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de entrada com um documento encontrado na internet (para "Busca em arquivos da internet") ou do
arquivo de entrada com outro arquivo em seu computador (para "Pesquisa em arquivos locais"). A
quantidade de termos comuns representa um fator utilizado no cálculo de Similaridade dos arquivos sendo
comparados. Quanto maior a quantidade de termos comuns, maior a similaridade entre os arquivos. É
importante destacar que o limite de 3% representa uma estatística de semelhança e não um "índice de
plágio". Por exemplo, documentos que citam de forma direta (transcrição) outros documentos, podem ter
uma similaridade maior do que 3% e ainda assim não podem ser caracterizados como plágio. Há sempre a
necessidade do avaliador fazer uma análise para decidir se as semelhanças encontradas caracterizam ou
não o problema de plágio ou mesmo de erro de formatação ou adequação às normas de referências
bibliográficas. Para cada par de arquivos, apresenta-se uma comparação dos termos semelhantes, os
quais aparecem em vermelho.
Veja também:
Analisando o resultado do CopySpider
Qual o percentual aceitável para ser considerado plágio?

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INTERNATIONAL CRIMINAL 272 8,91
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ocID=595406&pgI=121&pgF=125
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PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA E SUA FORÇA


NORMATIVA NO BRASIL

Wallace Calmon Rozetti


Mestrando em estudo Jurídico pela Must University Florida ?USA
([email protected])

Resumo:

Vemos que cada vez mais a utilização Pacto de San Jose da Costa Rica ? a Convenção
Americana de Direitos Humanos, nas cortes brasileiras, em especial o Supremo Tribunal
Federa. Vemos as disposições dos art. 5º, § 2º e § 3º da Constituição Federal, principalmente
no tocante à consignação de tratados de direito internacional e a sua aplicação no ordenamento
pátrio, é importante a consolidação dos conceitos basilares da temática. Neste sentido, partindo
do método dedutivo, o presente trabalho busca elucidar a natureza normativa do Pacto de San
Jose da Costa Rica ? a Convenção Americana de Direitos Humanos ? frente ao ordenamento
jurídico brasileiro, de modo a destacar sua força cogente em meio às leis domésticas.

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Palavras-chave: Convenção internacional. Justiça. Segurança Jurídica. Verdade. Supremo


Tribunal Federal.

Abstract

We see that Costa Rica's San Jose Pact ? the American Convention on Human Rights ? is
increasingly being used in Brazilian courts, especially the Federal Supreme Court. We see the
provisions of art. 5th, § 2nd and § 3rd of the Federal Constitution, mainly regarding the
consignment of international law treaties and their application in the national order, it is
important to consolidate the basic concepts of the subject. In this sense, starting from the
deductive method, the present work seeks to elucidate the normative nature of the Pact of San
2

Jose in Costa Rica ? the American Convention on Human Rights ? in relation to the Brazilian
legal system, in order to highlight its cogent force in the midst of domestic laws. .

Keywords: International convention. Justice. Legal Security. True. Federal Court


of Justice.

1 Introdução

O analise deste trabalho tem por propósito identificar a posição hierárquica ocupada
pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos) no
ordenamento jurídico brasileiro.

Veremos no desenvolvimento do presente estudo, as duas principais correntes adotadas


pelo Supremo Tribunal Federal, que tratam sobre a hierarquia dos tratados internacionais sobre
Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro. A primeira delas, embora minoritária,
concede ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter constitucional. A segunda, por sua vez,
atribui um caráter supralegal, isto é, abaixo da Constituição, mas acima das normas
infraconstitucionais.

Utilizamos a metodologia descritiva-analítica e partiu do método dedutivo para realizar


a abordagem das categorias consideradas fundamentais para o desenvolvimento do tema.

Os procedimentos técnicos adotados na pesquisa foram as pesquisas bibliográfica e


documental. O levantamento bibliográfico forneceu as bases teóricas e doutrinárias a partir de
livros e textos de autores de referência. Enquanto o enquadramento bibliográfico utilizou-se da
fundamentação dos autores sobre um assunto, o documental articulou normas que não tinham
receberam o devido tratamento analítico.

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2 LOCALIZAÇÃO DA NORMA INTERNACIONAL

Discutiu-se sobre a localização que ocuparia os tratados internacionais que versam


sobre direitos humanos no modelo de pirâmide normativa inspirado em Hans Kelsen adotado
pelo nosso ordenamento jurídico.

A discussão acerca da natureza jurídica das normas internacionais parecia ter sido
encerrada com a aprovação da Emenda Constitucional nº 45/2004 (BARRETO, 2014, p.67), a
qual acrescentou ao artigo 5º da Carta Magna um terceiro parágrafo, onde se lê:

Artigo 5º (...) § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos


que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por
três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.

Entretendo com a mencionada Emenda Constitucional teve sua aprovação na ano


2004, ou seja, alguns anos após a ratificação da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, a qual, por sua vez, passou a vigorar em 18 de julho de 1978.

Ressaltando que após a aprovação da referida os Tratados Internacionais aprovados


de acordo com o disposto no §3º do artigo 5º passariam a ter caráter constitucional, surgiu
um questionamento, sobretudo no que diz respeito aos instrumentos internacionais de
direitos humanos assinados antes do advento da referida emenda (REZEK, 2016, p. 266).

O questionamento foi tratada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que objetivando
dar maior relevância aos tratados que versavam sobre questões humanitárias, entendeu, por
4

05 (cinco) votos a 04 (quatro), por dar aos tratados anteriormente assinados um caráter
supralegal, isto é, abaixo da Constituição Federal mas acima das demais normas. Ocorre que
a orientação atualmente majoritária no Supremo Tribunal Federal brasileiro é contrária a
maior parte da doutrina, que defende o status de norma constitucional aos tratados sobre
direitos humanos.

3 CARÁTER CONSTITUCIONAL DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS


HUMANOS

No tocante a força normativa dos tratados internacionais sobre direitos humanos, muitos
juristas especialista no Direito Internacional defendem que tais instrumentos possuíam caráter
constitucional
Concedendo aos Direitos Humanos uma maior importância e tendo como pressuposto o
fato de que a Assembleia Nacional Constituinte fez constar entre os princípios fundamentais, a

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dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III) e a prevalência dos direitos humanos (artigo
4º, inciso II).
Isso porque a rigor do que consta no artigo 5º, § 2º da Constituição da República de
1988, esse Diploma Legal não tinha o poder de excluir direitos e garantias decorrentes de
tratados internacionais dos quais o Brasil fosse integrante.
Artigo 5º, (...) § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

O Jurista Valério de Oliveira Mazzuoli, descreve sobre a constitucionalidade dos


Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos:

Sempre defendemos que os tratados internacionais de direitos humanos ratificados


pelo Brasil têm índole e nível constitucionais, além de aplicação imediata, não
podendo ser revogados por lei ordinária posterior. E a nossa interpretação sempre foi
a seguinte: se a Constituição estabelece que os direitos e garantias nela elencados ?não
excluem? outros provenientes dos tratados internacionais ?em que a República
Federativa do Brasil seja parte?, é porque ela própria está a autorizar que esses direitos
e garantias internacionais constantes dos tratados de direitos humanos ratificados pelo
Brasil ?se incluem? no nosso ordenamento jurídico interno, passando a ser
considerados como se escritos na Constituição estivessem. É dizer, se os direitos e
garantias expressos no texto constitucional ?não excluem? outros provenientes dos
tratados internacionais em que o Brasil seja parte, é porque, pela lógica, na medida em
que tais instrumentos passam a assegurar outros direitos e garantias, a Constituição ?os
inclui? no seu catálogo de direitos protegidos, ampliando o seu ?bloco de
constitucionalidade?. (MAZZUOLI, 2011, p. 820)

O decano do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Celso de Mello, em seu voto no


julgamento do HC 87.585/TO, no ano de 2008, se posicionou em atribuir aos tratados e
convenções internacionais que versassem sobre direitos humanos o caráter de norma
constitucional, independentemente do quórum pelo qual foram introduzidos no ordenamento
jurídico pátrio.

No que pese, que em votos pretéritos, o Ministro Celso de Mello entendeu que todo e
qualquer tratado internacional, independentemente da matéria nele contida, carregava
consigo uma natureza jurídica que lhe garantiria posição hierárquica equivalente às leis
ordinárias. Entretanto, confirmando as tendências doutrinárias, o Ministro mudou seu
posicionamento, optando por atribuir aos tratados internacionais acerca de direitos humanos
um caráter especial em razão de sua própria natureza.

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Desta forma, coadunando à maioria da doutrina internacionalista, passou a entender


que os referidos instrumentos como normas constitucionais.

Após longa reflexão sobre o tema em causa, Senhora Presidente ? notadamente a


partir da decisão plenária desta Corte na ADI 1.480-MC/DF, Rel. Min. Celso de
Mello (RTJ 179/493-496) -, julguei necessário reavaliar certas formulações e
premissas teóricas que me conduziram, então, naquela oportunidade, a conferir, aos
tratados internacionais em geral (qualquer que fosse a matéria neles veiculada),
posição juridicamente equivalente à das leis ordinárias. As razões invocadas neste
julgamento, no entanto, Senhora Presidente, convencem-me da necessidade de se
distinguir, para efeito de definição de sua posição hierárquica em face do
ordenamento positivo interno, entre convenções internacionais sobre direitos
humanos (revestidas de ?supralegalidade?, como sustenta o eminente Ministro
Gilmar Mendes, ou impregnadas de natureza constitucional, como me inclino a
reconhecer), e tratados internacionais sobre as demais matérias (compreendidos
estes numa estrita perspectiva de paridade normativa com as leis ordinárias).

O Ministro Celso de Mello em seu voto esclarece que seu entendimento de diversos
estudiosos que também vislumbram conteúdo materialmente constitucional nos tratados
internacionais que tratam acerca dos direitos humanitários, independentemente do quórum
de votação. Assim, embasando-se nos ensinamentos da doutrina, entende o Ministro que o
teor daqueles dispositivos aprovados em momento anterior às modificações trazidas pela
Emenda Constitucional de número 45 ? como é o caso do Pacto de San Jose da Costa Rica
? compõem aquilo que fora batizado de bloco de constitucionalidade.

(...) por força do § 2° do art. 5°, (...) as normas destes tratados são materialmente
constitucionais. Integram, como diria Bidart Campos, o bloco de constitucionalidade,
ou seja, um conjunto normativo que contém disposições, princípios e valores que, no
caso, em consonância com a Constituição de 1988, são materialmente constitucionais,
ainda que estejam fora do texto da Constituição documental. O bloco de
constitucionalidade é, assim, a somatória daquilo que se adiciona à Constituição
escrita, em função dos valores e princípios nela consagrados. O bloco de
constitucionalidade imprime vigor à força normativa da Constituição e é por isso
parâmetro hermenêutico, de hierarquia superior, de integração, complementação e
ampliação do universo dos direitos constitucionais previstos, além de critério de
preenchimento de eventuais lacunas. Por essa razão, considero que os tratados
internacionais de direitos humanos recepcionados pelo ordenamento jurídico brasileiro
a partir da vigência da Constituição de 1988 e a entrada em vigor da Emenda
Constitucional n. 45 não são meras leis ordinárias, pois têm a hierarquia que advém de
sua inserção no bloco de constitucionalidade. Faço estas considerações porque
concebo, na linha de Flávia Piovesan, que o § 2° do art. 5°, na sistemática da
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Constituição de 1988, tem uma função clara: a de tecer ?a interação entre a ordem
jurídica interna e a ordem jurídica internacional?.

Ademais, um dos principais argumentos nos quais se baseiam os defensores da tese


adotada por Celso de Mello se funda no fato de que a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica) teria sido incorporada ao ordenamento jurídico
antes mesmo do advento da Emenda Constitucional de nº 45, tendo sido, portanto,
recepcionada pela Constituição Federal. Assim, o Ministro Celso de Mello afirmou que:

os tratados internacionais de direitos humanos anteriores à Constituição de 1988,


aos quais o Brasil aderiu e que foram validamente promulgados, inserindo-se na
ordem jurídica interna, têm a hierarquia de normas constitucionais, pois foram
como tais formalmente recepcionados pelo § 2° do art. 5° não só pela referência
nele contida aos tratados como também pelo dispositivo que afirma que os
direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ele adotados.

Ressaltamos o fato de se dispensar aos tratados internacionais sobre direitos humanos


um tratamento especial, somente vem a enfatizar a tendência mundial pela qual o indivíduo
passa a ocupar posição central no ordenamento jurídico moderno. Todavia, em que pese todo
os argumentos apresentados, a tese defendida pelo Ministro Celso de Mello, em
concordância com a doutrina amplamente majoritária, contou com a anuência de apenas
outros 03 (três) ministros, quais sejam os Ministros Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau,
não vindo, portanto, a prosperar em plenário.

Entretanto, caso houvesse sido adotado o entendimento supramencionado, na forma


como já fora explicitado, é certo que os tratados internacionais que versassem sobre Direitos
Humanos teriam caráter materialmente constitucional, o que lhes garantiria, portanto, o
8

condão de paralisar a eficácia jurídica de qualquer outra norma infraconstitucional que com
ele se confrontasse.

Para o Ministro Celso de Mello, todos os tratados internacionais de Direitos


Humanos, independentemente da forma como tenham ingressado no ordenamento jurídico,
possuem natureza materialmente constitucional, o que garantiria aos referidos instrumentos
a posição de maior destaque possível dentro no ordenamento jurídico. Entretanto, tal
entendimento veio a sucumbir perante os argumentos expostos pelo Ministro Gilmar
Mendes, que optou por conferir ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter supralegal.

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O Ministro Gilmar Mendes, em seu voto referente ao RE 466.343, optou por conferir
aos tratados internacionais em matéria de Direitos Humanos um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária, porém abaixo das normas constitucionais. Em seus dizeres:

parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de


supralegalidade aos tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna
pelo argumento de que os tratados sobre direitos humanos seriam
infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais
atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de
supralegalidade. Em outros termos, os tratados sobre direitos humanos não
poderiam afrontar a supremacia da Constituição, mas teriam lugar especial
reservado no ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria
subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção dos direitos
da pessoa humana.

Necessário consignar, a princípio, que é certo que os fundamentos por ele defendidos
apresentaram uma mudança de paradigma no Direito Brasileiro. Isso porque o modelo da
pirâmide normativa adotada em nosso país, mais precisamente aquele arquétipo proposto
por Hans Kelsen, não trazia consigo nenhuma espécie de regramento que se sobrepusesse à
9

legislação ordinária ou complementar, a não ser aquelas contidas na própria Constituição


Federal.

A tese da supralegalidade, todavia, trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro um


patamar na pirâmide normativa que até então era inexistente, inaugurando, de forma inédita,
verdadeira reinterpretação da teoria do escalonamento jurídico.

