Aula 5 - Sociologia Viviane Vidigal

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AULA 5

1.8 O trabalho humano e sua evolução histórica: trabalho escravizado, trabalho


feudal em servidão, trabalho livre desprotegido.

TRABALHO PRIMITIVO

Durante a Pré-História, especificamente na Idade da Pedra Lascada, o trabalho


humano passou a ser aprimorado. Os seres humanos começaram a construir
ferramentas para caçar, para confeccionar suas próprias vestimentas e para preparar
os alimentos.

Embora essas ferramentas fossem rudimentares, elas facilitavam aspectos


relacionados ao trabalho dessa época. Com o tempo, outros objetos foram sendo
criados e produzidos.

Quando começou a desenvolver técnicas para aprimorar sua subsistência e facilitar


suas atividades, o ser humano, na verdade, começou a produzir o mundo ao seu redor
por meio dos objetos e dos significados atribuídos a eles.

Diferentemente dos outros animais, o ser humano não produz apenas por instinto,
mas, ao fazê-lo, tem uma intenção específica e plena consciência dessa ação, motivo
pelo qual se diz que ele organiza racionalmente o trabalho.

Segundo o antropólogo Gordon Childe, em um determinado momento da pré-história,


os homens perceberam que outros homens poderiam ser usados para o trabalho ou
"domesticados" como os animais. Nas civilizações da Antiguidade - Egito, Babilônia,
Grécia, Roma a escravidão passou a ser prática constante.
TRABALHO NA ANTIGUIDADE

Na Antiguidade, predominou o trabalho escravizado, que é um tipo de trabalho


compulsório, ou seja, trata-se de condição de trabalho imposta, relacionada à perda
da liberdade de escolher das pessoas que são escravizadas.

Elas não são remuneradas e perdem sua liberdade de escolha de ir e vir, sendo
submetidas, por meio da força e do poder, a outras pessoas. Civilizações como Egito,
Grécia e Roma mantinham esse regime de trabalho.

Trabalhadores escravizados na Antiguidade chegavam a essa condição,


principalmente, diz a maioria dos livros de história, por se tornarem prisioneiros de
guerra, não havendo, porém, um comércio de escravizados intenso, como ocorreu
séculos mais tarde, com o tráfico de escravizados africanos que eram levados para a
América.

TRABALHO NA IDADE MÉDIA

Com o fim da Antiguidade e o início do período que conhecemos como Idade Média,
a escravização de pessoas diminuiu e predominou a chamada servidão, que também
constituiu um tipo de trabalho imposto, pois trazia ao servo obrigações em troca do
direito de permanecer nas terras do seu senhor e poder cultivá-las.

A sociedade feudal era dividida em três camadas sociais: clero, nobreza e


campesinato. O trabalho, por meio da servidão, era realizado pelos camponeses,
responsáveis pelo trabalho com a terra e pela produção agrícola.

O feudalismo foi a forma de organização social e econômica instituída na Europa


Ocidental entre os séculos V a XV, durante a Idade Média. Baseava-se em grandes
propriedades de terra, chamadas de feudos, que pertenciam aos senhores feudais, e
a mão de obra era servil.

Com a queda do Império Romano do Ocidente e a invasão dos povos bárbaros entre
os séculos IV e V, a Europa atravessou um período de ruralização, isto é, os
moradores da cidade se deslocaram para o campo, fugindo da instabilidade
provocada pela movimentação dos bárbaros.

O que é feudalismo?

De acordo com Jacques Le Goff, um dos principais estudiosos da Idade Média, o


feudalismo é “um sistema de organização econômica, social e política baseado
nos vínculos de homem a homem, no qual uma classe de guerreiros especializados
— os senhores —, subordinados uns aos outros por uma hierarquia de vínculos de
dependência, domina uma massa campesina que explora a terra e lhes fornece com
que viver”.

O feudalismo foi um modelo social e econômico que vigorou dos séculos V ao XV,
na Europa Ocidental, e que marcou profundamente a Idade Média. Esse modelo era
baseado na terra e, por meio dela, constituíam-se a atividade econômica e a estrutura
social.

Origem do feudalismo

A origem do feudalismo está na crise que provocou a queda do Império Romano do


Ocidente. No século III, por conta da crise econômica provocada pela falta de
escravizados e das invasões germânicas, os romanos abandonaram as cidades e
migraram para o campo com o objetivo de encontrar proteção e trabalho. Dessa
forma, surgiam os colonatos, nos quais aqueles que encontravam abrigos no campo
trabalhavam para o seu senhor.

O surgimento dos reinos germânicos, no século V, contribuiu para aprofundar o


processo de ruralização europeia. Além desse movimento de saída das cidades
para o campo, o enfraquecimento do poder político contribuiu para o surgimento do
feudalismo.

CARACTERÍSTICAS DO FEUDALISMO

SOCIEDADE FEUDAL

A Igreja Católica se fortaleceu nesse período ao fazer alianças com os reis


bárbaros que instalaram seus domínios na Europa. Dessa forma, os povos
pertencentes a esses reinos foram convertidos ao cristianismo, e o papa se tornou
poderoso não somente nos assuntos celestiais, mas também políticos. Iniciava-se a
tradição, que se estendeu até o século XIX, dos papas coroarem os novos reis, uma
cerimônia que marcava a aproximação da Igreja com o poder político.

O clero se tornou uma classe social poderosa e atuante na formação da mentalidade


medieval. A crença se baseava na força divina contra o maligno e na negação do fiel
sobre os prazeres mundanos em busca da salvação da sua alma. A cultura clássica
ficou guardada nos mosteiros para ser preservada das invasões, e os monges
copistas tiveram papel importante na reprodução desses escritos.

