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1º Bimestre - Arte (3º Ano)

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3º ANO

1º BIMESTRE
EEMTI São Pedro l ARTE
Prof. Esp. Danyllo Camilo
O QUE FOI A SEMANA DE
ARTE MODERNA DE 1922?

2

[...] seria uma semana de escândalos literários e
artísticos, de meter os estribos na barriga da
burguesiazinha paulista.
Di Cavalcanti

3
SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

A SEMANA DE ARTE Apesar de o evento ter sido pensado para acontecer durante uma
MODERNA foi uma semana completa, de 11 a 18 de fevereiro, na verdade a
manifestação artístico-cultural Semana de Arte Moderna só esteve aberta ao público durante os
que ocorreu no Theatro dias 13, 15 e 17, respectivamente segunda, quarta e sexta, de
Municipal de São Paulo entre os fevereiro de 1922, com programação temática que passava pelas
dias 13 e 17 de fevereiro 1922. artes visuais, literatura e música.
100 anos após a Independência
do Brasil, 34 anos após a
abolição da escravidão e 4
anos após o fim da Primeira No mês de fevereiro de 2022 completaram-se cem anos da
Guerra Mundial. Apresentações Semana de Arte Moderna, evento de arte que ao longo do século
musicais e conferências XX foi reconhecido por pesquisadores dos mais diversos campos
intercalavam-se às exposições de conhecimento como o principal acontecimento de arte da
de escultura, pintura e história do Brasil contemporâneo, fundando um modo associativo
arquitetura, com o intuito de de produzir exposições com múltiplas linguagens, um fazer artístico
introduzir ao cenário brasileiro dentro de novas premissas, uma forma diferente de pensar o
as mais novas tendências da Brasil, o brasileiro e suas realidades.
arte.

4
Theatro Municipal de São Paulo

5
Catálogo e cartaz da Semana de Arte Moderna, produzidos pelo
artista Di Cavalcanti.

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SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

13.fev.1922 — A Semana de Arte 15.fev.1922 — A noite que celebrizou


Moderna é inaugurada no Teatro a semana começa com um discurso de
Municipal de São Paulo com Menotti del Picchia sobre romancistas 17.fev.1922 — A última noite da
palestra do escritor Graça Aranha, contemporâneos, acompanhado por programação é totalmente dedicada à
ilustrada por comentários musicais leitura de poesias e números de dança. música de Villa-Lobos. As vaias continuam
e poemas de Guilherme de É aplaudido. Mas, quando é anunciado até que a maioria pede silêncio para
Almeida. O primeiro dia corre sem ouvir Villa-Lobos. Os instrumentistas
Oswald de Andrade, começam as vaias
tropeços. Depois da longa e tentam executar as peças incluídas no
e insultos na platéia, que só param
erudita fala de Aranha, um programa apesar do barulho feito pelos
quando sobe ao palco a aclamada
conjunto de câmara ocupa o palco espectadores e levam o recital até o fim.
para executar obras de Villa- pianista Guiomar Novaes. Heitor Villa-
Lobos. Após o intervalo, Ronald de Lobos se apresenta no palco do
Carvalho discursa sobre pintura e Municipal apoiado em um guarda-
escultura modernas. A platéia chuva e calçando chinelos. "Destacam-
começa a se manifestar. Diante se a palestra de Mario de Andrade,
dos zurros do público, Ronald de cujo texto depois se tornaria a
Carvalho devolve: "Cada um fala publicação A escrava que não é Isaura,
com a voz que Deus lhe deu." O em que o autor defende enfaticamente
gran finale surge na forma de um o abrasileiramento da língua
recital de música comandado pelo portuguesa.
maestro Ernani Braga.

7
SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

Graça Aranha, que à época já era um aclamado escritor e intelectual


brasileiro, fez as honras da abertura do festival, no dia 13, com a
conferência intitulada “A emoção estética da arte moderna”. Ele foi ouvido
respeitosamente pelo público e declamou versos de Guilherme de Almeida e
Ronald de Carvalho, acompanhado de músicas executadas pelo maestro
Ernani Braga.

