Ciência: & Saúde Coletiva
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TEMAS LIVRES
Social health organizations: an analysis of the specialties
and exams contracted by the State of São Paulo, Brazil
Abstract Social Health Organizations (SHOs) Resumo As organizações sociais de saúde (OSS)
are private entities that receive resources from são entidades privadas que recebem repasses de
governments for the management of public he- governos para gestão de serviços públicos de saú-
althcare services. With the history of market de. Com o histórico de interesses mercadológicos
interest in public health and the high volume of na saúde pública e o aporte de vultosos recursos
resources transferred to SHOs, one must ques- às OSS, questiona-se se a lógica de mercado per-
tion if the market logic continues to be inserted manece inserida nesse modelo de gestão. Conhe-
in this management model. The understanding cer a dinâmica da oferta de serviços à população
of the dynamics of providing healthcare services ao longo das contratações pode ajudar a compre-
to the population in the different contracts may ender como se comportam as possíveis altera-
help to understand how possible changes in the ções nos serviços contratados. Trata-se de estudo
contracted services may have an influence. This descritivo-exploratório com abordagens quanti
is a descriptive-exploratory study using quanti- e qualitativa. Realizou-se pesquisa documental
tative and qualitative approaches. Documental com coleta de dados dos contratos de gestão e ter-
research was conducted through the collection of mos aditivos. A escolha pelo estado de São Paulo
data from management contracts and amend- se deu por este ter sido pioneiro na implantação
ments. The State of São Paulo was chosen be- da gestão de serviços do SUS por OSS e pela sua
1
Programa de Pós-
cause of its economic representativeness and for representatividade econômica. Especialidades
Graduação em Saúde being the pioneer state in the implementation of médicas foram incluídas em 184 repactuações
Coletiva, Universidade SUS services managed by SHO. Medical special- (6,14%) e excluídas em 187 (6,24%), enquanto as
Federal do Espírito Santo.
Av. Marechal Campos
ties were included in 184 renegotiations (6.14%) não médicas foram incluídas em 26 repactuações
1468, Bonfim. 29047-105 and excluded in 187 (6.24%), whereas non-me- (2,97%) e excluídas em 144 (16,44%). Quanto
Vitória ES Brasil. dical services were included in 26 renegotiations aos exames, 101 repactuações (18,07%) aumen-
[email protected]
2
Departamento de Serviço
(2.97%) and excluded in 144 (16.44%). Regar- taram metas e 60 (10,73%) reduziram, enquanto
Social, Universidade Federal ding examinations, 101 renegotiations (18.07%) 6 repactuações (1,07%) incluíram exames e 12
do Espírito Santo. Vitória had their goals increased and 60 (10.73%) re- (2,14%) excluíram.
ES Brasil.
3
Departamento de
duced, while 6 renegotiations (1.07%) included Palavras-chave Organização social, Sistema
Promoção da Saúde, Centro exams and 12 (2.14%) excluded them. Único de Saúde, Gestão de serviços de saúde
de Ciências Médicas, Key words Social organization, Unified Health
Universidade Federal da
Paraíba (UFPB). João Pessoa
System, Management of health services
PB Brasil.
Cien Saude Colet 2024; 29:e00382023
2
Bigossi G et al.
Fonte: Autores.
Tabela 1. Total de repactuações possíveis de terem alterações, por categoria de TA, e percentual de inclusões e
exclusões de especialidades médicas e não médicas contratadas em 73 estabelecimentos de saúde do estado de
São Paulo (2013 a 2017).
Total de repactuações possíveis
Categorias de TA
Especialidades médicas Especialidades não médicas
Repactuação exercício subsequente 2770 818
Ampliação/inclusão de serviços 0 0
Supressão/exclusão de serviços 19 6
Readequação/ajuste de metas 207 52
Total de repactuações possíveis (%) 2.996 (100%) 876 (100%)
Total de inclusões (%) 184 (6,14%) 26 (2,97%)
Total de exclusões (%) 187 (6,24%) 144 (16,44%)
Fonte: Autores.
