Circ Tec 183
Circ Tec 183
Circ Tec 183
CIRCULAR TÉCNICA
Eficiência de fungicidas para o controle
das doenças de final de ciclo da
183
soja, na safra 2021/2022: Resultados
sumarizados dos ensaios cooperativos
Cláudia Vieira Godoy, Carlos Mitinori Utiamada, Maurício Conrado Meyer, Hercules
Diniz Campos, Ivani de Oliveira Negrão Lopes, Ana Cláudia Ruschel Mochko,
Alexsandro de Farias, Ariel Muhl, Alana Tomen, Alfredo Riciere Dias, Diego Sichocki,
Fabíola Teresinha Konageski, Ivan Pedro Araújo Júnior, João Mauricio Trentini Roy,
João Carlos Bonani, José Nunes Junior, Karla Kudlawiec, Luiz Nobuo Sato, Luís Antônio
de Sousa Lima, Marcos Vinícios Garbiate, Maurício Silva Stefanelo, Mônica Anghinoni
Müller, Mônica Cagnin Martins, Nédio Rodrigo Tormen, Tiago Fernando Konageski
Londrina, PR
Julho, 2022
2 Circular Técnica 183
Sintomas da mancha-parda ou septoriose podem aparecer cerca de duas semanas após a emergência, como
pequenas pontuações ou manchas de contornos angulares, castanho-avermelhadas, nas folhas unifolioladas. Em
situações favoráveis, a doença pode atingir as primeiras folhas trifoliadas e causar desfolha. A presença de palha
reduz a incidência da mancha-parda pela redução do impacto das gotas de chuva no solo e menor dispersão do
inóculo para as folhas primárias (Almeida et al., 2019).
Cercospora kikuchii era a espécie conhecida como causadora do crestamento, mais recentemente outras espécies
têm sido associadas à doença, como C. cf. flagellaris e C. cf. sigesbeckiae (Soares et al., 2015). Os sintomas podem
ocorrer em folhas, pecíolos, hastes, vagens e sementes. Nas folhas, os sintomas são caracterizados por pontuações
escuras, castanho-avermelhadas, com bordas irregulares, as quais coalescem e formam grandes manchas escuras
que resultam em crestamento e desfolha prematura, iniciando pelas folhas do terço superior da planta. Também pode
ser observada necrose nas nervuras das folhas. Nas hastes e nos pecíolos, o fungo causa manchas avermelhadas,
geralmente superficiais. Nas vagens, aparecem pontuações vermelhas que evoluem para manchas castanho-
avermelhadas (Ward-Gauthier et al., 2015). Através da vagem, o fungo atinge a semente e causa a mancha-púrpura
no tegumento. A coloração das manchas do crestamento de Cercospora é dada pela toxina cercosporina produzida
pelo fungo, que é ativada pela luz, produzindo espécies reativas de oxigênio, causando extravasamento do conteúdo
celular, o que causa a morte celular. Os sintomas do crestamento foliar de Cercospora são mais comuns no final do
ciclo e uma das razões é a relação da produção de cercosporina pelo fungo com a produção de açúcares simples
na planta (Zivanovic et al., 2021).
As duas doenças podem ocorrer de forma isolada ou simultânea. O dano principal é a desfolha antecipada, que é
menos severa que a causada pela ferrugem-asiática. Quando há incidência de ferrugem, a competição pelo tecido
foliar dificilmente permite que ocorram as DFC, uma vez que a ferrugem desfolha a planta antes da incidência
dessas doenças.
Mesmo com a intensa utilização de fungicidas na cultura, tem havido reclamações de falha de controle das DFC,
percebida muitas vezes pela ocorrência da mancha púrpura nos grãos/ sementes e coloração castanho-avermelhada
das folhas nas semeaduras iniciais. Isso pode estar associado à redução da sensibilidade do fungo aos fungicidas.