Ainda no dia 13, o já citado poeta Ronald de Carvalho esteve à frente


de sua própria conferência, de nome “A pintura e a escultura moderna no
Brasil”, seguida de três solos de piano de Ernani Braga e três danças
africanas de Villa-Lobos – compositor, aliás, tachado na ocasião de “talento
ainda não cultivado o bastante”, por sua música “Privada de bom senso” e
“Puramente africana”.

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SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

O dia 15 de fevereiro Também nesse dia houve um sarau, O evento de encerramento


representou o auge da que contou com a participação de diversos da Semana foi dedicado à
Semana, nos mais escritores, que tentavam falar no meio da música. Peças de Villa-Lobos
escandalosos termos. A nova gritaria da plateia. Nesse dia, Ronald de foram executadas pelos diversos
literatura provocou irritação e Carvalho leu o famoso poema “Os Sapos”, de músicos participantes, com menos
algazarra no público autoria de Manuel Bandeira, que ruídos em vaias, mas não sem
presente. Destacam-se a ridicularizava os parnasianos. escapar às críticas ferinas dos
palestra de Mario de conservadores.
Andrade, cujo texto depois se Mario de Andrade pronunciou também
tornaria a publicação A uma breve palestra, na escadaria interna do
escrava que não é Isaura, em Theatro, sobre as obras de pintura. Vinte anos
que o autor defende depois, o autor relembrou o episódio na obra
enfaticamente o O Movimento Modernista, comentando:
abrasileiramento da língua “Como pude fazer uma conferência sobre
portuguesa, e a conferência artes plásticas, na escadaria do Theatro,
sobre a estética moderna cercado de anônimos que me caçoavam e
proferida por Paulo Menotti ofendiam a valer?...”. A grande confusão da
del Picchia, que provocou os plateia só se acalmou com as apresentações
ânimos da plateia, fazendo que encerraram o dia: números de dança de
ecoar vaias pelos quatro Yvonne Daumerie e o concerto de piano de
cantos do Theatro. Guiomar Novais.

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SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

A forma de divulgação do evento hoje chama a atenção. O trabalho gráfico desses


anúncios é tão simples que se compara a uma publicidade corriqueira de venda de imóvel.
É possível observar os anúncios no jornal, com a programação e os preços dos ingressos.

Anúncio no jornal O Estado de São Paulo, 17 de fevereiro de Anúncio no jornal O Estado de São Paulo, 11 de fevereiro de
1922, página 5. Fonte: Brasil: 1º tempo modernista – 1917/29 1922, página 5. Fonte: Brasil: 1º tempo modernista – 1917/29

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SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

NESSE CONTEXTO, uma questão importante para os considerados


intelectuais brasileiros era como o Brasil tinha se saído desses processos
históricos, principalmente comparando o país com os Estados Unidos da
América, que saíram da Primeira Guerra Mundial como uma grande
potência. Além disso, as questões sociais, principalmente a abolição da
escravidão, recebiam pouco destaque nos trabalhos artísticos. Assim, a
Semana de Arte Moderna se apoiava no pensamento nacionalista e na busca
de uma identidade para o Brasil, além da procura por uma produção
artística mais liberta, que rompesse com uma estética das academias de
Belas Artes e das ideias parnasianistas. As ideias parnasianistas tratavam da
arte pela arte, privilegiavam a busca pela perfeição e demonstravam pouca
preocupação com os sentimentos humanos e os contextos sociais.

11
ARTE NATURALISTA

FOCAVA EM PRINCÍPIOS,
REGRAS E CONVENÇÕES

VEROSSIMILHANÇA:
PROPORCIONAL A REALIDADE

Mona Lisa (1503) – Leonardo Da Vinci

12
PARNASIANISMO
As características do parnasianismo residem na sentença “arte pela arte”, ou seja,
na busca da perfeição das formas poéticas e no rigor estético, permeado por
valores clássicos. Diante disso, os escritores parnasianismos buscavam o sentido da
vida ao escrever sobre temas da realidade, fatos históricos e assuntos
pertencentes à cultura clássica, por exemplo, a mitologia.

O parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na França, em meados


de 1850. Existiu na mesma época que o realismo e o naturalismo. Alguns estudiosos
consideram o movimento uma versão do realismo, só que de uma forma mais
poética.

