Análise de Fonte II

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Análise de Fonte

“Espelho de Reis” Vol. I Frei Álvaro Pais, Bispo de Silves

Discente: Gabrielly Camilly Oliveira Data: 09/10/2023

1. Contextualize a fonte, contemplando a relevância do tema no período tratado;

O livro “Espelho de Reis”é escrito em Portugal entre os anos 1341 e 1344 pelo Frei Álvaro
Pais, Bispo de Silves, dedicado a Afonso XI, rei de Castela. O texto em estudo recebeu a
tradução pelo Dr. Miguel Pinto de Meneses.
O documento funciona como uma orientação de um ideal de monarca, buscando orientar o
principado de como devem ser suas atitudes e virtudes. A obra é de extrema importância para
o conhecimento das ideias políticas, sociais e morais na Península Hispânica.
Cabe a análise sobre a união da esfera política à religiosa, já que o autor trata da importância
do rei se assemelhar à Cristo. O livro usa como base de sua argumentação passagens bíblicas.
Isso de fato se deve à como a sociedade medieval se organizava em torno do cristianismo,
com a religião como um dos principais pilares a segurá-la em todos os aspectos - incluindo a
política -, destacando a constante importância de contemplar o aspecto religioso sempre que
se estuda uma sociedade. Também é possível a percepção de uma cultura que teme o pecado,
para tanto, o rei virtuoso e não-pecador, livra todo o seu reino da punição divina, evitando
maus agouros e fazendo com que seu reinado seja próspero.
Dito isso, nota-se que a devoção ao monarca não vem primordialmente do uso da força, mas
sim do misticismo que a figura carrega entre seus fiéis.

2. Analise os deveres e virtudes atribuídos ao monarca, considerando a concepção do


autor sobre o poder.
É possível notar o misticismo em torno da figura do rei, sendo visto como Cristo na terra e
potencial salvador de seu reino, tendo isso em vista, as leis que regem seus comportamentos
trazem o objetivo de santificação do mesmo, aproximando-o ao máximo de uma imagem
divina. Portanto, cabe ao monarca as seguintes obrigações:
Fazer a justiça, ser o juiz na terra de forma a garantir a equidade entre seus súbditos. “O rei
deve coibir os furtos, punir os adultérios, eliminar da terra os ímpios, não consentir que seus
filhos vivam na impiedade” (Espelho de Reis, pág.93 - Causa XXIII, questão V, cap. Rex.).
No ato de julgar compreende a averiguação minuciosa e discussão da causa, garantindo a
correção e punição dos maus e recompensa dos bons. O juízo deve ser feito segundo as leis -
as leis dos homens, acompanham as leis divinas -. No que compete as leis, devem contribuir
para que os homens sejam bons e virtuosos, de outro modo, são corrompidas, cabendo ao rei
legislador a doutrina e a erudição, dessa forma devem ensinar e ser exemplo “O homem de
vida desprezível faz a sua pregação desprezível” (“Espelho de Reis, pág.99 - Causa III,
questão VII).
Nutrir. O rei deve possuir o necessário para garantir a alimentação digna aos cidadãos, assim
como Cristo que, no deserto, alimentou o povo com pães.
Administrar. O rei deve distribuir proporcionalmente, de acordo com as condições de cada
súbdito, os bens temporais.
Fomentar a paz. O rei deve cuidar da paz do reino que a ele está sujeito, reprimindo as
injúrias internas dos súbditos e defendendo a comunidade dos ataques exteriores.
Estudar. O rei deve ser letrado, capaz de ser sábio nas letras humanas como também nas
divinas. “Quando o rei estiver sentado no trono do seu reino, escreverá para si num livro de
Deuteronômio desta lei, recebendo o exemplar dos sacerdotes da tribo de Levi; e tê-lo-á
consigo, e o terá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer o Senhor teu Deus, e a
guardar as suas palavras e cerimónias, que estão escritas na lei” (“Espelho de Reis”, pág. 105
- Deuteronômio, XVII). Quanto mais elevado intelectualmente o rei, melhor conseguirá
governar.
Respeitar as leis humanas e divinas. No que compete às leis divinas, o rei pode ser deposto
pelo papa se seus crimes forem incorrigíveis. As leis humanas não devem ser modificadas
pelo interesse individual do rei, se isso ocorre, inicia-se um regime de tirania. A tirania é
tratada no texto como “o modelo de governo dos novos reis”, mostrando a insatisfação do
autor com essa prática, colocando como resultado da falta de virtude.
Ser piedoso, misericordioso e bondoso. Essas virtudes características de Cristo devem estar
presentes no rei, já que o líder deve ser à imagem do Salvador.
Ser prudente. A prudência é o que torna a justiça e a piedade possíveis, já que “Devem, pois,
os reis unir-se a Deus com fé e devoção, para que dignamente possam unir a si os outros”
(Espelho de Reis, pág. 115).
Devem cuidar da ampliação e do aumento do culto divino, combatendo os adversários de
Cristo e da Igreja - pelo uso das leis -.
Fazer-se temer. Para garantir a unidade do reino é necessário um rei capaz de se impor, assim
garante-se a unidade da justiça. Entretanto, o autor frisa: “Mas prefira ser amado a ser temido,
porque, conforme acima se disse, a natureza humana, segundo Séneca, é nobre, e mais
facilmente é atraída que arrastada.” (“Espelho de Reis”, pág. 117).
Seguir o conselho dos mais velhos, assim se mantendo virtuosos e evitando a tirania.
Ser um cristão exemplar. Partindo do ponto que o rei é o reflexo das leis e deve ser o exemplo
para seus súbditos, o livro abomina um rei pagão ou blasfemo.
Para tanto, o rei perfeito segue essas virtudes, já que sua perfeição vem de se assemelhar ao
máximo com a imagem divina, explicitando a carga espiritual dentro da política, o que
explica a razão da devoção em massa de todo o reino.