Necessário registrar que anuíram ao entendimento esposado por Gilmar Mendes os


Ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Em
realidade, os fundamentos apresentados tiveram por escopo negar aos tratados internacionais
surgidos antes da redação dada ao artigo 5º, §3º da Constituição Federal pela Emenda
Constitucional nº 45/2004 o caráter de normas constitucionais.

Assim, uma vez reconhecido o Pacto de San Jose da Costa Rica como sendo norma
supralegal ou mesmo materialmente constitucional, poderá ser usado como paradigma para
controle de convencionalidade.

4 Considerações Finais

O objetivo deste trabalho foi cumprido, na medida em que analisou, no plano concreto,
qual a força normativa exercida pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção
Interamericana sobre Direitos Humanos) no ordenamento jurídico brasileiro.

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Apresentadas as teses acerca da hierarquia dos tratados sobre Direitos Humanos no


ordenamento jurídico, verificou-se a predominância do entendimento no Supremo Tribunal
10

Federal que confere aos referidos instrumentos internacionais um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária mas abaixo da Constituição Federal.

Importante salientar, que em análise sobre a hierarquia dos tratados internacionais frente
ao nosso ordenamento jurídico, podemos dizer que tais normas possuem capacidade de paralisar
a eficácia de normas infraconstitucionais que as contrariem. Assim, em que pese os argumentos
dos quais lançaram mão os defensores da supralegalidade, entende-se que a discussão encontra
pouca relevância prática, na medida em que os direitos humanos, por sua própria natureza,
merecem posição de maior destaque em nossa legislação (Princípio Pro Homine).

Isto posto, caso verificada a incompatibilidade entre normas infraconstitucionais e as


normas internacionais, propõe-se a aplicação daquilo que Valério de Oliveira Mazzuoli
identificou como sendo um Controle de Convencionalidade, onde se buscaria verificar a
adequação da legislação face aos tratados internacionais que versam sobre Direitos Humanos.

5 Referências Bibliográficas
BARRETTO, Rafael. Direitos humanos. 4.ed. Salvador: JusPodvm, 2014.

BRASIL. Decreto 678. Promulgação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São
Jose da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Disponível em 18 jan. 2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Informativo STF, n. 531, 1º a 8 dez 2008. Disponível em . Acesso em
12 de mai.2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus no 72.131-1. Relator: Ministro Marco Aurélio. Diário
de Justiça, Brasília, DF, 23 nov. 1995b. Disponível em: . Acesso em: 14 jan. 2018.

11

KELSEN, Hans. Teoria Pura do direito: introdução à problemática científica do direito (versão
condensada pelo próprio autor). Tradução de J. Cretella Júnior e Agnes Cretella. 7. ed., São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016.

REZEK, Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

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PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA E SUA FORÇA


NORMATIVA NO BRASIL

Wallace Calmon Rozetti


Mestrando em estudo Jurídico pela Must University Florida ?USA
([email protected])

Resumo:

Vemos que cada vez mais a utilização Pacto de San Jose da Costa Rica ? a Convenção
Americana de Direitos Humanos, nas cortes brasileiras, em especial o Supremo Tribunal
Federa. Vemos as disposições dos art. 5º, § 2º e § 3º da Constituição Federal, principalmente
no tocante à consignação de tratados de direito internacional e a sua aplicação no ordenamento
pátrio, é importante a consolidação dos conceitos basilares da temática. Neste sentido, partindo
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jurídico brasileiro, de modo a destacar sua força cogente em meio às leis domésticas.

Palavras-chave: Convenção internacional. Justiça. Segurança Jurídica. Verdade. Supremo


Tribunal Federal.

Abstract

We see that Costa Rica's San Jose Pact ? the American Convention on Human Rights ? is
increasingly being used in Brazilian courts, especially the Federal Supreme Court. We see the
provisions of art. 5th, § 2nd and § 3rd of the Federal Constitution, mainly regarding the
consignment of international law treaties and their application in the national order, it is
important to consolidate the basic concepts of the subject. In this sense, starting from the
deductive method, the present work seeks to elucidate the normative nature of the Pact of San
2

Jose in Costa Rica ? the American Convention on Human Rights ? in relation to the Brazilian
legal system, in order to highlight its cogent force in the midst of domestic laws. .

Keywords: International convention. Justice. Legal Security. True. Federal Court


of Justice.

1 Introdução

O analise deste trabalho tem por propósito identificar a posição hierárquica ocupada
pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos) no
ordenamento jurídico brasileiro.

Veremos no desenvolvimento do presente estudo, as duas principais correntes adotadas


pelo Supremo Tribunal Federal, que tratam sobre a hierarquia dos tratados internacionais sobre
Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro. A primeira delas, embora minoritária,
concede ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter constitucional. A segunda, por sua vez,
atribui um caráter supralegal, isto é, abaixo da Constituição, mas acima das normas
infraconstitucionais.

Utilizamos a metodologia descritiva-analítica e partiu do método dedutivo para realizar


a abordagem das categorias consideradas fundamentais para o desenvolvimento do tema.

Os procedimentos técnicos adotados na pesquisa foram as pesquisas bibliográfica e


documental. O levantamento bibliográfico forneceu as bases teóricas e doutrinárias a partir de
livros e textos de autores de referência. Enquanto o enquadramento bibliográfico utilizou-se da
fundamentação dos autores sobre um assunto, o documental articulou normas que não tinham

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receberam o devido tratamento analítico.

2 LOCALIZAÇÃO DA NORMA INTERNACIONAL

Discutiu-se sobre a localização que ocuparia os tratados internacionais que versam


sobre direitos humanos no modelo de pirâmide normativa inspirado em Hans Kelsen adotado
pelo nosso ordenamento jurídico.

A discussão acerca da natureza jurídica das normas internacionais parecia ter sido
encerrada com a aprovação da Emenda Constitucional nº 45/2004 (BARRETO, 2014, p.67), a
qual acrescentou ao artigo 5º da Carta Magna um terceiro parágrafo, onde se lê:

Artigo 5º (...) § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos


que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por
três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.

Entretendo com a mencionada Emenda Constitucional teve sua aprovação na ano


2004, ou seja, alguns anos após a ratificação da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, a qual, por sua vez, passou a vigorar em 18 de julho de 1978.

Ressaltando que após a aprovação da referida os Tratados Internacionais aprovados


de acordo com o disposto no §3º do artigo 5º passariam a ter caráter constitucional, surgiu
um questionamento, sobretudo no que diz respeito aos instrumentos internacionais de
direitos humanos assinados antes do advento da referida emenda (REZEK, 2016, p. 266).

O questionamento foi tratada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que objetivando
dar maior relevância aos tratados que versavam sobre questões humanitárias, entendeu, por
4

05 (cinco) votos a 04 (quatro), por dar aos tratados anteriormente assinados um caráter
supralegal, isto é, abaixo da Constituição Federal mas acima das demais normas. Ocorre que
a orientação atualmente majoritária no Supremo Tribunal Federal brasileiro é contrária a
maior parte da doutrina, que defende o status de norma constitucional aos tratados sobre
direitos humanos.

3 CARÁTER CONSTITUCIONAL DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS


HUMANOS

No tocante a força normativa dos tratados internacionais sobre direitos humanos, muitos
juristas especialista no Direito Internacional defendem que tais instrumentos possuíam caráter
constitucional

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Concedendo aos Direitos Humanos uma maior importância e tendo como pressuposto o
fato de que a Assembleia Nacional Constituinte fez constar entre os princípios fundamentais, a
dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III) e a prevalência dos direitos humanos (artigo
4º, inciso II).
Isso porque a rigor do que consta no artigo 5º, § 2º da Constituição da República de
1988, esse Diploma Legal não tinha o poder de excluir direitos e garantias decorrentes de
tratados internacionais dos quais o Brasil fosse integrante.
Artigo 5º, (...) § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

O Jurista Valério de Oliveira Mazzuoli, descreve sobre a constitucionalidade dos


Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos:

Sempre defendemos que os tratados internacionais de direitos humanos ratificados


pelo Brasil têm índole e nível constitucionais, além de aplicação imediata, não
podendo ser revogados por lei ordinária posterior. E a nossa interpretação sempre foi
a seguinte: se a Constituição estabelece que os direitos e garantias nela elencados ?não
excluem? outros provenientes dos tratados internacionais ?em que a República
Federativa do Brasil seja parte?, é porque ela própria está a autorizar que esses direitos
e garantias internacionais constantes dos tratados de direitos humanos ratificados pelo
Brasil ?se incluem? no nosso ordenamento jurídico interno, passando a ser
considerados como se escritos na Constituição estivessem. É dizer, se os direitos e
garantias expressos no texto constitucional ?não excluem? outros provenientes dos
tratados internacionais em que o Brasil seja parte, é porque, pela lógica, na medida em
que tais instrumentos passam a assegurar outros direitos e garantias, a Constituição ?os
inclui? no seu catálogo de direitos protegidos, ampliando o seu ?bloco de
constitucionalidade?. (MAZZUOLI, 2011, p. 820)

O decano do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Celso de Mello, em seu voto no


julgamento do HC 87.585/TO, no ano de 2008, se posicionou em atribuir aos tratados e
convenções internacionais que versassem sobre direitos humanos o caráter de norma
constitucional, independentemente do quórum pelo qual foram introduzidos no ordenamento
jurídico pátrio.

No que pese, que em votos pretéritos, o Ministro Celso de Mello entendeu que todo e
qualquer tratado internacional, independentemente da matéria nele contida, carregava
consigo uma natureza jurídica que lhe garantiria posição hierárquica equivalente às leis
ordinárias. Entretanto, confirmando as tendências doutrinárias, o Ministro mudou seu
posicionamento, optando por atribuir aos tratados internacionais acerca de direitos humanos

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um caráter especial em razão de sua própria natureza.

Desta forma, coadunando à maioria da doutrina internacionalista, passou a entender


que os referidos instrumentos como normas constitucionais.

Após longa reflexão sobre o tema em causa, Senhora Presidente ? notadamente a


partir da decisão plenária desta Corte na ADI 1.480-MC/DF, Rel. Min. Celso de
Mello (RTJ 179/493-496) -, julguei necessário reavaliar certas formulações e
premissas teóricas que me conduziram, então, naquela oportunidade, a conferir, aos
tratados internacionais em geral (qualquer que fosse a matéria neles veiculada),
posição juridicamente equivalente à das leis ordinárias. As razões invocadas neste
julgamento, no entanto, Senhora Presidente, convencem-me da necessidade de se
distinguir, para efeito de definição de sua posição hierárquica em face do
ordenamento positivo interno, entre convenções internacionais sobre direitos
humanos (revestidas de ?supralegalidade?, como sustenta o eminente Ministro
Gilmar Mendes, ou impregnadas de natureza constitucional, como me inclino a
reconhecer), e tratados internacionais sobre as demais matérias (compreendidos
estes numa estrita perspectiva de paridade normativa com as leis ordinárias).

O Ministro Celso de Mello em seu voto esclarece que seu entendimento de diversos
estudiosos que também vislumbram conteúdo materialmente constitucional nos tratados
internacionais que tratam acerca dos direitos humanitários, independentemente do quórum
de votação. Assim, embasando-se nos ensinamentos da doutrina, entende o Ministro que o
teor daqueles dispositivos aprovados em momento anterior às modificações trazidas pela
Emenda Constitucional de número 45 ? como é o caso do Pacto de San Jose da Costa Rica
? compõem aquilo que fora batizado de bloco de constitucionalidade.

(...) por força do § 2° do art. 5°, (...) as normas destes tratados são materialmente
constitucionais. Integram, como diria Bidart Campos, o bloco de constitucionalidade,
ou seja, um conjunto normativo que contém disposições, princípios e valores que, no
caso, em consonância com a Constituição de 1988, são materialmente constitucionais,
ainda que estejam fora do texto da Constituição documental. O bloco de
constitucionalidade é, assim, a somatória daquilo que se adiciona à Constituição
escrita, em função dos valores e princípios nela consagrados. O bloco de
constitucionalidade imprime vigor à força normativa da Constituição e é por isso
parâmetro hermenêutico, de hierarquia superior, de integração, complementação e
ampliação do universo dos direitos constitucionais previstos, além de critério de
preenchimento de eventuais lacunas. Por essa razão, considero que os tratados
internacionais de direitos humanos recepcionados pelo ordenamento jurídico brasileiro
a partir da vigência da Constituição de 1988 e a entrada em vigor da Emenda
Constitucional n. 45 não são meras leis ordinárias, pois têm a hierarquia que advém de
sua inserção no bloco de constitucionalidade. Faço estas considerações porque

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concebo, na linha de Flávia Piovesan, que o § 2° do art. 5°, na sistemática da


7

Constituição de 1988, tem uma função clara: a de tecer ?a interação entre a ordem
jurídica interna e a ordem jurídica internacional?.

Ademais, um dos principais argumentos nos quais se baseiam os defensores da tese


adotada por Celso de Mello se funda no fato de que a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica) teria sido incorporada ao ordenamento jurídico
antes mesmo do advento da Emenda Constitucional de nº 45, tendo sido, portanto,
recepcionada pela Constituição Federal. Assim, o Ministro Celso de Mello afirmou que:

os tratados internacionais de direitos humanos anteriores à Constituição de 1988,


aos quais o Brasil aderiu e que foram validamente promulgados, inserindo-se na
ordem jurídica interna, têm a hierarquia de normas constitucionais, pois foram
como tais formalmente recepcionados pelo § 2° do art. 5° não só pela referência
nele contida aos tratados como também pelo dispositivo que afirma que os
direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ele adotados.

Ressaltamos o fato de se dispensar aos tratados internacionais sobre direitos humanos


um tratamento especial, somente vem a enfatizar a tendência mundial pela qual o indivíduo
passa a ocupar posição central no ordenamento jurídico moderno. Todavia, em que pese todo
os argumentos apresentados, a tese defendida pelo Ministro Celso de Mello, em
concordância com a doutrina amplamente majoritária, contou com a anuência de apenas
outros 03 (três) ministros, quais sejam os Ministros Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau,
não vindo, portanto, a prosperar em plenário.

Entretanto, caso houvesse sido adotado o entendimento supramencionado, na forma


como já fora explicitado, é certo que os tratados internacionais que versassem sobre Direitos
Humanos teriam caráter materialmente constitucional, o que lhes garantiria, portanto, o
8

condão de paralisar a eficácia jurídica de qualquer outra norma infraconstitucional que com
ele se confrontasse.