O Parnasianismo no Brasil teve início com a publicação do escritor e


poeta Teófilo Dias, intitulada “Fanfarras”, em 1882. Existiu até a Semana de Arte
Moderna, no ano de 1922 e foi um dos movimentos literários mais importantes na
história da literatura brasileira. Seguiu a tendência do parnasianismo que surgiu
na França e fez total oposição ao romantismo.

13
PARNASIANISMO

O parnasianismo é um estilo E se essa poesia se recusa em É perceptível o afastamento


de época relacionado à falar dos problemas sociais do eu lírico, que não se
poesia realista produzida no da realidade, contrários ao mostra no texto e busca
século XIX. Portanto, que é belo, ela acaba se valorizar elementos
é antirromântico, pois é voltando para si mesma. antropocêntricos, comuns à
contrário ao sentimentalismo Desse modo, ela é composta Antiguidade. Assim,
e também a qualquer com rigor formal e as referências greco-
elemento de caráter político. objetividade. Além disso, latinas são recorrentes na
A alienação social na poesia recorre à meta linguagem em poesia parnasiana e também
parnasiana está associada alguns casos e possui caráter o uso do polissíndeto, ou seja,
à busca da beleza, tanto na descritivo. a repetição da conjunção “e”.
forma quanto no conteúdo do
poema.

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O QUE PROPÕE
A SEMANA DE 22?

15
SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

Uma vez que o intuito desses artistas era chocar o público e trazer à tona outras
maneiras de sentir, ver e fruir a arte, as características desse momento foram:

▪ Ausência de formalismo;
▪ Ruptura com academicismo e tradicionalismo;
▪ Crítica ao modelo parnasiano;
▪ Influência das vanguardas europeias (expressionismo, cubismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo);
▪ Valorização da identidade e cultura brasileira;
▪ Fusão de influências externas aos elementos brasileiros;
▪ Experimentações estéticas;
▪ Liberdade de expressão;
▪ Aproximação da linguagem oral, com utilização da linguagem coloquial e vulgar;
▪ Temáticas nacionalistas e cotidianas.

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Pierrete (1922) – Di Cavalcanti M. Maunier Et Sa Fille (1922) – A Boba (1915) – Anita Malfatti
Vicente Do Rego Monteiro

17
QUEM PARTICIPOU
DA SEMANA DE 22?

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SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

A Semana de Arte Moderna teve muitos envolvidos, como Anita Malfatti, Di


Cavalcanti, Ferrignac (Inácio da Costa Ferreira), Zina Aita, Mário de
Andrade, Martins Ribeiro, Oswaldo Goeldi, Regina Graz, Oswald de
Andrade, entre outros artistas e intelectuais majoritariamente paulistas. O
evento se tornou um dos marcos da cena cultural brasileira anos depois do
seu acontecimento.

Vale ressaltar, que os trabalhos expostos na Semana não tiveram uma


recepção positiva pelos intelectuais conservadores de São Paulo, pelo fato
de romperem com as tradições artísticas do período. Porém, essas reações,
bem como as notícias sobre a Semana, ocorreram majoritariamente em São
Paulo, não ocorrendo grande repercussão a nível nacional.

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SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

ALGUNS ARTISTAS QUE PARTICIPARAM DA SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922:

ARQUITETOS: Antonio Moya, Georg Przyrembel.

ESCRITORES: Afonso Schmidt, Agenor Barbosa, Álvaro Moreyra, Elysio de Carvalho,


Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Luiz Aranha, Mario de Andrade, Menotti del
Picchia, Oswald de Andrade, Ronald de Carvalho, Sérgio Millet, Tácito de Almeida.

ESCULTORES: Wilhelm Haarberg, Hildegardo Leão Velloso, Victor Brecheret.

MÚSICOS: Alfredo Gomes, Ernani Braga, Fructuoso Viana, Guiomar Novais, Heitor Villa-
Lobos, Lucília Guimarães, Paulina de Ambrósio.

PINTORES: Anita Malfatti, Antonio Paim Vieira, Emiliano Di Cavalcanti, Ferrignac, John
Graz, Vicente do Rego Monteiro, Yan de Almeida Prado, Zina Aita.

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SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

É famosa a fotografia que apresenta dezesseis homens bem vestidos e que foi denominada “Comissão
organizadora 22”. Pesquisas recentes mostram que essa foto foi feita em 1924 em um evento com parte dos
artistas. Talvez essa presença predominantemente masculina fosse uma verdade apenas para a literatura.