Quadro 2. Ranking das especialidades médicas e não médicas mais incluídas e excluídas em 73 estabelecimentos
de saúde do estado de São Paulo (2013 a 2017).
Total de Total de
Especialidades mais incluídas Especialidades mais excluídas
inclusões exclusões
1ª Anestesiologia 26 1ª Cirurgia geral 14
2ª Nefrologia 20 2ª Obstetrícia 13
3ª Endocrinologia infantil 18 3ª Cirurgia vascular 12
3ª Pneumologia infantil 3ª Endoscopia digestiva
3ª Proctologia
Especialidades
4ª Ginecologia 8 4ª Reumatologia 11
médicas
4ª Infectologia
4ª Proctologia
4ª Urologia
5ª Gastroenterologia 7 5ª Cirurgia torácica 10
5ª Oftalmologia
1ª Farmácia 12 1ª Serviço social 42
2ª Nutrição 6 2ª Psicologia 18
3ª Fonoaudiologia 4 3ª Nutrição 15
Especialidades
3ª Terapia ocupacional 3ª Fisioterapia
não médicas 1
4ª Farmácia 14
4ª Fonoaudiologia
5ª Terapia ocupacional 11
1
Apenas três de um total de nove especialidades não médicas foram incluídas.
Fonte: Autores.
Quadro 3. Ranking dos exames diagnósticos mais e menos contratados e com maior ampliação e redução da oferta
em 75 estabelecimentos de saúde do estado de São Paulo (2013 a 2017).
Exames mais Total de Total de
Exames menos contratados
contratados estabelecimentos estabelecimentos
1º Mamografia
1º Ultrassonografia 68 1º Densiometria óssea 1
1º Anatomia patológica/citopatológica
2º Endoscopia 61 2º Diagnóstico laboratorial clínico 2
3º Métodos diagnósticos
60 3º Medic. nuclear in vivo 4
em especialidades
1º Métodos diagnósticos
1º Ultrassonografia 35 26
em especialidades
2º Radiologia
2º Endoscopia 25 14
2º Ultrassonografia
3º Métodos diagnósticos
24 3º Endoscopia 10
em especialidades
Fonte: Autores.
uma vez que o remanejamento de especialidades onde são retiradas e colocadas de acordo com a
ocorre de forma indiscriminada, como se ora fos- conveniência do poder público e das OSS.
sem necessárias para a saúde da população, ora No que se refere às especialidades não mé-
não, parecendo estar em um jogo mercadológico dicas, o fato do total de tipos de especialidades
7
nos municípios paulistas e na SES/SP em 2017, médica e tecnológica centrada nos interesses em-
apontam fragilidades na operacionalização da presariais16 (p. 168).
