22-11-23 - Copia de FELIPE BATALHA

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 25

UNIVERSIDADE TIRADENTES - UNIT

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO


TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - ARTIGO CIENTÍFICO

A POSSIBILIDADE DA RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DOS HOSPITAIS POR


ERROS MÉDICOS: análise da jurisprudência e medidas de reparação

Felipe Batalha Carvalho Silveira

Msc. Luciana Rodrigues Passos Nascimento

Aracaju
2023
ALUNO

A POSSIBILIDADE DA RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DOS HOSPITAIS POR


ERROS MÉDICOS: ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA E MEDIDAS DE
REPARAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso –


Artigo – apresentado ao Curso de
Direito da Universidade Tiradentes –
UNIT, como requisito parcial para
obtenção do grau de bacharel em
Direito.

Aprovado em ____/____/____

Banca Examinadora

Msc.Luciana Rodrigues Passos Nascimento


Professora Orientadora
Universidade Tiradentes

Professor Examinador
Universidade Tiradentes

Professor Examinador
Universidade Tiradentes
1

A POSSIBILIDADE DA RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DOS HOSPITAIS POR


ERROS MÉDICOS: análise da jurisprudência e medidas de reparação

THE POSSIBILITY OF CIVIL LIABILITY OF HOSPITALS FOR MEDICAL


ERRORS: analysis of jurisprudence and reparation measures

Felipe Batalha Carvalho Silveira1

RESUMO

Este artigo detalha a responsabilidade civil dos hospitais no Brasil em casos de erros
médicos, oferecendo uma análise aprofundada da jurisprudência atual e das
estratégias de compensação implementadas. Iniciando com uma revisão
bibliográfica abrangente, o estudo explora os alicerces legais subjacentes à
responsabilidade civil, destacando as decisões judiciais mais significativas e suas
consequências tanto para as vítimas quanto para o sistema de saúde em geral. A
pesquisa ressalta a necessidade crítica de políticas eficazes de prevenção e de uma
legislação mais explícita para assegurar a proteção e a justiça para os pacientes. A
investigação começa com um exame dos princípios legais que fundamentam a
responsabilidade civil dos hospitais, incluindo a análise de como o direito brasileiro
aborda tais questões. Em seguida, o artigo mergulha em casos judiciais relevantes,
fornecendo insights sobre como os tribunais têm interpretado e aplicado esses
princípios em situações reais. Essa análise jurídica é complementada por uma
discussão sobre as repercussões dessas decisões para as vítimas de erros
médicos, abordando as dificuldades enfrentadas na busca por reparação e justiça.
Além disso, o estudo examina o impacto dessas questões no sistema de saúde
como um todo, destacando a importância de uma abordagem proativa na prevenção
de erros médicos. Isso inclui a implementação de políticas internas nos hospitais e a
necessidade de uma legislação mais clara e abrangente que oriente as práticas
médicas e hospitalares, visando a segurança e o bem-estar dos pacientes. Por fim, o
artigo conclui ressaltando a importância de um equilíbrio entre a proteção dos
direitos dos pacientes e a viabilidade operacional dos hospitais. A necessidade de
reformas legislativas e de uma maior conscientização sobre a responsabilidade civil
no contexto hospitalar é enfatizada como fundamental para promover um ambiente
de saúde mais seguro e justo.

PALAVRAS-CHAVE: Responsabilização civil, Erros médicos, Jurisprudência,


Medidas de reparação, Sistema de saúde.

1
Estudante do Curso de Direito pela Universidade Tiradentes – UNIT. E-mail:
[email protected]
2

ABSTRACT:
This article details the civil liability of hospitals in Brazil in cases of medical errors,
providing an in-depth analysis of current jurisprudence and implemented
compensation strategies. Beginning with a comprehensive bibliographic review, the
study explores the legal foundations underlying civil liability, highlighting the most
significant judicial decisions and their consequences for both victims and the
healthcare system at large. The research emphasizes the critical need for effective
prevention policies and more explicit legislation to ensure the protection and justice
for patients. The investigation starts with an examination of the legal principles that
underpin the civil liability of hospitals, including an analysis of how Brazilian law
addresses these issues. The article then delves into relevant judicial cases, providing
insights into how courts have interpreted and applied these principles in real
situations. This legal analysis is complemented by a discussion on the repercussions
of these decisions for victims of medical errors, addressing the challenges faced in
seeking reparation and justice. Furthermore, the study examines the impact of these
issues on the healthcare system as a whole, highlighting the importance of a
proactive approach in preventing medical errors. This includes the implementation of
internal policies in hospitals and the need for clearer and more comprehensive
legislation to guide medical and hospital practices, aiming at the safety and well-
being of patients. Finally, the article concludes by emphasizing the importance of
balancing the protection of patient rights with the operational viability of hospitals.
The need for legislative reforms and greater awareness of civil liability in the hospital
context is underscored as essential to promote a safer and fairer healthcare
environment.

KEYWORDS: Civil liability, Medical errors, Jurisprudence, Reparation measures,


Health system.

1 INTRODUÇÃO

A medicina, enquanto ciência dedicada à promoção da saúde e ao tratamento


de enfermidades, é permeada por complexidades inerentes à sua natureza. No
entanto, em meio à busca incessante por soluções terapêuticas e diagnósticas, erros
podem ocorrer, gerando consequências muitas vezes irreparáveis para os pacientes.
Nesse contexto, emerge a discussão acerca da responsabilização civil dos hospitais
por erros médicos, tema que tem ganhado destaque no cenário jurídico e médico
brasileiro.
3

A legislação brasileira, por meio do Código Civil (BRASIL, 2002) e do Código


de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990), estabelece parâmetros claros sobre a
responsabilidade civil, configurando-se como instrumentos essenciais na defesa dos
direitos dos pacientes. Adicionalmente, o Código de Ética Médica (BRASIL, 2009)
delineia os princípios éticos que norteiam a prática médica, reforçando o
compromisso do profissional com a integridade e o bem-estar do paciente.
No entanto, a despeito da clareza normativa, a interpretação e aplicação
desses dispositivos em casos concretos de erros médicos têm gerado debates
acalorados na doutrina e na jurisprudência. Autores como FACCHINI NETO (2020) e
Silva Júnior (2021) têm se debruçado sobre a temática, buscando compreender as
nuances que envolvem a responsabilização médica, especialmente em contextos
desafiadores como o da pandemia.
A jurisprudência, por sua vez, reflete a dinamicidade e a complexidade do
tema. Decisões proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça (BRASIL, STJ)
evidenciam a diversidade de entendimentos e a busca por um equilíbrio entre a
proteção dos direitos dos pacientes e a valorização da atividade médica. Tais
decisões, muitas vezes, tornam-se balizas para a atuação dos profissionais de
saúde e para a gestão hospitalar, influenciando práticas e políticas internas.
Diante desse cenário, o presente artigo tem como objetivo analisar a
possibilidade da responsabilização civil dos hospitais por erros médicos, com foco
na análise da jurisprudência e nas medidas de reparação. Através de uma revisão
bibliográfica minuciosa, busca-se compreender os contornos legais e éticos que
envolvem a temática, bem como as implicações práticas para o sistema de saúde
brasileiro.
Destaca-se que, a pesquisa se justifica pela relevância do tema, que afeta
diretamente a vida de inúmeros pacientes e profissionais de saúde, e pela
necessidade de aprofundamento acadêmico, visando contribuir para a construção de
um arcabouço teórico robusto e para a tomada de decisões informadas no âmbito
médico e jurídico.