Para o Ministro Celso de Mello, todos os tratados internacionais de Direitos


Humanos, independentemente da forma como tenham ingressado no ordenamento jurídico,
possuem natureza materialmente constitucional, o que garantiria aos referidos instrumentos
a posição de maior destaque possível dentro no ordenamento jurídico. Entretanto, tal
entendimento veio a sucumbir perante os argumentos expostos pelo Ministro Gilmar

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Mendes, que optou por conferir ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter supralegal.

O Ministro Gilmar Mendes, em seu voto referente ao RE 466.343, optou por conferir
aos tratados internacionais em matéria de Direitos Humanos um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária, porém abaixo das normas constitucionais. Em seus dizeres:

parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de


supralegalidade aos tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna
pelo argumento de que os tratados sobre direitos humanos seriam
infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais
atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de
supralegalidade. Em outros termos, os tratados sobre direitos humanos não
poderiam afrontar a supremacia da Constituição, mas teriam lugar especial
reservado no ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria
subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção dos direitos
da pessoa humana.

Necessário consignar, a princípio, que é certo que os fundamentos por ele defendidos
apresentaram uma mudança de paradigma no Direito Brasileiro. Isso porque o modelo da
pirâmide normativa adotada em nosso país, mais precisamente aquele arquétipo proposto
por Hans Kelsen, não trazia consigo nenhuma espécie de regramento que se sobrepusesse à
9

legislação ordinária ou complementar, a não ser aquelas contidas na própria Constituição


Federal.

A tese da supralegalidade, todavia, trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro um


patamar na pirâmide normativa que até então era inexistente, inaugurando, de forma inédita,
verdadeira reinterpretação da teoria do escalonamento jurídico.

Necessário registrar que anuíram ao entendimento esposado por Gilmar Mendes os


Ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Em
realidade, os fundamentos apresentados tiveram por escopo negar aos tratados internacionais
surgidos antes da redação dada ao artigo 5º, §3º da Constituição Federal pela Emenda
Constitucional nº 45/2004 o caráter de normas constitucionais.

Assim, uma vez reconhecido o Pacto de San Jose da Costa Rica como sendo norma
supralegal ou mesmo materialmente constitucional, poderá ser usado como paradigma para
controle de convencionalidade.

4 Considerações Finais

O objetivo deste trabalho foi cumprido, na medida em que analisou, no plano concreto,
qual a força normativa exercida pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção

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Interamericana sobre Direitos Humanos) no ordenamento jurídico brasileiro.

Apresentadas as teses acerca da hierarquia dos tratados sobre Direitos Humanos no


ordenamento jurídico, verificou-se a predominância do entendimento no Supremo Tribunal
10

Federal que confere aos referidos instrumentos internacionais um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária mas abaixo da Constituição Federal.

Importante salientar, que em análise sobre a hierarquia dos tratados internacionais frente
ao nosso ordenamento jurídico, podemos dizer que tais normas possuem capacidade de paralisar
a eficácia de normas infraconstitucionais que as contrariem. Assim, em que pese os argumentos
dos quais lançaram mão os defensores da supralegalidade, entende-se que a discussão encontra
pouca relevância prática, na medida em que os direitos humanos, por sua própria natureza,
merecem posição de maior destaque em nossa legislação (Princípio Pro Homine).

Isto posto, caso verificada a incompatibilidade entre normas infraconstitucionais e as


normas internacionais, propõe-se a aplicação daquilo que Valério de Oliveira Mazzuoli
identificou como sendo um Controle de Convencionalidade, onde se buscaria verificar a
adequação da legislação face aos tratados internacionais que versam sobre Direitos Humanos.

5 Referências Bibliográficas
BARRETTO, Rafael. Direitos humanos. 4.ed. Salvador: JusPodvm, 2014.

BRASIL. Decreto 678. Promulgação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São
Jose da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Disponível em 18 jan. 2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Informativo STF, n. 531, 1º a 8 dez 2008. Disponível em . Acesso em
12 de mai.2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus no 72.131-1. Relator: Ministro Marco Aurélio. Diário
de Justiça, Brasília, DF, 23 nov. 1995b. Disponível em: . Acesso em: 14 jan. 2018.

11

KELSEN, Hans. Teoria Pura do direito: introdução à problemática científica do direito (versão
condensada pelo próprio autor). Tradução de J. Cretella Júnior e Agnes Cretella. 7. ed., São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016.

REZEK, Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

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Arquivo 1: INTERNATIONAL CRIMINAL LAW_WALLACECALMONROZETTI_10.02.2024.pdf (2218
termos)
Arquivo 2:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=595406&pgI=121&pgF=125 (1104
termos)
Termos comuns: 272
Similaridade: 8,91%
O texto abaixo é o conteúdo do documento INTERNATIONAL CRIMINAL
LAW_WALLACECALMONROZETTI_10.02.2024.pdf (2218 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=595406&pgI=121&pgF=125 (1104
termos)

=================================================================================

PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA E SUA FORÇA


NORMATIVA NO BRASIL

Wallace Calmon Rozetti


Mestrando em estudo Jurídico pela Must University Florida ?USA
([email protected])

Resumo:

Vemos que cada vez mais a utilização Pacto de San Jose da Costa Rica ? a Convenção
Americana de Direitos Humanos, nas cortes brasileiras, em especial o Supremo Tribunal
Federa. Vemos as disposições dos art. 5º, § 2º e § 3º da Constituição Federal, principalmente
no tocante à consignação de tratados de direito internacional e a sua aplicação no ordenamento
pátrio, é importante a consolidação dos conceitos basilares da temática. Neste sentido, partindo
do método dedutivo, o presente trabalho busca elucidar a natureza normativa do Pacto de San
Jose da Costa Rica ? a Convenção Americana de Direitos Humanos ? frente ao ordenamento

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jurídico brasileiro, de modo a destacar sua força cogente em meio às leis domésticas.

Palavras-chave: Convenção internacional. Justiça. Segurança Jurídica. Verdade. Supremo


Tribunal Federal.

Abstract

We see that Costa Rica's San Jose Pact ? the American Convention on Human Rights ? is
increasingly being used in Brazilian courts, especially the Federal Supreme Court. We see the
provisions of art. 5th, § 2nd and § 3rd of the Federal Constitution, mainly regarding the
consignment of international law treaties and their application in the national order, it is
important to consolidate the basic concepts of the subject. In this sense, starting from the
deductive method, the present work seeks to elucidate the normative nature of the Pact of San
2

Jose in Costa Rica ? the American Convention on Human Rights ? in relation to the Brazilian
legal system, in order to highlight its cogent force in the midst of domestic laws. .

Keywords: International convention. Justice. Legal Security. True. Federal Court


of Justice.

1 Introdução

O analise deste trabalho tem por propósito identificar a posição hierárquica ocupada
pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos) no
ordenamento jurídico brasileiro.

Veremos no desenvolvimento do presente estudo, as duas principais correntes adotadas


pelo Supremo Tribunal Federal, que tratam sobre a hierarquia dos tratados internacionais sobre
Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro. A primeira delas, embora minoritária,
concede ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter constitucional. A segunda, por sua vez,
atribui um caráter supralegal, isto é, abaixo da Constituição, mas acima das normas
infraconstitucionais.

Utilizamos a metodologia descritiva-analítica e partiu do método dedutivo para realizar


a abordagem das categorias consideradas fundamentais para o desenvolvimento do tema.

Os procedimentos técnicos adotados na pesquisa foram as pesquisas bibliográfica e


documental. O levantamento bibliográfico forneceu as bases teóricas e doutrinárias a partir de
livros e textos de autores de referência. Enquanto o enquadramento bibliográfico utilizou-se da
fundamentação dos autores sobre um assunto, o documental articulou normas que não tinham

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receberam o devido tratamento analítico.

2 LOCALIZAÇÃO DA NORMA INTERNACIONAL

Discutiu-se sobre a localização que ocuparia os tratados internacionais que versam


sobre direitos humanos no modelo de pirâmide normativa inspirado em Hans Kelsen adotado
pelo nosso ordenamento jurídico.

A discussão acerca da natureza jurídica das normas internacionais parecia ter sido
encerrada com a aprovação da Emenda Constitucional nº 45/2004 (BARRETO, 2014, p.67), a
qual acrescentou ao artigo 5º da Carta Magna um terceiro parágrafo, onde se lê:

Artigo 5º (...) § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos


que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por
três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.

Entretendo com a mencionada Emenda Constitucional teve sua aprovação na ano


2004, ou seja, alguns anos após a ratificação da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, a qual, por sua vez, passou a vigorar em 18 de julho de 1978.

Ressaltando que após a aprovação da referida os Tratados Internacionais aprovados


de acordo com o disposto no §3º do artigo 5º passariam a ter caráter constitucional, surgiu
um questionamento, sobretudo no que diz respeito aos instrumentos internacionais de
direitos humanos assinados antes do advento da referida emenda (REZEK, 2016, p. 266).

O questionamento foi tratada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que objetivando
dar maior relevância aos tratados que versavam sobre questões humanitárias, entendeu, por
4

05 (cinco) votos a 04 (quatro), por dar aos tratados anteriormente assinados um caráter
supralegal, isto é, abaixo da Constituição Federal mas acima das demais normas. Ocorre que
a orientação atualmente majoritária no Supremo Tribunal Federal brasileiro é contrária a
maior parte da doutrina, que defende o status de norma constitucional aos tratados sobre
direitos humanos.

3 CARÁTER CONSTITUCIONAL DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS


HUMANOS

No tocante a força normativa dos tratados internacionais sobre direitos humanos, muitos
juristas especialista no Direito Internacional defendem que tais instrumentos possuíam caráter
constitucional

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Concedendo aos Direitos Humanos uma maior importância e tendo como pressuposto o
fato de que a Assembleia Nacional Constituinte fez constar entre os princípios fundamentais, a
dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III) e a prevalência dos direitos humanos (artigo
4º, inciso II).
Isso porque a rigor do que consta no artigo 5º, § 2º da Constituição da República de
1988, esse Diploma Legal não tinha o poder de excluir direitos e garantias decorrentes de
tratados internacionais dos quais o Brasil fosse integrante.
Artigo 5º, (...) § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

O Jurista Valério de Oliveira Mazzuoli, descreve sobre a constitucionalidade dos


Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos:

Sempre defendemos que os tratados internacionais de direitos humanos ratificados


pelo Brasil têm índole e nível constitucionais, além de aplicação imediata, não
podendo ser revogados por lei ordinária posterior. E a nossa interpretação sempre foi
a seguinte: se a Constituição estabelece que os direitos e garantias nela elencados ?não
excluem? outros provenientes dos tratados internacionais ?em que a República
Federativa do Brasil seja parte?, é porque ela própria está a autorizar que esses direitos
e garantias internacionais constantes dos tratados de direitos humanos ratificados pelo
Brasil ?se incluem? no nosso ordenamento jurídico interno, passando a ser
considerados como se escritos na Constituição estivessem. É dizer, se os direitos e
garantias expressos no texto constitucional ?não excluem? outros provenientes dos
tratados internacionais em que o Brasil seja parte, é porque, pela lógica, na medida em
que tais instrumentos passam a assegurar outros direitos e garantias, a Constituição ?os
inclui? no seu catálogo de direitos protegidos, ampliando o seu ?bloco de
constitucionalidade?. (MAZZUOLI, 2011, p. 820)

O decano do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Celso de Mello, em seu voto no


julgamento do HC 87.585/TO, no ano de 2008, se posicionou em atribuir aos tratados e
convenções internacionais que versassem sobre direitos humanos o caráter de norma
constitucional, independentemente do quórum pelo qual foram introduzidos no ordenamento
jurídico pátrio.

No que pese, que em votos pretéritos, o Ministro Celso de Mello entendeu que todo e
qualquer tratado internacional, independentemente da matéria nele contida, carregava
consigo uma natureza jurídica que lhe garantiria posição hierárquica equivalente às leis
ordinárias. Entretanto, confirmando as tendências doutrinárias, o Ministro mudou seu
posicionamento, optando por atribuir aos tratados internacionais acerca de direitos humanos

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um caráter especial em razão de sua própria natureza.

Desta forma, coadunando à maioria da doutrina internacionalista, passou a entender


que os referidos instrumentos como normas constitucionais.

Após longa reflexão sobre o tema em causa, Senhora Presidente ? notadamente a


partir da decisão plenária desta Corte na ADI 1.480-MC/DF, Rel. Min. Celso de
Mello (RTJ 179/493-496) -, julguei necessário reavaliar certas formulações e
premissas teóricas que me conduziram, então, naquela oportunidade, a conferir, aos
tratados internacionais em geral (qualquer que fosse a matéria neles veiculada),
posição juridicamente equivalente à das leis ordinárias. As razões invocadas neste
julgamento, no entanto, Senhora Presidente, convencem-me da necessidade de se
distinguir, para efeito de definição de sua posição hierárquica em face do
ordenamento positivo interno, entre convenções internacionais sobre direitos
humanos (revestidas de ?supralegalidade?, como sustenta o eminente Ministro
Gilmar Mendes, ou impregnadas de natureza constitucional, como me inclino a
reconhecer), e tratados internacionais sobre as demais matérias (compreendidos
estes numa estrita perspectiva de paridade normativa com as leis ordinárias).

O Ministro Celso de Mello em seu voto esclarece que seu entendimento de diversos
estudiosos que também vislumbram conteúdo materialmente constitucional nos tratados
internacionais que tratam acerca dos direitos humanitários, independentemente do quórum
de votação. Assim, embasando-se nos ensinamentos da doutrina, entende o Ministro que o
teor daqueles dispositivos aprovados em momento anterior às modificações trazidas pela
Emenda Constitucional de número 45 ? como é o caso do Pacto de San Jose da Costa Rica
? compõem aquilo que fora batizado de bloco de constitucionalidade.

(...) por força do § 2° do art. 5°, (...) as normas destes tratados são materialmente
constitucionais. Integram, como diria Bidart Campos, o bloco de constitucionalidade,
ou seja, um conjunto normativo que contém disposições, princípios e valores que, no
caso, em consonância com a Constituição de 1988, são materialmente constitucionais,
ainda que estejam fora do texto da Constituição documental. O bloco de
constitucionalidade é, assim, a somatória daquilo que se adiciona à Constituição
escrita, em função dos valores e princípios nela consagrados. O bloco de
constitucionalidade imprime vigor à força normativa da Constituição e é por isso
parâmetro hermenêutico, de hierarquia superior, de integração, complementação e
ampliação do universo dos direitos constitucionais previstos, além de critério de
preenchimento de eventuais lacunas. Por essa razão, considero que os tratados
internacionais de direitos humanos recepcionados pelo ordenamento jurídico brasileiro
a partir da vigência da Constituição de 1988 e a entrada em vigor da Emenda
Constitucional n. 45 não são meras leis ordinárias, pois têm a hierarquia que advém de
sua inserção no bloco de constitucionalidade. Faço estas considerações porque

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concebo, na linha de Flávia Piovesan, que o § 2° do art. 5°, na sistemática da


7

Constituição de 1988, tem uma função clara: a de tecer ?a interação entre a ordem
jurídica interna e a ordem jurídica internacional?.