Comissão organizadora da Semana de 22. Da esquerda para direita de cima para baixo: o jornalista italiano Francesco Pettinati, Flamínio Ferreira,
René Thiollier, Couto de Barros, Manuel Bandeira, Smapio Vidal, Paulo Prado, Graça Aranha, Manoel Vilaboin, Goffredo Telles da Silva, Mário de
Andrade, Cândido Mota Filho. Sentados: Rubens Borba de Moraes, Luís Aranha, Tácito de Almeida, Oswald de Andrade. Fonte: A Semana de 22

21
QUAL CONTEXTO POR TRÁS
DA SEMANA DE 22?

22
OS SAPOS
Enfunando os papos, Manuel Bandeira (1918) Ou bem de estatuário.
Saem da penumbra, Tudo quanto é belo,
Aos pulos, os sapos. Tudo quanto é vário,
A luz os deslumbra. Vai por cinquenta anos Canta no martelo".

Em ronco que aterra,


Que lhes dei a norma:
Outros, sapos-pipas
Berra o sapo-boi: Reduzi sem danos (Um mal em si cabe),
- "Meu pai foi à guerra!" A fôrmas a forma. Falam pelas tripas,
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". - "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
Clame a saparia
O sapo-tanoeiro, Em críticas céticas: Longe dessa grita,
Parnasiano aguado, Não há mais poesia, Lá onde mais densa
Diz: - "Meu cancioneiro A noite infinita
É bem martelado.
Mas há artes poéticas..."
Veste a sombra imensa;

Vede como primo Urra o sapo-boi: Lá, fugido ao mundo,


Em comer os hiatos! - "Meu pai foi rei!"- "Foi!" Sem glória, sem fé,
Que arte! E nunca rimo - "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". No perau profundo
Os termos cognatos. E solitário, é
Brada em um assomo
O meu verso é bom Que soluças tu,
Frumento sem joio.
O sapo-tanoeiro:
Transido de frio,
Faço rimas com - A grande arte é como Sapo-cururu
Consoantes de apoio. Lavor de joalheiro. Da beira do rio...

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MANUEL BANDEIRA

O poema Os sapos é um clássico do escritor brasileiro Manuel


Bandeira criado em 1918 e publicado em 1919 no livro Carnaval.

Os versos fazem uma sátira ao movimento Parnasiano, que


precedeu o Modernismo, e foi declamado por Ronald de
Carvalho durante a Semana de Arte Moderna de 1922.

Os versos trabalham com a ironia e com a paródia a fim de


despertar o público leitor para a necessidade de ruptura e
transformação da poesia. Os versos de Manuel Bandeira são
metalinguísticos porque falam da própria poesia, ou melhor,
daquilo que a poesia não deveria ser. Os sapos refletem sobre o
que supostamente é a arte e o bom poema. O que o diálogo
imaginário entre os sapos produz é um exercício de reflexão sobre
as normas de composição dos versos.

24
ANITA MALFATTI

Anita Malfatti, pintora brasileira , desenhista e


professora, nasceu em 2 de dezembro de 1889, em
São Paulo. Aprendeu a pintar com a mãe. No
entanto, a artista estudou, em 1914, no Museu Real
de Artes e Ofícios, na Alemanha, e, em 1915 e
1916, na Arts Students League of New York e na
Independent School of Art, nos Estados Unidos. Sua
primeira exposição individual ocorreu em 1914, em
São Paulo, mas a de 1917 é a mais famosa, devido
à sua importância para o modernismo brasileiro.

25
EXPOSIÇÃO DE PINTURA MODERNA
DE ANITA MALFATTI (1917)

A Exposição de Pintura Moderna Anita Malfatti


realizada em 1917, no dia 20 de dezembro por
insistência dos amigos entre eles o pintor Di Cavalcanti,
após a artista retornar dos Estados Unidos, exibiu 53
trabalhos produzidos em 1915 e 1916, considerados
precursores do modernismo no Brasil, pois as obras
apresentam influências do cubismo e do expressionismo
entre pinturas, aquarelas e gravuras.

Esse evento tornou-se um marco do movimento modernista


no Brasil. Ele chocou muitas pessoas de mentalidade
provinciana que, de certa maneira, não estavam
preparados para compreender a inovação estética
expressa na arte dos modernistas, principalmente do
escritor Monteiro Lobato, que na época era crítico de
arte do jornal O Estado de São Paulo.

