCIONAL | 161


III. iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos na
Constituição Federal;

IV. sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos
e regulamentos para sua fiel execução;

V. vetar projetos de lei, total ou parcialmente;

VI. dispor, mediante decreto, sobre: A) organização e funcionamento da


administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação
ou extinção de órgãos públicos; B) extinção de funções ou cargos públicos,
quando vagos. Obs.: O Presidente da República poderá delegar essa
atribuição aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao
Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas
delegações.

VII. manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus


representantes diplomáticos;

VIII. celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo


do Congresso Nacional;

IX. decretar o estado de defesa e o estado de sítio;

X. decretar e executar a intervenção federal;

XI. remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião


da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as
providências que julgar necessárias;

XII. conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos


órgãos instituídos em lei; Obs.: O Presidente da República poderá delegar
essa atribuição aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou
ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas
respectivas delegações.

XIII. exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os


Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus
oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos;

XIV. nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo


Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios,

DIREITO CONSTITUCIONAL | 162


o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central
e outros servidores, quando determinado em lei;

XV. nomear os Ministros do Tribunal de Contas da União;

XVI. nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o


Advogado-Geral da União;

XVII. nomear membros do Conselho da República;

XVIII. convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa


Nacional;

XIX. declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo


Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das
sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou
parcialmente, a mobilização nacional;

XX. celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;

XXI. conferir condecorações e distinções honoríficas;

XXII. permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças


estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente;

XXIII. enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de


diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta
Constituição;

XXIV. prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de 60 dias após a


abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior;

XXV. prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei; Obs.: O


Presidente da República poderá delegar a atribuição de provimento de cargos
públicos aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao
Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas
delegações.

XXVI. editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;

DIREITO CONSTITUCIONAL | 163


18.5 RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

CRIME DE RESPONSABILIDADE

Os Chefes do Poder Executivo, seja em âmbito federal, estadual, distrital ou


municipal, estão sujeitos ao regime de crime de responsabilidade, que são infrações-
político administrativas que sujeitam o agente político à pena de perda do cargo e
inabilitação para o exercício de função pública.

Ressalte-se, de início, que o Supremo Tribunal Federal entende que a competência


para definir atos que configurem crime de responsabilidade, bem como as
respectivas regras de processo e julgamento, é da União, tendo sido, inclusive,
editada a Súmula Vinculante 46:

Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União a


definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das
respectivas normas de processo e julgamento.

E, dessa forma, Constituições Estaduais que disponham sobre o instituto devem ter
tais disposições declaradas inconstitucionais, merecendo destaque o seguinte
julgado:

Julgado em Frase: Estados-membros não podem legislar sobre crimes de


responsabilidade, por se tratar de competência da União. (ADI 4791,
Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 12/02/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-076 DIVULG 23-04-2015 PUBLIC 24-04-2015)

A Constituição Federal, dispõe em seu art. 85 que são crimes de responsabilidade os


atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e,
especialmente, contra:

I. a existência da União

II. o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério


Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação

III. o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais

IV. a segurança interna do País

DIREITO CONSTITUCIONAL | 164


V. a probidade na administração

VI. a lei orçamentária

VII. o cumprimento das leis e das decisões judiciais

Caso venha a cometer um crime de responsabilidade, o Presidente da República será


submetido a julgamento perante Senado Federal, após autorização pela Câmara dos
Deputados, por 2/3 de seus membros [Procedimento Bifásico], conforme se
depreende da redação dos arts. 51, I e 52, I, todos da Constituição Federal:

Art. 51, CF. Compete privativamente à Câmara dos Deputados: I. autorizar,


por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o
Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;

Art. 52, CF. Compete privativamente ao Senado Federal: I. processar e julgar


o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de
responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza
conexos com aqueles;

Ressalte-se que o julgamento de crime de responsabilidade cometido por


Governador de Estado será feito por um Tribunal Especial, comporto por 5 [cinco]
membros do Poder Judiciário, no caso Desembargadores, 5 [cinco] membros da
Assembleia Legislativa do Estado, sob presidência do Presidente do Tribunal de
Justiça, nos termos do art. 78, §3º, da Lei 1.079/1950:

Art. 78, §3º, Lei 1.079/1950: Nos Estados, onde as Constituições não
determinarem o processo nos crimes de responsabilidade dos
Governadores, aplicar-se-á o disposto nesta lei, devendo, porém, o
julgamento ser proferido por um tribunal composto de cinco membros do
Legislativo e de cinco desembargadores, sob a presidência do Presidente do
Tribunal de Justiça local, que terá direito de voto no caso de empate. A
escolha desse Tribunal será feita - a dos membros do legislativo, mediante
eleição pela Assembléia: a dos desembargadores, mediante sorteio.

Por fim, o julgamento de crime de responsabilidade cometido por Prefeito será feito
pela Câmara dos Vereadores, nos termos do art. 4º do Decreto Lei 201/1967:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 165


Art. 4º, DL 201/67: São infrações político-administrativas dos Prefeitos
Municipais sujeitas ao julgamento pela Câmara dos Vereadores e
sancionadas com a cassação do mandato: [...].

Retornando à figura do agente político do Presidente da República, necessário


salientar que, nos termos do art. 14 da Lei 1.079/19950, qualquer cidadão em pleno
gozo de seus direitos políticos pode denunciar o Presidente da República, por crime
de responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados.

Saliente-se que o Presidente da Câmara dos Deputados não é obrigado a receber a


denúncia apresentada pelo cidadão, realizando um juízo prévio de sua
admissibilidade, podendo, inclusive, rejeitá-la liminarmente, caso entenda que a
peça é inepta ou não esteja revestida de suporte probatório mínimo [justa causa],
conforme julgado abaixo colacionado:

Julgado em Frase: O Presidente da Câmara dos Deputados não é obrigado a


receber a Denúncia apresentada contra o Presidente da República. (ADPF
378 MC, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2015, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-043 DIVULG 07-03-2016 PUBLIC 08-03-2016)

E a leitura do art. 86 da Constituição Federal aponta para o fato de que a denúncia,


em face do Presidente da República, tecnicamente seria admitida pela Câmara dos
Deputados.

Art. 86, CF. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois
terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante
o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o
Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.

Saliente-se que a doutrina majoritária, seguindo uma interpretação literal da


Constituição, entende a Câmara dos Deputados realiza um juízo de admissibilidade
da acusação, o que, por consectário, com tal ato, implicaria a vinculação e
obrigatoriedade do Senado Federal em processá-lo.

Porém, o Supremo Tribunal Federal, entende que a Câmara dos Deputados não faz
um verdadeiro juízo técnico de admissibilidade da peça acusatória, mas apenas
implementar uma condição de procedibilidade do procedimento, a fim de que este
seja enviado para o Senado Federal, órgão responsável para realizar o verdadeiro

DIREITO CONSTITUCIONAL | 166


juiz de admissibilidade, merecendo destaque o trecho do voto do Min. Roberto
Barroso, quando o julgamento do MS 30672:

(...) a Câmara dos Deputados somente atua no âmbito pré-processual, não


valendo a sua autorização como um recebimento da denúncia, em sentido
técnico. Assim, a admissão da acusação a que se seguirá o julgamento
pressupõe um juízo de viabilidade da denúncia pelo único órgão competente
para processá-la e julgá-la: o Senado.

Admitida a acusação contra o Presidente da República, por 2/3 da Câmara dos


Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal,
nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de
responsabilidade.

E, com o recebimento da denúncia pelo Senado Federal, o Presidente da República


ficará suspenso de suas funções pelo prazo de 180 [cento e oitenta] dias para que
possa se dedicar à sua defesa, ressaltando que se, decorrido o prazo de 180 [cento e
oitenta] dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do
Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.

CRIME COMUM

Quando o Presidente da República comete um injusto penal, necessário se faz a


verificação se esse injusto está ou não relacionado com o exercício das funções
presidenciais, formando-se o seguinte panorama:

• Injusto penal praticado pelo Presidente da República e relacionado com o


exercício das funções: O Procurador-Geral da República oferece Denúncia
contra o Presidente da República perante o Supremo Tribunal Federal. Antes
de recebê-la deverá encaminhá-la à Câmara dos Deputados para que este
órgão decida se o processo poderá ser instaurado ou não. Caso autorizado a
instauração do processo e, recebida a peça acusatória, o Presidente ficará
suspenso de suas funções pelo prazo de 180 [cento e oitenta] dias, a fim de
que possar dedicar à sua defesa, ressaltando que, se decorrido o prazo de 180
[cento e oitenta] dias o julgamento não estiver concluído, cessará o
afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do
processo.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 167


Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados: I. autorizar, por
dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente
e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;

Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois


terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante
o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o
Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.

A necessidade de prévia autorização da Câmara dos Deputados, bem com o foro de


prerrogativa de função no Supremo Tribunal Federal configuram o instituto da
imunidade formal conferida ao Presidente da República.

E, como as regras de imunidade devem ser interpretadas restritivamente, o Supremo


Tribunal Federal entende que ela “não se estende para os codenunciados que não
se encontrem investidos nos cargos de Presidente da República, Vice-Presidente da
República e Ministro de Estado. A finalidade dessa imunidade é proteger o
exercício regular dos cargos de Presidente (e Vice) da República e de Ministro de
Estado, razão pela qual não é extensível a codenunciados que não se encontrem
investidos em tais funções.” STF. Plenário. Inq 4483 AgR-segundo/DF e Inq 4327
AgR-segundo/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgados em 14 e 19/12/2017 (Info 888).

