Cuidados Paliativos o Papel Do Psicólogo em Promover Qualidade de Vida Ao Paciente Editado

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Cuidados paliativos: o papel do psicólogo em promover qualidade de vida ao

paciente

Carollinne Silva Borges1


Grazielly Moreira dos Santos Silva2
Talyta Kleman Costa Silva Ribeiro3

Resumo
Os cuidados paliativos visam a melhoria da qualidade de vida do paciente, pacientes nos
quais já dispuseram de um diagnóstico de uma doença incurável, assim, propiciam valor e
um novo significado à vida. E, por isso, torna-se imprescindível compreender a seguinte
questão: qual a atual importância do papel do psicólogo nos cuidados paliativos em
promover a qualidade de vida do paciente? Como principal hipótese têm se: É
imprescindível o trabalho da psicologia, englobando a dimensão do sujeito em sua
totalidade, compreendendo os fatores biológicos, comportamentais e sociais. Diante
desse contexto, o objetivo geral dessa pesquisa consiste em compreender a importância
do papel do psicólogo nos cuidados paliativos em promover a qualidade de vida do
paciente, tendo como objetivos específicos: relatar a importância do trabalho
multidisciplinar, bem como, discorrer acerca da relação equipe, família e paciente e a
bioética e suas diretrizes. Para isso, foi utilizado o método de pesquisa bibliográfica para
compreender a temática exposta, onde chegou-se a conclusão que é imprescindível o
papel do psicólogo nos cuidados paliativos para promover a qualidade de vida do
paciente, pois ele auxilia de forma eficaz no acolhimento do paciente em estado terminal,
atendendo seus desejos e necessidades a fim de garantir sua dignidade nessa fase de
terminalidade fazendo jus aos princípios da bioética e as diretrizes, como também possui
suma importância para seus familiares, acolhendo, compreendendo e os auxiliando na
compreensão de todo o processo.

1 Coordenadora do curso de pós-graduação em Psicologia da Saúde Hospitalar e Psicooncologia pelo


Instituto Monte Pascoal. Email:[email protected]

2 Pós-Graduanda em Psicologia da Saúde Hospitalar e Psicooncologia pelo Instituto Monte Pascoal. Email:
[email protected]

3 Pós-Graduanda em Psicologia da Saúde Hospitalar e Psicooncologia pelo Instituto Monte Pascoal. Email:
[email protected]
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Palavras-chave: Cuidados paliativos. Bioética. Psicologia Hospitalar. Qualidade de vida.


Terminalidade.

Abstract
Palliative care aims at improving the patient's quality of life, patients who have already had
a diagnosis of an incurable disease, thus providing value and a new meaning to life. And,
therefore, it becomes essential to understand the following question: what is the current
importance of the psychologist's role in palliative care in promoting the patient's quality of
life? The main hypothesis is: The work of psychology is essential, encompassing the
dimension of the subject in its entirety, including biological, behavioral and social factors.
Given this context, the general objective of this research is to understand the importance
of the psychologist's role in palliative care in promoting the patient's quality of life, with the
following specific objectives: reporting the importance of multidisciplinary work, as well as
discussing the team relationship, family and patient and bioethics and its guidelines. For
this, the bibliographical research method was used to understand the exposed theme,
where it was concluded that the psychologist's role in palliative care is essential to promote
the patient's quality of life, as he helps effectively in the reception of the patient. patient in
a terminal state, meeting their wishes and needs in order to guarantee their dignity in this
terminal phase, living up to the principles of bioethics and the guidelines, as well as being
extremely important for their families, welcoming, understanding and helping them to
understand the whole process.

Keywords: Palliative care. Bioethics. Hospital Psychology. Quality of life. Terminality.