2 FUNDAMENTOS DA RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL


4

A responsabilidade civil no contexto médico-hospitalar não se circunscreve


apenas à reparação de danos já causados, mas também abrange um espectro mais
amplo de medidas preventivas. Estas, quando bem implementadas, têm o potencial
de evitar a ocorrência de erros futuros, consolidando um padrão de excelência na
prestação de serviços médicos e reforçando a confiança do paciente na instituição
(NETO, 2021).
A reparação do dano, no âmbito da responsabilidade civil médica, pode
manifestar-se tanto em sua dimensão material quanto moral. A primeira visa
ressarcir o paciente por prejuízos financeiros tangíveis, como despesas médicas,
tratamentos futuros e perda de rendimentos, enquanto a segunda busca compensar
danos imateriais, como sofrimento, angústia e abalo psicológico (BRASIL, Lei nº
10.406, 2002). A quantificação da indenização, contudo, não é tarefa simples. Deve-
se considerar a gravidade e extensão do dano, a capacidade econômica das partes
e, sobretudo, o grau de culpa ou dolo do agente causador (SILVA JÚNIOR, 2021).
A prevenção de erros médicos, em sua essência, demanda uma abordagem
holística que englobe desde a formação inicial do profissional até sua atualização
constante. Nesse sentido, programas de educação continuada, simulações clínicas e
treinamentos específicos surgem como ferramentas indispensáveis para aprimorar
habilidades e competências (GOULART & OLIVEIRA, 2021). Adicionalmente, a
implementação e adesão rigorosa a protocolos clínicos baseados em evidências
científicas robustas são cruciais para padronizar procedimentos e minimizar
variabilidades que possam culminar em erros (WINDMULLER, 2020).
A segurança do paciente, mais do que um objetivo, deve ser encarada como
um valor intrínseco à prática médica. Para tanto, é imperativo fomentar uma cultura
organizacional onde o relato de erros e quase erros seja incentivado, não como uma
ferramenta punitiva, mas como uma oportunidade de aprendizado e melhoria
contínua (MONTEIRO, 2021). Sistemas de notificação de eventos adversos,
revisões periódicas de práticas e a promoção de feedbacks construtivos são
estratégias que, quando bem implementadas, podem transformar erros em
oportunidades de crescimento (CARMO, 2022).
A gestão de riscos, entendida como o conjunto de práticas destinadas a
identificar, avaliar e mitigar potenciais ameaças à segurança do paciente, deve ser
uma responsabilidade compartilhada. Profissionais, gestores e instituições devem
atuar de forma sinérgica, promovendo uma abordagem integrada e colaborativa que
5

maximize a segurança do paciente (COLOMBINI & CABRAL, 2022). Nesse contexto,


a incorporação de tecnologias avançadas, como sistemas de informação em saúde
e inteligência artificial, pode ser uma aliada valiosa na detecção precoce de riscos e
na tomada de decisões clínicas mais acertadas (SILVA, 2023).
A responsabilidade civil, enquanto instituto jurídico, desempenha um papel
crucial na manutenção do equilíbrio social, assegurando que aqueles que causam
danos a outrem, seja por ação ou omissão, reparem os prejuízos causados
(BRASIL, Lei nº 10.406, 2002). Este conceito, profundamente enraizado no
ordenamento jurídico brasileiro, reflete uma preocupação constante com a justiça e a
equidade nas relações interpessoais.
A responsabilidade civil pode ser conceituada como a obrigação de reparar
um dano causado a outrem em virtude de ato ilícito, negligência ou imprudência
(NETO, 2021). Esta obrigação, de natureza predominantemente patrimonial, visa
restabelecer o equilíbrio rompido pela conduta danosa, proporcionando uma
compensação à vítima (SILVA JÚNIOR, 2021).
Três são os pilares fundamentais da responsabilidade civil: o ato ilícito, o
dano e o nexo causal. O ato ilícito, seja por ação ou omissão, deve contrariar o
ordenamento jurídico, enquanto o dano, material ou moral, deve ser efetivo e
mensurável. Por fim, o nexo causal estabelece a relação direta entre o ato e o dano,
sendo indispensável para a configuração da responsabilidade (WINDMULLER,
2020).
A responsabilidade civil pode ser subjetiva ou objetiva. A primeira, baseada
na culpa, exige a demonstração de negligência, imprudência ou imperícia por parte
do agente causador do dano (MONTEIRO, 2021). Já a responsabilidade objetiva,
fundamentada na teoria do risco, prescinde da comprovação de culpa, bastando a
existência do dano e do nexo causal (CARMO, 2022).
Diversas são as situações que podem excluir ou atenuar a responsabilidade
civil. Caso fortuito, força maior, culpa exclusiva da vítima ou de terceiro são
exemplos de excludentes que, quando comprovadas, afastam a obrigação de
indenizar (COLOMBINI & CABRAL, 2022).
No Brasil, a responsabilidade civil encontra-se regulamentada, principalmente,
pelo Código Civil, que dedica um título inteiro a este tema, abordando suas nuances
e particularidades. Além disso, outras legislações específicas, como o Código de
Defesa do Consumidor, também trazem disposições relevantes sobre o assunto,
6

adaptando os princípios gerais às peculiaridades de determinadas relações jurídicas


(SILVA, 2023).
O Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor, pilares do ordenamento
jurídico brasileiro, trazem em seus textos as bases para a compreensão da
responsabilidade civil no Brasil. Estes códigos delineiam duas modalidades distintas
de responsabilização: a objetiva e a subjetiva, cada uma com suas particularidades
e aplicações (BRASIL, 2002).
A responsabilidade objetiva, como estabelecida principalmente pelo Código
de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078, é fundamentada na teoria do risco. Nesta
modalidade, não é necessário comprovar que houve culpa ou dolo por parte do
prestador de serviço ou fornecedor. Basta que se demonstre a existência de um
dano e que este dano tenha uma relação causal com o ato do agente. Esta forma de
responsabilização é particularmente relevante em situações onde a comprovação de
culpa se torna complexa ou quase impossível, dadas as circunstâncias do caso.
Por outro lado, a responsabilidade subjetiva, amplamente tratada no Código
Civil, (Lei nº 10.406), exige que, além do dano e do nexo causal, seja comprovada a
culpa do agente causador. Esta culpa pode se manifestar de diversas formas, seja
por negligência, imprudência ou imperícia. A responsabilidade subjetiva, portanto,
demanda um exame mais aprofundado das circunstâncias que levaram ao dano,
bem como da conduta do agente.
No cenário hospitalar, a dinâmica entre profissionais de saúde e pacientes é
frequentemente enquadrada como uma relação de consumo. Isso ocorre porque os
hospitais, sejam eles públicos ou privados, prestam um serviço à comunidade. Dada
essa caracterização, e considerando as particularidades e complexidades dos
serviços médicos, a responsabilidade objetiva é frequentemente invocada. Isso
significa que, em muitos casos, os hospitais podem ser responsabilizados por danos
causados aos pacientes, independentemente de terem agido com culpa. Esta
abordagem visa proteger o paciente, que é visto como a parte mais vulnerável nesta
relação, garantindo que ele receba a devida reparação em caso de danos (NETO,
2019).
O Código de Ética Médica, Resolução do CFM nº 1.931/2009, documento
fundamental para a prática médica no Brasil, vai além de simples normativas e
regras. Em seu preâmbulo, ele ressalta a essência da ética profissional, enfatizando
a necessidade de uma conduta médica pautada no respeito, na dignidade e na
7