Além disso, tal imunidade é exclusiva do Presidente da República. Os Governadores


de Estado, para serem processados criminalmente pelo Superior Tribunal de Justiça,
não dependem de prévia autorização da Assembleia Legislativa do Estado,
ressaltando que, caso algum documento jurídico preveja essa necessidade, ele
deverá ser considerado inconstitucional:

Julgado em Frase: É vedado às unidades federativas instituírem normas que


condicionem a instauração de ação penal contra o Governador, por crime
comum, à prévia autorização da casa legislativa, cabendo ao Superior
Tribunal de Justiça dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de
medidas cautelares penais, inclusive afastamento do cargo. (ADI 4764,
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO
BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 04/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-178 DIVULG 14-08-2017 PUBLIC 15-08-2017)

Além disso, em que pese o Presidente da República ficar suspenso do exercício de


suas funções quando do recebimento de denúncia pelo Supremo Tribunal Federal,
da mesma forma, tal prerrogativa não se estende ao Governador de Estado:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 168


Julgado em Frase: O recebimento da Denúncia, em desfavor do Governador
de Estado, por crime de responsabilidade, não implica em sua suspensão
automática das funções. (ADI 4764, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO,
Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado
em 04/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 14-08-2017
PUBLIC 15-08-2017)

• Injusto penal praticado pelo Presidente da República e não relacionado com


o exercício das funções: Caso o injusto penal não esteja relacionado ao
exercício das funções presidenciais, ou caso ele tenha sido praticado antes do
início do mandato presidencial, nos termos do art. 86, §4º, da Constituição
Federal, o Presidente da República não poderá ser denunciado, devendo ser
aguardar o término do mandato para que ele possa responder perante o juízo
competente, por fazer jus a imunidade penal especial e temporária. E, por se
tratar de prerrogativa e não de privilégio, durante esse lapso temporal, o
prazo prescricional também fica suspenso.

Art. 86, §4º, CF: O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não
pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 169


19 PODER JUDICIÁRIO

19.1 ESTATUTO DA MAGISTRATURA

O instituto conhecido como Estatuto da Magistratura incorpora normas


constitucionais que disciplinam os direitos e deveres funcionais dos Magistrados,
instituindo, a fundo, um verdadeiro estatuto orgânico do Poder Judiciário.

O Poder Judiciário é composto dos seguintes órgãos:

I. Supremo Tribunal Federal;


II. Conselho Nacional de Justiça, com sede na Capital Federal;
III. Superior Tribunal de Justiça;
IV. Tribunal Superior do Trabalho;
V. Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
VI. Tribunais e Juízes do Trabalho;
VII. Tribunais e Juízes Eleitorais;
VIII. Tribunais e Juízes Militares;
IX. Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

Para compreensão do Poder Judiciário, antes de adentrar no estudo pontual dos


órgãos que o compõe, necessário a compreensão do Estatuto da Magistratura, que
traz os direitos, deveres e prerrogativas que devem ser observadas pelos
Magistrados brasileiros, cujos principais pontos são os seguintes:

➢ Ingresso na carreira: O ingresso na carreira da Magistratura se dá mediante


concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos
Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito,
no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações,
à ordem de classificação, sendo que o aprovado no certame ingressará na
carreira como Juiz de Direito Substituto.

Ponto 1: Os três anos de prática jurídica são conhecidos como


“quarentena de entrada” e está previsto em uma norma constitucional
de eficácia limitada. Porém, o Supremo Tribunal Federal exige o
requisito da quarentena de entrada com base, inclusive, em resolução
do Conselho Nacional de Justiça. Resolução n. 75 do Conselho Nacional
de Justiça.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 170


Ponto 2: Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, o
lapso temporal de 3 anos de atividade jurídica é contado da data de
conclusão do curso de Direito:

STF: Segundo entendimento da Corte, a norma impugnada veio atender


ao objetivo da EC n. 45/2004 de recrutar, com mais rígidos critérios de
seletividade técnico- profissional, os pretendentes às carreiras. Assim,
“os 3 anos de atividade jurídica contam-se da data da conclusão do
curso de Direito e o fraseado ‘atividade jurídica’ é significante de
atividade para cujo desempenho se faz imprescindível a conclusão de
curso de bacharelado em Direito”. ADI 3.460/DF, Rel. Min. Carlos
Britto, j 31.08.2006, DJ de 15.06.2007.

Ponto 3: Conforme, também, entendimento do Supremo Tribunal


Federal, o lapso temporal dos 3 anos de atividade jurídica deve ser
comprovado no momento da inscrição definitiva do certame:

STF: A comprovação do triênio de atividade jurídica exigida para o


ingresso no cargo de juiz substituto, nos termos do inciso I do art. 93 da
Constituição Federal, deve ocorrer no momento da inscrição definitiva
no concurso público e não na posse. RE 655.265, Rel. orig. Min. Luiz
Fux, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, j. 13.04.2016, DJE de 08.08.2016.

Ponto 4: De acordo com a Resolução n. 75 do Conselho Nacional de


Justiça, a expressão “atividade jurídica” compreende: A) Aquela
exercida com exclusividade por bacharel em Direito; B) O efetivo
exercício de advocacia, inclusive voluntária, mediante a participação
anual mínima em cinco atos privativos de advogado em causas ou
questões distintas; C) O exercício de cargos, empregos ou funções,
inclusive de magistério superior, que exija a utilização preponderante
de conhecimento jurídico; D) O exercício da função de conciliador
junto a tribunais judiciais, juizados especiais, varas especiais, anexos
de juizados especiais ou de varas judiciais, no mínimo de 16 horas
mensais e durante 1 ano; E) O exercício da atividade de mediação ou
de arbitragem na composição de litígios.

➢ Promoção: A promoção na carreira se dá por 2 [dois] critérios alternados, a


saber: A) antiguidade e B) merecimento, consignando, de antemão, que o
Magistrado que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do

DIREITO CONSTITUCIONAL | 171


prazo legal, não será promovido, não podendo devolver o processo ao
Cartório sem o devido despacho ou decisão.

➢ Critério do merecimento: A aferição do merecimento é feita conforme o


desempenho da atividade judicante e pelos critérios objetivos de
produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela frequência e
aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento.

➢ Para que um Magistrado seja promovido na carreira, pelo critério do


merecimento, pressupõe-se 2 [dois] anos de exercício na respectiva entrância
e integrar a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, salvo se não
houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago, ressaltando a
obrigatoriedade da promoção do Magistrado que figurar por 3 [três] vezes
consecutivas ou 5 [cinco] vezes alternadas na lista de promoção por
merecimento

➢ Critério da antiguidade: Por esse critério, será promovido na carreira o


Magistrado mais antigo e na apuração de antiguidade, o tribunal somente
poderá recusar o Magistrado mais antigo pelo voto fundamentado de 2/3 de
seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada ampla defesa,
repetindo-se a votação até fixar-se a indicação.

➢ Subsídio: O subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a


95% [noventa e cinco por cento] do subsídio mensal fixado para os Ministros
do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais Magistrados serão
fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as
respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo a
diferença entre uma e outra ser superior a 10% [dez por cento] ou inferior a
5% [cinco por cento], nem exceder a 95% [noventa e cinco por cento] do
subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores.

➢ Residência na comarca: O juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo


autorização do tribunal.

➢ Remoção ou disponibilidade: O ato de remoção ou de disponibilidade do


Magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da
maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça,
assegurada ampla defesa.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 172


➢ Publicidade dos atos processuais dentro do Poder Judiciário: Todos os
julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas
todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.

➢ Motivação das decisões administrativas dentro do Poder Judiciário e


quórum das decisões disciplinares: As decisões administrativas dos tribunais
serão motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo
voto da maioria absoluta de seus membros.

➢ Órgão Especial representativo do Plenário do Tribunal: Nos tribunais com


número superior a 25 [vinte e cinco] Julgadores, poderá ser constituído Órgão
Especial, com o mínimo de 11 [onze] e o máximo de 25 [vinte e cinco]
membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais
delegadas da competência do Tribunal Pleno, provendo-se metade das vagas
por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno.

➢ Não interrupção da atividade jurisdicional: A atividade jurisdicional será


ininterrupta, sendo vedado férias coletivas em 1º e 2º graus de jurisdição, ou
seja, Magistrados de 1ª e 2ª instancia, funcionando, nos dias em que não
houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente.

➢ Proporcionalidade do número de Magistrado na comarca: O número de


juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda judicial e
à respectiva população.

➢ Possibilidade de delegação de atos: Os servidores poderão receber


delegação para a prática de atos de administração e atos de mero expediente
sem caráter decisório, ou seja, os atos de cunho decisório apenas podem ser
praticados pelos Magistrados.

➢ Imediatidade de distribuição dos processos: A distribuição de processos será


imediata, em todos os graus de jurisdição, seja em 1º ou 2º graus de
jurisdição, bem como em todos os Tribunais Superiores.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 173


19.2 GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO: INSTITUCIONAIS E FUNCIONAIS

Ao Poder Judiciário é assegurado determinadas garantias, que podem ser


consideradas como A) garantias institucionais, que são asseguradas à instituição do
Poder Judiciário, bem como B) garantias funcionais, que são asseguradas ao membro
do Poder Judiciário, no caso, aos Magistrados, para que possam desempenhar suas
funções com autonomia e independência. E podem ser assim sistematizadas:

Como garantias institucionais devem ser destacadas a autonomia administrativa e


financeira que é garantida ao Poder Judiciário e que, também, podem ser assim
sintetizadas:

• Autonomia Financeira: Dentro de limites estipulados conjuntamente com os


demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias, ao Poder Judiciário é
garantida autonomia para elaborar suas próprias propostas orçamentárias. A
legitimidade para o encaminhamento das propostas compete A) no âmbito
da União: aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais
Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais e; B) no âmbito dos
Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais
de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais.