A ruralização europeia promoveu o fortalecimento dos nobres. A nobreza era


formada pelos senhores feudais, por cavaleiros que garantiam a segurança dos
feudos e por outros donos de terras.
Nessa classe social se desenvolveu a fidelidade entre suseranos e vassalos. Os
suseranos eram aqueles que concediam terras e outros favores aos vassalos, e estes,
em troca, deveriam retribuir o favor quando solicitados. Essa fidelidade era uma
característica dos povos bárbaros e que foi incorporada nas relações sociais feudais.
Fazia-se uma cerimônia para tornar público o acordo firmado.

Ao contrário da Idade Antiga, quando a mão de obra era escravizada, durante o


período medieval, a mão de obra era servil. Os servos eram a maioria da população
e originários daqueles que fugiram das invasões bárbaras e se abrigaram nos
feudos. Em troca de moradia e proteção, os servos trabalhavam para os
senhores feudais e para a sobrevivência deles mesmos e de suas famílias. A eles
cabiam inúmeras exigências, cobranças sobre os usos dos utensílios pertencentes ao
senhor feudal, a entrega de parte da produção, o dízimo para a Igreja.

A sociedade feudal era rural, estruturada nos feudos, e a minoria que estava no topo
da pirâmide social (nobres e clero) era sustentada pela classe de maior tamanho e
a única que trabalhava, a dos servos. Era uma sociedade estamental, que não permitia
a mobilidade social, conforme um ditado da época: “Existem aqueles que lutam
(nobres), aqueles que rezam (clero) e aqueles que trabalham (servos)”.

ECONOMIA FEUDAL

A economia durante a Idade Média era basicamente agrária, o que não significa
afirmar que o comércio tenha desaparecido. Durante a Antiguidade Clássica, o mar
Mediterrâneo foi o principal local do comércio marítimo. Com a expansão árabe a partir
do século VII d.C., o Mediterrâneo foi conquistado por esse povo, e os europeus
ocidentais não tinham alternativa a não ser a agricultura. Além disso, com a fuga das
cidades para o campo, a terra se valorizou.

A prática agrícola exigia cuidado com a terra. Para isso, os servos que trabalhavam
nela utilizavam instrumentos como o arado e a força dos animais domesticados.

POLÍTICA FEUDAL

Cada feudo se autogovernava, estabelecendo sua própria política.

CONCESSÃO DE TERRAS

Com a ruralização da Europa, as terras se valorizaram e se tornaram moedas de troca.


O rei carolíngio, Pepino, o Breve, cedeu grande quantidade de terras para a Igreja
Católica, mais especificamente na região central da Península Itálica. Surgiam assim
os Estados Pontifícios, que eram territórios pertencentes ao papa e que vigoraram até
a Unificação Italiana, em meados do século XIX. O atual território do Vaticano, em
Roma, é o que restou desses Estados e só foi reconhecido pelo governo italiano após
a assinatura do Tratado de Latrão, na década de 1920.

A Igreja se tornou dona de uma grande quantidade de terras durante o período


medieval. Se ela já detinha o poder espiritual, também exercia enorme poder sobre a
terra.

Outra forma de concessão de terras era mediante acordos de fidelidade. As relações


sociais na Idade Média eram caracterizadas dessa forma. O suserano era o
proprietário de terra que a cedia para um vassalo em troca da sua fidelidade.
Essa concessão era feita mediante contrato celebrado em evento público, com toda
pompa e a presença de um bispo para assegurar a sua validade e a sua execução.

CRISE DO FEUDALISMO

A crise do feudalismo começou a partir do século XII, quando mudanças na


sociedade europeia colocaram em xeque as estruturas do feudalismo. As cidades
voltaram a surgir após séculos de abandono, desde os tempos das invasões bárbaras.
Houve o aumento populacional ocorrido no ano 1000, também chamado de “ano da
paz de Deus”, por conta da queda significativa nas guerras medievais. Com
o aumento demográfico, a produção agrícola também se expandiu, exigindo maior
trabalho dos servos e o uso de técnicas mais avançadas para atender a demanda.

Outro fator que transformou a sociedade europeia foram as Cruzadas. Inicialmente


eram expedições religiosas que se dirigiam até o Oriente para resgatar os locais
sagrados para os cristãos e que estavam nas mãos dos islâmicos. No entanto, essas
expedições ganharam outras dimensões ao trazerem para a Europa Ocidental
produtos orientais, como as especiarias.

O comércio retomava suas atividades após mais de um milênio de predomínio


agrícola. O mar Mediterrâneo voltava a receber expedições comerciais que
interligavam o Ocidente com o Oriente. As cidades italianas de Gênova e Veneza
fizeram acordos comerciais com os islâmicos a fim de manter a abertura do
Mediterrâneo para essa nova onda comercial.

Surgia nesse contexto a burguesia, uma classe social formada por comerciantes
que enriqueceram com as trocas comerciais de produtos orientais. Ao redor dos
feudos se formavam as feiras, que faziam as negociações dos produtos; instalava-se
os primeiros bancos para fazer as conversões monetárias, e as moedas voltavam a
circular no Ocidente.