integridade do ser humano. Este código não apenas orienta, mas também serve
como um lembrete constante da sacralidade da profissão médica, buscando garantir
que a integridade física e moral do paciente esteja sempre em primeiro plano.
No entanto, a realidade da prática médica, por mais que seja embasada em
conhecimento e experiência, não está imune a falhas. Mesmo com diretrizes éticas
claras e bem definidas, erros, sejam eles de diagnóstico, procedimento ou
tratamento, podem ocorrer. E é neste contexto de falibilidade humana que a
responsabilização civil emerge como um mecanismo de justiça e reparação. Como
bem pontua SILVA JÚNIOR (2021), a responsabilidade do médico não se limita ao
âmbito ético. Dependendo da gravidade, das circunstâncias e das consequências do
erro, o médico pode enfrentar implicações não apenas civis, mas também penais.
A jurisprudência, por sua vez, tem sido uma ferramenta essencial na definição
e consolidação de entendimentos sobre a responsabilização civil em situações de
erros médicos no Brasil. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), a mais alta corte do
país em matéria infraconstitucional, tem, através de suas decisões, delineado os
contornos dessa responsabilização. Em particular, o STJ tem se inclinado, em
diversos casos, a aplicar a teoria da responsabilidade objetiva aos hospitais. Esta
teoria, que prescinde da comprovação de culpa, é especialmente relevante em
situações onde estabelecer um vínculo direto entre a conduta médica e o dano ao
paciente se mostra desafiador, devido à complexidade inerente à medicina e às
múltiplas variáveis envolvidas em cada caso (BRASIL, STJ, Processo nº AREsp:
2075839 RJ).

3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS HOSPITAIS

A responsabilidade civil dos hospitais, enquanto entidades prestadoras de


serviços médicos, é um tema de relevante interesse no cenário jurídico e médico. A
complexidade das atividades desenvolvidas e a intrínseca relação de confiança
Estabelecida entre o hospital e o paciente tornam a discussão acerca da
responsabilização ainda mais pertinente (NETO, 2019).
Os hospitais, enquanto prestadores de serviços, estão sujeitos ao Código de
Defesa do Consumidor (CDC), que estabelece a responsabilidade objetiva dessas
entidades em casos de danos causados aos consumidores. Dessa forma, a
8

comprovação de culpa torna-se dispensável, sendo necessário apenas demonstrar o


nexo causal entre o serviço prestado e o dano sofrido pelo paciente (NETO, 2019).
É fundamental distinguir a responsabilidade do hospital da responsabilidade
do médico. Enquanto o hospital responde de forma objetiva, o médico, em sua
atuação técnica, responde de forma subjetiva, sendo necessária a comprovação de
culpa (SILVA JÚNIOR, 2021). No entanto, em determinadas situações, o hospital
pode ser responsabilizado solidariamente com o médico, especialmente quando o
profissional é integrante de seu corpo clínico (NETO, 2021).
Existem situações em que o hospital pode ser eximido de responsabilidade.
Casos fortuitos, força maior ou culpa exclusiva do paciente são exemplos de causas
excludentes reconhecidas pela jurisprudência (BRASIL, STJ, Processo nº AREsp:
2075839 RJ). Ademais, quando o erro é exclusivamente técnico, decorrente da
atuação individual do médico, o hospital pode não ser responsabilizado, salvo em
situações específicas (NETO, 2019).
A jurisprudência brasileira tem se mostrado atenta às nuances da
responsabilidade civil hospitalar. Decisões do Superior Tribunal de Justiça (BRASIL,
STJ) têm reforçado a responsabilidade objetiva dos hospitais, mas também
reconhecem situações em que a entidade pode ser eximida de culpa (BRASIL, STJ,
Processo nº Resp: 1698726 RJ). A tendência atual é de uma análise mais criteriosa
e individualizada de cada caso, buscando equilibrar os direitos dos pacientes e as
obrigações das entidades médicas (SILVA JÚNIOR, 2021).

4 MEDIDAS DE REPARAÇÃO E PREVENÇÃO

A responsabilização civil no contexto médico é uma temática multifacetada


que vai além da simples compensação por danos causados. Ela se insere em um
espectro mais amplo de garantias e direitos, que busca não apenas remediar, mas
também prevenir. Afinal, a medicina, em sua essência, é uma ciência dedicada à
preservação da vida e à promoção da saúde, e qualquer falha nesse contexto pode
ter consequências devastadoras.
As medidas preventivas surgem como um complemento essencial à
responsabilização. Elas representam o reconhecimento de que, mais do que
remediar, é crucial evitar que erros ocorram em primeiro lugar. Isso envolve uma
9

série de ações, desde a capacitação contínua dos profissionais de saúde, passando


pela implementação de protocolos clínicos rigorosos, até a adoção de tecnologias
que auxiliem no diagnóstico e tratamento. Tais medidas têm como objetivo criar um
ambiente em que a probabilidade de erros seja minimizada, garantindo uma
assistência médica de alta qualidade e segurança (NETO, 2021).
A segurança do paciente, nesse contexto, é tratada como prioridade máxima.
Afinal, qualquer procedimento médico carrega consigo riscos, e é dever dos
profissionais e instituições de saúde minimizá-los ao máximo. Isso envolve não
apenas habilidade técnica, mas também uma abordagem holística que considere
todos os aspectos do atendimento, desde a anamnese até o pós-operatório.
A qualidade dos serviços médicos, por sua vez, é diretamente impactada por
essas medidas preventivas. Um serviço de qualidade é aquele que, além de eficaz,
é seguro e centrado no paciente. E a prevenção de erros é um pilar fundamental
para alcançar essa qualidade. Instituições que investem em prevenção, capacitação
e tecnologia não apenas reduzem a incidência de erros, mas também fortalecem sua
reputação e confiabilidade perante a sociedade.
Por fim, é importante ressaltar que a adoção de medidas preventivas reflete
uma postura proativa e responsável por parte dos profissionais e instituições de
saúde. Mais do que uma obrigação legal ou ética, é uma demonstração de
comprometimento com a vida e o bem-estar dos pacientes. E, nesse sentido, a
responsabilização civil se transforma em uma ferramenta de promoção da saúde,
garantindo que os erros, quando ocorrem, sejam não apenas reparados, mas
também estudados e utilizados como aprendizado para evitar futuras ocorrências
(NETO, 2021).
A reparação do dano causado por erro médico pode ser material ou moral. A
reparação material visa compensar o paciente pelos prejuízos financeiros sofridos,
como despesas médicas, perda de renda e outros gastos relacionados (BRASIL,
2002). Já a reparação moral tem como objetivo compensar o paciente pelos danos
psicológicos, emocionais e à sua imagem, decorrentes do erro médico (SILVA
JÚNIOR, 2021). A determinação do valor da indenização deve considerar a
extensão do dano, a capacidade econômica das partes e o grau de culpa do
profissional ou instituição responsável.
A prevenção de erros médicos passa, necessariamente, pela capacitação
contínua dos profissionais de saúde. Programas de educação continuada,
10

treinamentos e workshops são essenciais para atualizar os profissionais sobre as


melhores práticas, novas tecnologias e protocolos clínicos (GOULART & OLIVEIRA,
2021). Além disso, a implementação de protocolos clínicos padronizados, baseados
em evidências científicas, contribui para a redução de erros e a melhoria da
qualidade assistencial (WINDMULLER, 2020).
A promoção de uma cultura de segurança do paciente é fundamental para
prevenir erros médicos. Isso envolve a criação de um ambiente em que os
profissionais se sintam à vontade para relatar erros, sem medo de represálias, e
onde a aprendizagem contínua seja valorizada (MONTEIRO, 2021). A
implementação de sistemas de notificação de eventos adversos, análise de
incidentes e feedback contínuo são práticas que fortalecem essa cultura e
promovem a melhoria contínua da qualidade assistencial (CARMO, 2022).
A gestão de riscos em saúde envolve a identificação, avaliação e mitigação
de potenciais ameaças à segurança do paciente. A responsabilidade por essa
gestão deve ser compartilhada entre profissionais, gestores e instituições,
promovendo uma abordagem integrada e colaborativa (COLOMBINI & CABRAL,
2022). A adoção de ferramentas tecnológicas, como sistemas de informação em
saúde e prontuários eletrônicos, pode auxiliar na identificação precoce de riscos e na
tomada de decisões informadas (SILVA, 2023).