A Constituição Federal prevê a possibilidade de as propostas


orçamentárias do Poder Judiciário A) não serem encaminhadas dentro
do prazo previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias [LDO] ou B)
serem encaminhadas em desacordo com os limites financeiros
previstos, o que faz surgir os seguintes cenários distintos:

A) Não encaminhamento da proposta no prazo previsto na Lei


de Diretrizes Orçamentárias [LDO]: O Poder Executivo
considerará, para fins de consolidação da proposta
orçamentária anual, os valores aprovados na Lei Orçamentária
vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados no §1º
do art. 99 da Constituição Federal.

B) Encaminhamento da proposta, porém, em desacordo com


os limites financeiros previstos no §1º do art. 99 da
Constituição Federal: O Poder Executivo procederá aos ajustes
necessários para fins de consolidação da proposta
orçamentária anual.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 174


Art. 99, CF. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia
administrativa e financeira. §1º Os tribunais elaborarão suas
propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados
conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes
orçamentárias.

Saliente-se que durante a execução orçamentária do exercício, não


poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações
que extrapolem os limites estabelecidos na Lei de Diretrizes
Orçamentárias [LDO], exceto se previamente autorizadas, mediante a
abertura de créditos suplementares ou especiais.

• Autonomia Administrativa: O Poder Judiciário possui autonomia


administrativa, executiva, e poderá promover sua organização interna, com a
criação e divisão de órgãos específicos, concessão de licença, férias, dentre
outros, a seus servidores. Enfim, administrando toda a complexa estrutura do
Poder Judiciário.

Como garantias funcionais deve ser ressaltado que os Magistrados gozam de 3 [três]
garantias constitucionais, a saber: A) vitaliciedade, B) inamovibilidade e; C)
irredutibilidade de subsídios, podendo ser assim esquematizadas:

• Vitaliciedade: Para conquistar a garantia da vitaliciedade, em 1º Grau de


Jurisdição, é necessário o exercício de 2 [dois] anos de atividade judicante. A
partir de então o Magistrado será considerado vitalício e apenas poderá
perder o cargo por sentença judicial transitada em julgado. Porém, antes de
adquirir a vitaliciedade, a perda do cargo poderá ocorrer por deliberação do
Tribunal a que o juiz estiver vinculado.

Ponto 1: Quando os membros oriundos da Advocacia ou do Ministério


Público assumem vagas que decorrem do quinto constitucional, a
vitaliciedade é adquirida imediatamente.

• Inamovibilidade: Os Magistrados são considerados inamovíveis da localidade


onde desempenham suas atividades judicantes, garantia esta que é
estendida, também, para os Juízes Substitutos. Porém, não se trata de
garantia e absoluta e, se razões de interesse público assim justificarem, o
Magistrado poderá ser movido de uma comarca ou seção judiciaria para
outra.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 175


Ponto 1: A garantia da inamovibilidade, de acordo com o Supremo
Tribunal Federal, alcança tanto o Juiz Titular, quanto o Juiz Substituto:

STF: A inamovibilidade é, nos termos do art. 95, II, da CF, garantia de


toda a magistratura, alcançando não apenas o juiz titular como também
o substituto. O magistrado só poderá ser removido por designação, para
responder por determinada vara ou comarca ou para prestar auxílio,
com o seu consentimento, ou, ainda, se o interesse público o exigir, nos
termos do inciso VIII do art. 93 do Texto Constitucional. (MS 27.958, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, j. 17.05.2012, Plenário, DJE de 29.08.2012).

• Irredutibilidade de subsídio: A garantia prevê que o subsídio dos Magistrados


não poderá sofrer qualquer forma de redução. Porém, a pergunta que deve
ser respondida é se essa garantia é uma garantia real, que deve acompanhar
eventual perda econômica da moeda, ou uma garantia nominal, em que o
que não pode sofrer redução é a cifra indicada no momento em que entrou
em exercício do cargo? O Supremo Tribunal Federal entende que essa
garantia é uma garantia nominal.

Condutas vedadas aos Magistrados: A Constituição Federal prevê que é vedado, é


proibido, aos Magistrados o que se segue:

I. Exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de


magistério;

II. Receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;

III. Dedicar-se à atividade político-partidária;

IV. Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de


pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções
previstas em lei;

V. Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de


decorridos 3 [três] anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração.

Foro de prerrogativa de função: O foro por prerrogativa de função é uma


prerrogativa constitucional segundo a qual alguns agentes públicos serão
processados e julgados criminalmente (não engloba processos cíveis) por

DIREITO CONSTITUCIONAL | 176


determinados Tribunais (TJ, TRF, STJ, STF). O objetivo é de um julgamento imparcial
e livre de pressões pelos órgãos de cúpula do Poder Judiciário.

Os Magistrados da Justiça Estadual e do Distrito Federal e Territórios, bem como os


membros do Ministério Público Estadual, tanto em crimes comuns quanto em crimes
de responsabilidade, são julgados pelos Tribunais de Justiça respectivos, com a
ressalva da competência da Justiça Eleitoral, por se tratar de competência da Justiça
Especializada que, pelo Princípio da Especialidade, prevalecerá caso exista algum
injusto eleitoral.

A existência do foro por prerrogativa de função representa uma exceção ao princípio


republicano e ao princípio da igualdade. Assim, existe a necessidade de que normas
constitucionais que excepcionem esses princípios sejam interpretadas sempre de
forma restritiva.

E aqui é necessário se atentar para um ponto específico, haja vista o Supremo


Tribunal Federal já interpretou de maneira restritiva o foro de prerrogativa de função
dos seguintes agentes:

A) Deputados Federais e Senadores;


B) Ministros de Estados;
C) Governadores e;
D) Conselheiros dos Tribunais de Contas estaduais.

No que tange a membros do Poder Judiciário, de 1º e 2º graus de jurisdição,


necessário se faz delinear o seguinte cenário: Desembargadores: Superior Tribunal
de Justiça; Juízes de Direito: Tribunal de Justiça.

Porém, ressalte-se que os Desembargadores dos Tribunais de Justiça continuam


sendo julgados pelo Superior Tribunal de Justiça mesmo que o crime não esteja
relacionado com as suas funções, não incidindo, nesse caso, eventual interpretação
restritiva do instituto:

Julgado em Frase: Mesmo que o crime cometido pelo Desembargador não


esteja relacionado com as suas funções, ele será julgado pelo Superior Tribunal
de Justiça. (QO na APn 878/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, CORTE
ESPECIAL, julgado em 21/11/2018, DJe 19/12/2018)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 177


19.3 QUINTO CONSTITUCIONAL

Com o escopo de promover uma oxigenação no pensamento dos Tribunais, com


contribuição de novas experiências, oriundas de outras carreiras, a Constituição
Federal, em seu art. 94, trouxe previsão do instituto do quinto constitucional, nos
seguintes termos:

Art. 94, CF: Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos
Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de
membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de
advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez
anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos
de representação das respectivas classes.

Apesar de o art. 94 acima só se referir explicitamente aos Tribunais Regionais


Federais e Tribunais e Justiça, a regra do quinto constitucional está prevista,
também, para os Tribunais do Trabalho (arts. 111-A, I; 115, I) e o seu procedimento
orienta a composição do STJ (art. 104, parágrafo único).

Vejam que 1/5 dos lugares do 2º Grau de Jurisdição será composto de profissionais
oriundos tanto da Advocacia quanto do Ministério Público, que, além de possuírem
notável saber jurídico e reputação ilibada, devem ter mais de 10 [dez] anos de
exercício de atividade profissional.

Para que esses agentes, oriundos da Advocacia e do Ministério Público, façam parte
da composição dos Tribunais de Justiça ou Tribunais Regionais Federais, um
procedimento específico deve ser observado, que pode ser assim sistematizado:

• Indicação pelos órgãos de classe: Os respectivos órgãos de classe escolhem


e indicam os nomes de 6 [seis] profissionais, que entendem serem os mais
qualificados para compor o 2º Grau de Jurisdição.

• Lista sêxtupla e tríplice: Esses nomes são enviados aos Tribunais de Justiça
ou Tribunais Regionais Federais em uma lista, conhecida como lista sêxtupla.
Ao receberem a lista sêxtupla, os Tribunais reduzem os 6 [seis] nomes
recebidos para apenas 3 [três] nomes.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 178


19.4 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Nomeação para o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal: A nomeação é


feita pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria
absoluta do Senado Federal. Nessa investidura, inicialmente, o Presidente da
República escolhe o nome e faz a sua indicação para o Senado Federal. Na sequência,
a Comissão de Constituição Justiça e Cidadania, em votação secreta, emite parecer
[facultativo] sobre o nome. Após, o indicado, em arguição pública, é sabatinado e,
ato seguinte ocorrerá, em votação secreta, a deliberação plenária sobre o nome no
Senado Federal. A indicação, para ser aprovada, deve receber, pelo menos, 41 dos
81 votos, ou seja, maioria absoluta. E, aprovado o nome pelo Senado Federal, o
Presidente da República nomeará o novo Ministro, momento em que este será
vitaliciado.