1
Cláudia Vieira Godoy, engenheira-agrônoma, doutora, Embrapa Soja, Londrina, PR; Carlos Mitinori Utiamada, engenheiro-agrônomo,
TAGRO, Londrina, PR; Maurício Conrado Meyer, engenheiro-agrônomo, doutor, Embrapa Soja, Londrina, PR; Hercules Diniz Campos,
engenheiro-agrônomo, doutor, UniRV, Rio Verde, GO; Ivani de Oliveira Negrão Lopes, matemática, doutora, Embrapa Soja, Londrina, PR;
Ana Cláudia Ruschel Mochko, engenheira-agrônoma, doutora, Fundação MS, Maracaju, MS; Alexsandro de Farias, engenheiro-agrônomo,
especialista em proteção de plantas, ALX Farias Agro Pesquisa, Porto Nacional, TO; Ariel Muhl, engenheiro-agrônomo, Centro de Pesquisa
Agrícola Copacol, Cafelândia, PR; Alana Tomen, engenheira-agrônoma, mestre, Proteplan Pesquisa e Assessoria Agrícola Ltda., Sorriso, MT;
Alfredo Riciere Dias, engenheiro-agrônomo, mestre, Desafios Agro, Chapadão do Sul, MS; Diego Sichocki, engenheiro-agrônomo, mestre,
Meta Consultoria Agrícola, Canarana, MT; Fabíola Teresinha Konageski, engenheira-agrônoma, Rural Técnica Experimentos, Querência,
MT; Ivan Pedro Araújo Júnior, engenheiro-agrônomo, Proteplan Pesquisa e Assessoria Agrícola Ltda., Sorriso, MT; João Mauricio Trentini
Roy, engenheiro-agrônomo, Centro de Pesquisa Agrícola Copacol, Cafelândia, PR; João Carlos Bonani, engenheiro-agrônomo, Coamo,
Campo Mourão, PR; José Nunes Junior, engenheiro-agrônomo, doutor, Centro Tecnológico para Pesquisas Agropecuárias - CTPA, Goiânia,
GO; Karla Kudlawiec, engenheira-agrônoma, doutora, Fundação Mato Grosso, Rondonópolis, MT; Luiz Nobuo Sato, engenheiro-agrônomo,
TAGRO, Londrina, PR; Luís Antônio de Sousa Lima, engenheiro-agrônomo, Meta Consultoria Agrícola, Canarana, MT; Marcos Vinícios
Garbiate, engenheiro-agrônomo, Coamo, Campo Mourão, PR; Maurício Silva Stefanelo, engenheiro-agrônomo, mestre, Ceres Consultoria
Agronômica, Primavera do Leste, MT; Mônica Anghinoni Müller, engenheira-agrônoma, doutora, Fundação Mato Grosso, Rondonópolis, MT;
Mônica Cagnin Martins, engenheira-agrônoma, doutora, Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa, Luís Eduardo Magalhães, BA;
Nédio Rodrigo Tormen, engenheiro-agrônomo, doutor, Instituto Phytus, Planaltina, DF; Tiago Fernando Konageski, engenheiro-agrônomo,
Rural Técnica Experimentos Agronômicos Ltda., Querência, MT.
Eficiência de fungicidas para o controle das doenças de final de ciclo da soja, na safra 2021/2022: Resultados 3
sumarizados dos ensaios cooperativos
Isolados de Cercospora spp. com a mutação G143A priorizando sempre a rotação de fungicidas com
no citocromo b e E198A na β tubulina, que conferem diferentes modos de ação, adequando o manejo à época
resistência a fungicidas inibidores da quinona externa de semeadura, à cultivar, ao tamanho da propriedade
(IQe - estrobilurina) e metil benzimidazol carbamato e à logística de aplicação, às condições climáticas e à
(MBC), respectivamente, foram encontrados em nove incidência de doenças na região e na propriedade.
estados do Brasil, a partir de 2008 (Mello et al., 2021),
O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados
mas ainda há poucos trabalhos de monitoramento de
sumarizados dos experimentos realizados na safra
resistência para essa doença.
2021/2022, para controle das doenças de final de ciclo
Ensaios para comparação da eficiência de fungicidas na cultura da soja.
no controle das DFC vêm sendo conduzidos na
rede de experimentos cooperativos desde a safra
2020/2021. Para isso são utilizadas aplicações iniciais Material e Métodos
calendarizadas com fungicidas únicos e os fungicidas
Foram instalados 19 experimentos na safra 2021/2022
para comparação são aplicados a partir de R4, em
por 17 instituições (Tabela 1). A lista de tratamentos
aplicações sequenciais. No entanto, isso não constitui
(Tabela 2), o delineamento experimental e as avaliações
uma recomendação de controle. As informações
foram definidos por protocolo único, permitindo a
devem ser utilizadas dentro de um sistema de manejo,
sumarização conjunta dos experimentos.
