Modulo 1

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REPUBLICA DE ANGOLA

SEMINÁRIO MAIOR DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

SOCIOLOGIA

Módulo 1
O QUE É A SOCIOLOGIA

Ir. Drª MARIA DA ASSUNÇÃO F.M.M.

LUANDA 2020
AD USO PRIVATUM

2
O QUE É A SOCIOLOGIA?..............................................................................................2
NASCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA SOCIOLOGIA.....................................3
OS FUNDADORES DA SOCIOLOGIA............................................................................9
COMTE..............................................................................................................................9
MARX..............................................................................................................................13
DURKHEIM....................................................................................................................16
MAX WEBER.................................................................................................................20
OBJECTO E MÉTODO DA SOCIOLOGIA...............................................................................27
ELEMENTOS PARA UM ESTUDO SOCIOLÓGICO.................................................27
O senso comum a ideologia, e o conhecimento sociológico........................................28
A SOCIOLOGIA E A INTERDEPENDÊNCIA E COMPLEMENTARIDADE ENTRE AS CIÊNCIAS
SOCIAIS.............................................................................................................................30
O FACTO SOCIAL.........................................................................................................33
CARACTERÍSTICAS DOS FENÓMENOS SOCIAIS...................................................................35
O SOCIÓLOGO E OS FACTOS SOCIAIS.................................................................................36
A PERSPECTIVA EM QUE O SOCIÓLOGO SE COLOCA AO INVESTIGAR QUALQUER
ACONTECIMENTO OU ASPECTO SOCIAL CONSISTE, ANTES DE TUDO, EM EXAMINÁ-LO DO
PONTO DE VISTA DO CONJUNTO DOS RELACIONAMENTOS SOCIAIS, DAS INTERACÇÕES E
DAS INTERDEPENDÊNCIAS ENTRE INDIVÍDUOS E GRUPOS O SOCIAL COMO SUBSISTEMA DA
REALIDADE NATURAL.......................................................................................................37
SOCIOLOGIA, ACÇÕES HUMANAS E ESTRUTURA SOCIAL...................................................37
ASPECTOS GERAIS DOS MÉTODOS UTILIZADOS NA SOCIOLOGIA..............38
FASES DA PESQUISA CIENTIFICA......................................................................................40
A Observação: suas características:...........................................................................42
Observação participante e não participante..................................................................43

3
O QUE É A SOCIOLOGIA?
Sociologia é, o estudo científico ou positivo dos factos sociais como tais. Isto
significa que a Sociologia procura conhecer os fenómenos enquanto são sociais e não
enquanto são económicas ou jurídicos, ou qualquer outra coisa, ou seja, vai ver em que
medida um fenómeno resulta e actua na vida em grupo.
Podemos considerar a sociologia como ciência empírica que estuda os modos como
os seres humanos vivem em colectividade mais ou menos amplas, como se formam estas
colectividades, como se modificam, como estão organizadas, como se influenciam o
comportamento humano e como são influenciadas por este último.
No sentido mais lato, sociologia é o estudo das inter-relações e interacções
humanas, suas condições e consequências. Idealmente, a sociologia tem por campo toda a
vida do homem em sociedade, todas as actividades pelas quais os homens se mantêm na
luta pela existência, as regras e normas que definem as suas relações uns com os outros, os
sistemas de conhecimento e fé, arte e moral, e quaisquer outras aptidões e hábitos
adquiridos e desenvolvidos no decurso das suas actividades como membros da sociedade.
Sumariamente consideramos as principais funções da sociologia as seguintes:
1. Procura fornecer o que se pode chamar uma morfologia ou classificação de
tipos e formas das relações sociais, especialmente daqueles que têm sido
definidos nas instituições e associações.
2. Tentar determinar a relação entre diferentes partes ou factores da vida social; por
exemplo, os elementos económicos e políticos, morais e religiosos, morais e
legais, intelectuais e sociais.
3. Esforça-se por destrinçar as condições fundamentais da permanência e mudança
social. Visto que as relações sociais dependem presumivelmente da natureza dos
indivíduos e das suas relações a) uns com os outros, b) com a comunidade e c)
com o ambiente exterior, a sociologia procura passar das suas generalizações
empíricas preliminares às leis últimas da biologia e da psicologia e possivelmente
também às leis sociológicas características, isto é, leis sui generi.s não redutíveis
às leis que governam a vida e o espirito .nos organismos individuais.

4
NASCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA SOCIOLOGIA

Desde muito cedo que o homem começou a reflectir sobre a vida social. As
pinturas rupestres (cenas da vida social pintadas nos rochedos) e as religiões primitivas
como o totemismo, revelam já certas leituras do social. Só que essas leituras (bem como,
no essencial, as que lhe sucederam até muito recentemente) negavam à inteligência
humana a capacidade para compreender os «mecanismos» sociais, ou, então, eram de
carácter moral ou filosófico, pelo que indicavam mais as normas do comportamento
social que deveriam permitir estabelecer a sociedade ideal, do que analisavam
positivamente as práticas sociais capazes de criarem as condições da conservação ou da
transformação da sociedade1.
As circunstâncias nas quais a Sociologia surgiu podem ser distinguidas como
intelectuais e materiais.
Os principais antecedentes intelectuais da Sociologia não são difíceis de identificar.
"De modo geral, podemos dizer que a Sociologia tem uma quádrupla origem: na
Filosofia Política, na Filosofia da História, nas teorias biológicas da evolução e nos
movimentos para a reforma social e política, que julgaram necessário empreender
levantamentos das condições sociais." Duas dessas fontes. a Filosofia da História e o
levantamento social, foram particularmente importantes, de início. Também elas haviam
chegado tarde à história intelectual do homem.
No plano da reflexão sobre a vida social, ela manifestou-se, primeiramente, no
quadro de outras disciplinas. Assim, desde a Antiguidade, historiadores como Heródoto
(denominado o pai da História, séc. V a. C.) fazem observações e comparações entre as
formas de vida dos diferentes povos que revestem, por vezes, carácter propriamente
psicológico; Aristóteles2 (384-322 a.C.), A política e Platão3 (429-341 a.C.), A república,
figuras de maior relevo da Antiguidade clássica, foram os primeiros a tratar de problemas
sociais de maneira sistemática e separada da religião, mas não independente dos regimes
políticos e económicos. As ideias e obras desses dois sábios tiveram imensa repercussão e
sua influência, na verdade, que se faz sentir até nossos dias. Posteriormente, Santo

1
Cfr. BRAVO DIAS ORLANDO AUGUSTO, Noções fundamentais de sociologia, Porto, Editora Porto, 1984, p.28.
2
Aristóteles foi um notável observador e estudioso das estruturas sociais do seu tempo. Foi, também, o primeiro filósofo
a precisar o conceito de indução, ou seja, que a indução é um raciocínio que parte do singular para o geral.
3
Platão viveu também no séc. IV a. C. e fundou um sistema filosófico conhecido por platonismo. O método do
platonismo é a dialéctica, que consiste em eliminar as diferenças dos indivíduos para considerar apenas as suas
semelhanças, porque estas derivam duma realidade comum e pré-existente, única capaz de tudo explicar. A dialéctica
leva às ideias (de justiça, de bondade, etc.) que formam uma hierarquia, no cimo da qual está a ideia superior, a ideia do
Bem, ou o próprio Deus.

5
Agostinho (354-430), A cidade de Deus, apresentou ideias e análises básicas para as
modernas concepções jurídicas e até sociológicas.
Dando, agora, um salto para a Idade Média, vamos encontrar a época áurea do
racionalismo4 escolástico 5, cujo método consistia em partir de textos de filósofos e
teólogos célebres, para os analisar, interpretar e discutir com exigências de clareza e de
rigor. No Século XIII, Santo Tomás de Aquino (1226-1274), Summa teológica, conquanto
inteiramente decidido a não se afastar da orientação cristã, retomou os processos e as ideias
de Aristóteles, para manifestar-se sobre as relações inter-humanas.
O movimento renascentista (finais do séc. XIII) desenvolveu uma nova
mentalidade, afirmou um espírito mais crítico e racional, colocando o Homem no
centro de toda a reflexão, procurando uma síntese entre os ensinamentos da
Antiguidade e a realidade. A ciência tentou libertar-se da magia, assumindo a
matemática uma importância cada vez maior. A observação e a experiência passaram a
ser o fundamento do Os homens desta época começaram a desenvolver, portanto, o
espírito crítico, e enfraqueceram o espírito da autoridade pela exaltação do indivíduo. A
cultura na Idade Média, expressão de uma forte vivência religiosa, foi dominada por
uma visão –teocêntrica. Agora o Homem, colocado no centro da reflexão, deu lugar a
uma visão antropocêntrica. Houve humanistas que continuaram a seguir e a defender os
valores cristãos a par de outros que percorreram caminhos diferentes, sem se afastarem
de um sentido ético da vida.
O inglês Thomas More, amigo de Erasmo, imaginava, na Utopia, uma sociedade
ideal onde a ignorância e a pobreza fossem banidas. Escrita numa altura em que a
cristandade se combatia, exaltava a paz, a compreensão e a tolerância.
A literatura inglesa teve em Shakespeare o seu maior vulto e um dos mais famosos
dramaturgos de todos os tempos. O seu espírito penetrante analisou como ninguém a
alma humana.
O humanismo alemão, fortemente ligado aos meios universitários, foi
profundamente crítico a certas situações religiosas e políticas da sociedade. Montaigne,
autor dos Ensaios, questionou a verdade, criticou a superstição e o fanatismo que

4
Racionalismo - filosofia fundada na razão, no domínio do conhecimento, da moral, etc. As ideias vêm da razão e não da
experiência.
5
Escolástica - na Idade Média, a ciência conservava-se nos mosteiros e o ensino era ministrado nos conventos e nas
escolas episcopais. Daí o nome de escolástica, que indica não uma doutrina mas um método de disciplina, de
organização. Uma das principais matérias de ensino e de controvérsia, foi a questão da realidade das ideias gerais ou
universais. Três escolas se ocuparam exclusivamente desta questão que dominou toda a filosofia medieval: a escola
realista sustentava que as ideias gerais existiam realmente e antes das coisas; para a escola nominalista, as ideias gerais
não eram senão nomes e só existiam depois das coisas; a escola conceptualista admitia a ideia geral mas na coisa
individual.

6
conduziam à tirania.

Com o desenvolvimento do capitalismo comercial, e a supremacia do absolutismo 6,


multiplicaram-se os tratados de economia em que eram abordados vários aspectos dos
problemas sociais. A respeito pareceram obras vigorosas em que se propunham normas
entrosadas de política e economia destacando-se a de Campanella (1568-1639), Cidade do
sol, a Utopia, de Thomas Morus (1478-1535), O príncipe, de Maquiavel um diplomata
conhecedor dos homens do seu tempo e teórico da doutrina política, (1469-1527 face a
instabilidade política, a insegurança, a crueldade dos homens, levaram-o a defender a
necessidade do príncipe saber combater, de saber actuar de forma prática a fim de tomar e
conservar o poder; Thomas Hobbes (1588-1679) Na sua obra Leviathan (1615) afirmava
que os homens são naturalmente maus e tendem à própria destruição, através das guerras
("o homem é o lobo do homem"); o entendimento entre os homens é fruto de um acordo e
a garantia do seu cumprimento está num poder absoluto; e Ensaios sobre o entendimento
humano, de Locke (1632-1704), autor que - deu contribuição à Filosofia, Psicologia e
Educação7.
A partir deste séc. XVII, as ciências positivas (com base na observação e na
experiência) vão ganhando um relevo cada vez maior.
O passo mais decisivo para a sistematização do método experimental foi dado por
Francis Bacon, ao escrever o Novum Organum. Definindo a importância da observação e
da experiência repetida para chegar ao conhecimento, ordenava os passos do método ainda
hoje utilizado pelas ciências experimentais: 1.° observação de um fenómeno; 2.°
lançamento de uma hipótese (explicação possível desse fenómeno; 3.° experimentação
(verificação da hipótese através de repetidas experiências; 4.° conclusão ou lei
(estabelecida para todos os fenómenos da mesma espécie. Este método parte pois de um
caso particular para uma lei geral, por isso também se chama indutivo.

É de igual relevância a obra de Descartes (1596-1650), Discurso sobre o método


(cartesiano) para as Ciências Sociais e as doutrinas políticas através de seu racionalismo.
Descartes, filósofo e matemático, definiu o método característico da matemática. Segundo
Descartes, o caminho para chegar ao conhecimento da verdade era a dúvida metódica, isto
é, o pôr em questão as coisas até que a razão as compreendesse, reconhecendo a sua
"clareza e distinção". O filósofo partia de verdades gerais que decompunha em tantas
partes quantas as necessárias até chegar à compreensão de cada uma delas. Se cada parte
6
7
Cfr. LAKATOS E. M., MARCONI M. de A., Sociologia geral, São Paulo, Editora ATLAS S.A. 1999, 40.