Após séculos de domínio eclesiástico sobre a produção cultural, o período final do


feudalismo marcou a retomada o cientificismo, ou seja, da pesquisa científica no
estudo sobre a natureza. Temendo represálias da Igreja, muitos cientistas faziam seus
experimentos às escondidas. O humanismo começava a se fortificar na Europa, um
movimento cultural que valorizava o ser humano e toda sua potencialidade. Mesmo
mantendo as temáticas religiosas, as produções artísticas no final da Idade Média
apontavam para as expressões de traços humanos na pintura e escultura.

Essas mudanças na Europa Ocidental são chamadas de renascimento. O


europeu da transição da Idade Média para a Idade Moderna buscava fazer renascer
os princípios humanistas que caracterizaram a cultura clássica greco-romana. O
teocentrismo, Deus no centro do Universo, cedia lugar para o antropocentrismo, o ser
humano como centro e principal medida de todas as coisas.

A crise do feudalismo não foi apenas pela retomada dos valores greco-romanos.
A peste negra foi uma doença altamente infecciosa e que se alastrou por toda a
Europa, matando 1/3 da população. Com o excesso de trabalho e desejosos por sair
dos feudos e mudar de vida nas cidades, os servos de revoltaram contra os seus
senhores, encerrando um período de mais de um milênio de obrigações e apego à
terra.

Os reis começaram a ganhar força política ao liderarem as tropas militares que


abafaram as revoltas servis e atuaram na linha de frente das guerras entre os
primeiros reinos europeus, como a Guerra dos Cem Anos, um conflito envolvendo a
França e a Inglaterra. De chefes militares, os reis ganhavam poderes políticos e
começavam a se tornar monarcas absolutistas, característica dos reinos modernos.

Resumo sobre o feudalismo

• O feudalismo foi um modelo econômico e social, baseado na terra e na


relação de fidelidade entre homens, que durou ao longo de toda a Idade
Média.

• A origem do feudalismo está no final do Império Romano, quando surgiram


os colonatos — terras onde os romanos buscavam abrigo e, em troca,
trabalhavam para os seus donos.

• Características do feudalismo: política descentralizada, economia rural e


sociedade estamental.

• Concessão de terras acontecia dentro da relação de fidelidade entre os


homens, na qual o suserano concedia uma porção de terras para um
vassalo.

• A crise feudal se deu por conta das mudanças na Europa provocadas pelos
renascimentos cultural, urbano e comercial.
ANTIGUIDADE
Modo de produçã o escravista (trabalho
escravizado)

IDADE MÉDIA Modo de produçã o feudal (trabalho servil)

TRABALHO NA IDADE MODERNA E NA IDADE CONTEMPORÂNEA

Com o fim da Idade Média, iniciou-se um período no qual o comércio se intensificou,


transformando, também, as características do trabalho.

Com as expansões marítimas, os europeus passaram a explorar a costa africana e


chegaram à América. A colonização do continente foi pautada no trabalho de
escravizados africanos que, retirados de seus lugares de origem, eram forçados a
viver nas colônias e a trabalhar sem receber nada em troca. Além do trabalho pesado,
eram submetidos a castigos e punições, caso não cumprissem o que havia sido
determinado pelos seus proprietários.

Em termos mundiais, a escravidão ressurgiu com o mercantilismo ou capitalismo


comercial, concomitantemente à época das grandes navegações. O uso da mão-de-
obra escravizada - em especial do negro africano - desenvolveu-se nas colônias de
além mar de países como Espanha, Portugal, Holanda, França e Inglaterra.

Nesse contexto, também houve o desenvolvimento da indústria, iniciado na Inglaterra,


no século XVIII, conhecido como Revolução Industrial. O surgimento das fábricas e
os avanços tecnológicos do período geraram a necessidade de se contratar mão de
obra. Com isso, muitas pessoas passaram, gradativamente, a trabalhar nas cidades,
e não mais no campo.

Antes da Revolução Industrial, o trabalho era manual e os trabalhadores não recebiam


um salário fixo. Eles vendiam seus produtos como e quando podiam, recebendo,
muitas vezes, outra mercadoria em troca.

Após os processos de industrialização, surgiu outro modelo de trabalho: o assalariado,


ou seja, os trabalhadores passaram a receber um salário pelo trabalho realizado em
sua jornada que, na maioria das vezes, era excessiva. Um trabalhador, nessa época,
chegava a trabalhar até dezoito horas por dia. Muitas fábricas e minas de carvão
preferiam contratar mulheres e crianças para poder pagar um valor menor de salário.

Ainda hoje, o trabalho assalariado está presente em várias sociedades humanas e


será objeto de estudo em item próprio.
HISTÓRIA DO TRABALHO NO BRASIL – UMA RECONSTRUÇÃO
SOCIOLÓGICA DA ESCRAVIDÃO

Antes da chegada dos portugueses ao Brasil, os povos indígenas dedicavam-se ao


trabalho voltado para a sua subsistência. Construíam casas, caçavam, pescavam,
cultivavam vegetais, entre outras atividades.

Com a chegada dos europeus, instituiu-se um novo modelo de trabalho. Inicialmente,


os indígenas foram escravizados, porém, mais tarde, muitos africanos foram trazidos
para o Brasil para trabalhar compulsoriamente.

“Le Brésil n’est pas un pays serieux.”

