Bens Sujetios A Regsisto

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Acórdãos TRL

Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa


Processo: 7961/2007-1
Relator: RUI VOUGA
Descritores: RESERVA DE PROPRIEDADE
EXECUÇÃO
DIREITO REAL DE GARANTIA
DIREITO REAL DE GOZO

Nº RL
do
Documento:
Data 04-12-2006
do
Acordão:
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral:

Meio AGRAVO
Processual:
Decisão: CONFIRMADA A DECISÃO

Sumário: I - Mostrando-se inscrita na Conservatória do Registo de Automóveis de


Lisboa reserva da propriedade do veículo penhorado a favor da
exequente, o que faz presumir a existência do direito e que este pertence
ao titular inscrito, deve concluir-se que a propriedade daquele se não
transferiu para a titularidade dos executados, mantendo-se na esfera
jurídica da exequente.
II - Por isso, e sendo certo que o registo automóvel tem que estar em
conformidade com a situação substantiva dos bens, a penhora do bem
cuja reserva de propriedade está inscrita em nome da exequente exigia
que esta, previamente, demonstrasse o cancelamento dessa reserva ou
que, no mínimo, comprovasse esse cancelamento antes de o processo
avançar para a fase da venda executiva.
III - Pese embora o facto de o Exequente/Agravante haver nomeado à
penhora o veículo automóvel sobre cujo direito de propriedade tinha
reserva, não pode entender-se que, com tal nomeação, a ela haja
renunciado tácita e eficazmente.
IV - A reserva de propriedade não constitui uma garantia real coberta
pelas normas dos arts. 824º do C.Civil ou do art. 888º do C.Proc.Civil,
que apenas abarcam os direitos reais de garantia e os demais direitos reais
(como a reserva de propriedade) que não tenham registo anterior ao
registo da penhora.
V - Como a reserva de propriedade, direito real de gozo sobre o veículo
automóvel penhorado, está inscrita no registo automóvel com
anterioridade em relação ao acto de penhora, não pode caducar, por força
do disposto no nº 2 do artigo 824º do CC, com o acto da venda do
veículo.
VI - Perante uma situação em que a penhora (já que foi feita) deve
manter-se, não pode a execução prosseguir para a fase da venda, sem que,
previamente, o recorrente renuncie à reserva de propriedade e inscreva no
registo o respectivo cancelamento.
F.G.

Decisão Texto Integral:


Acordam, na Secção Cível da Relação de Lisboa:
"BANCO, SA" instaurou, no Tribunal Cível de Lisboa, contra
H, execução de sentença para pagamento da quantia de
16.553,04 Euros, indicando, no requerimento inicial, para ser
penhorado, além de outros bens, o veículo automóvel da marca
FIAT, com a matrícula PP, que poderia ser encontrado junto à
residência do executado, a quem (alegadamente) pertence.

Levada a efeito a penhora do referido veículo, foi a


mesma registada, em 23/05/2005, na Conservatória do Registo
de Automóveis de Lisboa, constatando-se da
respectiva certidão de ónus e encargos que sobre o veículo 31-
61-PP se encontrava registada, desde 22/12/2000, a favor do
"BANCO, SA", a respectiva reserva de propriedade.

Juntos aos autos o registo da penhora e a certidão de ónus e


encargos, a M.ma. Juiz proferiu despacho no qual convidou o
Exequente a demonstrar nos autos ter procedido ao
levantamento da reserva de propriedade inscrita sobre o
veículo penhorado, sob pena de, não o fazendo, a execução
ser sustada quanto a esse bem.

