INTRODUÇÃO À

BIBLIOTECONOMIA
Ciência da Informação

PROF. JOÃO PAULO BORGES DA SILVEIRA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL (UCS)

CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

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A Ciência da Informação enquanto campo do conhecimento tem sua
origem a partir da revolução técnica e científica originada após a Segunda
Guerra Mundial, no qual o desenvolvimento constante e essencial da ciência
produziu um grande número de documentos e publicações científicas,
oriundas da necessidade de desenvolvimento de novos armamentos e de
reconstrução dos países e regiões atingidas pela guerra.
Passou-se a considerar, portanto, a informação como um insumo
estratégico para o desenvolvimento de todas as esferas da sociedade, em
especial para a ciência e a tecnologia. Contudo, Oliveira (2011, p. 15) pontua
que “[...] a Ciência da Informação é um campo cientifico recente, e, portanto,
ainda em construção” e que tem se adaptado aos rumos e novos anseios
sociais, reformulando suas agendas de pesquisas e de ações práticas em
torno da informação, buscando ofertar respostas a partir de produtos e
serviços que contribuam com a sociedade global.
Sobre o contexto de surgimento da Ciência da Informação, Pinheiro e
Loureiro (1995) apontam que o capitalismo foi um grande propulsor da área,
contribuindo (incluindo financeiramente) com o desenvolvimento da ciência e
da tecnologia, assim como a especialização das ciências e a explosão
informacional ocasionada pelo crescimento tecnológico. Ainda para os
autores: “A denominada explosão da informação caracterizou esse momento,
em que a informação se torna basilar para o progresso econômico, ancorado
no binômio ciência e tecnologia” (PINHEIRO; LOUREIRO, 1995, p. 1) e passa
a ser ambicionada cada vez mais por governos e empresas, enquanto valor e
poderia estratégico para o progresso financeiro e social.
Historicamente, o termo Ciência da Informação começa a ser utilizado
no início da década de 1960, em eventos promovidos pela Georgia Institute of
Technology, dos Estados Unidos, no qual se reuniam cientistas e
pesquisadores para discorrer sobre o desenvolvimento das tecnologias da

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informação e da comunidação e a sua consequente influência no crescimento

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da produção e publicação científica (FREIRE, 2006).
Um dos conceitos mais tradicionais para a Ciência da Informação foi
cunhado por Borko (1968, p. 3 apud SANTOS; RODRIGUES, 2014, p. 93) e
até hoje é utilizado para literatura científica da área. O referido autor afirma
que a Ciência da Informação é a “Ciência interdisciplinar que estuda as
propriedades e o comportamento da informação, as forças que governam seu
fluxo e os meios de processá-la para otimizar sua acessibilidade e uso”, ou
seja, do seu ‘nascimento’ ao seu uso, passando por todos os processos de
seu tratamento e organização.
Para Saracevic (1996), três são as caraterísticas gerais que delineiam a
área Ciência da Informação, quanto a sua razão, existência e evolução, que
seriam:

a) natureza interdisciplinar por meio das trocas de saberes

com outras áreas;

b) empoderamento tecnológico, que impulsiona a Ciência

da Informação na chamada ‘sociedade da informação’; e,

c) participação ativa com dimensão social e humana, além

da tecnológica, na evolução da sociedade da informação.

Duas vertentes se mostram muito forte em relação à construção da

Ciência da Informação, a questão social e a interdisciplinaridade, como já
citadas. No olhar de Le Coadic, a Ciência da Informação “[...] preocupada em
esclarecer um problema social concreto, o da informação, e voltada para o ser
social que procura informação situa-se no campo das ciências sociais [...], que
são o meio principal de acesso a uma compreensão do social e da cultura”
(2004, p. 19), que permeia e se entrelaça com diferentes questões envoltas
na sociedade por meio da informação.

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 Segundo Le Coadic (2004, p. 20), “[...] a ciência da informação é uma

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das novas interdisciplinas, um desses novos campos de conhecimentos onde
colaboram entre si” diversas ciências. Entre os conhecimentos que
colaboraram com a Ciência da Informação, o autor aponta: Psicologia,
Linguística, Sociologia, Informática, Matemática, Estatística, Lógica,
Economia, Direito, Ciências Políticas, Comunicação, Filosofia, História e
Epistemologia, muitas desses campos também dialogam e influenciam a
Biblioteconomia, como veremos nas próximas aulas.
Da mesma forma, profissionais de diversas áreas, como as já citadas,
colaboraram com seus conhecimentos para o desenvolvimento da Ciência da
Informação. Souza e Dias (2011, p. 58), enfatizam bem essas relações entre
as disciplinas e seus profissionais:

No campo da ciência da informação, ela se compõe, desde sua

origem, de um conjunto de profissionais originários de
diferentes áreas do conhecimento, dentre eles administradores,
bibliotecários, cientistas da computação, documentalistas,
engenheiros e tecnólogos, que vêm se dedicando aos estudos,
pesquisas e atividades relacionados à informação, seus
processos e suas tecnologias.

A ênfase geral da Ciência da Informação, de acordo com Oliveira (2011,

p. 13) deve-se:

[...] ao seu esforço para enfrentar os problemas de

organização, crescimento e disseminação do conhecimento
registrado, que vem ocorrendo em proporções geométricas,
desde logo após a Segunda Grande Guerra Mundial. Nesse
sentido, a Ciência da Informação nasceu para resolver um
grande problema, que foi também a grande preocupação tanto
da Documentação quando da Recuperação da Informação, que
é o de reunir, organizar e tornar acessível o conhecimento
cultural, científico e tecnológico produzido em todo o mundo.