Como o objetivo do experimento foi avaliar a eficiência (difenoconazol 75 g i.a./ha) para locais que tivessem
dos fungicidas no final do ciclo, foi realizada uma alta incidência de doenças no início do ciclo, mas
aplicação aos 50 dias após a semeadura com Fox Xpro nenhum dos locais realizou essa aplicação. Além da
0,5 L/ha (bixafen + protioconazol + trifloxistrobina 62,5 testemunha absoluta, sem fungicida, foi incluída uma
+ 87,5 + 75 g i.a./ha) + Áureo 0,25% v/v em todos os testemunha com a aplicação do tratamento inicial com
tratamentos, menos na testemunha absoluta (T1). Fox Xpro 0,5 L/ha (T2). As aplicações dos tratamentos
Foi dada a opção de realização de aplicação aos 30 para controle das doenças no final do ciclo foram
dias após a emergência com Prisma Plus 0,3 L/ha realizadas em R4 e R5.3 (Fehr; Caviness, 1977).
4 Circular Técnica 183
Os fungicidas avaliados contêm ingredientes ativos sendo a primeira aplicação realizada com Vessarya 0,6
que pertencem aos grupos: inibidores da desmetilação L/ha (picoxistrobina + benzovindiflupir 60 + 30 g i.a./
- IDM (difenoconazol, protioconazol, ciproconazol ha) + Unizeb Gold 1,5 kg/ha (mancozebe 1.125 g i.a./
e tebuconazol), inibidores de quinona externa - ha) e a segunda com Cypress 0,3 L/ha (difenoconazol
IQe (azoxistrobina e picoxistrobina), inibidores da + ciproconazol 75 + 45 g i.a./ha) + Previnil 1,5 L/ha
succinato desidrogenase - ISDH (benzovindiflupir e (clorotalonil 1.080 g i.a./ha).
fluindapir), isoftalonitrila (clorotalonil) e ditiocarbamato
Com exceção dos fungicidas Previnil (T4) e do
(mancozebe). Foram avaliados fungicidas com
biofungicida Bombardeiro que apresentam registro
formulados com isoftalonitrila isolada (T4), em misturas
somente para S. glycines e Evolution (T6) que apresenta
de isoftalonitrila + ISDH (T5), ditiocarbamato + IQe + IDM
registro para C. kikuchii, os demais tratamentos (Tabela
(T6 e T7), ditiocarbamato e um (T8) e dois IDMs (T9).
2) apresentam registro experimental temporário (RET
O tratamento 3 foi formado por um biofungicida com
III). Os fungicidas Vessarya, Cypress e Unizeb Gold
três espécies de Bacillus (B. subtilis, B. velezensis e B.
utilizados no Programa (T10) apresentam registro para
pumilus).
as duas doenças.
O programa (T10) foi realizado com fungicidas
sistêmicos em mistura com multissítios em rotação,
Tabela 2. Ingrediente ativo (i.a.), produto comercial (p.c.) e dose dos fungicidas nos tratamentos para controle das
doenças de final de ciclo. Fox Xpro aplicado aos 50 dias após a semeadura (DAS) em todos os tratamentos, menos
na testemunha absoluta (T1). Safra 2021/2022.