1 Introdução

O termo cuidado paliativo foi dito pela primeira vez na década de 1960 através de
um trabalho de uma enfermeira britânica chamada Dame Cicely Saunders que se dedicou
a cuidar de pacientes com câncer em estado terminal. Saunders fundou um hospital
centrado no paciente e no oferecimento de qualidade de vida e considerava os pacientes
como biopsicossocioespirituais.
A partir desse momento os cuidados paliativos começaram a se expandir para
outras áreas além do câncer, na década de 1980 a Organização Mundial da Saúde
considerou os cuidados paliativos como uma abordagem importante para os pacientes em
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estado terminal. Em 1990, os cuidados paliativos foram incluídos a doenças como:


insuficiência cardíaca, doença renal, pulmonar etc. Além de inúmeras pesquisas
começarem a ser realizadas. Nos anos 2000 até os dias atuais, os cuidados paliativos
vêm se aperfeiçoando cada vez mais com a utilização de diversas técnicas para melhorar
a qualidade de vida do paciente em estado terminal (Capelas et al., 2014).
Dessa maneira, os cuidados paliativos (CP) visam a melhoria da qualidade de vida
do paciente, pacientes nos quais já dispuseram de um diagnóstico de uma doença
incurável, assim, propiciam valor e um novo significado à vida.
A importância da atuação do psicólogo do contexto hospitalar começa a ser
percebida, e, assim, o profissional psicólogo começa a garantir seu espaço dentro dos
hospitais com o trabalho multiprofissional, tornando-se indispensável entre as equipes
profissionais, acolhendo emocionalmente os pacientes e familiares. No contexto dos
cuidados paliativos não seria diferente.
Frente ao exposto, compreender a importância do papel do psicólogo nos cuidados
paliativos em promover a qualidade de vida do paciente tornou-se o objetivo geral da
presente pesquisa, tendo como objetivos específicos: relatar a importância do trabalho
multidisciplinar, bem como, discorrer acerca da relação equipe, família e paciente e a
bioética e suas diretrizes.
Ao estabelecer os objetivos delimitados para essa pesquisa espera-se responder a
seguinte pergunta-problema: qual a atual importância do papel do psicólogo nos cuidados
paliativos em promover a qualidade de vida do paciente? Como principal hipótese têm se:
É imprescindível o trabalho da psicologia no contexto de promover o bem estar do
paciente passando a pensar a saúde como um conceito complexo, capaz de promover
melhorias na fase de terminalidade da vida, englobando a dimensão do sujeito em sua
totalidade, compreendendo os fatores biológicos, comportamentais e sociais levando em
consideração uma tripla dimensão de intervenção: os pacientes, seus familiares e os
profissionais de saúde, e, é relevante destacar a importância do trabalho multidisciplinar
nesse contexto. A integração da equipe de saúde é fundamental para que o atendimento
e o cuidado alcancem a amplitude do ser humano, considerando as diversas
necessidades do paciente, e, assim, transcendendo a noção de conceito de saúde,
mantendo como foco o doente e não a doença.
Para isso, a metodologia do trabalho utilizada foi uma pesquisa bibliográfica com
intuito de compreender a temática exposta e responder a questão problema levantada.
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Por meio da análise qualitativa dos principais artigos encontrados nas principais base de
dados, tais quais: Scielo, Pepsic e Google Acadêmico.
O trabalho foi dividido nos seguintes tópicos: 2. Cuidado Paliativo, 2.1. Bioética, 2.2
Diretrizes, 2.3 Terminalidade: qual papel do psicólogo nesse momento do cuidado
paliativo? 2.4 Abordagem da Psicologia no cuidado paliativo, 2.4.1 Com o paciente, 2.4.2
Com a família, 2.4.3 Com a equipe, 3. Considerações finais e Referências Bibliográficas.

2 Cuidado Paliativo

O cuidado paliativo auxilia o paciente viver tanto quanto possível e não pretende
nem adiar e nem postergar a morte, reafirmando a vida e aceitando a morte como um
evento natural, tendo como objetivo amenizar a dor e o sofrimento, sejam eles de origem
física, psicológica, social ou espiritual.