A frase atribuída ao ex-presidente francês Charles de Gaulle, mas que talvez nunca
tenha sido dita por ele, se tornou famosa no mundo todo. Realmente, a história de
nosso país já começa com uma mentira: não fomos descobertos pelos portugueses
em 1500. Como ensina Caio Prado Júnior, desde os últimos anos do século XV, as
costas brasileiras já vinham sendo frequentadas por navegantes portugueses e
espanhóis; de início, apenas em viagens exploratórias.1

A ideia de povoar esse novo território não ocorreu inicialmente a nenhum dos
“descobridores”. Nos tempos áureos do mercantilismo, somente a extração de metais
preciosos (sobretudo ouro e prata) e o comércio os interessaria. Como Portugal não
descobrira ainda, na parte das terras que lhe cabia, nem um nem outro, desprezou-a
durante algum tempo. Entretanto, o espírito empreendedor e a insistência dos
portugueses em dar utilidade à sua nova conquista fez com que descobrissem, nas
novas terras, o pau-brasil, espécie vegetal que viria a ser traficada por portugueses e
franceses nas costas brasileiras até quase meados do século XVI para uso como
tintura em manufaturas de tecidos de alto luxo na Europa.

Os primeiros registros do trabalho para outrem do ser humano em território nacional


se dão logo após o seu “descobrimento”, quando os portugueses fazem os indígenas
lhes prestarem serviços em troca de pequenos objetos (escambo): “miçangas, tecidos
e peças de vestuário, mais raramente canivetes, facas e outros pequenos objetos
[que] os enchiam de satisfação”.

Caio Prado Júnior refere que “em troca desta quinquilharia de valor ínfimo para os
traficantes, [os índios] empregavam-se arduamente em servi-los”. Para “acelerar a
produção”, também se presenteavam os indígenas com objetos mais custosos, como
serras e machados. Essa exploração não serviu em nada para fixar qualquer núcleo
de povoamento na recém-descoberta Terra de Santa Cruz. A atividade extrativa do
pau-brasil tinha de ser, necessariamente, nômade. O esgotamento (do indígena e da
natureza) foi rápido. Sua hegemonia não durou mais do que três décadas.

1
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 10 ed. São Paulo: Brasiliense, 1967, p.
Muito se discutia, à época, acerca da humanidade dos originais habitantes das novas
terras. Não obstante, no ano de 1550, a fim de justificar a sua dominação, o “brilhante
e ferino jurista” Ginés de Sepulveda sustentava que os indígenas não passavam de
uma subespécie de homens, “quase macacos”. Por isso, além de considerar que a
dominação era “justa e natural”, Sepulveda chegou a sustentar que ela ocorria em
benefício dos próprios dominados:

Que coisa poderia ter acontecido a estes bárbaros mais conveniente ou mais saudável
do que ficarem submetidos ao império daqueles cuja prudência, virtude e religião os
haverão de converter de bárbaros - tais que mal e mal mereciam o nome de seres
humanos – em homens civilizados na medida em que podem sê-lo; de torpes e
libidinosos em probos e honrados; de ímpios e servos dos demônios em cristãos e
adoradores do verdadeiro Deus?2

Discursos como esse de que a dominação (e exploração) seriam benéficas para os


próprios dominados (e explorados) se repetiram e se repetem, ao longo de toda a
história.

A ESCRAVIZAÇÃO DO INDÍGENA

A enganação do escambo não poderia durar muito tempo. Oliveira Lima observa que
“a cordialidade das primeiras relações” cessou rápida e violentamente.

“Os índios perceberam em breve o que significava a tomada de posse de seu território,
a qual os tinha a princípio divertido. [...] Ordenaram-lhes obedecer, de então em
diante, aos recém-chegados, e na linguagem destes, obediência queria dizer servidão
perpétua.”3

Entretanto, a mão de obra indígena amplamente utilizada na extração do pau- brasil,


não foi a mais utilizada nas produções baseadas na escravidão – fato que se pode
considerar incontroverso. O que se deve questionar e parece merecer uma
investigação mais cuidadosa é a razão disso.

2
RICHARD, Pablo. 1492: a violência de Deus e o futuro do cristianismo. (Concilium – A voz
dasvítimas). Petrópolis: Vozes, 1990, p. 60-1.
3
LIMA, Oliveira. Formação histórica da nacionalidade brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: Topbooks; São
Paulo: Publifolha, 2000, p. 40-1.
Em carta à Câmara do Pará, em meados do século XVII, o Padre Antônio Vieira
resumiria da seguinte forma a “ineficiência” do escravizado indígena, em comparação
com o africano:

a) os índios são menos capazes de trabalho;


b) são menos resistentes às doenças;
c) fogem mais facilmente;
d) morrem de saudades de sua vida original.

Chama a atenção que, ainda hoje, muitos historiadores (especialmente aqueles que
percebem a história a partir da esfera de circulação) simplesmente sigam as linhas
explicativas do Padre Vieira, aceitando-as, sem um exame crítico.

Os indígenas brasileiros não se submeteram com facilidade ao trabalho organizado


que deles exigia a colonização; pouco afeitos a ocupações sedentárias (tratava-se de
povos seminômades, vivendo quase unicamente da caça, pesca e colheita natural),
resistiram ou foram dizimados em larga escala pelo desconforto de uma vida tão
avessa a seus hábitos.

Com o passar do tempo, passaram a revidar, lutando e, inclusive, assaltando os


estabelecimentos dos brancos. Os indígenas se mostraram grandes guerreiros que,
não temendo a luta, se defenderam valentemente.

Para fazer frente à “agressividade” dos indígenas, a metrópole utilizaria o aparelho


jurídico. Em 1570 é editada a primeira Carta Régia estabelecendo o direito à
escravidão dos indígenas, mas limitada aos aprisionados em “guerra justa”, entendida
como tal “aquela que resultasse de agressão dos indígenas, ou que fosse promovida
contra tribos que recusavam a se submeter aos colonos e entrar em entendimento
com eles”.4

Em bom português, os índios deveriam trabalhar para os portugueses por bem ou por
mal...