7
era verdadeira o todo também era verdadeiro. Este método partia do geral para o particular,
por isso se chama dedutivo.

O pensamento de Descartes, expresso no seu método, era um apelo à explicação


racional da realidade. Ao mesmo tempo as sucessivas descobertas das ciências
demonstravam que nem tudo aquilo em que se acreditava e se aprendia eram verdades
incontestáveis. Era possível duvidar, tentar novas explicações, pelo uso da razão. Fala-se
por isso de racionalismo para caracterizar o pensamento científico do século XVlll que se
prolongaria nalgumas correntes de pensamento, nos séculos seguintes).
Os elementos liberais e radicais no pensamento sociológico que vieram directamente
do Iluminismo e da Revolução Francesa. A respeito, Montesquieu propôs na sua obra O
Espírito das Leis a separação dos poderes: o poder legislativo exercido por uma assembleia
de deputados representantes da nação, que os escolhia por voto), o poder executivo que
pertencia ao rei e aos ministros) e o poder judicial Idos juizes e tribunais) deviam ser
independentes uns dos outros, embora todos pudessem ser responsabilizados pela sua
acção. Tratava-se afinal de uma proposta que pretendia limitar o poder absoluto do rei;
Jean Jacques Rousseau afirmou o princípio da soberania popular: a soberania 1=
autoridade suprema, capacidade de decisão) residia na nação 1= povo) que a delegava nos
seus representantes e governantes, exigindo que os seus interesses fossem defendidos e
respeitados. Quando tal não acontecia era legítima a substituição dos governantes, como
acontecia em qualquer contrato que se desfazia quando uma das partes o não respeitava). É
esta a ideia da sua obra O Contrato Social - a existência de um pacto entre os governantes
e a nação. Mas Rousseau foi mais longe nas suas análises, demasiado "idealistas';, que
provocaram as críticas dos seus contemporâneos - entre os quais o próprio Volta ire. No
seu Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Rousseau
criou o mito do bom selvagem - a harmonia natural que existia quando os homens eram
"Livres, sãos, bons e felizes" foi destruída pela propriedade,' que trouxe a desigualdade de
condições, a ambição, a avareza e, consequentemente, o despotismo e a / escravatura. Ora
a condição natural do homem era de igualdade e liberdade: os homens nascem livres e
iguais em direitos, as relações com a sociedade e a civilização é que os corrompem.
Hume (1711-1776), continuador do empirismo de Locke, escreveu Tratado sobre a
natureza humana. Ainda nesse período, aparecem obras de economistas que marcaram
profundamente o pensamento económico e social da época: Adam Smith (1723-1790), A
riqueza das nações, relacionou suas análises económicas com o conjunto da sociedade;

8
Mathus (1766-1834), Ensaios sobre o princípio de população, - a população tende a
crescer segundo os termos de uma progressão geométrica, enquanto as subsistência só
podem aumentar segundo os termos de uma progressão aritmética, a excessiva fecundidade
humana resulta em graves problemas de antinomia demográfica; Desse período em diante,
sempre sob a inspiração de problemas criados pela evolução económica, multiplicaram-se
as chamadas doutrinas socialistas", cujos autores, tentando atenuar as injustiças imperantes
na distribuição de riquezas e na exploração dos trabalhadores, criticavam a situação
existente e pregavam novas e mais equitativas relações entre os homens. Entre eles
podemos destacar Fourier (1772-1837), que estabeleceu uma correlação entre os
sentimentos e as estruturas sociais; Saint Simon (1760-1825). A tónica de suas directrizes
residia, entretanto, na intenção de mudar as instituições e costumes vigentes e de criar,
através de radicais alterações da ordem política, uma ordem social mais equitativa.
Hegel (1770-1831) (1821), expõe na sua «Filosofia do Direito» toda a Filosofia da
História, do Estado e do Direito. Promove um movimento de íntimo entrosamento entre
princípios puramente filosóficos e. as ciências sociais. A dialéctica de Hegel baseia-se no
método antitético, dando origem à explicação das mudanças ocorridas no universo,
mediante um processo em três tempos: tese, antítese e síntese.
O desenvolvimento da literatura de viagens, sobretudo a partir dos Descobrimentos,
os historiadores tiveram, em grande parte, a responsabilidade pela nova concepção da
sociedade como algo mais do que a "sociedade política" ou o Estado. Estes, ocupavam-
se de toda a gama das instituições sociais e estabeleceram uma cuidadosa distinção entre
o Estado e o que chamavam de "sociedade civil". Este facto, veio proporcionar contactos
mais frequentes e mais numerosos com povos de origem étnica e cultural diferentes, foi
um novo estímulo para a reflexão sociológica.

O contexto político económico-social


A pré-história da Sociologia pode ser localizada num período de cerca de cem anos,
mais ou menos entre 1750 e 1850; A revolução industrial causa e motor ao mesmo das
transformações, esta não é somente uma revolução nos meios e nos modos de produção
dos bens, mas também, e talvez sobretudo, uma revolução nas formas de organização da
economia e, de consequência, na organização da sociedade e das ralações sociais. Auto-
afirma-se o “capitalismo” e com ele o “mercado” como palco de competição económica e
social. Milhões de indivíduos mudam no seu modo de viver, de trabalhar, de relacionar-se

9
com os outros, a sua mentalidade e os seus gostos, a as relação com os outros e com as
instituições da sociedade. Assistiu-se a crescente da proletarização das classes operárias.
A revolução industrial contribui para o emergir dos problemas como: a condição
dos trabalhadores, a transformação da propriedade, o surgimento da cidade industrial, a
tecnologia e o surgimento do sistema de fábricas. Esta última adequa-se no seu complexo,
ás exigências do modo de produção capitalístico e do mercado. Ampliam-se os horizontes
metais e geográficos. A respeito, a revolução americana e a revolução francesa (1789)
incluindo ainda o movimento nacionalista alemão (que condenava as doutrinas e as
instituições que se baseavam nas tradições nacionais) representam uma ruptura com o
passado e uma radical transformação das instituições que até á altura tinham regulado a
vida social. Os primeiros sociólogos em sentido estreito sejam franceses, testemunhas da
revolução de 1789 e da revolução americana (Saint-Simon, Tocqueville) 8.
As transformações políticas são acompanhadas por profundas mudanças na
estrutura da sociedade, da mentalidade e das relações sociais e inter-individuais. De uma
sociedade tradicional baseada sobre a continuidade, sobre a posição e relações sociais de
carácter adstritivo, fixas e imutável no tempo, e sobre estruturas de poder de tipo
aristocrático, emerge uma sociedade “democrática”, em continua transformação, uma
sociedade de “indivíduos” que contam pelo que valem e não pelo que são.
A sociologia nasce portanto, não somente como “prolongamento” do
desenvolvimento do pensamento científico e das ciências, mas também como necessidade
de adaptação a um mundo em transformação.

8
Cfr. NISBET A. ROBERT, La tradizione sociologica, Firenze, Bagno a Rapoli, 1996, 34.

10
OS FUNDADORES DA SOCIOLOGIA
Na 2ª metade do séc. XIX verificou-se uma transformação profunda das condições
de vida quotidiana dos homens. Com base na nova sociedade nascente vão surgir
intelectuais para estudá-la e analisar a sua estrutura.

Na 2ª metade do séc. XIX sob a influência do progresso e a afirmação das ciências


fisico-naturais surgem intelectuais que preocupados com o tipo de sociedade nascente,
fundam a Sociologia, com exigências de métodos e de técnicas que permitam a verificação
de hipóteses. Estes constituem um elenco bastante alargado. Contudo devido a brevidade
de tempo para o nosso estudo apenas nos limitaremos a August Comte, Karl Marx, Èmile
Durkheim e Max Weber9.

COMTE

August Comte (1798-1857) nasceu de uma família de classe média apenas uma
antes que a Revolução francesa terminasse com o golpe de estado de Napoleão. August
Comte fez grande parte dos seus estudos no Instituto Politécnico de Paris. Foi aí onde
desenvolveu a ideia que a filosofia pudesse ser construída sobre as bases puramente
cientificas e que o método científico pudesse ser aplicado ás coisas humanas, eliminando
assim aquela diversidade de opiniões e de juízos que constituía a fonte primária do conflito
e instabilidade.
Comte foi por sete anos assistente de Saint-Simon, do qual tirou – segundo alguns
estudiosos- muito do seu pensamento. Sucessivamente destacou-se em modo brusco de
Saint-Simon, por razões diversas. Dentre várias obras por ele escritas destacamos a obra
publicada entre 1830 e 1842 Curso de filosofia positiva em seis volumes, nos passa em
revista todo o conhecimento cientifico para fundar a filosofia geral do positivismo e para
iniciar a sua aplicação nas acções humanas. Ao escrever o Curso de filosofia positiva,
Comte era convicto de descobrir uma filosofia caracterizada pela certeza e que aboliu a
desordem na civilização humana. No capítulo sobre “Caracter da filosofia positiva” Comte
escreve:

9
Para aprofundarmos este aspecto servirmo-nos-emos sobretudo de: FERREIRA CARVALHO J.M. ed.,
Sociologia, Lisboa, McGRaw-hill, 1995; BRAVO DIAS AUGUSTO ORLANDO, Noções fundamentais de sociologia,
Porto, Codex, 1984; FICHTER JOSEPH, Sociologia Fundamental, Pompei, ONARMO. I.P.S.I. 1963.

11
«... a primeira característica da filosofia positiva é que essa considera todos os fenómenos
como sujeitos ás Leis invariáveis da natureza (...). O nosso interesse esta na busca acurada destas
Leis e na tentativa de reduzir-lhes ao numero mais pequeno possível».

Apontado como o fundador desta nova disciplina científica a que deu o nome de
«sociologia». Este termo criou-o Comte em 1839, se bem que, a princípio, tivesse usado a
expressão «física social» em vez de «sociologia». Esta alteração deveu-se ao facto da
expressão «física social» ter começado a ser usada por outro pensador seu contemporâneo,
para designar certos estudos de estatística social a que se dedicava. Comte criou, então, o
novo vocábulo «sociologia» concebendo-a, segundo as suas próprias palavras, como «a
parte complementar da filosofia natural que se refere ao estudo positivo do conjunto das
leis fundamentais, características dos fenómenos sociais».
Comte era um bom matemático, admirador de Laplace e da sua visão do poder da
ciência, da física e da matemática. Todavia, ele não via que estas duas ciências fossem
suficientes para explicar a história da civilização humana. Considerado, ainda, o pai do
Positivismo10, Comte pensava que os fenómenos sociais estão profunda e intimamente
relacionados e que, por isso, todo o estudo parcelar, seria irracional e infecundo. Assim, a
sociologia de que se considerava seu fundador, seria a Ciência Social, não uma das
Ciências Sociais. A sociedade aparece, pois, a Auguste Comte, como um todo
indecomponível, onde todos os seus aspectos se interpenetram, construindo assim uma
Ciência Social unitária, englobante, total, impossível de decompor em disciplinas
parcelares.
Os instrumentos utilizados por Comte são unicamente, segundo as suas próprias
palavras, «a observação pura, a experimentação em sentido próprio e, finalmente, o método
comparativo». Pressupõe que «o movimento da sociedade está sujeito a leis naturais
invariáveis e não a vontades, quaisquer que elas sejam», que urge descobrir.
Os três princípios de base da saciologia de Comte
Comte enunciou os seguintes três princípios que não só esclarecem inteiramente a
sua sociologia, como lhe servem de base:

10
Positivismo - é o sistema filosófico fundado por Comte e que pretende que nada se pode conhecer com exactidão senão
as verdades verificadas pela observação e pela experiência. Segundo Comte, a filosofia deve tornar-se positiva, isto é, em
vez de se perder em vãs especulações sobre a natureza, a substância. a causa primeira, una, sistemática e positiva do
Universo. Todas as ciências convergem para a sociologia que se divide em estática social, que estuda o indivíduo, a
família e a sociedade. e em dinâmica social, que estuda a lei do desenvolvimento das sociedades, isto é. a «lei dos 3
estádios»: teológico, metafísico e científico ou positivo.

