Urbanização Brasileira

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Urbanização brasileira

São Paulo é a cidade com maior concentração urbana do Brasil.

O processo de industrialização, propiciado pela Revolução Industrial iniciada


na Europa, foi o fator propulsor da urbanização no Brasil, que teve seu início no século
XX. A modernização do campo vivida no período da industrialização provocou um
expressivo êxodo rural. Vale ressaltar que, até por volta de 1950, a população
brasileira vivia, em sua maioria, nas zonas rurais.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve um grande


aumento da população urbana brasileira entre os anos de 1940 e 2010, observe a taxa
de urbanização nesse período:
Período Taxa de urbanização

1940 31,24

1950 36,16

1960 44,67

1970 55,92

1980 67,59

1991 75,59

2000 81,23

2007 83,48

2010 84,36

Assim, segundo o órgão, atualmente mais de 80% da população no país vivem nas
áreas urbanas. E desse total populacional, 28% concentra-se na região Sudeste, mais
especificamente em São Paulo (13%), Rio de Janeiro (10%) e Belo Horizonte (5%).
Sendo assim, é possível afirmar que o processo de urbanização ocorre de maneira
desigual no país.

A Região Sudeste é, portanto, a que mais concentra população, cerca de 92% dessa
vivem em áreas urbanas. E isso se deve aos inúmeros fatores atrativos, como a
presença de indústrias e a consequente oferta de emprego. A região Centro-
Oeste vem em segundo lugar, com cerca de 88,8% da população vivendo nas zonas
urbanas. A região Sul concentra, aproximadamente, 92% dos habitantes nas cidades.
As regiões Norte e Nordeste apresentam as menores taxas de urbanização, 73,53% e
73,13%, respectivamente.

Projeções da ONU apontam que, no ano de 2050, a população urbana brasileira pode
chegar a 93,6%, o que corresponde a, aproximadamente, 237 milhões de
habitantes vivendo nas cidades em todo o país.

Consequências
O processo de urbanização, além de ocorrer de forma desigual, não só no Brasil, mas
em diversas partes do mundo, dá-se de forma desordenada, apontando então a falta
de planejamento. Isso acarreta diversos problemas urbanos de ordem social e
ambiental. São alguns deles:

A favela Rocinha, localizada no Rio de Janeiro, é a maior favela do Brasil.

1. Favelização: A falta de planejamento e de políticas públicas faz com que muitas


pessoas (ao dirigirem-se às cidades e não encontrar locais para abrigarem-se)
ocupem áreas terrenas, muitas vezes em áreas de risco. A favelização é uma
consequência do inchaço urbano e da ocupação desordenada das cidades.
2. Excesso de lixo: Visivelmente, onde há maior concentração de pessoas, há
também maior produção de lixo. O aumento do número de habitantes nas
grandes cidades fez com que houvesse maior produção de lixo, que, por vezes,
é descartado de maneira incorreta, provocando outros problemas urbanos e
também problemas ambientais. Segundo o IBGE, no Brasil, cerca de 50% do
lixo gerado é depositado em locais incorretos, a céu aberto.
3. Poluição: A questão da poluição pode ter diversas naturezas. As grandes
cidades concentram, além de um elevado número de habitantes, também um
grande número de indústrias e automóveis, que, diariamente, emitem diversos
gases poluentes à atmosfera, causando poluição do ar. A poluição sonora e
visual também é um grande problema vivido nos centros urbanos,
comprometendo o bem-estar da população.
4. Violência: Processos como a marginalização da população por meio da
favelização ou da ocupação desordenada contribuem para o aumento da
violência. O inchaço das cidades associado à incapacidade de abrigar toda a
população, às condições insalubres de moradia e à falta de políticas públicas
que atendam essa parcela da população tem como consequência direta o
aumento da criminalidade.
5. Inundações: O processo de urbanização está atrelado a diversas questões,
como o aumento da produção de lixo associado à impermeabilização do solo. O
asfaltamento das cidades e o mau planejamento prejudicam o escoamento das
águas, provocando inundações.

A história da urbanização brasileira

A urbanização das cidades brasileiras se concentrou principalmente nas últimas décadas, mas o processo
teve início ainda no final do século XIX (Foto: Daniel Hunter/WRI Brasil)

Que imagens vêm à nossa cabeça quando pensamos nas grandes cidades do país e
na urbanização brasileira? Talvez de congestionamentos, poluição, falta de segurança,
ruídos. Talvez de pessoas indo e vindo. Pedestres. Bicicletas. Ônibus. Afinal, oito em
cada dez de nós, brasileiros e brasileiras, vivemos em áreas urbanas. Áreas essas
que passaram por uma urbanização acelerada: nas últimas seis décadas, passamos
de 70,2 milhões para 209,3 milhões, e a população urbana subiu de 44% para os
atuais 85%.
A ideia de que as cidades brasileiras não foram planejadas é falsa. As cidades foram,
sim, planejadas. O que vimos ao longo da história, porém, foi um crescimento da
população urbana que não foi acompanhado no mesmo ritmo por infraestruturas e
serviços capazes de atender a esse contingente. Ao mesmo tempo, o
desenvolvimento se deu em alguns momentos sem a devida prioridade ao que deve
ser o foco do planejamento urbano: o uso e a ocupação do território urbano de forma
eficiente e sustentável.
A maior parte das médias e grandes cidades concentrou seu crescimento entre as
décadas de 1950 e 1980, fazendo dos últimos 60 anos o grande período de
urbanização no Brasil. O processo, contudo, teve início muito tempo antes, ainda no
final do século XIX. Até o momento que vivemos hoje, o planejamento urbano no Brasil
percorreu uma trajetória variada: desde modelos de inspiração europeia, passando por
documentos extensos e tecnocratas, até planos que sequer apresentavam mapas da
cidade.
Conheça a seguir, conforme a divisão de Flávio Villaça*, as fases da urbanização
brasileira.