Ademais, um dos principais argumentos nos quais se baseiam os defensores da tese


adotada por Celso de Mello se funda no fato de que a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica) teria sido incorporada ao ordenamento jurídico
antes mesmo do advento da Emenda Constitucional de nº 45, tendo sido, portanto,
recepcionada pela Constituição Federal. Assim, o Ministro Celso de Mello afirmou que:

os tratados internacionais de direitos humanos anteriores à Constituição de 1988,


aos quais o Brasil aderiu e que foram validamente promulgados, inserindo-se na
ordem jurídica interna, têm a hierarquia de normas constitucionais, pois foram
como tais formalmente recepcionados pelo § 2° do art. 5° não só pela referência
nele contida aos tratados como também pelo dispositivo que afirma que os
direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ele adotados.

Ressaltamos o fato de se dispensar aos tratados internacionais sobre direitos humanos


um tratamento especial, somente vem a enfatizar a tendência mundial pela qual o indivíduo
passa a ocupar posição central no ordenamento jurídico moderno. Todavia, em que pese todo
os argumentos apresentados, a tese defendida pelo Ministro Celso de Mello, em
concordância com a doutrina amplamente majoritária, contou com a anuência de apenas
outros 03 (três) ministros, quais sejam os Ministros Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau,
não vindo, portanto, a prosperar em plenário.

Entretanto, caso houvesse sido adotado o entendimento supramencionado, na forma


como já fora explicitado, é certo que os tratados internacionais que versassem sobre Direitos
Humanos teriam caráter materialmente constitucional, o que lhes garantiria, portanto, o
8

condão de paralisar a eficácia jurídica de qualquer outra norma infraconstitucional que com
ele se confrontasse.

Para o Ministro Celso de Mello, todos os tratados internacionais de Direitos


Humanos, independentemente da forma como tenham ingressado no ordenamento jurídico,
possuem natureza materialmente constitucional, o que garantiria aos referidos instrumentos
a posição de maior destaque possível dentro no ordenamento jurídico. Entretanto, tal
entendimento veio a sucumbir perante os argumentos expostos pelo Ministro Gilmar

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Mendes, que optou por conferir ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter supralegal.

O Ministro Gilmar Mendes, em seu voto referente ao RE 466.343, optou por conferir
aos tratados internacionais em matéria de Direitos Humanos um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária, porém abaixo das normas constitucionais. Em seus dizeres:

parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de


supralegalidade aos tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna
pelo argumento de que os tratados sobre direitos humanos seriam
infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais
atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de
supralegalidade. Em outros termos, os tratados sobre direitos humanos não
poderiam afrontar a supremacia da Constituição, mas teriam lugar especial
reservado no ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria
subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção dos direitos
da pessoa humana.

Necessário consignar, a princípio, que é certo que os fundamentos por ele defendidos
apresentaram uma mudança de paradigma no Direito Brasileiro. Isso porque o modelo da
pirâmide normativa adotada em nosso país, mais precisamente aquele arquétipo proposto
por Hans Kelsen, não trazia consigo nenhuma espécie de regramento que se sobrepusesse à
9

legislação ordinária ou complementar, a não ser aquelas contidas na própria Constituição


Federal.

A tese da supralegalidade, todavia, trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro um


patamar na pirâmide normativa que até então era inexistente, inaugurando, de forma inédita,
verdadeira reinterpretação da teoria do escalonamento jurídico.

Necessário registrar que anuíram ao entendimento esposado por Gilmar Mendes os


Ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Em
realidade, os fundamentos apresentados tiveram por escopo negar aos tratados internacionais
surgidos antes da redação dada ao artigo 5º, §3º da Constituição Federal pela Emenda
Constitucional nº 45/2004 o caráter de normas constitucionais.

Assim, uma vez reconhecido o Pacto de San Jose da Costa Rica como sendo norma
supralegal ou mesmo materialmente constitucional, poderá ser usado como paradigma para
controle de convencionalidade.

4 Considerações Finais

O objetivo deste trabalho foi cumprido, na medida em que analisou, no plano concreto,
qual a força normativa exercida pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção

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Interamericana sobre Direitos Humanos) no ordenamento jurídico brasileiro.

Apresentadas as teses acerca da hierarquia dos tratados sobre Direitos Humanos no


ordenamento jurídico, verificou-se a predominância do entendimento no Supremo Tribunal
10

Federal que confere aos referidos instrumentos internacionais um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária mas abaixo da Constituição Federal.

Importante salientar, que em análise sobre a hierarquia dos tratados internacionais frente
ao nosso ordenamento jurídico, podemos dizer que tais normas possuem capacidade de paralisar
a eficácia de normas infraconstitucionais que as contrariem. Assim, em que pese os argumentos
dos quais lançaram mão os defensores da supralegalidade, entende-se que a discussão encontra
pouca relevância prática, na medida em que os direitos humanos, por sua própria natureza,
merecem posição de maior destaque em nossa legislação (Princípio Pro Homine).

Isto posto, caso verificada a incompatibilidade entre normas infraconstitucionais e as


normas internacionais, propõe-se a aplicação daquilo que Valério de Oliveira Mazzuoli
identificou como sendo um Controle de Convencionalidade, onde se buscaria verificar a
adequação da legislação face aos tratados internacionais que versam sobre Direitos Humanos.

5 Referências Bibliográficas
BARRETTO, Rafael. Direitos humanos. 4.ed. Salvador: JusPodvm, 2014.

BRASIL. Decreto 678. Promulgação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São
Jose da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Disponível em 18 jan. 2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Informativo STF, n. 531, 1º a 8 dez 2008. Disponível em . Acesso em
12 de mai.2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus no 72.131-1. Relator: Ministro Marco Aurélio. Diário
de Justiça, Brasília, DF, 23 nov. 1995b. Disponível em: . Acesso em: 14 jan. 2018.

11

KELSEN, Hans. Teoria Pura do direito: introdução à problemática científica do direito (versão
condensada pelo próprio autor). Tradução de J. Cretella Júnior e Agnes Cretella. 7. ed., São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016.

REZEK, Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

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Arquivo 1: INTERNATIONAL CRIMINAL LAW_WALLACECALMONROZETTI_10.02.2024.pdf (2218
termos)
Arquivo 2: https://www.professorvladmirsilveira.com.br/internalizacao-das-convencoes-da-oit-no-
ordenamento-juridico-brasileiro (7698 termos)
Termos comuns: 368
Similaridade: 3,85%
O texto abaixo é o conteúdo do documento INTERNATIONAL CRIMINAL
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Os termos em vermelho foram encontrados no documento
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juridico-brasileiro (7698 termos)

=================================================================================

PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA E SUA FORÇA


NORMATIVA NO BRASIL

Wallace Calmon Rozetti


Mestrando em estudo Jurídico pela Must University Florida ?USA
([email protected])

Resumo:

Vemos que cada vez mais a utilização Pacto de San Jose da Costa Rica ? a Convenção
Americana de Direitos Humanos, nas cortes brasileiras, em especial o Supremo Tribunal
Federa. Vemos as disposições dos art. 5º, § 2º e § 3º da Constituição Federal, principalmente
no tocante à consignação de tratados de direito internacional e a sua aplicação no ordenamento
pátrio, é importante a consolidação dos conceitos basilares da temática. Neste sentido, partindo
do método dedutivo, o presente trabalho busca elucidar a natureza normativa do Pacto de San
Jose da Costa Rica ? a Convenção Americana de Direitos Humanos ? frente ao ordenamento
jurídico brasileiro, de modo a destacar sua força cogente em meio às leis domésticas.

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Palavras-chave: Convenção internacional. Justiça. Segurança Jurídica. Verdade. Supremo


Tribunal Federal.

Abstract

We see that Costa Rica's San Jose Pact ? the American Convention on Human Rights ? is
increasingly being used in Brazilian courts, especially the Federal Supreme Court. We see the
provisions of art. 5th, § 2nd and § 3rd of the Federal Constitution, mainly regarding the
consignment of international law treaties and their application in the national order, it is
important to consolidate the basic concepts of the subject. In this sense, starting from the
deductive method, the present work seeks to elucidate the normative nature of the Pact of San
2

Jose in Costa Rica ? the American Convention on Human Rights ? in relation to the Brazilian
legal system, in order to highlight its cogent force in the midst of domestic laws. .

Keywords: International convention. Justice. Legal Security. True. Federal Court


of Justice.

1 Introdução

O analise deste trabalho tem por propósito identificar a posição hierárquica ocupada
pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos) no
ordenamento jurídico brasileiro.

Veremos no desenvolvimento do presente estudo, as duas principais correntes adotadas


pelo Supremo Tribunal Federal, que tratam sobre a hierarquia dos tratados internacionais sobre
Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro. A primeira delas, embora minoritária,
concede ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter constitucional. A segunda, por sua vez,
atribui um caráter supralegal, isto é, abaixo da Constituição, mas acima das normas
infraconstitucionais.

Utilizamos a metodologia descritiva-analítica e partiu do método dedutivo para realizar


a abordagem das categorias consideradas fundamentais para o desenvolvimento do tema.

Os procedimentos técnicos adotados na pesquisa foram as pesquisas bibliográfica e


documental. O levantamento bibliográfico forneceu as bases teóricas e doutrinárias a partir de
livros e textos de autores de referência. Enquanto o enquadramento bibliográfico utilizou-se da
fundamentação dos autores sobre um assunto, o documental articulou normas que não tinham
receberam o devido tratamento analítico.

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2 LOCALIZAÇÃO DA NORMA INTERNACIONAL

Discutiu-se sobre a localização que ocuparia os tratados internacionais que versam


sobre direitos humanos no modelo de pirâmide normativa inspirado em Hans Kelsen adotado
pelo nosso ordenamento jurídico.

A discussão acerca da natureza jurídica das normas internacionais parecia ter sido
encerrada com a aprovação da Emenda Constitucional nº 45/2004 (BARRETO, 2014, p.67), a
qual acrescentou ao artigo 5º da Carta Magna um terceiro parágrafo, onde se lê:

Artigo 5º (...) § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos


que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por
três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.

Entretendo com a mencionada Emenda Constitucional teve sua aprovação na ano


2004, ou seja, alguns anos após a ratificação da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, a qual, por sua vez, passou a vigorar em 18 de julho de 1978.

Ressaltando que após a aprovação da referida os Tratados Internacionais aprovados


de acordo com o disposto no §3º do artigo 5º passariam a ter caráter constitucional, surgiu
um questionamento, sobretudo no que diz respeito aos instrumentos internacionais de
direitos humanos assinados antes do advento da referida emenda (REZEK, 2016, p. 266).

O questionamento foi tratada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que objetivando
dar maior relevância aos tratados que versavam sobre questões humanitárias, entendeu, por
4

05 (cinco) votos a 04 (quatro), por dar aos tratados anteriormente assinados um caráter
supralegal, isto é, abaixo da Constituição Federal mas acima das demais normas. Ocorre que
a orientação atualmente majoritária no Supremo Tribunal Federal brasileiro é contrária a
maior parte da doutrina, que defende o status de norma constitucional aos tratados sobre
direitos humanos.

3 CARÁTER CONSTITUCIONAL DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS


HUMANOS

No tocante a força normativa dos tratados internacionais sobre direitos humanos, muitos
juristas especialista no Direito Internacional defendem que tais instrumentos possuíam caráter
constitucional
Concedendo aos Direitos Humanos uma maior importância e tendo como pressuposto o

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fato de que a Assembleia Nacional Constituinte fez constar entre os princípios fundamentais, a
dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III) e a prevalência dos direitos humanos (artigo
4º, inciso II).
Isso porque a rigor do que consta no artigo 5º, § 2º da Constituição da República de
1988, esse Diploma Legal não tinha o poder de excluir direitos e garantias decorrentes de
tratados internacionais dos quais o Brasil fosse integrante.
Artigo 5º, (...) § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

O Jurista Valério de Oliveira Mazzuoli, descreve sobre a constitucionalidade dos


Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos:

Sempre defendemos que os tratados internacionais de direitos humanos ratificados


pelo Brasil têm índole e nível constitucionais, além de aplicação imediata, não
podendo ser revogados por lei ordinária posterior. E a nossa interpretação sempre foi
a seguinte: se a Constituição estabelece que os direitos e garantias nela elencados ?não
excluem? outros provenientes dos tratados internacionais ?em que a República
Federativa do Brasil seja parte?, é porque ela própria está a autorizar que esses direitos
e garantias internacionais constantes dos tratados de direitos humanos ratificados pelo
Brasil ?se incluem? no nosso ordenamento jurídico interno, passando a ser
considerados como se escritos na Constituição estivessem. É dizer, se os direitos e
garantias expressos no texto constitucional ?não excluem? outros provenientes dos
tratados internacionais em que o Brasil seja parte, é porque, pela lógica, na medida em
que tais instrumentos passam a assegurar outros direitos e garantias, a Constituição ?os
inclui? no seu catálogo de direitos protegidos, ampliando o seu ?bloco de
constitucionalidade?. (MAZZUOLI, 2011, p. 820)

O decano do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Celso de Mello, em seu voto no


julgamento do HC 87.585/TO, no ano de 2008, se posicionou em atribuir aos tratados e
convenções internacionais que versassem sobre direitos humanos o caráter de norma
constitucional, independentemente do quórum pelo qual foram introduzidos no ordenamento
jurídico pátrio.

No que pese, que em votos pretéritos, o Ministro Celso de Mello entendeu que todo e
qualquer tratado internacional, independentemente da matéria nele contida, carregava
consigo uma natureza jurídica que lhe garantiria posição hierárquica equivalente às leis
ordinárias. Entretanto, confirmando as tendências doutrinárias, o Ministro mudou seu
posicionamento, optando por atribuir aos tratados internacionais acerca de direitos humanos
um caráter especial em razão de sua própria natureza.

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Desta forma, coadunando à maioria da doutrina internacionalista, passou a entender


que os referidos instrumentos como normas constitucionais.

Após longa reflexão sobre o tema em causa, Senhora Presidente ? notadamente a


partir da decisão plenária desta Corte na ADI 1.480-MC/DF, Rel. Min. Celso de
Mello (RTJ 179/493-496) -, julguei necessário reavaliar certas formulações e
premissas teóricas que me conduziram, então, naquela oportunidade, a conferir, aos
tratados internacionais em geral (qualquer que fosse a matéria neles veiculada),
posição juridicamente equivalente à das leis ordinárias. As razões invocadas neste
julgamento, no entanto, Senhora Presidente, convencem-me da necessidade de se
distinguir, para efeito de definição de sua posição hierárquica em face do
ordenamento positivo interno, entre convenções internacionais sobre direitos
humanos (revestidas de ?supralegalidade?, como sustenta o eminente Ministro
Gilmar Mendes, ou impregnadas de natureza constitucional, como me inclino a
reconhecer), e tratados internacionais sobre as demais matérias (compreendidos
estes numa estrita perspectiva de paridade normativa com as leis ordinárias).

