Flávio Floriano Entrega Final

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FLÁVIO D`ÁVILA FLORIANO

ESTERÓIDES ANABOLIZANTES, PADRÃO CORPORAL – SUCESSO E


COMÉRCIO: CRÍTICA DE UMA HISTÓRIA DE VIDA

Florianópolis
2003
FLÁVIO D`ÁVILA FLORIANO

ESTERÓIDES ANABOLIZANTES, PADRÃO CORPORAL – SUCESSO E


COMÉRCIO: CRÍTICA DE UMA HISTÓRIA DE VIDA

Monografia apresentada a
Coordenadoria de Graduação do
Centro de Desportos da
Universidade Federal de Santa
Catarina, como requisito parcial para
a obtenção do título de Licenciado
em Educação Física.

Orientador: Carlos Luiz Cardoso

Florianópolis
2003

2
TERMO DE APROVAÇÃO

FLÁVIO D`ÁVILA FLORIANO

ESTERÓIDES ANABOLIZANTES, PADRÃO CORPORAL – SUCESSO E


COMÉRCIO: CRÍTICA DE UMA HISTÓRIA DE VIDA

Monografia aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de


licenciado em Educação Física, do curso de Graduação em Educação
Física do Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina,
pela seguinte banca examinadora:

_____________________________________
Prof. Ms. Carlos Luiz Cardoso - orientador

_____________________________________
Prof. Dr. Elenor Kunz

_____________________________________
Prof. Dr. Giovanni De Lorenzi Pires

____________________________________
Prof. Dr. Edgar Matiello Júnior - suplente

Florianópolis, Fevereiro de 2003

3
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais Ademir Rodrigues Floriano e


Elvira Souza D`Ávila, por tudo que fizeram por mim com amor e dedicação,
dando-me a possibilidade de chegar até aqui.
A minha namorada e companheira, Geisa Pires pelo carinho e amor
para comigo apresentado, desde o começo da nossa união.
A minha família, que muito fizeram para com a minha vida,
principalmente a minha tia Marimília e minha Vó Maria, que tanto me
incentivaram.
Agradeço aos meus Professores, principalmente aos professores,
Elenor Kunz, Paulo Renato Capela, Iara Regina Damiani, Maurício Roberto da
Silva e meu orientador Carlos Luiz Cardoso, que me fizeram abrir um olhar
mais crítico sobre a Educação Física.
A meus amigos de caminhada deste curso, todos com o seu devido
valor.
E agradeço finalmente a DEUS.

4
SUMÁRIO

CAPÍTULO I - O PROBLEMA............................................................................ 8

1.1 - INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 8

1.2 - OBJETIVOS ......................................................................................................... 10


1.2.1 - OBJETIVO GERAL: .................................................................................... 10
1.2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS: .................................................................... 10

1.3 - JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 11

1.4 - DELIMITAÇÕES DO ESTUDO ........................................................................ 12

CAPÍTULO II - REVISÃO DE LITERATURA ................................................... 13

2.1 - A SOCIEDADE E OS ESTEROIDES................................................................ 13


2.1.1 - AS DIFERENTES VISÕES DE CORPO DENTRO DA SOCIEDADE 13
2.1.2 - O CORPO E O ESPORTE......................................................................... 14
2.1.3 - O CULTO AO CORPO ............................................................................... 15
2.1.2 - UMA COMERCIALIZAÇÃO DO CORPO ................................................ 17
2.1.4 - PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE VISAM UMA EMANCIPAÇÃO ..... 18

2.2 - OS ESTERÓIDES ................................................................................................ 19


2.2.1 - OS ESTERÓIDES ANABÓLICOS ............................................................ 20

2.3 - SOBRE A DOPAGEM E OS ESTERÓIDES .................................................... 22

2.4 - OS TIPOS DE ESTERÓIDES ............................................................................ 24

2.5 - O FUNCIONAMENTO DOS ESTERÓIDES NO ORGANISMO .................. 24

2.6 - INDICAÇÕES CLÍNICAS PARA O USO DE ESTERÓIDES


ANABÓLICOS ............................................................................................................. 25

2.7 - EFEITOS DOS E.A.AS NO ORGANISMO HUMANO .................................. 26


2.7.1 - OS EFEITOS ERGOGÊNICOS DOS E.E.AS......................................... 27
2.7.1a - Aumento da massa muscular ................................................................. 27
2.7.1b - Aumento da força muscular ................................................................... 27
2.7.1c - Melhora No desempenho aeróbico ......................................................... 27

5
2.7.2 - EFEITOS ADVERSOS .............................................................................. 28
2.7.2a - Endócrino e reprodutivo ......................................................................... 28
2.7.2b - Músculo esquelético ................................................................................ 29
2.7.2c - Renais ....................................................................................................... 29
2.7.2d - Imunológicos ............................................................................................ 30
2.7.2e - Dermatológicos ........................................................................................ 30
2.7.2f - Gastro-intestinal....................................................................................... 30
2.7.2g - Cardiovasculares ..................................................................................... 30
2.7.2h - Hematológicos ......................................................................................... 31
2.7.2i - Psicológicos ............................................................................................... 31

CAPÍTULO III - METODOLOGIA ..................................................................... 33

3.1 - CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO ................................................................. 33

3.2 - CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE ESTUDO .......................................... 33

3.3 - PROCEDIMENTOS E RECURSOS.................................................................. 34


3.3.1 - COLETAS E REGISTROS DE DADOS................................................... 34
3.3.2 - SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS ............................................................ 34
3.3.3 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ................................................. 35

CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS


DADOS ............................................................................................................ 36

4. 1 ANÁLISE DA ENTREVISTA/CONVERSA ...................................................... 36


4.1.1 BLOCO 1 - Sobre a Musculação (Antes dos Anabolizantes). ................ 36
4.1.2 BLOCO 2 - Sobre a musculação e os esteróides. .................................. 38
4.1.3 BLOCO 3 - Sobre o uso dos Esteróides anabolizantes. ......................... 40
4.1.4 BLOCO 4 - Os efeitos fisiológicos, psicológicos do uso. ....................... 43
4.1-5 BLOCO 5 - Os efeitos sociais do uso. ....................................................... 45
4.1.6 BLOCO 6 - Síntese de vida e expectativas para o futuro. ................... 49

CAPÍTULO V - CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES.......................... 54

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 58

ANEXOS .......................................................................................................... 62

6
RESUMO

TÍTULO: ESTERÓIDES ANABOLIZANTES, PADRÃO CORPORAL –


SUCESSO E COMÉRCIO: CRÍTICA DE UMA HISTÓRIA DE VIDA.
AUTOR: FLORIANO, Flávio D`Ávila.
ORIENTADOR: Prof. Ms Carlos Luiz Cardoso.

Visto que o uso de esteróides anabolizantes pela população cresce a


cada dia, principalmente em academias de musculação, um ambiente de
trabalho onde o profissional de Educação Física atua, o presente trabalho
apresenta uma história de vida de um usuário de esteróides anabolizantes.
Tendo como objetivo compreender essa realidade, verificar quais fatores
sociais serviram como influência para esse uso, tendo ainda a tentativa de
compreender um pouco mais sobre a verdadeira situação dos esteróides
anabolizantes hoje em dia. Discutimos a visão de corpo, o culto ao corpo e ao
esporte, a comércio corporal existente hoje, juntamente com os esteróides e
seus efeitos no organismo humano. Sendo esta pesquisa realizada através de
uma entrevista narrativa, dividida em seis tópicos de conversação, analisando a
vida do entrevistado, a musculação, a relação musculação e esteróides, o uso
dos anabolizantes e seus efeitos, juntamente com sua expectativa de vida
futura. Verifica-se, que o entrevistado sofre várias influências pelo uso dos
esteróides anabolizantes, dentre elas destacamos: a sociedade, a mídia, a
comercialização do corpo, o esporte, etc. Onde cimos que através dessas
influências o entrevistado passa a uma nova categoria de vida e trabalho,
sendo ele agora seu patrão, empregado, e propaganda, em um mesmo tempo
que prevê sua substituição futura (pois seu corpo não mais apresentará
capacidade de sucesso) por um recém formado em Educação Física disposto a
participar e fazer parte desse mesmo esquema.

7
CAPÍTULO I - O PROBLEMA

1.1 - INTRODUÇÃO

Estamos vivendo numa década em que o uso de suplementos,


medicamentos e outras substâncias para a melhora do físico e da estética vêm
crescendo assustadoramente dentro da nossa sociedade. A preocupação com
a aparência física, o padrão de beleza imposto pela sociedade moderna em
conjunto com uma mercadorização do corpo, podem ser classificados como
alguns dos fatores que estimulam o aumento da produção e consumo destes
medicamentos e substâncias de efeito estético.
Hoje também é observado um crescimento assustador nos casos de
doping com os esteróides anabólicos no mundo dos esportes, fato comprovado
pelos exames com resultados positivos nas mais diversas competições
esportivas, tanto de cunho nacional quanto internacional. Apesar de não
possuir estudos científicos suficientes, acredita-se que o crescimento do uso
dos esteróides anabolizantes não está acontecendo somente no mundo dos
esportes, ocorrendo também, um crescimento cada vez maior no mundo das
academias, principalmente nas de musculação.
Comprovando esta suposição, um estudo realizado pelo Programa
de Prevenção e Tratamento do Uso de Drogas na USP (PRODUSP), numa
pesquisa que entrevistou quase 1500, jovens, de 18 a 25 anos, mostrou que
25% deles já usaram essas substâncias pelo menos uma vez na vida. Sendo
em 1996, o resultado de uso de apenas 0,5% dos entrevistados (KOSTMAN,
2001).

8
Os esteróides anabólicos androgênicos (E.A.A), muitas vezes são
empregados ilicitamente para melhorar a condição física mas, vê-se hoje em
dia, um enfoque do uso dos esteróides para a melhora da aparência física ,um
dos fatos marcado devido ao novo padrão de beleza que a sociedade está
impondo. Um padrão que se iguala ao padrão atlético e forte, com os músculos
bem torneados e um baixo percentual de gordura.
Porém, além dos efeitos físicos desejáveis, os E.A.As influenciam o
humor e o comportamento dos usuários, provocando uma série de efeitos
colaterais e complicações clínicas, as quais, na maioria das vezes,
desaparecem com a suspensão do uso. Os relatos de fatalidades entre os
usuários de esteróides anabolizantes como, suicídios, homicídios, doenças
hepáticas, câncer hepático, entre outros, são infreqüentes. Entretanto, o uso de
doses elevadas, agulhas, drogas de uso veterinário associados a outras
substâncias como insulina, GH, etc., podem aumentar os riscos indesejáveis e
complicações clínicas, principalmente para os usuários destas drogas que não
possuem nenhuma informação científica de como elas agem no organismo e
quais seus efeitos fisiológicos, psicológicos, e sociais.
Sendo o uso de Anabolizantes considerado estimadamente alto hoje
em dia, principalmente pelos praticantes de musculação em academias
brasileiras, esta pesquisa surge com o objetivo de analisar uma realidade
específica, buscando como eixo norteador o uso de esteróides anabolizantes,
para compreender as causas, conseqüências e as mudanças que esta
substância proporciona ao usuário na sua vida.
Para poder compreender um pouco essa realidade, esta pesquisa
vem por meio de uma metodologia, conhecida como história de vida, na qual
será analisado um sujeito e seu universo. Essa metodologia foi escolhida por
possibilitar um estudo aprofundado dentro de uma realidade, pois tenta
identificar e elucidar quais as relações existentes entre o sujeito (usuário de
esteróides anabolizantes) e a sociedade em que vivemos, caracterizando
assim, suas influências e tramas na tentativa de compreender então, qual a
concreta relação estabelecida entre indivíduo/sociedade/anabolizantes, e quais
os aspectos da sociedade contemporânea, que influenciam o indivíduo ao uso
dos esteróides anabolizantes.

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Numa discussão sobre a imagem corporal, vista num viés da
sociedade, por meio da informação, da comunicação e do esporte,
encontramos um objeto de estudo necessário a uma investigação, para a
compreensão de alguns fatores responsáveis pelo aumento do uso de
esteróides anabolizantes.

1.2 - OBJETIVOS

1.2.1 - OBJETIVO GERAL:

A presente pesquisa se fixa no propósito de compreender e analisar


nas literaturas existentes alguns fatores que influenciam as pessoas no uso dos
esteróides anabolizantes, compreendendo cientificamente os anabolizantes,
suas conseqüências e efeitos no organismo humano. Ainda, esta pesquisa vem
tentar compreender uma determinada realidade de uso. Quais fatores sociais
serviram como influência para este uso, e ainda verificar qual a conseqüência
desse uso para o sujeito e sua relação com a sociedade.