5 ASPECTOS PSICOLÓGICOS E SOCIAIS DO ERRO MÉDICO

O erro médico, além de suas implicações jurídicas e éticas, carrega consigo


consequências psicológicas e sociais profundas, que transcendem os limites dos
tribunais e consultórios e permeiam a vida das vítimas, seus familiares e dos
próprios profissionais envolvidos. Esta seção busca elucidar essas dimensões,
frequentemente subestimadas, mas que são cruciais para uma compreensão
holística do fenômeno.
O dano causado por um erro médico não se limita ao físico. As vítimas, ao
enfrentarem consequências inesperadas de um procedimento ou tratamento,
frequentemente experimentam sentimentos de traição, desamparo e desesperança
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2019). Além disso, a incerteza sobre a
recuperação e o medo de futuras complicações podem levar a quadros de
ansiedade e depressão. Familiares, por sua vez, ao testemunharem o sofrimento de
11

seus entes queridos, podem desenvolver sintomas de estresse pós-traumático, além


de sentimentos de raiva e desconfiança em relação ao sistema de saúde.
A sociedade, influenciada por relatos midiáticos e experiências pessoais,
desenvolveu uma percepção ambivalente sobre erros médicos. Enquanto a medicina
é frequentemente idealizada, erros são vistos como falhas inaceitáveis, e não como
consequências inevitáveis da prática médica. Esta visão, muitas vezes distorcida,
pode erodir a confiança na relação médico-paciente, tornando a comunicação e a
tomada de decisões compartilhadas mais desafiadoras (ANICET LISBOA; DA SILVA
SANT’ANNA, 2021).
Médicos que cometem erros enfrentam não apenas consequências jurídicas,
mas também um estigma profundo. Este estigma pode manifestar-se em forma de
isolamento por parte de colegas, hesitação em buscar ajuda psicológica e medo de
repercussões profissionais. Em alguns casos, o trauma emocional pode ser tão
intenso que leva a quadros de burnout, depressão e, em situações extremas,
pensamentos suicidas (THAMAY; TAMER, 2020). A cultura médica, que
frequentemente valoriza a infalibilidade, pode agravar esses sentimentos, tornando
essencial a criação de redes de apoio e programas de bem-estar para profissionais
de saúde (DONEDA, 2020).
Desse modo, os aspectos psicológicos e sociais do erro médico são
multifacetados e profundamente interconectados. A compreensão dessas dimensões
é crucial para uma abordagem mais humana e integrada do tema, que considere
não apenas as implicações legais, mas também o bem-estar e a dignidade de todos
os envolvidos.

6 CONSENTIMENTO INFORMADO E SUA RELEVÂNCIA JURÍDICA

O consentimento informado é um pilar fundamental na relação médico-


paciente, refletindo princípios éticos e jurídicos que permeiam a prática médica
contemporânea. Esta seção visa desvendar a complexidade deste instrumento, sua
relevância jurídica e as consequências de sua ausência ou inadequação.
O consentimento informado, mais do que uma mera formalidade, é a
expressão concreta do respeito à autonomia do paciente e ao seu direito de tomar
decisões informadas sobre sua saúde (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2019). Ele
12

garante que o paciente compreenda os riscos, benefícios, alternativas e possíveis


consequências de um procedimento ou tratamento, permitindo que sua decisão seja
baseada em informações claras e objetivas. Este processo de comunicação e
decisão compartilhada fortalece a relação de confiança entre médico e paciente,
sendo essencial para uma prática médica ética e centrada no paciente (THAMAY;
TAMER, 2020).
Juridicamente, o consentimento informado é uma salvaguarda tanto para o
paciente quanto para o profissional de saúde. A ausência ou inadequação deste
pode resultar em alegações de negligência, imprudência ou imperícia, levando a
processos judiciais e possíveis condenações (ANICET LISBOA; DA SILVA
SANT’ANNA, 2021). Além disso, a falta de um consentimento informado adequado
pode ser interpretada como uma violação dos direitos fundamentais do paciente,
especialmente seu direito à informação e à autodeterminação.
Ao longo dos anos, diversos casos judiciais trouxeram à tona a relevância do
consentimento informado. Em muitos deles, a ausência ou falha na obtenção deste
foi o ponto central da decisão, refletindo sua importância na prática médica e
jurídica. Por exemplo, casos em que procedimentos foram realizados sem o devido
esclarecimento dos riscos envolvidos, ou onde o paciente não foi informado sobre
alternativas disponíveis, frequentemente resultaram em decisões favoráveis às
vítimas, reforçando a necessidade de uma abordagem cuidadosa e ética ao obter o
consentimento (THAMAY; TAMER, 2020).
Assim, o consentimento informado é uma ferramenta essencial que reflete os
princípios éticos e jurídicos da medicina moderna. Sua correta aplicação é crucial
para garantir os direitos dos pacientes e proteger os profissionais de saúde de
possíveis implicações legais. A compreensão profunda deste instrumento e sua
correta implementação são imperativas para uma prática médica segura, ética e
centrada no paciente.

7 ANALISE JURUSPRUDENCAL SOBRE ERROS MÉDICOS

O Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor, pilares do ordenamento


jurídico brasileiro, trazem em seus textos as bases para a compreensão da
responsabilidade civil no Brasil. Estes códigos delineiam duas modalidades distintas
13

de responsabilização: a objetiva e a subjetiva, cada uma com suas particularidades


e aplicações.
A responsabilidade objetiva, como estabelecida principalmente pelo Código
de Defesa do Consumidor, é fundamentada na teoria do risco. Nesta modalidade,
não é necessário comprovar que houve culpa ou dolo por parte do prestador de
serviço ou fornecedor. Basta que se demonstre a existência de um dano e que este
dano tenha uma relação causal com o ato do agente. Esta forma de
responsabilização é particularmente relevante em situações onde a comprovação de
culpa se torna complexa ou quase impossível, dadas as circunstâncias do caso.
Por outro lado, a responsabilidade subjetiva, amplamente tratada no Código
Civil, exige que, além do dano e do nexo causal, seja comprovada a culpa do agente
causador. Esta culpa pode se manifestar de diversas formas, seja por negligência,
imprudência ou imperícia. A responsabilidade subjetiva, portanto, demanda um
exame mais aprofundado das circunstâncias que levaram ao dano, bem como da
conduta do agente.
No cenário hospitalar, a dinâmica entre profissionais de saúde e pacientes é
frequentemente enquadrada como uma relação de consumo. Isso ocorre porque os
hospitais, sejam eles públicos ou privados, prestam um serviço à comunidade. Dada
essa caracterização, e considerando as particularidades e complexidades dos
serviços médicos, a responsabilidade objetiva é frequentemente invocada. Isso
significa que, em muitos casos, os hospitais podem ser responsabilizados por danos
causados aos pacientes, independentemente de terem agido com culpa. Esta
abordagem visa proteger o paciente, que é visto como a parte mais vulnerável nesta
relação, garantindo que ele receba a devida reparação em caso de danos (NETO,
2019).
A jurisprudência, enquanto conjunto de decisões judiciais proferidas sobre
determinado tema, é uma fonte inestimável de interpretação e aplicação do direito.
No contexto dos erros médicos, a jurisprudência brasileira tem desempenhado um
papel crucial, refletindo as tensões e os desafios inerentes à responsabilização civil
no âmbito médico-hospitalar (BRASIL, STJ, Processo nº AREsp: 2075839 RJ).