Inconformado, o Exequente declarou expressamente nos autos


não aceitar tal convite e agravou do referido despacho, tendo
extraído das alegações que apresentou as seguintes conclusões:
“1. O exequente, ora recorrente, nos termos e de harmonia com
o que dispõe o artigo 740°, n°s 2, alínea c) e n° 3, do Código de
Processo Civil e, por entender que o despacho recorrido lhe
causa, inquestionavelmente prejuízos, requereu que ao referido
recurso fosse fixado efeito suspensivo.
2. O despacho recorrido mais não faz do que ordenar o
cancelamento do registo da reserva de propriedade
3. A possibilidade de utilização pelo executado, ora recorrido,
ou por quem quer que seja, do veículo dos autos, causa graves
prejuízos ao exequente, ora recorrente, na medida em que
aumenta consideravelmente a desvalorização e o risco de
perecimento do dito veículo vendo, assim, o exequente, ora
recorrente, aumentado o risco de ver ressarcido o seu crédito,
risco ou prejuízos que não podem aliás ser sequer quantificados.
4. O despacho proferido nos autos a fls. , que admitiu o recurso,
admitiu-o, porém, como se vê da certidão que no final se requer
destinada a instruir o presente recurso, como de agravo, com
subida imediata, em separado mas com efeito meramente
devolutivo.
5. Daí que, como QUESTÃO PREVIA, a ora recorrente, nos
termos aplicáveis do disposto no artigo 703°, n° 2, do Código de
Processo Civil, requeira, como ora o faz, a V. Exa. que se digne,
ouvida que seja a parte contrária, atribuir ao presente recurso
efeito suspensivo e, como desde já se requer, nos termos e de
harmonia com o disposto no preceito aplicável do n° 3, do artigo
703° do Código de Processo Civil, se digne ordenar se oficie de
imediato ao Senhor Juiz a quo para ser suspensa a execução do
dito despacho recorrido.
6. Saliente-se que o preceito do artigo 703° do Código de
Processo Civil é aplicável à hipótese dos autos, face aos
normativos insitos nos artigos 749° e 751°, maxime no artigo
751 °, n° 3, do Código de Processo Civil.
7. Impõe-se, assim, que ao presente recurso seja atribuído efeito
suspensivo, com as consequências legais.
8. Assim, porque o efeito fixado pelo Senhor Juiz a quo ao
presente recurso o toma inútil deve ao mesmo, como requerido
pelo exequente, ora recorrente, ser fixado efeito suspensivo, e
proceder-se de conformidade com o disposto no artigo 751 °,
n°3, do Código de Processo Civil.
9. Nos autos em que sobe o presente recurso foi logo de início
requerida a penhora sobre o veículo automóvel com a matrícula
PP, penhora que foi ordenada pelo Senhor Juiz a quo.
10. Não é por existir uma reserva de propriedade sobre o veículo
dos autos em nome do ora recorrente que é necessário que este
requeira o cancelamento da dita reserva, não tendo, aliás, o
Senhor Juiz a quo competência para proceder a tal notificação
ao exequente, ora recorrente.
11. O facto de a reserva de propriedade estar registada não
impede o prosseguimento da penhora, pois de acordo de
harmonia com o disposto no artigo 824° do Código Civil e 888°
do Código de Processo Civil, aquando da venda do bem
penhorado, o Tribunal deve, oficiosamente, ordenar o
cancelamento de todos os registos que sobre tal bem incidam.
12. No caso de surgirem dúvidas sobre a propriedade dos bens
objecto de penhora, se deve agir de acordo com o que se
prescreve no artigo 119° do Código do Registo Predial caso a
penhora já tenha sido realizada
13. Tendo o ora recorrente optado pelo pagamento coercivo da
dívida em detrimento da resolução do contrato e do
funcionamento da reserva de propriedade para chamar a si o
bem sobre a qual a mesma incide - o que, como referido, seria,
neste caso, ilegítimo -; tendo o exequente renunciado ao
domínio sobre o bem - pois desde o início afirmou que o mesmo
pertencia ao recorrido -; tendo, como dos autos ressalta, a
reserva de propriedade sido constituída apenas como mera
garantia, e para os efeitos antes referidos; prevendo-se nos
artigos 824° do Código Civil e 888° do Código de Processo
Civil, que aquando da venda do bem penhorado, o Tribunal
deve, oficiosamente, ordenar o cancelamento de todos os
registos que sobre tal bem incidam; e não se prevendo no artigo
119° do Código do Registo Predial que se notifique o detentor
da reserva de propriedade para que requeira o seu cancelamento,
é manifesto que no despacho recorrido, se errou e decidiu
incorrectamente.
14. Caso, assim, não se entenda, sempre se dirá, que deveria o
exequente - titular da reserva de propriedade - ter sido
notificado para se pronunciar pela renúncia ou não à
propriedade do veículo, mas não ser notificado para requerer o
seu cancelamento.
15. No despacho recorrido, ao decidir-se pela forma como se
decidiu e ao claramente se violou e erradamente se interpretou e
aplicou o disposto no artigo 888° do Código de Processo Civil,
violou também o disposto nos artigos 5°, n° 1, alínea b) e 29° do
Decreto-Lei n° 54/75, de 12 de Fevereiro, artigos 7° e 119° do
Código do Registo Predial e artigos 408°, 409°, n° 1, 601° e
879°, alínea a), todos do Código Civil.
Termos em que, se deve julgar procedente o presente recurso,
com a consequente revogação do despacho recorrido, e a sua
substituição por outro que ordene o prosseguimento dos autos,
assim se fazendo JUSTIÇA.”

Não houve contra-alegações.

A Mma. Juiz “a quo” manteve inalterado o despacho


agravado, tendo proferido despacho de sustentação.

Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir.


A DECISÃO RECORRIDA
despacho que constitui objecto do presente recurso de agravo é
do seguinte teor :
“Fls. 62:
Atendendo a que se mostra inscrita reserva de propriedade sobre
o veículo penhorado à ordem destes autos, convido a exequente
para, em dez dias, comprovar nos autos ter procedido ao
levantamento de tal reserva sob pena de, não o fazendo, a
execução ser sustada quanto a tal bem.
Notifique, sendo também, naturalmente, o executado.”
O OBJECTO DO RECURSO
Como se sabe, é pelas conclusões com que o recorrente remata a
sua alegação (aí indicando, de forma sintéctica,
os fundamentos por que pede a alteração ou anulação da
decisão recorrida: art. 690º, nº 1, do C.P.C.) que se determina
o âmbito de intervenção do tribunal ad quem (1)(2):
efectivamente, muito embora, na falta de especificação logo no
requerimento de interposição, o recurso abranja tudo o que na
parte dispositiva da sentença for desfavorável ao
recorrente (art. 684º, nº 2, do C.P.C.), esse objecto, assim
delimitado, pode vir a ser restringido (expressa ou tacitamente)
nas conclusões da alegação (nº 3 do mesmo art. 684º) (3)(4).
Por isso, todas as questões de mérito que tenham sido objecto de
julgamento na sentença (ou despacho) recorrida e que não sejam
abordadas nas conclusões da alegação do recorrente,
mostrando-se objectiva e materialmente excluídas dessas
conclusões, têm de se considerar decididas e arrumadas, não
podendo delas conhecer o tribunal de recurso.
No caso sub judice, emerge das conclusões da alegação de
recurso apresentada pelo Agravante que o objecto do presente
recurso está circunscrito a uma única questão: a de saber se,
estando inscrita no registo automóvel a reserva da
propriedade do veículo penhorado a favor do exequente,
pode a execução prosseguir seus termos sem previamente
estar efectuada e levada ao registo a renúncia do exequente
àquela reserva.
O MÉRITO DO AGRAVO