12
 Primado do todo sobre as partes (é preciso conhecer primeiro o todo para se
poder compreender as partes). Isto significa, segundo Comte, que só é possível
compreender e explicar um fenómeno social ou mesmo a sociedade de uma
determinada época, desde que se reponha esse fenómeno social ou essa sociedade,
no contexto social global a que pertence, isto é, no contexto da história da
humanidade. Comte, movendo-se no quadro geral da história universal, faz uma
sociologia comparada.
 O homem age de acordo com os conhecimentos de que dispõe, pelo que as suas
relações com os outros homens e com o mundo que o rodeia, dependem do
conhecimento que tem da sociedade e da própria natureza. Para Comte, o elemento
dominante da história é o estádio dos conhecimentos, cujo progresso influencia a
própria organização social.
 O homem é o mesmo em todos os tempos e lugares, devido não só à sua
constituição biológica, como também e particularmente devido ao seu sistema
cerebral. Comte considera, por isso, natural que a sociedade evolua da mesma
maneira e no mesmo sentido, em toda a parte, chegando mesmo a admitir que toda
a humanidade estivesse em marcha para um mesmo tipo de sociedade mais
avançada.
Uma lei histórica que Comte diz ter descoberto, ajuda-nos a compreender estes três
princípios de base: é «a lei dos três estados» que analisaremos a seguir.
A «lei dos três estados»
Segundo a «lei dos três estados», o espírito do homem emprega por natureza e de modo
sucessivo em todas as suas análises, três métodos diferentes e até opostos de filosofar ou,
por outros termos, o progresso dos conhecimentos humanos, realiza-se através dos
seguintes três estádios ou estados:
 O estádio teológico ou fictício no qual o homem, ao investigar a natureza íntima
dos seres, as causas primeiras e finais (sua própria natureza, a sua vontade, os seus
sentimentos, as suas paixões, etc.,) apresenta todos esses fenómenos como sendo
produzidos pela acção directa e contínua de seres e forças sobrenaturais e
invisíveis, cuja intervenção arbitrária explica todas as anomalias aparentes do
universo. Este estádio na Europa dourou mais ou monos até aos finais do século
XIV.
 O estádio metafísico ou abstracto, que substituiu o estádio precedente, até á
Revolução francesa, é caracterizado pela concepção aristotélica da essência das

13
coisas. Os fenómenos da natureza não são mais atribuídos ás forças similares ao
homem, mas sim á propriedades abstractas inerentes á natureza mesma das coisas.
Para Comte o período da Revolução francesa, durante o qual inicia o estádio
positivo, não era tanto um período de revoluções políticas, civis e sociais, mas
sobretudo uma revolução do intelecto que visa a atingir a maturidade das ciências e
a tentativa de explicar os fenómenos da natureza em termos de leis da natureza.
 O estado positivo ou científico, no qual o homem procura, através da observação e
do raciocínio, explicar os fenómenos e as relações entre as coisas e os
acontecimentos, pela formulação de leis. De facto, o espírito do homem,
reconhecendo a sua impossibilidade de obter noções absolutas (a origem e o destino
do universo e as causas íntimas, primárias e últimas das coisas) renuncia em
procurá-las para se dedicar apenas à descoberta das suas leis efectivas, através do
emprego bem conjugado da observação e do raciocínio. Segundo Comte, o estado
positivo é, pois, o estado superior que acabará por ser atingido por cada homem,
por cada ciência e por toda a humanidade.
A verificação desta lei, por Comte: Segundo Comte, cada ciencia passou através
destas fases do desenvolvimento da mente, e cada uma delas era uma disciplina
madura, ou melhor positiva. Se bem que nem todas as ciências tivessem conhecido o
progresso, simultaneamente e ao mesmo ritmo (ex: a matemática, a astronomia, a
física, a química e a biologia), o que é verdade é que cada uma delas, ao longo da sua
evolução, foi-se libertando progressivamente das teses teológicas e metafísicas para se
tornar positiva, alcançando assim a maturidade.
Comte propõe, pois, a criação de uma nova ciência positiva - a Sociologia –
capaz de fornecer ao homem, com um conhecimento científico e mais exacto dos
mecanismos da sociedade, os instrumentos necessários para que ela possa erradicar da
sociedade as desordens, as crises, os estados de amargura social quase permanente,
tomando em mãos o seu próprio destino.
As duas principais funções desta ciência social seriam, segundo Comte: contribuir para
o progresso dos conhecimentos, completando o quadro das ciências positivas e promover a
passagem, em definitivo, da sociedade e de toda a humanidade ao estudo positivo.
Auguste Comte propôs, ainda, dividir a sua sociologia em duas grandes partes:
 A sociologia estática, destinada a estudar aquilo que ele designava por ordem ou
consenso, isto é, a maneira como os membros de uma sociedade conseguem criar

14
entre si um acordo, um «consenso», graças ao qual a sociedade pode existir,
manter-se e funcionar.
 A sociologia dinâmica, destinada a estudar as transformações das sociedades
através da história da humanidade. Era aqui que ele situava a sua «lei dos três
estados». A propósito, convém lembrar que esta sua «lei dos três estados» é
idealista, na medida em que Comte fazia depender as características da sociedade,
em cada um desses três estádios, do tipo de pensamento ou das ideias dominantes:
teológico, metafísico e positivo. Isto significa que, para Comte, a realidade social é
o reflexo do pensamento, das ideias dominantes em cada estádio.
Segundo Comte, o pensamento teológico pertencia ao passado e o pensamento
científico guiaria a inteligência dos homens modernos e que o aumento da produção
industrial iria aumentar a massa operária, cujo destino melhoraria com o aumento dos
recursos. - A propriedade privada não desaparecerá, porque ela é o motor da economia.
As previsões de Comte relativamente à evolução da sociedade industrial, são
profundamente diferentes das que anunciaram os socialistas da sua época - Marx e
Engels.
MARX

Quando Comte atingia vinte anos nascia Karl Marx 11 (1818-1883) na Alemanha. De
descendência hebraica, embora baptizado, contudo Marx nunca teve atracção por
nenhuma confissão religiosa e tratou todas as religiões como alguma coisa de ilusório.
Marx fez os estudos do Direito na Universidade de Bonn; e depois passou para a
Universidade de Berlim onde começou a interessar-se pela filosofia de Hegel (1770-
1831). Depois de alguns anos vividos em Paris e em Bruxelas viu-se obrigado a
transferir-se para Londres, onde transcorreu o resto da sua vida. Marx encontrou
Friedrich Engels pela primeira vez em 1842 mas a estreita colaboração entre os dois
iniciou em 1844. Em 1848 juntos publicaram o Manifesto do partido comunista.
Embora Marx tenha recebido a noção de carácter evolutivo da sociedade do autor
«idealista» Hegel acabou por cair no extremo oposto, relativamente a Comte: em vez de
fazer depender a realidade social das ideias dominantes, como fez Comte, Marx
considera que o que move o mundo, ou o que gera a evolução da sociedade, são os
elementos materiais da sociedade, e portanto a economia e mais precisamente a esfera
da produção dos bens materiais e da organização da produção.

11
Para Marx, a classe dominante faz da ideologia um instrumento do poder. Também para ele toda a história da
humanidade se baseia, fundamentalmente, em factos económicos.

15
Segundo Marx, é o modo de produção da vida material que determina o caracter
geral dos processos sociais, políticos e espirituais da vida. Portanto para Marx e Engels
no centro da evolução da sociedade está a produção, e portanto a economia torna-se a
ciência central na análise da sociedade e da sua evolução. Esta economia é entendida
como economia da produção e dos modos de produção. Modos de produção que
passaram através de quatro fases históricas da evolução social, cada um caracterizado
por um nível diverso de tecnologia da produção e de diversas formas de relações
sociais – ou melhor de relações de classe, identificados nas diversas formas de
propriedade dos meios de produção:
O primeiro estádio é aquele do comunismo primitivo: neste a produção, a
produção desenvolve-se num nível elementar e exclui qualquer forma de propriedade.
Esta é uma sociedade sem exclusões particulares da propriedade dos meios de
produção. (correspondente, numa 1ª etapa, às origens da sociedade).
O segundo estádio é o do esclavagismo: neste, as relações de propriedade dos
meios de produção transformam-se em relações de propriedade não somente dos meios
materiais de produção, mas também dos homens sobre os homens. Inicia aqui a
sociedade de classes e a exploração de uma classe sobre a outra -senhores e escravos-.
(Grécia e Roma).
O terceiro estádio é o do feudalismo: neste caso as relações de propriedade
exprimem-se em relações de servidão. (surgido na Idade Média fende-se também em
duas classes antagónicas - senhores e servos).
O quarto estádio e o capitalismo: caracterizado pelo facto que o proprietário da
própria força de trabalho não é mais um escravo, nem servo, mas sim um indivíduo
“livre” que vende a própria força de trabalho (surgido na Idade Moderna, das ruínas da
sociedade feudal, fende-se em duas classes antagónicas: burguesia e proletariado). A
economia da “escravidão” é substituída pela economia de” mercado” e as relações
sociais fundadas sobre dicotómicas Senhor/servo substitui-se a dicotomia proprietários
dos meios de produção/ proprietários da força trabalho. Não existem mais Senhores e
camponeses servos; Existem capitalistas e proletários. Na concepção marxiana, o
carácter essencial está no facto que os meios de produção são de propriedade privada
de um distinto grupo social.
Enfim a que sublinhar que para Marx e Engels a história da humanidade está
destinada a atingir o último estádio de evolução. Trata-se do estádio do Comunismo
que primeiro passará pelo Socialismo. Neste, os homens estarão libertos das correntes

16
da escravidão económica através da abolição da propriedade privada e por isso da
exploração do homem pelo homem. Este estádio é uma forma de regresso ao
comunismo primitivo, mas num contexto social e económico mais avançado.
(sociedade ideal, sem classes, nascido das contradições do capitalismo.
O seu raciocínio é muito simples: Marx considera que a sociedade está apoiada
numa base, que é a sua «infra-estrutura» ou estrutura económica, constituída pelo
«modo de produção» (forças produtivas12 e relações de produção); trata-se, primeiro
que tudo, «da capacidade de produzir de uma dada sociedade». No cimo da sociedade,
a sua «superstrutura», existem as ideias e as instituições (políticas, jurídicas, sociais e
intelectuais). A seguir, considera Marx que a «superestrutura» é o reflexo da «infra-
estrutura». Mudando a base, mudam as coisas - e nunca o contrário. As ideias e as
instituições só exercem influência na sociedade e na sua evolução dentro dos limites e
das formas permitidas pela «infra-estrutura». Porém, as relações de produção são, por
natureza própria, relações de conflito entre grupos que têm interesses opostos e
exprimem-se em conflitos de classe, na «luta de classes», consequência inevitável das
relações de propriedade. A classe dominante organiza e mantém o «edifício jurídico e
político» que mais lhe interessa, isto é, organiza social e politicamente a sociedade, de
acordo com os seus interesses económicos (lá está: a «superstrutura», reflexo directo
da estrutura económica ou «infra-estrutura»). Para inverter o quadro é necessário que
as relações de produção sejam substituídas por novas relações de produção,
correspondentes a um estádio mais avançado de desenvolvimento das forças
produtivas” através da participação consciente da classe dominada e com a forte
oposição da classe instalada no poder.
O homem e a sociedade estão, para Marx, em constante evolução, tudo evoluindo,
tudo passando, tudo se destinando a ser ultrapassado. Na verdade, se a natureza
humana se define por crenças, costumes, comportamentos, capacidades, ideias, modos
de ser, de pensar e de agir - tudo isso aparece, de facto, sujeito a uma evolução
constante, que é uma parte da evolução geral das sociedades, nas suas estruturas, na sua
organização e vida social.
Portanto, para Marx, a evolução social e económica traduz-se num movimento
histórico e multilinear, em que cada estádio seguinte é superior ao anterior e em que

12
) As relações de produção são, para os mesmos autores, o conjunto das relações estabelecidas pelos homens com vista
à produção, ou seja, mais precisamente, as «relações de propriedade» (relações de trabalho entre proprietários de forças
produtivas e não proprietários, isto é, entre «exploradores e explorados», entre classe dominante e dominada), o direito de
se dispor dos meios de produção e o modo como se reparte o rendimento da produção.

17
cada novo modo de produção se fundamenta nas contradições surgidas no modo de
produção anterior (a ditadura do proletariado, por exemplo, surgiu das contradições,
segundo Marx, existentes no capitalismo e este desenvolveu-se a partir das ruínas da
sociedade feudal). É este o chamado materialismo dialéctico, mais conhecido pelo
nome de Marxismo.
O conceito de alienação é parte integrante da concepção marxiana da sociedade
capitalista. Na interpretação do pensamento de Marx este conceito assume diversos
significados. Aqui importa no entanto ressaltar apenas que alienação no seu sentido
sociológico é a separação e distanciamento do próprio trabalho. Este conceito está
intimamente ligado aquele de mais valia e de exploração. Em breve enquanto o
trabalhador trabalha mais horas daquelas necessárias para o seu sustento e a sua
produção, o capitalista apropria-se do “excedente” explorando o trabalhador.
Finalmente, como Comte, também Marx concebia a sociedade como um todo
indecomponível. De facto, em todas as suas análises, Marx nunca procedeu como
especialista desta ou daquela Ciência Social em particular mas segundo um método de
análise total que abarcava, numa visão de conjunto estruturas sociais, sistemas
económicos, regimes políticos, formas de cultura, etc., como elementos e aspectos
interdependentes de uma realidade, una e indecomponível.