DOSES
Época de
TRATAMENTOS p.c. i.a. aplicação
(L - kg/ha) (g/ha)
1. Testemunha - - -
2. Testemunha com Fox Xpro aos 50 DAS - - 50 DAS
3. BOMBARDEIRO (Bacillus subtilis, B. velezensis e B. pumilus) 0,4 1 x 10 12
50 DAS /R4/R5.3
4. PREVINIL (clorotalonil) 1,5 1.080 50 DAS /R4/R5.3
8. PNR 3, 4
(mancozebe + difenoconazol + ciproconazol) 3,0 1.290 + 75 + 60 50 DAS /R4/R5.3
10. PROGRAMA 5
- - 50 DAS /R4/R5.3
1
Adicionado X3P15 200 mL/ha; 2Adicionado Strides 0,25% v/v; 3Adicionado Aureo 0,25% v/v; 4Registro Experimental Temporário (RET) III; 5PROGRAMA: Vessarya
0,6 L/ha (picoxistrobina + benzovindiflupir 60 + 30 g i.a./ha) + Unizeb Gold 1,5 kg/ha (mancozebe 1.125 g i.a./ha) / Cypress 0,3 L/ha (difenoconazol + ciproconazol
75 +45 g i.a./ha) + Previnil 1,5 L/ha (clorotalonil 1.080 g i.a./ha).
O delineamento experimental foi blocos ao acaso com As áreas para instalação dos experimentos foram
quatro repetições, sendo cada repetição constituída semeadas no início da época recomendada, para
de parcelas com, no mínimo, seis linhas de cinco reduzir a probabilidade de incidência da ferrugem-
metros. As aplicações de Fox Xpro iniciaram-se no pré- asiática. Foram realizadas avaliações da severidade
fechamento das linhas, aos 51 dias (± 3 dias) (V7 - R3) de todas as doenças que ocorreram nos ensaios e
após a semeadura (DAS). O intervalo entre a primeira da produtividade em área mínima de 5 m2 centrais de
e a segunda aplicação foi de 16 dias (± 4 dias) e entre a cada parcela. Para a análise conjunta, foram utilizadas
segunda e a terceira aplicação foi de 15 dias (± 3 dias). as avaliações da severidade das DFC, estimadas com
Para a aplicação dos produtos foi utilizado pulverizador auxílio de escala diagramática (Martins et al., 2004),
costal pressurizado com CO2 e volume de aplicação realizadas entre os estádios fenológicos R6 (vagem
mínimo de 120 L/ha.
Eficiência de fungicidas para o controle das doenças de final de ciclo da soja, na safra 2021/2022: Resultados 5
sumarizados dos ensaios cooperativos
contendo grão verde preenchendo as cavidades da severidade de outras doenças além das DFC, como
vagem de um dos 4 últimos nós do caule, com folha ferrugem (9, 15 e 16) e mancha-alvo (5, 9 e 15). A
completamente desenvolvida) e R7 (uma vagem normal produtividade dos experimentos 5, 9, 15 e 16 não foi
no caule com coloração de madura) (Fehr; Cavinness, utilizada na sumarização pelo maior dano causado por
1977) e da produtividade. essas doenças. Dos 16 experimentos, em 4 locais (1, 8,
15 e 16) foi relatada a avaliação de crestamento foliar de
Os dados de severidade e de produtividade
Cercospora e 1 local (3) de mancha-parda. Os demais
foram analisados inicialmente para cada local (L),
locais relataram a avaliação da severidade como DFC.
considerando-se os efeitos fixos de tratamento (T) e
Para a análise conjunta foram consideradas todas as
bloco (B). Em cada caso, foram ajustados dois modelos
avaliações como DFC, sem distinção entre as doenças.
de análise de variância, assumindo-se a distribuição
normal ou gama. Essa última não pressupõe A severidade das DFC nos experimentos dos locais 3,
homogeneidade entre variâncias de tratamentos, tendo 9, 10, 11 e 14 (Tabela 1) foi menor que 20%, sendo os
sido adotada sempre que a distribuição normal não experimentos 10, 11 e 14 realizados em Mato Grosso
forneceu um bom ajuste. do Sul que teve chuvas abaixo da média em dezembro
e janeiro. Esses experimentos foram eliminados da
Para os dados de produtividade, o modelo estatístico
análise conjunta, porém estão apresentados no Anexo
da análise conjunta considerou os efeitos fixos T e B(L),
I.
efeito aleatório TL e efeito aleatório do tipo resíduo de
L. Para a severidade das DFC, adotou-se o modelo Para a análise conjunta da severidade foram
com efeitos fixos de B(L), T, L, TL e efeito aleatório considerados os experimentos dos locais 1, 2, 4, 5, 6,
do tipo resíduo de L. Considerar local como efeito 7, 8, 12, 13, 15 e 16 e para produtividade os locais 1, 2,
aleatório do tipo resíduo é fundamental para acomodar 4, 6, 7, 8, 12 e 13 (Tabela 1). O intervalo médio entre a
a heterogeneidade de variâncias residuais entre locais, última aplicação e a avaliação da severidade foi de 16
visto que a matriz de variâncias e covariâncias residuais dias (±7).