EFECTUADA A PENHORA DE UM VEÍCULO


AUTOMÓVEL, NA PRESSUPOSIÇÃO DE QUE NÃO
EXISTIA RESERVA DE PROPRIEDADE A FAVOR DO
EXEQUENTE, MAS JUNTA AOS AUTOS CERTIDÃO DE
ÓNUS E ENCARGOS PELA QUAL SE COMPROVA
ESTAR INSCRITA NO REGISTO AUTOMÓVEL A
RESERVA DE PROPRIEDADE DO VEÍCULO
PENHORADO A FAVOR DO EXEQUENTE, A ACÇÃO
EXECUTIVA PODE OU NÃO PROSSEGUIR,
DESIGNADAMENTE PARA EFEITOS DE SE
PROCEDER À RESPECTIVA VENDA, SEM QUE O
EXEQUENTE COMPROVE DOCUMENTALMENTE A
RENÚNCIA À RESERVA DE PROPRIEDADE E O
CONSEQUENTE CANCELAMENTO DO REGISTO ?

Sustenta o ora Exequente/Agravante que o facto de estar


registada a seu favor a reserva de propriedade sobre o
veículo automóvel por si nomeado à penhora e já
efectivamente penhorado nos autos não impede o
prosseguimento da execução, pois, de acordo de harmonia com
o disposto no artigo 824° do Código Civil e no artigo 888° do
Código de Processo Civil, aquando da venda do bem
penhorado, o Tribunal deve, oficiosamente, ordenar o
cancelamento de todos os registos que sobre tal bem
incidam.
Isto porque, desde logo, se o titular da reserva de propriedade
nomear à penhora o bem objecto da reserva de propriedade,
tal significa que renunciou tacitamente ao domínio que se
reservara. Daí que nem sequer haja lugar ao cumprimento do
disposto no artigo 119° do Código do Registo Predial, visto não
haver dúvidas sobre a propriedade do veículo automóvel em
questão.
De todo o modo, no caso em apreço, o veículo em questão
nunca foi propriedade do exequente, o qual se limitou
a financiar a sua aquisição por parte do executado, através
dum contrato de mútuo celebrado entre exequente e executado,
sendo que a única finalidade que mutuante e mutuário
tiverem em vista, ao clausularem a constituição e registo da
reserva de propriedade sobre tal veículo a favor do
mutuante, foi a de garantirem o bom cumprimento do
aludido contrato de mútuo, obstando a que, enquanto este não
fosse integralmente cumprido, o veículo cuja aquisição tal
mútuo financiou pudesse ser vendido pelo mutuário sem
conhecimento e autorização do mutuante ou ser nomeado à
penhora por terceiros credores do mutuário e possibilitando que,
em caso de incumprimento do dito contrato pelo mutuário, pelo
menos o veículo financiado pudesse assegurar, precisamente
através da sua nomeação à penhora, o pagamento coercivo da
dívida proveniente do mútuo.
Como assim, tendo a reserva de propriedade sido constituída
apenas como mera garantia, e para os efeitos supra
referidos, o tribunal, aquando da venda do bem penhorado,
sempre haveria de ordenar oficiosamente o cancelamento do
respectivo registo na Conservatória do Registo Automóvel, nos
termos dos artigos 824° do Código Civil e 888° do Código de
Processo Civil, pelo que nunca existiria o perigo de o
comprador na venda em execução ficar onerado pela dita
reserva, pois então esta não só teria caducado, como o
exequente já a ela havia renunciado.
Quid juris ?
A questão que constitui o objecto do presente recurso, se bem
que encarada por aspectos não totalmente coincidentes, tem sido
recorrentemente objecto de apreciação pelos tribunais superiores
(sobretudo por este Tribunal da Relação de Lisboa), com
divergências de entendimento e, consequentemente, com
diferentes conclusões na interpretação e aplicação do direito.