1.2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

 Analisar como vem sendo tratado o corpo dentro da sociedade e


quais as mudanças que ele vem sofrendo com o tempo;
 Verificar qual a influência do esporte, mercado e mídia para a
utilização dos esteróides anabolizantes;
 Analisar a literatura existente sobre os esteróides anabolizantes;
 Analisar os efeitos psicológicos, morfológicos e sociais, do uso de
esteróides anabolizantes;
 Verificar quais as indicações para o uso de esteróides
anabolizantes;
 Analisar como é o funcionamento dos esteróides no organismo
humano;

10
 Analisar qualitativamente um recorte de uma realidade do uso de
esteróides anabolizantes, verificando quais os efeitos encontrados por um
usuário;
 Analisar aspectos pertinentes aos fatores que levam ao uso de
Esteróides Anabolizantes;
 Fazer uma correlação entre a literatura existente sobre os efeitos
do uso de Esteróides Anabolizantes e o relato da experiência prática do uso,
pelo sujeito pesquisado.

1.3 - JUSTIFICATIVA

A presente pesquisa procura enfatizar como os esteróides


anabolizantes vêm sendo encontrados e utilizados com maior freqüência no
mundo das academias, levando-nos assim, a compreender e analisar a
influência que essas substâncias ilegais interferem na realidade social.
De fato, os esteróides anabólicos estão cada vez mais presentes nas
academias de ginástica e musculação e seu consumo e desinformação é cada
vez mais crescente. A sociedade cobra, de uma certa forma, a obsessão por
corpos ultramusculosos, que marcam um esteriótipo que deve ser almejado e
idealizado por todos os indivíduos.
Entretanto, este padrão de beleza, denominado pela sociedade, ou
melhor, por nós, reflete de maneira mais drástica o crescente desagrado dos
homens com o próprio corpo, da insatisfação com a aparência, de que, quanto
mais forte, mais saudável e bonito se apresenta perante esta sociedade
capitalista, que visa cada vez mais um padrão anabolizado.
Perante esses fatores, é de extrema importância a todo profissional
de Educação Física, sendo este licenciado ou bacharel, compreender a
realidade social em que vive, conhecer cientificamente sobre os esteróides
anabolizantes, quais as conseqüências do seu uso no organismo humano e o
que leva o homem a usar esta substância. Desta forma, a busca pela
compreensão desta realidade faz com que o profissional de Educação Física
saia do conhecimento do senso comum e dos fatores emocionais da

11
esteriotipização dos esteróides anabolizantes (que passaram a ganhar ao
longo dos anos), para uma compreensão crítica desta substância e a sua
posição diante da nossa sociedade.

1.4 - DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

Esta é uma pesquisa qualitativa, que analisa apenas uma realidade


sobre o uso de esteróides anabólicos, não sendo analisadas quantitativamente
várias realidades, o que seria relativamente difícil, isto é, esta é uma pesquisa
de estudo de caso, sendo que seus dados não podem ser colocados como um
todo da realidade social.
Assim, o que se busca por meio desta pesquisa é tentar analisar uma
realidade específica para assim, tentar compreender um pouco mais a
realidade do uso de esteróides anabolizantes.
Desta forma, esta pesquisa não pode ser apresentada como
realidade de toda a sociedade, pois apenas tenta analisar um recorte das
relações estabelecidas entre o sujeito (usuário de anabolizantes) e a
sociedade.

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CAPÍTULO II - REVISÃO DE LITERATURA

2.1 - A SOCIEDADE E OS ESTERÓIDES

2.1.1 - AS DIFERENTES VISÕES DE CORPO DENTRO DA SOCIEDADE

A preocupação com o corpo pode ser observada ser observada há


muitas décadas e se tem visto que o culto ao corpo está cada vez mais em
alta, em que, desde o final da segunda guerra, as preocupações com o corpo
ganharam uma grande visibilidade pública. Hoje em dia é possível observar a
grande publicidade e a diversidade dos utensílios e produtos destinados ao
cuidado do corpo.
Segundo SANT`ANNA (1999), o culto contemporâneo ao corpo nem
sempre foi o mesmo. Possuindo esse culto uma história que se acelera após os
movimentos sociais da década de 60, Nesta década os jovens reinvidicavam o
fim de todos os tabus relacionados ao corpo, sendo esta fase observada pela
liberação corporal, valorizando a liberdade sexual, caracterizando o corpo num
corpo jovem, descontraído e despojado. Ainda, segundo essa autora, logo não
demora a surgirem críticas de como a imagem do corpo começou a ser
explorado pela mídia e pela indústria da moda.
Já a partir da década de 80, começa a emergir uma nova idéia de
imagem corporal. Esta nova sociedade é mantida pela ideologia que o corpo
deveria ser alimentado pela disciplina e pela superação dos limites fisiológicos
do próprio corpo, tanto no âmbito do esporte, quanto fora dele, dando assim
valorização ao cuidado com o corpo diante de um padrão de beleza esportivo,

13
este valorizando a massa muscular delineada e a quebra de novos recordes,
principalmente de velocidade.
Causando uma generalização ao estilo esportivo e pregando a
superação do próprio corpo como meta a ser cumprida, surge o sucesso nos
comércios de vitaminas e suplementos nutricionais, principalmente aos que
ousarem amar o sucesso. Com isso surge também, um convite tentador à
utilização e ao crescimento dos esteróides anabólicos, em que, a partir desta
época começa a entrar em alta dissolução no mundo esportivo e científico.
Assim, vivemos hoje numa época que valoriza e adula o corpo tanto
quanto o explora. Por um lado somos diariamente confrontados com uma
proliferação de produtos, tecnologias e saberes que visam o embelezamento
do corpo, por outro deparamo-nos com sua exploração desenfreadas.
Tornando-se o corpo um objeto de intensas explorações comerciais,
manipulações científicas e industriais. Passando-o assim a ser um novo objeto
de mercado.
Desta forma, de acordo com SILVA (1997), nesta nova perspectiva a
corporeidade passa a ter uma nova relação na vida dos indivíduos, onde cuidar
do corpo tendo em vista uma melhor aparência a ser projetada em público, vai
se tornando uma necessidade para os indivíduos dessa nova sociedade, a
qual, passa a denotar a personalidade do indivíduo através do seu próprio
corpo, sendo que o que o indivíduo aparenta ser, é o que ele é.

2.1.2 - O CORPO E O ESPORTE

Com o surgimento desta nova sociedade e nova ideologia corporal,


que traz como padrão de beleza a figura de um corpo esculpido pelo esporte,
cabe a nós, o entendimento de como é tratado o corpo dentro do culto à
performance esportiva.
VAZ (1999) relata sobre o destacamento das provas de atletismo no
cenário dos esportes, em relação às outras. Colocando como um dos fatores
deste destaque a questão destas provas não possuírem equipamentos para
suas realizações, caracterizando assim, a importância do rendimento máximo

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do corpo em relação a ele próprio. Destacando o caráter ilimitado da
performance humana, priorizando assim a superação do corpo.
Desta forma, temos a visão de que no esporte não existem limites,
sendo os limites apenas metas para serem alcançadas e derrubadas. Assim, o
corpo é uma das últimas fronteiras a ser conquistada pelo homem, no qual, os
limites biológicos já não existem.
Contudo, a performance, compondo um corpo capaz de cada vez
derrubar mais barreiras, aparece em diferentes formas, podendo ela aparecer
ora sobre uma forma externa ao corpo, relacionada ao espaço e tempo, ora de
forma interna ou referente a sua própria construção, onde temos um corpo
mais magro, mais forte, com esse ou aquele músculo mais desenvolvido,
conforme as conveniências e as exigências de plantão (VAZ, 1999).
Assim, o esporte traz a visão do corpo, como um corpo-máquina. Da
separação do sujeito e objeto, da compreensão do corpo por partes, como se
acredita na ciência tradicional, a qual valoriza e reforça a idéia de rendimento.
Idéia esta vinculada à precisão de números e grandezas, na qual, o corpo
também está vinculado. Fato marcante para o desenvolvimento do
pensamento do tipo esportivo, uma sociedade esportivizada, em que, o padrão
de beleza e a busca desenfreada do que é considerado saúde (corpos
treinados), são realidades a serem vividas não somente por atletas, mas sim,
para todos que participam dessa nova sociedade. Referindo-se VAZ (1999) a
essa visão de corpo-máquina como uma das chaves para se entender o
esporte moderno em algumas de suas manifestações mais visíveis, uma
relação de violência contra o próprio corpo,e dentro disto ao uso do doping.
Ainda, de acordo com SILVA (1997), as indicações dessa ciência
sobre o movimento mecânico atribuído ao corpo, contribuem para uma
perspectiva secular da vida, reforçando a individualidade humana, além de
enfatizar o individualismo das partes do corpo.

2.1.3 - O CULTO AO CORPO

Nunca se falou tanto do corpo como hoje, nunca se falará dele como
amanhã. Vivemos hoje uma incontestável dedicação e atenção ao nosso

15
próprio corpo. Conforme CODO e SENNE (1985), a preocupação com o corpo,
que vem marcando nosso cotidiano, é considerada em última instância uma
reapropiação de si mesmo. Surgindo a cada dia uma urgente revalorização do
prazer, tanto corporal quanto social, estruturando um verdadeiro culto ao corpo,
uma idolatria exacerbada ao corpo, denominada por CODO e SENNE (1985),
de Corpolatria.
Numa principal evidência dessa idolatria ao corpo, apresenta-se o
narcisismo, o qual passa a significar um bem-estar consigo mesmo. Porém
lembramos a identificar que o bem-estar não está relacionado somente com o
sujeito, mas sim, à situação deste em relação à sociedade. Apresentando
assim, uma ênfase pelas aparências da forma de apresentação na sociedade,
forma esta, que deve estar de acordo com o padrão de beleza imposto pela
sociedade e pelo esporte.
A Corpolatria pode ser vista como um produto da cisão do homem
consigo mesmo, produzida pelo capital e também pelo modo de produção
capitalista, na qual o corpo passa a ser também um produto de um mercado,
deixando a beleza, nessa nova sociedade do culto ao corpo, de ser uma virtude
para se tornar um direito.
“Entretanto em nossa sociedade o que ocorre hoje em dia não é
expansão desse desejo mas sua transformação em razão, fato marcado pelo
expressivo culto ao corpo”.(SANT`ANNA,1999 p. 59)
Passando a emoção corporal, o prazer e a forma física, como
fatores de legitimação do homem, tornando-se o desporto um dos fatores mais
significativos da cultura individualista narcísica centrada no êxtase do corpo.
(BRACHT, 2002).
Assim, o que podemos verificar é que a identificação do indivíduo
com a aparência, e o narcisismo, segundo SILVA (1997), vem por meio de uma
“Deificacão” das aparências, um endeusamento, onde a partir disto o homem
tudo pode e tudo deve. Está acima de tudo, tanto das coisas quanto de todos.
Fato que reforça o individualismo apresentado pelo culto narcisista do corpo, e
de uma superficialização das relações humanas.

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2.1.2 - UMA COMERCIALIZAÇÃO DO CORPO

Em conjunto com a nova visão de sociedade e corporeidade, o corpo


passa a se encontrar no centro de uma nova utopia. Os esforços em torno do
ideal de padrão de beleza imposta pela sociedade são justificados pela sua
identificação com o novo padrão de felicidade humana, passando assim, o
corpo e suas práticas corporais, por uma comercialização.
Comercialização essa, observada pela relação do trato do corpo por
meio do viés esportivo, que já vem por sofrer um processo de comercialização
há muito tempo. Assim, é percebido que mudanças culturais foram
precondições para essa comercialização, dentre elas, uma mudança da visão
de corpo e a exaltação do valor da esportividade.
O corpo agora passou a ser reconhecido como um negócio,
transformando o cuidado com o corpo de um direito do cidadão para um direito
do consumidor. Como visto por BRACHT (2002), algumas características do
esporte lhe são fornecidos pelo seu caráter de mercadoria e pelas
características que estruturam a sociedade moderna ou sociedade industrial.
Precisamos então, analisar como essas questões acabam por
influenciar o trato com o corpo nessa sociedade pós-industrial e acima de tudo,
capitalista.
Vimos assim, hoje em dia, uma gama de cirurgias estéticas, o
crescimento das academias de musculação, além da gama de produtos e
serviços destinados ao corpo e a beleza. Observando como o corpo passou a
se tornar um produto do comércio, como é verificado hoje em dia
principalmente pela alta dissolução dos produtos e prestadores de serviços que
reduzem o ser humano ao seu corpo. Caracterizando dessa maneira uma nova
ideologia de mercado regida pelos dizeres da indústria corporal, na qual,
GOMES (1999, p.384) caracteriza como:

17
“um mecanismo estrategicamente elaborado na
modernidade que tem o objetivo de desapropriar a cultura
popular, no sentido daquela que foi transmitida
tradicionalmente no seio da comunidade, na medida em
que fabrica e impõe ao consumo um bem cultural
consumível”.