DURKHEIM

Émile Durkheim nasce em Épinal França em 1858 duma família de rabinos,


formou-se em filosofia, estudou também ciências sociais em Paris na Alemanha.
Os esforços intelectuais de Émile Durkheim obedeceram desde cedo a um objectivo
preciso, a «fundação de uma nova ciência» a ciência dos factos sociais. A criação de
um método e a constituição de um corpo teórico, específicos da sociologia, forma
tarefas que o mobilizaram ao longo de toda a sua vida. Durkeim preocupa-se com a
independência da sociologia em face da sua «tutela filosófica».
Desde o tempo da Escola Normal (onde formou-se em filosofia) que Durkeim se
decidira pela área em que pretendia prosseguir as suas investigações -a das relações
entre o indivíduo e a sociedade-. Foi durante os primeiros anos das pesquisas que
conduziriam á sua tese de A Divisão do trabalho social que descobriu a sociologia
como ciência mais adequada ao enquadramento dos problemas que estudava, o que
aconteceu nos anos de 1884 e 1886.

18
No decurso da construção sociológica Durkheim deveu muito a conjunto de mestres
sobretudo Auguste Comte. Porém tal influência não resultou numa aceitação
incondicional de todos os pressupostos comteanos. Aliás o autor das Regras do Método
sociologico sempre preferiu ver-se como um racionalista e não como positivista. De
facto, Durkheim ataca a «lei dos três estádios» de Comte e, rejeitando a maneira linear,
como ele diz que evolui a sociedade, estabelece a seguinte lei: «A causa determinante
de um facto social, deve ser procurada entre os factos sociais antecedentes e não entre
os estádios de consciência individual». Nada existe fora da realidade social. Essa
predominância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a realização desse, desde
que consiga integrar-se a essa estrutura. Para que reine certo consenso nessa sociedade,
deve-se favorecer o aparecimento de uma solidariedade entre seus membros.
Durkheim concorda com Comte sob o aspecto de que a sociedade é, na verdade,
feita de indivíduos, com as suas «consciências individuais» e que nada se pode
produzir de colectivo se essas consciências particulares não existirem. Mas isso não
chega, continua Durkheim, é preciso ainda que essas consciências se combinem, se
associem (tal como as combinações químicas) de uma certa maneira para que, dessa
combinação, resulte a vida social. Quer dizer: para Durkheim, a vida social só resulta
e somente pode ser explicada pela combinação ou associação de todas as
«consciências individuais». «Ao agregarem-se, ao penetrarem-se, ao fundirem-se, as
almas individuais dão origem a um ser, a uma vida nova.».
Por outro lado, pensa Durkheim, em nenhum momento os homens, ao longo da sua
evolução social, tiveram que deliberar para saber se entrariam ou não na vida colectiva,
preferindo esta ou outra.
Os factos sociais (as relações interindividuais e os resultados da vida em grupo)
exercem um poder de pressão sobre as «consciências individuais» e é por esta razão
que a sociedade e o indivíduo têm naturezas diferentes. E, se é assim, os fenómenos
sociológicos (dependentes da vida em grupo) não derivam das «consciências
individuais», antes têm um poder de força, de pressão (de fora) sobre as mesmas
«consciências individuais».
O social é uma coisa - diz Durkheim. Coisa é tudo aquilo que nos impõe, que existe
fora de nós, que não podemos modificar simplesmente pela vontade. A sociedade é
uma coisa, tem existência própria e é independente da existência dos indivíduos que a
compõem. Assim, a realidade social é uma coisa, uma unidade independente, que não
se pode reduzir aos indivíduos, nem pode ser explicada por quaisquer fenómenos,

19
sejam de natureza biológica ou psicológica. Só o social pode explicar o social. só o
social é uma realidade especifica - preocupação, ainda, de Durkheim, de assegurar à
sociologia o carácter de ciência, garantindo-lhe um objecto específico, diferente do das
outras ciências.
Para Durkheim, as mudanças socioculturais têm como causa não as ideias
dominantes como queria Comte, mas sim e apenas os factos sociais, a realidade social.
Definindo o social como realidade independente dos indivíduos que o compõem e não
redutível a eles, Durkheim conclui ser o social superior ao individual, pois este não é
senão parte do todo, nele se integrando e só por ele se explicando. Sendo assim,
Durkheim é ainda levado a negar não só a personalidade individual, como a existência
da alma e a própria liberdade humana, por incompatibilidade com as leis sociais
existentes. Durkheim substitui assim, a «consciência individual» pela «consciência
colectiva» que define como o conjunto das ciências e sentimentos comuns à média dos
indivíduos de uma dada sociedade, e que se impõe, obrigatoriamente, às consciências
individuais.
A teoria de Durkheim acerca da evolução social.
Antes de mais, torna-se necessário estabelecer a diferenciação entre «evolução social»
e «mudança social».
Aceita-se geralmente a ideia de evolução social, como o conjunto das transformações
sofridas por uma sociedade durante um período longo, que excede uma geração ou várias
gerações. O observador não a pode observar com a sua presença física. A mudança social
consiste, igualmente, em transformações sofridas por uma sociedade, mas que são
observáveis e verificáveis em períodos curtos de tempo, possibilitando a um mesmo
observador, o seu desenvolvimento e o seu resultado (embora provisório). Por outro lado, a
mudança social está mais localizada geograficamente.
Na perspectiva de Durkheim evolução social apresenta duas fases, fazendo corresponder, a
cada uma delas, um tipo de sociedade:
 A sociedade de solidariedade mecânica, que Durkheim faz corresponder às
sociedades primitivas, onde a divisão do trabalho está pouco desenvolvida e a
organização social pouco centralizada, pois trata-se de uma sociedade constituída
por famílias ou clãs, que têm todas a mesma natureza e desempenham funções
semelhantes. Existe, pois, uma solidariedade por semelhança e onde a «consciência
colectiva» envolve quase por completo a «consciência individual». Na verdade, o
homem primitivo pensa, sente e age de acordo com as ordens ou prescrições

20
recebidas da colectividade a que pertence, sofrendo, por isso, uma pressão
demasiado forte para que a sua consciência se desenvolva.
O princípio que preside, pois, à organização social de tal colectividade, não é a
diversidade dos grupos ou das pessoas, mas sim a sua semelhança. O laço que une
estas pessoas e estes grupos constitui, por conseguinte, um tipo de solidariedade
por semelhança, a que Durkheim chama solidariedade mecânica, a qual
corresponde, necessariamente, a um forte estado da «consciência colectiva» porque,
para sobreviver, tal sociedade não pode tolerar as disparidades e os particularismos,
tanto nos grupos como nos indivíduos. A cooperação entre os indivíduos é
puramente voluntária e espontânea.
 A sociedade de solidariedade orgânica, que Durkheim faz corresponder às
sociedades modernas (industriais), mais avançadas devido à divisão do trabalho e à
especialização. Daí que a solidariedade já não seja baseada na semelhança das
pessoas e dos grupos, mas na sua independência. Embora haja uma cooperação,
ela já não é espontânea, mas resulta da interdependência das partes. O lugar do
indivíduo torna-se maior, ao passo que o poder governamental torna-se menos
absoluto, não implicando, pois, a dissolução da autoridade política.
Este tipo de sociedade implica, pois, uma maior autonomia das pessoas, uma
consciência individual mais vasta. Mas este aumento de autonomia dos indivíduos
não significa, necessariamente, a dissolução da organização social.
A «lei da gravitação do mundo social»: foi o progresso da divisão do trabalho (factor
demográfico) que provocou uma transformação radical das sociedades. A base da
passagem da sociedade tradicional de solidariedade mecânica, à sociedade industrial de
solidariedade orgânica, foi a divisão do trabalho.
Durkheim explica que, quando numa sociedade a população é fraca relativamente
ao território, consegue sobreviver sem recorrer à divisão do trabalho. Porém, quando a
população aumenta e se torna mais densa, a sobrevivência só é possível, se se fizer uma
divisão de tarefas e se se desenvolver a especialização. «A divisão do trabalho varia na
razão directa do volume e da densidade das sociedades, e se progride de maneira contínua
no decurso do desenvolvimento social, é porque as sociedades se tornam mais densas e
mais volumosas» - factor dominante da mudança social, para Durkheim.
Pela expressão «densidade moral», pretende Durkheim significar o produto de toda
uma multiplicidade de interacções e uma influência recíproca cada vez maior das pessoas -

21
maior especialização, maior volume de trabalho material e mental, maiores acções e
reacções, vida social mais intensa, enfim, civilização.

MAX WEBER

Max Weber nasceu em Erfurt na Alemanha, em 21 de Abril de 1864 no seio de uma


família de classe média. A sua mãe era uma calvinista devota. As profundas diferenças
existentes entre seus pais iriam ter uma influência decisiva no seu desenvolvimento
psicológico quer na evolução da sua carreira intelectual. Depois de feitos os seus estudos
Universitários enveredou para a docência e advocacia em Berlim. Durante este tempo
começa a sentir interesse pela economia, sociologia e história. Entre outros ensaios por ele
escritos destacam-se A Objectividade na ciência social e a Ética protestante e o espirito do
capitalismo. Em 1909 torna-se co-fundador da Associação de Sociologia em conjunto com
Ferdinand Tönnies, Georg Simmel. É a partir desta data que Weber se assume como
sociólogo. Ele morre em 14 de Junho de 1920.
Weber parte, nas suas teses, da distinção entre «racionalidade dos fins» e
«racionalidade dos meios».
Com efeito, Weber delineia quatro tipos de acção:
Acção racional em relação a um fim (ex: do engenheiro que constrói uma ponte) isto é, o
actor conhece o fim e combina os meios para a sua realização;
Acção racional em relação a um valor. O sujeito age racionalmente aceitando todos os
riscos, não para conseguir um resultado extrínseco, mas para manter-se fiel á um ideal.
Acção afectiva ou emotiva é aquela ditada imediatamente do estado de ânimo ou do humor
do sujeito. E enfim acção tradicional aquela ditada pelo hábito, costume, crença. O sujeito
obedece simplesmente aos reflexos radicados na prática. Esta classificação dos tipos de
acção está ligada com o que constitui a alma de reflexão filosófica de Weber. Este autor,
considera portanto que uma ciência social deve ser capaz de estabelecer uma adequação
entre os fins e os meios. Ele preocupa-se em compreender o significado que cada sujeito dá
a sua própria conduta.
Segundo Weber, a sociologia é globalmente uma ciência da acção social e portanto
a sua compreensão depende da escolha de sentido que o agente dá á sua conduta. Em
relação a um fim a explicação das coisas só pode ser encontrada nas próprias coisas e não
fora delas.

22
Qual é o critério de escolha metodológica em Weber?
Como método de investigação, Weber diz que se deve, antes de mais, isolar um
fenómeno histórico concreto, conhecer-lhe as suas causas e efeitos dentro das relações
historicamente determinadas. Esta realidade concreta passará a ser o tipo ideal existente,
destinado a servir de comparação não só com outros tipos, como com a própria realidade.
Este tipo ideal serve, assim, de referência e de termo de comparação nas análises sociais,
tendo ainda em conta a maior ou menor proximidade da realidade observada e fruto de
análise, relativamente ao tipo ideal de referência. Weber chama de tipo-ideal três especies
de conceitos:
A primeira forma de tipo-ideai é de individualidade histórica como por exemplo o
capitalismo ou a sociedade ocidental. Neste caso o tipo ideal é a reconstrução da realidade
histórica global e singular. Global, porque é um conjunto de elementos que fazem parte de
regime económico que é designado com o termo capitalismo; singular, porque segundo
Weber, o capitalismo, no sentido como vem definido é plenamente realizado somente nas
sociedades ocidentais. Esta é portanto uma reconstrução parcial.
A Segunda forma de tipo ideal é aquela designada por elementos abstractos da
realidade histórica que se encontra em grande número de circunstâncias. Aqui emerge o
exemplo da burocracia um aspecto das instituições políticas, que não se identificam com
um regime assumido na sua totalidade e que se encontra muitas vezes em épocas diversas.
Estes tipos ideias colocam-se em diferentes níveis de abstracção. A um nível
inferior, aprecem conceitos como a burocracia ou o feudalismo. A um nível de abstracção
mais alto, encontram-se três tipos de poder: racional, tradicional e carismático. Cada um
destes três tipos é definido pela motivação de obediência ou pela natureza da legitimidade
a qual o chefe pretende. O poder racional se justifica com as leis e regulamentos; aquele
tradicional com referência ao passado e aos costumes; aquele carismático com certos dotes
excepcionais, quase mágicos, possuídas pelo chefe e que lhe são reconhecidas por aqueles
que o seguem e a ele votam. Através destes três tipos podemos compreender os diferentes
regimes políticos.
A terceira espécie de tipo ideal é constituída pelas reconstruções racionalistas do
comportamento que possui uma caracter particular. Por Exemplo segundo Weber o
conjunto das preposições da teoria económica é a reconstrução ideal típica dos modos em
que os sujeitos se comportassem se fossem sujeitos económicos.
A sua obra A ética protestante e o espirito do capitalismo permite verificar esta
relação.