Assim, para alguns (que constituem jurisprudência maioritária),


penhorado um bem sobre o qual está registada a reserva de
propriedade a favor do exequente, deve a execução ser suspensa
até que se mostre comprovado o cancelamento desse registo (5).
Diversamente, sustentam outros que, requerida e ordenada a
penhora sobre determinado veículo automóvel, não é necessário
que o exequente requeira o cancelamento da existente reserva de
propriedade a seu favor, sendo que o facto da reserva de
propriedade estar registada não impede o prosseguimento da
execução (6).
Por seu turno, o Supremo Tribunal de Justiça já por seis vezes,
pelo menos, se pronunciou sobre esta questão.
Assim, nos Acórdãos de 30/04/98(7) e de 13/01/2005(8),
entendeu-se que, penhorado um veículo automóvel com reserva
de propriedade a favor da exequente, não pode a acção
executiva prosseguir sem que se demonstre o registo da
renúncia àquela reserva.
A mesma orientação foi também perfilhada no Acórdão de
12/5/2005(9) - cuja linha argumentativa iremos seguir de muito
perto – e no recente Acórdão de 18/5/2006 (10).
Em contrapartida, no Acórdão de 02/11/2004(11) e no recente
Acórdão de 2/2/2006 (12), defendeu-se que o exequente, ao
nomear à penhora um bem relativamente ao qual possui a
reserva de propriedade, abdica da manutenção do seu direito de
propriedade sobre o mesmo, através da renúncia tácita e
automática ao domínio que se reservara no momento da
celebração do contrato, pelo que nada obsta ao prosseguimento
da execução.
Quid juris ?
Estatui o art. 409º do Cód. Civil que "nos contratos de
alienação é lícito ao alienante reservar para si a propriedade
da coisa até ao cumprimento total ou parcial das obrigações
da outra parte ou até à verificação de qualquer outro evento"
(nº 1), sendo, porém, que, "Tratando-se de coisa imóvel, ou de
coisa móvel sujeita a registo, só a cláusula constante do registo
é oponível a terceiros" (nº 2).
Reportando-se o referido art. 409º - na sequência, aliás, do
anterior art. 408º, que consagra a regra de que a transferência
da propriedade se opera por mero efeito do
contrato (princípio da transferência consensual do
domínio: consensus parit proprietatem) - aos contratos
reais ou com eficácia real, de que resultam não apenas efeitos
obrigacionais mas também efeitos reais (constituição ou
transferência do domínio), parece óbvio que “a função
económica da reserva de propriedade é a de garantir o crédito do
vendedor pelo preço da compra”. “A reserva de propriedade
substitui o direito de penhor sem posse do vendedor,
inadmissível em face do nosso Código Civil (arts. 669º e 677º)”.
“Com a reserva de propriedade visa o vendedor precaver-se de
uma eventual inexecução do contrato ou insolvência por parte
do comprador, caso em que o vendedor deseja obter a
restituição da coisa, fazendo valer os seus direitos quer em face
do comprador, quer de terceiros, credores do comprador, ou que
por ele tenham sido investidos em direitos sobre a coisa”.
“Consegue-o convencionando que a titularidade do direito de
propriedade permaneça na sua esfera jurídica até ao integral
pagamento do preço” (13).
A esta luz, não se percebe facilmente – nem o Exequente ora
Agravante procura minimamente explicá-lo – como é que, no
caso dos autos, a reserva de propriedade se encontra inscrita a
favor do Exequente, o qual – segundo ele próprio alega - não
foi vendedor mas apenas financiador da aquisição feita pelo
executado, no contexto dum contrato de mútuo, que apenas
tem por efeito transferir para o mutuário o montante pecuniário
a ele entregue, sendo, desse modo, até certo ponto incompatível
com a norma do art. 409º, nº 1, do Cód. Civil, sede principal
da reserva de propriedade, que apenas contempla a sua inserção,
em benefício do alienante, em quaisquer contratos de
alienação.
Da alegação do Exequente/Agravante depreende-se que teria
existido, in casu, uma relação traingular: a fornecedora do
automóvel vendeu-o ao executado; este, para conseguir o
correspondente pagamento, obteve do exequente um
financiamento (empréstimo) da quantia necessária; finalmente,
como é usual, o financiador entregou a quantia correspondente
ao preço directamente à vendedora.
De qualquer modo – e como bem se salientou no cit. Acórdão
do S.T.J. de 12/5/2005 – “não se descortina, no entanto, com
facilidade o processo negocial que veio a permitir o registo da
reserva de propriedade a favor da mutuante (terá havido uma
dupla venda, primeiro da fornecedora à financiadora e depois,
desta ao adquirente ? terá ocorrido uma sub-rogação contratual
da financiadora nos direitos que, ab initio, pertenciam à
vendedora ? ter-se-ão procurado, afinal, efeitos semelhantes aos
da alienação fiduciária em garantia que, entre nós, ainda não
alcançou consagração legal ?)”.
Porém, como quer que tenha sido configurado o processo
negocial que possibilitou o registo, a favor do ora
Exequente/Agravante, da reserva de propriedade sobre o veículo
automóvel em questão, o que releva, na economia do presente
recurso e para efeitos da resolução da questão de direito nele
suscitada, é que o exequente nomeou à penhora um veículo
automóvel sobre o qual - não importa para o caso como
- detém o registo da reserva de propriedade a seu favor.
Tradicionalmente, a reserva de propriedade era encarada
como uma condição suspensiva do negócio de alienação,
mantendo-se a propriedade na titularidade do alienante até
integral pagamento do preço (14).
É bem verdade que diversas tentativas foram ensaiadas no
intuito de, por forma mais consentânea com as suas
características, qualificar a natureza da reserva de
propriedade, sem que, todavia, qualquer delas tenha passado a
prevalecer sobre a qualificação tradicional (houve quem a
considerasse um direito real de garantia do vendedor, na
medida em que reveste a natureza de uma garantia real do
crédito e, assim, uma hipoteca mobiliária pelo preço em dívida -
Wieacker; ou que o vendedor fica investido na titularidade de
um direito de penhor com pacto comissório - Blomeyer); ou
ainda que "nos seus termos substanciais o pacto de reserva de
propriedade é uma cláusula de garantia que confere ao
vendedor o poder de reivindicar o bem no caso de resolução do
contrato por incumprimento do comprador" (Bianca), ou
também que constitui uma cláusula específica, cláusula
acessória atípica, devendo a indagação do regime aplicável
partir do seu conteúdo e sentido próprios, sem passar pelo filtro
da condição suspensiva e nalguns pontos até em contradição
com o regime que desta resultaria (Gama Rose), ou finalmente
que "na sequência do reconhecimento ao comprador de um
direito real de expectativa e da posse em nome próprio, tanto o
alienante como o adquirente detêm um pedaço da
propriedade. Tratar-se-ia de uma transferência gradual do
direito do vendedor para o comprador: a partilha de propriedade
defendida por Raiser) (15).
Em qualquer dos casos, uma coisa é certa: o adquirente não
tem a propriedade plena sobre o veículo, porquanto, além do