Segunda parte, anotações da exposição feita pela Profa. Paloma Catelan:

● Elenca diversas obrigações e atribuições sobre o poder régio


- Tudo aquilo que o rei deveria saber para bem governar o seu povo
● Punir
- Salvação da alma dos súbditos
● Exilar
- Acreditava-se que retirando o indivíduo vicioso do reino é uma forma de
exemplificação dos demais
- Purificação do reino: o mal seria expulso
● Legislar
- Sendo representante de Deus na Terra, deveria oferecer a justiça
- As legislações deveriam corroborar para tornar o homem virtuoso, caso
contrário seriam corrupções da lei. Deveriam ser escritas para não deixar
brechas e construir o bem comum
- Atentar-se à pessoa: Não é lícito punir os clérigos
- Atentar-se ao lugar: não violar locais sagrados
- Atentar-se ao tempo: Respeitar os dias sagrados
● Ser virtuoso
- Ser modelo para todos os demais
- Para reger os demais, primeiro é necessário reger a si mesmo
● Manter a paz e a união
● Sabedoria
- O rei insensato separaria o seu povo
- Diadema: simboliza a sabedoria
● O papa pode punir o principado se seus pecados forem incorrigíveis
● O mal rei não deve ser considerado rei a si mesmo
● Os imbuídos pela graça divina não deveriam pecar
● É preferível ao rei ser amado do que temido: estabelece vínculos mais longevos
● O rei deve governar com brandura e doçura, e não com tirania
- Ouvir o conselho dos mais velho
● O monarca deveria ser oriundo de sua própria nação e devoto
● O rei não deveria buscar bens materiais
- Caminho para a tirania
● Os reis eram responsáveis por trazer prosperidade ao reino sendo virtuosos
● Insígnias reais
- Anel: Sinal de fé
- Bracelete: virtude das boas obras
- Cetro: real justiça de Deus
- Gladio: Vingança, proteção do reino e dos súbditos
- Capa de púrpura: prestígio
- Diadema na coroa: Glória
● Onde não há quem governe, o povo perecerá
● Os tiranos precisam ser julgados pelo papa
● Mesmo pela injustiça (tirania) Deus consegue provar os seus escolhidos
● As coisas relativas aos reinos celestes deveriam sempre se destacar

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