Representação e Narrativa

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Representação e Narrativa: usos e abusos.

FLORISVALDO PAULO RIBEIRO JÚNIOR.2

RESUMO: Os historiadores, de um modo geral, têm recusado com certa insistência o rótulo
com o qual filósofos e cientistas sociais tentam dirimir a importância do trabalho historiográfico
e do conhecimento que ele produz. Na visão destes especialistas, nós seriamos pouco afeitos à
reflexão teórica e à explicitação dos seus métodos de trabalho. Nunca é demais dizer, em
contrário, que a produção do conhecimento histórico tem passado obrigatoriamente pela
reflexão e interpretação da construção historiográfica. Desse modo Representação e narrativa
configura-se num conjunto de anotações - inicialmente elaboradas a partir de algumas
considerações do historiador francês Roger Chartier - sobre o diálogo que os historiadores vem
desenvolvendo, dentro da própria disciplina e fora dela, acerca destes dois conceitos importantes
na produção historiográfica.
PALAVRAS-CHAVE: Representação, narrativa, verdade.

Os olhos não vêem coisas mas figuras de coisas que significam outras
coisas (...) O olhar percorre as ruas como se fossem páginas escritas: a
cidade diz tudo o que você deve pensar, faz você repetir o discurso, e,
enquanto você acredita estar visitando Tamara, não faz nada além de
registrar os nomes com os quais ela define a si própria e todas as suas
partes.3

Em resumo, [Cosme] fora dominado por aquela mania de quem conta


histórias e nunca sabe se são mais bonitas aquelas que de fato lhe
aconteceram e que ao serem recordadas trazem consigo todo um mar
de horas passadas, de sentimentos miúdos, tédios, felicidades,
incertezas, glórias vãs, náuseas de si próprio, ou então inventadas, em
que se corta grosseiramente, e tudo parece fácil, mas depois quanto
mais variamos mais nos damos conta de que voltamos a falar de coisas
obtidas ou entendidas a partir da realidade.4

Poderíamos, enquanto historiadores, nos manter por horas contemplando as


afirmações acima. Desconhecendo sua autoria a atribuiríamos a alguns de nossos tantos
mestres preocupados com as definições precisas e limites do fazer historiográfico.
Contudo não deve causar surpresa o reconhecimento de que as frases foram retiradas de
textos ficcionais. No primeiro, Marco Polo descreve a Kublai Khan as cidades do
império mongol; na segunda é o irmão de Cosme Chuvasco de Rondó quem narra as
peripécias de seu irmão que revoltado com a família passa a viver, desde o final da
infância, em cima das árvores sem jamais tocar o solo novamente, nem mesmo quando
de sua morte.

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Nada demais se pensarmos que muitas de nossas preocupações se assemelham
ou são compartilhadas por outras disciplinas das ciências humanas: a narrativa, a
representação, a verdade, a imaginação, a articulação entre o particular e o geral, são
alguns dos temas/objetos de que se tem ocupado principalmente os historiadores mais
diretamente preocupados com a problematização e fundamentação teórica dos estudos
históricos. Desse modo, mesmo mantendo um feixe de preocupações similares a de
outras disciplinas, com as quais o historiador tem mantido frutífero diálogo – filosofia,
antropologia, crítica literária, a psicologia social, a lingüística, inclusive a sociologia –
nossa intenção é delimitar, se não um campo de estudos específico, já que as disciplinas
citadas se ocupam dos homens e mulheres vivendo em sociedade, uma abordagem
específica da ação humana e suas mudanças no tempo e no espaço. Por outro lado, o
diálogo que a historiografia mantém com as outras disciplinas e sua fundamentação
teórica permite a emergência de um espaço de debate carregado de tensão, pois a
apropriação teórica levada a cabo pela historiografia é invasiva.5 Estamos diante de um
duplo movimento de instituição de um regime de verdade: primeiro, para dentro da
própria disciplina onde as várias abordagens apresentam-se como um modo específico,
atualizado e portanto legítimo de construção do conhecimento histórico; depois, com as
outras disciplinas onde se encontram em disputas não apenas as verbas para
financiamento de pesquisa e publicação de seus resultados, mas também o paradigma, o
domínio do campo teórico e dos limites de sua interpretação.

A verdade é deste mundo, dizia Foucault; ela é produzida nele graças


a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder.
Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua ‘política geral’ de
verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar
como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem
distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se
sanciona uns e outro; as técnicas e os procedimentos que são
valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o
encargo de dizer o que funciona como verdadeiro.6

Diante deste quadro traçado com brevidade e, portanto, bastante reduzido, em


relação às problemáticas de investigação historiográfica, este texto se propõe a apreciar
o modo como historiadores europeus e americanos têm enfrentado questões como a
narrativa, a representação, a verdade, etc. Utilizarei como ponto de partida um artigo do
historiador francês, representante da chamada história cultural, Roger Chartier.7
Para Chartier a historiografia vive um período de dúvidas e incertezas, tanto no
campo teórico, quanto metodológico, para não dizer epistemológico/ontológico. Essa

