9 - Inteligência Social
9 - Inteligência Social
9 - Inteligência Social
RESUMO
Interagir com as pessoas de maneira positiva não é uma tarefa fácil. Há todo o momento
e por diferentes razões, conflitos surgem e provocam rupturas entre as pessoas, muitas
delas difíceis de solucionar. Para melhor interação entre os indivíduos é fundamental o
desenvolvimento da inteligência social que resulta na interação inteligente, na
autoconfiança e no desenvolvimento de habilidades sociais importantes. O presente artigo
tem como objetivo apresentar o conceito de inteligência social, suas características e os
resultados positivos da sua aplicação.
1
PhD, neurocientista, mestre psicanalista, biólogo, historiador, antropólogo, com formações também em
neuropsicologia, psicologia, neurolinguística, neuroplasticidade, inteligência artificial, neurociência
aplicada à aprendizagem, filosofia, jornalismo e formação profissional em nutrição clínica - Diretor do
Centro de Pesquisas e Análises Heráclito; Chefe do Departamento de Ciências da Logos University;
Membro da Federação Europeia de Neurociências e da Sociedade Brasileira e Portuguesa de Neurociências.
Universidades em destaque: Logos University, Nova de Lisboa, Faveni, edX Harvard, Universidad de
Madrid. E-mail: [email protected]
Social intelligence
ABSTRACT
Interacting with people in a positive way is not an easy task. Conflicts arise all the time
and for different reasons, and cause disruptions between people, many of which are
difficult to resolve. For a better interaction between individuals it is fundamental to
develop social intelligence that results in intelligent interaction, self-confidence, and the
development of important social skills. This article aims to present the concept of social
intelligence, its characteristics, and the positive results of its application.
1. INTRODUÇÃO
O conceito da inteligência e sua formação e desenvolvimento foram estudados pelo
psicólogo inglês Charles Spearman que cunhou o termo Inteligência Geral para designar
habilidades gerais, relacionadas a áreas específicas do cérebro, e ao desenvolvê-las é
possível aprimorar habilidades específicas (Rodrigues, 2021).
Tais habilidades gerais estão alicerçadas em duas inteligências especificas. Uma é a
inteligência fluída, ela está associada a memória, raciocínio, adaptação, resolução de
problemas e atenção e se correlaciona com a área da superfície cortical no parietal
superior esquerdo e direito, e temporal inferior esquerdo, inferior direito e temporal
médio.
Já a inteligência cristalizada está relacionada com a competência comunicativa e a
utilização de experiência passada para resolver problemas e ela está correlacionada com
a espessura cortical no centro frontal esquerdo caudal, para-opercular esquerdo, centro
frontal esquerdo rostral, parietal superior esquerdo (Tadayon, 2020)
Portanto, a inteligência social é a capacidade do indivíduo de utilizar as funções
cognitivas relacionadas a inteligência no mundo externo e se relacionar com os outros e
com os ambientes de maneira inteligente desenvolvendo a inteligência interpessoal, o
controle emocional, a comunicação verbal e o reconhecimento da comunicação não
verbal, habilidade de observação mais apurada (Kihlstrom e Cantor, 2000).
2. INTELIGÊNCIA SOCIAL
A inteligência é vista por muitos estudiosos como um aspecto evolucionário na espécie
humana, desde nossas origens o homem vêm recebendo estímulos do ambiente que
provocam mudanças físicas e comportamentais que são passadas de uma geração para
outras tanto pela via cultural quanto pela hereditariedade através das informações do
nosso DNA.
Ela pode ser definida de maneira geral a capacidade que o indivíduo possui de resolver
problemas se utilizando tanto de experiências passadas e encontrando padrões similares
entre elas, quanto por adaptação, encontrado vias diferentes para resolver algo de maneira
diferente de como era anteriormente resolvida.
A origem dessas capacidades como a memória, o raciocínio lógico, a capacidade para
comunicação verbal e o reconhecimento de símbolos que culminou no aprendizado da
leitura, está localizada no córtex cerebral que durante a evolução humana passou por
e fazer perguntas para uma pessoa com a intenção sincera de entender os seus sentimentos
e pensamentos demonstra um comportamento empático, assim como conhecer as próprias
fraquezas e limites, permite o auto-reconhecimento.
Portanto, é possível perceber que pessoas com a inteligência social desenvolvida não são,
necessariamente, pessoas com o QI alto, apesar de muitas características de personalidade
serem similares, mas pessoas que aprenderam com a interação com os outros a ter
comportamentos empáticos e flexíveis. Para o melhor desenvolvimento de competências
é necessária a total integração das inteligências social, emocional e cognitiva (Emmerling
e Boyatzis, 2012).
De acordo com a Teoria da Inteligência DWRI, muitas pessoas de alto QI não possuem a
capacidade para desenvolver bons relacionamentos com os outros, sejam com pessoas
com QI alto e sejam com pessoas com o QI mais baixo. Inteligência social não é
conseqüência exclusiva de um alto QI. Isso é resultado da incapacidade que elas possuem
de controlar as suas emoções em situações de estresse, o que acaba culminando em
conflitos relacionais, ansiedade e insegurança (Rodrigues, 2021).