Principais competências: O Supremo Tribunal Federal é o guardião do ordenamento


jurídico-constitucional e suas principais competências podem ser divididas em A)
competências originárias e B) competências derivadas, assim sintetizadas:

A) Competências originárias: Processar e julgar:

A.1) A ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo


federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei
ou ato normativo federal, bem como o pedido de medida cautelar das
ações diretas de inconstitucionalidade;

A.2) Nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-


Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios
Ministros e o Procurador-Geral da República;

A.3) Nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade,


os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e
da Aeronáutica, ressalvada a hipótese de conexão com crimes de
responsabilidade, porventura, praticados pelo Presidente da
República, hipótese em que o julgamento caberá ao Senado Federal,
nos termos do art. 52, I, da Constituição Federal; os membros dos
Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de
missão diplomática de caráter permanente;

DIREITO CONSTITUCIONAL | 179


Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: I. processar e
julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de
responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma
natureza conexos com aqueles;

A.4) O habeas corpus, sendo paciente o Presidente da República, o


Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, Ministros do
Supremo Tribunal Federal, o Procurador-Geral da República, os
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do
Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral
da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;

A.5) O litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a


União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;

A.6) As causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o


Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas
entidades da administração indireta;

Ponto 1: De acordo com o entendimento do Supremo Tribunal


Federal para que sua competência incida em virtude da norma
prevista no art. 102, I, “f”, da CF/88, é indispensável que, além
de haver uma causa envolvendo União e Estado, essa demanda
tenha densidade suficiente para abalar o pacto federativo, ou
seja, uma causa ou conflito que possa resultar em ofensa às
regras do sistema federativo. Vejam:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 180


STF: Diferença entre conflito entre entes federados e conflito
federativo: enquanto no primeiro, pelo prisma subjetivo,
observa-se a litigância judicial promovida pelos membros da
Federação, no segundo, para além da participação desses na lide,
a conflituosidade da causa importa em potencial
desestabilização do próprio pacto federativo. Há, portanto,
distinção de magnitude nas hipóteses aventadas, sendo que o
legislador constitucional restringiu a atuação da Corte à última
delas, nos moldes fixados no Texto Magno, e não incluiu os
litígios e as causas envolvendo Municípios como ensejadores de
conflito federativo apto a exigir a competência originária da
Corte. STF. Plenário. ACO 1.295-AgR-segundo, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 14/10/2010.

STF: Não se pode confundir conflito federativo com conflito de


entes federados. Nesse sentido: “O conflito federativo
qualificado para atrair a competência do STF não se confunde
com a mera controvérsia entre entes federativos.” STF. 1ª
Turma. AC-AgR 2.536, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
22/10/2018.

A.7) A extradição solicitada por Estado estrangeiro;

A.8) O habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou


quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos
atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal
Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única
instância;

A.9) A revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;

A.10) A reclamação para a preservação de sua competência e garantia


da autoridade de suas decisões;

A.11) A execução de sentença nas causas de sua competência


originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos
processuais;

A.12) A ação em que todos os membros da magistratura sejam direta


ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos

DIREITO CONSTITUCIONAL | 181


membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou
indiretamente interessados;

A.13) Os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça


e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e
qualquer outro tribunal;

A.14) O mandado de injunção, quando a elaboração da norma


regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do
Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal,
das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da
União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo
Tribunal Federal;

A.15) As ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o


Conselho Nacional do Ministério Público.

B) Competências derivadas ordinárias: Processar e julgar, em recurso


ordinário:

B.1) O habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o


mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais
Superiores, se denegatória a decisão;

B.2) o crime político;

C) Competências derivadas extraordinárias: Processar e julgar, em recurso


extraordinário,

C.1) As causas decididas em única ou última instância, quando a


decisão recorrida: C.1.1) contrariar dispositivo desta Constituição;
C.1.2) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; C.1.3)
julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição. C.1.4) julgar válida lei local contestada em face de lei
federal.

Para que o recurso Extraordinário seja admitido e o mérito recursal seja enfrentado,
como preliminar recursal, o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das
questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, demonstrando que a
demanda tem uma repercussão que transcende aos limites do conflito
intersubjetivo, com importância do ponto de vista econômico, social, político ou
jurídico, sendo que o reconhecimento de inexistência de repercussão geral apenas

DIREITO CONSTITUCIONAL | 182


poderá ser acolhido por manifestação de 2/3 [dois terços] dos membros do Supremo
Tribunal Federal.

Art. 1.035, CPC: O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não


conhecerá do recurso extraordinário quando a questão constitucional nele
versada não tiver repercussão geral, nos termos deste artigo. §1º Para efeito de
repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões relevantes
do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os
interesses subjetivos do processo.

19.5 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I. 1/3 dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e 1/3 dentre


desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice
elaborada pelo próprio Tribunal;

II. 1/3, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público


Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados
na forma de constituição do quinto constitucional, previsto no art. 94 da
Constituição Federal.

Principais competências: As competências do Superior Tribunal de Justiça podem


ser divididas em A) competências originárias e B) competências derivadas, assim
sintetizadas:

A) Competências originárias: Processar e julgar:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 183


A.1) Nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito
Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os
do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;

A.2) Os mandados de segurança e os habeas data contra ato de


Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica ou do próprio Tribunal;

A.3) Os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das


pessoas mencionadas no item A.1 acima, ou quando o coator for
tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da
Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral;

A.4) Os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado


o disposto no art. 102, I, "o", da Constituição Federal, bem como entre
tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a
tribunais diversos;

A.5) As revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados;

A.6) A reclamação para a preservação de sua competência e garantia


da autoridade de suas decisões;

A.7) Os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e


judiciárias da União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e
administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da
União;

A.8) O mandado de injunção, quando a elaboração da norma


regulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade
federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de
competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça
Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;

A.9) A homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de


exequatur às cartas rogatórias;

DIREITO CONSTITUCIONAL | 184


B) Competências derivadas: Processar e julgar, em recurso ordinário:

B.1) Os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos


Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória;

B.2) Os mandados de segurança decididos em única instância pelos


Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;

B.3) As causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo


internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente
ou domiciliada no País;

C) Competências derivadas especiais: Julgar, em recurso especial, as causas


decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou
pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a
decisão recorrida:

C.1) Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

C.2) Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei


federal;

C.3) Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja


atribuído outro tribunal.

Funcionarão junto ao Superior Tribunal de Justiça:

I. A Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados,


cabendo-lhe, dentre outras funções, regulamentar os cursos oficiais para o
ingresso e promoção na carreira;

II. O Conselho da Justiça Federal, cabendo-lhe exercer, na forma da lei, a


supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e
segundo graus, como órgão central do sistema e com poderes correcionais,
cujas decisões terão caráter vinculante.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 185


20 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

20.1 REQUISITOS PARA INSTITUIÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE EM


UM ORDENAMENTO JURÍDICO

Para que seja instituído o controle de constitucionalidade em um ordenamento


jurídico, dois requisitos, indispensáveis, devem ser observados, a saber: Existência
de uma constituição rígida: Uma Constituição que apenas pode ser modificada,
alterada, por um procedimento mais solene, mais dificultoso, do que o
procedimento de alteração da legislação infraconstitucional. Saliente-se que a nossa
Constituição Federal, quanto a alterabilidade, é classificada como rígida. Existência
de um órgão, com competência constitucional, para realizar a tutela do
ordenamento jurídico-constitucional: No nosso ordenamento jurídico, o art. 102 da
Constituição Federal dispõe que “Compete ao Supremo Tribunal Federal,
precipuamente, a guarda da Constituição”

Preenchidos os dois requisitos acima mencionados, pode ser instituto o controle de


constitucionalidade em um dado ordenamento jurídico.

20.2 PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS APLICADOS AO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

As ações de controle de constitucionalidade se inserem dentro do que é conhecido


por processo coletivo especial, haja vista que em uma Ação Direita de
Constitucionalidade, em uma Ação Declaratória de Constitucionalidade ou em uma
Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, não existe um conflito
intersubjetivo de interesses, não existem partes litigantes.

Diante disso, o que existe em controle de constitucionalidade são atos de


fiscalização dos Poderes, em um processo objetivo, no qual inexiste contraditório
formal.

E, por ser um processo objetivo e não subjetivo, disposições especiais são aplicáveis,
como, por exemplo, a impossibilidade: De propositura de Ação Rescisória; De
desistência da ação proposta; De se alegar a suspeição do Julgador.

Veja o que diz a Lei 9.868/1999:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 186


Art. 5º, Lei 9.868/1999. Proposta a ação direta, não se admitirá desistência.

Art. 26, Lei 9.868/1999. A decisão que declara a constitucionalidade ou a


inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em ação direta ou em ação
declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios,
não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória.

No que diz respeito a impossibilidade de se alegar suspeição do Julgador, saliente-se


que o Supremo Tribunal Federal tem entendimento de que, se o próprio, Ministro,
por razões de foro íntimo, firmar a sua não participação no julgamento, essa
disposição é validada:

Julgado em Frase: As hipóteses de impedimento e suspeição restringem-se aos


processos subjetivos; logo, não se aplicam, ordinariamente, ao processo de
fiscalização concentrada de constitucionalidade, salvo se o próprio julgador
firmar sua não participação no julgamento. (ADI 6362, Relator(a): RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 02/09/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-288 DIVULG 07-12-2020 PUBLIC 09-12-2020)

Saliente-se, também, que, no julgamento das ações de controle de


constitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal não fica adstrito aos fundamentos
jurídicos invocados pelo autor da demanda, ou seja, a causa de pedir é aberta,
significando que todos e qualquer norma que compõe o Bloco de
Constitucionalidade, tema que estudaremos adiante, pode ser utilizado pela Corte
Supremo nas suas razões de decidir:

Julgado em Frase: A causa de pedir, nas ações de controle de


constitucionalidade, é aberta. (ADI 3796, Relator(a): Min. GILMAR MENDES,
Tribunal Pleno, julgado em 08/03/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-168
DIVULG 31-07-2017 PUBLIC 01-08-2017)

20.3 NORMAS PARAMÉTRICAS

As normas paramétricas são as normas de referência violadas, os padrões


normativos com hierárquica equivalente à das normas constitucionais que restaram
violados.