Entretanto ao analisarmos o padrão de beleza da sociedade,


podemos verificar que esse está disposto sempre pela classe dominante.
Padrão este ressaltado pela mídia, maior difusor da cultura de massa na
sociedade, observando assim que o padrão de beleza imposto é um padrão de
beleza quase impossível de se conquistar sem o consumo de produtos e
serviços para o cuidado do corpo.
Verifica-se assim, a necessidade de estudar o modo de como as
informações sobre o corpo, comunicadas em rede televisiva, impõem um
modelo estético a ser consumido e adotado por todos, principalmente entre os
jovens. GOMES (1999) identifica que a apresentação de programas voltados
para o culto do corpo e entretenimento tende a compor um modelo estético que
pode causar constrangimentos para o indivíduo, pois esses programas podem
por um lado representar um desejo coletivo pela saúde, mas podem também,
funcionar por outro como padrão de comportamento e exclusão daqueles que
não se integram ao modelo estético imposto pelo padrão global de beleza.

2.1.4 - PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE VISAM UMA EMANCIPAÇÃO

É necessário, ao discutirmos a visão de corpo, a sistematização e a


tematização do movimento dentro da sociedade; analisarmos questões
referentes a nossa prática pedagógica em Educação Física. Verificando assim
algumas práticas pedagógicas em Educação Física, preocupadas com a
construção de um corpo próprio de conhecimento, sem simplesmente repetir
mecanicamente princípios e doutrinas de outras instituições sociais.
Tendências essas, classificadas por muitos autores como
revolucionária, transformadora ou progressista. Criticando a submissão da

18
Educação Física, na qual, sua prática apresenta-se somente como uma
reprodução social. Deste modo, apresentaremos a seguir algumas tendências
da Educação Física que apresentam uma postura crítica a esse tipo de
ideologia e educação. Tendências essas, que analisam criticamente o contexto
social, assumindo assim, uma postura transformadora desse contexto. Ainda
segundo KUNZ (2001), a problematização do ensino tem na Educação Física
uma função interdisciplinar, pois possibilita a observação da realidade social de
uma forma crítica e sujeita a sofrer intervenções.
Partindo-se desses pressupostos, surge a necessidade de
encaminhamentos para uma estruturação pedagógica dentro de uma
perspectiva progressista, para todas áreas de atuação da Educação Física,
seja ela realizada em instituições escolares ou em outras instituições, como
nas academias de musculação ou ainda no estudo do corpo e da corporeidade.
Nesse sentido, destacamos algumas propostas que vão ao encontro a essa
necessidade, como por exemplo, a Concepção de Aulas Abertas, a Concepção
Histórico-crítica da Educação Física e a Pedagogia Crítico-emancipatória na
Educação Física escolar.

2.2 - OS ESTERÓIDES

De acordo com GUIMARÃES NETO (1999), os esteróides são


hormônios responsáveis pela harmonia das funções primárias do organismo e
podem ser classificados sob três categorias básicas: os estrógenos (hormônio
feminino), produzido no ovário e encarregado de produzir caracteres sexuais
femininos; os andróginos (hormônio masculino), produzidos principalmente nos
testículos e responsáveis pelas características sexuais masculinas, como força,
massa muscular, barba e nível de gordura corporal, entre outros.
Ambos os sexos produzem esses dois hormônios, porém, em mais
quantidades de um do que do outro. Já o último tipo de esteróide é a cortizona,
que é produzido por ambos os sexos, que possui efeitos analgésicos e
antiinflamatórios.

19
2.2.1 - OS ESTERÓIDES ANABÓLICOS

Segundo MELLION (1997), os esteróides anabólicos, ou melhor,


esteróides anabólicos androgênicos, são hormônios sintéticos análogos da
testosterona.
A testosterona é um hormônio natural masculino, responsável pela
formação do fenótipo do homem, que são os efeitos androgênicos (produtores
de características sexuais masculinas secundárias) e os efeitos anabólicos
(produtores do aumento de tamanho, força muscular e crescimento
longitudinal). Conforme YESALIS (2000), os efeitos da ação androgênica dos
esteróides estão relacionados à maturação do aparelho reprodutor masculino e
o desenvolvimento das características secundárias sexuais no homem. Sendo
na puberdade masculina, responsável pelo crescimento e alargamento do
diâmetro do pênis, o desenvolvimento da próstata e do escroto, além do
aparecimento dos pêlos do corpo.
Já os efeitos anabólicos estão relacionados com o crescimento
linear, a maturação das epífises ósseas, alargamento dos ossos,
desenvolvimento da libido e da potência sexual, o crescimento da força
muscular e aumento dos músculos, além de baixar o percentual de gordura.
Em conjunto com os efeitos apresentados, alterações psicológicas e
comportamentais também ocorrem com a produção da testosterona.
No adulto, a testosterona é responsável pela espermatogênes, sendo
que os níveis de testosterona tendem a cair com a velhice. Porém, a
espermatogênese é suficiente para a fertilidade de um homem de 60 anos,
podendo chegar suficiente aos 80 anos.
Os esteróides anabólicos são um subgrupo de andróginos, sendo
um medicamento que funciona de maneira semelhante ao principal hormônio
masculino, a testosterona. Os E.E.As contribuem muito para as características
sexuais secundárias masculinas e para as diferenças sexuais na massa
muscular e na força. A ação anabólica das substâncias produzidas pela

20
testosterona é conhecida há bastante tempo. Keyon investigou e elucidou os
efeitos metabólicos da testosterona, em uma série de estudos que começaram
em 1938 até 1944. Foi um dos primeiros a enumerar possíveis usos clínicos
para a testosterona (KEYON e COLS apud BOMPA, 2000).
Os esteróides anabólicos obtiveram uma certa proeminência para o
uso médico no início da década de 50, para o tratamento de pacientes com
deficiência nos estrogênios naturais ou que sofriam doenças caracterizadas por
desgaste muscular (MCARDLE et al, 1998). Também se observa o tratamento
com esteróides anabolizantes para o tratamento da osteoporose, o tratamento
da perda da massa muscular e do climatério, o que é visto nos idosos. Sendo
também muito utilizado hoje em dia como medicação terapêutica para a AIDS.
Apesar dos Anabolizantes serem desenvolvidos inicialmente para
fins terapêuticos, como chave para retardar o envelhecimento, a comunidade
atlética ao saber dos potenciais da testosterona para a melhora da
performance, não demorou a por em prática o seu uso e maiores estudos
científicos sobre os esteróides relacionados ao treinamento desportivo.
O uso de drogas anabolizantes tem sido há quase 50 anos, e ainda
é, parte integrante do levantamento de peso, levantamento básico e
fisiculturismo (FLECK e KRAEMMER, 1999). Contudo, hoje sua utilização não
se restringe somente ao mundo do levantamento de peso e fisiculturismo, pois
a cada dia que passa sua utilização aumenta na maioria dos esportes de
rendimento, como por exemplo, o atletismo, natação, etc.
Atualmente, os esteróides anabólicos vêm sendo usados por
praticamente todos os atletas de potência em alguma fase do seu treinamento,
principalmente em esportes que incluem a força máxima, explosiva e o
fisiculturismo (BOMPA, 2000).
Ainda de acordo com MCARDLE et al (1999), hoje os esteróides
anabólicos fazem parte integrante do ambiente da alta tecnologia desportiva,
sendo utilizados por 90% dos fisiculturistas profissionais do sexo masculino dos
Estados Unidos, e 80% fisiculturistas profissionais do sexo feminino.
O uso de Anabolizantes nos Estados Unidos é consideravelmente
alto, em que, mais de 300.000 homens e mulheres utilizaram esteróides

21
anabolizantes durante o período de um ano (de 1992 a 1993). (MCARDLE et
al, 1999).
Assim, mesmo não existindo estatísticas brasileiras representativas
sobre o uso dos esteróides anabolizantes, o uso e abuso dos mesmos vêm
assumindo um grande destaque dentro do nosso âmbito social, acreditando-se
que hoje em dia um número cada vez maior de pessoas utilizam esses tipos de
substâncias, principalmente os considerados não-atletas que lhes fazem uso
por questões de estética e auto-afirmação.
Em Florianópolis, segundo uma pesquisa realizada por SILVA
(1999), sobre o uso de esteróides em praticantes de musculação de seis
academias, obteve-se o resultado de 13,76% de usuários, sendo que, desse
percentual, 51,68% apontaram como objetivos da prática da musculação a
melhora estética que ela proporciona.

2.3 - SOBRE A DOPAGEM E OS ESTERÓIDES

O uso de substâncias para a melhora do desempenho físico, pode


ser datado desde a antiguidade. Como a exemplo dos romanos, que tentavam
acelerar a velocidade de carros de corrida fornecendo uma mistura de mel e
água aos cavalos, além dos índios da América do sul, os quais mascavam
folhas de coca para aumentar sua resistência e diminuir a fadiga em suas
caminhadas. De acordo com De Rose, “a história da humanidade é a história
do ser humano buscando meios de superar e melhorar constantemente sua
performance” (apud ARAÚJO, 1985 p.90). Contudo, com o crescente
profissionalismo do esporte o problema com a dopagem cresce a cada dia em
relação aos atletas.
Refere-se à dopagem a administração ou uso de substâncias de
qualquer tipo, com o fim de obter um incremento artificial e não-ético da
performance. (ARAÚJO,1985 e ASTRAND e RODAHL,1987).
Em 1968 criou-se uma lista de substâncias proibidas ao uso dos
atletas em competições (entrando aqui os esteróides anabolizantes), pelo COI,
Comitê Olímpico Internacional, referindo-se ao uso dessas substâncias de

22
doping. De acordo com DANTAS (1998), o atleta que faz uso de esteróides
viola as normas e princípios éticos das competições estabelecidas pelas
entidades de regulamentações esportivas.
A partir dessa data foi criado um controle antidoping nas competições
olímpicas, com propósito de descobrir e punir os atletas que fizessem uso
dessas substâncias, apresentando nos primeiros testes um alto índice de
exames positivos nos atletas, principalmente os casos positivos pelo uso de
esteróides anabolizantes.
Com o passar do tempo os atletas desenvolveram técnicas de burlar
os exames clínicos, diminuindo o número de atletas pegos nos exames
antidoping, o que fez com que esse também se modernizasse. Criando com o
passar do tempo uma tendência de uma guerra (doping x antidoping), na qual,
segundo GUEDES (1997), é vencida sempre pelo doping, pois é necessária a
existência de um doping para a existência do outro antidoping.
O flagrante ocorrido com o velocista canadense, Ben Johnson, nas
Olimpíadas de Seul, pode ser considerado um dos fatos mais marcantes e
conhecido sobre o problema com o doping na história contemporânea dos
esportes. Contudo, KUNZ (2001) descreve que esse fato foi na verdade um
caso de seleção entre os casos mais exagerados, para servir como uma
represália a um problema que vinha ameaçando o status educativo e
formentador de saúde que se atribui ao esporte.
Entretanto, é comprovado que o doping mais utilizado pelos atletas
atualmente é o anabólico esteróide. Não se restringindo mais às modalidades
esportivas que exigem força e resistência, aparecendo em uma gama de
modalidades consideradas mais leves.
Contudo, o esporte onde a presença dos anabólicos esteróides é
mais marcante, são as competições de fisiculturismo. Onde a musculatura
apresentada pelos competidores é tão gigantesca e definida que seria
impossível de se obtê-la sem a utilização de esteróides anabolizantes.

23
2.4 - OS TIPOS DE ESTERÓIDES

Os esteróides anabólicos possuem várias formas, podendo ser


encontrados em forma de supositório, selo de pele, creme e em comprimidos.
Os mais utilizados são os orais e os injetáveis. Os orais possuem uma vida
curta, sendo absorvidos e processados em aproximadamente 24 horas no
organismo. Ainda absorvidos pelo sistema gastrointestinal, estes anabolizantes
passam por um processo chamado de 17 alfa alcalinização, que serve para
não ser destruído pelo fígado, porém através desse processo o fígado não o
pode processar, lutando com uma coisa que não pode vencer. Sendo assim,
este é o tipo de esteróide mais tóxico a esse órgão.
Já os injetáveis, administrados através da via intramuscular, podem
ser dissolvidos em base de óleo ou de água, demorando mais a se dissipar
pelo organismo do que os de via oral. São considerados menos nocivos do que
os orais, pois não passam pelo processo de alcalinização.