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crise de inteligibilidade provocou, por um lado, a perda da posição federativa da história
diante das outras disciplinas das humanidades; de outro, provocou a dispersão e a
fragmentação dos temas, abordagens e objetos. O período de crise e incerteza permitiu a
percepção de uma diferença fundamental entre o passado e a historiografia, entre os
atores do passado e seus intérpretes, entre a memória e a história. Há entre nós
historiadores o reconhecimento de que atribuímos significados distintos dos
inicialmente pensados e elaborados pelos atores sociais no desempenho de suas
ações/papéis. Reconhecemos inclusive que esses atores não têm ciência a respeito das
influências exercidas sobre suas práticas por um sistema coercitivo, ao qual eles se
adaptam e transformam. Nessa perspectiva, a presença da citação no texto histórico tem
um novo sentido: não mais uma demonstração do passado tal como ocorreu, mas a
emergência da diferença, do estranhamento.8
A perspectiva do estranhamento apontou para o problema fundamental das
relações entre as categorias intelectuais objetivas, com as quais os atores históricos
organizam e justificam suas ações e as categorias analíticas utilizadas pelos
historiadores quando organizam a narrativa histórica. O critério de cientificidade,
apoiado no distanciamento entre essas categorias, não pode mais ser aceito: os
historiadores tomaram consciência de que a teoria, o método e os conceitos formulados
têm historicidade, tornando-se imprescindível àquele que os utiliza refletir e
compreender seus processos de produção e seus usos; os historiadores passaram a
enfatizar o papel dos atores individuais.
Diante deste quadro, para Chartier a micro-história expressa essa mudança
salutar no fazer historiográfico, baseada na narrativa dos usos imaginativos das normas
e hierarquias. Contudo Chartier identifica uma dificuldade para os estudos micro-
históricos (para ele diferente dos estudos monográficos): a articulação entre as ações dos
atores individuais com as determinações dos sistemas normativos que constrangem
essas ações. Superar a oposição entre estrutura e acontecimento segundo ele

exige a construção de novos espaços de investigação, nos quais a


própria definição dos delineamentos obrigue a inscrever os
pensamentos, as intenções individuais, as vontades pessoais, dentro
dos sistemas de coerção coletivos que ao mesmo tempo, os tornem
possíveis e os freiem.9

Creio que o comentário a respeito dos limites da pesquisa micro-histórica se faz


deslocada. Senão, vejamos:

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Se as pretensões de conhecimento sistemático mostram-se cada vez
mais como veleidades, nem por isso a idéia de totalidade deve ser
abandonada. Pelo contrário: a existência de uma profunda conexão
que explica os fenômenos superficiais é reforçada no próprio
momento em que se afirma que um conhecimento direto de tal
conexão não é possível. Se a realidade é opaca, existem zonas
privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la.10

Giovani Levi, expondo a crença de que os trabalhos de micro-análise não se


reduzem a uma argumentação retórica e estética, afirma:

Seu trabalho [do historiador] tem sempre se centralizado na busca de


uma descrição mais realista do comportamento do homem no mundo
que reconhece sua – relativa – liberdade além, mas não fora, das
limitações dos sistemas normativos prescritivos e opressivos. Assim
toda ação social é vista como o resultado de uma constante
negociação, manipulação, escolhas e decisões do indivíduo, diante de
uma realidade normativa que, embora difusa, não obstante oferece
muitas possibilidades de interpretações e liberdades pessoais. A
questão é, portanto, como definir as margens – por mais estreitas que
possam ser – da liberdade garantida a um indivíduo pelas brechas e
contradições dos sistemas normativos que o governam. Em outras
palavras, uma investigação da extensão e da natureza da vontade livre
dentro da estrutura geral da sociedade humana. Neste tipo de
investigação, o historiador não está simplesmente preocupado com a
interpretação dos significados, mas antes em definir as ambigüidades
do mundo simbólico, a pluralidade das possíveis interpretações desse
mundo e a luta que ocorre em torno dos recursos simbólicos e também
dos recursos materiais.11

A extensa citação é tanto mais necessária na medida em que dois dos mais
importantes historiadores da corrente micro-histórica afirmam em seus textos
programáticos que uma das principais características no processo de redução de escala,
na observação histórica, é basear-se na centralidade do indivíduo sem perder de vista os
sistemas aos quais ele se integra. Portando a crítica de Chartier nesse ponto é deslocada
e inconveniente.
Passemos a outros pontos das frutíferas observações do historiador francês. Para
ele, essa abordagem que historiciza os conceitos e articula ações individuais com os
sistemas coercitivos encontra-se em outros campos da investigação histórica – estudos
sobre a cidade, processos educativos, construção dos saberes científicos, etc... – não
sendo portanto uma prerrogativa da historiografia. Essa abordagem articuladora coloca
em perspectiva o conceito de representação a partir do reconhecimento de que as
práticas sociais são determinadas por sistemas coercitivos desconhecidos dos próprios