Gorender chama a atenção, ainda, para um outro fator determinante, em relação ao


qual o indígena encontrava-se em desvantagem quando comparado ao escravizado
africano, o seu preço relativamente baixo. Segundo o historiador, a vida do
escravizado dependia basicamente de três variáveis principais: “o preço da compra, a
capacidade de trabalho e a rentabilidade da produção escravista no mercado”.

Considerando que o preço de compra do indígena foi sempre mais baixo do que o do
escravizado africano, seu proprietário também pouco se preocupava com sua

4
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 10 ed. São Paulo: Brasiliense, 1967, p
conservação.5 “Nisto residiu uma das causas da mortalidade mais elevada dos
indígenas”.6

Como observa Eduardo Galeano, “os índios morriam como moscas; seus organismos
não opunham defesas contra doenças novas; e os que sobreviviam ficavam
debilitados e inúteis”. Calcula-se que mais da metade da população indígena morreu
logo no primeiro contato com os homens brancos.7

Apesar de todas essas questões que envolvem a escravidão negra, muitos indígenas
foram vítimas desse sistema de produção, abolido oficialmente apenas no final do
século XVIII. Sobretudo nas regiões mais pobres, que não puderam pagar o elevado
preço dos escravizados africanos, o trabalho escravo indígena foi amplamente
utilizado. A “caça aos índios”, realizada pelos bandeirantes, foi um dos principais
fatores que determinaram a atual extensão territorial do Brasil.8

Muitos dos discursos atuais que visam legitimar a exploração nas relações de
emprego sustentam uma “natureza desigual” entre empregado e empregador.
Entretanto, mesmo para o colonizador do século XVI, ela poderia parecer
excessivamente brutal. Além disso, mesmo que servisse para legitimar a exploração
do trabalho indígena na Europa, não tinha o mesmo efeito entre os “selvagens”
escravizados.

Para solucionar esses problemas e, ao mesmo tempo, a resistência indígena, apelou-


se a outra estratégia ainda hoje muito utilizada: a servidão voluntária.

A servidão voluntária, que será desenvolvida e aprimorada no sistema capitalista de


produção até os dias de hoje, em que o trabalhador é chamado de (embora não seja
efetivamente considerado um) “colaborador” do capital. Com efeito, através da
servidão voluntária, realizada no sistema capitalista pelo instrumento jurídico do
contrato de trabalho, não é mais necessário forçar o trabalhador a produzir (como
eram forçados os escravizados) – ele produzirá sozinho, porque a tanto se sentirá
moral (e juridicamente) coagido.

Retomando o tema da escravidão, não seria entretanto o indígena brasileiro, mas o


negro africano quem resolveria o “problema da mão de obra” no Brasil.

5
De acordo com generalização de Simonsen, o valor do escravo índio regulava em média um quinto
do africano”. Em meados do século XVI, quando “um africano adulto não custava menos de 25 mil-
réis”, sua vida valia 25 vezes mais do que a de um escravo índio. GORENDER, Jacob. O escravismo
colonial. 3 ed. São Paulo: Ática, 1980, p. 197-8.
6
Leandro Konder refere que “os quatro ou cinco milhões de índios que habitavam a terra em 1500
falavam mais de mil línguas ou dialetos; ficaram reduzidos a pouco mais de 250 mil e cerca de 90%
das suas línguas e dialetos – que corporificavam ricas experiências humanas, vividas ao longo de
vários séculos, por diferentes culturas – desapareceram sem deixar traço.” KONDER, Leandro.
Ossofrimentos do homem burguês. São Paulo: Senac, 2000, p. 84.
7
GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. Tradução de Galeno de Freitas. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2009, p. 35.
8
OS ESCRAVIZADOS AFRICANOS

Não se sabe ao certo quando os primeiros negros chegaram ao país. Caio Prado
Júnior faz referência a relatos de que já haveriam vindo na primeira expedição oficial
de povoadores, em 1532, sendo incontroverso que na metade do século XVI eles já
eram numerosos.9

Calcula-se que, apenas no ano da proibição do tráfico internacional (1850), aportaram


em território nacional mais de cinquenta e quatro mil escravizados10. Naquele mesmo
ano, quando a quantidade alcançou seu pico, havia no Brasil aproximadamente dois
milhões e quinhentos mil escravizados.

Considerando que a população total era estimada em oito milhões, os escravizados


compunham um terço da população brasileira da época.

No modo de produção colonial brasileiro, o campo dominava a cidade, sendo esta


apenas um apêndice daquele, decorrência da forma de colonização utilizada pelos
portugueses e da divisão internacional do trabalho. A escravidão desenvolve- se,
assim, também eminentemente no campo. A grande maioria dos escravizados
destinavam-se ao trabalho em estabelecimentos agrícolas, residindo em barracões ou
senzalas.

Segundo Gorender, “as cidades brasileiras impressionavam o europeu recém-


chegado pela multidão de negros, que enchia as ruas”. Os negros de ganho, como
eram chamados, constituíam uma categoria de trabalhadores encarregados de todo o
tipo de serviço urbano, especialmente, o de transporte de mercadorias e passageiros.

Nas cidades, “a artesão livre envergonhava-se de carregar na rua os próprios


instrumentos da profissão e precisava contratar um escravo para fazê-lo”.11 O artesão
escravizado imitava-o alugando outros escravizados carregadores.