2.5 - O FUNCIONAMENTO DOS ESTERÓIDES NO ORGANISMO

Basicamente, os esteróides podem se incorporar a corrente


sanguínea através da administração oral via estômago ou intestino ou injetada,
passando a se agregar a receptores, os quais são chamados de Citos
Receptores, presentes na célula muscular, em várias glândulas e regiões do
cérebro, formando uma conexão, a qual permite que o esteróide entregue uma
mensagem.
Essa mensagem influencia os mecanismos do corpo humano como a
testosterona; após a entrega destas mensagens, os esteróides movem-se para
outros cito receptores, ou se modificam, convertendo-se em outros
componentes, podendo ainda, serem excretados pela urina.
GUIMARÃES NETO (1999), coloca que algumas pessoas são
premiadas com mais Citos Receptores que outras, mas isso é uma gestão
genética e não pode mudar. Ainda parece haver um fechamento dos Citos
Receptores, quando um tipo de esteróide é muito utilizado. Contudo, existem

24
ainda pessoas que têm mais afinidade a certos tipos de esteróides do que
outras.
Entretanto, principalmente os esteróides derivados de testosterona,
tendem a converter-se em um componente denominado dihidrotestosterona,
ação provocada pela ação da enzima denominada 5 alpha-redutase,
provocando efeitos indesejáveis que serão abordados posteriormente, como a
perda de cabelo, aumento de crescimento de pelo no corpo, acne e aumento
da próstata.

2.6 - INDICAÇÕES CLÍNICAS PARA O USO DE ESTERÓIDES


ANABÓLICOS

As indicações clínicas para o uso dos esteróides anabolizantes são


muitas, sendo seu uso constante nos tratamentos médicos, a verdadeira
finalidade da fabricação dos esteróides anabolizantes. As indicações não muito
conhecidas, pois a maioria da população associa o uso dos esteróides com o
ganho de performance no esporte, ou à melhora da estética corporal. Assim
apresentaremos algumas indicações a partir de diversos autores, (YESALIS,
2000; SALZANO, 1999; GUYTON e HALL, 1998; SANTAREM, 2001;
CANONGE, 2002).

 Tratamento de lesões musculares (úteis no tratamento de lesões


esportivas de natureza crônica, principalmente distensões e as torções);
 No tratamento de Convalescenças de severas infecções;
 Disfunções reprodutivas;
 Tratamento de reposição da testosterona andrógena nos homens;
 No tratamento do câncer de mama (carcinoma) em mulheres, também
no controle das metástases;
 Após traumas e cirurgias, com o objetivo de ganhos pendorais devido
ao aumento do balanço nitrogenado produzido;

25
 Anemia causada por insuficiência renal, e por deficiência da produção
das células vermelhas do sangue. Onde o uso de certos esteróides,
como a nandrolona e a oximetolona, aumenta o número de
hemoglobinas;
 Osteoporose (para o aumentar a massa e da densidade óssea, dificultar
a descalcificação e previnir fraturas, principalmente em mulheres na
menopausa);
 Como estimulante do crescimento em jovens com disfunções hormonais;
 No Tratamento do HIV , devido aos seus efeitos anabólicos;
 No hipogonadismo;
 Como estimulante do climatério sexual (libido).

Assim, vimos determinadas indicações clínicas do uso dos esteróides


anabolizantes, possuindo cada droga seu efeito benéfico e específico para o
organismo. Lembrando que os medicamentos quando usados fora da sua
verdadeira finalidade, que é a de restaurar a saúde, podem ser altamente
prejudiciais, tanto a curto, médio ou em longo prazo (MORAES, 1995).

2.7 - EFEITOS DOS E.A.AS NO ORGANISMO HUMANO

Muita polêmica se tem sobre os efeitos dos esteróides anabólicos.


Alguns estudos e a palavra das maiorias dos técnicos afirmam que eles
proporcionam efeitos de melhoras nos rendimentos desportivos.
Porém, muitos outros afirmam que eles não poduzem melhora que
possa ser significativa ou notada no atleta. Verificando-se ainda, em muitos
estudos que utilizam dois grupos controles, um com utilização do medicamento
original e o outro com o placebo*, que os resultados obtidos não possuíram
diferença entre os grupos.

*
Placebo refere-se a medicamentos inertes, com fins sugestivos, que possuem a mesma aparência do
medicamento original, a fim de se verificar até que ponto realmente o medicamento age ou é auto
sugestivo.

26
2.7.1 - OS EFEITOS ERGOGÊNICOS DOS E.E.AS

Os efeitos ergogênicos estão relacionados aos efeitos anabólicos


produzidos pelos esteróides anabolizantes. Considerados por efeitos
desejados pelos usuários, eles correspondem às mudanças fisiológicas e
psicológicas que aumentam a performance do usuário, como:

2.7.1a - Aumento da massa muscular

Os esteróides anabolizantes produzem significativos efeitos na


retenção de nitrogênio, conhecido como balanço nitrogenado positivo. Onde o
nitrogênio é conhecido como o componente de crescimento da proteína.
Apresentando os esteróides também um favorecimento a captação
de aminoácidos (proteínas), consideradas como os “tijolos” da construção da
massa muscular e um aumento da retenção de líquido no corpo. Fatores os
quais são responsáveis pelo aumento da massa muscular do usuário. Além é
claro do efeito de bloqueio do cortisol, que é um hormônio catabólico, liberado
pelo stress e o treinamento intenso que faz com que o músculo não consiga se
desenvolver.

2.7.1b - Aumento da força muscular

O aumento da massa muscular pode ser considerado um dos fatores


principais para o aumento da força no indivíduo, porém ainda os esteróides
anabólicos promovem um aumento do armazenamento de fósforo creatina
(CP). Substância a qual ajuda a repor o (ATP), principal fonte de energia do
músculo, aumentando assim significativamente a força e a densidade
muscular.

2.7.1c - Melhora no desempenho aeróbico

Um dos benefícios relacionados à melhora do desempenho aeróbico


é o aumento da concentração de hemoglobina e do volume sanguíneo no

27
organismo humano, resultando em uma maior capacidade de transferir
oxigênio para os músculos em movimento. Efeito potencialmente útil, em
exercícios prolongados (aeróbicos) (GUYTON e HALL, 1997).

 Ainda em relação aos efeitos ergogênicos é relatado que os


esteróides reduzem a porcentagem de gordura corporal, e melhoram a
capacidade de recuperação do organismo após os treinos. Apresentando ainda
o efeito da agressividade, um fator considerado positivo em relação ao
treinamento e o aumento da força muscular (YESALIS, 2000); (SALZANO,
1999); (ACMS, 1989); (GUIMARÃES NETO, 1999).

2.7.2 - EFEITOS ADVERSOS

Muitos efeitos adversos são relacionados com o uso de esteróides


anabolizantes, podendo ser esses efeitos de curto, médio ou longo prazo,
sendo esses efeitos relacionados a vários fatores, como por exemplo o tipo de
droga administrada, a quantidade o tempo de utilização e principalmente a pré-
disposição genética de cada individuo.
O principal culpado pelos efeitos adversos (colaterais) dos esteróides
anabolizantes é um hormônio denominado Dihidrotestosterna. Hormônio este
convertido no corpo a partir da testosterona por uma enzima denominada de 5-
alpharedutase. Apresentaremos a seguir um esquema dos principais efeitos
encontrados nas literaturas consultadas, (ACSM, 1989); (BRITTO, 1996);
(CANONGE, 2002.); (FAZIO, 2002); (GUYTON e HALL, 1998); (MELLION,
1997); (MORAES, 1995); (SALZANO, 1999); (SANTAREM, 2001) e (YESALIS,
2000).

2.7.2a - Endócrino e reprodutivo

 Redução nas mulheres da secreção de gonadotrofinas do hormônio


folículo estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH);
 Oligospermia (diminuição do nível de esperma no sêmen);

28
 Azospermia (falta de esperma no sêmen);
 Ginecomástia irreversível (aumento da mama masculina);
 Carcinoma prostático (aumento no volume da próstata);
 Hirsutismo (crescimento de pêlos na região pubiana, face, tórax, etc., em
mulheres);
 Impotência
 Esterilidade;
 Alterações no ciclo da menstruação, (em mulheres);
 Amenorréia (Ausência de menstruação);
 Diminuição no volume das mamas (em mulheres);

Alguns destes efeitos como impotência, oligospermia e azospermia,


são causados pela supressão da fabricação da testosterona endógena no
organismo, podendo ser reversíveis após a interrupção do uso das drogas.
Porém, outros são irreversíveis, principalmente causados devido ao
longo prazo de utilização dos esteróides.

2.7.2b - Músculo esquelético

 Enfraquecimento do tecido conjuntivo;


 Aumento do risco de lesões músculo tendinosas;
 Fechamento epifisial prematuro (em adolescentes);

O ganho de força pelo uso dos esteróides anabolizantes na maioria


dos casos é desproporcional à adaptação dos tendões e ligamentos, os quais
assim ficam mais vulneráveis a lesões decorrentes do treinamento.

2.7.2c - Renais

 Elevação dos níveis de nitrogênio urêico;


 Elevação dos níveis de creatinina;
 Tumor de Wilms (câncer na região dos rins);

29
2.7.2d - Imunológicos

 Diminuição dos níveis de hemoglobinas;


 Aumento da atividade de células assassinas (Killer cell);

2.7.2e - Dermatológicos

 Acnes;
 estrias;
 Alopecia (calvície);

As acnes são derivadas pelo efeito dos esteróides anabólicos de


fazer com que a glândula sebácea produza mais óleo, onde combinando isso
com bactérias do ar, aumenta-se a formação das acnes.
Já o aparecimento das estrias é devido ao estiramento da pele
ocasionado pelo aumento da massa muscular rapidamente.

2.7.2f - Gastro-intestinal

 Icterícia;
 Colestase;
 Hepaptomas benignos (Tumores benignos no fígado);
 Carcinoma hepaptocelular (Câncer no fígado);
 Peliosidade hepática (bolhas de sangue no fígado);

2.7.2g - Cardiovasculares

 Hipertensão;
 Alterações do perfil lipídico como diminuição de HDL–colesterol
(colesterol bom) e aumento do LDL–colesterol (colesterol ruim);
 Alterações do músculo cardíaco, como hipertrofia e cardiomiopatia;

30
2.7.2h - Hematológicos

 Aumento do hematócrito;
 Aumento da hipercoagulabilidade;

2.7.2i - Psicológicos

 Agressividade;
 Depressão;
 Dependência;
 Irritabilidade;
 Oscilações do humor;
 Alterações da libido;

A maioria dos efeitos psicológicos dos anabolizantes esteróides


androgênicos estão relacionados com os níveis de testosterona no plasma
sanguíneo. Devem ser sempre consideradas possíveis mudanças do
comportamento, podendo ocorrer descontroles agressivos e comportamentos
hostilizantes. Outro fator ainda não profundamente analisado cientificamente é
com relação à dependência, a qual pode ser considerada como fisiológica e
psicológica. Entretanto, os principais relatos de dependência podem ser
considerados como dependência psicológica. (MELLION, 1997); (YESALIS,
2000).

 Além desses efeitos colaterais citados temos também relatos de:


 Aumento no timbre da voz (em mulheres);
 espasmos musculares;
 tensão nervosa;
 encefaléia;
 Diminuição do volume das mamas nas mulheres (devido à modificação
da gordura corporal);
 náusea, dor de cabeça;
 insônia;

31
 hiperinsulinemia e intolerância à glicose;
 carcinoma hepatocelular;
 cardiomiopatia;
 insuficiência cardíaca congestiva;
 trombose das artérias coronárias, e infarto agudo do miocárdio;
 embolia pulmonar;
 tumores cerebrais;

Além destes, há ainda mais uma série de adventos , nos quais os


esteróides podem atuar como coadjuvantes ou interventores do processo.
Existem ainda pesquisas que associam o uso de esteróides anabolizantes à
morte. São também encontradas em pesquisas a obtenção de HIV em vários
usuários de drogas anabolizantes, fator devido ao compartilhamento das
seringas e não dos efeitos químicos dos mesmos.

32
CAPÍTULO III - METODOLOGIA

3.1 - CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

O estudo em questão é uma pesquisa de campo observacional,


caracterizada como um estudo de caso, que segundo GIL (1991), compreende-
se por um estudo profundo de um ou poucos objetos de maneira que permita o
seu amplo e detalhado conhecimento. Este estudo é uma observação indireta
extensiva por meio de uma entrevista investigativa com um usuário de
esteróides anabolizantes.
Esta é também uma pesquisa descritiva, caracterizada como “história
de vida”, a qual busca revelar todos os aspectos pertinentes ao entendimento
deste problema, utilizando-se da história da vida de um sujeito, analisando com
fidelidade a parte da vida deste sujeito, dentro do intervalo que nos interessa,
que é a parte da sua vida em relação ao uso dos anabolizantes.
Este tipo de estudo conforme a ótica de HAGUETE (1990), pode
sugerir novas variáveis, novas questões e novos processos que podem
reconduzir, ou não, a uma reorientação da área.