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atores sociais. Parece estar em pauta aqui um conceito de representação que revela o
distanciamento inerente entre a ação e a percepção/exposição dessa ação.
Para Chartier a diversidade do conceito de representação permite entrelaçar três
grandes realidades (ou níveis de realidade): primeiro, as representações coletivas
organizam esquemas de recepção e apropriação, ou seja, o modo como se representa a
existência determina a forma como percebo o mundo; segundo, as representações
organizam as formas de exibição dos atores e do poder político; terceiro, a
representação organiza e apresenta uma identidade e um poder como se estes fossem
contínuos e estáveis.
Esse período de crise e de incertezas, do qual falamos anteriormente e que
Chartier crê existir, teria provocado nos historiadores um retorno aos arquivos. Tal
procedimento nos permitiu uma maior atenção aos textos, deixando de lado a
ingenuidade com que as disciplinas vizinhas tratavam o texto e criando condições para a
superação das perspectivas estruturalistas e formalistas. Essa perspectiva em relação aos
textos ‘canônicos’ se materializou, por exemplo, na história da filosofia e na história da
literatura que deixaram de ser campos estanques, textos isolados, com problemas
específicos e passaram a ser lidos em função das problemáticas da produção, do suporte
e da recepção desses textos, considerando-se então que a linguagem (a escrita) não se
reveste de autonomia; que os discursos não podem ser considerados fora de sua
materialidade; que a prática da leitura não é universal; a leitura não é um ato intelectual
puro estando aberto a múltiplas possibilidades significativas.
Desse modo, para Chartier, a história do texto deve articular o ‘mundo do texto’
com o ‘mundo do leitor’. Uma história do texto que pressupõe a leitura, como afirma o
autor:
O ‘mundo do texto’ é um mundo de objetos e performances, cujos
dispositivos e regras, ao mesmo tempo, permitem e limitam a
produção do sentido. [Por outro lado] o ‘mundo do leitor’ é sempre o
da ‘comunidade de interpretação’ à qual pertence e que é definida por
um mesmo conjunto de competências, normas, usos e interesses. (...)
Isso [exige] uma atenção redobrada à materialidade dos textos, à
corporalidade social e cultural dos leitores12

Há discursos que possuem um lugar específico de representação e se constituem


por uma distância em relação aos discursos e práticas comuns. Torna-se necessário
então a historicização das produções estéticas (estabelecer suas fronteiras em relação ao
tempo/espaço). Por meio dela torna-se possível o questionamento das relações entre a
obra e o mundo social. Ou seja: diante deste tipo de discurso deve-se fazer um trabalho

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sobre as distâncias: primeiro, as distâncias entre as representações da ficção e as da
realidade social; segundo, as distâncias entre os significados e as interpretações que se
pretende atribuir e as apropriações plurais que se constituem sobre e a partir da escrita;
terceiro, as distâncias entre as formas de inscrição, transmissão e recepção.
Enfim, para Chartier, a história cultural – diferente da micro-história –
pressupõe um processo de construção de sentido carregado de tensão. Um campo de luta
entre as representações de si e do outro, onde o poder político e a identidade social se
afirmam ou são rejeitados.13
O que nos interessa mais diretamente é a sua noção de representação colocada
em relevo. Os atores sociais não controlam a totalidade de suas ações, não têm
consciência dos limites que lhes são impostos pelos sistemas coercitivos, portanto
somente podem registrar ou permitir que se registre as representações de suas ações e
não exatamente as ações. Por extensão, se esses registros são o material do qual o
historiador pode dispor, partindo de representações ele apenas pode criar representações
e não mais reconstituir as ações do passado tal como ocorreram, como pretendeu a
chamada escola metódica.
Se a noção de representação é aceita entre muitos de nós, há uma razoável
distância entre os significados sugeridos pela expressão e sua aplicação aos estudos
históricos. Ciro Flamarion Cardoso, importante historiador brasileiro, parece ter
assumido entre nós o posto de crítico contundente da corrente historiográfica chamada
história cultural, que para ele está vinculada ao paradigma pós-moderno e justamente
por isso ele a classifica de conservadora e reacionária. Em texto publicado em 2000,
Introdução: uma opinião sobre as representações sociais14, Cardoso se dedicará à
análise do conceito de representação social, o modo como ele aparece dentro da
chamada nova história cultural e principalmente como o historiador Roger Chartier
opera a partir deste conceito. Para Cardoso “a noção de representação social pode ser
útil em muitos de seus usos e conceituações.”15 Entretanto, quando é transformada na
medida de todas as coisas termina por encarnar formas de idealismo que acreditam que
o nome cria o mundo. Eis o que afirma Chartier: “A relação assim estabelecida não é de
dependência das estruturas mentais para com suas determinações sociais. As próprias
representações do mundo social é que são os elementos constitutivos da realidade
social.”16 Para Cardoso esta seria uma demonstração do distanciamento da história
cultural em relação ao paradigma iluminista, onde se “inverte os pressupostos
estruturais e explicativos” formulados pelas correntes marxistas e dos Annales,

