1 - Reflexões Sobre Moral, Ética E Direito
1 - Reflexões Sobre Moral, Ética E Direito
1 - Reflexões Sobre Moral, Ética E Direito
1. Introdução
Inicialmente buscaremos estabelecer conceitos, características,
diferenças e semelhanças entre moral, ética e direito para só após isto
procedermos uma análise sobre o exercício de algumas profissões jurídicas no
Brasil.
A vida em sociedade seria insuportável se destituída de um mínimo de
respeito, bom senso e solidariedade no trato das pessoas umas com as outras,
deste modo é que se torna imprescindível impor ao ser humano um rol de
normas morais e jurídicas capazes de fazer com que ao menos as pessoas se
tolerem e se respeitem mutuamente.
A corrupção é abominável e opera em desfavor das virtudes e valores de
qualquer sociedade, deste modo a intolerância, o desprezo aos valores e o
desrespeito às pessoas e instituições têm uma relação muito próxima com a
questão ético-moral e com o direito.
É fundamental que se assegure o respeito a uma estrutura moral básica,
posto que em sua essência além de ser um ser social o Homem também é um
ser moral, e neste desiderato a ética e o direito assumem grande relevância.
Neste sentido percebe-se que o próprio direito assimilou o princípio da
moralidade, sobretudo no que se refere à regência dos interesses públicos,
vide Art. 37 da Constituição da República de 1988, onde a moralidade consta
como um dos princípios da administração pública brasileira.
Na ordem privada a boa-fé nas relações negociais também reflete a
relevância do emprego da moral para segurança jurídica dos contratos. Desta
forma, a moral não interessa apenas à disciplina da ordem pública, no que
também é fundamental à boa dinâmica das relações privadas.
A ética sempre cuida de questões morais aplicadas aos diversos
segmentos sociais (atuação profissional, família, igreja, serviço público, etc.). A
abordagem referente ao direito, moral e à ética é fundamental para o bom
entendimento acerca da importância de tais institutos ao desempenho
adequado das atividades profissionais, sobretudo, no que se refere às
profissões jurídicas imprescindíveis à boa prestação da atividade jurisdicional.
Doutra sorte, no que tange ao ilícito moral a penalidade poderá tanto ser
interna quanto poderá também ser externa, neste último caso, tal ocorre
quando a moral abandona as questões individuais e avança sobre as relações
sociais, onde também o comportamento moral considerado adequado é
cobrado, ocasião em que a própria sociedade cuida de punir a conduta
moralmente inadequada mediante reprovação, reprimenda ou reclamação,
como ocorre, por exemplo, quando alguém fura uma fila.
Neste caso, a coerção impingida pela sociedade ao infrator não tem o
mesmo poder daquela aplicada pelo Estado, haja vista que ninguém deverá
ser, por exemplo, detido pela autoridade policial por mera afronta a um preceito
moral não tipificado enquanto conduta antijurídica, isto não impede que a
sociedade crie seus próprios mecanismos de desestimulo às práticas imorais
apesar da não garantia de efetividade sancionatória.
Em realidade, direito e moral se relacionam e disto decorre que o direito
passa a ter conteúdo moral, e a moral passa a revestir-se de roupagem
jurídica, todavia tanto a moral como o direito guardam um espaço de
independência.
Na construção de sua teoria pura do direito Hans Kelsen tenciona
resguardar o direito contra qualquer possível interferência advinda das demais
ciências humanas ou de qualquer parte do conhecimento.
Nesta perspectiva a tão necessária interação entre direito e moral
exposta nos ordenamentos jurídicos modernos estaria de todo comprometida
se construída a partir do pensamento Kelseniano.
Interessante é que a proposição de Kelsen não subtrai do direito a
possibilidade de equipar-se com princípios morais, com efeito, o que o referido
jurista destacava era que em essência a moral não alicerça o direito, posto que
a ciência jurídica teria seu fundamento construído a partir de seus próprios
princípios.