23
Cabe agora aqui um parêntese para perguntar: através de que critério se pode
afirmar que a relação estabelecida entre fins e meios numa determinada sociedade, foi
produzida cientificamente e não de acordo com a subjectividade do analista? Por outro
lado, se os fins são inexplicáveis porque resultam de uma acção histórica imprevisível,
serão, então, os critérios científicos objectivos.
Weber, portador de uma grande coerência, diz que essa objectividade não é, de
facto, possível e afirma que os critérios científicos se fundamentam sobre o que é ou não
ciência na comunidade científica de cada época. Portanto, ao negar a possibilidade de
existência de leis científicas não contingentes e, também, da objectividade da análise de
uma determinada realidade dependente dos valores de um grupo social particular (os
sábios), Max Weber volta a insistir que os cientistas têm de ser eticamente neutros. De
facto, se os cientistas estivessem ligados a determinados interesses sociais (os da classe
dominante, por exemplo), tudo seria subjectivo e, então, a ligação dos efeitos às causas
seria feita segundo esses mesmos interesses (segundo a ideologia da classe dominante no
poder).
Ora, diz Weber, como os investigadores não são neutros, pois não é possível
considerá-los desligados dos interesses da classe, qualquer que ela seja (também ele se
considerava não neutro, por partilhar de uma certa posição político ideológica), há que
repudiar o cientismo até ao seu último reduto e ter apenas em conta o único critério da
verdade: a prática da racionalida de, concebida como uma acção livre e deliberada.
Em resumo Max Weber afirma que, o conhecimento científico é relativamente
objectivo, e o social, é subjectivo, na medida em que se torna impossível fazer-se um
estudo objectivo do social. Isto porque na investigação do social, os analistas partem
sempre de acontecimentos e, se por um lado, dão sempre uma importância
demasiadamente grande ao que é expresso, por outro lado, o que é mais grave,
interpretam o observado segundo critérios morais e ideológicos.

Max Weber e a sua visão da moral religiosa na história económica.


A análise da moral de convicção constitui um dos elementos base da sociologia da
religião. Ao debruçar-se sobre a religião, Weber interessa-se em saber em que medida as
concepções religiosas são efectivamente uma das causas determinantes dos
comportamentos económicos e de consequência, uma das causas de transformação
económica das sociedades.

24
Max Weber debruça-se, sobre o capitalismo (como o fizeram, de resto, Comte, Karl
Marx e Durkheim), cujo espírito ou mentalidade considera não ser novo ou recente, por ter
já existido na China, no Egipto, na Antiguidade greco-latina e na Idade Média. Considera
que o capitalismo moderno ocidental tem características particulares, que o tornam numa
forma mais avançada e mais vasta, nomeadamente pela:
 Organização de uma mão-de-obra livre (não composta por escravos como na
Antiguidade grego-romana, nem por servos como na Idade Média);
 Utilização mais perfeita da ciência e da tecnologia;
 Extensão dos seus mercados;
 Existência de uma contabilidade aperfeiçoada;
 Procura de lucros cada vez maiores, graças à utilização racional, calculada e
metódica dos meios de produção (recursos, capitais, técnicas, organização do
trabalho), bem como das condições de troca e de mercado.
A singularidade histórica deste tipo de capitalismo, está na extrema racionalidade das
condutas sociais, políticas e económicas, segundo Max Weber.
Uma das preocupações de Max Weber consistiu em tentar analisar as fontes dessa
racionalidade, isto é, dessa nova mentalidade, desse novo estado de espírito que favoreceu
o progresso do capitalismo ocidental moderno.
Max Weber pensa, a esse respeito, que, embora existissem certos factores de ordem
estrutural que favoreciam o capitalismo (acumulação de capitais, novas condições
demográficas, descoberta de novos continentes, etc.), tornava-se necessário que os homens
fossem estimulados por um novo espírito, por uma nova visão do mundo e por valores
favoráveis com vista à produção de tipo capitalista. Ora, noutros períodos históricos, a
visão do mundo predominante era uma visão religiosa e mágica que engendrou uma moral
individual que prejudicava quaisquer objectivos económicos de tipo capitalista ou a
racionalidade na organização e nas acções económicas.
Ora, nos sécs. XVII e XVIII, surgiu no Ocidente uma religião nova - o
Protestantismo13 que, pela primeira vez, empenhou o crente na procura sistemática
do lucro. Weber não quer dizer com isto, taxativamente, que o Protestantismo tenha

13
Protestantismo - conjunto das doutrinas e das seitas religiosas provenientes da Reforma, formadas nessa ocasião pelos
católicos que se separaram da Igreja Romana. protestando em nome do Evangelho e da razão. Apesar da sua
multiplicidade. as Igrejas protestantes entram em alguns tipos que são pouco numerosos. Os principais ramos do
protestantismo são: 1. o - ° luteranismo, fundado por Lutero (Alemanha - 1483/15461 e professado na Suécia,
Dinamarca, Prússia. etc.; 2. o - ° calvinismo, fundado por Calvino em França (1509-1564) e professado em França, na
Suíça. na Holanda e na Escócia sob o nome de presbiterianismo; 3. o - ° anglicanismo, fundado por Henrique VIII de
Inglaterra (1534), quando quebrou relações com o Papa Clemente VII, por este lhe recusar a anulação do seu casamento
com Catarina de Aragão, resolvendo colocar-se ele próprio à frente da Igreja inglesa.

25
dado origem ao capitalismo. O que quis, de facto, assinalar, é que o
Protestantismo (sobretudo o Calvinismo), foi a grande «força espiritual, o factor
cultural que impulsionou fortemente o espirito capitalista e lhe deu força e
originalidade.
No aspecto moral, o Calvinismo comportava várias obrigações
importantes que só vinham beneficiar a mentalidade do empresário e da
burguesia de negócios, de que destacamos:
 O trabalho não era considerado como um mal necessário ou a punição de uma
falta, mas sim como o maior contributo do homem para a glorificação de Deus.
Mas não bastava apenas trabalhar; tornava-se necessário que o trabalho
fosse bem feito, que fosse produtivo e servisse fins efectivamente úteis.
 A existência de uma vida austera. O homem deveria banir tudo o que agradasse
aos sentidos (conforto material, artes, música, poesia e literatura!. O crente deveria
evitar o luxo e a avareza, não devia gastar nem amealhar, mas empregar antes as
suas riquezas em novas actividades produtivas, a fim de que elas pudessem
frutificar.
 A ciência (sobretudo a experimental), é obra de Deus. Todo o crente deveria ter
um mínimo de instrução para poder conhecer a grandeza, a sabedoria e a Palavra de
Deus.
Por tudo isto, não é de admirar que, por toda a parte onde o Calvinismo se implantava, se
intensificasse a actividade económica de tipo capitalista. Todavia, embora Max Weber
tivesse posto em evidência que o capitalismo não teria podido evoluir como evoluiu no
Ocidente, se não tivesse recebido o apoio e o impulso de uma moral religiosa
particularmente favorável (factor dinâmico de mudança económica), ele considera ainda a
existência de outros factores cujo peso não conseguiu medir com segurança, dada a
complexidade da evolução histórica.

Concluindo, os grandes quadros históricos da sociologia de Weber são: a sua


racionalidade ligada com a fé na ciência, única maneira de conseguir explorar os segredos
da natureza, desmistificar as origens do mundo e do homem e explicar os mecanismos da
organização económica; A sua análise sobre o capitalismo, cujo espírito considera não ser
novo ou recente; E, finalmente, a influência que a moral religiosa (protestantismo) teve na
história económica.

26
Quadro de Resumo
Concepções sobre a evolução social e às mudanças socioculturais
desde os quatro pensadores sociais estudados
August Comte Karl Marx Èmile Durkheim Max Weber
Concepção de natureza Concepção materialista Concepção realista - a vida Concepção da prática da
psicológica ou idealista. (materialismo dialéctico) social é formada pelas racionalidade, humanista e
A realidade social - as ideias são o reflexo atitudes e comportamentos historicista a explicação das
depende das ideias da realidade social, da individuais; existe uma coisas só se pode encontrar nas
dominantes que são estrutura económica de «consciência colectiva» que próprias coisas; qualquer
obtidas por «consenso» cada sociedade. As resulta de uma combinação verdade somente pode ser
entre os membros da sociedades e as ideias e ou amálgama das reconhecida como tal, se for
sociedade e graças ao instituições só mudam, se «consciências individuais»; demonstrável, racional e
qual ela existe e pode mudar a estrutura as mudanças socioculturais experimentalmente; a ciência é
funcionar. económica. têm como causa os factos relativamente objectiva, ao
«Positivista», porque A sociologia de Marx sociais, a realidade social. A passo que o «social» é sempre
defende que nada se pode convida à acção sociologia é a ciência dos subjectivo; a Sociologia é uma
conhecer com exactidão revolucionária, através da factos factos sociais ciência da história, comparada e
senão as verdades organização das massas explicativa.
verificadas pela proletárias com vista ao
observação e pela esmagamento da classe
experiência; é, por fim, burguesa.
«racionalista», porque a As sociedades evoluem
sua sociologia também é multilinearmente. isto é,
fundada na razão e no de maneira diversificada,
domínio do não uniforme.
conhecimento.

1. a - Resumindo, é possível afirmar que os primeiros sociólogos incidiram todos sobre a


história da sociedade, procurando apreender um ou outro dos seus aspectos. Por outro
lado, «encararam a realidade social, como o cientista, que reconstitui na película o
movimento dos seres e o curso dos acontecimentos».
2. a - Tendo presente o exame que fizemos das suas origens, podemos resumir a quatro as
características assumidas inicialmente pela Sociologia:

27
A Sociologia era enciclopédica. Isto significa que ela ocupava-se da vida social como um
todo e da totalidade da história.
A Sociologia era evolucionista. Isto significa que, sob a influência da Filosofia da
História e reforçada pela teoria biológica da evolução, a Sociologia procurava identificar as
principais fases da evolução social. As teorias evolucionistas em Biologia forneceram um
esquema útil para o estudo da evolução humana e social, não só a Durkheim ou Max
Weber, como, sobretudo, a todos os sociólogos e antropólogos do início do séc. XX.
- A Sociologia era concebida como uma ciência positiva, de carácter idêntico ao das
Ciências Naturais. (Comte e Marx), a Sociologia acabou por ser desmembrada das
Ciências Sociais, passando a constituir uma ciência autónoma, à semelhança da
Psicologia Científica e da Etnologia (Durkheim e Max Weber).
- A Sociologia era uma ciência da História. Já Max Weber concebia a Sociologia como
uma ciência da História, comparada e explicativa.
3. a - Quanto às concepções assumidas pelos quatro pensadores sociais estudados, no
que diz respeito à evolução social e às mudanças socioculturais, podemos resumi-las da
seguinte maneira:
- Comte: concepção de natureza psicológica ou idealista. A realidade social depende das
ideias dominantes que são obtidas por «consenso» entre os membros da sociedade e graças
ao qual ela existe e pode funcionar.
- Marx: concepção materialista {materialismo dialéctico} - as ideias são o reflexo da
realidade social, da estrutura económica de cada sociedade. As sociedades e as ideias e
instituições só mudam, se mudar a estrutura económica.
- Durkheim: concepção realista - a vida social é formada pelas atitudes e comportamentos
individuais; existe uma «consciência colectiva» que resulta de uma combinação ou
amálgama das «consciências individuais»; as mudanças socioculturais têm como causa os
factos sociais, a realidade social.
- Max Weber: concepção da prática da racionalidade, humanista e historicista a
explicação das coisas só se pode encontrar nas próprias coisas; qualquer verdade somente
pode ser reconhecida como tal, se for demonstrável, racional e experimentalmente; a
ciência é relativamente objectiva, ao passo que o «social» é sempre subjectivo; a
Sociologia é uma ciência da história, comparada e explicativa.