O Ministro Celso de Mello em seu voto esclarece que seu entendimento de diversos
estudiosos que também vislumbram conteúdo materialmente constitucional nos tratados
internacionais que tratam acerca dos direitos humanitários, independentemente do quórum
de votação. Assim, embasando-se nos ensinamentos da doutrina, entende o Ministro que o
teor daqueles dispositivos aprovados em momento anterior às modificações trazidas pela
Emenda Constitucional de número 45 ? como é o caso do Pacto de San Jose da Costa Rica
? compõem aquilo que fora batizado de bloco de constitucionalidade.

(...) por força do § 2° do art. 5°, (...) as normas destes tratados são materialmente
constitucionais. Integram, como diria Bidart Campos, o bloco de constitucionalidade,
ou seja, um conjunto normativo que contém disposições, princípios e valores que, no
caso, em consonância com a Constituição de 1988, são materialmente constitucionais,
ainda que estejam fora do texto da Constituição documental. O bloco de
constitucionalidade é, assim, a somatória daquilo que se adiciona à Constituição
escrita, em função dos valores e princípios nela consagrados. O bloco de
constitucionalidade imprime vigor à força normativa da Constituição e é por isso
parâmetro hermenêutico, de hierarquia superior, de integração, complementação e
ampliação do universo dos direitos constitucionais previstos, além de critério de
preenchimento de eventuais lacunas. Por essa razão, considero que os tratados
internacionais de direitos humanos recepcionados pelo ordenamento jurídico brasileiro
a partir da vigência da Constituição de 1988 e a entrada em vigor da Emenda
Constitucional n. 45 não são meras leis ordinárias, pois têm a hierarquia que advém de
sua inserção no bloco de constitucionalidade. Faço estas considerações porque
concebo, na linha de Flávia Piovesan, que o § 2° do art. 5°, na sistemática da

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Constituição de 1988, tem uma função clara: a de tecer ?a interação entre a ordem
jurídica interna e a ordem jurídica internacional?.

Ademais, um dos principais argumentos nos quais se baseiam os defensores da tese


adotada por Celso de Mello se funda no fato de que a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica) teria sido incorporada ao ordenamento jurídico
antes mesmo do advento da Emenda Constitucional de nº 45, tendo sido, portanto,
recepcionada pela Constituição Federal. Assim, o Ministro Celso de Mello afirmou que:

os tratados internacionais de direitos humanos anteriores à Constituição de 1988,


aos quais o Brasil aderiu e que foram validamente promulgados, inserindo-se na
ordem jurídica interna, têm a hierarquia de normas constitucionais, pois foram
como tais formalmente recepcionados pelo § 2° do art. 5° não só pela referência
nele contida aos tratados como também pelo dispositivo que afirma que os
direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ele adotados.

Ressaltamos o fato de se dispensar aos tratados internacionais sobre direitos humanos


um tratamento especial, somente vem a enfatizar a tendência mundial pela qual o indivíduo
passa a ocupar posição central no ordenamento jurídico moderno. Todavia, em que pese todo
os argumentos apresentados, a tese defendida pelo Ministro Celso de Mello, em
concordância com a doutrina amplamente majoritária, contou com a anuência de apenas
outros 03 (três) ministros, quais sejam os Ministros Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau,
não vindo, portanto, a prosperar em plenário.

Entretanto, caso houvesse sido adotado o entendimento supramencionado, na forma


como já fora explicitado, é certo que os tratados internacionais que versassem sobre Direitos
Humanos teriam caráter materialmente constitucional, o que lhes garantiria, portanto, o
8

condão de paralisar a eficácia jurídica de qualquer outra norma infraconstitucional que com
ele se confrontasse.

Para o Ministro Celso de Mello, todos os tratados internacionais de Direitos


Humanos, independentemente da forma como tenham ingressado no ordenamento jurídico,
possuem natureza materialmente constitucional, o que garantiria aos referidos instrumentos
a posição de maior destaque possível dentro no ordenamento jurídico. Entretanto, tal
entendimento veio a sucumbir perante os argumentos expostos pelo Ministro Gilmar
Mendes, que optou por conferir ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter supralegal.

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O Ministro Gilmar Mendes, em seu voto referente ao RE 466.343, optou por conferir
aos tratados internacionais em matéria de Direitos Humanos um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária, porém abaixo das normas constitucionais. Em seus dizeres:

parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de


supralegalidade aos tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna
pelo argumento de que os tratados sobre direitos humanos seriam
infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais
atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de
supralegalidade. Em outros termos, os tratados sobre direitos humanos não
poderiam afrontar a supremacia da Constituição, mas teriam lugar especial
reservado no ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria
subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção dos direitos
da pessoa humana.

Necessário consignar, a princípio, que é certo que os fundamentos por ele defendidos
apresentaram uma mudança de paradigma no Direito Brasileiro. Isso porque o modelo da
pirâmide normativa adotada em nosso país, mais precisamente aquele arquétipo proposto
por Hans Kelsen, não trazia consigo nenhuma espécie de regramento que se sobrepusesse à
9

legislação ordinária ou complementar, a não ser aquelas contidas na própria Constituição


Federal.

A tese da supralegalidade, todavia, trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro um


patamar na pirâmide normativa que até então era inexistente, inaugurando, de forma inédita,
verdadeira reinterpretação da teoria do escalonamento jurídico.

Necessário registrar que anuíram ao entendimento esposado por Gilmar Mendes os


Ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Em
realidade, os fundamentos apresentados tiveram por escopo negar aos tratados internacionais
surgidos antes da redação dada ao artigo 5º, §3º da Constituição Federal pela Emenda
Constitucional nº 45/2004 o caráter de normas constitucionais.

Assim, uma vez reconhecido o Pacto de San Jose da Costa Rica como sendo norma
supralegal ou mesmo materialmente constitucional, poderá ser usado como paradigma para
controle de convencionalidade.

4 Considerações Finais

O objetivo deste trabalho foi cumprido, na medida em que analisou, no plano concreto,
qual a força normativa exercida pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção
Interamericana sobre Direitos Humanos) no ordenamento jurídico brasileiro.

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Apresentadas as teses acerca da hierarquia dos tratados sobre Direitos Humanos no


ordenamento jurídico, verificou-se a predominância do entendimento no Supremo Tribunal
10

Federal que confere aos referidos instrumentos internacionais um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária mas abaixo da Constituição Federal.

Importante salientar, que em análise sobre a hierarquia dos tratados internacionais frente
ao nosso ordenamento jurídico, podemos dizer que tais normas possuem capacidade de paralisar
a eficácia de normas infraconstitucionais que as contrariem. Assim, em que pese os argumentos
dos quais lançaram mão os defensores da supralegalidade, entende-se que a discussão encontra
pouca relevância prática, na medida em que os direitos humanos, por sua própria natureza,
merecem posição de maior destaque em nossa legislação (Princípio Pro Homine).

Isto posto, caso verificada a incompatibilidade entre normas infraconstitucionais e as


normas internacionais, propõe-se a aplicação daquilo que Valério de Oliveira Mazzuoli
identificou como sendo um Controle de Convencionalidade, onde se buscaria verificar a
adequação da legislação face aos tratados internacionais que versam sobre Direitos Humanos.

5 Referências Bibliográficas
BARRETTO, Rafael. Direitos humanos. 4.ed. Salvador: JusPodvm, 2014.

BRASIL. Decreto 678. Promulgação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São
Jose da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Disponível em 18 jan. 2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Informativo STF, n. 531, 1º a 8 dez 2008. Disponível em . Acesso em
12 de mai.2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus no 72.131-1. Relator: Ministro Marco Aurélio. Diário
de Justiça, Brasília, DF, 23 nov. 1995b. Disponível em: . Acesso em: 14 jan. 2018.

11

KELSEN, Hans. Teoria Pura do direito: introdução à problemática científica do direito (versão
condensada pelo próprio autor). Tradução de J. Cretella Júnior e Agnes Cretella. 7. ed., São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016.

REZEK, Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

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Arquivo 1: INTERNATIONAL CRIMINAL LAW_WALLACECALMONROZETTI_10.02.2024.pdf (2218
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Termos comuns: 188
Similaridade: 3,31%
O texto abaixo é o conteúdo do documento INTERNATIONAL CRIMINAL
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Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://jus.com.br/artigos/71961/natureza-
juridica-interna-dos-tratados-internacionais (3637 termos)

=================================================================================

PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA E SUA FORÇA


NORMATIVA NO BRASIL

Wallace Calmon Rozetti


Mestrando em estudo Jurídico pela Must University Florida ?USA
([email protected])

Resumo:

Vemos que cada vez mais a utilização Pacto de San Jose da Costa Rica ? a Convenção
Americana de Direitos Humanos, nas cortes brasileiras, em especial o Supremo Tribunal
Federa. Vemos as disposições dos art. 5º, § 2º e § 3º da Constituição Federal, principalmente
no tocante à consignação de tratados de direito internacional e a sua aplicação no ordenamento
pátrio, é importante a consolidação dos conceitos basilares da temática. Neste sentido, partindo
do método dedutivo, o presente trabalho busca elucidar a natureza normativa do Pacto de San
Jose da Costa Rica ? a Convenção Americana de Direitos Humanos ? frente ao ordenamento
jurídico brasileiro, de modo a destacar sua força cogente em meio às leis domésticas.

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Palavras-chave: Convenção internacional. Justiça. Segurança Jurídica. Verdade. Supremo


Tribunal Federal.

Abstract

We see that Costa Rica's San Jose Pact ? the American Convention on Human Rights ? is
increasingly being used in Brazilian courts, especially the Federal Supreme Court. We see the
provisions of art. 5th, § 2nd and § 3rd of the Federal Constitution, mainly regarding the
consignment of international law treaties and their application in the national order, it is
important to consolidate the basic concepts of the subject. In this sense, starting from the
deductive method, the present work seeks to elucidate the normative nature of the Pact of San
2

Jose in Costa Rica ? the American Convention on Human Rights ? in relation to the Brazilian
legal system, in order to highlight its cogent force in the midst of domestic laws. .

Keywords: International convention. Justice. Legal Security. True. Federal Court


of Justice.

1 Introdução

O analise deste trabalho tem por propósito identificar a posição hierárquica ocupada
pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos) no
ordenamento jurídico brasileiro.

Veremos no desenvolvimento do presente estudo, as duas principais correntes adotadas


pelo Supremo Tribunal Federal, que tratam sobre a hierarquia dos tratados internacionais sobre
Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro. A primeira delas, embora minoritária,
concede ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter constitucional. A segunda, por sua vez,
atribui um caráter supralegal, isto é, abaixo da Constituição, mas acima das normas
infraconstitucionais.

Utilizamos a metodologia descritiva-analítica e partiu do método dedutivo para realizar


a abordagem das categorias consideradas fundamentais para o desenvolvimento do tema.

Os procedimentos técnicos adotados na pesquisa foram as pesquisas bibliográfica e


documental. O levantamento bibliográfico forneceu as bases teóricas e doutrinárias a partir de
livros e textos de autores de referência. Enquanto o enquadramento bibliográfico utilizou-se da
fundamentação dos autores sobre um assunto, o documental articulou normas que não tinham
receberam o devido tratamento analítico.

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2 LOCALIZAÇÃO DA NORMA INTERNACIONAL

Discutiu-se sobre a localização que ocuparia os tratados internacionais que versam


sobre direitos humanos no modelo de pirâmide normativa inspirado em Hans Kelsen adotado
pelo nosso ordenamento jurídico.

A discussão acerca da natureza jurídica das normas internacionais parecia ter sido
encerrada com a aprovação da Emenda Constitucional nº 45/2004 (BARRETO, 2014, p.67), a
qual acrescentou ao artigo 5º da Carta Magna um terceiro parágrafo, onde se lê:

Artigo 5º (...) § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos


que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por
três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.

Entretendo com a mencionada Emenda Constitucional teve sua aprovação na ano


2004, ou seja, alguns anos após a ratificação da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, a qual, por sua vez, passou a vigorar em 18 de julho de 1978.

Ressaltando que após a aprovação da referida os Tratados Internacionais aprovados


de acordo com o disposto no §3º do artigo 5º passariam a ter caráter constitucional, surgiu
um questionamento, sobretudo no que diz respeito aos instrumentos internacionais de
direitos humanos assinados antes do advento da referida emenda (REZEK, 2016, p. 266).

O questionamento foi tratada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que objetivando
dar maior relevância aos tratados que versavam sobre questões humanitárias, entendeu, por
4

05 (cinco) votos a 04 (quatro), por dar aos tratados anteriormente assinados um caráter
supralegal, isto é, abaixo da Constituição Federal mas acima das demais normas. Ocorre que
a orientação atualmente majoritária no Supremo Tribunal Federal brasileiro é contrária a
maior parte da doutrina, que defende o status de norma constitucional aos tratados sobre
direitos humanos.

3 CARÁTER CONSTITUCIONAL DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS


HUMANOS

No tocante a força normativa dos tratados internacionais sobre direitos humanos, muitos
juristas especialista no Direito Internacional defendem que tais instrumentos possuíam caráter
constitucional
Concedendo aos Direitos Humanos uma maior importância e tendo como pressuposto o
fato de que a Assembleia Nacional Constituinte fez constar entre os princípios fundamentais, a

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dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III) e a prevalência dos direitos humanos (artigo
4º, inciso II).
Isso porque a rigor do que consta no artigo 5º, § 2º da Constituição da República de
1988, esse Diploma Legal não tinha o poder de excluir direitos e garantias decorrentes de
tratados internacionais dos quais o Brasil fosse integrante.
Artigo 5º, (...) § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

O Jurista Valério de Oliveira Mazzuoli, descreve sobre a constitucionalidade dos


Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos:

Sempre defendemos que os tratados internacionais de direitos humanos ratificados


pelo Brasil têm índole e nível constitucionais, além de aplicação imediata, não
podendo ser revogados por lei ordinária posterior. E a nossa interpretação sempre foi
a seguinte: se a Constituição estabelece que os direitos e garantias nela elencados ?não
excluem? outros provenientes dos tratados internacionais ?em que a República
Federativa do Brasil seja parte?, é porque ela própria está a autorizar que esses direitos
e garantias internacionais constantes dos tratados de direitos humanos ratificados pelo
Brasil ?se incluem? no nosso ordenamento jurídico interno, passando a ser
considerados como se escritos na Constituição estivessem. É dizer, se os direitos e
garantias expressos no texto constitucional ?não excluem? outros provenientes dos
tratados internacionais em que o Brasil seja parte, é porque, pela lógica, na medida em
que tais instrumentos passam a assegurar outros direitos e garantias, a Constituição ?os
inclui? no seu catálogo de direitos protegidos, ampliando o seu ?bloco de
constitucionalidade?. (MAZZUOLI, 2011, p. 820)

O decano do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Celso de Mello, em seu voto no


julgamento do HC 87.585/TO, no ano de 2008, se posicionou em atribuir aos tratados e
convenções internacionais que versassem sobre direitos humanos o caráter de norma
constitucional, independentemente do quórum pelo qual foram introduzidos no ordenamento
jurídico pátrio.