“Cuidado ativo e total para pacientes cuja doença não é responsiva a tratamento de cura. O controle
da dor, de outros sintomas e de problemas psicossociais e espirituais é primordial. O objetivo do
Cuidado Paliativo é proporcionar a melhor qualidade de vida possível para pacientes e familiares”
(OMS, 2002).

O envelhecimento progressivo aumenta a prevalência das doenças crônicas,


demências e ou câncer e assim, pacientes fora de possibilidades de cura acumulam nos
hospitais, recebendo invariavelmente assistência inadequada, quase sempre focada na
tentativa de recuperação utilizando métodos invasivos e de alta tecnologia.
O foco do cuidado paliativo não é a cura da doença e sim proporcionar o alívio da
dor e do sofrimento promovendo qualidade de vida, bem-estar e dignidade ao paciente
(Matsumoto, 2012).
O time de cuidados paliativos entende que uma doença grave atinge não só o
paciente, mas também aqueles que o amam. Por esse motivo, seu papel é cuidar de
todos. Daí a importância de ser uma equipe que inclua enfermeiros, fisioterapeutas,
psicólogos, terapeutas ocupacionais, capelães, assistentes sociais, entre outros
profissionais, para dar conta de uma extensa demanda de necessidades.

2.1 Bioética
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A Bioética se baseia no respeito à pessoa, e “pode ser entendida como uma


reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a adequação das ações que
envolvem a vida e o viver” (Wittmann-Vieira & Goldim, p. 335, 2012). Ela tem como
objetivo compreender as questões éticas relacionadas a vida e a saúde humana e aos
direitos do paciente, como a eutanásia, suicídio assistido. Também abrange acerca da
responsabilidade social e ambiental dos pacientes, sendo a bioética ampla e fundamental
na defesa dos direitos dos pacientes, na promoção da justiça e do acesso aos cuidados
de saúde, bem como no que tange as inferências éticas. Desse modo, é notório que a
bioética e os cuidados paliativos caminham juntos.
O surgimento da bioética se deu na década de 1970, com objetivo de refletir acerca
dos desafios éticos existentes com o desenvolvimento da tecnologia médica e das
ciências biológicas, tendo se desenvolvido em um âmbito de crescente preocupação com
questões de justiça e igualdade na saúde, assim como com a necessidade de defender os
direitos e a dignidade dos pacientes (Wittmann-Vieira & Goldim, 2012).
De Farias (2008) acerca do princípio da dignidade da pessoa humana:

O princípio da dignidade da pessoa humana refere-se às exigências básicas do ser humano no


sentido de que ao homem concreto sejam oferecidos os recursos de que dispõe a sociedade para a
mantença de uma existência digna, bem como propiciadas as condições indispensáveis para o
desenvolvimento de suas potencialidades. Assim, o princípio em causa protege várias dimensões
da realidade humana, seja material ou espiritual (p. 63).

No intuito de assegurar condições de vida digna ao indivíduo, o Estado coloca o


princípio da dignidade da pessoa humana como sendo um dos fundamentos da república,
vez que considera imprescindível que a pessoa possua condições para viver de forma
humanitária e plena, assegurando que o indivíduo não seja alvo de atos degradantes ou
desumanos, repudiando atos de violência, sejam eles físicos ou psicológicos (Oliveira et
al., 2013).
Conforme Borba et al., (2018) a bioética tem como seus principais fundamentos e
valores a autonomia, a beneficência, o pressuposto de não causar danos aos pacientes
(não maleficência), a beneficência no sentido de fazer o bem aos pacientes e o princípio
da justiça. A autonomia concerne a capacidade do paciente de tomar suas próprias
decisões sobre sua própria vida e saúde. Já a beneficência designa no dever de agir em
prol do paciente e de fazer o melhor para que ele tenha um bem-estar em geral. Em
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relação a não maleficência sugere-se ao dever de não causar prejuízos ao paciente. E a