Isso acarretaria consequências sociais até hoje perceptíveis, como observa Leandro
Konder: a “desvalorização do trabalho, seja porque se trata de uma atividade
desprezível, típica de escravizados, seja porque se trata de uma ocupação dos
‘otários’, vítimas ‘naturais’ do talento e da esperteza dos malandros urbanos.”12

Em uma cultura para a qual o trabalho é visto como indigno, carregar seus próprios
pertences ou até mesmo caminhar nas ruas da cidade poderia ser considerado

9
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 10 ed. São Paulo: Brasiliense, 1967, p.37.
10
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 10 ed. São Paulo: Brasiliense, 1967, p.147 e
151.
11
GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. 3 ed. São Paulo: Ática, 1980, p. 454-5.
12
KONDER, Leandro. Os sofrimentos do homem burguês. São Paulo: Senac, 2000, p. 84.
desprezível. Ser carregado e/ou ter seus objetos carregados por escravizados de
ganho, por outro lado, não era, necessariamente, sinal de grande riqueza.

A pessoa que não fosse suficientemente afortunada para ter uma cadeirinha de arruar
ou uma liteira, como também era conhecida, mas ainda assim dispusesse de alguns
escravizados, costumava fazer-se carregar pela cidade ou em pequenas viagens em
uma rede.

As pessoas ainda mais pobres, em geral viúvas, tinham apenas um escravizado, cujo
aluguel era sua única fonte de renda.

A cultura da escravização dominava a todos, inclusive aos próprios escravizados.


Carvalho refere que testamentos da época mostram que 78% dos libertos da Bahia
possuíam escravizados. Nessa província, assim como em Minas Gerais e outras
dava-se até mesmo o fenômeno extraordinário de escravizados possuírem
escravizados.13

Se o termo trabalho pode ser considerado como uma derivação de tripalium –


instrumento utilizado para tortura14 – trabalho e tortura serão termos indissociáveis
no sistema escravista colonial.

Apesar de ter durado quase quatrocentos anos, sempre prevaleceu, no Brasil, uma
visão de curto prazo, como se a escravidão fora negócio apenas para uma geração,
tal era o tratamento dispensado ao escravizado.

Antônio Candido extrai dos ensinamentos de Antonil a síntese das relações de


trabalho no modo escravagista na simplicidade da língua do pê: para o negro, nada
mais do que três pês – “pão para comer, pano para vestir, pau para trabalhar”.15

O ferro ao pescoço era aplicado aos escravizados fujões. Imaginai uma coleira grossa,
com a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada
atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal.

Há meio século, os escravizados fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos
gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos
gostavam de apanhar pancada.

13
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 18 ed. Rio de
Janeiro:Civilização brasileira, 2014, p. 54.
14
ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1994,p.
10.
15
CANDIDO, Antonio. De cortiço a cortiço. In O discurso e a cidade. São Paulo: Duas cidades,1995,
p. 128.
Considerando que nenhum sistema exploratório se mantém exclusivamente pela força
física, fez-se necessária, também, a existência de uma ideologia para justificar e
legitimar a escravidão. Passemos a analisá-la.

O discurso ideológico de legitimação da escravidão

A ideologia que justificou a escravidão foi muito distinta daquela que justifica ainda
hoje a exploração no modelo burguês-capitalista. Enquanto no modo de produção
capitalista todos os seres humanos devem ser considerados como “iguais”, no
escravista, alguns perdem completamente (ou quase completamente) a condição
humana, para passarem a ser propriedade de outrem.

No Brasil, em meados do século XIX, o negro era considerado como uma espécie à
parte da raça humana, “destinado à escravidão pela sua apatia e organização cerebral
inferior”, encontrando-se mesmo quem justificasse a escravidão com o argumento de
que “os africanos representavam uma raça intermediária entre o branco e o gorila:
macacos aperfeiçoados e não homens”. Todos sabemos a odiosa herança cultural
que esse tipo de discurso nos legou até os dias de hoje.

No escravismo moderno, a classe dominante não dispõe de meios para ocultar ou


negar a existência da dominação de classe; por isso, sua prática ideológica consiste
em justificar, ao mesmo tempo em que admite a sua existência, a dominação de
classe. (...) A dominação ideológica escravista consiste, portanto, na aceitação, pelo
escravizado, da ideia de sua inferioridade e de sua inumanidade.16

Esse discurso, utilizado pelos jesuítas para justificar a exploração indígena, já era
sustentado por Aristóteles, no que denominava “servidão natural”: “Não é apenas
necessário, mas também vantajoso que haja mando por um lado e obediência por
outro; e todos os seres, desde o primeiro instante do nascimento, são, por assim dizer,
marcados pela natureza, uns para comandar, outros para obedecer. (...) Para eles, é
melhor servirem do que serem entregues a si mesmos.

A Igreja, como aparelho ideológico, também participava dessa forma de dominação.


Galeano relata que o missionário apostólico Juan Perpinã y Pibernat, ao proferir seus
sermões aos negros, sustentava: “Pobrezinhos! Não vos assusteis, por muito que
sejam as penalidades que tenhais que sofrer como escravos. Escravo palavra, é
naturalmente escravo aquele que tem tão pouca alma e poucos meios que resolve
depender de outrem. (...) Não pretendemos agora estabelecer nada além de que,
pelas leis da natureza, há homens feitos para a liberdade e outros para a servidão, os
quais, tanto por justiça quanto por interesse, convém que sirvam.”