No que pese, que em votos pretéritos, o Ministro Celso de Mello entendeu que todo e
qualquer tratado internacional, independentemente da matéria nele contida, carregava
consigo uma natureza jurídica que lhe garantiria posição hierárquica equivalente às leis
ordinárias. Entretanto, confirmando as tendências doutrinárias, o Ministro mudou seu
posicionamento, optando por atribuir aos tratados internacionais acerca de direitos humanos
um caráter especial em razão de sua própria natureza.

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Desta forma, coadunando à maioria da doutrina internacionalista, passou a entender


que os referidos instrumentos como normas constitucionais.

Após longa reflexão sobre o tema em causa, Senhora Presidente ? notadamente a


partir da decisão plenária desta Corte na ADI 1.480-MC/DF, Rel. Min. Celso de
Mello (RTJ 179/493-496) -, julguei necessário reavaliar certas formulações e
premissas teóricas que me conduziram, então, naquela oportunidade, a conferir, aos
tratados internacionais em geral (qualquer que fosse a matéria neles veiculada),
posição juridicamente equivalente à das leis ordinárias. As razões invocadas neste
julgamento, no entanto, Senhora Presidente, convencem-me da necessidade de se
distinguir, para efeito de definição de sua posição hierárquica em face do
ordenamento positivo interno, entre convenções internacionais sobre direitos
humanos (revestidas de ?supralegalidade?, como sustenta o eminente Ministro
Gilmar Mendes, ou impregnadas de natureza constitucional, como me inclino a
reconhecer), e tratados internacionais sobre as demais matérias (compreendidos
estes numa estrita perspectiva de paridade normativa com as leis ordinárias).

O Ministro Celso de Mello em seu voto esclarece que seu entendimento de diversos
estudiosos que também vislumbram conteúdo materialmente constitucional nos tratados
internacionais que tratam acerca dos direitos humanitários, independentemente do quórum
de votação. Assim, embasando-se nos ensinamentos da doutrina, entende o Ministro que o
teor daqueles dispositivos aprovados em momento anterior às modificações trazidas pela
Emenda Constitucional de número 45 ? como é o caso do Pacto de San Jose da Costa Rica
? compõem aquilo que fora batizado de bloco de constitucionalidade.

(...) por força do § 2° do art. 5°, (...) as normas destes tratados são materialmente
constitucionais. Integram, como diria Bidart Campos, o bloco de constitucionalidade,
ou seja, um conjunto normativo que contém disposições, princípios e valores que, no
caso, em consonância com a Constituição de 1988, são materialmente constitucionais,
ainda que estejam fora do texto da Constituição documental. O bloco de
constitucionalidade é, assim, a somatória daquilo que se adiciona à Constituição
escrita, em função dos valores e princípios nela consagrados. O bloco de
constitucionalidade imprime vigor à força normativa da Constituição e é por isso
parâmetro hermenêutico, de hierarquia superior, de integração, complementação e
ampliação do universo dos direitos constitucionais previstos, além de critério de
preenchimento de eventuais lacunas. Por essa razão, considero que os tratados
internacionais de direitos humanos recepcionados pelo ordenamento jurídico brasileiro
a partir da vigência da Constituição de 1988 e a entrada em vigor da Emenda
Constitucional n. 45 não são meras leis ordinárias, pois têm a hierarquia que advém de
sua inserção no bloco de constitucionalidade. Faço estas considerações porque
concebo, na linha de Flávia Piovesan, que o § 2° do art. 5°, na sistemática da
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Constituição de 1988, tem uma função clara: a de tecer ?a interação entre a ordem
jurídica interna e a ordem jurídica internacional?.

Ademais, um dos principais argumentos nos quais se baseiam os defensores da tese


adotada por Celso de Mello se funda no fato de que a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica) teria sido incorporada ao ordenamento jurídico
antes mesmo do advento da Emenda Constitucional de nº 45, tendo sido, portanto,
recepcionada pela Constituição Federal. Assim, o Ministro Celso de Mello afirmou que:

os tratados internacionais de direitos humanos anteriores à Constituição de 1988,


aos quais o Brasil aderiu e que foram validamente promulgados, inserindo-se na
ordem jurídica interna, têm a hierarquia de normas constitucionais, pois foram
como tais formalmente recepcionados pelo § 2° do art. 5° não só pela referência
nele contida aos tratados como também pelo dispositivo que afirma que os
direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ele adotados.

Ressaltamos o fato de se dispensar aos tratados internacionais sobre direitos humanos


um tratamento especial, somente vem a enfatizar a tendência mundial pela qual o indivíduo
passa a ocupar posição central no ordenamento jurídico moderno. Todavia, em que pese todo
os argumentos apresentados, a tese defendida pelo Ministro Celso de Mello, em
concordância com a doutrina amplamente majoritária, contou com a anuência de apenas
outros 03 (três) ministros, quais sejam os Ministros Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau,
não vindo, portanto, a prosperar em plenário.

Entretanto, caso houvesse sido adotado o entendimento supramencionado, na forma


como já fora explicitado, é certo que os tratados internacionais que versassem sobre Direitos
Humanos teriam caráter materialmente constitucional, o que lhes garantiria, portanto, o
8

condão de paralisar a eficácia jurídica de qualquer outra norma infraconstitucional que com
ele se confrontasse.

Para o Ministro Celso de Mello, todos os tratados internacionais de Direitos


Humanos, independentemente da forma como tenham ingressado no ordenamento jurídico,
possuem natureza materialmente constitucional, o que garantiria aos referidos instrumentos
a posição de maior destaque possível dentro no ordenamento jurídico. Entretanto, tal
entendimento veio a sucumbir perante os argumentos expostos pelo Ministro Gilmar
Mendes, que optou por conferir ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter supralegal.

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O Ministro Gilmar Mendes, em seu voto referente ao RE 466.343, optou por conferir
aos tratados internacionais em matéria de Direitos Humanos um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária, porém abaixo das normas constitucionais. Em seus dizeres:

parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de


supralegalidade aos tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna
pelo argumento de que os tratados sobre direitos humanos seriam
infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais
atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de
supralegalidade. Em outros termos, os tratados sobre direitos humanos não
poderiam afrontar a supremacia da Constituição, mas teriam lugar especial
reservado no ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria
subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção dos direitos
da pessoa humana.

Necessário consignar, a princípio, que é certo que os fundamentos por ele defendidos
apresentaram uma mudança de paradigma no Direito Brasileiro. Isso porque o modelo da
pirâmide normativa adotada em nosso país, mais precisamente aquele arquétipo proposto
por Hans Kelsen, não trazia consigo nenhuma espécie de regramento que se sobrepusesse à
9

legislação ordinária ou complementar, a não ser aquelas contidas na própria Constituição


Federal.

A tese da supralegalidade, todavia, trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro um


patamar na pirâmide normativa que até então era inexistente, inaugurando, de forma inédita,
verdadeira reinterpretação da teoria do escalonamento jurídico.

Necessário registrar que anuíram ao entendimento esposado por Gilmar Mendes os


Ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Em
realidade, os fundamentos apresentados tiveram por escopo negar aos tratados internacionais
surgidos antes da redação dada ao artigo 5º, §3º da Constituição Federal pela Emenda
Constitucional nº 45/2004 o caráter de normas constitucionais.

Assim, uma vez reconhecido o Pacto de San Jose da Costa Rica como sendo norma
supralegal ou mesmo materialmente constitucional, poderá ser usado como paradigma para
controle de convencionalidade.

4 Considerações Finais

O objetivo deste trabalho foi cumprido, na medida em que analisou, no plano concreto,
qual a força normativa exercida pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção
Interamericana sobre Direitos Humanos) no ordenamento jurídico brasileiro.

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Apresentadas as teses acerca da hierarquia dos tratados sobre Direitos Humanos no


ordenamento jurídico, verificou-se a predominância do entendimento no Supremo Tribunal
10

Federal que confere aos referidos instrumentos internacionais um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária mas abaixo da Constituição Federal.

Importante salientar, que em análise sobre a hierarquia dos tratados internacionais frente
ao nosso ordenamento jurídico, podemos dizer que tais normas possuem capacidade de paralisar
a eficácia de normas infraconstitucionais que as contrariem. Assim, em que pese os argumentos
dos quais lançaram mão os defensores da supralegalidade, entende-se que a discussão encontra
pouca relevância prática, na medida em que os direitos humanos, por sua própria natureza,
merecem posição de maior destaque em nossa legislação (Princípio Pro Homine).

Isto posto, caso verificada a incompatibilidade entre normas infraconstitucionais e as


normas internacionais, propõe-se a aplicação daquilo que Valério de Oliveira Mazzuoli
identificou como sendo um Controle de Convencionalidade, onde se buscaria verificar a
adequação da legislação face aos tratados internacionais que versam sobre Direitos Humanos.

5 Referências Bibliográficas
BARRETTO, Rafael. Direitos humanos. 4.ed. Salvador: JusPodvm, 2014.

BRASIL. Decreto 678. Promulgação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São
Jose da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Disponível em 18 jan. 2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Informativo STF, n. 531, 1º a 8 dez 2008. Disponível em . Acesso em
12 de mai.2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus no 72.131-1. Relator: Ministro Marco Aurélio. Diário
de Justiça, Brasília, DF, 23 nov. 1995b. Disponível em: . Acesso em: 14 jan. 2018.

11

KELSEN, Hans. Teoria Pura do direito: introdução à problemática científica do direito (versão
condensada pelo próprio autor). Tradução de J. Cretella Júnior e Agnes Cretella. 7. ed., São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016.

REZEK, Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

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Arquivo 1: INTERNATIONAL CRIMINAL LAW_WALLACECALMONROZETTI_10.02.2024.pdf (2218
termos)
Arquivo 2: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm (64537 termos)
Termos comuns: 160
Similaridade: 0,24%
O texto abaixo é o conteúdo do documento INTERNATIONAL CRIMINAL
LAW_WALLACECALMONROZETTI_10.02.2024.pdf (2218 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm (64537 termos)

=================================================================================

PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA E SUA FORÇA


NORMATIVA NO BRASIL

Wallace Calmon Rozetti


Mestrando em estudo Jurídico pela Must University Florida ?USA
([email protected])

Resumo:

Vemos que cada vez mais a utilização Pacto de San Jose da Costa Rica ? a Convenção
Americana de Direitos Humanos, nas cortes brasileiras, em especial o Supremo Tribunal
Federa. Vemos as disposições dos art. 5º, § 2º e § 3º da Constituição Federal, principalmente
no tocante à consignação de tratados de direito internacional e a sua aplicação no ordenamento
pátrio, é importante a consolidação dos conceitos basilares da temática. Neste sentido, partindo
do método dedutivo, o presente trabalho busca elucidar a natureza normativa do Pacto de San
Jose da Costa Rica ? a Convenção Americana de Direitos Humanos ? frente ao ordenamento
jurídico brasileiro, de modo a destacar sua força cogente em meio às leis domésticas.

Palavras-chave: Convenção internacional. Justiça. Segurança Jurídica. Verdade. Supremo

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Tribunal Federal.

Abstract

We see that Costa Rica's San Jose Pact ? the American Convention on Human Rights ? is
increasingly being used in Brazilian courts, especially the Federal Supreme Court. We see the
provisions of art. 5th, § 2nd and § 3rd of the Federal Constitution, mainly regarding the
consignment of international law treaties and their application in the national order, it is
important to consolidate the basic concepts of the subject. In this sense, starting from the
deductive method, the present work seeks to elucidate the normative nature of the Pact of San
2

Jose in Costa Rica ? the American Convention on Human Rights ? in relation to the Brazilian
legal system, in order to highlight its cogent force in the midst of domestic laws. .

Keywords: International convention. Justice. Legal Security. True. Federal Court


of Justice.

1 Introdução

O analise deste trabalho tem por propósito identificar a posição hierárquica ocupada
pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos) no
ordenamento jurídico brasileiro.

Veremos no desenvolvimento do presente estudo, as duas principais correntes adotadas


pelo Supremo Tribunal Federal, que tratam sobre a hierarquia dos tratados internacionais sobre
Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro. A primeira delas, embora minoritária,
concede ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter constitucional. A segunda, por sua vez,
atribui um caráter supralegal, isto é, abaixo da Constituição, mas acima das normas
infraconstitucionais.

Utilizamos a metodologia descritiva-analítica e partiu do método dedutivo para realizar


a abordagem das categorias consideradas fundamentais para o desenvolvimento do tema.

Os procedimentos técnicos adotados na pesquisa foram as pesquisas bibliográfica e


documental. O levantamento bibliográfico forneceu as bases teóricas e doutrinárias a partir de
livros e textos de autores de referência. Enquanto o enquadramento bibliográfico utilizou-se da
fundamentação dos autores sobre um assunto, o documental articulou normas que não tinham
receberam o devido tratamento analítico.

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2 LOCALIZAÇÃO DA NORMA INTERNACIONAL

Discutiu-se sobre a localização que ocuparia os tratados internacionais que versam


sobre direitos humanos no modelo de pirâmide normativa inspirado em Hans Kelsen adotado
pelo nosso ordenamento jurídico.

A discussão acerca da natureza jurídica das normas internacionais parecia ter sido
encerrada com a aprovação da Emenda Constitucional nº 45/2004 (BARRETO, 2014, p.67), a
qual acrescentou ao artigo 5º da Carta Magna um terceiro parágrafo, onde se lê:

Artigo 5º (...) § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos


que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por
três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.

Entretendo com a mencionada Emenda Constitucional teve sua aprovação na ano


2004, ou seja, alguns anos após a ratificação da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, a qual, por sua vez, passou a vigorar em 18 de julho de 1978.

Ressaltando que após a aprovação da referida os Tratados Internacionais aprovados


de acordo com o disposto no §3º do artigo 5º passariam a ter caráter constitucional, surgiu
um questionamento, sobretudo no que diz respeito aos instrumentos internacionais de
direitos humanos assinados antes do advento da referida emenda (REZEK, 2016, p. 266).