justiça garantir os recursos de saúde que são direitos do próprio paciente.
Sendo assim, relação dos cuidados paliativos com a bioética é sempre perpetuada
de debates, a bioética é um campo dedicado a refletir sobre valores, princípios e dilemas
éticos, mesmo que ambos surjam em resposta a necessidade de proporcionar cuidados
mais humanizados e éticos para os pacientes terminais, os CP enfrentam dilemas éticos,
no que tange a decisão de moderar ou interromper algum tratamento curativo e optar por
paliativos, podendo ser difícil para alguns profissionais e familiares, que apesar dos
avanços no Brasil os cuidados paliativos ainda enfrentam desafios (Borba et al., 2018).
Nesse contexto, para superar os desafios ainda existentes no Brasil, a bioética é
uma ferramenta importante e aliada ao direito, propondo uma abordagem de tomada de
decisões que leva em conta os valores, princípios e crenças dos pacientes e suas
famílias. Além disso, a bioética também pode auxiliar a abordar outras pautas
relacionadas aos CP como a comunicação efetiva entre profissionais da saúde e
pacientes, eutanásia, suicídio assistido, dentre outros.

2.2 Diretrizes do cuidado paliativo

As diretrizes do cuidado paliativo são um conjunto de princípios e recomendações


que tem como objetivo orientar os profissionais durante seu trabalho nos cuidados
paliativos e no que tange a qualidade dos serviços prestados. Tais diretrizes foram
criadas com base nas melhores pesquisas científicas disponíveis, a fim de assegurar que
os pacientes e suas famílias tenham um atendimento humanizado, digno e com respeito
durante todas as fases do cuidado paliativo. Elas foram elaboradas pela OMS (2002) e
em 2014 foram atualizadas novamente, e trabalham o controle de sintomas e dor, a
comunicação e apoio psicossocial e os cuidados ao fim da vida.
O controle de sintomas e dor sempre foi uma das principais preocupações desde
quando se iniciou os cuidados paliativos, as diretrizes sugerem que os profissionais façam
avaliações e tratem de forma eficaz os sintomas físicos, psíquicos, sociais e espirituais
que estejam provocando dor nos pacientes. Assim, o profissional que atua no cuidado
paliativo deve estar preparado para identificar e propor o tratamento de tais sintomas. Em
relação a dor, é recomendado o uso de analgésicos de forma adequada.
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No âmbito da comunicação e apoio psicossocial as diretrizes apontam para a


comunicação ser elaborada de forma eficaz e o que os profissionais tenham uma relação
positiva e respeitosa com as famílias e seus pacientes, pois o apoio psicossocial é
fundamental, e a escuta e acolhimento devem ser feitos de forma adequada. Com isso,
devem estar preparados para comunicar informações de forma clara e concisa sobre o
estado do paciente, também discutir acerca dos anseios, medos e dúvidas, seja do
paciente ou do familiar.
Sobre os cuidados ao fim da vida, as diretrizes aconselham que os profissionais
estejam capacitados para fazer avaliações e discussões acerca dos desejos dos
pacientes em relação aos seus cuidados no seu final de vida, sempre respeitando suas
escolhas e opções. É importante sempre estar disponíveis para oferecer suporte aos
familiares, visto que essa é uma fase crítica dos cuidados paliativos, respeitando a
autonomia do paciente e sempre tomando decisões junto à família e a equipe
multidisciplinar.

2.3 Terminalidade: qual papel do psicólogo nesse momento do cuidado paliativo?

A principal abordagem da Psicologia no CP durante a terminalidade, de acordo


com Lucena (2019), é buscar constantemente o respeito a autonomia do paciente,
proporcionando o direito ao próprio paciente decidir quando e como se expressar com a
familia, sendo o psicologo um facilitador dessa comunicação, visto que, no momento da
terminalidade o paciente e seus familiares se encontram em sofrimento. É nesse
momento que o psicologo começa a trabalhar com o paciente sobre a ressignificação do
sentido da vida.
Lucena (2019) acrescenta sobre a atuação que o psicólogo pode abranger durante
esse momento de terminalidade:

Destarte, o investimento clínico é baseado em intervenções por psicólogos, pois essas podem gerar
efeitos salutares relacionados à adesão ao tratamento e tomada de decisão, favorecendo o bem-
estar mental e físico das pessoas em CPs. Cabe destacar que a atuação do psicólogo clínico pode
ir além da assistência no cenário hospitalar, uma vez que permite a participação no âmbito
comunitário ou domiciliar, de acordo com os objetivos do tratamento paliativista. A atuação dos
psicólogos no contexto de atenção primária visa à prevenção e ao tratamento de doenças agudas e
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crônicas, além da promoção de comportamentos saudáveis a fim de maximizar a qualidade de vida,


independentemente do prognóstico do paciente (p. 16).

Além disso, com os familiares, o psicólogo assume a postura de escuta ativa,


psicoeducação e é começado o trabalho com a espiritualidade. O contexto espiritual dos
familiares e do próprio paciente começa a ser compreendido, com objetivo de fortalecer o
acolhimento psicológico, ao ponto de alcançar a amplitude do conceito de morrer, visando
uma nova contextualização do processo de morrer, atribuindo novos significados em
busca de proporcionar conforto e amparo ao processo vivenciado (Lucena, 2019).

2.4 Abordagem da Psicologia no cuidado paliativo no contexto hospitalar

2.4.1 Com o paciente

O psicólogo atua com o paciente desde o diagnostico da doença incurável até o


momento de sua terminalidade, sendo um dos profissionais de suma importância para o
enfrentamento desse processo. O psicologo tem o papel de acolher e auxiliar na
ressignificação de seus sentimentos frente a sua nova realidade, buscando a
humanização do morrer e o enfrentamento da doença da melhor maneira possível.
De acordo com a autora:

O psicólogo pode contribuir para que os doentes e familiares falem sobre o problema, favorecendo a
elaboração de um processo que ajudará o paciente a enfrentar a doença, construindo experiências
de adoecimento, processo de morte e luto. Além disso, a partir de sua escuta qualificada, o
psicólogo permite que os sujeitos possam dizer e ressignificar seus sentimentos em face da morte,
reflexões que se tornam inevitáveis quando há proximidade do falecimento (Lucena, 2019, p. 19).

Ainda, conforme a autora, é de extrema importância que o psicólogo acolha e


esteja atento às condições globais relativa à saúde dos pacientes em fase terminal,
visando amenizar o sofrimento, a ansiedade e a tristeza. Sua atuação desempenha um
papel crucial ao facilitar o processo de cuidado, em conjunto com a equipe
multiprofissional nos Cuidados Paliativos, possibilitando oferecer qualidade de vida
durante a terminalidade, com objetivo de diminuir os sentimentos ruins que são causados
pela doença e proporcionar a melhoria do bem-estar do paciente, sendo este um papel
fundamental no contexto hospitalar.
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Mesmo sendo um contexto hospitalar, a abordagem do psicologo vai alem do


acolhimento, da escuta, da comunicação assertiva, o psicologo atua com o
redescobrimento do significado do viver, proporciona condições ao paciente para
vivenciar momentos que gerem um novo sentido que antes não foi possível, busca romper
um tabu acerca da morte, nascer a sabedoria, a reflexão, aceitação e humanização (Porto
& Lustosa, 2010).

2.4.2 Com a família

No contexto hospitalar o psicólogo começa a trabalhar com a família desde o início