E, com base nessa ideia, alguns questionamentos precisam ser elucidados, a saber:
1º) Toda a Constituição Federal pode ser considerada como parâmetro para fins de

DIREITO CONSTITUCIONAL | 187


Controle de Constitucionalidade? 2º) Tratados Internacionais podem ser
considerados como parâmetros para fins de Controle de Constitucionalidade? 3º) A
base normativa principiológica implícita pode ser considerada como parâmetro para
fins de Controle de Constitucionalidade?

Em resposta ao primeiro questionamento, necessário destacar que a Constituição


Federal é estrutura em 3 [três] partes distintas, a saber:

• Preâmbulo;
• Parte dogmática [Arts. 1º a 250];
• Disposições transitórias [Arts. 1º a 144 do ADCT].

Das três partes acima mencionados, o Preâmbulo é a parte da Constituição que não
se encontra no domínio do Direito, que se encontra no domínio da política, sendo
apenas uma consagração da ideologia que marcava o pensamento do Poder
Constituinte Originário no momento da promulgação do texto constitucional,
podendo ser utilizado, no máximo, como vetor interpretativo das demais normas
constitucionais, nada mais por não estar, como dito, no âmbito do Direito, tendo
nosso ordenamento jurídico adotado a Teoria da irrelevância jurídica, no que diz
respeito a natureza jurídica do preâmbulo constitucional.

As demais partes encontram-se no domínio do Direito.

Assim, o preâmbulo é a única parte da Constituição Federal que não serve como
parâmetro para o controle de constitucionalidade, já que, segundo entendimento do
Supremo Tribunal Federal, ele não tem caráter normativo.

Todas as demais partes [dogmática e transitória] podem ser utilizados como normas
paramétricas, normas modelos, em sede de controle de constitucionalidade.

Em resposta ao segundo questionamento, sobre os tratados internacionais,


necessário colacionar o que dispõe o art. 5º, §3º, da Constituição Federal:

Art. 5º, §3º, CF: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos


humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais.

Assim, devemos esclarecer que um tratado internacional de direitos humanos, pode


ingressar no nosso ordenamento jurídico com dois status diferentes, a depender do
preenchimento dos requisitos material e formal, a saber:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 188


• Status de emenda à Constituição: Caso um tratado internacional preencha o
requisito material, ou seja, a matéria nele estabelecida diga respeito à
direitos humanos, e preencha, também, os requisitos formais, ou seja, seja
aprovado em cada Casa do Congresso Nacional + 2 turnos de votação +
quórum qualificado de 3/5 dos votos dos respectivos membros, esse tratado
internacional será incorporado no nosso ordenamento jurídico com status de
emenda à Constituição, se posicionando no ápice do ordenamento jurídico.

• Status supralegal: Caso um tratado internacional preencha o requisito


material, ou seja, a matéria nele estabelecida diga respeito à direitos
humanos, porém, não preencha os requisitos formais previstos no art. 5º,
§3º, da Constituição Federal, acima mencionados, esse tratado internacional
será incorporado no nosso ordenamento jurídico com status supralegal,
acima da legislação infraconstitucional, porém, abaixo da Constituição
Federal.

E, com base na premissa exposta, a resposta para o segundo questionamento é


depende, haja vista que não é todo e qualquer tratado internacional que pode servir
como parâmetro para fins de controle de constitucionalidade, mas, tão-somente,
aqueles que foram incorporados no nosso ordenamento jurídico com status de
emenda à Constituição.

Hoje, os seguintes documentos internacionais podem ser utilizados como parâmetro


em controle de constitucionalidade, a saber:

• Convenção da Organização das Nações Unidades sobre o Direito das Pessoa


com Deficiência e seu protocolo adicional e;

• Tratado de Marraqueche, que tem por escopo facilitar o acesso a obras


publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras
dificuldades para ter acesso ao texto impresso;

• Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas


Correlatas de Intolerância.

E esse é o entendimento do Supremo Tribunal Federal colocado na ADI 2030, de


relatoria do Min. Gilmar Mendes, julgado em 09/08/2017.

Por fim, quanto ao terceiro questionamento, sobre a possibilidade de princípios


constitucionais implícitos servirem como parâmetro em controle de
DIREITO CONSTITUCIONAL | 189
constitucionalidade, a resposta é afirmativa, devendo ser considerada toda a ordem
constitucional global. E, aqui é interessante lembrar que os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, princípios constitucionais implícitos, que
retiram seu fundamento de validade do devido processo legal material, são
constantemente utilizados como normas paramétricas em sede de controle de
constitucionalidade.

Assim, em conclusão, podem ser consideradas normas paramétricas as seguintes:

• Disposições dogmáticas e transitórias da Constituição Federal;

• Tratados internacionais sobre Direitos Humanos, aprovados em cada Casa do


Congresso Nacional, em 2 [dois] turnos de votação e com quórum qualificado
de 3/5 dos votos dos respectivos membros [art. 5º, §3º, CF] e;

• Princípios constitucionais implícitos.

Ainda dentro dessa temática, outra pergunta deve ser respondida, que gira em torno
da modificação da norma paramétrica no curso de uma ação em controle
concentrado de constitucionalidade. E duas situações podem ocorrer:

• A lei era constitucional sob a égide do parâmetro original, mas em virtude


de uma Emenda à Constituição tornou-se incompatível com a Constituição
vigente: Nesse caso, a ação proposta restará prejudicada e o conflito terá de
ser revolvido no pleno da revogação, haja vista que o novo parâmetro
revogou, portanto, a lei que era objeto de impugnação.

• A lei era inconstitucional sob a égide do parâmetro original, mas em virtude


de uma Emenda à Constituição tornou-se compatível com a Constituição
vigente: Aqui, diferentemente da hipótese anterior, não há que se falar em
revogação da lei objeto de impugnação, pois não se admite, no Brasil, a
convalidação de vício congênito de inconstitucionalidade, também conhecida
como o fenômeno da “constitucionalidade superveniente”. Assim, a lei
objeto de impugnação deve ser nulificada perante a Constituição que
vigorava à época de sua edição, em homenagem ao Princípio da
Contemporaneidade.

Veja que esse entendimento foi firmado pelo Supremo Tribunal Federal na ADI
145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).

DIREITO CONSTITUCIONAL | 190


20.4 BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE

A expressão bloco de constitucionalidade foi cunhada pelo francês Louis Favorreu


para designar normas com status constitucional, abrangendo, assim, outras normas
que não somente aquelas postas na Constituição Federal e que, por consectário,
serviriam como parâmetro em controle de constitucionalidade.

Existem duas espécies de bloco de constitucionalidade, a saber:

• Bloco de constitucionalidade em sentido amplo: Abrange não apenas as


normas constitucionais, mas também normas infraconstitucionais
vocacionadas a desenvolver a eficácia de preceitos da Constituição, isto é,
normas necessárias a desenvolver direitos garantidos na Constituição
Federal. A título exemplificativo, nossa Constituição Federal dispõe em seu
5º, XXXII, que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”.
Assim, de acordo com a acepção ampla, o Código de Defesa do Consumidor
poderia ser considerado uma norma paramétrica para fins de controle de
constitucionalidade.

• Bloco de constitucionalidade em sentido estrito: Entende que compõe o


bloco de constitucionalidade o seguinte: A) Disposições dogmáticas e
transitórias da Constituição Federal; B) Tratados internacionais sobre Direitos
Humanos, aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em 2 [dois] turnos
de votação e com quórum qualificado de 3/5 dos votos dos respectivos
membros [art. 5º, §3º, CF] e; C) Princípios constitucionais implícitos.

E, como visto, pela conceituação do bloco de constitucionalidade em sentido estrito,


essa foi a espécie de bloco adotada por nosso ordenamento jurídico (ADI 595/ES e
ADI 514/PI).

20.5 OBJETO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Nesse ponto do estudo, dois questionamentos devem ser enfrentados: 1º) O que
pode ser objeto em controle de constitucionalidade? 2º) O que acontece quando
esse objeto é revogado ou alterado no curso de uma ação de controle de
constitucionalidade?

Quanto ao primeiro questionamento, não é produtivo memorizar quais atos podem


ser e quais atos não podem ser objeto de controle de inconstitucionalidade, haja
vista que temos uma vasta gama de atos que podem o ser, como por exemplo:
Emendas constitucionais, Leis complementares, Leis ordinárias, Leis delegadas,
DIREITO CONSTITUCIONAL | 191
Medidas provisórias, Decretos legislativos, Decretos autônomos, incluindo os
decretos delegados, Constituições estaduais e suas emendas, Regimentos internos
dos tribunais e casas legislativas, Outros atos dotados de força normativa, tais como
resoluções e pareceres aprovados pelo chefe do Executivo.

A melhor compreensão é a de que todo ato normativo dotado de generalidade e


abstração, ou seja, que retira seu fundamento de validade diretamente da
Constituição Federal, sem norma interposta, pode ser objeto de controle de
constitucionalidade.

Assim, o Supremo Tribunal Federal endente que é cabível a propositura de ações em


controle de constitucionalidade em face de decreto autônomo, que retira
fundamento de validade diretamente da Constituição Federal e, portanto, é dotado
de generalidade e abstração. STF. Plenário. ADI 6121 MC/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 12 e 13/6/2019 (Info 944).