Por esta razão, a inteligência social é fundamental para a formação de bons líderes. De
acordo com Daniel Goleman (2008), as pessoas que possuem essa inteligência são
capazes de se tornar líderes em seus ambientes de trabalho, familiar ou em alguma
atividade em grupo, possuindo grande empatia e conhecimentos tanto próprio quanto dos
estados mentais e emocionais dos outros. Estudos mostram que quando pessoas interagem
com as outras, essa interação estimula a bioquímica do cérebro. Essa capacidade de
liderança está menos relacionada com a quantidade de conhecimento ou o cargo de
autoridade que a pessoa ocupa, mas sim na habilidade que esse líder tem de mostrar
interesse genuíno para com as pessoas e fomentar nelas sentimentos positivos, mostrando
que elas são necessárias e importantes. É a capacidade de inspirar outras pessoas.
Os melhores líderes têm a capacidade para reconhecer padrões de comportamento,
padrões emocionais, de fazer críticas positivas sem prejudicar relacionamentos, antecipar
as reações dos outros e antecipar e resolver situações de crise. Todas essas habilidades
sociais podem ser aprendidas com as interações sociais, com a presença de um bom
mentor e com a própria vontade de se conhecer e melhorar o próprio comportamento.
Seus estudos mostram que a inteligência social não é apenas uma questão da
personalidade, mas uma questão das neurociências. O cérebro está envolvido nessa
atividade.
Um dos fenômenos para que essa ligação entre líderes e seus seguidores aconteça é o
fenômeno dos neurônios espelho. Os neurônios espelhos são responsáveis pelo processo
de imitação, de mudanças faciais por ações quando estão olhando as ações de outros
indivíduos e que essas ações sejam significativas para quem esteja olhando. Quando o
cérebro de uma pessoa detecta as ações e emoções de outras, elas se ligam e
“compartilham” a experiência (Ferreira et al, 2017).
Outro exemplo é o papel importante que o encorajamento exerce nas relações sociais. O
encorajamento dos alunos dado por seus professores permite uma instrução mais efetiva
em sala de aula, os alunos se sentem motivados e apoiados o que permite uma conexão
maior entre eles e seus professores (Arghode, 2013).
A inteligência social é a base para a competência pedagógica e é vista como a capacidade
fundamental para o sucesso do educador no seu trabalho. Educadores com essa
inteligência possuem melhor competência comunicativa, adaptativa e nas suas relações
interpessoais (Yermentaeyeva et al, 2014).
A inteligência social permite a prática da uma habilidade importante muitas vezes
esquecida no nosso tempo: a humildade para aprender uns com os outros. Ser inteligente
é saber que não sabe de tudo e que o outro pode ensinar. Aprendizagem é uma ação ativa,
uma escolha consciente. Essa ação é benéfica para as relações humanas pois, desenvolve
a confiança entre os membros de um sistema específico seja um grupo familiar,
institucional ou praticante de uma atividade específica, uma comunidade, uma sociedade,
onde todos têm a capacidade de mostrar o seu potencial e se sentirem valorizados (Reed
et al, 2010).
Esse aprendizado pode ocorrer em um nível superficial ou envolve uma mudança
conceptual e comportamental profundas. Atualmente, as interações sociais não estão mais
delimitadas ao espaço físico. O advento da internet permitiu a formação de networks,
redes de contato em que os participantes se ajudam, colaboram para alcançar algum
objetivo em comum, aprendem uns com os outros, trocam de informações e compartilham
seus conhecimentos (Becker et al, 2017).
Os resultados da aprendizagem são múltiplos. Quanto mais se aprende mais autoconfiante
é a pessoas e menos ansiosa ela se torna. Ela não vê mais o outro como um concorrente e
entende de maneira resolvida as próprias limitações aceitando que não sabe de tudo e que
o outro pode ensinar.
A aprendizagem não é apenas capaz de modificar o indivíduo de maneira emocional e
comportamental, mas também neurológica. A neuroplasticidade é a capacidade do
cérebro de se reorganizar, mudar as suas funções e ligações em resposta a estímulos
internos e externos, essa transformação ocorre desde células até comportamentos como
consequência. Quanto mais se aprende mais o cérebro muda (Cramer et al, 2011).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inteligência social é a forma como o indivíduo se comporta em uma sociedade e a sua
interação com as demais pessoas. Para o seu desenvolvimento é importante o auto-
reconhecimento, ou seja, conhecer suas próprias capacidades, suas competências e seus
limites. Buscar acreditar em si mesmo, com base na capacidade proveniente do
conhecimento, sem medo de se posicionar, falar, interagir com os outros atingindo a
plenitude sem se preocupar com o que os outros pensam, a não ser que o pensamento
crítico interfira na razão para o aperfeiçoamento intelectual.
É natural do ser humano a disputa e a competição, porém, os indivíduos que desenvolvem
a inteligência social se sentem confiantes e satisfeitos consigo mesmo, não entrando em
disputas, que é proveniente do instinto pela sobrevivência herdada pela evolução. São
capazes de confiar mais nas pessoas, praticam a humildade, aprendem com o outro e se
aprimoram. Esse aprendizado permite a ativação dos neurotransmissores da recompensa
e que promovem a plenitude, impedindo a ansiedade, a insegurança e emoções que
promovam memórias negativas.
Quanto mais o indivíduo interage e aprende com os outros, mais as funções cognitivas se
desenvolvem com a plasticidade neuronal. Assim, essa ampliação da inteligência permite
que o indivíduo entenda melhor os desejos, as emoções e o limite do outro, percebe
melhor as nuances a sua volta e se adapta tomando as melhores decisões com a ajuda do
raciocínio lógico.
4. REFERÊNCIAS
Abas, N. A. H., Surdick, R., Otto, K., Wood, S., & Budd, D. (2010). Emotional
intelligence and conflict management styles (Doctoral dissertation, University of
Wisconsin-Stout).