28
Objecto e método da sociologia

A sociologia é uma ciência, porque baseia-se sobre o método de investigação


sistemática, sobre a análise de dados, e sobre a formulação de teorias á luz de provas
empíricas e de argumentos teóricos. Portanto, a função de um sociólogo é analisar o
equilíbrio entre o desenvolvimento social e as consequências desse desenvolvimento.
Ao definirmos o carácter científico da sociologia, implica dizer que esta possui um
objecto (conteúdo) a estudar e um método a seguir. O objecto da sociologia é
frequentemente chamado o «fenómeno social» (realidade que estudaremos mais á frente).
Esta definição é contudo muito vaga. È conveniente chamar relações humanas, ao objecto
de estudo pois é a nossa experiência quotidiana nos que diz respeito a rede de relações –
com a família, com os amigos com estranhos etc- o objecto fundamental da sociologia. Sob
certos aspectos este objecto diferencia-se de acordo o tempo e o lugar, mudanças que
podem ser rápidas ou lentas, mas a estrutura essencial da vida social é sempre a mesma.
Tal semelhança essencial tornara possível o estudo cientifíco da conduta social 14.
Estabelecendo uma diferença no objecto material de estudo das Ciências Humanas
ou Sociais, vemos que o objecto da sociologia apresenta duas diferenças básicas em
relação às demais Ciências Sociais: a primeira seria relativa ao universo sócio-cultural; a
segunda diz respeito à concepção da "natureza" do homem e às inter-relações dos
fenómenos sociais. Compete, portanto, à Sociologia o estudo do homem e do universo
sócio-cultural. como um todo, analisando as inter-relações entre os diversos fenómenos
sociais. Daí emerge a dificuldade do estudo do objecto e Fchter 15, apresenta três razões
fundamentais: a) a complexidade do objecto de estudo; b) o influxo de causas múltiplas
sobre a sociedade e sobre a cultura; c) a variabilidade e a fluidade das soluções dadas aos
problemas sociais.

Elementos para um estudo sociológico


 Questões factuais (empíricas) recolha de dados: O sociólogo antes de responder
a certas questões ele possuí já um conhecimento de facto da sociedade em que vive
nos seus múltiplos sistemas. Diante de uma situação, o sociólogo deve questionar-
se o porque e dar uma resposta.;
 Questões comparativas: os sociólogos levantam espesso questões comparativas,
confrontando entre elas dois contextos sociais diferentes. Melhor dizendo, o
sociólogo deve comprar a situação particular em estudo com outros contextos;
14
Cfr., FICHTER H. JOSEPH, Sociologia,
15
FICHTER H. JOSEPH, Sociologia,

29
 Questões relativas ao desenvolvimento: A sociologia não se ocupa somente das
sociedades existentes, confrontando-as entre si, mas visa também comparar
presente e passado. Neste caso, a atenção centra-se sobre as questões do
desenvolvimento. Para compreender a natureza do modo moderno devemos
examinar também as sociedades do passado, nos seus principais processo de
transformação;
 Questões teóricas: A sociologia não se limita a recolha dos factos, por mais que
estes sejam importantes. O objectivo é também de compreender porque as situações
acontecem. Torna-se portanto necessário levantar questões teóricas, através das
quais interpretar os factos em modo correcto e recolher deste modo as causas do
fenómeno analisado. As teorias são necessárias porque ajudam-nos a conferir um
significado aos factos16.
A visão sociológica exige sobretudo: a capacidade de reflectir sobre si mesmo, das hábitos
familiares, da própria vida quotidiana, a fim de poder olhar sobre a mesma com olhos
diversos. Um sociólogo portanto é aquele que consegue libertar-se dos condicionamentos
pessoais.

O senso comum a ideologia, e o conhecimento sociológico


Vivendo e participando na realidade social quotidianamente, criamos a convicção,
mais ou menos consciente, de que a conhecemos bem, estamos a (re)produzir descrições e
explicações que nos são "evidentes" do mesmo modo que são "evidentes" para a maior
parte das pessoas que connosco convivem. Estamos no domínio do senso comum que, não
nos levando a um conhecimento propriamente dito, conduz-nos ao reconhecimento em
termos práticos do mundo a que pertencemos e das relações que os indivíduos com ele e
entre si mantêm17. Este muda de indivíduo para indivíduo segundo os factores que o
rodeiam, a sua carga hereditária e cultural.
A produção de conhecimentos científicos acerca da realidade social pressupõe
rompimento com as "evidências do senso comum"
A primeira grande base em que assenta o método sociológico é a de explicar o social
pelo social.
As explicações de tipo "naturalista" descrevem e interpretam o social a partir de
aspectos e factores que consideram inerentes à natureza humana, à natureza de um povo,

16
Cfr. GIDDENS ANTONY, Sociologia, Bologna, Il Mulino, 1993, p. 22.
17
Cfr GIDDENS ANTONY, Sociologia, Bologna, 1993, p. 19.

30
de uma raça, de cada um dos sexos ou de uma área geográfica. São explicações que
implicam o carácter real ou supostamente dito "natural" (biológico, climatérico,
psicológico, físico-geográfico) dos fenómenos sociais. Porque consideram que as causas
dos fenómenos sociais são "naturais", e não "sociais", este tipo de explicações exclui
qualquer necessidade de investigação. (ex: a emigração é um facto normal)
Outra forma de explicar o social em termos não sociais, do tipo "individualista", tende a
produzir um tipo de explicações do que se passa na sociedade como efeito, a nível
colectivo, de factores que se apreendem ao nível do indivíduo e que se tomam como
independentes dos contextos sociais em que os indivíduos participam. As explicações deste
género são muito frequentes ("há desemprego porque há pessoas que não querem
trabalhar", "o país não progride porque há poucos indivíduos empreendedores",
O ponto de partida para a ruptura com as explicações de tipo individualista é o
estabelecimento de tipologias e de correlações entre os fenómenos sociais.
O etnocentrismo caracteriza-se pela colocação da sua própria cultura no centro da
sua explicação ou da sua descrição do mundo. O ponto de partida para a ruptura
epistemológica com o etnocentrismo é a reflexão crítica sobre a adequação dos
instrumentos teóricos e técnicos à especificidade histórica e social do objecto de análise18.
A ideologia dominante: Todas as sociedades possuem os seus valores e códigos de
conduta que orientam os mais diversos comportamentos dos indivíduos na sociedade. O
sociólogo ao querer explicar o comportamento dos fenómenos sociais que observa, será
influenciado pelos valores e outras ideias dominantes dessa sociedade. Ex: os etnólogos
quando estudavam ou tentavam explicar a vida das chamadas comunidades primitivas, o
faziam considerando essas comunidades “atrasadas” pois o seu ponto de referencia era a
sociedade industrial de que faziam parte.
Resumo
“Um dos precedimentos básicos da sociologia é a ruptura com convicções
preconceituosas e com as explicações simplistas que circulam na sociedade a propósito dos
fenómenos sociais”. António Firmino da Costa
A análise sociológica deve procura ver para além das evidencias imediatas.
Não pode aceitar sem inspecção cuidadosa toda e qualquer interpretação que as
pessoas e as organizações vão fazendo acerca dos processos em que estão envolvidas.

18
Cfr. VERGAS JOSÉ, Introdução ao estudo da sociologia,, p. 22.

31
Para uma análise social ou melhor fazer da sociologia uma ciência, é importante:
ultrapassar o nosso sistema de referências; pôr de lado nossos valores culturais, ideologias
e preconceitos.
Qualquer ramo do conhecimento em que nos situemos, não deverá, nunca haver
dogmas ou verdades incontestáveis (é importante ao espírito cientifico caracterizar-se pela
capacidade de discussão).
A dúvida sistemática, de questionamento constante, de crítica sobre o rigor do
nosso trabalho e objectividade exige que o sociólogo se esforce por fazer tábua rasa das
noções adquiridas empiricamente –Regra da ignorância consciente- .

A Sociologia e a interdependência e complementaridade entre as Ciências Sociais

Os cientistas sociais (com excepção de Auguste Comte e Karl Marx) defendiam a


ideia de que cada uma das ciências sociais caberia investigar um determinado campo da
realidade. Fenómenos totalmente distintos e separados de quaisquer outro. Cada ciência
teria um campo especifico de pesquisa.
Em consequência das transformações determinadas pela revolução industrial (séc.
XVIII e XIX e pelas Guerra Mundiais) ocorreram amplas e profundas discussões
filosóficas e humanistas. Fruto desta reflexão, surgiram novas linhas de pensamento e
novas concepções no campo das ciências. Fruto desta reflexão, destacamos o conceito de
fenómeno social total criado por Marcel Mauss e posteriormente desenvolvido por Georges
Gurvitch. A respeito da totalidade dos fenómenos Gurvitch afirma que o que caracteriza as
ciências do homem é que a realidade por elas estudada é uma só: é a condição humana
considerada sob uma certa luz e tornada objecto de um método especifico” La vocation
Actuelle de la Sociologia (1963).
Não é possível descortinar comportamentos apenas económicos políticos etc., pois
toda a actividade é pluridimensional: todos os fenómenos são totais: isto é têm implicações
em diferentes níveis do real. Isto significa dizer que o que é social é histórico, é
económico, é político, é antropológico.
A riqueza e a complexidade dos fenómenos sociais não se esgotam na explicação
dada por uma única ciência. Não se pode entender o significado e um facto social isolado
ou integrado num contexto limitado a uma actividade determinada.
A riqueza e a complexidade dos fenómenos sociais não se esgotam na explicação
dada por uma única ciência. Não se pode entender o significado de um facto social isolado
ou integrado num contexto limitado a uma actividade determinada. Da totalidade do social

32
decorre a complementaridade e interdependência das ciências que estudam a realidade
social o que nos leva a concluir que tudo o que se passa na sociedade pode ser estudado por
uma disciplina social específica e, simultaneamente, por outras Ciências Sociais. Embora
todas estas disciplinas que incluímos, genericamente, nas Ciências Sociais, se ocupem
da mesma realidade social, elas são distintas entre si, não pela natureza do seu objecto
que é o mesmo, mas pelo seu «ponto de vista» ou «ângulo de visão» sobre a realidade
social, ou seja, mais simplesmente, cada disciplina interessa-se por determinados aspectos
dos fenómenos sociais. Nenhuma disciplina social, isoladamente, pode explicar o que se
passa na sociedade. Só em complementaridade e interdependência com os conhecimentos
das outras Ciências Sociais se pode ter um conhecimento integral dos fenómenos sociais.
Todo o fenómeno, qualquer que seja, da realidade social, é um todo
plurifacetado, podendo cada faceta (económica, política, demográfica, etc.), ser objecto
de estudo unilateral. Nesta ordem de ideias, cada uma das Ciências Sociais representa
o estudo de uma determinada faceta dos fenómenos sociais. Todo o fenómeno que
depende da vida de um grupo, é considerado fenómeno social. Os fenómenos sociais não
podem ser analisados de forma isolada, mas antes de forma complementar e interdepen-
dente. É que a sociedade não é só o conjunto de pessoas que a constituem, mas também o
conjunto das relações recíprocas que entre elas se estabelecem. A estrutura própria do
"todo" revela certas relações e atributos que existem para além da soma dos elementos
considerados isoladamente; daí a grande complexidade do social.

Relativamente à complementaridade, é por demais evidente que, se cada Ciência


Social apenas analisa, unilateralmente, uma certa parcela da realidade social, torna-se
absolutamente necessário (como vimos já, de resto, com o exemplo da inflação), a fim de
se poder chegar a uma visão e compreensão total do fenómeno social em causa, que as
várias análises parcelares e unilaterais se completem umas às outras.
Quanto à interdependência, é também lógico que, se os múltiplos aspectos dos
fenómenos sociais não são mais do que diferentes aspectos de uma só realidade social (a
realidade dos «fenómenos sociais totais»), eles não podem ser independentes uns dos
outros, não podem existir à margem uns dos outros. Pelo contrário, eles interferem uns
nos outros. O fenómeno social, tem um conjunto de aspectos específicos de análise que
pertencem a disciplinas diferentes.

Os diferentes aspectos do todo não são realidade separadas. Existe uma

33
interferência entre as mesmas :
 Sociologia e História: História instrumento para compreender a sociedade de hoje e
as perplexidade do pensamento actual. Em nossa formulação do que deve ser
explanado, precisamos de um alcance maior, que se pode ser proporcionado pelo
conhecimento das verdade históricas da sociedade humana. Os estudos não-
históricos tendem a ser estáticos ou curtos.

 Sociologia e Demografia: Elemento comum entre ambas está no facto de que as


mesmas forma recentemente criadas no séc. XIX. Deverá haver uma estreita
relação entre a vida social global e a dimensão da sua população. Os valores
demográficos constituem o centro das preocupações dos estudiosos da problemática
dos países “terceiro Mundo”.

 Sociologia e Economia: Ambas foram geradas no mesmo período histórico


(Revolução Francesa, o iluminismo) que se caracterizou por um certo modo de
pensar. Ambas recorrem aos conceitos de sistemas e sub-sistemas, destacam a inter-
relação entre as partes e o todo e recorrem a métodos quantitativos. A economia
debruça-se sobre a sua área especifica do social, não pode esquecer que os factos
económicos ocorrem dentro de certo contexto social no qual valores, atitudes e
outros elementos sociológicos são determinante. Cada vez mais os economistas
recorrem á sociologia no sentido de encontrarem explicações para os
comportamentos económicos.