3.2 - CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE ESTUDO

O estudo será dirigido a um praticante de musculação que utilizou e


ainda utiliza esteróides anabolizantes freqüentemente, o qual se propôs a

33
participar desta pesquisa sem nenhuma restrição, pedindo apenas sigilo sobre
seu nome e dados pessoais quepossam revelar sua identidade.
Observa-se que a que confirmação deste indivíduo como usuário de
esteróides, foi feita através de uma afirmação em conversa informal para
verificar a possibilidade da construção desta pesquisa.

3.3 - PROCEDIMENTOS E RECURSOS

3.3.1 - COLETAS E REGISTROS DE DADOS

Os dados coletados para a construção do referencial teórico foram


retirados de livros, artigos, revistas, publicações científicas e informações via
rede de computador, conhecido como internet. A coleta dos dados do sujeito foi
feita através da entrevista investigativa gravada em um micro-gravador, na
qual, as informações foram obtidas por meio de um roteiro de entrevista,
constando uma lista de tópicos previamente estabelecidos de acordo com a
problemática central desta pesquisa, sendo esta entrevista dividida em 6
blocos.

3.3.2 - SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS

A entrevista/conversa foi transcrita e logo após filtrada, para retirada


das informações não importantes para este estudo. As informações
sistematizadas dentro das divisões iniciais dos blocos de perguntas foram
organizadas na seguinte ordem.
Bloco 1 - Sobre a Musculação (Antes dos Anabolizantes); Bloco 2 -
Sobre a musculação e os esteróides; Bloco 3 - O uso dos Esteróides
anabolizantes; Bloco 4 - Os efeitos fisiológicos, e psicológicos do uso; Bloco 5
- Os efeitos sociais do uso; Bloco 6 - Síntese de vida e expectativas para o
futuro.

34
3.3.3 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A análise dos dados será constituída de uma análise qualitativa das


informações obtidas na coleta da revisão bibliográfica em relação ao material
obtido na entrevista/conversa.

35
CAPÍTULO IV - ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS DADOS

4. 1 ANÁLISE DA ENTREVISTA/CONVERSA

4.1.1 BLOCO 1 - Sobre a Musculação (Antes dos Anabolizantes).

Na primeira pergunta deste bloco, o entrevistado, ao ser perguntado


sobre qual foi o principal motivo que o levou à procura de uma academia de
musculação, responde que na época em que começou, com mais ou menos
uns 16 anos, era mais em busca de aumentar um pouco sua massa muscular,
pois se sentia muito magro. Tendo assim o objetivo de ganhar mais ou menos
uns 4 ou 5 kilos.
Ao perguntar se ele era considerado magro para sua faixa etária,
como se sentia em relação aos amigos e de como era sua altura e peso na
época. O entrevistado responde, que na época sentia-se magro para sua
altura, pois já possuía 1,79 de altura e pesava uns 58 kilos, apenas. Sentindo-
se assim, magro em relação aos amigos, surgindo daí o interesse pela prática
da musculação.
Onde com o passar do tempo seus objetivos foram mudando,
passando a crescer cada vez mais sua massa muscular.
Perguntando qual foi o primeiro resultado obtido, se chegou ao
esperado inicialmente, e ainda se ele começou a ter alguma visão diferente a
partir daí. Foi respondido que no começo como ele era muito iniciante, fazia
umas coisas erradas, não se alimentava certo, não treinava o mais
corretamente, mas apesar disso teve um ganho relativo, respondendo que em

36
relação a como ele era antes da musculação, teve um bom ganho de massa
muscular. Perguntando também, sobre a quantidade desse ganho, ele
responde que ganhou uns 10 kilos em mais ou menos um ano de prática da
musculação.
Sobre antes do uso dos esteróides e como era sua vida nessa
época. Como o que fazia, quais eram suas metas, o que ele achasse
pertinente. É respondido que no início ele jogava basquete, ia para aula, não
fazia outros exercícios, sendo que o basquete ele jogava todos os dias,
considerando basicamente isso.
Já se a prática da musculação foi mudando alguma coisa na sua
vida. Se foi a partir da prática que mudou sua visão ou seus ideais e ainda se
achava interessante essa prática. O entrevistado responde que na época seu
objetivo era somente ganhar um pouco de massa muscular e parar por aí,
onde porém com a prática o interesse e seus objetivos foram mudando, ele foi
começando a estudar sobre a musculação, a se interessar sobre os
campeonatos. Começou daí a levar a musculação mais como um esporte sério.
Treinando todos os dias, realizando os descansos corretamente, tendo uma
alimentação adequada, para poder ter assim o máximo de rendimento em
seus treinos.
Sobre a preocupação com o corpo que verificamos na nossa
sociedade em relação ao entrevistado, vimos que ele começou com a prática
da musculação pelo descontentamento do corpo, ou ainda por se sentir mais
magro que os amigos. Notamos assim o desejo de não estar diferentemente
dos demais, buscando assim ficar mais parecido com o padrão corporal, do
meio em que vive, onde com a prática da musculação, começou a freqüentar
também outro meio, mudando assim juntamente seus ideais, e desejos.
Vimos assim que a procura pela prática da musculação era um
objetivo estético pelo entrevistado, procurava uma transformação corporal,
objetivando assim estar dentro do padrão de beleza idealizada, ou dentro dos
moldes da sociedade em que vive, sendo esse um dos fatores que tem
aumentado o número de praticantes de musculação em nossa sociedade.

37
Com a prática da musculação, o entrevistado entrou em um novo
meio, de uma outra dimensão social, com diferentes objetivos, desejos,
anseios, etc.
Assim, com o passar dos anos, pelo gosto da musculação, do
ambiente, conjuntamente com as pessoas que freqüentam aquele ambiente,
dos resultados obtidos pela musculação, esses resultados físicos e psíquicos,
pois com a mudança do físico o sujeito obteve a realização do seu desejo,
mudando assim também a visão do sujeito em relação ao seu meio. Os
desejos e os objetivos da prática da musculação foram mudando. O
entrevistado passou a fazer parte de um novo ambiente, agindo e interagindo
dentro desse ambiente, dentro de seus moldes.

4.1.2 BLOCO 2 - Sobre a musculação e os esteróides.

Neste bloco, foi perguntado sobre quando o entrevistado começou a


conhecer os esteróides anabolizantes. Onde é respondido que antes do
começo da prática da musculação ele sabia que existiam os esteróides
anabolizantes, porém não tinha um contato direto com eles, nunca tinha-os
visto. Possuindo então uma visão mais geral sobre o que era.
A respeito de quando ele começou a conhecer mais e a ter interesse
sobre os esteróides. Foi dito que começou a ter interesse mesmo, a partir de
um ano de musculação, onde ele começou a pesquisar na internet, a ler livros
na área. Perguntado ainda quando ele foi começando a se interessar pelo uso
e se a prática da musculação teve alguma influência nesse interesse ou serviu
como um estímulo para esse uso. O entrevistado responde que foi a
musculação que o levou ao uso, pois antes, não teria interesse de fazer uso
dos esteróides anabolizantes, sendo que o seu interesse mesmo, foi o de ter
melhores resultados rapidamente. Tendo como principal motivo da época, um
ganho estético, sem nenhuma visão de competição.
Já, se na época do início do uso, o entrevistado já possuía um
conhecimento sobre os esteróides, também como era seu uso. É falado que
antes do uso ele já tinha estudado um pouco, pegando bastante informações

38
com o pessoal mais velho que fazia uso dentro da academia, pela internet.
Considerando seu interesse como grande já na época.
Se alguém teve alguma influência ao uso dos esteróides
anabolizantes, por parte do entrevistado, como por exemplo amigos ou
professores, e ainda qual a participação efetiva do professor neste aspecto. O
entrevistado respondeu que o interesse foi dele mesmo, que ele não sofreu
nenhuma influência, era um ganho que ele queria ter para fins estéticos e
achava interessante. Onde o professor da academia o alertou sobre os perigos
do uso de esteróides, porém não foi contra nem a favor, deixando em aberto
para o entrevistado decidir o que queria.
Sendo que ao ir mais a fundo na relação do professor com o uso, o
entrevistado fala que foi o professor que o orientou primeiramente de como
usar os esteróides e os aplicava no começo do uso. Comentando o
entrevistado que após, começou ele a se aplicar e decidir quais tipos de
anabolizantes utilizar, comprando os esteróides na farmácia e em maior
quantidade com o professor de musculação da academia.
Assim como colocado anteriormente vimos neste bloco, que a
musculação passou a fazer parte integrante da vida do entrevistado,
juntamente com o ambiente da academia, a relação com as pessoas, etc...
Verificamos aí, o interesse do entrevistado pelos esteróides anabolizantes na
tentativa de acelerar o ganho físico obtido pela prática da musculação.
Benefício este, estético e funcional. O qual passou a se tornar um
desejo pessoal do entrevistado. Verificando assim um dos fatores que é
considerado como o principal motivo da utilização dos esteróides
anabolizantes, a antecipação e o aumento do rendimento físico, podendo ser
este rendimento de cunho estético ou esportivo.
Em relação à decisão da utilização dos esteróides, o ambiente da
academia foi considerado pelo entrevistado como um dos fatores principais
desse uso. Assim, a academia era um local no qual os esteróides anabólicos
já estavam presentes, tendo apenas o entrevistado de entrar nesse meio. Um
ambiente agora parte integrante da cultura do entrevistado, (academias de
musculação), em que o uso de esteróides anabolizantes é cada vez maior.

39
Sendo assim, mesmo o entrevistado afirmando que ninguém o
influenciou na decisão da utilização dos esteróides, ele sofreu uma influência
grande de muitos fatores, desde a sociedade que impõe padrões de beleza
estéticos necessários para o consumo. Sociedade esta que segundo BETTO
(2002) incorpora modelitos de consumo, excluindo o diferente e buscando a
semelhança, obtendo a imagem e semelhança dos atores, atrizes e atletas
como paradigmas de consumo. Além também do meio que é um forte
influenciador do sujeito.
Podemos verificar, também, o papel do professor de musculação do
entrevistado, sobre os esteróides anabolizantes, o qual alerta ao entrevistado
sobre os efeitos adversos dos esteróides, deixando em aberto ao aluno a
decisão do uso. Porém vimos após que ele foi responsável pela venda e
prescrição dos primeiros esteróides ao entrevistado. Fator identificador, que
verifica a mercadorização dos esteróides dentro da academia.
Obtendo assim o professor mais uma fonte de renda: a venda dos
esteróides anabolizantes para os alunos interessados. Infringindo assim a lei e
a ética profissional, tanto na venda de produtos controlados pelo governo,
quanto na prescrição de uma droga de controlada, a qual só pode ser prescrita
por um médico responsável.

