Artigo - Histeria
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RESUMO
O artigo apresentado é a construção de um caso clínico de uma paciente
atendida por estagiária do curso de psicologia do 9º período. Os atendimentos
foram realizados dentro da teoria psicanalítica, fez-se a articulação da escrita
de acordo com as contribuições de Freud e Lacan. Nos atendimentos
realizados foi possível pensar em uma hipótese diagnóstica de uma estrutura
clínica da neurose histérica e algumas das perguntas que o sujeito desta
estrutura vai supostamente buscar respostas, diante da escuta de uma jovem
de vinte e quatros anos. Ademais, foi possível a reflexão sobre a histeria nos
dias de hoje para além dos sintomas conversivos e a importância da análise
pessoal, supervisão e estudos para se realizar os atendimentos através da
abordagem psicanalítica.
Palavras-chaves: Psicanálise, estrutura, histeria.
ABSTRACT
The article presented is the construction of a clinical case of a patient attended
by an intern of the psychology course of the 9th period. The consultations were
carried out within the psychoanalytic theory, articulating the writing according to
the contributions of Freud and Lacan. In the consultations carried out, it was
possible to think of a diagnostic hypothesis of a clinical structure of hysterical
neurosis and some of the questions that the subject of this structure will
supposedly seek answers, before listening to a young woman of twenty and
four Years. In addition, it was possible to reflect on hysteria today beyond the
conversion symptoms and the importance of personal analysis, supervision and
study to perform the care through the psychoanalytic approach.
Keywords: Psychoanalysis, structure, hysteria.
1. INTRODUÇÃO
No nono período do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera de
Betim/MG no primeiro semestre de 2023 foi realizado o Estágio Específico Il na
abordagem da psicanálise e para conclusão desse estágio, ao final do
semestre é preciso que o estagiário escolha um dos casos que realizou os
atendimentos para fazer uma articulação da teoria com o caso.
O caso clínico apresentado no presente trabalho foi realizado durante
atendimentos clínicos na Clínica Escola de Psicologia da Faculdade
Anhanguera em encontros semanais de 50 minutos que totalizaram seis
atendimentos da paciente Emma, até o momento da escrita do artigo.
Para realização dos atendimentos de Emma a estagiária buscou utilizar
da teoria da psicanálise em que a paciente foi convidada a falar livremente.
Além disso, foi pensado durante os atendimentos em uma hipótese diagnóstica
de uma estrutura clínica como Lacan propôs em sua teoria, ou seja, como o
sujeito irá se posicionar diante da castração dele e do Outro. No presente
trabalho, pode-se pensar mais especificamente na neurose histérica.
Ademais, faz-se necessário citar que a neurose histérica, é mais
prevalente em mulheres, mas que existem também homens que se constituem
em uma neurose histérica. Para além disso, faz-se necessário pensar nas
novas formas de sintomas que se apresentam na clínica hoje, para além de
sintomas de conversão, sintomas que dizem do contexto social e histórico em
que as pessoas estão inseridas também.
Portanto, esse artigo vai buscar mostrar um pouco mais sobre a
estrutura da neurose histérica e sobre a insatisfação presente nesta estrutura
como uma suposta busca de saber sobre algumas questões fundamentais que
se farão presentes na constituição da histeria, como a busca por saber o que
desejar, quem desejar, o que os homens buscam em uma mulher, o que as
mulheres buscam nos homens e o que é uma mulher.
2. DESCRIÇÃO DO TRABALHO
2.1 ESTRUTURA CLÍNICA
Além disso, esse Outro pode ser encarnado em cada momento por algo
que pode ser uma pessoa ou a religião, por exemplo e deve pensar nesse
Outro como referência, uma vez que é um lugar de estrutura e interessa muito
como posição. Ademais, é importante pensar que não existe estrutura sem
falha e a essa falha Lacan (1957) chamará de castração como uma dimensão
imaginária, simbólica diferente do que Freud dizia da inveja do pênis, e aparece
para o sujeito como essa noção de que algo falta. E devido a suposição do
sujeito de uma estrutura completa, o falo seria o que completaria a estrutura,
que supostamente falta. (PALONSKY, CINTIA, 1997, p. 18).