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 Ortega (2004) aponta que a Ciência da Informação teve impulso pelo

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crescente e intenso desenvolvimento das tecnologias da informação e
comunicação, as quais foram utilizadas para resolverem problemas antigos da
Documentação, ou melhor dizendo, questões que segundo alguns/mas
pesquisadores/as, até então a Biblioteconomia e a Documentação não haviam
conseguido resolver ou mesmo, em virtude dos avanços tecnológicos de cada
época e que permitiam diferentes olhares sobre a gestão da informação, por
exemplo.
Para a autora, a Ciência da Informação teve fortes influências da área
da Documentação, mesmo sempre buscando uma forma de se desvencialiar
desta, objetivando tornar-se como uma área nova, sem reconhecer em partes,
os estudos e pesquisas já realizados na Europa referentes à Documentação e
claro, também na Biblioteconomia.
Uma das passagens do excelente texto de Ortega (2004, p. 8), o qual
vocês irão ler ao longo da disciplina na disciplina, menciona que “[...] o
principal elemento [para a Ciência da informação] foi a presença de indivíduos
voltados à tecnologia e de fora da Biblioteconomia, que estavam procurando
conduzir a nova tecnologia eletrônica para resolver velhos problemas”. Fica
então evidente que o fortalecimento da Ciência da Informação se alicerçou em
bases já consolidades e a partir do uso das tecnologias informacionais e
comunicacionais que começam a surgir no período de seu desenvolvimento
enquanto campo científico.
Houve em um primeiro momento, uma tomada de distanciamento
dos/as bibliotecários/as em relação à Ciência da Informação, que ficou sob-
responsabilidade de engenheiros/as, principalmente. O diálogo com os/as
bibliotecários/as só foi retomado pela década de 1970, quando começou a
ceder o embate entre a Biblioteconomia e a Ciência da Informação,
percebendo-se que as áreas poderiam trabalhar juntas em prol da gestão da
informação, utilizando-se de tecnologias e técnicas já desenvolvidas por
ambos os campos.

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 O que se sabe e o que se tem no Brasil é o avanço dos estudos sobre a

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Ciência da Informação, sua base epistemiológica, seus campos de
abrangência e atuação, o perfil do/a profissional ‘cientista da informação’, bem
como as relações da área com outras áreas.
A institucionalização da Ciência da Informação no Brasil praticamente
se restringe ao campo da pesquisa, em especial nos prógramas de pós-
graduação nessa área, muitos oriundos dos programas até então na área ou
com a nomenclatura em Biblioteconomia, como veremos ao longo da
disciplina.
Não está estabelecido no país o/a profissional ‘cientista da informação’,
o que há são profissionais com formações em diversas áreas, com ou não
cursos na área da Ciência da Informação e que atuam com a informção, tendo
por base alguns dos pressupostos da Ciência da Informação, como por
exemplo, a recuperação da informação por meio das tecnologias de
informação e comunicação, atividades também desenvolvidas pelos/as
bibliotecários/as.
A Ciência da Informação ainda está se consolidando e está em pleno
desenvolvimento, mas ainda carece de bases sólidas para ser considerada
uma ciência em si, muito em parte da interdisciplinariedade prominiente que
carrega, e da mesma forma, pela carência de uma atividade-fim específica,
em outras palavras, atividades que somente um ‘cientista da informação’
podeia ou deveria executar.
Talvez a real missão da Ciência da Informação seja em colaborar com
outras áreas do conhecimento, como a Biblioteconomia e a área da
Computação, por exemplos, dialogando, promovendo e aperfeiçoando
debates e repensando as atividades promovidas pelas outras áreas, como no
processamento, gerenciamento, armazenamento, disseminação e e uso da
informação, com forte tendência à utilização das tecnologia para suas
execuções e seus fins.

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Referências

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FREIRE, Gustavo Henrique. Ciência da informação: temática, histórias e
fundamentos. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v.
11 n. 1, p. 6-19, jan./abr. 2006. Disponível em:
http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/442.

OLIVEIRA, Marlene de. Origens e evolução da Ciência da Informação. In:

OLIVEIRA, Marlene de (Org.). Ciência da Informação e Biblioteconomia:
novos conteúdos e espaços de atuação. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2011. p.
9-27.

ORTEGA, Cristina Dotta. Relações históricas entre Biblioteconomia,

Documentação e Ciência da Informação. DataGramaZero: Revista de Ciência
da Informação, Rio de Janeiro, v. 5, n. 5, out. 2004. Disponível em:
http://www.dgz.org.br/out04/Art_03.htm.

PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro; LOUREIRO, José Mauro Matheus. Traçados

e limites da Ciência da Informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 24, n.
1, p. 1-19, 1995. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/609.

SANTOS, Ana Paula Lima dos; RODRIGUES, Mara Eliane Fonseca. Ciência
da Informação: demarcação teórico-disciplinar e as interações
interdisciplinares com a Biblioteconomia. TransInformação, Campinas, v. 26,
n. 1, p. 91-100, jan./abr., 2014. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/tinf/v26n1/a09.pdf.

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Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 41-62,
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disciplinar na Ciência da Informação. Os não-ditos sobre essa familiar
desconhecida. Ciência da Informação, Brasília, v. 40, n. 1, p. 52-67,
jan./abr., 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v40n1/a04v40n1.pdf.

Como citar este documento:

SILVEIRA, João Paulo Borges da. Ciência da Informação. Caxias do Sul:

[s. n.], 2023. Material didático não publicado. 06 p.

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