Ora, isso significa que a validade de uma ordem jurídica positiva é
independentemente da sua concordância ou discordância com qualquer
sistema moral (KELSEN, 1998)
As regras jurídicas constituem o núcleo das regras morais; poderá
também ocorrer que as regras morais constituem o núcleo do direito que
compreende muitas normas moralmente indiferentes – moral como mínimo
jurídico; noutra perspectiva as regras jurídicas são aparentadas com as morais,
sendo impossível criar e interpretar o direito sem levar em consideração a
moral; outra possibilidade se dá quando entre ambos os ordenamentos há
plena e absoluta separação em dimensão Kelseniana. (DIMOULIS, 2003)
A natureza coercitiva do direito na concepção de Kelsen é um elemento
diferenciador que impede a moral de assemelhar-se à ciência jurídica. A
compreensão do direito a partir de seus próprios fundamentos remete a moral a
uma dimensão cujas consequências nada têm a ver com o direito, como já
ficou realçado quando tratamos da questão da coerção do ponto de vista moral
e sob a ótica jurídica.
Deste modo, o comportamento humano estaria limitado ora pelo ônus
ora pelo bônus, tanto na órbita jurídica quanto na dimensão moral, o modo de
punir a conduta inadequada é o que faz a diferença.
O campo de atuação da moral é mais amplo que o do direito; o direito
possui coercibilidade, a moral é incoercível. Enquanto a moral busca a recusa à
conduta malévola pela prática do bem, o direito propõe a busca da justiça. A
moral enfatiza as questões internas da alma humana, o direito exige a
manifestação do fato social. A moral é unilateral, o direito bilateral.
(MONTEIRO, 2004)
8. Conclusão
Da abordagem desta temática surge a convicção a respeito da
atualidade e urgência atinentes à questão ético-moral.
A vida em sociedade exige posturas moralmente responsáveis nos
campos pessoal, familiar e profissional.
Na atualidade há um grande esforço no sentido de pautar a conduta
profissional dentro de um padrão ético que satisfaça minimamente às
exigências de decência e dignidade nas relações estabelecidas entre
profissionais e destes com seus clientes.
Na seara jurídica, como noutros ofícios, há uma enorme preocupação
em diminuir o desgaste pelo qual passa principalmente a advocacia diante de
tantos escândalos envolvendo advogados.
Os códigos de conduta profissional têm sido adotados como uma forma
de tentar frear os abusos cometidos, mas enfrentam dificuldades no que se
refere à aplicação das punições, em virtude do corporativismo que move os
interesses profissionais.
Apesar disto, é sobremodo importante a valorização das condutas
profissionais adequadas pautadas nos princípios morais, na ética e quando for
o caso na própria norma jurídica.
Quando os códigos de ética profissional não funcionam em seu escopo
de promover a adequada higienização dos quadros profissionais, resta à
Justiça suprir tal lacuna, posto que não raro a lesão aos valores ético-morais
também poderá ter consequências legais, entretanto quando a Justiça tarda
demais ou simplesmente falha na promoção de sua missão institucional,
perdemos todos nós os cidadãos de bem, e perde também o país, tem lugar o
descrédito nas instituições, o dano portanto é coletivo.
A compreensão da deontologia profissional passa pela adequada
percepção que se deve ter das possibilidades advindas da interface entre
moral, ética e direito. Neste sentido, é preciso que se estabeleçam os espaços
de atuação de cada um desses institutos.
Com efeito, a honestidade, boa-fé, honradez e a solidariedade, dentre
outros valores, devem permear todas as relações sociais. Diante disto, exige-
se dos operadores do direito um compromisso com a moralidade a fim de
resgatar a dignidade de algumas profissões jurídicas combalidas pelos
sucessivos escândalos que constantemente visitam o noticiário.
Os códigos de ética profissional representam um avanço na missão de
melhorar a qualidade moral dos profissionais do direito, aliado a isto não
podemos deixar de repisar a necessidade de se valorizar o exame de ingresso
na Ordem dos Advogados do Brasil como um critério favorável à melhoria da
qualidade dos causídicos em nosso país.
A sociedade tem ânsia por dignidade, decência e justiça e espera que o
Estado dote a norma jurídica de um mínimo ético fundamental à segurança das
relações sociais e profissionais, a fim de que os indivíduos e as instituições
sejam impelidos ao exercício de uma moral mediana, nem tão virtuosa que não
possa ser cumprida, tampouco tão viciosa que não consiga evitar a proliferação
dos desvios de conduta profissional.
Referências bibliográficas
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. [Trad. João Baptista Machado]. 6º ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1998.
NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional. 4ª ed. São Paulo: RT, 2004.
OLIVEIRA, J.M Leoni de. Introdução ao Direito. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,
2004.
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 21ª ed. São Paulo: Saraiva,
1993.
VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Ética e Direito. Org. e Intr. Cláudia Toledo e
Luiz Moreira. São Paulo: Landy; Loyola, 2002.