mais, “surge-nos como inevitável em face do direito vigente a
aceitação da tese de que a transferência da propriedade,
estritamente entendida como transferência da titularidade do
direito de propriedade, fica subordinada a uma condição
suspensiva” (16).
Parece, desta forma, que, mantendo-se a reserva de
propriedade a favor do exequente, o veículo não deveria
sequer ter sido penhorado, já que se não tratava dum bem do
executado (arts. 601º do C.Civil e 821º, nº 1, do C.Proc.Civil)
(17).
Sustenta, porém, o Exequente/Agravante que é perfeitamente
admissível que o detentor da reserva de propriedade possa
nomear à penhora o bem sobre que incide tal reserva,
porquanto, nesse caso, estará a renunciar implicitamente ao
seu "domínio" sobre o bem, tanto mais que, nos casos em que
o detentor da reserva de propriedade opta pelo pagamento
coercivo da quantia em dívida, deixa de poder fazer operar a
reserva de propriedade constituída, deixa de poder reivindicar
para si o bem. A não ser assim, no caso de opção pelo
pagamento da quantia em dívida, a constituição de reserva de
propriedade não só não beneficiaria o respectivo titular, como
até o prejudicaria, inclusivamente em relação aos outros
credores do devedor.
Quid juris ?
“Ainda que fosse aceitável atender a uma declaração de
renúncia tacitamente efectuada através de mera actuação
processual (e, a nosso ver, a propositura da acção de
cumprimento não encerra qualquer vontade de renúncia à
reserva) não pode esquecer-se que, in casu, desacompanhada da
comprovação do cancelamento da reserva de propriedade, a
mesma devia ser expressa e formalmente assumida em
declaração dotada da força necessária para assegurar a renúncia
e para servir de base ao futuro cancelamento do registo (18)”
(cit. Acórdão do S.T.J. de 12/5/2005) (19).
Na verdade, “a reserva de propriedade tende a manter-se até
efectivo pagamento do preço, certo que só esta circunstância
desencadeia a transferência do direito de propriedade sobre a
coisa vendida, ao que acresce o facto de a penhora em acção
executiva não bastar, como é natural, à realização do direito de
crédito do credor reservante do direito de propriedade. (...) Por
outro lado, atenta a fonte contratual de que a reserva de
propriedade deriva, não é um direito a que se possa renunciar
livremente, porque se traduz no diferimento contratual de um
dos efeitos do contrato de compra e venda acordado entre as
partes. De contrário, estar-se-ia perante uma situação que
significaria a extinção da expectativa (direito real de aquisição?)
do comprador de adquirir o direito de propriedade por sua
exclusiva vontade, o que se revela contrário ao princípio do
consenso contratual que decorre do art. 406º, nº 1, do C.Civil”
(20).
Ademais, só será eficaz a renúncia à reserva de propriedade
desde que registralmente comprovada, através do respectivo
cancelamento.
Estabelece, com efeito, o art. 7º do C. Registo Predial (aqui
aplicável por força do disposto no art. 29º do Dec. Lei nº 54/75,
de 12 de Fevereiro) que "o registo definitivo constitui
presunção de que o direito existe e pertence ao titular inscrito".
“Daí que, mostrando-se inscrita na Conservatória do Registo de
Automóveis de Lisboa reserva da propriedade do veículo
penhorado a favor da exequente, o que faz presumir a existência
do direito e que este pertence ao titular inscrito, se deva concluir
que a propriedade daquele se não transferiu para a titularidade
dos executados, mantendo-se na esfera jurídica da exequente”
(cit. Acórdão do S.T.J. de 12/5/2005).
“Por isso, e sendo certo que o registo automóvel tem que estar
em conformidade com a situação substantiva dos bens,
designadamente para defesa de terceiros, a penhora do bem cuja
reserva de propriedade está inscrita em nome da exequente
exigia que esta, previamente, demonstrasse o cancelamento
dessa reserva ou que, no mínimo, comprovasse esse
cancelamento antes de o processo avançar para a fase da venda
executiva” (cit. Acórdão do S.T.J. de 12/5/2005).
“Quando não permitir-se-ia a manutenção nos autos de uma
situação claramente contraditória: por um lado, através da
penhora (devidamente registada) e subsequente sujeição à venda
executiva, atingir-se-ia o pagamento do exequente (e eventuais
credores reclamantes) pelo produto da venda do bem; por outro
lado, e enquanto durasse a execução, no período que
antecedesse a venda continuaria, por força da reserva de
propriedade (também devidamente registada) o exequente a
gozar da faculdade de exercer o seu direito de resolução do
contrato, ressarcindo-se, nomeadamente, através da restituição
do veículo” (cit. Ac. do S.T.J. de 12/5/2005).
Assim, pese embora o facto de o Exequente/Agravante
haver nomeado à penhora o veículo automóvel sobre cujo
direito de propriedade tinha reserva, não pode entender-se que,
com tal nomeação, a ela haja renunciado tácita e eficazmente.
Defende, ainda, o Exequente/Agravante que o facto de a reserva
de propriedade estar registada não impede o prosseguimento da
penhora, pois, de harmonia com o disposto nos artigos 824°
do Código Civil e 888° do Código de Processo Civil, aquando
da venda do bem penhorado, o tribunal deve, oficiosamente,
ordenar o cancelamento de todos os registos que sobre tal
bem incidam.
E que, no caso de surgirem dúvidas sobre a propriedade dos
bens objecto de penhora, deve-se agir de acordo com o que se
prescreve no artigo 832° do Código de Processo Civil (caso a
penhora ainda não tenha sido efectuada ou esteja a sê-lo) ou
com o que se prescreve no artigo 119° do Código do Registo
Predial (caso a penhora já tenha sido realizada e a dúvida surja
por o bem não estar registado em nome do executado mas em
nome de outrem).
Quid juris ?
A) Quanto à pretensa aplicabilidade ao caso em apreço do
disposto no art. 119º do Cód. do Registo Predial (aplicável,
como vimos, ao registo de automóveis, ex vi do cit. art. 29º do
Dec-Lei nº 54/75), cujo nº 1 estatui que: "havendo registo
provisório de arresto, penhora ou apreensão em falência ou
insolvência de bens inscritos a favor de pessoa diversa do
requerido ou executado, o juiz deve ordenar a citação do titular
inscrito para declarar, no prazo de dez dias, se o prédio ou
direito lhe pertence".
Antes de mais, cumpre esclarecer que “os registos referidos no
nº 1 são provisórios por natureza, nos termos da al. a) do nº 2 do
art. 92º [do C.R.P.], e são oficiosamente convertidos em
definitivos, em face de certidão comprovativa de o citado ter
declarado que os bens não lhe pertencem, ou de não ter feito
nenhuma declaração, expedida pelo tribunal à conservatória (nº
3)” (21).
“A função desta norma é, como naturalmente se deduz, a de
estabelecer um mecanismo que permita a conversão de um
registo provisório em definitivo, a de providenciar por uma
actualização dos factos inscritos no registo para evitar a sustação
de execuções pelo simples facto de o bem penhorado estar
indevidamente registado a favor de pessoa diferente do
executado” (cit. Acórdão do S.T.J. de 12/5/2005).