1ª fase | 1875 - 1930 | Planos de embelezamento

Planos baseados na tradição europeia, que tinham como objetivo o dito


“embelezamento” das cidades. Na prática, isso significava ruas mais largas e a
população e as habitações de baixa renda sendo empurradas para áreas distantes da
região central. Geralmente as intervenções ficavam restritas a áreas específicas da
cidade, como o centro.
A fase foi marcada pela chamada política de “higienismo” – acabar com os cortiços e
deixar a cidade mais “bela” com base em modelos europeus. No Rio de Janeiro, por
exemplo, a referência era a Paris de Haussmann, e o processo deu início ao
crescimento da cidade informal, com a ocupação dos morros pela população mais
pobre. Nessa época, ainda não havia uma denominação formal de “planejamento
urbano” ou estruturas formais com esse fim na administração pública – o período foi
marcado pela necessidade de rompimento com o passado colonial e a adesão ao
“moderno”.

2ª fase | 1930 - 1965 | Planos de conjunto

Os planos passam a olhar para a cidade de forma mais ampla, preocupando-se com
diretrizes válidas para todo o território e não apenas determinadas regiões. Entram
aqui os zoneamentos, a legislação sobre uso e ocupação do solo e a articulação dos
bairros com o centro a partir de sistemas de transporte.
É quando começa a se falar em “caos urbano”, crescimento desordenado e a
necessidade de planejar as cidades de forma mais consistente. Surgem iniciativas
como o Plano de Avenidas, de São Paulo, e o Plano Agache, no Rio de Janeiro, que
abordam diversos aspectos do ambiente urbano, como legislação urbanística,
habitação, ordenamento territorial.

3ª fase | 1965 - 1971 | Planos de desenvolvimento integrado

Nesta fase, os planos começam a incorporar outros aspectos além dos relacionados
ao território, como os econômicos e sociais. Tornaram-se documentos cada vez mais
densos e complexos, tocando em questões sociais distantes dos interesses da classe
dominante, o que passou a dificultar o processo de aprovação.
Nesse momento, entram em jogo as questões metropolitanas e o planejamento não
restrito somente aos limites de um município. O que acontecia, porém, é que muitas
vezes acabavam surgindo planos descolados da realidade, excessivamente técnicos e
longos.

4ª fase | 1971 - 1992 | Planos sem mapas

Como resposta à fase anterior, aqui os planos passam a abrir mão de diagnósticos
técnicos muito extensos e até mesmo dos mapas que ilustravam as medidas
propostas. Apresentam apenas diretrizes e objetivos gerais, ocultando conflitos de
interesses em relação ao espaço urbano. A busca por simplificar o conteúdo errou a
mão, e os planos acabaram reduzidos quase a cartas de intenções.

5ª fase | 1992 – 1988/2001 | Constituição de 1988 e Estatuto da Cidade

Com a democratização do país, o processo de planejamento urbano deixa de ser


tratado como “neutro” e passa a ser visto como um processo político e de participação
social. A Constituição de 1988 reconhece os planos diretores como principal
instrumento de implementação da política de desenvolvimento e expansão urbana
municipal. E o Estatuto da Cidade, instituído em 2001, estabelece o “direito à cidade
sustentável”, elencando princípios e diretrizes que devem ser adotados nos planos
diretores, obrigatórios para cidades com mais de 20 mil habitantes.
As novas legislações estabelecem uma nova fase na história do planejamento urbano
brasileiro, com o objetivo de construir territórios que promovam ao mesmo tempo
justiça social, desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente. Mas
ainda há chão pela frente – e as cidades podem e devem se valer de seus planos
diretores para construírem um ambiente urbano eficiente, inclusivo e sustentável.

E hoje?

Atualmente, temos 18 anos de planos diretores, e muitos estão entrando agora em


processo de revisão. Estaríamos, com isso, iniciando uma sexta fase na história do
planejamento urbano no Brasil? É possível.
A elaboração, a implementação e a efetividade dos planos sempre estarão sujeitas à
conjuntura de cada momento, ao contexto e às disputas políticas, aos atores e
interesses envolvidos, à situação econômica e ao nível de envolvimento da sociedade
nas discussões. De qualquer forma, as cidades têm nesses instrumentos uma
ferramenta para promover a transformação de que precisam.
A revisão dos planos diretores e o avanço das discussões sobre sustentabilidade
urbana nos colocam em um novo momento. O direto à cidade sustentável estabelecido
pelo Estatuto da Cidade pode ser garantido por planos diretores que incorporem
medidas que levem a esse resultado – como é o caso dos princípios do
Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS). Nesse sentido, o WRI
Brasil trabalha apoiando cidades na revisão de seus planos, para que sejam
instrumentos de planejamento inovadores, ousados e que darão origem a projetos
urbanos integrados, com alto potencial de transformação e melhora na qualidade de
vida.

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