Portanto, quando se fala de estrutura em psicanálise, se diz sobre “a
maneira como o sujeito se posiciona frente à castração do Outro e à sua
própria” (p.19) e se atentar a estrutura do sujeito é muito importante para a
escuta psicanalítica e para a condução do caso do analista, como no estudo de
caso apresentado, foi importante que estagiária se atentasse a esses
conceitos, o que fez com que pensasse em uma hipótese diagnóstica de uma
neurose histérica. E o que seria essa neurose histérica?
2.2 ESTRUTURA CLÍNICA DA NEUROSE DE HISTERIA
Sendo assim, Cintia (1997) vai dizer que essa insatisfação é a forma
de saída da angústia da histérica, ela se apresentar sempre como insatisfeita e
“essa insatisfação vai estar frequentemente referida a “algo que falta”, uma
representação que indica o que está faltando.” (CINTIA, 1997, p.57)
Pode-se perceber uma certa rivalidade com várias mulheres na vida de
Emma, desde a sua mãe até uma moça da igreja. Sobre a sua mãe, ela diz
muito da raiva que sente devido a mãe dela ter deixado ela aos cuidados da
avó para trabalhar, culpa muito a mãe por isso e por ela não saber lidar com o
pai, uma vez que ela se coloca como sendo ela (Emma) quem sabe lidar
melhor com o jeito do pai. Essa rivalidade, se mostra presente com uma moça
da igreja também:
Emma: Eu já fui muito de participar do ministério da igreja, mas
eu me afastei um pouco, queria ser mais atuante lá na igreja,
mas não consigo lidar com as pessoas lá não.
Estagiária: Como assim não consegue lidar com as pessoas
lá?
Emma: Porque lá para você participar das coisas e ser visto
tem que ser puxa saco, sabe? E eu não suporto. E o jeito das
meninas com o meu marido, esses dias eu cheguei durante um
ensaio da banda e tinha uma menina lá que canta com ele que
estava toda dada para cima dele, na hora que ela me viu ela
ficou toda sem graça, mas meu marido fala que é coisa da
minha cabeça
Estagiária: E o que você acha sobre isso?
Emma: Que não é coisa da minha cabeça não, ela chega na
igreja e cumprimenta todos, menos eu, e olha que estou do
lado do meu marido, eu sei que fico com a cara mais fechada,
mas não importa.
Emma: Ela agora deu até se aproximar das pessoas da minha
família, ela fica lá conversando com minha sogra, minha mãe
como se fossem amigas, eu descobri esses dias que ela
chamou minha mãe foi tomar café na casa dela. Ah… aí eu
não aguentei, eu briguei com a minha mãe, ela nem na minha
casa vai e ainda pediu para eu mentir para o meu pai que ela
tava na minha casa. Por que ela tem que se aproximar logo da
minha família?
Em outros momentos, pode se-perceber essa rivalidade com sua sogra também:
Emma: Minha sogra não entende o papel do meu marido, ela o
trata como uma criança, não como um homem casado. Esses
dias ela me mandou mensagem pedindo para eu o lembrar de
tomar as vacinas dele. Eu até mostrei para minha amiga do
curso para ver se era loucura minha, exagero e ela concordou
que não. Eu xingo muito meu marido e ela eu trato normal, mas
ele eu xingo mesmo, ele fica sempre sendo o neném da
mamãe.
Emma: Ela percebe até quando ele troca a armação dos óculos
dele, uma coisa que ninguém repara, igual ele trocou a
armação dos óculos esses dias era uma cor de azul muito
parecido com o outro, que eu nem tinha reparado, mas foi ele
chegar lá ela veio “e esse óculos novo meu filho?”
Emma: Como ele vai ser um homem de família assim, sendo
que é o neném da mamãe? Eu brigo com ele mesmo, porque
ele que tem se posicionar igual homem, mas parece que ele
gosta.
Sobre isso, Lacan vai dizer dessa rivalidade, no lugar da “outra mulher” e
que é importante ser identificada essa mulher na clínica, uma vez que no Édipo
feminino ela se deu conta de que o desejo é sempre desejo de desejo e na
busca de entender o que o homem deseja, ela vai buscar através da
identificação com o homem a busca das respostas de o que é uma mulher? o
que o homem deseja nela? E quando essa mulher não existe a histérica irá
apresentá-la ao homem, como Emma frequentemente apresenta essa moça da
igreja ao marido, se queixando e dizendo a ele que tem algo estranho dela com
ele.
Além disso, no complexo de édipo feminino, a mulher se identifica como
sendo o falo e no caso da histérica diante da fantasia da castração ela vai se
identificar como a causa de desejo do homem “e, neste sentido, faz uma série
de esforços para “melhorar” a aparência, tentando despertar o desejo dos
homens, buscando coisas que elas não é. (PALONSKY, CINTIA, 1997).