“In casu, como claramente se infere da competente certidão (fls.


62) o registo da penhora é definitivo. Donde, como é natural,
por falta do pressuposto da provisoriedade, não se justifica o
recurso ao disposto naquele art. 119º, nº 1” (cit. Acórdão do
S.T.J. de 12/5/2005).
“Acresce que o recurso ao mecanismo previsto em tal
disposição apenas se justifica relativamente a discrepâncias
entre a titularidade do bem e o respectivo registo, quando
respeitem a pessoas diversas do exequente e não, como ocorre
no caso concreto, com relação a situações em que ele próprio
surge como titular inscrito, nas quais existe conhecimento
exacto e sem controvérsia da titularidade do direito de
propriedade sobre o bem penhorado” (cit. Acórdão do S.T.J. de
12/5/2005).
B) Quanto àqueloutro entendimento propugnado pelo
Exequente/Agravante, de que, aquando e após a venda do bem
penhorado, o tribunal deve, oficiosamente, ordenar o
cancelamento de todos os registos (incluindo a reserva de
propriedade) que sobre o bem incidam, por aplicação da
disciplina dos arts. 824° do Código Civil e 888° do Código de
Processo Civil:
Dispõe actualmente o art. 888º do C.Proc.Civil que "após o
pagamento do preço e do imposto devido pela transmissão, o
agente de execução promove o cancelamento dos registos dos
direitos reais que caducam nos termos do nº 2 do artigo 824º do
Código Civil e não sejam de cancelamento oficioso pela
conservatória".
Estabelece, por sua vez, o art. 824º do C.Civil que "a venda em
execução transfere para o adquirente os direitos do executado
sobre a coisa vendida" (nº 1), sendo que "os bens são
transmitidos livres dos direitos de garantia que os onerarem,
bem como dos demais direitos reais que não tenham registo
anterior ao de qualquer arresto, penhora ou garantia, com
excepção dos que, constituídos em data anterior, produzam
efeitos em relação a terceiros independentemente de registo" (nº
2).
Demos de barato, para facilidade de raciocínio, que é possível,
tendo em conta o princípio da liberdade contratual, a aplicação
desta figura (reserva de propriedade) a contratos diferentes dos
de alienação, nomeadamente ao de mútuo a prestações que
com o de compra e venda de veículo automóvel apresenta uma
relação de estreita conexão, consubstanciada no facto de o
objecto do primeiro - quantia mutuada - representar o preço do
segundo (22)(23).
Teria sido isso, afinal, o que ocorreu no caso sub judice, em que
a reserva da propriedade sobre o veículo foi estabelecida, não
a favor do vendedor, mas em benefício do mutuante,
justamente porque o primeiro recebeu, mercê do contrato de
mútuo outorgado pelo comprador, o preço convencionado no
âmbito da compra e venda do veículo (24).
“Antes de mais, (…) o facto de a reserva de propriedade ter sido
(eventualmente) constituída para garantia do direito de crédito
do recorrente, advindo do financiamento destinado à aquisição
do veículo, de nada releva no sentido da sua pretensão, uma vez
que na reserva de propriedade, conquanto direito real de gozo, a
função de garantia está sempre presente” (cit. Acórdão do S.T.J.
de 12/5/2005).
“Todavia, sempre será de entender que a situações como a agora
mencionada não deixam de ser aplicáveis, como é evidente, os
efeitos prescritos na lei e próprios da reserva de propriedade
como se esta houvesse sido constituída a favor do vendedor.
Mesmo que a reserva de propriedade haja sido funcionalmente
utilizada e registada para garantia do pagamento da dívida do
financiador, nunca será juridicamente um direito real de
garantia, mas, em termos de rigor, uma condição
suspensiva aposta com respeito à transmissão da propriedade”
(cit. Acórdão do S.T.J. de 12/5/2005).
“Donde surja líquida a conclusão de que a reserva de
propriedade não constitui uma garantia real coberta pelas
normas dos arts. 824º do C.Civil ou do art. 888º do
C.Proc.Civil, que apenas abarcam os direitos reais de
garantia e os demais direitos reais (como a reserva de
propriedade) que não tenham registo anterior ao registo da
penhora” (cit. Acórdão do S.T.J. de 12/5/2005) (25).
“Ora, como a reserva de propriedade, direito real de gozo sobre
o veículo automóvel penhorado, está inscrita no registo
automóvel com anterioridade em relação ao acto de penhora,
certo é que não podia caducar, por força do disposto no nº 2 do
artigo 824º do CC, com o acto da venda do veículo” (cit.
Acórdão do S.T.J. de 12/5/2005).
“Assim, realizada a venda do veículo automóvel penhorado, não
podia o tribunal, ao abrigo do disposto no artigo 888º do
C.Proc.Civil, ordenar o cancelamento da inscrição respeitante à
reserva de propriedade, com a consequência de o adquirente ter
de suportar aquele ónus na sua esfera jurídico-patrimonial” (cit.
Acórdão do S.T.J. de 12/5/2005).
“Encontramo-nos, pois, perante uma situação em que a penhora
(já que foi feita) pode manter-se, mas com base nela não pode a
execução prosseguir para a fase da venda, sem que,
previamente, o recorrente renuncie à reserva de propriedade e
inscreva no registo o respectivo cancelamento” (cit. Acórdão do
S.T.J. de 12/5/2005).
Consequentemente, “perante a anomalia de haver sido ordenada
e realizada a penhora de um veículo automóvel em relação ao
qual a exequente é titular do direito de propriedade e não
qualquer dos executados, a solução não pode deixar de ser no
sentido da suspensão da acção executiva em relação à referida
penhora até que a agravante demonstre em juízo o cancelamento
do registo da reserva de propriedade em causa (artigos 276º, n°
1, alínea c) e 279º, ex vi do n° 1 do art. 466, do C.Proc.Civil)”
(cit. Acórdão do S.T.J. de 12/5/2005).
Eis por que o despacho objecto do presente recurso de
agravo não merece qualquer censura, já que não violou
qualquer das normas invocadas pelo Exequente/Agravante,
improcedendo, consequentemente, o recurso contra ele
interposto.
DECISÃO
Acordam os juízes desta Relação em negar provimento ao
presente recurso de Agravo, confirmando integralmente o
despacho recorrido.
Custas a cargo do Exequente ora Agravante.
Lisboa, 4 de Dezembro de 2006