4.1.3 BLOCO 3 - Sobre o uso dos Esteróides anabolizantes.

Perguntado sobre o que ele começou a utilizar no início, e como era


esse uso. O entrevistado responde que, no início, pegou uma base em livros
específicos, onde o professor também o ajudou, explicando como teria que
tomar os esteróides, os chamados ciclos de utilização, o qual se refere aos
números de anabolizantes utilizados dentro de um prazo ininterrupto de tempo,
tomados normalmente em doses semanais, variando o tempo de utilização
conforme o número de esteróides e a substância ativa dos mesmos.
Foram tomados os esteróides, DURATESTON 250 mg e DECA-
DURABOLIM 50 mg, com um ciclo de 8 ampolas de cada, sendo tomado em
forma de pirâmide, tomadas em doses semanais, onde era começado com uma

40
ampola e ia aumentando com o tempo, chegando num topo e diminuindo o
número de ampolas após o passar do tempo.
De acordo com a utilização dos esteróides, há quanto tempo o
entrevistado utiliza, quais drogas já foi tomou e com quais doses. O
entrevistado diz que já utiliza os esteróides há mais de 4 anos , quase 5.
Tentando sempre dar um bom intervalo de tempo entre um ciclo e
outro, onde normalmente tomava dentre 8 a 10 semanas, dando um intervalo
de 5 a 6 meses para o começo de um novo ciclo. Responde ainda que os
esteróides anabolizantes que já utilizou, foram: DURATESTON (decanoato de
testosterona, fenilpropiato de testosterona, isocapropato de testosterona e
propionato de testosterona), DECA-DURABOLIM (decanoato denandrolona),
DIMETABOL (decanoato de nandrolona), que possui 100 mg do composto
ativo, DECA-GREGA (decanoato de nandrolona), possuindo 200 mg por
ampola, TESTEX (não encontrado na literatura pesquisada), PRIMOBOLAM
(mentelona), AGOVERIM, WISTROL (stanozolol), WINSTROL ORAL
(stanozolol), ANAVAR (oxandrolone), PRIMOBOLAN (mentelona),
HEMOGENIM (oximetolona), EQUIPOISE (undecilenato de boldenone),
ANTATO (não encontrado na literatura pesquisada).
Dentre os esteróides descritos acima, o chamado de EQUIPOISE é
uma droga para uso veterinário, sendo as restantes de uso humano. Ainda,
pouca destas drogas são fabricadas no Brasil, as quais são compradas fora do
país no chamado comércio negro, existindo muito anabolizantes à venda
fabricados em laboratórios clandestinos, os quais na maioria são falsificadas,
ou misturadas a outras drogas, sendo ainda acondicionadas em ampolas não
esterilizadas, o que pode ser um risco potencial à saúde humana, pela falta de
higiene na fabricação. (SANTAREM, 2001); (GUIMARÃES NETO, 1999);
(BOMPA, 2000).
Consumiu ainda outros farmacológicos que não são considerados
esteróides Anabolizantes, como o CYNOMEL (L-triiodotironina sódica) que é
uma produção sintética do hormônio T3, utilizado normalmente para acelerar o
metabolismo e principalmente aumentar a lipólise (queima de gordura), sendo
que sua utilização por um longo período de tempo pode ocasionar o

41
fechamento da produção natural do hormônio T3, ocasionando assim a doença
conhecida como hipotiroidismo (GUIMARÃES NETO, 1999); (BOMPA, 2000).
O CLEMBUTEROL, um composto beta-2 agonista, utilizado pelos
asmáticos para abrir as vias aéreas obstruídas, nos quais os fisiculturistas
utilizam pelos seus efeitos anti-catabólicos e lipotrófico, eficaz na queima de
gordura; e ainda, a INSULINA, uma droga utilizada por diabéticos, na qual a
principal função é de transportar proteínas (aminoácidos) e carboidratos
(glicose) para dentro da célula, tendo assim uma ação benéfica para os
fisiculturistas. Porém esta droga pode ser considerada mais perigosa se mal
administrada, pois se o usuário não aumentar drasticamente o nível de
ingestão de carboidratos, ela ocasionará uma hipoglicemia, num quadro que
se caracteriza por sudorese, falta de ar e tremores, podendo ocasionar um
coma e até mesmo a morte (GUIMARÃES NETO, 1999); (BOMPA, 2000).
Sobre os motivos do uso dos esteróides e como foram mudando
esses motivos com o passar do tempo. É respondido que no começo, o motivo
do uso era para um ganho estético pequeno, mas cada vez foi aumentando
mais. Onde no começo o entrevistado disse que queria chegar aos 40
centímetros de braço e parar por aí. Porém isso não aconteceu, ao chegar aos
40, queria aumentar mais, sendo as metas aumentadas até não ter limites.
Hoje o entrevistado comenta estar cada vez maior.
Nesta parte, por já conhecer o entrevistado, e sabendo que ele
participa de campeonatos de fisiculturismo, pergunto qual o principal motivo
que ele acha que tem levado ao uso dos esteróides, se a maioria das pessoas
que utilizam, os fazem para fins estéticos ou para competições esportivas.
Onde por sua opinião, o entrevistado responde que acha que cerca de 80% a
90%, utilizam os esteróides para fins estéticos, comentando que no verão, é
uma correria para a compra de esteróides.
Pois segundo o entrevistado, muitos utilizam os esteróides achando
que eles vão fazer milagres, dizendo que não é bem assim, que o resultado é
uma combinação de fatores como, treinamento alimentação e descanso, onde
os esteróides servem apenas como um complemento destes fatores.

42
4.1.4 BLOCO 4 - Os efeitos fisiológicos, psicológicos do uso.

Na primeira pergunta deste bloco, pergunto sobre quais efeitos


fisiológicos, mudanças físicas no organismo, encontrados pelo entrevistado
após o uso dos anabolizantes, o qual responde, que no início tomava
esteróides anabolizantes que servem para o aumento de massa muscular sem
restrição de ganho de líquido (ganho de líquido extracelular no corpo), onde em
cada ciclo ganhava de 6 a 8 kilos. Cessando o uso, uma parte desse ganho
era perdida devido a perda da retenção hídrica, perdendo assim volume
muscular devido a diminuição do volume de líquido (água) no organismo.
Perguntado quais as mudanças obtidas desde o início do uso até
agora, o entrevistado responde que possuía por volta de 32 centímetros de
braço no início do uso e hoje ele possui 47,5 centímetros de braço. Onde
ainda, no início da musculação antes do uso dos Anabolizantes, possuía
apenas 29 centímetros de braço. Em relação ao peso corporal, responde que
antes de utilizar possuía de 63 a 64 quilos, possuindo hoje 98 quilos e apenas
10% de gordura no corpo.
Podemos notar aqui que os efeitos fisiológicos encontrados no
organismo do entrevistado foram grandes, fato atribuído provavelmente ao uso
dos anabolizantes. Porém, concluímos que dificilmente uma pessoa teria um
aumento tão grande do volume muscular apenas com o treinamento e
alimentação, ainda mais devido ao seu pouco tempo de treinamento.
superando assim, qualquer limite biológico do corpo.
Notamos que o entrevistado, antes do uso dos anabolizantes, não
era magro para a sua altura pois não se caracterizava como abaixo do normal,
ainda mais ao considerarmos a sua idade. Contudo, pode-se considerar que
hoje a sociedade e o padrão de beleza impõem os valores de peso e
musculatura considerados como normais. Caracterizando assim as pessoas
em gordas ou magras conforme a diferença delas da aparência considerada
bela. A saúde já não é um fator importante de classificação, mas sim a
aparência física.
Sobre os efeitos psicológicos do uso dos esteróides, como
mudanças de comportamento, nervosismo, individualismo, auto-estima, pânico

43
etc. O entrevistado comenta que sentia muita motivação com o uso. Sendo
que antes mesmo dos anabolizantes começarem a dar efeito, ele já sentia um
ânimo a mais para os treinos, aumentava sua irritação, nervosismo e de vez
em quando sentia um pouco mais de dor de cabeça.
Contudo esses efeitos dependiam muito das drogas que estava
utilizando, ocorrendo que algumas apresentavam mais efeitos adversos e
outras menos.
Perguntando se ele já teve alguma crise de agressividade, responde
que não, pois sabe controlar seu nervosismo. Ao parar de utilizar os
anabolizantes, comenta que se sente um pouco mais desanimado, perdendo a
motivação dos treinos, mas apesar disso passa por cima, para não afetar seu
treinamento.
Afirmando que possui o conhecimento e a cabeça, de não utilizar
novamente os anabolizantes antes de dar um período bom de intervalo para o
organismo se recuperar. Comentando que possui muitos amigos que não
conseguem ficar um mês sem fazer uso. Referindo-se às necessidade deles,
como uma bebida para um alcoólatra.
Referindo-se que em muitos casos os anabolizantes chegam a
dependência. Mas no seu caso, ainda não chegaram, e se ele quiser parar,
comenta que para com o uso tranqüilamente.
Assim pode ser caracterizada a motivação como um fator benéfico
para o usuário, pois aumenta a dedicação e a vontade do treino. Já a
agressividade apesar de ter um lado positivo durante o treinamento, pode
ocasionar sérios problemas sociais, ocasionando um distanciamento das
pessoas de convivência, onde a agressividade deve ser considerada um fator
de grande risco, não somente para o usuário como para os que o cercam,
principalmente conforme o perfil psicológico do usuário.
No que se refere à dependência, não se reconhece dependência
fisiológica dos esteróides, mas conforme MELLION (1997 p.151), “há
sugestões em casos isolados, de sintomas da síndrome de privação, como
depressão, queda da energia e cefaléias”. Caracterizando assim casos
aparentes de dependências, muitos semelhantes com os observados com
outras drogas.

44
Pode-se verificar, que o relato do entrevistado como dependência
pelos seus amigos, na maioria dos casos é uma dependência psicológica, onde
ao parar o uso, o usuário não se conforma com a perda da performance. Já de
acordo com o entrevistado, ele diz que não é dependente. Porém, segundo
Mellion (1997), a relutância de mesmo sabendo os malefícios dos
anabolizantes, não deixar de usá-lo, juntamente com a forma de percepção de
seus riscos, vantagens e a racionalização de seu uso, pode ser considerado
como comportamentos consistentes com a dependência psicológica.

4.1-5 BLOCO 5 - Os efeitos sociais do uso.

Neste bloco, o entrevistado diz que algo pode ter mudado na sua
vida em relação à família, conhecidos e amigos após a utilização dos
esteróides anabolizantes, comentando o entrevistado, que muitos amigos
acharam que ele já estava grande demais, passando do ponto, o qual não
precisava. Em que ainda alguns conhecidos começaram a olhá-lo com outros
olhos, um olhar de reprovação.
É dito pelo entrevistado que uns amigos o criticavam, enquanto
outros o incentivavam, o qual comenta, que muitos dos que o criticam às vezes
fazem isso por inveja, pois no fundo querem estar do seu tamanho . Dizendo
ainda, que alguns destes, realçam os malefícios do uso, mas não possuem
muito conhecimento sobre o assunto.
Onde o entrevistado refere o uso dos anabolizantes, em uma
relação risco-benefício, na qual não acha grandes os riscos, reforçando que
estes são diminuídos pelo uso correto. Colocando assim, que os benefícios
são muitos e compensam o risco.
Pode-se notar então, que o físico avantajado do entrevistado não é
admirado por todos, porém se o mesmo não trouxesse algum benefício para
ele, sua busca desenfreada não seria a mesma. Fato confirmado pela visão de
hoje, na qual o corpo malhado é uma espécie de passaporte para o sucesso.
Em relação ao risco benefício colocado pelo entrevistado, é possível analisar
uma série de riscos, efeitos adversos causados pelos esteróides anabolizantes,
principalmente os de longo prazo, daí devemos analisar se algum risco a saúde

45
pode ser considerado compensatório. E quando esse pode ser algum risco a
saúde considerado compensatório, caso possa ser compensatório.
Em relação à família o entrevistado responde que os irmãos sabem
que ele faz uso dos anabolizantes, sendo que eles o alertam bastante. Já os
pais, ele diz que desconfiam, porém não possuem a certeza que ele utiliza.
Assim acha que os pais pensam que ele não faz uso. Perguntando daí, sobre
qual a reação ele acha que os pais teriam se soubessem que utiliza
Anabolizantes, o entrevistado diz que não seria de proibir, mas sim de alertar
sobre os perigos que ele diz que até mesmo sabe. Sendo que o entrevistado
comenta que sempre conversa com os pais sobre esse perigo.
Sobre a namorada, ele responde que ela sabe que ele utiliza, porém
não sabe a quantidade que é utilizada, pensando que ele já tomou mas não
toma mais. Perguntado o entrevistado comenta que com o uso dos
anabolizantes, sente uma diferença do apetite sexual, mas após o uso volta ao
normal, principalmente com o uso de DURATESTOM e DECA DURABOLIM,
pois estes anabolizantes aumentam muito a libido. Verificamos aqui mais um,
dos vários efeitos adversos dos esteróides apresentado na bibliografia
consultada nessa pesquisa.
Ainda comenta o entrevistado que toma muitos produtos para a
regularização da produção hormonal após o uso, ficando após um ciclo
bastante tempo sem tomar, o que faz com que seu corpo volte ao normal
rapidamente. Relatando assim que sua namorada sentia uma alteração no seu
comportamento mas não associava essa alteração ao uso dos esteróides
anabolizantes.
Contudo, em relação às relações sociais, o indivíduo relata uma
grande mudança principalmente por parte dos amigos, mas pode ser
observado que os esteróides causam mudanças nas relações sociais, tanto
para melhores quanto para piores, podendo ser elas também maiores ou
menores, dependendo assim da pessoa e de suas relações sociais.
Em relação ao trabalho e estudos, o entrevistado responde que
quando fazia o uso dos anabolizantes e estava em dieta para campeonatos,
sentia um pouco mais de nervosismo e inquietação, dificultando assim sua
concentração para os estudos, relacionando esses fatores mais pela dieta em