No Brasil, o Barão do Pati de Alferes via a religião como “um freio que sustentava os
escravos”; enquanto o padre Antônio Caetano da Fonseca oferecia aos fazendeiros
conselhos de uma atormentadora atualidade:

16
SAES, Décio. A formação do Estado burguês no Brasil: 1888-1891. Rio de Janeiro: Paz eTerra,
1985, p. 271.
A confissão é o antídoto da insurreição porque o confessor faz ver ao escravo que o
seu senhor está em lugar de seu pai e, portanto, lhe deve amor, respeito e obediência;
que o trabalho é necessário ao homem para sua subsistência; que esta vida é nada em
comparação com a eternidade; e que o escravo que sofre com paciência o seu cativeiro
tem a sua recompensa no reino do céu, onde todos são iguais perante Deus.17

Além dessa dominação ideológica, os “senhores de escravos” criavam


deliberadamente obstáculos para a organização da luta escravizada, que serão muito
parecidos com os obstáculos que, mais tarde, os empregadores criarão para impedir
a organização da resistência obreira:

Promoção forçada da coexistência entre escravizados oriundos de diferentes tribos


africanas (as diferenças de língua e de costumes contribuindo para aumentar as
dificuldades organizacionais), diferenciação do tratamento material e disciplinar,
proporcionado aos escravizados rurais e aos escravizados domésticos, com o objetivo
de reforçar nestes últimos a tendência, desde logo mais pronunciada, à aceitação da
dominação ideológica escravista.18

Essas diferenças faziam com que a discriminação se propagasse entre os próprios


escravizados. Os crioulos (escravizados não-mestiços nascidos no Brasil) não
gostavam dos recém-chegados da África. Os mulatos, em especial os que exerciam
funções diferenciadas como feitores, desprezavam os escravizados em geral. Os
escravizados urbanos, mais bem tratados, viam com superioridade os escravizados
rurais e alguns até ajudavam na luta contra os quilombos. Os ladinos (escravizados
com certa especialização) se julgavam melhores que os boçais (escravizados sem
conhecimento especializado, apenas destinados à lavoura).19

Já compreendemos a ideologia escravagista e precisamos avançar nas páginas da


história, onde será registrada a Abolição e a contemporânea Escravidão.

17
COSTA, Emília Viotti da. Da Senzala à Colônia. 5 ed. São Paulo: Unesp, 2010, p. 295.
18
SAES, Décio. A formação do Estado burguês no Brasil: 1888-1891. Rio de Janeiro: Paz e
19
LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil colonial. 6a ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991, p.42.
QUESTÕES

Todo Camburão Tem Um Pouco De Navio Negreiro

Marcelo Yuka e O Rappa

Tudo começou quando a gente conversava


Naquela esquina alí
De frente àquela praça
Veio os homens
E nos pararam
Documento por favor
Então a gente apresentou
Mas eles não paravam
Qual é negão? qual é negão?
O que que tá pegando?
Qual é negão? qual é negão?

É mole de ver
Que em qualquer dura
O tempo passa mais lento pro negão
Quem segurava com força a chibata
Agora usa farda
Engatilha a macaca
Escolhe sempre o primeiro
Negro pra passar na revista
Pra passar na revista

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro


Todo camburão tem um pouco de navio negreiro

É mole de ver
Que para o negro
Mesmo a aids possui hierarquia
Na áfrica a doença corre solta
E a imprensa mundial
Dispensa poucas linhas
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Ou das colunas sociais

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro


Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
1- A letra acima retrata a permanência do preconceito sofrido pelos negros
africanos em decorrência de mais de trezentos anos de escravidão em terras
brasileiras. A partir da letra da música e de seus conhecimentos sobre a
escravização no Brasil, indique a alternativa incorreta.

a. O fim da escravidão no Brasil não foi acompanhado de medidas para inserir os


africanos escravizados na sociedade, já que não eles tiveram acesso a terra e,
quanto à adoção do trabalho assalariado, foi dado um estímulo maior aos
imigrantes europeus.
b. Os africanos exerciam uma série de atividades, dentre as quais podem ser
destacadas as domésticas, quando trabalhavam nas casas, e também quando
eram escravizados de ganho, administrando pequenos comércios, praticando
o artesanato ou prestando pequenos serviços para seus senhores.
c. Após a Independência do Brasil, em 1822, houve uma intensa campanha pelo
fim da escravidão do Brasil que não se sustentou mais.
d. Um dos principais exemplos da permanência do preconceito contra os negros
no Brasil após o fim da escravidão pode ser encontrado na violência policial,
que durante todo o século XX incidiu muito mais nos descendentes de africanos
que sobre a população branca.
e. A criminalidade esta diretamente ligada à origem biológica do transgressor.

2- “O significado de ser classificado socialmente como negro não é o mesmo se


olharmos para o Brasil do século XIX ou do século XXI. No século XIX, a pele negra
remetia diretamente à escravidão e ao trabalho braçal, fosse ele na plantação ou na
casa-grande. As diferenças eram asseguradas por um sistema de dominação que
tratava negros como objetos, negando direitos políticos e perpetrando castigos físicos.
Mais de um século depois, grande parte da desigualdade permanece, mas seus
significados são muito distintos”.

Adaptado de ZAMBONI, Marcio. Um modo de olhar para as diversas formas de


diferença e desigualdade presentes na sociedade contemporânea, in Sociologia
Especial, p. 16.

No trecho, utilizado em sala de aula para incentivar o debate sobre “Diferença e


Desigualdade”, o docente mostra como, nas duas situações citadas, um marcador
social de diferença (ser classificado como negro) torna-se fator de produção e
reprodução de desigualdades. Em seguida, caracteriza com os alunos o conceito de
“marcadores sociais de desigualdade e de diferença”.