Porém, lado outro, a Corte Suprema entende que não é cabível a propositura de
ações em controle de constitucionalidade em face de decreto regulamentar, por não
retirar seu fundamento de validade diretamente da Constituição Federal. STF.
Plenário ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/6/2018 (Info
905).

E, inclusive, entende ser cabível a propositura de ações em controle de


constitucionalidade em face de Resolução do Tribunal Superior Eleitoral, por ser
dotada de generalidade e abstração. STF. Plenário ADI 5122, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 3/5/2018 (Info 900).

Por fim, quanto ao segundo questionamento, necessário compreender o que


acontece caso um objeto seja revogado ou alterado no curso de uma ação de
controle de constitucionalidade. E, assim, dois cenários se formam, a saber:

• Regra: Caso o ato normativo seja revogado no curso de uma ação de controle
de constitucionalidade haverá perda superveniente do objeto e a ação será
extinta, sem resolução do mérito. E, caso um ato normativo seja alterado no
curso de uma ação de controle de constitucionalidade, será necessário
realizar o aditamento da Petição Inicial e caso não seja realizado o
procedimento será, também, extinto sem resolução do mérito:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 192


Julgado em Frase: A revogação de ato normativo no curso de uma ação
de controle de constitucionalidade, em regra, acarreta a extinção da
demanda sem apreciação do mérito, por perda superveniente do
objeto. (ADI 1931, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 07/02/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-113 DIVULG 07-
06-2018 PUBLIC 08-06-2018)

• Exceções: O Supremo Tribunal Federal verificou que objetos de controle de


constitucionalidade eram revogados com o escopo de evitar a apreciação da
constitucionalidade pela Corte Suprema, o que motivou que a Corte criasse
exceções à regra acima apresentada, a saber:

Exceção 1: Não haverá perda superveniente do objeto caso seja


demonstrado que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi
revogada de forma proposital a fim de evitar que o Supremo Tribunal
Federal a declarasse inconstitucional e nulificasse os efeitos por ela
produzidos. Nesse caso, o mérito da demanda será enfrentado.

Exceção 2: Não haverá perda superveniente do objeto se ficar


demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi repetido em outro
diploma normativo, em demonstração de continuidade normativa.

Exceção 3: Não haverá perda superveniente do objeto caso o Supremo


Tribunal Federal tenha julgado o mérito da ação sem ter sido
comunicado previamente que houve a revogação da norma atacada.

Ainda sobre a temática do objeto, necessário destacar que, como regra, o Supremo
Tribunal Federal apenas poderá manifestar e, eventualmente, declarar a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade dos atos normativos apontados na
Petição Inicial.

Porém, necessário ressaltar a existência do instituto da inconstitucionalidade por


arrastamento ou atração ou por reverberação normativa ou consequencial ou
consequente ou derivada, que se dá quando uma norma é considerada
inconstitucional por ser dependente de outra que foi declarada inconstitucional. É o
exemplo em que uma lei é declarada inconstitucional e, por consequência, o decreto
que a regulamenta também extirpado do ordenamento por arrastamento.

20.6 ESPÉCIES DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

DIREITO CONSTITUCIONAL | 193


O controle de constitucionalidade se distingue em 3 [três] espécies, podendo ser
assim esquematizadas:

• Em relação ao momento: Preventivo x Repressivo. O controle preventivo se


dá antes da produção de efeitos do ato normativo no ordenamento jurídico.
Ao passo que o controle repressivo incide a partir do momento da produção
de efeitos do ato normativo no ordenamento jurídico.

• Em relação ao órgão: Jurídico x Político x Misto. O controle jurídico é


realizado por um órgão pertencente ao Poder Judiciário. Ao passo que o
controle político é realizado por um órgão alheio a estrutura do Poder
Judiciário. Por fim, o controle de constitucionalidade misto prevê que certos
atos somente se sujeitam a controle político, enquanto outros só podem ser
controlados por órgãos jurisdicionais, como acontece na Suíça.

• Em relação à extensão: O controle total ocorre quando toda a lei ou todo o


dispositivo são incompatíveis com a norma constitucional. Ao passo que o
controle parcial ocorre quando parte de uma lei ou de um dispositivo é
incompatível com a Constituição.

Sobre o controle parcial, necessário destacar que o Supremo Tribunal Federal pode
declarar a inconstitucionalidade de apenas uma palavra ou expressão de um ato
normativo, desde que sejam autônomas e não alterem o sentido da norma, por
incidir aqui o Princípio da Parcelaridade.

Atenção ao fato de que tal princípio não é aplicável a questão referente ao veto
presidencial, que, se parcial, deve abranger o texto integral de artigo, parágrafo,
inciso ou alínea, nos termos do artigo 66, §2º, da CF:

Art. 66, §2º, CF: O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de
parágrafo, de inciso ou de alínea.

20.7 CONTROLE REPRESSIVO DE CONSTITUCIONALIDADE

Especificamente em relação ao controle repressivo de constitucionalidade,


necessário salientar que, como regra, sua competência é atribuída ao Poder
Judiciário.

Porém, excepcionalmente, os Poderes Legislativo e Executivo podem realizar essa


forma de controle de constitucionalidade, em situações especificas e determinadas.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 194


No caso do Poder Legislativo, tais situações dizem respeito a pontos envolvendo
Medidas Provisórias e Leis Delegadas.

No que tange às Medidas Provisórias, o art. 62 da Constituição Federal dispõe que


em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar essa
espécie normativa e, após sua edição, deve ser promovida sua submissão ao
Congresso Nacional para apreciação. No Congresso Nacional, antes de adentrar no
mérito da Medida Provisória, cada uma das Casas Legislativa realizará um juízo
prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais, quais sejam:
relevância e urgência. E caso o Poder Legislativo verifique os pressupostos
constitucionais da edição do ato não estavam presentes, rejeitará a Medida
Provisória.

Veja que nessa situação, o Poder Legislativo realizou um controle formal repressivo
de constitucionalidade da norma. Formal porque o Presidente da República não
observou a forma determinada pela Constituição Federal, qual seja, observância do
binômio relevância e urgência. Repressivo porque, desde a edição do ato pelo
Presidente da República, a Medida Provisória já estava produzindo efeitos no
ordenamento jurídico, tendo sido dele extirpado.

No que diz respeito às Leis Delegadas, o art. 68 da Constituição Federal reza que as
leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a
delegação ao Congresso Nacional. No momento em que o Poder Legislativo delega
poderes ao Presidente da República para exercer uma função atípica legislativa, é
feita uma delimitação dos poderes. E, caso o Chefe do Poder Executivo exorbite dos
limites da delegação legislativa, o Congresso Nacional, nos termos do art. 49, V, da
Constituição Federal, poderá sustar o referido ato.

Veja que, também, nessa situação o Poder Legislativo realizou um controle


repressivo de constitucionalidade da norma, haja vista que no momento da
elaboração da Lei Delegada pelo Presidente da República, ela já estava produzindo
efeitos no ordenamento jurídico, tendo sido dele extirpado.

Em sequência, no caso do Poder Executivo, tal situação diz respeito a possibilidade


do Chefe do Poder Executivo negar o cumprimento de um ato normativo que
considere inconstitucional.

20.8 CONTROLE JURÍDICO DE CONSTITUCIONALIDADE

O controle jurídico de constitucionalidade se apresenta nas seguintes espécies, a


saber:
DIREITO CONSTITUCIONAL | 195
• Controle concentrado: Realizado por órgão ou tribunal especial,
taxativamente indicado pelo ordenamento jurídico, para exerce controle de
constitucionalidade e os efeitos de sua decisão são os seguintes:

Ex tunc;
Erga omnes;
Vinculantes.

• Controle difuso: Permite a todo e qualquer juiz ou tribunal o controle de


constitucionalidade no exercício da jurisdição constitucional e os efeitos da
sua decisão são os seguintes:

Ex tunc;
Inter partes;
Não Vinculantes.

• Controle abstrato: Faz a aferição da constitucionalidade do ato sem situá-lo


no plano concreto de incidência fática e os efeitos de sua decisão são os
seguintes:

Ex tunc;
Erga omnes;
Vinculantes.

• Controle concreto: A avaliação da questão constitucional se efetiva de forma


vinculada à incidência concreta do ato fiscalizado e os efeitos da sua decisão
são os seguintes:

Ex tunc;
Inter partes;
Não Vinculantes.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 196


20.9 ABSTRATIVIZAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO

Após declarar a inconstitucionalidade de um ato normativo, em sede de controle


difuso de constitucionalidade, que apresenta efeitos ex tunc, inter partes e não
vinculantes, o Supremo Tribunal Federal, tinha a sua disposição o art. 52, X, da
Constituição, que apresenta a seguinte redação:

Art. 52, CF. Compete privativamente ao Senado Federal: X. suspender a


execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão
definitiva do Supremo Tribunal Federal;

Porém, o entendimento clássico era o de que o Senado Federal tinha


discricionariedade para promover a suspensão ou não da execução da lei.

Alterando a sentido interpretativo da norma, mesmo sem alteração de seu texto


gramatical, promovendo, portanto, uma mutação constitucional do art. 52, X, da
Constituição Federal, o Supremo Tribunal Federal passou a entender que a nova
intepretação do dispositivo é a de que o papel do Senado Federal, no controle de
constitucionalidade, é simplesmente o de, mediante publicação, divulgar a decisão
proferida pela Corte Suprema. E, o Pretório Excelso pode impingir àquela decisão
proferida em sede de controle difuso, típicos efeitos das decisões proferidas no
controle abstrato, quais sejam: A) Erga omnes; B) Vinculantes; situação que ficou
conhecida como abstrativização do controle difuso:

Julgado em Frase: O sistema penitenciário brasileiro vive um Estado de Coisas


Inconstitucional. (ADI 3470, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Tribunal Pleno,
julgado em 29/11/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-019 DIVULG 31-01-2019
PUBLIC 01-02-2019)

20.10 TEORIA DA TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES

Ressalte-se que a Teoria da Abstrativização do Controle Difuso não se confunde com


a Teoria da Transcendência dos Motivos Determinantes.