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL.


ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 2/STJ. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO
CPC/1973. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULAS XXXXX/STF E 211/STJ. INDICADA VIOLAÇÃO A DISPOSITIVO
CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE EM SEDE DE RECURSO
14

ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. DANOS MORAIS


DECORRENTES DA PUBLICAÇÃO DE NOTÍCIA NO SÍTIO ELETRÔNICO
DE ÓRGÃO DO PODER JUDICIÁRIO. DIVULGAÇÃO DE NOMES. SIGILO
NÃO DECRETADO. AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE.
IMPOSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO DA UNIÃO. RECURSO
ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO,
PROVIDO. 1. O acórdão recorrido abordou, de forma fundamentada, todos
os pontos essenciais para o deslinde da controvérsia, razão pela qual não
há que se falar na suscitada ocorrência de violação do art. 535 do Código
de Processo Civil de 1973. 2. O prequestionamento não exige que haja
menção expressa dos dispositivos infraconstitucionais tidos como violados,
entretanto, é imprescindível que no aresto recorrido a questão tenha sido
discutida e decidida fundamentadamente, sob pena de não preenchimento
do requisito do prequestionamento, indispensável para o conhecimento do
recurso. Incidência das Súmulas XXXXX/STF e 211/STJ. 3. A análise de
suposta violação à dispositivo constitucional ou de lei local é inviável nesta
via recursal. 4. O debate invocado nas razões recursais não demanda
qualquer incursão no conjunto fático-probatório dos autos, mas tão somente
a análise do correto enquadramento jurídico frente aos fatos delineados no
aresto impugnado, de modo que se afasta o óbice contido na Súmula 7/STJ.
5. No caso dos autos, os magistrados federais ora recorridos buscam
reparação civil por danos morais decorrentes da publicação de notícia no
sítio eletrônico de órgão do Poder Judiciário que noticiou a concessão de
liminar a jornalista subscritor de denúncia de venda de sentença pelos
juízes federais. 6. Segundo consta na matéria divulgada e integralmente
transcrita no acórdão recorrido (fls. 352/353 e-STJ), os magistrados fizeram
representação ao Ministério Público Federal contra o jornalista pelo crime de
calúnia e, recebida a denúncia, houve a oposição de exceção da verdade,
momento em que surgiu a controvérsia acerca da competência para
julgamento dessa ação incidental, eis que a parte interessada afirmava
sofrer perseguição no juízo em que também atuam os magistrados a quem
teria ofendido. O jornalista, então, suscitou o reconhecimento da
competência do Tribunal local, entretanto, ante a negativa do juízo primevo
em remeter os autos à Corte, o advogado impetrou o primeiro habeas
corpus, que foi negado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. 6.1.
Assim sendo, impetrou novo habeas corpus, agora no Superior Tribunal de
Justiça, oportunidade em que foi concedida medida liminar para determinar
o trancamento da exceção da verdade até o julgamento final da ordem,
decisão esta que foi objeto da notícia indicada como vexatória. 7. Na
hipótese, tanto a sentença quanto o acórdão recorrido aplicaram a teoria
objetiva da responsabilidade civil ao caso ora em análise e, a partir de tal
premissa, concluíram pela presença dos requisitos para responsabilização
da União nos seguintes termos: a) o fato danoso é a divulgação de notícia
sem o cuidado de preservar o nome das pessoas envolvidas, sobretudo
porque a própria assessoria de Comunicação Social do STJ confirmou que
costumam preservar o nome nos casos em que há necessidade de
resguarda-los; b) in casu, trata-se de nomes de magistrados, de modo que
tal publicidade tem o efeito de abalar a credibilidade do Poder Judiciário
como um todo; c) o dano em si é presumível, eis que a notícia relata fatos
capazes de atingir gravemente a reputação dos magistrados, motivo pelo
qual não é necessária a prova objetiva. 8. Todavia, em que pese o correto
posicionamento do Tribunal de origem ao aplicar a teoria da
responsabilidade civil objetiva, não há falar na presença dos elementos
necessários a sua configuração. Isso porque, a partir da fundamentação
expendida no acórdão recorrido, é possível concluir pela inexistência de
nexo de causalidade entre a conduta atribuída à União e o suposto dano
sofrido pelos recorridos. 9. Com efeito, o conteúdo da notícia em questão
somente delineia de forma explicativa o ocorrido nos autos do habeas
corpus impetrado nesta Corte Superior que, diga-se, não tramitava em
segredo de justiça. 10. Ademais, não merece prevalecer a conclusão do
15

Tribunal de origem segundo a qual o setor administrativo do Superior


Tribunal de Justiça falhou ao apreciar os critérios de "noticiabilidade" dos
nomes envolvidos sob o fundamento de que o próprio setor de
Comunicação Social teria reconhecido a desnecessidade de imposição
expressa de segredo de justiça para ocultar os nomes. 10.1. Em verdade,
como bem destacado no acórdão recorrido às fls. 353/354 e-STJ, o Sr.
Assessor-Chefe da Assessoria de Comunicação Social desta Corte Superior
esclareceu que os nomes das partes são retirados da notícia não só nos
casos em que se especifica ser segredo de justiça, mas também naqueles
em que há necessidade de resguardar o nome (casos de estupro, doenças
contagiosas, entre outras). Com efeito, observa-se que os critérios para
omissão do nome das partes são puramente objetivos, como de fato devem
ser. 11. Acrescente-se, outrossim, que o artigo publicado no sítio-eletrônico
desta Corte Superior deve ser apreciado sob o prisma da liberdade de
imprensa. Acerca do assunto, destaca-se acórdão basilar do Supremo
Tribunal Federal, da lavra do Ministro Ayres Britto, no julgamento da ADPF
130. Na ocasião, o Supremo Tribunal Federal conferiu especial relevância à
liberdade de pensamento, de manifestação e de imprensa, elevando tal
direito à categoria de sobredireito. 12. Assim sendo, é certo que a análise de
eventual responsabilização civil em razão de ofensa à honra, imagem e
intimidade deve se dar cum grano salis, sob pena de tolhimento da
liberdade de imprensa. 13. Nesse sentido, é irrefragável a conclusão de que
a notícia publicada, e apontada pelos recorridos como capaz de gerar a
responsabilidade civil do Estado, revela tão somente um exemplo do
exercício da liberdade de imprensa. Com efeito, tão amplo direito de
atuação garantido constitucionalmente não pode ser tolhido
casuisticamente, como indicado pelo Tribunal de origem, eis que a plena
liberdade de imprensa é um patrimônio imaterial que corresponde ao mais
eloquente atestado de evolução político-cultural de todo um povo - como
bem afirmou o Ministro Ayres Brito quando do julgamento da ADPF em
referência. 14. Portanto, não há falar em responsabilização como
consequência do pleno gozo das relações de imprensa, uma vez que o puro
relato dos fatos processuais exatamente como ocorreram, em ação sobre a
qual não houve decretação de sigilo, afasta a presença de nexo de
causalidade. 15. Desse modo, conclusão diversa da improcedência da
pretensão indenizatória ensejaria manifesta limitação à liberdade de
informação não prevista no texto Constitucional, eis que o caso em análise
não configura abuso de direito. Em verdade, a parte autora busca o
reconhecimento de dano decorrente da publicação de notícia objetiva e que
retratou fatos processuais não acobertados por sigilo. 16. É certo que
denúncias falsas de venda de sentenças devem ser fortemente combatidas
pelos meios adequados, como uma queixa-crime por calúnia ou difamação -
como fizeram os ora recorridos - ou mesmo uma ação indenizatória
proposta em face do denunciante. Entretanto, não é possível transcender a
esse cenário e atribuir responsabilidade à União pela veiculação de notícia
com conteúdo informativo e sem qualquer ameaça à dignidade das pessoas
envolvidas. 17. Ante o exposto, conheço em parte do recurso especial e,
nessa extensão, dou-lhe provimento para julgar improcedente o pleito
indenizatório, invertidos os ônus de sucumbência, prejudicadas as demais
insurgências.
(STJ - REsp: XXXXX PR XXXXX/XXXXX-9, Relator: Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, Data de Julgamento: 03/08/2017, T2 - SEGUNDA
TURMA, Data de Publicação: DJe 09/08/2017 RSTJ vol. 247 p. 426)