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representantes deste paradigma, e considera-se que “a realidade é construída
culturalmente e as representações do mundo social é que são constitutivas da realidade
social.”17
Cardoso reconhece que existem várias posições diferentes, quando não
divergentes, dentro dessa nova história cultural. Ele procura também destacar as
influências declaradas de Chartier – Bourdieu, Elias –, suas ambigüidades nas várias
formulações da noção de representação e, por fim, sugere que a proposta de Chartier
procura impor sobre os estudos históricos uma tirania do cultural (Cardoso se utiliza das
críticas de Lynn Hunt, Ronaldo Vainfas e Peter Burke, para destacar a unilateralidade
como principal característica do programa de Chartier).
Por último, vale destacar que Cardoso sugere um diálogo mais intenso, em torno
da noção de representação, com a psicologia social que, na sua percepção, ao formulá-
lo, não extingue a existência do mundo material, dos objetos concretos aos quais as
representações construídas se referem. Entre os psicólogos sociais “insiste-se em que
qualquer representação mental constitui, sempre, uma entidade cognitiva elaborada no
sistema mental do indivíduo, e que tem como referente alguma porção do universo
(físico, social, ideal) exterior ao próprio sistema mental.”18
Ainda em torno do conceito de representação podemos fazer referência a E. P.
Thompson, historiador inglês, expoente do marxismo revisionista. Ao analisar a
Inglaterra do século XVIII e as manifestações de sua cultura popular, Thompson
introduz a noção de teatro e contra-teatro, como fundamentais na manutenção de uma
hegemonia cultural por parte dos patrícios ante aos plebeus. Eram representações
carregadas de artificialidade, “antes gestos e posturas que responsabilidades reais”.19 O
teatro da gentry fazia dos pobres cúmplices de sua própria opressão. Por outro lado, as
exigências de reciprocidade mantinham-se, algo que permitia aos pobres engendrar o
seu contra-teatro, por ameaças de sedição, ação direta rápida e anônima.20 Nota-se,
portanto, que a teatralidade é um componente, uma dimensão decisiva do ‘real’ e não
exatamente o meio pelo qual este se constitui.
É conveniente voltarmos nossa atenção, por um instante, para um alerta de
Pierre Vilar em relação à sobreposição das representações. Narrando uma experiência
com seus alunos quando de um seminário sobre a guerra civil espanhola, Vilar nota que
a palavra guernica remete tão somente ao quadro de Picasso, obra que é a representação
do trágico bombardeio de uma cidade. O acontecimento que o gerou caiu no
esquecimento. “Guernica tornou-se a representação de um fato preciso. O fato preciso

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está esquecido, a representação continua.”21 Antes do espanto e da rápida aceitação do
alerta do célebre historiador francês, é válido considerar que a significação não se
institui permanentemente. Seria também um atributo do historiador narrar, explicando, o
processo de construção de uma nova significação dessa mesma imagem, pois ela ficou,
mas, os homens e o tempo são outros.
Passemos então a mais um ponto de nosso interesse – a narrativa – e que aparece
no texto comentado também como uma das preocupações de Chartier. O retorno ao
arquivo teria proporcionado ao historiador a percepção de que sua escrita pertence ao
gênero da narração. Segundo ele, nós, os historiadores, tentamos em vão escapar dessa
constatação, desde os metódicos do final do século XIX, até os Annales por volta da
década de 70 do século XX. Langlois e Seignobos, por exemplo, no final do século
XIX, condenavam os arroubos literários dos historiadores. Eles afirmavam: “Como o
historiador tinha em mira agradar ou instruir, ou agradar e instruir, ao mesmo tempo, a
história era um gênero literário, ninguém manifestava grande escrúpulo em relação às
provas.”22 Há aí uma distinção, ao menos indireta, entre história (ciência) e a literatura
(narração) sendo que esta última se desobriga a demonstrar seus procedimentos e o
elenco de provas que lhes permite afirmar. Diziam mais os seguidores de Ranke:

Há cinqüenta anos, mais ou menos, é que se desembaraçaram e


constituíram as formas científicas de exposição histórica, em
harmonia com a concepção geral de que a finalidade da história não é
agradar nem estabelecer normas práticas de conduta, nem comover,
mas simplesmente saber.23

A ‘nova história’ substitui os heróis, os grandes personagens, pelas abstrações,


entidades explicativas. Apesar da recusa, afirma Chartier, constatamos que a história faz
– e sempre fez – uso das fórmulas que governam a produção das narrações. Quais
sejam: primeiro, ‘personagem principal’ centralizando a escrita; segundo, a dependência
do tempo subjetivo; terceiro, a lógica da imputação causal.
Se a história é e sempre foi narração, é inadequado afirmar, em nosso tempo, a
tendência de um retorno à narrativa. Mais adequado seria falarmos em formas de
narração. Por outro lado, torna-se necessário identificar as propriedades discursivas
específicas, em resumo, o que faz da escrita da história uma narrativa distinta da
ficcional. Para Chartier o que o discurso historiográfico traz em si é constituído dos
próprios materiais a partir dos quais pretende produzir uma compreensão; além disso,

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ele seria um discurso crível, em forma específica, pela demonstração das ‘provas’ –
citações, notas, etc. – que garantem o ‘estatuto de conhecimento verdadeiro.’24
Contudo o reconhecimento da história enquanto narrativa esteve vedada pela
‘epistemologia da coincidência’: pensava-se (como Langlois e Seignobos, mas não
apenas) que o discurso histórico restituía os acontecimentos históricos. Essa percepção
impediu que se refletisse sobre os traços comuns entre as narrativas várias, incluindo a
histórica e a especificidade/singularidade dessa narrativa. Para Chartier tal
procedimento permitiu ataques depreciativos ao trabalho do historiador, ataques que
procuravam demonstrar a inexistência de uma fronteira entre a narrativa ficcional e a
histórica. Segundo Hayden White, por exemplo, não haveria diferença entre essas
modalidades narrativas, ambas seriam produzidas a partir de conteúdos inventados e
descobertos.25
Para Hayden White e sua meta-história, o documento não determinaria o
significado da narrativa e sua distinção com outras formas. A distinção entre história e
ficção se revelaria na forma. E ainda se a história carece de um regime de verdade
próprio ela não deixa, contudo, de ter valor enquanto conhecimento, pois a ficção
também o é. Contudo torna-se necessário que o historiador se conscientize de que a
explicação histórica possui componentes históricos e artísticos. Desse modo, o
julgamento da explicação histórica não se daria mais pela proximidade ou
distanciamento entre o verídico e o inverossímil, mas única e exclusivamente pela
riqueza das metáforas que regem a narrativa.