 Sociologia e Direito : Toda sociedade é caracterizada por uma certa ordem social,
económica, jurídica, cultural, política etc. A ordem social geral (conjunto de
normas), económica, política, jurídica é a condições indispensável para o
funcionamento de qualquer sociedade. O direito influencia os nosso
comportamentos sociais. A sociologia descodifica os comportamentos sociais, no
sentido de distinguir os comportamentos resultantes da vivência do grupo daqueles
que lhe são impostos, coactivamente, por normas de direito, que nem sempre
reflectem os costumes, os usos enfim a cultura de um povo.

 Sociologia e Ciência política: Difícil encontrar com precisão os respectivos campos


de análise. Ciência política é a mais jovem das ciências sociais. Problemas políticos
sempre preocuparam os pensadores do social (Aristoteles séc. IV a C. elaborou os
elementos gerais de um Estado ideal). É com Montesquieu, (L ésprit des lois) no

34
séc. XVIII que a sociologia e a Ciência política mais um passo no caminho da sua
afirmação enquanto ciências. Um estudo em profundidade do fenómeno do poder
exige o recurso á sociologia como a ciência capaz de explicar as interacções entre
grupos sociais.

Centrando-nos na sociologia, os primeiros sociólogos (Comte, Durkheim, Max


Weber) fizeram da sociologia a ciência capaz de orientar, racionalmente, as formas
necessária da sociedade capitalista em ascensão. O âmbito de estudo é a sociedade global.
Os novos problemas prendem-se com o desenvolvimento do capitalismo, com a
urbanização, com as novas relações familiares. Tornou-se necessário que a sociologia geral
se especializa-se em Sociologia da família; do urbanismo, do trabalho, da educação etc.,
A nova ciência surge assim em reposta aos novos interesses dominantes.
O FACTO SOCIAL

Para a Sociologia e para as Ciências Sociais, "social" é tudo o que se passa na


sociedade, nos grupos a que pertencemos, nas relações recíprocas que estabelecemos com
as pessoas com quem nos relacionamos. É social a pronúncia do Norte ou o sotaque do Sul,
os rituais dos “óbitos, nascimentos e matrimónios” É social todo um conjunto de acções e
omissões da sociedade, que podem ser observadas por diferentes pontos de vista e que são
imbuídas de uma grande complexidade. Pela forma de vestir distinguimos uma mulher
portuguesa de uma iraniana, de uma angolana, japonesa etc. É que a maneira de vestir está
ligada a um conjunto de outros aspectos que com eles interage. Tem a ver com o clima,
com a cultura, com a religião, com o solo.
O homem é um ser «eminentemente social», já que o seu «habitat» natural é a
sociedade, nada sendo à margem dela. O homem vive da sociedade, para a sociedade e em
função da sociedade. Esta é que lhe dá todas as condições de vida e de realização plena dos
seus interesses. A interessante história do «menino-lobo Isto significa, muito
simplesmente, que o social e toda a aprendizagem por ele proporcionada, continua
presente na vida do indivíduo isolado.
Os comportamentos humanos não são, pois, instintivos, são antes apreendidos,
adquiridos, quer por interacção quer por comunicação com outros homens na sociedade e,
também, pela transmissão de uma cultura ao longo de gerações. O carácter social do
homem, aí está: partilha com outros homens uma cultura comum, uma cultura que inclui,
para além dos elementos da sua geração, os das gerações anteriores e vindouras.
Nesta ordem de ideias não nos será, pois, difícil apresentar uma primeira noção de

35
sociedade:
Sociedade, pode definir-se, em sentido sociológico, como um conjunto de seres
humanos em permanente interacção, com vista à satisfação das suas necessidades sociais
e detentores de uma cultura comum. É, pois, no seio da sociedade que os homens se
relacionam uns com os outros, constituindo grupos e colectividades e nelas se
comportando de determinada maneira.
A colectividade manifesta, pois, não a acção individual, mas a resultante das
actividades sensoriais, imaginativas, intelectuais e voluntárias dos seus membros.
Porém, mesmo considerado individualmente, o homem é sempre social. Isto
significa que, seja qual for o aspecto da vida do homem que consideremos, seja qual for o
seu comportamento, encontramos sempre a marca que os diversos grupos sociais lhe
imprimiram.
O fenómeno fundamental do ser humano é essa sua necessidade de relações
(biológicas, económicas e culturais) e que constitui o facto social de que todos os outros
dependem. Factos sociais "consistem em modos de agir, de pensar e de sentir,
exteriores aos indivíduos, e que são dotados de um poder coercitivo, em virtude do
qual lhes são impostos"19. E também, facto social a interacção dos homens através do
espaço e do tempo, ou seja, tudo o que é próprio da vida em grupo: as relações individuais
ou colectivas, sem as quais não existe vida social; os resultados da vida em grupo (produto
da vida social), quer de ordem material, quer de ordem mental. São factos sociais, por
exemplo:
 os diferentes tipos de relações que se estabelecem entre o pessoal de uma
fábrica: do operário A com o operário B, dos operários de uma dada secção com
o seu chefe e reciprocamente, dos operários com a direcção, etc.
 São, também, factos sociais, a própria fábrica e os planos económicos que
presidem à sua criação e funcionamento;
 Os hábitos familiares, o «clima» de uma empresa, as diferenças de
comportamento que permitem identificar os indivíduos dentro da estrutura
social, são, também, factos sociais;
 Factos sociais como: a prática religiosa, a linguagem, o sistema de ensino, a
organização do trabalho, o papel e o estatuto social da mulher, o casamento, a
forma de vestir, o tipo de alimentação, a arquitectura, a organização e estrutura
familiar, a organização urbanística.
19
Cfr. DURKHEIM. ÉMILE, Les Règelsde la Methode Sociologique, Paris, PUF.

36
 Factos sociais que só nos últimos anos apareceram na nossa sociedade, como a
homossexualidade, a marginalidade, a delinquência, a imigração, a SIDA, a
globalização da economia. Tudo o que se passa em determinada sociedade que
envolva relações entre as pessoas é facto social. A análise sociológica é,
sobretudo, uma análise das relações sociais.

Os fenómenos só existem porque as pessoas (con}vivem umas com as outras, em


grupo, em sociedade.
Os fenómenos sociais não podem ser analisados de forma isolada, mas antes de
forma complementar e interdependente. É que a sociedade não é só o conjunto de pessoas
que a constituem, mas também o conjunto das relações recíprocas que entre elas se
estabelecem20.

Características dos fenómenos sociais

A primeira característica dos fenómenos sociais é a exterioridade. O fenómeno


social é algo exterior aos indivíduos, ultrapassa-os. O fenómeno social é algo que existe
fora do indivíduo e para além dele. A estrutura e a organização social existem antes de nós
e vão condicionar a nossa personalidade. "Não nascemos mulheres, tornamo-nos
mulheres", afirmava Simonne de Beauvoir21, referindo-se ao papel e comportamento social
do ser humano biologicamente feminino. Desde o nascimento nada escapa à apropriação
colectiva. Desde a maneira como somos agarrados, lavados e vestidos, até ao nome e à
alimentação que recebemos, tudo é instituído de maneira a sermos marcados
indelevelmente com sinais da apropriação colectiva. O sistema organizativo familiar e da
sociedade vai condicionar o nosso ser.
A segunda característica dos fenómenos sociais é a coercibilidade. Os fenómenos,
sendo exteriores ao indivíduo, também lhe são impostos. Mas se lhe fazemos oposição não
deixamos de ter reacção e sanção social.
A terceira característica é que o fenómeno social é relacional O fenómeno social é
ditado por regras que pertencem ao campo das relações intersubjectivas ou recíprocas.
Outras característica a apontar nos fenómenos sociais é que eles são de
previsibilidade relativa. É previsível, por exemplo, que os jovens casem entre os 20 e os
30 anos, mas não é certo que assim aconteça. Esta previsibilidade é relativa, já que, não só

20
Cfr. VERGAS JOSÉ, Introdução ao estudo da sociologia, Porto, Porto Editora LDA, pp. 8-15.
21
BEAUVOIR DE SIMONNE, Segundo Sexo, ….

37
os fenómenos são determinados por diferentes tipos de códigos, eles próprios susceptíveis
de mudança, como também existem limitações ao conhecimento social.
Por fim, recordemos a totalidade, característica súmula de todos os fenómenos
sociais e inerente ao seu próprio conceito e a que já fizemos referência anteriormente 22.
Todo o fenómeno ocorrido numa sociedade tem repercussões imediatas no "todo" e vem,
portanto, perturbar as relações nas outras ordens de actividades. É impossível analisar um
aspecto da vida social sem ter em conta todos os outros aspectos. A política, por exemplo,
não pode ignorar o que se passa no domínio do religioso, do económico ou do etnológico.
A sociedade tem de ser vista como um todo e não como a soma de diferentes
aspectos. Todo o fenómeno ocorrido numa sociedade tem repercussões imediatas no "todo"
e vem, portanto, perturbar as relações nas outras ordens de actividades. É impossível
analisar um aspecto da vida social sem ter em conta todos os outros aspectos. A política,
por exemplo, não pode ignorar o que se passa no domínio do religioso, do económico ou
do etnológico. A análise de um aspecto isolado ,"o todo que é a sociedade global não tem
qualquer significado para além do fenómeno em si”.
O social é uno e indivisível. A sociedade não existe senão como um "todo" integral
ainda que possa ser observada por diferentes ângulos, sob diferentes pontos de vista.
Marcel Mauss, usa o conceito de “Fenómeno Social Total"23 isto é, nada se compreende
numa sociedade, senão em relação ao todo", diz Mauss. É impossível desligar o fenómeno
social do contexto (totalidade) em que está inserido.
O sociólogo e os factos sociais

O sociólogo (investigador de factos), deve ver os factos, em si, como neutros. Em


nome da honestidade científica, o sociólogo deve pôr sempre em causa e sujeitar a revisão
crítica, todas as interpretações das realidades sociais em que as Doutrinas, as Políticas e as
Ideologias se apoiam e justificam.
A vida social manifesta-se, desde logo, a nível individual. Manifesta-se, em
seguida, ao nível dos grupos ou das colectividades e das grandes correntes da vida
social. Assim, por exemplo, quando uma mulher, numa sociedade, cobre a cabeça para
entrar numa igreja (enquanto noutras sociedades isso não acontece), estamos em presença
de uma forma de vida social manifestada ao nível individual.
Na vida social, o processo é muito diferente. Cada membro, agora separado, traz
consigo elementos adquiridos na vida do grupo, que persistem para além da duração deste:

22
. VERGAS JOSÉ, Introdução ao estudo da sociologia,, pp. 19-20.
23
Marcel Mauss (1872-1950), Sociológo francês, discipulo de Émile Drcheim.

38
ideias, opiniões e comportamentos que nunca teria adquirido se tivesse permanecido
isolado.

Resumindo, durante a observação dos factos sociais, deve-se ter em conta os


seguintes princípios:
1. Considerar os factos sociais de uma maneira totalmente objectiva.
2. Não considerar os factos sociais conforme a ideia que deles se tem. Sobre este ponto, já
Durkheim verificava que era uma tentação, no trabalho científico, querer avançar
demasiado depressa e tomar menos em consideração as coisas como elas são, do que
segundo a ideia que delas se faz.
3. Considerar os factos sociais em si mesmos e inteiramente desligados dos indivíduos
que os realizam ou manifestam. Importa, por isso, considerar os factos sociais como
extrínsecos (exteriores) aos indivíduos.
4. sociólogo deve evitar sempre incluir na sua investigação, quaisquer juízos de valor
pessoais.