As afirmativas a seguir descrevem corretamente o resultado dessa caracterização,


com base no trecho, à exceção de uma.

Assinale-a.
A- As diferenças e desigualdades entre os homens são naturais, pois os seres
humanos apresentam múltiplos usos do corpo e da linguagem, de se alimentar
e vestir, por exemplo.
B- Os marcadores sociais da diferença estão articulados à experiência dos
indivíduos em suas relações econômicas e políticas, entre outras.
C- As diferenças e desigualdades são construídas socialmente e precisam ser
contextualizadas em termos de tempo, espaço e relações sociais, para serem
compreendidas.
D- Os sistemas de classificação, sociais, étnicos ou culturais, estão ligados às
relações de poder que existem em uma dada sociedade.
E- As categorias da diferença são relacionais, sendo construídas umas em relação
às outras, como quando associa-se a cor da pele ao conceito de raça, e esta,
a uma forma de trabalho.

3. “Em São João, os camponeses de Veron, na Normandia, devem ceifar os prados


do senhor e levar os frutos ao castelo. Depois, devem cuidar dos fossos. Em agosto,
colheita de trigo, que devem levar à granja. Eles próprios não podem recolher os seus
feixes, senão depois que o senhor tirou a sua parte. Em setembro, devem a porcagem:
um porco em oito e dos mais bonitos. Em São Diniz pagam o Censo […]. No começo
do inverno a Corveia sobre a terra senhorial […].

O texto descreve uma série de obrigações características de um modo de produção


que teve seu apogeu na Europa Ocidental entre os séculos IX e XI.

Assinale a alternativa que o identifica.

A- Padroado
B- Feudalismo
C- Mercantilismo
D- Capitalismo Comercial
E- Modo de produção asiático

4.“O processo de gestação do Feudalismo foi bastante longo, remontando à crise


romana do século III, passando pela constituição dos reinos germânicos nos séculos
V – VI e pelos problemas do Império Carolíngio no século IX, para finalmente se
concluir em fins desse século ou princípios do X.” (Júnior, Hilário Franco. O
Feudalismo. São Paulo: Editora Brasiliense. 1983.)

Mediante o excerto, são algumas características fundamentais do Feudalismo:

A- O humanismo, o antropocentrismo e o racionalismo.


B- A ruralização da sociedade, o desenvolvimento das relações de dependências
sociais e a ‘clerização’ da sociedade.
C- As primeiras grandes navegações, o poder centrado na figura do rei e a reforma
religiosa.
D- O desenvolvimento inicial da vida urbana, o surgimento de religiões politeístas
e a criação de leis.
E- Consolidação do capitalismo, desenvolvimento industrial e a separação dos
poderes do Estado das religiões.

5- A herança escravista deitou raízes tão profundas na sociedade brasileira que ainda
hoje se fazem sentir. Além da inabarcável contribuição da cultura negra, são exemplos
importantes as fronteiras mal delimitadas entre as esferas pública e privada e a
semelhança estrutural entre ambas, principalmente até o final do Império. (MALERBA,
1999, p. 39).
De acordo com o trecho acima e considerando a sociedade escravagista e a
construção do estado brasileiro, assinale a alternativa CORRETA:

A - A divisão social do trabalho no escravismo opôs radicalmente senhores e escravos.


Os primeiros eram detentores do capital necessário para abastecer suas fazendas de
insumos (instrumentos de trabalho, sementes, animais de tração etc.) e manter o
plantel de negros, a despeito das oscilações do mercado internacional e da resistência
escrava.
B - Formas diversas de escravidão, como a urbana, a doméstica e a dos negros
artesãos coexistiram com gêneros híbridos resultantes das vicissitudes regionais e
das diversas culturas agrícolas. Isso permitiu mudanças tão substanciais que alterou
a estrutura econômica da monocultura.
C - Os negros expressaram sua insatisfação quanto ao cativeiro nas explosões de
rebeldia individuais (morosidade no trabalho, agressões ou mesmo suicídios) ou
coletivas (fugas e formações de quilombos). Foi nos quilombos que ocorreu a
conquista da abolição.
D - Ao lado da escravidão negra outras relações de produção não escravistas – como
o colonato e os sistemas de parceria – foram tentadas já durante o período joanino,
que passou a substituir gradualmente o latifúndio.
E- A herança da escravidão está presente no mercado de trabalho mas não em sua
divisão sexual

6-Com relação à escravidão negra no Brasil, assinale a opção correta.

A - A adaptação dos escravos africanos ao Brasil foi dificultada pelo fato de eles virem
de regiões onde a criação de animais era desconhecida e não se lidava com
metalurgia e outras tecnologias.
B -A expectativa de vida do escravo no Brasil era muito alta, razão pela qual a
importação de escravos se manteve em níveis muito baixos.
C -Devido ao isolamento e à distância em relação a sua terra de origem, os escravos
tinham, no território brasileiro, a fuga como única forma de resistência à escravidão.
D - Os inúmeros quilombos existentes durante o período colonial no Brasil eram
refúgios de negros que escapavam da escravidão.
E - Os escravizados trazidos da África para o Brasil eram de uma mesma região,
Angola, em virtude de os colonizadores portugueses buscarem instalar um grupo
homogêneo de escravos, de mesma língua e com os mesmos hábitos.
GABARITO

1-C

2-A

3-B

4-B

5-A

6-D

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