26
A Estudante Russa (1915) – A Mulher de Cabelos Verdes (1915) –
Anita Malfatti Anita Malfatti

27
A Ventania (1915) – Anita Malfatti O Barco (1915) – Anita Malfatti

28
O Farol de Monhegan (1915) – Anita Malfatti O Homem Amarelo (1915) –
Anita Malfatti

29
O Japonês (1915) – Anita Malfatti Tropical (1917) – Anita Malfatti

30
SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

Numa entrevista a uma revista cultural de São Paulo, feita em 1939, a


pintora Anita Malfatti narrou os antecedentes da sua polêmica exposição de
1917. O acontecimento revelou-se quase tragédia para ela, mas acredito
que pelo impacto que suscitou junto à público e críticos, tornou-se chave para
o que veio depois.

Ela mesma confessa que quando mostrou suas telas a umas colegas
"acharam-nas feias, dantescas e todas ficaram tristes ..., alguns
jornalistas pediram-me para ver os quadros tão mal feitos e todos
acharam que devia fazer uma exposição". Estava fortemente influenciada
pelo expressionismo alemão, com aquela inclinação pelo grotesco e pelo
caricatural. O comportamento do público era muito estranho, em geral a
reação da maioria era de espanto, de frustração, com aquela nova estética
importada da vanguarda europeia.

31
EXPOSIÇÃO DE PINTURA MODERNA
DE ANITA MALFATTI (1917)

Monteiro Lobato, depois de visitar a exposição, publicou no jornal “O Estado de São Paulo”
o artigo intitulado “Paranoia ou mistificação?”, no qual critica as obras da artista, e tão logo,
seu argumento foi rebatido por Oswald de Andrade.

“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem


normalmente as coisas (...). A outra espécie é formada
pelos que veem anormalmente a natureza e interpretam-na
à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de
escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da
cultura excessiva. (...) Embora eles se deem como novos,
precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a
arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranoia e a
mistificação. (...) Essas considerações são provocadas pela
exposição da sra. Malfatti onde se notam acentuadíssimas
tendências para uma atitude estética forçada no sentido
das extravagâncias de Picasso e companhia.”

32
EXPOSIÇÃO DE PINTURA MODERNA
DE ANITA MALFATTI (1917)

O artigo continua com Lobato afirmando que as


O escritor brasileiro, famoso por muitas vanguardas não possuíam “nenhuma lógica, sendo
obras, entre elas o Sítio do Picapau mistificação pura”, e que a pintora tinha
Amarelo, visitou a exposição de Anita e “acentuadíssimas tendências para uma atitude estética
não compreendeu o estilo artístico dela, forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e
comparando seus quadros aos desenhos companhia”.
“que ornam as paredes internas dos
manicômios” e ainda a uma "arte
anormal". Monteiro foi mais além, Mesmo que descreva Malfatti como dona de um “talento
dizendo que a diferença entre ambas as vigoroso”, o autor também declarou: “seduzida pelas
criações era que nos manicômios a “arte teorias do que ela chama de 'arte moderna' (...) põe
é sincera, produto ilógico de cérebros todo o seu talento a serviço da nova espécie de
transtornados pelas mais estranhas caricatura...". Acrescentando que o "futurismo, cubismo,
psicoses”. impressionismo e tutti quanti não passam de outros
tantos ramos da arte caricatural”.

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EXPOSIÇÃO DE PINTURA MODERNA
DE ANITA MALFATTI (1917)

O longo texto ganhou proporções gigantescas, fazendo com que cinco dos oito
compradores devolvessem obras para Anita e que a própria artista entrasse
em um período sombrio na sua vida, em que largou os pincéis por um ano.

“Com o correr das semanas, havia tal ódio geral que um amigo de casa
ameaçou meus quadros com a bengala, desejando destruí-los”,
disse Anita na década de 1950, conforme repercutiu a revista IstoÉ.

A crítica de Lobato aproximou Malfatti de outros pintores, aqueles que a


defenderam publicamente e que admiravam sua autenticidade, como Tarsila
do Amaral, Oswald de Andrade e Pedro Alexandrino Borges.

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