A perspectiva em que o sociólogo se coloca ao investigar qualquer acontecimento ou


aspecto social consiste, antes de tudo, em examiná-lo do ponto de vista do conjunto dos
relacionamentos sociais, das interacções e das interdependências entre indivíduos e grupos
o social como subsistema da realidade natural.
Sociologia, acções humanas e estrutura social

Um conceito importante que contribui para a compreensão da relação entre a


sociologia e o conhecimento das acções humanas é aquele da estrutura social. Os
ambientes em que vivemos não consistem um conjunto casual de eventos ou acções. A
modalidades de comportamento dos indivíduos e as suas relações são caracterizadas
pela regularidade. O conceito de estrutura social refere-se a esta regularidade. As
estruturas sociais são construídas pelas acções e relações humanas: é a repetição destas
últimas, no tempo e no espaço, a conferir ás primeiras uma certa configuração24.
Parece, assim, à primeira vista, que o social e o natural seriam duas partes
diferenciadas do nosso planeta e que a problemática do seu relacionamento e interacção se
reduziria à adaptação do Homem ao meio e aos efeitos do Homem sobre a Natureza

24
Cfr., GIDDENS ANTONY, Sociologia, Bologna, Il Mulino,,1993, p. 18.

39
(alteração paisagística, poluição, exaustão dos recursos). No entanto, as coisas não são
assim tão simples como o senso comum nos quer induzir.
A Natureza, que é objecto da acção do Homem, é ou não, em grande parte, uma criação
do próprio Homem? E este mesmo Homem que age sobre a Natureza não é, ele próprio, do
ponto de vista biológico, um ser natural? A definição das fronteiras entre o Homem e a
Natureza é objecto de grande polémica teórica. Mas importa retirar que entre o natural e o
social se estabelecem relações que fazem com que os seres vivos transformem o meio
natural em que vivem, ao mesmo tempo que são influenciados por ele e obrigados a
diversas adaptações. São estas interacções que nos permitem tipificar o comportamento de
um povo, de uma região. O vestuário, a alimentação, a habitação numa região nórdica são
substancialmente diferentes dos de uma região temperada e opostas dos de uma região
desértica ou tropical. A vida do Homem e as práticas sociais dela decorrentes são
consequência da integração do ser humano num dado meio natural, no seu habitat.

ASPECTOS GERAIS DOS MÉTODOS UTILIZADOS NA SOCIOLOGIA

Quaisquer que sejam os fenómenos e os problemas que estudemos, verificamos que


obedecem a certas leis cujos tipos podemos resumir:
- Leis físicas ou naturais aplicam-se a seres não espirituais
- Leis éticas leis religiosas, morais, jurídicas, leis que transgredidas
acarretam para o infractor u juízo de reprovação.
- Leis técnicas indicam a conduta que se deve tomar se se quiser
atingir determinado objectivo, mas sem impor moralmente este objectivo.
É dentro destas leis técnicas que vamos encontrar as leis gerais das ciências sociais.

A preocupação dos primeiros sociólogos em elevar o estatuto da sociologia á


categoria de ciência é evidente. A lei dos três estados (Auguste Comte); necessidade de
construir tipos ideias (Max Weber); materialismo dialéctico proposto por Karl Marx como
metodologia cientifica para a explicação da problemática social.
É sobretudo Durkheim um dos primeiros que avançou no recurso á metodologia
cientifica para explicar os fenómenos sociais. “Regras do Método Sociológico”.
A sociologia recolhe informações sobre todas as formas da realidade social através
dos processos de observação, conduzidas de forma sistemática e controlada.
A confusão frequente entre método w técnica exige que, antes de mais, se precise
tal distinção.

40
Por técnicas consideramos o conjunto de processos operativos, ou operações
simples, que nos permitem pesquisar algo. Ou melhor, as técnicas correspondem ao
«nível» inferior e designam os instrumentos, bem delimitados e transmissíveis, destinados
a produzir certos resultados julgados úteis na observação e na medida dos factos sociais;
corresponderão por exemplo, a este «nível» o questionário, a escala de atitudes, a
entrevista, a observação participante, o teste etc.,
Por método entendemos o processo de selecção de técnicas de pesquisa adequadas
ao trabalho que vamos fazer, o controlo da sua utilização e a integração dos resultados
obtidos.
A metodologia consistirá na análise sistemática e crítica dos pressupostos,
princípios e procedimentos lógicos que moldam a investigação de determinados problemas
sociológicos. Situam-se aqui as questões relacionadas com a estratégia de pesquisa a
adoptar em referência e adequação a certos objectos de análise e em ordem á relacionação
e integração dos resultados obtidos através do uso das técnicas.
Assim sendo, o tratamento estatístico das variáveis (grau de instrução, nível de
rendimento, repartição por sexos, idade etc.,) que caracterizam um fenómeno social
(emigração) pode ser considerado uma técnica, enquanto que o processo de escolha das
variáveis, e selecção das técnicas mais apropriadas para o estudo do referido fenómeno, faz
parte do método25.

25
Cfr. AAV., «Sobre “As novas fronteiras da metodologia sociológica” in Análise social, 35-36, 1972, ; AAV,
Sociologia, Porto, Lello & Irmão, 1998, 55-70.

41
Fases da Pesquisa Cientifica
Teoria e
Formação de
definição do
conceitos, problema Dedução
formação de lógica
proposições e
ordenamento de
proposições

Generalizaçõe
s empíricas Hipóteses

Medição,
Resumo de Interpretação,
amostragens instrumentaliz
de ação,
consideração graduação e
de parâmetros Observa amostragem
ção
Para um estudo aprofundado é necessário conciliar os métodos qualitativos e
quantitativos.

Classificação dos métodos em Ciências Sociais

Segundo Lazersfeld26, existem três métodos fundamentais, ou seja. Três


procedimentos lógicos de investigação empírica em ciências sociais:
 o método experimental;
 o método de medidas ou análise extensiva;
 o método de casos ou análise intensiva.
o método experimental é aquele que mais aproxima as ciências sociais das ciências da
natureza. Com este método pretende-se reconstituir situações quase experimentais, ou tão
experimentais quanto possível, ao sujeitar as variáveis à observação sistemática e
controlada. A incontrolável atracção que o método das ciências da natureza sempre
exerceu sobre os investigadores da problemática social, levou-os a adoptar modelos
explicativos que. muitas vezes, não tinham em conta a especificidade do social. A este
respeito cabe-nos referir que as etapas de pesquisa em ciências sociais são idênticas às da
pesquisa em ciências naturais, embora a fase da experimentação seja substancialmente
diferente.
O segundo método proposto por Lazersfeld é o de medida ou análise extensiva. Este
método implica "a observação por meio de perguntas directas (entrevistas) ou indirectas

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P. LAZARSFELD, A Sociologia, Ed. Bertrand, Lisboa, 1973.

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(questionários) de populações relativamente vastas de unidades colocadas em situações
reais, a fim de obter respostas susceptíveis de serem manejadas. mediante uma análise
quantitativa" (Greenwood, Métodos de investigação empírica em Sociologia).
Como a análise extensiva tem por objecto populações constituídas por um número de
elementos bastante grande, impõe-se o recurso às técnicas de amostragem.
Este terceiro método "consiste no exame intensivo, tanto em amplitude como em
profundidade. de uma amostra representativa de um determinado fenómeno social e
recorrendo a fadas as técnicas disponíveis" (Greenwood, obra citada).
As características deste método, segundo Greenwood, referem-se ao estudo em
profundidade, o que nos mostra os múltiplos aspectos a considerar em qualquer fenómeno
social, e ao estudo em amplitude, o que nos dá a perspectiva histórica do fenómeno em
análise. Outra característica deste método é a liberdade na escolha das técnicas que nós
consideramos mais adequadas em função do nosso objectivo.

Classificação das técnicas de pesquisa em ciências sociais


Clássicas..........
A- Documentais Modernas Semântica quantitativa
Análise do conteúdo

Observação participante Observação-participação


Participação-observação
Experimentação.........
Clínica
Observação não participante Entrevista Em profundidade
B- Não documentais Centrada
Testes e medidas de atitudes e opiniões
Inquérito por questionário
J. Ferreira de Almeida e J. Madureira Pinto, A investigação nas Ciências Socias.

Técnicas Documentais procuram, nos documentos, os elementos indispensáveis ao


processo de análise.
È tradicional distinguir dois grupos de técnicas documentais: técnicas clássicas, que
propiciam uma análise qualitativa em profundidade (intensiva), técnicas modernas, de base
quantitativa e, em geral, extensivas, ou seja; cobrindo um amplo campo de estudo. As
primeiras têm por paradigmas a análises históricas e literárias, mas revestem caracteres
específicos conforme perspectiva disciplinar em que são utilizadas (sociológica, jurídica,
psicológica; linguística, etc.).
Geralmente criticadas pela sua subjectividade, as técnicas clássicas tendem a ser
complementadas por técnicas de tipo quantitativo: a semântica quantitativa, que estuda o
vocabulário dos textos por processos estatísticos de forma analisar os estilos, a detectar

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lacunas, e a análise de conteúdo, que procurar agrupar significações, e não vocábulos, e é,
em principio, aplicável a todos os materiais significantes, a todas as 'comunicações', não se
cantonando aos textos escritos.

As técnicas não documentais baseiam-se na recolha de informação por via experimental


ou através da observação.

A Observação: suas características:

A observação, como primeiro passo na procura da explicação para os comportamentos


sociais, constitui uma etapa determinante na pesquisa sociológica. Se a observação não for
válida em termos científicos, todas as etapas subsequentes ficarão comprometidas. Já E.
Durkheim se referiu à necessidade de observarmos os fenómenos sociais com
objectividade, como se fossem "único datum oferecido ao sociólogo", isto é, "tudo o que é
dado ao sociólogo, tudo o que se oferece, ou melhor, o que se impõe à observação". Les
Règles de la Methode Sociologique.
A necessidade de objectividade por parte do cientista é, pois, a primeira característica a
que a sua observação deve obedecer. Deve-se observar como é. e não deturpado pelos
nossos preconceitos, nem como desejaríamos que fosse.
Uma segunda característica refere-se à exactidão. Ao observarmos os fenómenos sociais
deveremos ter em consideração todos os elementos e recolher o máximo de informação
possível, para que se possa sempre avaliar o grau de "verdade" contido nas observações
feitas. Dizer que a criminalidade tem aumentado nos grandes centros urbanos é uma
observação inexacta. Teríamos de acrescentar as indicações que permitissem a qualquer
indivíduo avaliar da sua exactidão. Assim, dever-se-ia afirmar que, em função dos factores:
urbanização, deficiente ordenamento territorial, ausência de uma política de qualidade de
vida, ineficácia ou insuficiência de medidas legislativas, aumento do desemprego, falta de
perspectivas para os jovens, etc., a criminalidade é um problema social dos grandes centros
urbanos.
- Mas. para tornar ainda mais aceitável a observação atrás feita, uma terceira
característica aparece como indispensável: a precisão. Este atributo refere-se ao pormenor,
ou ao grau de "verdade". Assim, deveremos acompanhar as nossas observações de dados
verificáveis, valores, cálculos, isto é, acompanhar as observações qualitativas de

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observações quantitativas e, sobretudo. recorrer a uma linguagem precisa e não literária.
Uma quarta característica indispensável a uma observação científica é a sistematização.
De facto, toda a observação deverá ser feita de acordo com um sistema previamente
definido. Isto é, os fenómenos que observamos apresentam, necessariamente, variantes. O
que interessa ao sociólogo é captar o essencial e afastar os elementos secundários. Para tal,
a observação deverá ser feita frequentes vezes e de acordo com um esquema de
regularidade. Assim, a periodicidade e a frequência serão elementos a considerar na
sistematização da observação.
Outra característica da observação é o registo.
O sociólogo deverá recolher, por escrito, tudo o que observa. pois, como a memória é
selectiva e falível, poderá perder elementos essenciais se estes não forem registados no
momento da observação.
Outro requisito técnico, que a observação deve respeitar, é o controlo. Todo o fenómeno
social é complexo e a sua observação global impedir-nos-á de captar todas as informações
necessárias que, como vimos atrás, são indispensáveis. Assim, teremos de identificar as
diferentes variáveis relativas ao fenómeno em questão e de as observar, primeiro
isoladamente e, só depois, conjugar as diferentes observações feitas.
Este procedimento significa que iremos tentar controlar o fenómeno pela sua divisão em
aspectos fundamentais, cuja análise será facilitada porque mais circunscrita. Ao conjunto
das observações feitas parcialmente, seguir-se-á a sua conjugação, ficando o sociólogo
com uma visão simultaneamente global e pormenorizada do fenómeno social.
Respeitando estes preceitos na observação dos fenómenos sociais. vai identificar e descrever algumas técnicas não
documentais.

Observação participante e não participante


A observação participante é uma técnica que se baseia na recolha de elementos de
informação, a partir da observação feita por um pesquisador que se encontra
intencionalmente no grupo a observar, ou dele fazendo, efectivamente, parte. Esta técnica
pode apresentar duas modalidades: a observação-prticipação e a participação-observação.
A caracteristica diferencial da observação participante, em relação outras técnicas,
consiste na inserção do observador no grupo observado que permite uma análise global e
intensiva do objecto de estudo. Se se trata de uma equipa de investigadores ou de um
investigador que se integra no grupo apenas a partir do momento em que define um
projecto de pesquisa, esse grupo, pode falar-se de observação-participação. Se um ou

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vários elementos de um grupo decidem aproveitar a sua inserção para observar o grupo de
que participam, pode falar-se de participação-observação.

A observação não participante recorre á recolha de informações sem que o cientista


tenha de se inserir no grupo a observar. Entre as técnicas que constituem a observação não
participante, destacamos a entrevista, medida de atitudes e opiniões e o inquérito por
questionário.

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