do tratamento com o paciente em estado de terminalidade, assim como se iniciou com o
paciente, a família é indispensável para o tratamento do paciente. Pois é parte fundante
do indivíduo, em momentos de crise, como no caso de doenças terminais e cuidados
paliativos, os familiares são bastante atingidos emocionalmente, sendo necessário
suporte, acolhimento e assistência desde o diagnóstico até os momentos de terminalidade
(Espindola et al., 2018).
De acordo com Braga et al., (2021), a psicoeducação com o familiar é fundamental,
a fim de esclarecer o que de fato é o cuidado paliativo, pois muitos entes não
compreendem do que se trata os CPs e associam apenas com a morte e não com a
promoção de bem-estar e dignidade que são os reais fundamentos dos CPs, então se
iniciar com a psicoeducação torna-se essencial (após o acolhimento sob o diagnóstico),
Além disso, o psicologo no contexto hospitalar aprimorar sua comunicação
assertiva ao longo de todo o tratamento dos CPs é imprescindível, visto que será a
metodologia de intervenção (comunicação verbal) que será utilizada em todo o processo
de internação. Ainda, com uma pesquisa de campo realizada pelos autores, tornou-se
evidente que a falta de comunicação proporciona reações negativas aos familiares
durante o processo dos CPs, corroborando para a melhoria dessa abordagem por parte
dos psicólogos (Braga et al., 2021).
Como a abordagem do psicologo atua em todos os momentos dos CPs estar apto
e pronto para elaborar os sentimentos e angustias dos familiares é muito importante. Ao
longo desses períodos terão momentos que os familiares irão flutuar em sentimentos de
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desespero, esperança, culpa, e manter-se atualizado em relação a técnicas e conteúdos


teóricos torna-se fundamental (Braga et al., 2021).
Outro ponto que é bastante discutido no contexto hospitalar sobre a atuação do
psicólogo com as famílias é que nele trabalha-se o processo de luto, que é o último ciclo a
ser trabalhado dentro do CP hospitalar. Segundo Gesteira et al. (2006, como citado em
Muza et., al, 2013) vivenciar o processo paliativo pode ser muito difícil para a família, as
vezes é como vivenciar o luto antecipadamente, é uma reação esperada e comum em
situação de um vínculo a ser rompido, tendo sua função como psicólogo de proporcionar
o apoio psicológico para a família e ajudando-os a compreender e a aceitar o processo
vivenciado.
Elisabeth Kübler-Ross (1998), no sentido de sistematizar o processo de perda foi
uma pioneira, categorizando-o em estágios: negação e isolamento, raiva, barganha,
depressão e aceitação.
O luto pode desencadear sofrimento psíquico para os familiares e inclusive à
equipe de saúde, nessa perspectiva pode-se ter a psicologia como peça fundamental.
Diversas vezes a equipe de saúde se depara com o seu despreparo para lidar com a dor
e a angústia do outro, isso em diversas vezes por conta dos próprios conflitos que possui
na relação com a morte ou com a eminência desta (Bartilotti, 2007, como citado em Muza
et al, 2013). O psicólogo é o profissional que tem preparação para viabilizar a expressão
do luto.
Gesteira et. al (2006, como citado em Muza et. al, 2013) compreende que a
psicologia entende que para dissipar a dor psíquica de uma perda, é necessário que ela
seja dita, vivida, sentida, refletida e elaborada, mas nunca negada. Contudo, ainda há um
tempo para todo esse processo se consolidar e que não pode ser apressado pela família
e nem pela equipe de saúde. O tempo necessita ser usado para aprimorar a capacidade
do enlutado de elaborar o falecimento.
Segundo Carvalho e Meyer (2007, como citado em Muza et., al, 2013), um dos
papéis da psicologia diante das situações de luto é desafiar a mentalidade da morte como
tema interdito, visando identificar as vulnerabilidades e o alto risco, visto que, os pacientes
que se encontram em cuidados paliativos já estão com doenças incuráveis. Por isso,
trabalhar o processo de luto é uma atividade que deve ser feita pela equipe, onde é
preciso se considerar a morte como parte da vida. É papel da psicologia ajudar os
familiares a apropriar-se da situação vivenciada, de forma que, posteriormente, eles
consigam dialogar acerca do fato ocorrido, assimilá-lo e, após algum tempo, aceitá-lo.
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Conforme Gesteira et al. (2006, como citado em Muza et., al, 2013), os rituais
fúnebres auxiliam no processo de luto, pois a recuperação tem como objetivo a aceitação,
e o velório torna capaz às pessoas a despedida e que o enlutado vivencie o processo
como todo.