Assim encarada, a metáfora que rege o relato histórico poderia ser


tratada como uma norma heurística que elimina autoconscientemente
certos tipos de dados tidos como evidência. Assim, o historiador que
opera segundo essa concepção poderia ser visto como alguém que, a
exemplo do artista e do cientista moderno, busca explorar certa
perspectiva sobre o mundo que não pretende exaurir a descrição ou a
análise de todos os dados contidos na totalidade do campo dos
fenômenos, mas se oferece como um meio entre muitos de revelar
certos aspectos desse campo.26

Assim, a escolha do estilo adequado para a representação de uma experiência,


seja ela interior ou exterior, assegura por si só a consistência interna da representação, e
ao mesmo tempo permite ao leitor ligar a representação à coisa representada. Ainda para
White, o historiador deveria reconhecer a irrelevância do passado. O fardo do
historiador seria o de justamente livrar a sociedade (humanidade) do fardo do passado,
instituindo assim uma ‘consciência histórica pura’.27

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Chartier se coloca frontalmente contra essa (im)postura de White, afirmando que
para haver conhecimento, para a construção do conhecimento, é necessário a
intencionalidade. Esta por sua vez permite a elaboração dos procedimentos e operações
que permitem ao historiador afirmar que, apesar de sua escrita, ele não faz literatura. O
historiador traz consigo uma dupla dependência: primeiro, ao arquivo; segundo, à
cientificidade e à identidade de ofício.
Para Chartier uma das maneiras de enfrentar análises como as de White é
reafirmando o caráter objetivo do conhecimento histórico. Citando três historiadoras
norte-americanas, Chartier reconhece que essa objetividade advogada adviria da
capacidade de estabelecer, determinar, e separar as proposições válidas das que não são.
Para Paul Ricoeur a objetividade adviria do compartilhar, entre o historiador e o
passado, de um mesmo campo temporal; e também por historiadores e atores históricos
compartilharem práticas e experiências.
Mesmo assim, Chartier acha que essas observações em prol da distinção entre a
narrativa histórica e ficcional são insuficientes para se atribuir à história “o estatuto de
um saber verdadeiro.”28 Recorrendo a Michel De Certeau, Chartier relembra que tanto a
narrativa histórica quanto a ficcional, sofrem intervenções do lugar social, das
instituições, e mesmo das regras de escrita. Contudo é a narrativa histórica que ao se
configurar produz um corpo de enunciados científicos. Ou seja: ‘regras’ que permitem
controlar ‘operações’ de ‘produção’ de seus objetos.29
Ao fim do texto Chartier coloca ainda um problema: se não há coincidência
entre o real e o conhecimento que se obtém de sua observação; se não há coincidência
entre o passado e o discurso que o enuncia, qual a coerência, plausibilidade e explicação
que a operação histórica pode oferecer sobre seus objetos? Ele mesmo afirma que a
resposta é difícil, mas em tempos de incerteza, deveríamos reconhecer que é próprio da
produção historiográfica esse distanciamento, essa separação e porque não essa
incompatibilidade entre o real e o discurso que o enuncia.
Suscita entre nós debates intensos, essa relação entre a narrativa histórica e a
narrativa ficcional. Alguns historiadores, nas décadas finais do século XX, se ocuparam
da problemática distinção entre história e ficção.
Paul Veyne, por exemplo, não tratando especificamente da distinção que aqui se
delineia, mostrou a necessidade de o historiador operar por meio de conceitos,
considerando que se os mesmos apresentam-se enquanto convenções limitadoras da
leitura do passado, ao mesmo tempo permitem um aperfeiçoamento de nossa percepção.

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Sem os conceitos nada se vê. Sem os conceitos faz-se apenas história narrativa. A
historiografia além de narrativa precisa explicar para ser cientifica. O historiador é,
portanto, aquele que narra e explica, “a história define-se como o inventário explicativo
do que há de social no homem, das diferenças que apresenta este aspecto social.”30
Veyne em outro texto afirma que a

história é uma narrativa de eventos. Como o romance, a história


seleciona, simplifica, organiza, faz com que um século caiba numa
página, e essa síntese narrativa é tão espontânea quanto a de nossa
memória, quando evocamos os dez últimos anos que vivemos. A
história é, em essência, conhecimento por meio de documentos.31

Contudo, se o trabalho de composição da narrativa do historiador assemelha-se


ao do literato, Veyne relembra uma distinção fundamental:
(...) uma história que tenha a pretensão de ser cativante não consegue
ser mais do que um pasticho. Mas o historiador, esse, não é nem um
colecionador, nem um esteta; a beleza não lhe interessa, a raridade,
tampouco. Só a verdade.32