gestão e execução das atividades e serviços de Mesmo que o estado de São Paulo possa ter
saúde por meio desses documentos. Recomen- mecanismos de controle de resultados e quali-
dam a necessidade de verificação, pelo estado e dade previstos nos CG, as OSS absorvem cada
municípios, de alguns pontos que funcionarão vez mais recursos com contrapartida insuficiente
como “verdadeira matéria prejudicial à análise da na oferta de serviços à população, já que não se
idoneidade e regularidade do ajuste, bem como pode contar que serviços que são normalmente
da sua execução contratual”13 (p. 175). ofertados permaneçam sendo disponibilizados
As OSS, juntamente a entidades privadas atu- nos estabelecimentos de saúde. Chamou atenção
antes no mercado da saúde, têm construído uma a grande quantidade de exclusões de especialida-
agenda, pautando regras ao SUS e se propondo des não médicas, em especial o serviço social, a
como solução para os problemas enfrentados pela psicologia e a nutrição, que juntos foram exclu-
sociedade no acesso a serviços públicos de quali- ídos em 75 repactuações, demonstrando falta de
dade, sem, no entanto, apontarem dados que com- compromisso tanto do poder público quanto das
provem sua maior eficiência e qualidade. Também OSS, pois são serviços essenciais na qualidade da
o fato de as informações referentes ao que ocorre assistência integral prestada à população, consi-
com os serviços de saúde ofertados ao longo das derando a saúde como “um estado de completo
contratualizações estarem dispersas nos docu- bem-estar físico, mental e social, e não apenas
mentos contratuais, necessitando uma análise a ausência de doença ou enfermidade”, conceito
aprofundada para compreensão dessa dinâmica, dado pela Organização Mundial da Saúde. Sobre
aponta para a dificuldade no controle social. esse aspecto, ressalta-se a mudança do paradig-
Os argumentos a favor da gestão por OS não ma de saúde em curso desde a década de 1960:
se constituem unânimes, mas questionáveis e ques- [...] a frustração com os resultados da biome-
tionados. O primeiro seria o fato de que as contra- dicina, crescentemente caudatária do complexo
tações e processos envolvendo as OS desprezam os médico industrial, e responsável ela própria por
princípios constitucionais da impessoalidade, da provocar riscos e danos, fez com que surgisse [...]
legalidade (Lei nº 8.666/1993), da regra do concur- em várias partes do mundo ocidental, um pensa-
so público. Além disso, conceitos como autonomia mento crítico ao modelo e voltado para revalorizar
e controle social não são praticados naturalmente as dimensões sociais e culturais determinantes do
em um contexto em que as decisões não se mos- processo saúde-enfermidade, ultrapassando o foco
tram participativas ou discutidas, mas tomadas de exclusivo de combater a doença somente depois de
forma arbitrária pelos governos14 (p. 44). instalada17 (p. 131).
Observa-se na gestão por OSS dos serviços No entanto, as OSS parecem não levar em
públicos de saúde do Brasil clara atuação mer- conta esse novo paradigma, uma vez que ex-
cadológica na execução de serviços essenciais cluem serviços diretamente relacionados a fato-
prestados pelo SUS. Sestelo15 (p. 148-149) situa as res determinantes e condicionantes da saúde17,
OSS como modelos de empresas do terceiro se- como serviço social e psicologia. Sob o argumen-
tor e define o termo empresariamento como “um to não comprovado de maior eficácia e eficiência,
neologismo que se refere à transformação em ati- bem como de maior competência na utilização
vidade empresarial de processos econômicos que dos recursos públicos, as OSS gozam ainda de
anteriormente transcorriam sob outras formas grande flexibilidade na compra de equipamentos,
de organização institucional”. Braga16 concorda materiais e insumos, assim como na contratação
com a ideia ao dizer que de profissionais, o que pode agilizar os processos
[...] as forças políticas empresariais atuantes administrativos na gestão de um serviço de saúde
na área da saúde, valendo-se da cultura de crise, mas também pode fragilizar regras da adminis-
abriram caminho para um pacto de colaboração tração pública e os princípios constitucionais da
com as forças sociais em defesa dos valores, ideias e impessoalidade e da legalidade e a obrigatorieda-
práticas instituídos pelo movimento sanitário. Esse de do concurso público.
processo, em última análise, promove o enfraque- A autonomia das OSS na utilização de re-
cimento das lutas pelo SUS como sistema público cursos públicos precisa ser questionada e moni-
de saúde universal e regulado pelo controle social, torada com mais rigor. É necessário ampliar em
bem como do ideário mais amplo da proposta de quantidade e qualidade os estudos sobre gestão
Reforma Sanitária, de democratização da saúde dos serviços públicos de saúde por essas entida-
pela intersetorialidade e pela mudança da cultura des, tendo em vista as evidências apontadas.
9
Colaboradores
Referências
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Federal; altera a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de
1990; revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005, e
dispositivos da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e
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