O questionamento foi tratada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que objetivando
dar maior relevância aos tratados que versavam sobre questões humanitárias, entendeu, por
4

05 (cinco) votos a 04 (quatro), por dar aos tratados anteriormente assinados um caráter
supralegal, isto é, abaixo da Constituição Federal mas acima das demais normas. Ocorre que
a orientação atualmente majoritária no Supremo Tribunal Federal brasileiro é contrária a
maior parte da doutrina, que defende o status de norma constitucional aos tratados sobre
direitos humanos.

3 CARÁTER CONSTITUCIONAL DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS


HUMANOS

No tocante a força normativa dos tratados internacionais sobre direitos humanos, muitos
juristas especialista no Direito Internacional defendem que tais instrumentos possuíam caráter
constitucional
Concedendo aos Direitos Humanos uma maior importância e tendo como pressuposto o
fato de que a Assembleia Nacional Constituinte fez constar entre os princípios fundamentais, a
dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III) e a prevalência dos direitos humanos (artigo

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4º, inciso II).


Isso porque a rigor do que consta no artigo 5º, § 2º da Constituição da República de
1988, esse Diploma Legal não tinha o poder de excluir direitos e garantias decorrentes de
tratados internacionais dos quais o Brasil fosse integrante.
Artigo 5º, (...) § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

O Jurista Valério de Oliveira Mazzuoli, descreve sobre a constitucionalidade dos


Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos:

Sempre defendemos que os tratados internacionais de direitos humanos ratificados


pelo Brasil têm índole e nível constitucionais, além de aplicação imediata, não
podendo ser revogados por lei ordinária posterior. E a nossa interpretação sempre foi
a seguinte: se a Constituição estabelece que os direitos e garantias nela elencados ?não
excluem? outros provenientes dos tratados internacionais ?em que a República
Federativa do Brasil seja parte?, é porque ela própria está a autorizar que esses direitos
e garantias internacionais constantes dos tratados de direitos humanos ratificados pelo
Brasil ?se incluem? no nosso ordenamento jurídico interno, passando a ser
considerados como se escritos na Constituição estivessem. É dizer, se os direitos e
garantias expressos no texto constitucional ?não excluem? outros provenientes dos
tratados internacionais em que o Brasil seja parte, é porque, pela lógica, na medida em
que tais instrumentos passam a assegurar outros direitos e garantias, a Constituição ?os
inclui? no seu catálogo de direitos protegidos, ampliando o seu ?bloco de
constitucionalidade?. (MAZZUOLI, 2011, p. 820)

O decano do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Celso de Mello, em seu voto no


julgamento do HC 87.585/TO, no ano de 2008, se posicionou em atribuir aos tratados e
convenções internacionais que versassem sobre direitos humanos o caráter de norma
constitucional, independentemente do quórum pelo qual foram introduzidos no ordenamento
jurídico pátrio.

No que pese, que em votos pretéritos, o Ministro Celso de Mello entendeu que todo e
qualquer tratado internacional, independentemente da matéria nele contida, carregava
consigo uma natureza jurídica que lhe garantiria posição hierárquica equivalente às leis
ordinárias. Entretanto, confirmando as tendências doutrinárias, o Ministro mudou seu
posicionamento, optando por atribuir aos tratados internacionais acerca de direitos humanos
um caráter especial em razão de sua própria natureza.

Desta forma, coadunando à maioria da doutrina internacionalista, passou a entender

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que os referidos instrumentos como normas constitucionais.

Após longa reflexão sobre o tema em causa, Senhora Presidente ? notadamente a


partir da decisão plenária desta Corte na ADI 1.480-MC/DF, Rel. Min. Celso de
Mello (RTJ 179/493-496) -, julguei necessário reavaliar certas formulações e
premissas teóricas que me conduziram, então, naquela oportunidade, a conferir, aos
tratados internacionais em geral (qualquer que fosse a matéria neles veiculada),
posição juridicamente equivalente à das leis ordinárias. As razões invocadas neste
julgamento, no entanto, Senhora Presidente, convencem-me da necessidade de se
distinguir, para efeito de definição de sua posição hierárquica em face do
ordenamento positivo interno, entre convenções internacionais sobre direitos
humanos (revestidas de ?supralegalidade?, como sustenta o eminente Ministro
Gilmar Mendes, ou impregnadas de natureza constitucional, como me inclino a
reconhecer), e tratados internacionais sobre as demais matérias (compreendidos
estes numa estrita perspectiva de paridade normativa com as leis ordinárias).

O Ministro Celso de Mello em seu voto esclarece que seu entendimento de diversos
estudiosos que também vislumbram conteúdo materialmente constitucional nos tratados
internacionais que tratam acerca dos direitos humanitários, independentemente do quórum
de votação. Assim, embasando-se nos ensinamentos da doutrina, entende o Ministro que o
teor daqueles dispositivos aprovados em momento anterior às modificações trazidas pela
Emenda Constitucional de número 45 ? como é o caso do Pacto de San Jose da Costa Rica
? compõem aquilo que fora batizado de bloco de constitucionalidade.

(...) por força do § 2° do art. 5°, (...) as normas destes tratados são materialmente
constitucionais. Integram, como diria Bidart Campos, o bloco de constitucionalidade,
ou seja, um conjunto normativo que contém disposições, princípios e valores que, no
caso, em consonância com a Constituição de 1988, são materialmente constitucionais,
ainda que estejam fora do texto da Constituição documental. O bloco de
constitucionalidade é, assim, a somatória daquilo que se adiciona à Constituição
escrita, em função dos valores e princípios nela consagrados. O bloco de
constitucionalidade imprime vigor à força normativa da Constituição e é por isso
parâmetro hermenêutico, de hierarquia superior, de integração, complementação e
ampliação do universo dos direitos constitucionais previstos, além de critério de
preenchimento de eventuais lacunas. Por essa razão, considero que os tratados
internacionais de direitos humanos recepcionados pelo ordenamento jurídico brasileiro
a partir da vigência da Constituição de 1988 e a entrada em vigor da Emenda
Constitucional n. 45 não são meras leis ordinárias, pois têm a hierarquia que advém de
sua inserção no bloco de constitucionalidade. Faço estas considerações porque
concebo, na linha de Flávia Piovesan, que o § 2° do art. 5°, na sistemática da
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Constituição de 1988, tem uma função clara: a de tecer ?a interação entre a ordem
jurídica interna e a ordem jurídica internacional?.

Ademais, um dos principais argumentos nos quais se baseiam os defensores da tese


adotada por Celso de Mello se funda no fato de que a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica) teria sido incorporada ao ordenamento jurídico
antes mesmo do advento da Emenda Constitucional de nº 45, tendo sido, portanto,
recepcionada pela Constituição Federal. Assim, o Ministro Celso de Mello afirmou que:

os tratados internacionais de direitos humanos anteriores à Constituição de 1988,


aos quais o Brasil aderiu e que foram validamente promulgados, inserindo-se na
ordem jurídica interna, têm a hierarquia de normas constitucionais, pois foram
como tais formalmente recepcionados pelo § 2° do art. 5° não só pela referência
nele contida aos tratados como também pelo dispositivo que afirma que os
direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ele adotados.

Ressaltamos o fato de se dispensar aos tratados internacionais sobre direitos humanos


um tratamento especial, somente vem a enfatizar a tendência mundial pela qual o indivíduo
passa a ocupar posição central no ordenamento jurídico moderno. Todavia, em que pese todo
os argumentos apresentados, a tese defendida pelo Ministro Celso de Mello, em
concordância com a doutrina amplamente majoritária, contou com a anuência de apenas
outros 03 (três) ministros, quais sejam os Ministros Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau,
não vindo, portanto, a prosperar em plenário.

Entretanto, caso houvesse sido adotado o entendimento supramencionado, na forma


como já fora explicitado, é certo que os tratados internacionais que versassem sobre Direitos
Humanos teriam caráter materialmente constitucional, o que lhes garantiria, portanto, o
8

condão de paralisar a eficácia jurídica de qualquer outra norma infraconstitucional que com
ele se confrontasse.

Para o Ministro Celso de Mello, todos os tratados internacionais de Direitos


Humanos, independentemente da forma como tenham ingressado no ordenamento jurídico,
possuem natureza materialmente constitucional, o que garantiria aos referidos instrumentos
a posição de maior destaque possível dentro no ordenamento jurídico. Entretanto, tal
entendimento veio a sucumbir perante os argumentos expostos pelo Ministro Gilmar
Mendes, que optou por conferir ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter supralegal.

O Ministro Gilmar Mendes, em seu voto referente ao RE 466.343, optou por conferir

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aos tratados internacionais em matéria de Direitos Humanos um caráter supralegal, isto é,


acima da legislação ordinária, porém abaixo das normas constitucionais. Em seus dizeres:

parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de


supralegalidade aos tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna
pelo argumento de que os tratados sobre direitos humanos seriam
infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais
atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de
supralegalidade. Em outros termos, os tratados sobre direitos humanos não
poderiam afrontar a supremacia da Constituição, mas teriam lugar especial
reservado no ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria
subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção dos direitos
da pessoa humana.

Necessário consignar, a princípio, que é certo que os fundamentos por ele defendidos
apresentaram uma mudança de paradigma no Direito Brasileiro. Isso porque o modelo da
pirâmide normativa adotada em nosso país, mais precisamente aquele arquétipo proposto
por Hans Kelsen, não trazia consigo nenhuma espécie de regramento que se sobrepusesse à
9

legislação ordinária ou complementar, a não ser aquelas contidas na própria Constituição


Federal.

A tese da supralegalidade, todavia, trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro um


patamar na pirâmide normativa que até então era inexistente, inaugurando, de forma inédita,
verdadeira reinterpretação da teoria do escalonamento jurídico.

Necessário registrar que anuíram ao entendimento esposado por Gilmar Mendes os


Ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Em
realidade, os fundamentos apresentados tiveram por escopo negar aos tratados internacionais
surgidos antes da redação dada ao artigo 5º, §3º da Constituição Federal pela Emenda
Constitucional nº 45/2004 o caráter de normas constitucionais.

Assim, uma vez reconhecido o Pacto de San Jose da Costa Rica como sendo norma
supralegal ou mesmo materialmente constitucional, poderá ser usado como paradigma para
controle de convencionalidade.

4 Considerações Finais

O objetivo deste trabalho foi cumprido, na medida em que analisou, no plano concreto,
qual a força normativa exercida pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção
Interamericana sobre Direitos Humanos) no ordenamento jurídico brasileiro.

Apresentadas as teses acerca da hierarquia dos tratados sobre Direitos Humanos no

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ordenamento jurídico, verificou-se a predominância do entendimento no Supremo Tribunal


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Federal que confere aos referidos instrumentos internacionais um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária mas abaixo da Constituição Federal.

Importante salientar, que em análise sobre a hierarquia dos tratados internacionais frente
ao nosso ordenamento jurídico, podemos dizer que tais normas possuem capacidade de paralisar
a eficácia de normas infraconstitucionais que as contrariem. Assim, em que pese os argumentos
dos quais lançaram mão os defensores da supralegalidade, entende-se que a discussão encontra
pouca relevância prática, na medida em que os direitos humanos, por sua própria natureza,
merecem posição de maior destaque em nossa legislação (Princípio Pro Homine).

Isto posto, caso verificada a incompatibilidade entre normas infraconstitucionais e as


normas internacionais, propõe-se a aplicação daquilo que Valério de Oliveira Mazzuoli
identificou como sendo um Controle de Convencionalidade, onde se buscaria verificar a
adequação da legislação face aos tratados internacionais que versam sobre Direitos Humanos.

5 Referências Bibliográficas
BARRETTO, Rafael. Direitos humanos. 4.ed. Salvador: JusPodvm, 2014.

BRASIL. Decreto 678. Promulgação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São
Jose da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Disponível em 18 jan. 2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Informativo STF, n. 531, 1º a 8 dez 2008. Disponível em . Acesso em
12 de mai.2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus no 72.131-1. Relator: Ministro Marco Aurélio. Diário
de Justiça, Brasília, DF, 23 nov. 1995b. Disponível em: . Acesso em: 14 jan. 2018.

11

KELSEN, Hans. Teoria Pura do direito: introdução à problemática científica do direito (versão
condensada pelo próprio autor). Tradução de J. Cretella Júnior e Agnes Cretella. 7. ed., São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016.

REZEK, Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

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Arquivo 1: INTERNATIONAL CRIMINAL LAW_WALLACECALMONROZETTI_10.02.2024.pdf (2218
termos)
Arquivo 2: https://www.venice.coe.int/webforms/documents/default.aspx?pdffile=CDL-STD(1993)006-e
(7610 termos)
Termos comuns: 11
Similaridade: 0,11%
O texto abaixo é o conteúdo do documento INTERNATIONAL CRIMINAL
LAW_WALLACECALMONROZETTI_10.02.2024.pdf (2218 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://www.venice.coe.int/webforms/documents/default.aspx?pdffile=CDL-STD(1993)006-e (7610 termos)

=================================================================================

PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA E SUA FORÇA


NORMATIVA NO BRASIL

Wallace Calmon Rozetti


Mestrando em estudo Jurídico pela Must University Florida ?USA
([email protected])

Resumo:

Vemos que cada vez mais a utilização Pacto de San Jose da Costa Rica ? a Convenção
Americana de Direitos Humanos, nas cortes brasileiras, em especial o Supremo Tribunal
Federa. Vemos as disposições dos art. 5º, § 2º e § 3º da Constituição Federal, principalmente
no tocante à consignação de tratados de direito internacional e a sua aplicação no ordenamento
pátrio, é importante a consolidação dos conceitos basilares da temática. Neste sentido, partindo
do método dedutivo, o presente trabalho busca elucidar a natureza normativa do Pacto de San
Jose da Costa Rica ? a Convenção Americana de Direitos Humanos ? frente ao ordenamento
jurídico brasileiro, de modo a destacar sua força cogente em meio às leis domésticas.

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Palavras-chave: Convenção internacional. Justiça. Segurança Jurídica. Verdade. Supremo


Tribunal Federal.

Abstract

We see that Costa Rica's San Jose Pact ? the American Convention on Human Rights ? is
increasingly being used in Brazilian courts, especially the Federal Supreme Court. We see the
provisions of art. 5th, § 2nd and § 3rd of the Federal Constitution, mainly regarding the
consignment of international law treaties and their application in the national order, it is
important to consolidate the basic concepts of the subject. In this sense, starting from the
deductive method, the present work seeks to elucidate the normative nature of the Pact of San
2

Jose in Costa Rica ? the American Convention on Human Rights ? in relation to the Brazilian
legal system, in order to highlight its cogent force in the midst of domestic laws. .