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si do que a utilização dos anabolizantes. Já no trabalho a utilização dos
anabolizantes não interfere em nada comenta o entrevistado, afirmando que
trabalha em casa e faz os seus horários, assim os esteróides não interferem
nessa questão.
Novamente verificamos a presença de efeitos adversos causados
pelos anabolizantes, como nervosismo, inquietação, etc.. sendo atribuídos
estes efeitos pelo usuário também como efeitos da dieta. Porém verificamos
que estes efeitos também são caracterizados como efeitos adversos do uso
dos anabolizantes pela literatura consultada.
Enfim, por conhecer o entrevistado, já possuindo um certo
conhecimento sobre seu trabalho, pergunto-lhe um pouco mais sobre seu
trabalho, fazendo com que ele se abrisse e falasse com o que realmente
trabalha. Respondendo assim o entrevistado que hoje em dia trabalha na
venda dos próprios esteróides, onde com o passar do tempo foi em busca de
alguns fornecedores nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, além das
pessoas começarem a associar o seu corpo aos anabolizantes. O entrevistado
diz que começou a comprar primeiramente para os amigos, o que acabou se
tornando hoje uma profissão, dizendo também que hoje não vende somente
Bomba (anabolizantes), vende também suplementos alimentares e artigos
esportivos. Só que a procura pelos esteróides diz que é muito maior.
Aprofundando um pouco sobre seu trabalho, o entrevistado
responde que os compradores dão mais credibilidade ao seu conhecimento,
devido o seu tamanho. Afirmando que vende os anabolizantes, somente para
quem vêm procurá-lo. Caracterizando os professores de academias e
revendedores como seus principais compradores, dizendo que vende mais em
grande quantidade, sendo poucos os alunos, ou usuários isolados que o
procuram.
É notado aqui um dos fatos mais marcantes da entrevista com o
usuário, onde ele passa de um consumidor para um vendedor, verificando aqui
a questão tão implícita da mercadorização do corpo, passando os esteróides
anabolizantes a ser diagnosticados como bem de consumo. Uma nova relação
trabalhista observada pela sociedade é vista neste instante, passando o corpo
como objeto de comércio, e os produtos que o modifiquem como bens de

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consumo, verificando aqui também um novo tipo de mercado corporal, um
mercado individualista, onde o indivíduo é o proprietário da sua “firma”, o
prestador de serviço, empregado e a própria propaganda. Fato observado
principalmente pelos profissionais de academias de musculação, onde nas
academias vê-se somente professores com corpos definidos e musculosos,
sendo caracterizado muitas vezes seu conhecimento pela sua aparência,
observamos então uma certa esteriotipizacão dos professores.
Pode ser feita a pergunta, quem confiaria na capacidade de um
profissional de musculação ou de Educação Física gordo ou sem massa
muscular? Não estou afirmando aqui que um professor de academia não
precise malhar, ou cuidar do corpo, é claro que a figura do professor sempre
vai servir como um espelho, uma motivação, precisamos aqui é analisar até
que ponto o profissional da área influi na afirmação dos padrões de beleza.
Pois como professor de musculação atuante em academias, vejo
hoje uma gama de profissionais que são valorizados pelo seu corpo, onde
muitos fazem uso de anabolizantes para melhorar o seu físico com o intuito de
serem mais valorizados e credibilizados pela sociedade.
Finalizando esse bloco, pergunto então sobre qual o principal motivo,
que leva o pessoal à procura dos esteróides com ele. Responde o entrevistado
que dentre 80 a 90% é para fins estéticos, e poucos o procuram para algum
campeonato de força, de atletismo e Jiu-Jitsu. Dizendo que até mesmo vem
pessoas a procurá-lo por causa de testes que normalmente possuem prova
física, como os concursos da polícia, exército, marinha etc... Afirmando o
entrevistado que não existe teste antidoping nesses concursos. E ainda nas
competições esportivas poucas o possuem, existindo teste antidoping somente
em competições importantes, as quais são na maioria de nível mundial.
O entrevistado afirma que tem muita gente utilizando anabolizantes.
Onde em porcentagem, acredita que de quem já treina há um tempo e sério
na academia em torno de uns 60 a 70% utiliza, colocando em torno de 10% de
utilização dentre a população geral das academias musculação. Sendo esse
índice muito mais alto pelos praticantes de jiu-jitsu.
É verificado neste ponto da entrevista, pela afirmação de um
vendedor, que o principal motivo do uso dos esteróides anabolizantes é o

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estético. Podendo ser considerado que a maioria dessa utilização é para
aumentar o resultado obtido pela prática da musculação, a hipertrofia muscular,
e ainda antecipar esse efeito. Nota-se ainda até onde chega a utilização dos
esteróides anabolizantes, sendo relatado pelo entrevistado que até para
concursos públicos se utilizam deles. Podemos analisar até onde a utilização
dos esteróides podem chegar.
De acordo com a porcentagem relatada pelo entrevistado de
utilização, pode-se notar um perfil alto de utilização dos esteróides na
sociedade, sendo observado ainda nas poucas pesquisas índices maiores de
uso, como observado na parte da revisão bibliográfica deste trabalho, como por
exemplo a pesquisa realizada por SILVA (1999), que obteve o resultado de
13,76% de usuários. Ou ainda muito mais alto como a pesquisa realizada pelo
Programa de Prevenção e Tratamento do Uso de Drogas na USP (PRODUSP),
que apresentou 25% de uso numa população de quase 1500, jovens de 18 a
25 anos. Notando-se aqui que o uso dos anabolizantes está aumentando cada
vez mais.

4.1.6 BLOCO 6 - Síntese de vida e expectativas para o futuro.

Peço para o entrevistado nesta parte da entrevista, que ele comente


sobre sua síntese de vida. O que ache pertinente do início da sua utilização
dos anabolizantes. Onde o entrevistado responde, que o que ele teve de
ganho com a musculação, acha que foi legal, relatando que claro que não foi
apenas os esteróides que acarretaram esse ganho, mas sim a relação deste
com o treinamento, descanso e alimentação, e até mesmo os esteróides.
Comentando que os esteróides anabolizantes lhe ofereceram bastante
contatos, e que hoje a vida dele está baseada nos esteróides, claro que ele
estuda e faz outras coisas, mas coloca que está se mantendo e ganhando
dinheiro e nome através dos esteróides, o que ele diz que é uma coisa boa.
Em relação aos efeitos colaterais ele coloca que até hoje foram
poucos, que sempre quando ele faz exames preventivos, aparece tudo bem.
Afirmando o entrevistado que sempre faz exames preventivos, como de fígado,
rins, produção hormonal, etc...

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Confirmando o entrevistado que os efeitos colaterais que mais sente,
são os efeitos psicológicos, como desmotivação para o treino, fato ocasionado
pela perda da força muscular. Entretanto, tenta sempre passar por cima disto.
O entrevistado ainda coloca que às vezes sofre algumas lesões, pois as
articulações não suportam o aumento da força repentinamente, e com isso vem
o aumento rápido de peso nos exercícios. Além disso, já teve ginecomastia, e
relata que nunca teve impotência. Finalmente em relação com a sua fertilização
diz ele que fez exames e apresentaram todos normais.
Perguntando se ele acha que é a prática da musculação um dos
principais fatores que influenciam para o uso de esteróides anabolizantes, o
entrevistado responde que sim, que acha que a musculação influencia, porém
diz que vai muito da cabeça de cada pessoa, dos seus objetivos, desejos, etc.
Afirmando que hoje utiliza os anabolizantes com o objetivo de
participar de campeonatos de fisiculturismo. Porém tem muitas pessoas que
utilizam por influência de amigos, sem nenhuma prescrição e objetivos
concretos, o que ele coloca que assim acaba por trazer o uso mais malefício
do que benefício, apesar de se tomar em pouca quantidade, colocando o
entrevistado assim que o uso acaba fazendo mais mal do que quem toma em
grande quantidade, de uma forma científica e com objetivos pré-definidos.
Sobre o mundo das competições, perguntando se é possível entrar
em competições de fisiculturismo sem o uso de esteróides anabolizantes. O
entrevistado coloca que isso não existe, muitos campeões dizem que nunca
utilizaram, mas isso não é verdade, onde a maioria diz que não faz uso, mas
isso é em questão de uma ética esportiva. Além de que muitos atletas são
patrocinados por loja de suplementos, e se falassem a verdade perderiam o
patrocínio, comenta o entrevistado.
A nível profissional o entrevistado coloca que todo mundo utiliza,
sendo uns mais outros menos, mas o percentual é de 100%. Perguntando
ainda se nessas competições existe exame antidoping, ele responde que sim.
Existe mais a nível nacional, contudo esses exames facilmente são ineficazes,
Pois existem muitas maneiras de burlar esses exames.
.Assim, diante dessas respostas, pode-se afirmar que para o
entrevistado os esteróides lhe trouxeram algum benefício, podendo esse ser

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prestigio, dinheiro, ou até mesmo fama. E que não lhe trouxeram “ainda” efeitos
prejudiciais ao organismo que colocassem sua saúde ou vida em risco, a não
ser o fato da utilização da insulina, fato visto a seguir. Entretanto devemos
analisar que os malefícios do uso dos esteróides são piores com a prolongação
do tempo de uso, apesar de pesquisas nessa área serem poucas. É visto que o
entrevistado está colocando sua saúde em risco.
Em relação ao uso dos esteróides pelos competidores é confirmado
que o número de usuários de esteróides nessa esfera é cada vez maior, e não
somente no mundo das competições de força e fisiculturismo. Considera-se
que esse aumento é uma coisa oriunda do próprio objetivo do esporte, que
VAZ (1999) coloca como o ultrapassamento do limite fisiológico do corpo. Em
relação ao comentado pelo entrevistado sobre os exames antidoping é
observada a guerra (doping x antidoping), confirmando que o doping sempre
acaba por vencer como é citado por GUEDES, (1997).
Sobre a questão se a sociedade teve alguma influencia para ele, na
utilização dos esteróides anabolizantes, o entrevistado descreve que não, que
foi uma opção pessoal dele, sendo que ele vê que a sociedade reprime um
pouco o fisiculturismo, achando os atletas muito exagerados, achando muita
massa muscular a aparência . Porém coloca que muitas pessoas utilizam os
anabolizantes devido a pressão de estar bem para o verão, de ir para a praia,
para a academia, etc. Achando que os anabolizantes vão proporcionar isso a
eles.
Em questão de como o entrevistado se sente em relação ao seu
corpo, ele coloca que a musculação lhe proporciona uma sensação boa, porém
afirma que cada vez quer mais, não se sente que está bem hoje, quer a cada
dia estar melhor e com mais massa muscular. Buscando cada vez mais
melhorar seu nível de competição.
De acordo com a saúde e como o entrevistado se sente, ele coloca
que no seu caso vale a pena colocar a saúde em risco, mas fora pelo objetivo
de competição, acha que não vale a pena. Afirmando que fora do esporte o
esteróide é desnecessário. Relatando que sem o uso dos anabolizantes, não é
possível ser um campeão dentro das competições.

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O entrevistado coloca ainda que existem muitas substâncias
perigosas, que mesmo tendo um controle severo continuam sendo perigosas,
como o caso da insulina, que apesar de não ser um esteróide é muito utilizado
em companhia deles. Sendo que o entrevistado relata ainda, que há pouco
tempo foi parar no hospital. Dizendo ele foi por culpa própria. Pois sabendo que
é necessário aumentar a ingestão de carboidratos após o uso desta
substancia, não o fez, causando assim uma hipoglicemia severa que o deixou
desmaiado por três horas. Analisamos aqui até que ponto o uso dos esteróides
não é prejudicial à saúde, não somente o uso dos esteróides mas de todo o
arsenal necessário para ser um campeão esportivo, até que ponto a medalha
está acima da vida. Verificando aqui a questão da deificacão das aparências
apresentado por SILVA (1997), onde o “cuidado” com o corpo (para obtenção
de um padrão corporal), está acima de tudo, até mesmo da vida, ainda
apresentado por BRACH (2002), como “egobuilding” ou “um ser mais, sempre
mais”, onde o indivíduo se constrói “à la carte” com o propósito de um status
próprio.
Ao perguntar se ele acha que os esteróides, são substâncias
benéficas para o esporte, coloca que não, pois ainda não existe um esteróide
sem riscos colaterais.
De acordo com a opinião do entrevistado sobre a legitimidade dos
esteróides. Ele coloca que os considera legítimos a nível de competição
somente. Colocando que se fosse hoje em dia, para fins estéticos como ele
acabou começando não o utilizaria. Sendo que para esse objetivo ele não
recomenda na verdade, onde após ele coloca que até recomenda por outro
lado pois ele também vende. Recomendando assim como um fator financeiro.
Sendo que o entrevistado coloca que, sempre para quem vende ele
alerta sobre os riscos, e deixa claro que não só os esteróides o deixaram com o
corpo que ele possui hoje.
Já em relação ao futuro, o entrevistado responde que deseja
continuar competindo e utilizando os esteróides, até quando o organismo
suportar, chegando até os 60-65 anos, comenta ele. Já com o serviço de venda
dos esteróides ele relata que não pretende fazer isso pela vida toda, que é uma
coisa mais para agora, para poder competir, se sustentar, etc, no futuro busca

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abrir uma loja de suplementos alimentares, com uma coisa mais natural,
reforça o entrevistado.
Por finalizar, é visto neste ponto que o entrevistado não considera o
esteróide benéfico para o esporte pelo fato deles possuírem efeitos colaterais,
o que podemos analisar como uma verdade, pois se o objetivo do esporte é a
quebra do limite fisiológico do corpo, os esteróides vêm fazer isso, eles estão
indo ao encontro da ideologia do esporte, o único fator que interfere nisso é o
mal que ele pode causar para a saúde.
Vimos também após a questão da mercadorização dos esteróides e
do corpo, fator incluso dentro da nossa sociedade capitalista, em que o que
importa é o sucesso e o capital (dinheiro). Estar preocupado com a saúde ou
não, é uma mera questão de ética profissional.
Contudo podemos caracterizar outro ponto importante de visão da
sociedade, o tempo. Podemos analisar assim que vivemos numa sociedade do
tempo presente, onde o que importa é o presente, o agora. Onde o futuro é
desprezado cada vez mais. Só se tem preocupação com o futuro quando este
chegar. Fato que podemos ampliar para outros fatores da sociedade,
principalmente o ambiental, apresentando à nossa sociedade nenhuma, ou
muito pouco uma preocupação com o futuro ambiental.
Fato que pode ser considerado como uma credibilidade do
crescimento da ciência. Onde acreditasse que ela tudo pode e tudo consegue,
até mesmo recuperar o que foi degradado, entrando aqui a natureza e a vida.