gerada é uma diagonal com variâncias residuais
A severidade das DFC na testemunha absoluta (T1),
estimadas condicionalmente a cada local. Ambos os
sem fungicida, foi superior a testemunha que recebeu
modelos produziram resíduos aleatórios, independentes
aplicação do fungicida Fox Xpro aos 50 DAS (T2). A
(verificados graficamente) e normalmente distribuídos,
porcentagem de controle foi calculada em relação a
de acordo com o teste de normalidade de Shapiro-
testemunha com a aplicação aos 50 DAS, uma vez
Wilk (p=0,7077 para produtividade e p= 0,3973 para
que todos os demais tratamentos também receberam
a severidade das DFC). As médias foram comparadas
essa aplicação. As menores severidades e maiores
pelo teste de comparações múltiplas de Tukey (p≤0,05).
porcentagens de controle foram observadas para
Todas as análises foram realizadas no sistema SAS/
os tratamentos com Evolution (T6), mancozebe +
STAT software (SAS, 2016), tendo sido utilizados os
difenoconazol (T9), para o programa com rotação
procedimentos sgplot (gráficos) e glimmix (estimação
de fungicidas (T10), mancozebe + azoxistrobina +
de modelos e teste de comparações múltiplas de
tebuconazol (T7), mancozebe + difenoconazol +
médias).
ciproconazole (T8) e clorotalonil + fluindapir (T5), todos
com controle ≥ 30% em relação à testemunha com Fox
Resultados Xpro aos 50 DAS (T2) (Tabela 3). Nos experimentos
da safra 2019/2020, o maior controle foi observado
Na safra 2021/2022, ocorreram chuvas regulares no com Previnil (54%) (Godoy et al., 2021), superior ao
mês de outubro favorecendo a semeadura das lavouras controle observado nos experimentos nessa safra
na época normal, porém, na região Sul e em Mato (27%). A hipótese para o menor controle em relação à
Grosso do Sul, as chuvas foram abaixo da média de safra anterior é o maior volume de chuvas que ocorreu
novembro de 2021 a janeiro de 2022, desfavorecendo o nas regiões em que foram conduzidos os experimentos
desenvolvimento da cultura e a evolução das doenças. que pode ter influenciado o residual de clorotalonil, que
foi o único multissítio utilizado de forma isolada.
Nos experimentos dos locais 17 e 18 (Tabela 1) não
houve incidência de doenças de final de ciclo e do A calendarização das aplicações por estádio
local 19 a soja não desenvolveu pelo estresse hídrico. fenológico (R4 e R5.3) não aumentou a porcentagem
Nos experimentos dos locais 5, 9, 15 e 16 houve alta de controle em relação aos experimentos realizados
6 Circular Técnica 183
na safra 2019/2020, com aplicações fixas a cada 14 Embora as DFC sejam comuns na soja nas semeaduras
dias. Mesmo com a calendarização das aplicações iniciais, onde há menor ocorrência de ferrugem-
por estádio fenológico, a avaliação de severidade foi asiática, é importante o agricultor/ técnico observar o
realizada longe da última aplicação (média 16 dias ± 7 histórico da área e a ocorrência de outras doenças,
dias), uma vez que a incidência das DFC ocorre entre conhecer a reação das cultivares, manter uma boa
R6 e R7, o que pode ter influenciado o baixo controle. cobertura com palha para reduzir o impacto das
gotas de chuva e dispersão de inóculo para as folhas
Para a produtividade, todos os tratamentos diferiram da
primárias, para fazer um manejo racional das manchas
testemunha absoluta (T1). Os únicos tratamentos que
foliares, utilizando fungicidas com eficiência conhecida
apresentaram produtividade superior a testemunha
quando necessário. Mesmo nas semeaduras iniciais,
com aplicação de Fox Xpro (T2) foram mancozebe
vários experimentos tiveram incidência de outras
+ difenoconazol (T9 - 4.688 kg/ha), mancozebe +
doenças como mancha-alvo, ferrugem-asiática, mofo-
azoxistrobina + protioconazol (T6 - 4.646 kg/ha) e o
branco e oídio e todas devem ser consideradas no
programa com rotação de fungicidas (T10 - 4.626 kg/
programa de manejo de doenças para evitar redução
ha). A redução de produtividade da testemunha sem
de produtividade.
fungicida em relação ao tratamento com mancozebe +
difenoconazol (T9) foi de 14,7%.