Keywords: International convention. Justice. Legal Security. True. Federal Court


of Justice.

1 Introdução

O analise deste trabalho tem por propósito identificar a posição hierárquica ocupada
pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos) no
ordenamento jurídico brasileiro.

Veremos no desenvolvimento do presente estudo, as duas principais correntes adotadas


pelo Supremo Tribunal Federal, que tratam sobre a hierarquia dos tratados internacionais sobre
Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro. A primeira delas, embora minoritária,
concede ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter constitucional. A segunda, por sua vez,
atribui um caráter supralegal, isto é, abaixo da Constituição, mas acima das normas
infraconstitucionais.

Utilizamos a metodologia descritiva-analítica e partiu do método dedutivo para realizar


a abordagem das categorias consideradas fundamentais para o desenvolvimento do tema.

Os procedimentos técnicos adotados na pesquisa foram as pesquisas bibliográfica e


documental. O levantamento bibliográfico forneceu as bases teóricas e doutrinárias a partir de
livros e textos de autores de referência. Enquanto o enquadramento bibliográfico utilizou-se da
fundamentação dos autores sobre um assunto, o documental articulou normas que não tinham
receberam o devido tratamento analítico.

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2 LOCALIZAÇÃO DA NORMA INTERNACIONAL

Discutiu-se sobre a localização que ocuparia os tratados internacionais que versam


sobre direitos humanos no modelo de pirâmide normativa inspirado em Hans Kelsen adotado
pelo nosso ordenamento jurídico.

A discussão acerca da natureza jurídica das normas internacionais parecia ter sido
encerrada com a aprovação da Emenda Constitucional nº 45/2004 (BARRETO, 2014, p.67), a
qual acrescentou ao artigo 5º da Carta Magna um terceiro parágrafo, onde se lê:

Artigo 5º (...) § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos


que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por
três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.

Entretendo com a mencionada Emenda Constitucional teve sua aprovação na ano


2004, ou seja, alguns anos após a ratificação da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, a qual, por sua vez, passou a vigorar em 18 de julho de 1978.

Ressaltando que após a aprovação da referida os Tratados Internacionais aprovados


de acordo com o disposto no §3º do artigo 5º passariam a ter caráter constitucional, surgiu
um questionamento, sobretudo no que diz respeito aos instrumentos internacionais de
direitos humanos assinados antes do advento da referida emenda (REZEK, 2016, p. 266).

O questionamento foi tratada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que objetivando
dar maior relevância aos tratados que versavam sobre questões humanitárias, entendeu, por
4

05 (cinco) votos a 04 (quatro), por dar aos tratados anteriormente assinados um caráter
supralegal, isto é, abaixo da Constituição Federal mas acima das demais normas. Ocorre que
a orientação atualmente majoritária no Supremo Tribunal Federal brasileiro é contrária a
maior parte da doutrina, que defende o status de norma constitucional aos tratados sobre
direitos humanos.

3 CARÁTER CONSTITUCIONAL DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS


HUMANOS

No tocante a força normativa dos tratados internacionais sobre direitos humanos, muitos
juristas especialista no Direito Internacional defendem que tais instrumentos possuíam caráter
constitucional
Concedendo aos Direitos Humanos uma maior importância e tendo como pressuposto o
fato de que a Assembleia Nacional Constituinte fez constar entre os princípios fundamentais, a

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dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III) e a prevalência dos direitos humanos (artigo
4º, inciso II).
Isso porque a rigor do que consta no artigo 5º, § 2º da Constituição da República de
1988, esse Diploma Legal não tinha o poder de excluir direitos e garantias decorrentes de
tratados internacionais dos quais o Brasil fosse integrante.
Artigo 5º, (...) § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

O Jurista Valério de Oliveira Mazzuoli, descreve sobre a constitucionalidade dos


Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos:

Sempre defendemos que os tratados internacionais de direitos humanos ratificados


pelo Brasil têm índole e nível constitucionais, além de aplicação imediata, não
podendo ser revogados por lei ordinária posterior. E a nossa interpretação sempre foi
a seguinte: se a Constituição estabelece que os direitos e garantias nela elencados ?não
excluem? outros provenientes dos tratados internacionais ?em que a República
Federativa do Brasil seja parte?, é porque ela própria está a autorizar que esses direitos
e garantias internacionais constantes dos tratados de direitos humanos ratificados pelo
Brasil ?se incluem? no nosso ordenamento jurídico interno, passando a ser
considerados como se escritos na Constituição estivessem. É dizer, se os direitos e
garantias expressos no texto constitucional ?não excluem? outros provenientes dos
tratados internacionais em que o Brasil seja parte, é porque, pela lógica, na medida em
que tais instrumentos passam a assegurar outros direitos e garantias, a Constituição ?os
inclui? no seu catálogo de direitos protegidos, ampliando o seu ?bloco de
constitucionalidade?. (MAZZUOLI, 2011, p. 820)

O decano do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Celso de Mello, em seu voto no


julgamento do HC 87.585/TO, no ano de 2008, se posicionou em atribuir aos tratados e
convenções internacionais que versassem sobre direitos humanos o caráter de norma
constitucional, independentemente do quórum pelo qual foram introduzidos no ordenamento
jurídico pátrio.

No que pese, que em votos pretéritos, o Ministro Celso de Mello entendeu que todo e
qualquer tratado internacional, independentemente da matéria nele contida, carregava
consigo uma natureza jurídica que lhe garantiria posição hierárquica equivalente às leis
ordinárias. Entretanto, confirmando as tendências doutrinárias, o Ministro mudou seu
posicionamento, optando por atribuir aos tratados internacionais acerca de direitos humanos
um caráter especial em razão de sua própria natureza.

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Desta forma, coadunando à maioria da doutrina internacionalista, passou a entender


que os referidos instrumentos como normas constitucionais.

Após longa reflexão sobre o tema em causa, Senhora Presidente ? notadamente a


partir da decisão plenária desta Corte na ADI 1.480-MC/DF, Rel. Min. Celso de
Mello (RTJ 179/493-496) -, julguei necessário reavaliar certas formulações e
premissas teóricas que me conduziram, então, naquela oportunidade, a conferir, aos
tratados internacionais em geral (qualquer que fosse a matéria neles veiculada),
posição juridicamente equivalente à das leis ordinárias. As razões invocadas neste
julgamento, no entanto, Senhora Presidente, convencem-me da necessidade de se
distinguir, para efeito de definição de sua posição hierárquica em face do
ordenamento positivo interno, entre convenções internacionais sobre direitos
humanos (revestidas de ?supralegalidade?, como sustenta o eminente Ministro
Gilmar Mendes, ou impregnadas de natureza constitucional, como me inclino a
reconhecer), e tratados internacionais sobre as demais matérias (compreendidos
estes numa estrita perspectiva de paridade normativa com as leis ordinárias).

O Ministro Celso de Mello em seu voto esclarece que seu entendimento de diversos
estudiosos que também vislumbram conteúdo materialmente constitucional nos tratados
internacionais que tratam acerca dos direitos humanitários, independentemente do quórum
de votação. Assim, embasando-se nos ensinamentos da doutrina, entende o Ministro que o
teor daqueles dispositivos aprovados em momento anterior às modificações trazidas pela
Emenda Constitucional de número 45 ? como é o caso do Pacto de San Jose da Costa Rica
? compõem aquilo que fora batizado de bloco de constitucionalidade.

(...) por força do § 2° do art. 5°, (...) as normas destes tratados são materialmente
constitucionais. Integram, como diria Bidart Campos, o bloco de constitucionalidade,
ou seja, um conjunto normativo que contém disposições, princípios e valores que, no
caso, em consonância com a Constituição de 1988, são materialmente constitucionais,
ainda que estejam fora do texto da Constituição documental. O bloco de
constitucionalidade é, assim, a somatória daquilo que se adiciona à Constituição
escrita, em função dos valores e princípios nela consagrados. O bloco de
constitucionalidade imprime vigor à força normativa da Constituição e é por isso
parâmetro hermenêutico, de hierarquia superior, de integração, complementação e
ampliação do universo dos direitos constitucionais previstos, além de critério de
preenchimento de eventuais lacunas. Por essa razão, considero que os tratados
internacionais de direitos humanos recepcionados pelo ordenamento jurídico brasileiro
a partir da vigência da Constituição de 1988 e a entrada em vigor da Emenda
Constitucional n. 45 não são meras leis ordinárias, pois têm a hierarquia que advém de
sua inserção no bloco de constitucionalidade. Faço estas considerações porque
concebo, na linha de Flávia Piovesan, que o § 2° do art. 5°, na sistemática da
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Constituição de 1988, tem uma função clara: a de tecer ?a interação entre a ordem
jurídica interna e a ordem jurídica internacional?.

Ademais, um dos principais argumentos nos quais se baseiam os defensores da tese


adotada por Celso de Mello se funda no fato de que a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica) teria sido incorporada ao ordenamento jurídico
antes mesmo do advento da Emenda Constitucional de nº 45, tendo sido, portanto,
recepcionada pela Constituição Federal. Assim, o Ministro Celso de Mello afirmou que:

os tratados internacionais de direitos humanos anteriores à Constituição de 1988,


aos quais o Brasil aderiu e que foram validamente promulgados, inserindo-se na
ordem jurídica interna, têm a hierarquia de normas constitucionais, pois foram
como tais formalmente recepcionados pelo § 2° do art. 5° não só pela referência
nele contida aos tratados como também pelo dispositivo que afirma que os
direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ele adotados.

Ressaltamos o fato de se dispensar aos tratados internacionais sobre direitos humanos


um tratamento especial, somente vem a enfatizar a tendência mundial pela qual o indivíduo
passa a ocupar posição central no ordenamento jurídico moderno. Todavia, em que pese todo
os argumentos apresentados, a tese defendida pelo Ministro Celso de Mello, em
concordância com a doutrina amplamente majoritária, contou com a anuência de apenas
outros 03 (três) ministros, quais sejam os Ministros Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau,
não vindo, portanto, a prosperar em plenário.

Entretanto, caso houvesse sido adotado o entendimento supramencionado, na forma


como já fora explicitado, é certo que os tratados internacionais que versassem sobre Direitos
Humanos teriam caráter materialmente constitucional, o que lhes garantiria, portanto, o
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condão de paralisar a eficácia jurídica de qualquer outra norma infraconstitucional que com
ele se confrontasse.

Para o Ministro Celso de Mello, todos os tratados internacionais de Direitos


Humanos, independentemente da forma como tenham ingressado no ordenamento jurídico,
possuem natureza materialmente constitucional, o que garantiria aos referidos instrumentos
a posição de maior destaque possível dentro no ordenamento jurídico. Entretanto, tal
entendimento veio a sucumbir perante os argumentos expostos pelo Ministro Gilmar
Mendes, que optou por conferir ao Pacto de San Jose da Costa Rica um caráter supralegal.

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O Ministro Gilmar Mendes, em seu voto referente ao RE 466.343, optou por conferir
aos tratados internacionais em matéria de Direitos Humanos um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária, porém abaixo das normas constitucionais. Em seus dizeres:

parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de


supralegalidade aos tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna
pelo argumento de que os tratados sobre direitos humanos seriam
infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais
atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de
supralegalidade. Em outros termos, os tratados sobre direitos humanos não
poderiam afrontar a supremacia da Constituição, mas teriam lugar especial
reservado no ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria
subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção dos direitos
da pessoa humana.

Necessário consignar, a princípio, que é certo que os fundamentos por ele defendidos
apresentaram uma mudança de paradigma no Direito Brasileiro. Isso porque o modelo da
pirâmide normativa adotada em nosso país, mais precisamente aquele arquétipo proposto
por Hans Kelsen, não trazia consigo nenhuma espécie de regramento que se sobrepusesse à
9

legislação ordinária ou complementar, a não ser aquelas contidas na própria Constituição


Federal.

A tese da supralegalidade, todavia, trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro um


patamar na pirâmide normativa que até então era inexistente, inaugurando, de forma inédita,
verdadeira reinterpretação da teoria do escalonamento jurídico.

Necessário registrar que anuíram ao entendimento esposado por Gilmar Mendes os


Ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Em
realidade, os fundamentos apresentados tiveram por escopo negar aos tratados internacionais
surgidos antes da redação dada ao artigo 5º, §3º da Constituição Federal pela Emenda
Constitucional nº 45/2004 o caráter de normas constitucionais.

Assim, uma vez reconhecido o Pacto de San Jose da Costa Rica como sendo norma
supralegal ou mesmo materialmente constitucional, poderá ser usado como paradigma para
controle de convencionalidade.

4 Considerações Finais

O objetivo deste trabalho foi cumprido, na medida em que analisou, no plano concreto,
qual a força normativa exercida pelo Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção
Interamericana sobre Direitos Humanos) no ordenamento jurídico brasileiro.

Relatório gerado por CopySpider Software 2024-02-10 16:55:13


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Apresentadas as teses acerca da hierarquia dos tratados sobre Direitos Humanos no


ordenamento jurídico, verificou-se a predominância do entendimento no Supremo Tribunal
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Federal que confere aos referidos instrumentos internacionais um caráter supralegal, isto é,
acima da legislação ordinária mas abaixo da Constituição Federal.

Importante salientar, que em análise sobre a hierarquia dos tratados internacionais frente
ao nosso ordenamento jurídico, podemos dizer que tais normas possuem capacidade de paralisar
a eficácia de normas infraconstitucionais que as contrariem. Assim, em que pese os argumentos
dos quais lançaram mão os defensores da supralegalidade, entende-se que a discussão encontra
pouca relevância prática, na medida em que os direitos humanos, por sua própria natureza,
merecem posição de maior destaque em nossa legislação (Princípio Pro Homine).

Isto posto, caso verificada a incompatibilidade entre normas infraconstitucionais e as


normas internacionais, propõe-se a aplicação daquilo que Valério de Oliveira Mazzuoli
identificou como sendo um Controle de Convencionalidade, onde se buscaria verificar a
adequação da legislação face aos tratados internacionais que versam sobre Direitos Humanos.

5 Referências Bibliográficas
BARRETTO, Rafael. Direitos humanos. 4.ed. Salvador: JusPodvm, 2014.

BRASIL. Decreto 678. Promulgação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São
Jose da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Disponível em 18 jan. 2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Informativo STF, n. 531, 1º a 8 dez 2008. Disponível em . Acesso em
12 de mai.2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus no 72.131-1. Relator: Ministro Marco Aurélio. Diário
de Justiça, Brasília, DF, 23 nov. 1995b. Disponível em: . Acesso em: 14 jan. 2018.

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KELSEN, Hans. Teoria Pura do direito: introdução à problemática científica do direito (versão
condensada pelo próprio autor). Tradução de J. Cretella Júnior e Agnes Cretella. 7. ed., São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016.

REZEK, Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

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