A jurisprudência, entendida como o conjunto de decisões judiciais que versam


sobre temas específicos, não apenas reflete a aplicação prática do direito, mas
também molda e influencia futuras decisões e interpretações legais. Ela é a
16

manifestação concreta do direito em ação, servindo como um guia para magistrados,


advogados e demais operadores do direito, ao mesmo tempo em que sinaliza para a
sociedade como determinadas questões são compreendidas e tratadas pelo Poder
Judiciário.
No cenário brasileiro, a jurisprudência assume um papel ainda mais relevante,
dada a complexidade e a vastidão do ordenamento jurídico do país. As decisões
judiciais, especialmente aquelas proferidas por cortes superiores, como o Superior
Tribunal de Justiça (STJ), servem como balizas interpretativas, fornecendo diretrizes
sobre como determinados dispositivos legais devem ser compreendidos e aplicados
em situações concretas.
No que tange aos erros médicos, a temática é especialmente sensível e
complexa. A medicina, por sua natureza, é uma ciência não exata, permeada por
incertezas e riscos. Contudo, quando erros ocorrem, especialmente aqueles que
poderiam ser evitados, surge a questão da responsabilização. E é justamente nesse
ponto que a jurisprudência brasileira tem sido fundamental. Através das decisões
judiciais, é possível perceber a evolução do entendimento sobre o tema, bem como
as nuances e particularidades que cada caso apresenta.
As decisões do STJ, por exemplo, têm consolidado o entendimento de que,
em muitos casos, prevalece a responsabilidade objetiva dos hospitais em relação
aos erros médicos, especialmente quando se trata de uma relação de consumo. Isso
significa que, em diversas situações, não é necessário comprovar a culpa do
profissional ou da instituição médica, bastando a demonstração do dano e do nexo
causal (BRASIL, STJ, Processo nº AREsp: 2075839 RJ).

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL.


ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 2/STJ. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO
CPC/1973. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULAS XXXXX/STF E 211/STJ. INDICADA VIOLAÇÃO A DISPOSITIVO
CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE EM SEDE DE RECURSO
ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. DANOS MORAIS
DECORRENTES DA PUBLICAÇÃO DE NOTÍCIA NO SÍTIO ELETRÔNICO
DE ÓRGÃO DO PODER JUDICIÁRIO. DIVULGAÇÃO DE NOMES. SIGILO
NÃO DECRETADO. AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE.
IMPOSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO DA UNIÃO. RECURSO
ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO,
PROVIDO. 1. O acórdão recorrido abordou, de forma fundamentada, todos
os pontos essenciais para o deslinde da controvérsia, razão pela qual não
há que se falar na suscitada ocorrência de violação do art. 535 do Código
de Processo Civil de 1973. 2. O prequestionamento não exige que haja
menção expressa dos dispositivos infraconstitucionais tidos como violados,
entretanto, é imprescindível que no aresto recorrido a questão tenha sido
17

discutida e decidida fundamentadamente, sob pena de não preenchimento


do requisito do prequestionamento, indispensável para o conhecimento do
recurso. Incidência das Súmulas XXXXX/STF e 211/STJ. 3. A análise de
suposta violação à dispositivo constitucional ou de lei local é inviável nesta
via recursal. 4. O debate invocado nas razões recursais não demanda
qualquer incursão no conjunto fático-probatório dos autos, mas tão somente
a análise do correto enquadramento jurídico frente aos fatos delineados no
aresto impugnado, de modo que se afasta o óbice contido na Súmula 7/STJ.
5. No caso dos autos, os magistrados federais ora recorridos buscam
reparação civil por danos morais decorrentes da publicação de notícia no
sítio eletrônico de órgão do Poder Judiciário que noticiou a concessão de
liminar a jornalista subscritor de denúncia de venda de sentença pelos
juízes federais. 6. Segundo consta na matéria divulgada e integralmente
transcrita no acórdão recorrido (fls. 352/353 e-STJ), os magistrados fizeram
representação ao Ministério Público Federal contra o jornalista pelo crime de
calúnia e, recebida a denúncia, houve a oposição de exceção da verdade,
momento em que surgiu a controvérsia acerca da competência para
julgamento dessa ação incidental, eis que a parte interessada afirmava
sofrer perseguição no juízo em que também atuam os magistrados a quem
teria ofendido. O jornalista, então, suscitou o reconhecimento da
competência do Tribunal local, entretanto, ante a negativa do juízo primevo
em remeter os autos à Corte, o advogado impetrou o primeiro habeas
corpus, que foi negado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. 6.1.
Assim sendo, impetrou novo habeas corpus, agora no Superior Tribunal de
Justiça, oportunidade em que foi concedida medida liminar para determinar
o trancamento da exceção da verdade até o julgamento final da ordem,
decisão esta que foi objeto da notícia indicada como vexatória. 7. Na
hipótese, tanto a sentença quanto o acórdão recorrido aplicaram a teoria
objetiva da responsabilidade civil ao caso ora em análise e, a partir de tal
premissa, concluíram pela presença dos requisitos para responsabilização
da União nos seguintes termos: a) o fato danoso é a divulgação de notícia
sem o cuidado de preservar o nome das pessoas envolvidas, sobretudo
porque a própria assessoria de Comunicação Social do STJ confirmou que
costumam preservar o nome nos casos em que há necessidade de
resguarda-los; b) in casu, trata-se de nomes de magistrados, de modo que
tal publicidade tem o efeito de abalar a credibilidade do Poder Judiciário
como um todo; c) o dano em si é presumível, eis que a notícia relata fatos
capazes de atingir gravemente a reputação dos magistrados, motivo pelo
qual não é necessária a prova objetiva. 8. Todavia, em que pese o correto
posicionamento do Tribunal de origem ao aplicar a teoria da
responsabilidade civil objetiva, não há falar na presença dos elementos
necessários a sua configuração. Isso porque, a partir da fundamentação
expendida no acórdão recorrido, é possível concluir pela inexistência de
nexo de causalidade entre a conduta atribuída à União e o suposto dano
sofrido pelos recorridos. 9. Com efeito, o conteúdo da notícia em questão
somente delineia de forma explicativa o ocorrido nos autos do habeas
corpus impetrado nesta Corte Superior que, diga-se, não tramitava em
segredo de justiça. 10. Ademais, não merece prevalecer a conclusão do
Tribunal de origem segundo a qual o setor administrativo do Superior
Tribunal de Justiça falhou ao apreciar os critérios de "noticiabilidade" dos
nomes envolvidos sob o fundamento de que o próprio setor de
Comunicação Social teria reconhecido a desnecessidade de imposição
expressa de segredo de justiça para ocultar os nomes. 10.1. Em verdade,
como bem destacado no acórdão recorrido às fls. 353/354 e-STJ, o Sr.
Assessor-Chefe da Assessoria de Comunicação Social desta Corte Superior
esclareceu que os nomes das partes são retirados da notícia não só nos
casos em que se especifica ser segredo de justiça, mas também naqueles
em que há necessidade de resguardar o nome (casos de estupro, doenças
contagiosas, entre outras). Com efeito, observa-se que os critérios para
omissão do nome das partes são puramente objetivos, como de fato devem
18