Rui Torres Vouga (Relator)


Carlos Moreira (1º Adjunto)
Isoleta Almeida Costa (2º Adjunto)
____________________________________
(1) Cfr., neste sentido, ALBERTO DOS REIS in “Código de
Processo Civil Anotado”, vol. V, págs. 362 e 363.
(2) Cfr., também neste sentido, os Acórdãos do STJ de 6/5/1987
(in Tribuna da Justiça, nºs 32/33, p. 30), de 13/3/1991
(in Actualidade Jurídica, nº 17, p. 3), de 12/12/1995 (in BMJ nº
452, p. 385) e de 14/4/1999 (in BMJ nº 486, p. 279).
(3) O que, na alegação (rectius, nas suas conclusões), o
recorrente não pode é ampliar o objecto do recurso
anteriormente definido (no requerimento de interposição de
recurso).
(4) A restrição do objecto do recurso pode resultar do simples
facto de, nas conclusões, o recorrente impugnar apenas a
solução dada a uma determinada questão: cfr., neste sentido,
ALBERTO DOS REIS (in “Código de Processo Civil
Anotado”, vol. V, págs. 308-309 e 363), CASTRO MENDES
(in “Direito Processual Civil”, 3º, p. 65) e RODRIGUES
BASTOS (in “Notas ao Código de Processo Civil”, vol. 3º,
1972, pp. 286 e 299).
(5) Esta foi a orientação que fez vencimento, designadamente,
nos seguintes arestos: Acórdãos da Rel. de Lisboa de 02/06/99,
no Proc. 0032956 (relator: Moreira Camilo); de 18/02/2002, no
Proc. 0050632 (relatora: Ana Paula Boularot); de 18/02/2002,
no Proc. 00888867 (relatora: Maria do Rosário Morgado); de
11/04/2002, no Proc. 0024576 (relator: Salvador da Costa); de
18/04/2002, no Proc. 00304498 (relatora: Catarina Manso); de
05/12/2002, no Proc. 0089506 (relator: Granja da Fonseca); de
16/01/2003, no Proc. 0095882: relator Farinha Alves); de
20/03/2003, no Proc. 0004856 (relatora: Fernanda Isabel
Pereira); de 13/05/2003, no Proc. 1410/2003-7 (relatora: Rosa
Maria Coelho); de 27/05/2003, no Proc. 4467/03-1 (relator:
António Geraldes); de 09/07/2003, no Proc. 4400/2003-2
(relatora: Graça Amaral); de 03/06/2004, no Proc. 2826/2004-2
(relator: Francisco Magueijo); e de 14/12/2004, no Proc.
9857/2004-7 (relator: António Geraldes).
(6) Enfileiraram por esta tese, entre outros, os seguintes arestos:
Acórdãos da Rel. de Lisboa de 28/02/2002, no Proc. 00110498
(relator: Bruto da Costa); de 27/02/2003, no Proc. 0007856
(relator: Urbano Dias); e de 21/12/2004, no Proc. 10130/2004-1
(relator: André dos Santos).
(7) Proferido no Proc. nº 1111/98 da 2ª secção (relator: Simões
Freire), cujo sumário pode ser acedido, via Internet,
no site www.dgsi.pt.
(8) Proferido no Proc. nº 3754/04 da 2ª secção (relator: Abílio
Vasconcelos), cujo sumário pode ser acedido, via Internet,
no site www.dgsi.pt..
(9) Proferido no Proc. nº 05B993, de que foi relator o saudoso
Conselheiro ARAÚJO DE BARROS, e cujo texto integral pode
ser consultado, via Internet, no site www.dgsi.pt.
(10) Proferido no Proc. nº 06A880 e relatado pelo Conselheiro
JOÃO CAMILO, podendo o respectivo texto integral ser
acedido, via Internet, no site www.dgsi.pt.
(11) Exarado no Proc. 1765/04 da 6ª secção (relator Sousa
Leite).
(12) Proferido no Proc. nº 05B3932 e relatado pelo Conselheiro
BETTENCOURT DE FARIA, cujo texto integral também pode
ser acedido, via Internet, no site www.dgsi.pt.
(13) LUÍS LIMA PINHEIRO in "A Cláusula de Reserva de
Propriedade", Coimbra, 1988, pags. 23 e 24.
(14) PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA (in "Código
Civil Anotado", vol. I, 4ª edição, com a colaboração de M.
Henrique Mesquita, Coimbra, 1987, p. 376); VAZ SERRA
(in RLJ Ano 112º, p. 235); ALMEIDA COSTA (in “Direito das
Obrigações”, 5ª edição, Coimbra, 1991, p. 232); ARMANDO
BRAGA (in "Contrato de Compra e Venda", Porto, 1990, p. 69).
Cfr., na jurisprudência, os Acs. do STJ de 22/02/83 (in BMJ nº
324, pag. 578: relator Santos Silveira); e de 01/02/95 (in BMJ nº
444, pag. 609: relator Sousa Inês).
(15) Cfr., LUÍS LIMA PINHEIRO in obra citada, pags. 93 a
120.
(16) LUÍS LIMA PINHEIRO, ibidem, pag. 113 e autores aí
citados em nota.
(17) Com efeito, na execução para pagamento de quantia certa,
o exequente (credor) visa obter o cumprimento duma obrigação