Assim como Veyne, Peter Gay apoia-se na distinção entre o trabalho do


historiador e do literato. Para ele “a narrativa histórica sem análise é trivial, a análise
histórica sem narrativa é incompleta”. O estilo empregado por historiadores e
romancistas para exporem suas verdades e ficções apresenta semelhanças notáveis. Por
outro lado, a verdade não seria uma característica distintiva muito segura, já que para o
historiador ela se apresenta como obrigação e para o romancista ela está presente como
pretensão. Contudo, a verdade da ficção e a verdade da história são de naturezas
distintas. Para Gay a “verdade é um instrumento opcional da ficção e não sua finalidade
essencial”.33. Outra característica distintiva diz respeito à liberdade de que desfruta a
narrativa literária ainda que o elemento de coincidência não possa atuar exclusivamente.
Os leitores de ficção tendem a suspender a dúvida (da verdade) em favor da invenção do
escritor. Por último, a arte, ao contrário da história, teria a prerrogativa de inventar um
mundo novo e não uma ‘cópia’ do mundo existente. Colocando-se contra uma
epistemologia cética influenciada por uma metafísica relativista, Gay garante que
reconhecer a interferência da subjetividade na construção da narrativa histórica não
significa abrir mão do caráter objetivo do conhecimento histórico como imaginava Carr.
Se subjetividade pode provocar cegueira e distorções na imagem, podem proporcionar
igualmente uma visão clara das ações passadas que a outros historiadores não foi

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possível por despreparo ou indiferença. “A paixão, famosa como ameaça mais
prejudicial do historiador, pode se tornar seu bem mais precioso”.34
Apoiando-se na psicologia moderna Gay considera que a percepção faz parte da
pessoa em sua totalidade; a equiparação entre motivação e distorção é ilegítima. Dessa
maneira, à medida que o historiador exercita seus sentidos e seu aparato conceitual, à
medida que se ergue e passa do âmbito do princípio do prazer para a atmosfera austera
do princípio da realidade “o que ele vê e o que existe passam a coincidir de maneira
cada vez mais próxima”.35 Ou seja: a percepção que o indivíduo tem do mundo não está
fora dele e nem sempre apenas o permite construir uma representação distorcida da
realidade. Por outro lado, mesmo se a percepção é fidedigna/fiel ela não pode ser
acusada de subjetiva já que ela não pode ser outra coisa e também não pode deixar de
ser objetiva. Se a história é uma disciplina interpretativa ela possui meios internos e
externos de controlar os procedimentos de reconstrução do passado.
Krzysztof Pomiam, em seu Sobre a história36 também chama a atenção para a
distinção entre a história e a ficção; contudo, ele procura uma perspectiva que lhe
permita mostrar como esses estilos narrativos se influenciam mutuamente. Para ele, a
história é uma disciplina científica que separa fatos e ficções. Contudo, ela não é
exclusivamente científica. Ou seja: ela não é capaz de se livrar das interferências da
ficção na constituição da narrativa histórica. Essa ocorrência não desqualifica a história
enquanto conhecimento cientificamente válido, por uma simples razão: não existe
conhecimento puro, não há quem possa prescindir da imaginação/ficção, seja no seu
processo de experimentação, seja no desenvolvimento de suas formas expositivas.
Desse modo, Pomian toma como semelhante todo conhecimento
humanamente/cientificamente produzido em razão da interferência do elemento
ficcional.
Pomiam procura determinar então qual o lugar da ficção na narrativa histórica.
Até aqui o universo do fabuloso foi sempre considerado como não pertencendo ao
mundo real. Ao contrário, para Pomian o romance, em especial o romance histórico, é
dependente da narrativa histórica para se fazer inteligível. Vale destacar que mesmo no
caso do romance histórico, o fato de se apropriar do discurso historiográfico não o retira
do gênero literário ficcional. Mesmo pertencendo à ficção o romance não se reduz a ela,
“pois nele a imaginação criadora coabita quase sempre com o conhecimento, a ficção
com a realidade, a invenção com a verdade (...)” · Isso implica que não se pode falar de
uma dada realidade sem o conhecimento que garante sua emergência. Disso resulta ser

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imprescindível à fábula a presença da história; a imaginação precisa conhecer; a ficção
carece do verdadeiro. Para ele não seria exagerado dizer que a ficção não sobreviveria
sem a história (o conhecimento e a consciência histórica). E a história, sobreviveria sem
a ficção? Antes de responder a essa pergunta, Pomian procura estabelecer uma distinção
mais clara entre a narrativa histórica e a ficcional. Para ele a narrativa histórica possui
signos, elementos ou fórmulas que objetivam “conduzir o leitor para fora do texto”37,
algo que as narrativas ficcionais não conseguem fazer. A esses signos, elementos e
fórmulas, Pomian denomina como marcas de historicidade. Essas marcas estariam
sempre expostas à verificação dos procedimentos que a instauraram.

Considera-se histórica uma narrativa quando ela apresenta marcas de


historicidade que certificam a intenção do autor de permitir ao leitor
que saia do texto, e quando essas marcas programam as operações
supostamente aptas a permitir a verificação das alegações feitas ou a
reprodução dos atos cognitivos dos quais tais alegações são a
finalização. Em suma: uma narrativa é considerada histórica quando
exibe a intenção de submeter-se a um controle de sua adequação à
realidade extra-textual do passado do qual ela trata.