Neste sentido, pode-se pensar no que Emma traz ao longo das sessões
na sua busca incessante para melhorar a aparência, com dietas restritivas,
treinos pesados e desgastantes na academia nos quais se queixa muito, mas
diz manter isso todos os dias, mesmo odiando acordar cedo para que ela
possa ter um corpo melhor. Além disso, já desmarcou sessões devido ter
depilação marcada, está sempre dizendo dos inúmeros procedimentos
estéticos que busca fazer para melhorar sua aparência.
Por fim, é importante dizer do papel do analista com a paciente histérica,
uma vez que ele pode ser mais um em que ela vai acreditar que tenha a
resposta, mas ela não está realmente interessada em saber, de fato, ela não
quer saber, e quando o terapeuta cai nessa teia e dar respostas a ela, constitui
um problema.
Dessa forma, é muito importante que os analistas e mesmo os
estudantes se atentam e sigam o que Freud vai chamar do tripé da formação
do analista como sendo: análise pessoal, ensino teórico e supervisão. No
presente caso, a estagiário cometeu um erro que evidência a importância
desse tripé ao tentar dar uma resposta a paciente que supostamente ela não
queria saber:
Emma: Ele é parado demais, eu me sinto muito cansada,
sobrecarregada com tanta coisa sozinha
Estagiária: E como você divide esse cansaço com ele na
relação?
Emma: Na verdade eu não divido e nem acho que deva dividir,
porque ele já tem coisa demais para se preocupar, ele trabalha
muito, agora está saindo do emprego dele atual para começar
outro, porque ele não gosta muito desse atual, ele vai para
uma área totalmente diferente e já trabalha de Uber quando
não está no trabalho de CLT dele, ele já tem coisa demais para
se preocupar, apesar que ele nunca demonstra está
preocupado e eu até prefiro assim.
Emma deixou bem claro a estagiária que “não gostaria de ter essa
resposta”. A estagiária pôde perceber através da sua análise pessoal que
estava levando algo que dizia mais do seu processo de análise e do seu desejo
de que a paciente se implicasse diante daquela situação. E foi através da
supervisão e estudo da teoria que pôde perceber que a paciente estava
claramente dizendo de que ela não queria de fato saber e sair deste lugar de
insatisfação, para não se deparar com a angústia. Portanto, foi importante que
a estagiária percebesse isso para poder ouvir melhor a paciente e repensasse
a forma de manejar o caso.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do caso relatado, faz-se necessário dizer que a paciente permanece
em atendimento psicoterapêutico e que foram realizadas apenas seis sessões
de cinquenta minutos. Sendo assim, a paciente permanece sendo escutada
através de uma atenção flutuante em que é convidada a falar livremente. E os
conceitos de estrutura clínica da paciente aqui apresentado se configuram
como uma hipótese diagnóstica, não tendo como finalidade de enquadrá-la em
categorias psicopatológica, mas de pensar na posição subjetiva da paciente
frente à castração para que pudesse melhor escutá-la e pensar nos
atendimentos.
Além disso, é importante pontuar que os fatores que apresentaram na
infância da paciente relacionados as relações sexuais dos pais, não deixam de
configurar um abuso e violação de direitos. Porém, a estagiária no papel de
psicoterapeuta da abordagem psicanalítica, não buscou concentrar em apenas
em determinados aspectos da vida da paciente e sim, deixar com que ela
falasse livremente, a fim de acessar os conteúdos inconscientes através dos
atos falhos, sintoma, chistes e sonhos e marcar para a paciente.
Para além disso, essa suposta busca de saber da estrutura da histérica
causa sofrimento também, uma vez que são conteúdos inconscientes e que
vão estar presentes em vários âmbitos da sua vida, sendo assim, não se pode
pensar somente nessa insatisfação, como se de fato não houve sofrimento
nesta forma da histérica lidar com a sua castração e do Outro, uma vez que se
busca fugir da angústia.
Portanto, cabe a estagiária a busca contínua dos estudos da teoria da
psicanálise, sua análise pessoal e participação ativa nas supervisões para que
possa atender a paciente da melhor forma possível e não cair no jogo de ficar
só avaliando os motivos da insatisfação e da reclamação da paciente como se
isso fosse a solução.
REFERÊNCIAS