pecuniária através do património do executado (devedor).
Apreendidos e vendidos bens deste património, procede-se, com
o dinheiro realizado, ao pagamento do exequente, que obterá
assim, por esta via, idêntico resultado ao da realização da
prestação que lhe é devida, segundo o título executivo. Assim,
“a nomeação à penhora pelo titular da reserva de propriedade
sobre o bem concernente não é conforme à regra que resulta da
lei, no sentido de que pelas dívidas do executado apenas os seus
bens ou os de terceiro afectos ao cumprimento da obrigação,
respondem (artigos 601º CC e 821º CPC)” (Ac. da Rel. de
Lisboa de 16/10/2003, proferido no Proc. nº 7341/2003-6 e
relatado pelo Desembargador GRANJA DA FONSECA, cujo
texto integral está disponível para consulta, via Internet,
no site www.dgsi.pt).
(18) Ac. da Rel. de Lisboa de 21/02/2002 in CJ Ano XXVII,
tomo 2, pag. 113 (relator: Salvador da Costa).
(19) Efectivamente, “se assim fosse, isto é, se se tratasse de
renúncia tácita, não havia meio de se conseguir o seu
cancelamento no registo automóvel por falta de título
documental adequado” (cit. Ac. RL de 21/02/2002 in CJ Ano
XXVII, tomo 2, pag. 113). “Nesta lógica, ainda que o veículo
automóvel fosse vendido no âmbito da acção executiva, porque
a reserva de propriedade, ou seja, um direito real de gozo, está
registada antes do acto da penhora, continuaria a afectar, não
obstante a alienação, o veículo automóvel vendido (cfr. artigo
824º, n.º 2 CC)” (ibidem).
(20) Cit. Ac. RL de 21/02/2002 in CJ Ano XXVII, tomo 2, p.
113 (relator Salvador da Costa).
(21) ISABEL PEREIRA MENDES in "Código de Registo
Predial", 5ª edição, Coimbra, 1992, p. 243.
(22) Cfr., neste sentido, VASCO DA GAMA LOBO
XAVIER, in "Venda a Prestações, Algumas notas sobre os
artigos 934º e 935º do Código Civil", Coimbra, 1977, pags. 23 a
25.
(23) Cfr., no sentido de que, “embora a reserva de propriedade,
tal como está prevista na lei, tenha sido pensada para contratos
de compra e venda, o certo é que o artigo 409º, n.º 1 abrange, na
sua letra e espírito, a hipótese de conexão entre o contrato de
mútuo a prestações e o contrato de compra e venda do veículo
automóvel por virtude do objecto mediato do primeiro constituir
o elemento preço do segundo, situação que se configura como
se o pagamento do preço relativo ao contrato de compra e venda
do veículo automóvel fosse fraccionado no tempo”, LUÍS
LIMA PINHEIRO (in "A Cláusula de Reserva de Propriedade"
cit., pp. 33-34) e o Ac. da Rel. de Lisboa de 11/12/1997 (in CJ,
Ano XXII, Tomo 5, p. 120).
(24) Cfr., no sentido de que “o facto de as partes terem optado
pela reserva de propriedade do veículo automóvel não a favor
do vendedor, mas da mutuante, consubstancia uma situação
anómala de constituição da reserva de propriedade, mas não se
altera o regime legal que decorre da lei”, porquanto “os seus
efeitos são idênticos àqueles que derivariam de ela haver sido
constituída a favor do vendedor do veículo automóvel que foi
penhorado”, o Ac. da Rel. de Lisboa de 16/10/2003 (proferido
no Proc. nº 7341/2003-6 e relatado pelo Desembargador
GRANJA DA FONSECA, cujo texto integral está disponível
para consulta, via Internet, no site www.dgsi.pt).
(25) Como se sabe, nos termos do nº 2 do cit. art. 824º do Cód.
Civil, há que distinguir duas espécies de direitos que incidam
sobre os bens vendidos. Assim, enquanto os de garantia
caducam todos (os bens são sempre transmitidos livres de
todos eles, sejam de constituição anterior ou posterior à
penhora, tenha ou não havido reclamação na execução dos
créditos que eles garantem), já os direitos reais de gozo só
caducam se não tiverem um registo anterior ao de qualquer
arresto, penhora ou garantia, ou seja, anterior à mais antiga
destas garantias (apenas se exceptuam aqueles direitos de gozo
que produzam efeitos em relação a terceiros independentemente
de registo, porque estes também não caducam, se tiverem sido
constituídos anteriormente ao mais antigo daqueles actos).

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