2.4.3 Com a equipe

O psicologo dentro da equipe multiprofissional é uma peça fundamental, visto que


a equipe é composta por diversos profissionais, mas, cada um ocupa sua área de atuação
em prol do desenvolvimento integral do paciente, e, o psicologo tem como função integrar
a equipe afim de proporcionar o bem-estar psicossocial e espiritual do paciente, do
familiar e dos integrantes da familia frente aos cuidados paliativos
Cada profissional possui sua função especifica na equipe, mas sem o auxílio de
todos o trabalho não consegue ser constituído de forma plena, cada profissional tem
extrema importância para o tratamento do indivíduo. O psicologo, dentro do contexto
hospitalar atua como mediador entre a familia e a equipe médica, informando boletins
médicos, orientando a família, de forma clara e manejando os sentimentos que são
causados acerca dessas notícias, sendo esse papel fundamental tanto para a equipe,
quanto para os familiares que recebem as notícias e já se encontram em estado de
angústia.
Conforme, Oliveira & Sommerman (2008, p. 124) sobre presença da família e o seu
acolhimento:

Podem garantir ao paciente a integridade da sua subjetividade, que muitas vezes fica diluída no
ambiente profissional e impessoal do hospital, auxiliando-o a fortalecer-se internamente, suportando
o afastamento do mundo externo e lidando com situações aversivas e difíceis, como procedimentos,
exames e cirurgias.

Além de auxiliar na comunicação entre os envolvidos no tratamento do paciente e


fortalecer os vínculos entre o paciente e os familiares, o psicologo hospitalar que atua nos
CP, compartilha seus conhecimentos e experiências para os membros da equipe
auxiliando os mesmos a como atuarem em diversas situações. Bem como, de acordo com
Fossi & Guareshi (2004, como citado em Saldanha et al., 2013) cada paciente traz um
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contexto diferente, traz uma demanda diferente, onde os profissionais precisam se


adequar a realidade dele e de sua família, e assim é o paciente que vai determinar como
vai acontecer o funcionamento da equipe multiprofissional, pois, o mais importante
sempre será o bem-estar do paciente que se encontra em cuidados paliativos.

3 Considerações Finais

A partir da realização desta pesquisa, conclui-se que é imprescindível o papel do


psicólogo nos cuidados paliativos para promover a qualidade de vida do paciente, pois ele
auxilia em todas as fases dos CP, desde o diagnóstico da doença e o processo de
compreensão daquela nova realidade, até o mesmo da sua terminalidade, atuando de
forma eficaz no acolhimento do paciente em estado terminal, atendendo seus desejos e
necessidades a fim de garantir sua dignidade nessa fase da vida fazendo jus aos
princípios da bioética e as diretrizes, como também possui suma importância para seus
familiares, acolhendo, compreendendo e os auxiliando na compreensão de todo o
processo.
E, cabe salientar a importância do trabalho multidisciplinar nesse contexto, sendo
fundamental para promover o cuidado integral do paciente e o mantendo como foco
durante a terminalidade. Sendo assim, os objetivos propostos foram alcançados e a
hipótese foi confirmada ao longo da pesquisa. Porém, é necessário ressaltar algumas
limitações durante o desenvolvimento dessa pesquisa, como a dificuldade na busca por
artigos de acesso gratuito na Internet e bases de dados utilizadas.
Vale ressaltar a importância da realização dessa pesquisa para a sociedade em
geral, e para a nossa formação, pois, a oportunidade em analisar pesquisas bibliográficas
acerca da temática estudada e compará-las com pesquisas de campo torna-se
fundamental para a compreensão de todo o contexto que abrange o tema desta presente
pesquisa, pois, a didática teórico-prático possibilita maior aprendizagem pessoal e
profissional para nós enquanto profissionais da área.
Por fim, sugere-se que novas pesquisas sejam feitas em relação ao tema,
aprofundando na importância de se criar novas estratégias de manejo para psicólogos
utilizarem nos cuidados paliativos, visto que, sua relevância é indiscutível e manter-se
atualizado é fundamental.
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