Para essa última teoria, a eficácia vinculativa não se limita à parte dispositiva da
decisão, de modo a se aplicar às razões determinantes da decisão; os fundamentos
da decisão, ou seja, a ratio decidendi, também, vincularam o Poder Judiciário e
Administração Pública à sua observância.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 197


Porém, conforme se depreende dos julgados abaixo, a Teoria da Transcendência dos
Motivos Determinantes não guarda colhida na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal:

Julgado em Frase: Nosso ordenamento jurídico não adota a Teoria da


Transcendência dos Motivos Determinantes. (Rcl 8168, Relator(a): Min. ELLEN
GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em
19/11/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-037 DIVULG 26-02-2016 PUBLIC 29-
02-2016)

20.11 CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO

A cláusula de reserva de plenário, também conhecida como regra do full bench, full
court ou julgamento en banc, está prevista no art. 97 da CF/88 e nos art. 948 e 949
do Código de Processo Civil de 2015, tem incidência no âmbito do controle difuso de
constitucionalidade realizados pelos Tribunais.

Art. 97, CF. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos
membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.

Art. 948. Arguida, em controle difuso, a inconstitucionalidade de lei ou de ato


normativo do poder público, o relator, após ouvir o Ministério Público e as
partes, submeterá a questão à turma ou à câmara à qual competir o
conhecimento do processo.

Art. 949. Se a arguição for: I. rejeitada, prosseguirá o julgamento; II. acolhida, a


questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão especial, onde
houver.

Os órgãos fracionários dos tribunais (turmas, câmaras, seções,) não dispõem de


competência para declarar a inconstitucionalidade de ato normativo do Poder
Público, sendo que o órgão competente é o Plenário ou a Corte Especial.

Assim, se um Tribunal for declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato


normativo, é obrigatório que essa declaração de inconstitucionalidade seja feita pelo
voto da maioria absoluta do Plenário ou do Órgão Especial deste Tribunal. E, após a
decisão proferida pelo Plenário ou do órgão especial, o órgão fracionário, com base
na premissa que foi fixada, prosseguirá com o julgamento do caso concreto.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 198


Essa situação é conhecida por decisões subjetivamente complexas, que são aquelas
nas quais o julgamento das questões que integram a lide compete a mais de um
órgão. Nas palavras de Fredie Didier jr., Paula Braga e Rafael de Oliveira (Curso de
Direito Processual Civil, vol. 2, 2017, p. 447): “São subjetivamente complexas as
decisões para cuja formação devem concorrer, necessariamente, as vontades de
mais de um órgão jurisdicional”.

Ressalte-se os casos em que a aplicação da cláusula de reserva de plenário é


afastada: A) Turmas Recursais de Juizado Especial, pois não se incluem na expressão
genérica “tribunais”, constante do art. 97 da CF/88. B) Quando o STF ou o próprio
Tribunal julgador já tiverem observado a cláusula de reserva de plenário para
declarar a inconstitucionalidade do mesmo preceito questionado; C) Para resolver
problemas de direito intertemporal por meio do critério cronológico, incluindo
questões relativas à recepção constitucional de atos normativos anteriores à nova
Constituição; D) A cláusula de reserva do plenário não é de observância obrigatória
no Supremo Tribunal Federal quando do julgamento de Recurso Extraordinário, pois
a Corte Suprema não se inclui na expressão genérica “tribunais”, constante do art.
97 da CF/88. E) Reconhecer a constitucionalidade de determinada norma, ou seja,
dispensada para arguições de constitucionalidade.

Por fim, dentro dessa temática, necessário colacionar o enunciado da Súmula


Vinculante n. 10, que delimita o âmbito de aplicação da debatida cláusula:

Súmula Vinculante 10: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a
decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

20.12 TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE

Existem 4 [quatro] formas pelas quais um ato normativo pode restar maculado pela
eiva da inconstitucionalidade, sendo elas: Inconstitucionalidade Formal ou
Nomodinâmica: É o vício que incide no processo de elaboração do ato normativo,
ou seja, o objeto não observa o que é ditado pelo devido processo legislativo
constitucional Inconstitucionalidade Material ou Nomoestática: É o vício que está
relacionado ao conteúdo do ato, ou seja, a matéria do ato normativo viola os
preceitos constitucionais. Inconstitucionalidade por Ação: É o vício que decorre de
uma conduta positiva que é incompatível com os ditames constitucionais.
Inconstitucionalidade por Omissão ou Negativa: É o vício que decorre de uma
abstenção em cumprir com o dever constitucional dirigido à produção de medidas
para tornarem efetiva determinada norma constitucional

DIREITO CONSTITUCIONAL | 199


Inconstitucionalidade formal: A inconstitucionalidade formal ou nomodinâmica
pode se apresentar de 4 [quatro] espécies, a saber:

• Inconstitucionalidade formal propriamente dita subjetiva: Está relacionada


ao sujeito competente para praticar o ato, sendo conhecida como “vício de
iniciativa”, ou seja, a Constituição Federal atribui legitimidade para um certo
agente político iniciar o processo de elaboração dos atos normativos, porém,
essa regra não é observada e outro agente político dá início ao processo de
elaboração do ato. É o caso de um Deputado Federal iniciar o processo
legislativo de uma lei que modifique o efetivo das forças armadas, em clara
violação a regra prevista no art. 61, §1º, I, da Constituição Federal:

Art. 61, CF. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer
membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do
Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal
Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos
cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. §1º São de
iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: I. fixem ou
modifiquem os efetivos das Forças Armadas;

• Inconstitucionalidade formal propriamente dita objetiva: Está relacionada


às demais fases do processo legislativo, que não aquela relacionada à fase da
iniciativa. É o clássico exemplo de uma Lei Complementar ser aprovada pelo
quórum de maioria simples, violando a regra prevista no art. 69 da
Constituição Federal.

Art. 69, CF. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta.

• Inconstitucionalidade formal orgânica: É semelhante à inconstitucionalidade


formal propriamente dita subjetiva, porém, aqui a competência é de um
órgão e não de um agente político. É aquela que ocorre nos casos de violação
de norma que estabelece o órgão (Congresso Nacional, Assembleia ou
Câmara de Vereadores) com competência legislativa para tratar da matéria.
É o exemplo de, eventualmente, a Lei Orçamentária Anual ser iniciada pelo
Poder Legislativo, em violação ao que dispõe o art. 165, III, da Constituição
Federal:

DIREITO CONSTITUCIONAL | 200


Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I. o plano
plurianual; II. as diretrizes orçamentárias; III. os orçamentos anuais.

• Inconstitucionalidade formal por violação aos pressupostos constitucionais


do ato: Nesse caso, a Constituição Federal estabelece circunstâncias
determinantes, de observância obrigatória, para a produção do ato
normativo. E essa circunstância determinante não é observada. É o exemplo
de uma Medida Provisória ser editada sem a observância dos pressupostos
constitucionais da relevância e urgência, circunstâncias determinantes
previstas no art. 62 da Constituição Federal:

Art. 62, CF: Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá


adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato
ao Congresso Nacional. [...] §5º: A deliberação de cada uma das Casas do
Congresso Nacional sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo
prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais.

20.13 AÇÕES EM ESPÉCIE

Dentro da sistemática do controle de constitucionalidade, temos as seguintes ações


em espécie:

Ação Direita de Inconstitucionalidade [ADI Genérica]: Prevista na Lei


9.868/1999 e tem por escopo obter uma declaração que uma lei, federal ou
estadual, ou parte dela é inconstitucional, ou seja, contraria a Constituição
Federal.

Ação Declaratória de Inconstitucionalidade [ADC]: Incluída na Constituição


Federal de 1988 pela EC 03/1993, prevista na Lei 9.868/1999 e tem por
escopo tornar certo judicialmente que uma dada norma é compatível com a
Constituição Federal, fortalecendo a presunção relativa de
constitucionalidade dos atos normativos.

Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão [ADO]: Prevista na Lei


9.868/1999 e tem por escopo tornar efetiva norma constitucional em razão
de omissão de qualquer dos Poderes ou de órgão administrativo.

Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental [ADPF]: Prevista na


Lei 9.882/1999 tem por escopo evitar e eliminar do ordenamento jurídico

DIREITO CONSTITUCIONAL | 201


qualquer ato do Poder Público que fira de alguma forma os preceitos
fundamentais

Dentro do estudo das ações em controle de constitucionalidade, necessário destacar


pontos importantes que gravitam em torno dessas ações:

Caráter dúplice ou ambivalente: ADI e ADC são ações de caráter dúplice ou


ambivalente, ou seja, uma ADI julgada procedente, por consectário, gera o
julgamento de improcedência de uma ADC que tenha o mesmo objeto em
questionamento, sendo que tal situação decorre do art. 24 da Lei 9.868/1999:

Art. 24 da Lei 9.868/1999: Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á


improcedente a ação direta ou procedente eventual ação declaratória; e,
proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou
improcedente eventual ação declaratória.