ser. 11. Acrescente-se, outrossim, que o artigo publicado no sítio-eletrônico


desta Corte Superior deve ser apreciado sob o prisma da liberdade de
imprensa. Acerca do assunto, destaca-se acórdão basilar do Supremo
Tribunal Federal, da lavra do Ministro Ayres Britto, no julgamento da ADPF
130. Na ocasião, o Supremo Tribunal Federal conferiu especial relevância à
liberdade de pensamento, de manifestação e de imprensa, elevando tal
direito à categoria de sobredireito. 12. Assim sendo, é certo que a análise de
eventual responsabilização civil em razão de ofensa à honra, imagem e
intimidade deve se dar cum grano salis, sob pena de tolhimento da
liberdade de imprensa. 13. Nesse sentido, é irrefragável a conclusão de que
a notícia publicada, e apontada pelos recorridos como capaz de gerar a
responsabilidade civil do Estado, revela tão somente um exemplo do
exercício da liberdade de imprensa. Com efeito, tão amplo direito de
atuação garantido constitucionalmente não pode ser tolhido
casuisticamente, como indicado pelo Tribunal de origem, eis que a plena
liberdade de imprensa é um patrimônio imaterial que corresponde ao mais
eloquente atestado de evolução político-cultural de todo um povo - como
bem afirmou o Ministro Ayres Brito quando do julgamento da ADPF em
referência. 14. Portanto, não há falar em responsabilização como
consequência do pleno gozo das relações de imprensa, uma vez que o puro
relato dos fatos processuais exatamente como ocorreram, em ação sobre a
qual não houve decretação de sigilo, afasta a presença de nexo de
causalidade. 15. Desse modo, conclusão diversa da improcedência da
pretensão indenizatória ensejaria manifesta limitação à liberdade de
informação não prevista no texto Constitucional, eis que o caso em análise
não configura abuso de direito. Em verdade, a parte autora busca o
reconhecimento de dano decorrente da publicação de notícia objetiva e que
retratou fatos processuais não acobertados por sigilo. 16. É certo que
denúncias falsas de venda de sentenças devem ser fortemente combatidas
pelos meios adequados, como uma queixa-crime por calúnia ou difamação -
como fizeram os ora recorridos - ou mesmo uma ação indenizatória
proposta em face do denunciante. Entretanto, não é possível transcender a
esse cenário e atribuir responsabilidade à União pela veiculação de notícia
com conteúdo informativo e sem qualquer ameaça à dignidade das pessoas
envolvidas. 17. Ante o exposto, conheço em parte do recurso especial e,
nessa extensão, dou-lhe provimento para julgar improcedente o pleito
indenizatório, invertidos os ônus de sucumbência, prejudicadas as demais
insurgências.
(STJ - REsp: XXXXX PR XXXXX/XXXXX-9, Relator: Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, Data de Julgamento: 03/08/2017, T2 - SEGUNDA
TURMA, Data de Publicação: DJe 09/08/2017 RSTJ vol. 247 p. 426)

Além disso, a jurisprudência tem refletido as tensões existentes entre a


necessidade de responsabilizar profissionais e instituições por falhas e a
compreensão de que a medicina possui limites e desafios próprios. Essas decisões,
ao mesmo tempo em que buscam garantir a justa reparação para as vítimas,
também evidenciam a importância de se considerar o contexto em que os erros
ocorreram, ponderando fatores como a complexidade do caso, os riscos envolvidos
e as informações disponíveis no momento da tomada de decisão médica.
Em suma, a jurisprudência, ao tratar dos erros médicos, não apenas contribui
para a consolidação de entendimentos jurídicos sobre o tema, mas também reflete
19

os desafios, dilemas e tensões inerentes à prática médica e à busca por justiça e


reparação no âmbito da responsabilização civil.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem consolidado o entendimento de que
os hospitais respondem objetivamente pelos danos causados aos pacientes,
independentemente da comprovação de culpa (BRASIL, STJ, Processo nº Resp:
1698726 RJ). Essa responsabilização objetiva, fundamentada no Código de Defesa
do Consumidor, reflete a relação de consumo estabelecida entre o hospital e o
paciente, bem como a vulnerabilidade deste último no contexto médico (NETO,
2019).
A jurisprudência tem reconhecido que, em casos de erros exclusivamente
técnicos, a responsabilidade pode recair unicamente sobre o médico, eximindo o
hospital (BRASIL, STJ, Processo nº Resp: 1.832.371/MG). Essa distinção é crucial
para entender os limites da responsabilização hospitalar e a natureza subjetiva da
responsabilidade médica, que exige a comprovação de culpa (SILVA JÚNIOR,
2021).

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E COMPENSAÇÃO POR DANO
MORAL. ERRO MÉDICO EM PROCEDIMENTO CIRÚRGICO.
LEGITIMIDADE PASSIVA DO HOSPITAL. TEORIA DA ASSERÇÃO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL. SOLIDARIEDADE COM
OS MÉDICOS RESPONSÁVEIS PELA CIRURGIA. COMPROVAÇÃO DA
CULPA DOS PROFISSIONAIS. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. HIPÓTESE
EXCEPCIONAL. JULGAMENTO: CPC/2015. 1. Ação de obrigação de fazer
c/c indenização por danos materiais e compensação por dano moral
ajuizada em 24/11/2014, da qual foi extraído o presente recurso especial,
interposto em 19/12/2018 e concluso ao gabinete em 19/08/2019. 2. O
propósito recursal é decidir sobre a legitimidade passiva do hospital
recorrente, bem como sobre a denunciação da lide aos médicos
responsáveis pelos procedimentos cirúrgicos ou à formação de litisconsórcio
passivo necessário entre o hospital recorrente e os respectivos médicos. 3.
Os fatos narrados na petição inicial, interpretados à luz da teoria da
asserção, não autorizam reconhecer a ilegitimidade passiva do hospital, na
medida em que revelam que os procedimentos cirúrgicos foram realizados
nas dependências do nosocômio, sendo, pois, possível inferir,
especialmente sob a ótica da consumidora, o vínculo havido com os
médicos e a responsabilidade solidária de ambos - hospital e respectivos
médicos - pelo evento danoso. 4. Segundo a jurisprudência do STJ, quanto
aos atos técnicos praticados de forma defeituosa pelos profissionais da
saúde vinculados de alguma forma ao hospital, respondem solidariamente a
instituição hospitalar e o profissional responsável, apurada a sua culpa
profissional; nesse caso, o hospital é responsabilizado indiretamente por ato
de terceiro, cuja culpa deve ser comprovada pela vítima de modo a fazer
emergir o dever de indenizar da instituição, de natureza absoluta (artigos
932 e 933 do Código Civil), sendo cabível ao juiz, demonstrada a
hipossuficiência do paciente, determinar a inversão do ônus da prova (artigo
6º, inciso VIII, do CDC). Precedentes. 5. Em circunstâncias específicas
como a destes autos, na qual se imputa ao hospital a responsabilidade
20

objetiva por suposto ato culposo dos médicos a ele vinculados, deve ser
admitida, excepcionalmente, a denunciação da lide, sobretudo com o intuito
de assegurar o resultado prático da demanda e evitar a indesejável situação
de haver decisões contraditórias a respeito do mesmo fato. 6. Recurso
especial conhecido e provido.
(STJ - REsp: XXXXX MG XXXXX/XXXXX-8, Relator: Ministra NANCY
ANDRIGHI, Data de Julgamento: 22/06/2021, T3 - TERCEIRA TURMA,
Data de Publicação: DJe 01/07/2021)

Decisões proferidas pelo STJ em casos emblemáticos têm moldado o


entendimento sobre a responsabilização por erros médicos. Por exemplo, em um
caso relacionado a procedimentos estéticos, o STJ entendeu que a responsabilidade
do cirurgião plástico é objetiva, dada a natureza contratual da relação estabelecida
com o paciente (BRASIL, STJ, Processo nº Resp. 81101/PR). Tais decisões, além
de influenciarem a prática médica, têm impactos diretos na gestão hospitalar e nas
políticas de prevenção de erros (BORGES, 2021).