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CAPÍTULO V - CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES

Verifica-se que o consumo de anabolizantes vêm crescendo


gradativamente nas últimas décadas, tanto para fins estético quanto esportivo,
devido a seus efeitos físicos na melhora da performance. Fato que pode ser
considerado pelo crescente culto ao corpo e a crescente comercialização que o
corpo vem ganhando dentro da nossa sociedade. Apresentado assim, pela
generalização de um padrão de beleza esportiva (anabolizado), tanto pela
mídia quanto pela indústria cultural.
Verificamos ainda, que os esteróides anabólicos androgênicos, são
na realidade medicamentos indicados para certos tipos de doenças, sendo
seus efeitos ainda não totalmente confirmados pelas pesquisas, pois
dependem diretamente da droga administrada, a quantidade e freqüência das
doses, além da predisposição individual de cada pessoa. Contudo, as pessoas
que estão utilizando estas drogas, estão correndo riscos de saúde ainda não
confirmados ou desconhecidos.
De acordo com a entrevista realizada com o usuário, vimos que pelo
seu ponto de vista, o meio onde vive (a sociedade) não foi um fator influente na
sua decisão de utilização dos esteróides, porém o que acreditamos na verdade
é que a sociedade teve uma influência sim, sendo que a sua decisão pela
utilização dos esteróides anabolizantes foi conseqüência de um conjunto de
influências, entre elas a sociedade, a mídia, a comercialização do corpo, o
esporte de rendimento, dentre outros, conjuntamente também o indivíduo e seu
perfil. O mesmo podemos dizer, sobre a fala do entrevistado, quando ele diz
que foi a musculação que o levou ao uso dos anabolizantes. Acreditamos aqui
também, que foi aquele conjunto de influências já citados anteriormente e não

54
somente a musculação a responsável por esse fato. Onde, na verdade, ele já
vinha a ser influenciado, e a musculação e o ambiente da academia de
musculação, causou uma nova influência, proporcionando ao entrevistado a
obtenção e a utilização dos anabolizantes.
Em relação ao professor de musculação do entrevistado e sua
participação no uso dos esteróides, vimos aqui uma figura de um profissional
que também vem por sofrer uma grande influência dos aspectos que
promovem o uso dos esteróides. Principalmente no caso deste a questão
comercial, pois para esse professor de musculação a venda dos anabolizantes
é uma fonte de lucro, onde o maior interesse para ele é o financeiro, não a
formação e a saúde dos seus alunos, Pois é sabedor de todos os malefícios
que a utilização dos esteróides anabolizantes causam ao organismo humano.
Fato que nos alerta a julgar esse profissional por uma conduta ética e moral,
além de abrirmos os olhos para qual vêm a ser a formação dos profissionais
que atuam nesse campo da Educação Física.
Conforme a análise dos efeitos obtidos pelo entrevistado com o uso
dos esteróides anabolizantes, podemos verificar que apesar das literaturas
apresentarem pesquisas contraditórias sobre os efeitos dos esteróides
anabólicos, em relação ao desempenho, vimos diante dos dados apresentados
na entrevista, que como o entrevistado era antes do uso dos esteróides e a
nossa observação do entrevistado hoje, qualquer limite biológico foi superado.
Onde, sem a utilização dos anabolizantes, nenhuma pessoa conseguiria se
transformar de como ele era, para a “montanha” de músculos que ele é hoje.
Contudo devemos analisar, até quando seu organismo vai suportar essa carga
de hormônios e quais as conseqüências que eles podem causar no seu
organismo. Podendo-nos assim perguntar, até que ponto a estética corporal
prevalece sobre a saúde hoje em dia? E o porquê disso ocorre em nossa
sociedade?
Ainda, em relação aos efeitos psicológicos, podemos verificar que o
entrevistado relata muitos efeitos como mudanças de comportamento,
irritabilidade e segundo ele, principalmente a motivação. Contudo, devemos
verificar que alguns desses efeitos não estão relacionados somente com o uso
dos esteróides anabolizantes. Há também uma grande relação com o meio do

55
usuário e sua interação com esse (sociedade). Assim, verificamos que a
sociedade influencia, até um certo ponto, na motivação do usuário. E que
muitos desses efeitos também estão relacionados com um conjunto de fatores,
não somente o uso de anabolizantes, como a dependência, esta química
(esteróides) e psicológica (social).
Por finalizar, cremos que ao analisarmos a relação comercial
apresentada pelo usuário e os esteróides, como visto anteriormente, devemos
nos preocupar com a questão da extrema valorização e comercialização do
corpo em nossos dias, criticando e refletindo sobre esse novo tipo de comércio
e relações trabalhistas, um “comércio corporal”. Comércio esse individualista e
exacerbado, onde o único interesse é o consumismo. Comércio este criado e
sustentado pelo capitalismo e a indústria cultural, a qual influencia e padroniza
padrões corporais de um super-atleta.
Contudo, ao refletirmos sobre os esportes, hoje podemos verificar
(conforme o entrevistado), que para ser um campeão, todos ou quase todos
utilizam esteróides anabolizantes ou outras substâncias afins, principalmente
nos esportes que exigem força muscular. Assim, ao analisarmos o esporte
vimos uma ideologia que promove uma superação e uma competição
exacerbada onde o principal é ser o melhor, “um campeão”, passando isso por
cima de tudo e de todos.
Assim, através da história da vida desse sujeito, podemos refletir
sobre a sociedade em que vivemos, sociedade esta que utiliza esteróides
anabolizantes até mesmo para a aprovação de um concurso público, onde o
status, fama e dinheiro prevalecem acima da saúde.
Por analisar o apresentado pelo entrevistado como expectativa de
futuro, identificamos uma trama perfeita entre o comércio e o corpo, onde aqui
entra o uso dos esteróides anabolizantes. Assim, vimos hoje, a utilização dos
esteróides pelo entrevistado como uma maneira de ganhar fama e confiança na
sua profissão, ocorrendo isso num ciclo vicioso. Onde ele, num futuro, quando
seu organismo não suportar mais os esteróides, abre uma loja de suplemento e
contrata uma pessoa para lhe substituir.
Finalizando, creio que não há como analisar os esteróides
anabolizantes, sem analisar sua relação num todo. Devemos julgar e criticar os

56
esteróides anabolizantes através de um conhecimento específico, juntamente
por uma análise e reflexão sobre a sociedade em que vivemos e qual sua
influência sobre seu uso. Contudo, vejo assim, uma maior necessidade de
estudos para a compreensão e entendimento dessa realidade. Sendo preciso
que todo o profissional que atue nessa área possa ter uma base desse
conhecimento e posse passar a seu aluno, uma postura crítica da realidade
observada e sobre esse tema em questão.

57
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61
Anexos

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A entrevista/conversa (Roteiro)

1 Bloco de tópicos: Sobre a Musculação (Antes dos Anabolizantes) –


motivos para prática da musculação, efeitos da musculação.

 Qual foi o principal motivo que te levou a procurar uma


academia de musculação?
 Com quantos anos você começou a praticar musculação? Qual
era o objetivo da prática nesta época? Qual meta?
 Qual foi o primeiro resultado do treinamento de musculação,
chegou no seu esperado inicialmente? Mudou alguma meta a partir
desta primeira fase?
 Conte um pouco de sua história com a musculação antes de
usar esteróides anabolizantes, como era sua vida nesta época, o
que você fazia, quais metas etc, o que você achar pertinente para
comentar.
 Somente a prática da musculação, mudou alguma coisa, ou
começou a mudar, na sua vida, em relação a antes da prática?

2 Bloco de tópicos: Sobre a musculação e os esteróides.

 Quando você começou a conhecer os esteróides


anabolizantes?

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 Quando você começou a pensar sobre o uso, porque motivos, e
objetivos? A prática da musculação teve alguma influencia?
 Você possuía na época algum conhecimento científico sobre os
esteróides anabolizantes, como efeitos, utilização, tipos...
 Alguém, te influenciou ao uso dos esteróides anabolizantes, e seu
professor de musculação, soube ou qual a participação dele nisto?

3 bloco de tópicos: Sobre o uso dos Esteróides anabolizantes -


forma de utilização, quais esteróides, conhecimento sobre...

 O que você começou a utilizar, como era o uso, e se foi indicado por
alguém?
 Conte como foi sua experiência de uso com dos anabolizantes? O
que você utilizou, quais doses, como era a utilização, quanto
tempo? Etc... tentando fazer uma retrospectiva, do início do uso
até a hoje em dia?
 E sobre os motivos com a utilização, conte como foi mudando com o
passar dos anos e do uso?

4 bloco de tópicos: Os efeitos e as conseqüências do uso dos


esteróides. (fisiológicos, psicológicos.

 Conte-nos agora um pouco sobre os efeitos do uso dos


esteróides, comece agora a contar um pouco sobre os efeitos
fisiológicos, os percebidos no organismo? Quais as primeiras
mudanças, se teve alguma diferença de um tipo para o outro.
Comente também um pouco sobre os efeitos encontrados em
você sobre os diferentes tipos de esteróides anabolizantes.
 Em questão com a parte psicológica, você sentiu alguma
alteração com o uso? Alguma mudança de comportamento,
nervosismo, auto-estima, individualismo, motivação, pânico
etc...

64
50 bloco de tópicos: Os efeitos sociais - O cotidiano familiar,
namorada, emprego, estudo etc...

 No âmbito familiar, na relação de amigos, namorada ou esposa


mudou algo em sua vida que você acha que foi por
responsabilidade dos esteróides? Como é estabelecida sua
relação com eles e deles com você?
 Alguns dos contextos citados anteriormente, sabe que você
utiliza Anabolizantes? Qual a reação destes, houve alguma
mudança de comportamento
 Em relação ao trabalho ou aos estudos, você sentiu alguma
alteração, qual o conciliamento deles? Se houve interferência
ou não. Etc...

60 bloco de tópicos: Síntese de vida e expectativas para o futuro.

 Faça uma síntese da sua vida, desde o início, e o uso dos


esteróides anabolizantes? comente algo que ache pertinente a
esse trabalho.
 A musculação em si, você acha que foi um papel determinante
para o seu uso de esteróides anabolizantes?
 Você acha que o uso de anabolizantes, e a musculação, estão
ligados diretamente? a prática da musculação leva ao uso de
esteróides?
 Você que é praticante de musculação para fins competitivos,
acha que é possível entrar nesse esquema sem a utilização de
anabolizantes? O que você acha dos que falam que só utilizam
suplementos alimentares.
 Você conhece alguém dentro do mundo competitivo que use
anabolizantes? Ou não? Qual a proporção que você estima?

65
 Comente um pouco a questão da sociedade e estética ideal, o
padrão de beleza imposto pela sociedade atual, teve ou tem
algo a ver com a sua idéia de utilizar esteróides anabolizantes?
 Como você considera que está sua saúde, você acha que vale
arriscar a saúde com a utilização dos esteróides?
 O que você acha dos esteróides anabolizantes? Comente sua
opinião pessoal sobre o uso? Você acha legítimo o uso de
esteróides? Com quais objetivos, e quando?
 Qual sua Expectativa para o futuro? E qual a expectativa em
relação aos esteróides no futuro?
 Comente um pouco sobre fatores, ou sugestões que você ache
pertinente para a construção deste trabalho?

66

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