Por fim, Pomian afirma que a ficção entra na narrativa histórica em face dos três
‘defeitos’ com os quais o passado se apresenta ao conhecimento histórico: fragmentário,
lacunar e descontextualizado. A imaginação, portanto, seria a única atividade capaz de
preencher as lacunas dos vestígios que restaram. “(...) a aparência visível reconstruída
de um objeto comporta sempre uma parte de ficção.”38 Desse modo, a ficção
desempenharia um papel heurístico na construção do conhecimento histórico.

Os prolongamentos ou as variações imaginárias dos dados do


conhecimento engendram novas questões, conduzem a questionar os
conhecimentos adquiridos, anteriormente incontestáveis e suscitam
controvérsias que podem se revelar profícuas. Em todos esses casos,
podem ocorrer um impulso à pesquisa de novos fatos que darão
origem, assim, a novas constatações, válidas porque obtidas por meio
de procedimentos de reprodução, mas geneticamente devedores das
ficções.39

Percebo que um dos elementos importantes nesta discussão sobre a


representação e a narrativa, as relações da historiografia com a narrativa ficcional, a
capacidade do historiador em reconstruir a realidade, envolvem o problema da verdade.
Ingenuamente sempre procurei, no desenvolvimento de trabalhos de pesquisa histórica,
passar ao largo desta questão que me parecia excessivamente metafísica. Um pouco
tardiamente me dei conta de que seria um erro reduzir a questão de maneira tão drástica.

>>>>> Em Tempo de Histórias, n°. 8, 2004. 13


O livro de Vidal-Naquet40 deixa-nos em estado de alerta. Não se trata
exclusivamente de uma contraposição à construção da mentira pela manipulação das
informações, numa prática metodológica não reconhecida pelos seus pares.
Historiadores e filósofos que se ocupam mais detidamente desta discussão procuram
fazê-lo através da explicitação da relação entre sujeito e objeto do conhecimento41, e
pela diferenciação entre uma historiografia antiga e moderna. A primeira, de princípios
mais retóricos, a segunda com ‘efeitos de verdade’ baseados na citação e nas condições
concretas de comprovação das considerações produzidas pelo historiador.42
Importante destacar, para tentar concluir este texto, é que ainda há entre os
historiadores a crença justificada, e da qual compartilho, na distinção entre história e
ficção. Muitos parecem reconhecer o discurso histórico enquanto narrativo, com
possibilidades de verificação dos procedimentos que permitiram a construção daquela
narrativa. A interferência da subjetividade não anula previamente a exigência da
objetividade que se coloca sobre o historiador e o conhecimento que ele produz. A
veracidade ou plausibilidade da narrativa histórica está no arquivo, nos documentos
coligidos e criticados na instituição ou lugar de sua produção que a sanciona ou
interdita, e não nas metáforas que organizam as narrativas, portanto, a verdade está tanto
dentro do texto, quanto fora dele. Ela é desse mundo. E por fim, as considerações do
historiador são tanto mais explicativas e inteligíveis na medida em que ele mantém um
incessante diálogo e um trabalho constante de significação com a teoria social.43

1
Este texto foi apresentado originalmente como trabalho final da disciplina Seminário Avançado em
Estudos Dirigidos, ministrada pela Profa. Dra. Diva do Couto Gontijo Muniz, durante o primeiro
semestre de 2004, no Programa de Pós-Graduação em História da UNB, a quem agradeço pelas criticas,
comentários e a sugestão de envio para publicação.
2
O autor é mestre em História pela PUC/SP e doutorando em História Social pela UNB. É membro do
NIESC/UFG-CAC.
3
CALVINO, Ítalo. Cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 17-18.
4
CALVINO, Italo. O barão nas árvores. São Paulo: Companhia das Letras. 1991, p. 143.
5
A historiadora Ângela Gomes afirma que nesta apropriação teórica o historiador não é nem muito fiel,
nem muito fértil. Cf. GOMES, Ângela Maria de Castro. A reflexão teórico-metodológica dos
historiadores brasileiros: contribuições para pensar a nossa História. In: GUAZZELLI, César Augusto
Barcellos. Questões de Teoria e metodologia da história. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2000, p
19-26.
6
FOUCAULT, Michel. A verdade e o poder. In: Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979, p. 12.
Ver também DE CERTEAU, Michel. A operação histórica. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. (orgs.)
História: novos problemas. p. 17-48.
7
CHARTIER, Roger. Uma crise da história? A história entre narração e conhecimento. In:
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Fronteiras do Milênio. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2001, p.
115-140.
8
Idem, p. 118.