CIVIL E PROCESSUAL - CIRURGIA ESTÉTICA OU PLÁSTICA -


OBRIGAÇÃO DE RESULTADO (RESPONSABILIDADE CONTRATUAL OU
OBJETIVA) - INDENIZAÇÃO - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. I -
Contratada a realização da cirurgia estética embelezadora, o cirurgião
assume obrigação de resultado (Responsabilidade contratual ou objetiva),
devendo indenizar pelo não cumprimento da mesma, decorrente de
eventual deformidade ou de alguma irregularidade. II - Cabível a inversão do
ônus da prova. III - Recurso conhecido e provido
(STJ - REsp: 81101 PR XXXXX/XXXXX-9, Relator: Ministro WALDEMAR
ZVEITER, Data de Julgamento: 13/04/1999, T3 - TERCEIRA TURMA, Data
de Publicação: DJ 31.05.1999 p. 140 LEXSTJ vol. 123 p. 155 RSTJ vol. 119
p. 290)

A jurisprudência sobre erros médicos tem evoluído no sentido de uma análise


mais criteriosa e individualizada de cada caso. Há uma tendência de
reconhecimento da complexidade da prática médica e da necessidade de equilibrar
a proteção dos direitos dos pacientes com a valorização da atividade médica.
Espera-se que futuras decisões continuem a refletir essa abordagem equilibrada,
contribuindo para a construção de um arcabouço jurídico robusto e justo.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
21

A responsabilização civil por erros médicos não se limita apenas à reparação


do dano causado, mas também engloba medidas preventivas que visam evitar a
ocorrência de novos erros. A adoção de tais medidas é fundamental para garantir a
segurança do paciente e a qualidade dos serviços médicos prestados, refletindo
uma abordagem proativa e responsável por parte dos profissionais e instituições de
saúde.
A reparação do dano causado por erro médico pode ser material ou moral. A
reparação material visa compensar o paciente pelos prejuízos financeiros sofridos,
como despesas médicas, perda de renda e outros gastos relacionados. Já a
reparação moral tem como objetivo compensar o paciente pelos danos psicológicos,
emocionais e à sua imagem, decorrentes do erro médico. A determinação do valor
da indenização deve considerar a extensão do dano, a capacidade econômica das
partes e o grau de culpa do profissional ou instituição responsável.
A prevenção de erros médicos passa, necessariamente, pela capacitação
contínua dos profissionais de saúde. Programas de educação continuada,
treinamentos e workshops são essenciais para atualizar os profissionais sobre as
melhores práticas, novas tecnologias e protocolos clínicos. Além disso, a
implementação de protocolos clínicos padronizados, baseados em evidências
científicas, contribui para a redução de erros e a melhoria da qualidade assistencial.
A promoção de uma cultura de segurança do paciente é fundamental para
prevenir erros médicos. Isso envolve a criação de um ambiente em que os
profissionais se sintam à vontade para relatar erros, sem medo de represálias, e
onde a aprendizagem contínua seja valorizada. A implementação de sistemas de
notificação de eventos adversos, análise de incidentes e feedback contínuo são
práticas que fortalecem essa cultura e promovem a melhoria contínua da qualidade
assistencial.
A gestão de riscos em saúde envolve a identificação, avaliação e mitigação
de potenciais ameaças à segurança do paciente. A responsabilidade por essa
gestão deve ser compartilhada entre profissionais, gestores e instituições,
promovendo uma abordagem integrada e colaborativa. A adoção de ferramentas
tecnológicas, como sistemas de informação em saúde e prontuários eletrônicos,
pode auxiliar na identificação precoce de riscos e na tomada de decisões
informadas.
22

REFERÊNCIAS

BORGES, Juliana Sobrinho. Responsabilidade civil do cirurgião plástico em virtude


do erro médico. São Cristóvão/SE, 2021. Disponível em:
https://ri.ufs.br/handle/riufs/15194. Acesso em: 26 out. 2023.

BRASIL. Código Civil. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm Acesso
em: 26 de outubro de 2023.

BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Lei nº 8.078 de 11 de setembro de


1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm Acesso em: 26 de outubro
de 2023.

BRASIL. Código de Ética Médica. Resolução do CFM nº 1.931/2009. Disponível em:


http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2009/1931_2009.htm Acesso em: 26
de outubro de 2023.

CARMO, Isabella Vieira do. Responsabilidade civil por erro médico à luz da
legislação brasileira. UniEVANGÉLICA, 2022. Disponível em:
http://45.4.96.19/handle/aee/19459. Acesso em: 26 out. 2023.

COLOMBINI, Lisa; CABRAL, Nuria Micheline Meneses. Responsabilidade civil por


erro médico. Goiânia, 2022. Disponível em:
https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/handle/123456789/4058. Acesso em: 26 out.
2023.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Demandas judiciais relativas à saúde


crescem 130% em dez anos. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/demandasjudiciais-relativas-a-saude-crescem-130-em-dez-
anos/. Acesso em: 26 de outubro de 2023.

GOULART, Ândrea Carollyne Moraes; OLIVEIRA, Jaqueline José Silva.


Responsabilidade civil do médico: mediante a pandemia do COVID-19. Revista
Recifaqui, v. 1, n. 11, p. 135, 2021. Disponível em:
23

https://recifaqui.faqui.edu.br/index.php/recifaqui/article/view/59. Acesso em: 26 out.


2023.

MONTEIRO, Thalia Pereira. A responsabilidade civil dos médicos por danos


causados aos pacientes em hospitais particulares. Florianópolis, 2021. Disponível
em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/19636. Acesso em: 26
out. 2023.

NETO, Miguel Kfouri. Responsabilidade civil do Médico. 11. ed. rev. atual. e ampl.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021.

NETO, Miguel Kfouri. Responsabilidade civil dos hospitais: Código Civil e Código de
Defesa do Consumidor. 4. ed. atual. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.

SILVA JÚNIOR, A. P. RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO A SUA


PERCEPÇÃO JURÍDICA E A DEVIDA APLICABILIDADE. Revista Processus
Multidisciplinar, [S. l.], v. 2, n. 4, p. 1089–1110, 2021. Disponível em:
https://periodicos.processus.com.br/index.php/multi/article/view/579. Acesso em: 26
out. 2023.

SILVA, Enzzo Murilo Bueno da. A responsabilidade civil no erro médico. Curitiba,
2023. Disponível em:
https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/34818. Acesso em: 26 out.
2023.

WINDMULLER, Ana Clara Ormos. A responsabilidade civil do hospital particular por


erro médico. São Paulo, 2020. Disponível em:
https://dspace.mackenzie.br/items/eb7ef66e-053b-444b-9825-3ce05849a33c.
Acesso em: 26 out. 2023.

Você também pode gostar