Restrições quanto ao objeto: As ações apresentam restrições quanto ao objeto,


podendo ser assim esquematizadas:

Lei ou ato normativo


federal:

Fungibilidade: Privilegiando a instrumentalidade das formas e a economicidade do


processo, é possível aplicar o princípio da fungibilidade entre todas as ações que
compõe o controle de constitucionalidade.

Legitimados: Para a propositura de uma ADI, ADC ou ADO existem legitimados


especiais, previstos no art. 103 da Constituição Federal, que podem ser assim
apresentados: 3 Autoridades: Presidente da República; Procurador Geral da
República; Governador de Estado ou do DF. 3 Mesas: Mesa da Câmara dos
Deputados; Mesa do Senado Federal; Mesa da Assembleia Legislativa dos Estados ou
DF; 4 Instituições: Conselho Federal da OAB; Partido Político com representação no
Congresso Nacional; Entidade de Classe de âmbito nacional; Confederação sindical.

Sobre os legitimados, necessário atentar que o rol apresentado se trata de rol


fechado, numerus clausus. Assim, quando a Constituição faz menção ao Presidente
da República, ela não está estendendo essa legitimidade, automaticamente, ao vice.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 202


O Vice só tem legitimidade para ajuizar essas ações quando estiver no exercício da
Presidência.

Além disso, calha destacar a existência de dois grupos de legitimados, a saber:

• Legitimados Universais ou Neutros: Podem propor a ação sem necessidade


de comprovar sua relação temática com a norma objeto de impugnação.

• Legitimados Especiais ou Interessados: Para proporem a demanda é


necessário demonstrar sua relação com a norma impugnada.

Ainda dentro dessa temática, necessário colacionar os seguintes entendimentos


jurisprudenciais:

STF: Governador de Estado afastado cautelarmente de suas funções — por


força do recebimento de denúncia por crime comum — não tem legitimidade
ativa para a propositura de ação direta de inconstitucionalidade. STF. Plenário
ADI 6728 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 30/4/2021 (Info 1015).

STF: AGRAVO REGIMENTAL EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


COMPLEMENTAR 173/2020, ART. 8º. PROGRAMA FEDERATIVO DE
ENFRENTAMENTO AO CORONAVÍRUS - SARS-COV-2 (COVID-19). FEDERACAO
NACIONAL DO FISCO ESTADUAL E DISTRITAL (FENAFISCO). ILEGITIMIDADE
ATIVA. REPRESENTAÇÃO DE PARTE DE CATEGORIA PROFISSIONAL. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência do STF exige, para a
caracterização da legitimidade ativa das entidades de classe e confederações
sindicais nas ações de controle concentrado de constitucionalidade, que a
entidade represente toda a respectiva categoria, e não apenas fração dela. 2.
Sob esse enfoque, a Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital -
FENAFISCO carece de legitimidade para a propositura da presente ação direta,
na medida em que constitui entidade representativa de apenas parte de
categoria profissional, já que não abrange os auditores fiscais federais e
municipais. 3. Agravo Regimental conhecido e desprovido. (ADI 6465 AgR,
Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 20/10/2020,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-279 DIVULG 24-11-2020 PUBLIC 25-11-2020)

DIREITO CONSTITUCIONAL | 203


STF: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONTROLE NORMATIVO
ABSTRATO. ENTIDADE DE CLASSE DE ÂMBITO NACIONAL. NÃO
CARACTERIZAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 103, IX, E 102, 'I', 'A', DA
CF/1988. CARÊNCIA DA AÇÃO RECONHECIDA. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE NÃO CONHECIDA. I - A jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal exige, para configuração do caráter nacional da entidade de
classe, comprovação da existência de associados ou membros em pelo menos 9
Estados da Federação. Precedente: ADI 108/QO, Relator Ministro Celso de
Mello. II - Reconhecimento da carência da ação, por força da ilegitimidade ativa
da associação. III - Ação direta de inconstitucionalidade não conhecida. (ADI
3287, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 05/08/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-215 DIVULG 27-08-2020 PUBLIC 28-08-2020)

STF: DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL EM EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. INTEMPESTIVIDADE E ILEGITIMIDADE RECURSAL. 1.
Intempestividade dos embargos de declaração, interpostos posteriormente ao
trânsito em julgado do acórdão embargado. 2. Os Estados-Membros não se
incluem no rol dos legitimados a agir como sujeitos processuais em sede de
controle concentrado de constitucionalidade. Não se admite, no modelo de
processo objetivo, a intervenção de terceiros subjetivamente interessados no
feito. 3. Agravo a que se nega provimento. (ADI 4420 ED-AgR, Relator(a): Min.
ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 05/04/2018, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-103 DIVULG 25-05-2018 PUBLIC 28-05-2018)

Intervenção do Ministério Público: O Procurador Geral da República, além de ser


um dos legitimados à propositura das ações diretas, deve sempre intervir no feito.
Ademais, mesmo que ajuizada a ação pelo PGR, poderá este manifestar-se, no
parecer final, pela improcedência do pedido.

Intervenção do Advogado Geral da União [AGU]: O AGU exerce a tarefa de curador


da presunção de constitucionalidade dos atos normativos, ressaltando o AGU pode
deixar de exercer a defesa da norma, nas seguintes situações:

• O Supremo Tribunal Federal já tenha fixado entendimento pela


inconstitucionalidade da norma;

• A norma impugnada ofenda aos interesses da União, haja vista que nesse
caso haveria um conflito entre as funções do AGU.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 204


Amicus curiae: É uma figura que objetiva pluralizar o debate constitucional,
promovendo a democrática abertura do rol de intérpretes da Constituição no
processo de controle da constitucionalidade, com previsão no art. 7º, §2º, da Lei
9/868/1999:

Art. 7º, Lei 9868/1999: Não se admitirá intervenção de terceiros no processo


de ação direta de inconstitucionalidade. [...] §2º O relator, considerando a
relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por
despacho irrecorrível, admitir*, observado o prazo fixado no parágrafo
anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades.

Sobre o amicus curiae, necessário salientar que o Supremo Tribunal Federal entende
que a decisão que admite o ingresso do amicus curiae no feito é irrecorrível, porém,
a que inadmite é recorrível via recurso de Agravo Interno:

STF: Controle abstrato de constitucionalidade – Decisão que


fundamentadamente não admitiu a intervenção, como “amicus curiae”, de
pessoa física – Ausência de representatividade adequada – Impossibilidade de
defender, em sede de controle normativo abstrato, direitos e interesses de
caráter individual e concreto – Legitimidade daquele que não é admitido como
“amicus curiae” para recorrer dessa decisão do relator – agravo interno
conhecido – recurso improvido. (ADI 3396 AgR, Relator(a): CELSO DE MELLO,
Tribunal Pleno, julgado em 06/08/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-248
DIVULG 13-10-2020 PUBLIC 14-10-2020)

Caso a Exordial seja considerada inepta, não fundamentada e a manifestamente


improcedente, será liminarmente indeferida pelo Relator, em decisão suscetível de
interposição de recurso, no caso, via recurso de Agravo Interno.

Art. 3º, Lei 9.868/1999: A petição indicará: I. o dispositivo da lei ou do ato


normativo impugnado e os fundamentos jurídicos do pedido em relação a cada
uma das impugnações; II. o pedido, com suas especificações. Parágrafo único. A
petição inicial, acompanhada de instrumento de procuração, quando subscrita
por advogado, será apresentada em duas vias, devendo conter cópias da lei ou
do ato normativo impugnado e dos documentos necessários para comprovar a
impugnação.

Art. 4º, Lei 9.868/1999: A petição inicial inepta, não fundamentada e a


manifestamente improcedente serão liminarmente indeferidas pelo relator.
Parágrafo único. Cabe agravo da decisão que indeferir a petição inicial.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 205


Consequências da propositura da ação: Proposta a ação, não se admitirá
desistência, conforme prevê o art. 5º da Lei 9.868/1999.

Quórum de instalação e de julgamento: Para se instalar uma sessão de julgamento,


é necessário a presença de, pelo menos, 8 [oito] dos 11 [onze] Ministros do Supremo
Tribunal Federal. E, para proferir decisão de mérito do procedimento, é necessário
o voto de, pelo menos, 6 [seis] dos 11 [onze] Ministros.

Decisão: A validade da decisão tem por termo Inicial a publicação da ata de


julgamento no Diário Oficial, sendo dotada, como regra, de efeitos ex tunc e erga
omnes, haja vista que, excepcionalmente, nos termos do art. 27 da Lei 9.868/1999,
os efeitos da decisão poderão ser modulados no tempo, caso presente razões de
segurança jurídica e excepcional interesse social, em decisão tomada pelo quórum
qualificado de 2/3 dos membros do Supremo Tribunal Federal.

Art. 27, Lei 9.868/1999. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato


normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional
interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços
de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só
tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que
venha a ser fixado.

Destaque-se que o Supremo Tribunal Federal entende que a modulação temporal


dos efeitos da decisão pode ser feita independentemente de requerimento do
Legitimado, podendo ser feita ex officio pelo Tribunal (STF. Plenário ADI 5617 ED/DF,
Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 2/10/2018 (Info 918)).

Por fim, saliente-se que a decisão prolatada é dotada de efeito vinculante,


vinculando os demais órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública direta e
indireta, o que implica em afirmar que, por consectário, o Poder Legislativo não está
adstrito ao efeito vinculante, com o objetivo de evitar o que ficou conhecido como
fossilização da Constituição; sendo, também, irrecorrível, salvo a oposição de
Embargos de Declaração, que objetivam apenas o aperfeiçoamento do julgado; não
sendo cabível, também, em face da decisão prolatada, a propositura de Ação
Rescisória.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 206


APOSTILA ATUALIZADA EM:
ABRIL/2023

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