Tabela 3. Severidade das doenças de final de ciclo, porcentagem de controle em relação à testemunha com as
aplicações iniciais (T2) (%C), produtividade (PROD) e porcentagem de redução de produtividade (%RP) em relação
ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos. Fox Xpro 0,5 L/ha + Áureo 0,25% v/v
aplicado aos 50 dias após a semeadura (DAS) em todos os tratamentos, menos na testemunha absoluta (T1). Média
de 11 experimentos para severidade (locais 1, 2, 4, 5, 6, 7, 8, 12, 13, 15 e 16) e oito experimentos para produtividade
(locais 1, 2, 4, 6, 7, 8, 12 e 13). Safra 2021/2022.
DOSES
TRATAMENTOS L-kg SEV (%) %C PROD (kg/ha) %RP
p.c./ha
1. Testemunha - 37,1 A 4.001 C 14,7
Fungicidas com eficiência conhecida devem ser ao tamanho da propriedade e à logística de aplicação,
utilizados dentro de um manejo racional, priorizando às condições climáticas e à incidência de doenças na
sempre a rotação com diferentes modos de ação e região e na propriedade.
adequando o manejo à época de semeadura, à cultivar,
Eficiência de fungicidas para o controle das doenças de final de ciclo da soja, na safra 2021/2022: Resultados 7
sumarizados dos ensaios cooperativos
Referências
SAS. SAS/STAT software. versão 9.4. Cary: SAS Institute Inc.,
ALMEIDA, A. M. R.; SIBALDELLI, R. N. R.; LOPES, I. de O.
c2016.
N.; OLIVEIRA, M. C. N. de; FARIAS, J. R. B. Horizontal and
vertical droplet dispersion mimicking soybean - Septoria glycines
SEIXAS, C. D. S.; SOARES, R. M.; GODOY, C. V.; MEYER, M.
pathosystem. European Journal of Plant Pathology, v. 154, p.
C.; COSTAMILAN, L. M.; DIAS, W. P.; ALMEIDA, A. M. R. Manejo
437-443, 2019. DOI: 10.1007/s10658-019-01667-5.
de doenças. In: SEIXAS, C. D. S.; NEUMAIER, N.; BALBINOT
JUNIOR, A. A.; KRZYZANOWSKI, F. C.; LEITE, R. M. V. B. de C.
FEHR, W. R.; CAVINESS, C. E. Stages of soybean development.
(ed). Tecnologias de produção de soja. Londrina: Embrapa Soja,
Ames: Iowa State University of Science and Technology, 1977. 11 p.
2020. p. 227-264. (Embrapa Soja. Sistema de Produção, 17)
(Special report, 80).
SINCLAIR, J. B. Latent infection of soybean plants and seeds by
GODOY, C. V.; UTIAMADA, C. M.; MEYER, M. C.; CAMPOS,
fungi. Plant Disease, v. 75, p. 220-224, 1991.
H. D.; LOPES, I. de O. N.; TOMEN, A.; DIAS, A. R.; SICHOCKI,
D.; KONAGESKI, F. T.; ARAUJO JUNIOR, I. P.; BONANI, J. C.;
SOARES, A. P. G.; GUILLIN, E. A.; BORGES, L. L.; SILVA, A. C.
NUNES JUNIOR, J.; SATO, L. N.; LIMA, L. A. S.; GARBIATE,
T. da; ALMEIDA, A. M. R.; GRIJALBA, P. E.; GOTTLIEB, A. M.;
M. V.; STEFANELO, M. S.; MULLER, M. A.; MARTINS, M. C.;
BLUHM, B. H.; OLIVEIRA, L. O. de. More Cercospora species infect
KONAGESKI, T. F.; CARLIN, V. J. Eficiência de fungicidas para
soybeans across the Americas than meets the eye. Plos One, v. 10,
o controle das doenças de final de ciclo da soja, na safra
n. 8, e0133495, 2015.