>>>>> Em Tempo de Histórias, n°. 8, 2004. 14


9
Idem, p. 120.
10
GINZBURG, Carlo. Sinais. Raízes de um paradigma indiciário. In:___. Mitos, emblemas e sinais.
Morfologia e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 177.
11
LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter. (org.). A escrita da história. Novas
perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992, p. 135 e ss. Ver também: VAINFAS, Ronaldo. Os protagonistas
anônimos da história: micro-história. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

12
CHARTIER, Roger. Uma crise da história? A história entre narração e conhecimento. In:
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Op. cit., p. 126
13
Idem. Uma crise da história? A história entre narração e conhecimento. In: PESAVENTO, Sandra
Jatahy. Op. cit., p. 126.
14
CARDOSO, Ciro Flamarion. MALERBA, Jurandir. (org) Representações: contribuição a um debate
transdisciplinar. Campinas/SP: Papirus, 2000, p. 9-39.
15
Idem, p. 10.
16
CHARTIER, Roger. Text, symbols, and frenchness. Journal of Modern History, n. 57, p. 682-695.
17
CARDOSO. Op.cit. p. 11
18
Idem, p. 24.
19
THOMPSON, Edward P. Patrícios e plebeus. In: ___. Costumes em comum. Estudos sobre a cultura
popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 25-85.
20
“A reciprocidade [nesse campo de força societal] dessas relações sublinha a importância das expressões
simbólicas de hegemonia e protesto no século XVIII. É por isso que tenho chamado tanto a atenção para a
noção de teatro. Claro, toda sociedade tem seu próprio tipo de teatro. Grande parte da vida política das
sociedades contemporâneas só pode ser compreendida como uma luta pela autoridade simbólica. Mas
estou indo além da afirmação de que as lutas simbólicas do século XVIII eram peculiares à época e
exigem mais estudo. Acho que o simbolismo nesse século tinha uma importância peculiar devido à
fraqueza de outros órgãos de controle: a autoridade da Igreja estava morrendo, e a autoridade da escola e
dos meios de comunicação de massa ainda não surgira. A gentry tinha quatro meios principais de controle
– um sistema de influência e promoção que mal comportava os pobres rejeitados, a majestade e o terror
da lei, o exercício local de favores e caridade, e o simbolismo de sua hegemonia. Isso representava, às
vezes, um equilíbrio social delicado, em que os governantes eram obrigados a fazer concessões. Por isso,
a briga pela autoridade simbólica pode ser vista, não como um modo de representar brigas ‘reais’
inconfessas, mas uma briga real em si.” Cf. THOMPSON, E. P. Op. cit., p. 70.
21
D’ALESSIO, Márcia Mansor. Reflexões sobre o saber histórico. Pierre Vilar, Michel Vovelle,
Madeleine Rebérioux. São Paulo: Unesp, 1998, p. 30.
22
LANGLOIS, Ch.; V. SEIGNOBOS, Ch. Introdução aos estudos históricos. São Paulo: Renascença,
1944, p. 208.
23
Idem, p. 212.
24
CHARTIER, Roger. Uma crise da história? A história entre narração e conhecimento. In:
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Op. cit., p. 131.
25
WHITE, Hayden. O texto histórico como artefato literário. In: ___. Trópicos do discurso. São Paulo:
Edusp, 1994, p. 98.
26
WHITE. O fardo da história. In: ___. Trópicos do discurso, p. 59.
27
Idem, p. 63.
28
CHARTIER, Roger. Uma crise da história? A história entre narração e conhecimento. In:
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Op. cit., p. 138
29
DE CERTEAU, Michel. A operação histórica. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. (orgs.) História:
novos problemas. p. 17-48.
30
VEYNE, Paul. O inventário das diferenças.Lisboa: Gradiva,1989.
31
VEYNE, Paul. Como se escreve a história. Brasília: Edunb, 1998, p. 18.
32
Idem, p. 23.
33
GAY, Peter. O estilo na história. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.171.
34
Idem, p. 172.
35
Idem, p. 179.
36
POMIAN, Krzysztof. Sur l’histoire. Paris: Gallimard, 1999. A tradução informal deste texto foi
distribuído entre os alunos da pós-graduação da PUC/SP pela professora Marina Maluf.
37
Idem, p. 29.

>>>>> Em Tempo de Histórias, n°. 8, 2004. 15


38
Idem, p. 68. Vejo aqui uma dificuldade em submeter a imaginação a um papel tão reduzido de preencher
lacunas. A imaginação é um dos elementos constitutivos da memória social. Desse modo, ela institui
tanto o acontecer humano, quanto sua narrativa. CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da
sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 178 e segs.
39
POMIAN. Op. Cit, p. 82.
40
VIDAL-NAQUET, Pierre. Os assassinos da memória. Campinas/SP: Papirus, 1988
41
REIS, José Carlos. História e verdade: posições. In: ___. História e Teoria. Historicismo, modernidade,
temporalidade e verdade. Rio de Janeiro: FGV, 2003, p. 147-178.
42
GINSBURG, Carlo. Apontar e citar. A verdade da história. In: Revista de História, Campinas,
Unicamp, n. 2/3, p. 91-106, 1991
43
BURKE, Peter. História e teoria social. São Paulo: Unesp, 1998. Ver também: BARREIRO, José
Carlos. E. P. Thompson e a historiografia brasileira: revisões críticas e projeções. In: Projeto História:
Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da PUC-
SP. São Paulo, Educ, p. 57-76, 1981; CARNEIRO, Maria Elizabeth Ribeiro. Procuram-se Amas de leite
na historiografia da escravidão: da ‘suavidade do leite preto’ ao ‘fardo’ do homem branco. In: Em tempo
de Histórias: Repensando o conhecimento histórico. Revista dos alunos da pós-graduação UNB. Brasília,
v. 5, n. 5, p. 29-64, 2001.

>>>>> Em Tempo de Histórias, n°. 8, 2004. 16

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