2020/2021: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos.
Londrina: Embrapa Soja, 2021. 7 p. (Embrapa Soja. Circular WARD-GAUTHIER, N. A.; SCHNEIDER, R. W.; CHANDA, A.;
Técnica, 176). SILVA, E. C.; PRICE III, P. P.; CAI, G. Cercospora leaf blight and
purple seed stain. In: HARTMAN, G. L.; RUPE, J. C.; SIKORA, E. J.;
MARTINS, M. C.; GUERZONI, R. A.; CÂMARA, G. M. S.;
DOMIER, L. L.; DAVIS, J. A.; STEFFEY, K. L. (ed.). Compendium
MATTIAZZI, P.; LOURENÇO, S. A.; AMORIM, L. Escala
of soybean diseases and pests. 5th ed. Saint Paul: APS Press,
diagramática para a quantificação do complexo de doenças foliares
2015. p. 37-41.
de final de ciclo em soja. Fitopatologia Brasileira, v. 29, n. 2, p.
179-184, 2004. ZIVANOVIC, M.; WARD, B.; PRICE, P. P.; CHEN, Z. Y. Elucidation
of factors contributing to onset of Cercospora leaf blight during later
MELLO, F. E. de; LOPES-CAITAR, V. S.; PRUDENTE, H.; XAVIER-
reproductive development of soybean. Plant Pathology, v. 70, p.
VALENCIO, S. A.; FRANZENBURG, S.; MEHL, A.; MARCELINO-
2074-2085, 2021.
GUIMARAES, F. C.; VERREET, J. A.; BALBI-PEÑA, M. I.; GODOY,
C. V. Sensitivity of Cercospora spp. from soybean to quinone
outside inhibitors and methyl benzimidazole carbamate fungicides
in Brazil. Tropical Plant Pathology, v. 46, p. 69-80, 2021. DOI:
10.1007/s40858-020-00410-4.
8 Circular Técnica 183
ANEXO I: Resultados das análises dos dados de cada instituição (Tabela 1) do protocolo de doenças de
final de ciclo. TRAT (Tratamentos - Tabela 2), SEV (severidade entre R6 e R7), porcentagem de controle em
relação ao tratamento testemunha com aplicação de Fox Xpro (TRAT 2) (%C), PROD (produtividade) e EP (erro
padrão da média). Fox Xpro 0,5 L/ha + Áureo 0,25% v/v aplicado aos 50 dias após a semeadura (DAS) em todos os
tratamentos, menos na testemunha absoluta (TRAT 1).
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05); n.s. diferença não significativa; *variâncias heterogêneas.
15. Fundação MT, Pedra Preta, MT 16. Fundação MT, Primavera do Leste, MT
TRAT SEV % %C PROD (kg/ha) TRAT SEV % %C PROD (kg/ha)
1 43,8 a 4.586 b 1 47,3 a 1.869 n.s.
2 35,3 bc - 4.449 b 2 36,5 b - 1.936
3 31,0 bc 12 4.476 b 3 36,3 bc 1 2.076
4 31,3 bc 11 4.766 ab 4 33,3 bcd 9 2.650
5 30,3 c 14 5.111 ab 5 32,0 bcd 12 2.559
6 31,3 bc 11 4.923 ab 6 27,0 d 26 2.570
7 34,8 bc 1 5.355 a 7 30,5 bcd 16 2.395
8 31,0 bc 12 4.866 ab 8 30,0 bcd 18 2.215
9 32,5 bc 8 4.870 ab 9 29,3 cd 20 2.307
10 36,5 b 0 5.120 ab 10 34,0 bcd 7 2.523
EP 1,18 145,0 EP 1,49 *
Apoio:
Supervisão editorial
Vanessa Fuzinatto Dall’ Agnol
Normalização bibliográfica
Valéria de Fátima Cardoso
Editoração eletrônica
Marisa Yuri Horikawa
Foto da capa
Maurício Silva Stefanelo