Fundamentos Da Língua Portuguesa: Asafe Cortina
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DA LÍNGUA
PORTUGUESA
Asafe Cortina
Noção de texto, tipologia
textual e gênero textual
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste capítulo, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Neste capítulo, você vai aprender sobre noção de texto, tipologia textual
e gênero textual.
Primeiramente, diante de diferentes acepções, definiremos o que é o
texto e entenderemos as formas como ele se manifesta.
Em seguida, você vai estudar sobre as tipologias textuais e suas ca-
racterísticas, que enquadram os textos não só pelo conteúdo e tipo de
linguagem que utilizam, mas também, e principalmente, pela forma e
objetivo de cada um.
Posteriormente, você irá aprender como a tipologia textual se difere
do gênero textual e irá observar exemplos de gêneros textuais.
Finalmente, você verá exemplos de gêneros textuais classificados de
acordo com suas tipologias textuais.
O que é texto?
Circuito Fechado
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental,
água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina,
sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca,
camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, ní-
2 Noção de texto, tipologia textual e gênero textual
Você considera o segmento acima um texto? Se não, por que não? Se sim,
por que sim?
Afinal, o que é um texto?
Para muitos, texto é apenas uma junção de palavras.
Para outros, texto é uma junção de palavras desde que haja sentido entre
elas e que comuniquem uma mensagem.
Outros justificam que para ser texto deve existir mais de duas frases ou
orações.
Há, ainda, aqueles que consideram texto qualquer manifestação verbal,
independentemente do seu tamanho.
Alguns defendem que texto é somente uma produção escrita.
Outros, que texto pode ser escrito ou oral.
Repito, portanto, a pergunta: afinal, o que é um texto?
Noção de texto, tipologia textual e gênero textual 3
1. Você está folheando uma revista e de dentro dela cai uma folha com
apenas a palavra “fogo”.
2. Você está em uma aula de tiro e o instrutor grita “fogo”.
3. Você está em uma floresta e alguém passa correndo e gritando “fogo”.
Em qual situação (ou em quais delas) a palavra “fogo” pode ser considerada
texto?
Nas situações 2 e 3.
Embora na situação 1 tenhamos um exemplo de manifestação linguística
escrita que, para muitos, poderia ser classificada como texto só por isso, ela
não comunica nenhuma mensagem naquele contexto. Obviamente, um papel
escrito “fogo” poderia exercer uma função comunicativa em outra situação,
mas naquela, especificamente, não pode ser considerada texto por não fazer
sentido.
Já nas situações 2 e 3, a palavra “fogo” possui um sentido e carrega uma
mensagem. No caso 2, a palavra usada é uma instrução para que os alunos
da aula de tiro atirem. Já no caso 3, a palavra serve como um aviso de que em
certo local da floresta começou um incêndio.
Com base nesses exemplos, podemos tirar as seguintes conclusões:
um texto não precisa ser apenas escrito, ele também pode ser oral;
para ser considerado texto, a extensão da manifestação linguística é
variável, pois uma palavra pode ser considerada um texto;
texto não é qualquer palavra ou aglomerado de palavras aleatórias, ele
precisa fazer sentido e comunicar uma mensagem.
algumas vezes, a mesma manifestação linguística pode ser considerada
como texto em um contexto e não ser considerada em outro.
4 Noção de texto, tipologia textual e gênero textual
Texto oral é aquele manifesto oralmente, sem que haja registro escrito.
Texto escrito, por sua vez, é aquele que se manifesta de forma escrita.
Alguns teóricos consideram texto somente a forma escrita, mas para a
linguística, um texto pode ser uma manifestação oral, escrita ou visual.
Texto literário é o tipo de texto que tem por objetivo emocionar ou engajar
o leitor em uma determinada trama, como poemas, narrativas, contos etc.
Textos não literários são considerados textos “verídicos”, pois têm por objetivo
informar o leitor, tais como receitas, artigos de jornal, bula de remédio etc.
Na Figura 1, podemos observar um trecho do livro A Moreninha, de Joa-
quim Manuel de Macedo, considerado um texto literário. Na Figura 2, temos
o exemplo de uma notícia de jornal, considerado texto não literário.
Noção de texto, tipologia textual e gênero textual 5
Tipologia textual
Tipologia textual (tipos de texto) se refere às diferentes formas que um texto
pode se apresentar. Elas se se caracterizam e diferenciam não só pelo con-
Noção de texto, tipologia textual e gênero textual 7
Muitas vezes, confunde-se tipologia textual com gênero textual, embora se tratem
de conceitos diferentes. As tipologias textuais são os modelos estruturais para um
texto que apresentam características linguísticas diferentes, já os gêneros textuais são
os tipos diferentes de texto que cumprem funções comunicativas distintas, apresentam
uma estrutura em comum e são facilmente identificáveis (como lista de compras,
bula de remédio, carta, romance etc.). Podemos encontrar diferentes gêneros textuais
dentro de cada tipologia textual. Trataremos dos gêneros textuais na próxima seção.
Texto narrativo
O texto narrativo tem por objetivo contar um fato, acontecimento ou história
por meio de um desencadeamento sequencial. Essa narrativa pode ser real
ou fictícia. Dentre os componentes principais de um texto narrativo, estão:
Texto descritivo
O principal objetivo de um texto descritivo, como o nome já diz, é apresentar
uma descrição de algo (seja uma pessoa, um objeto, um conceito etc.) de forma
que o leitor possa formar uma imagem mental do que está sendo descrito e
relacioná-la à realidade ou criar uma figura imaginária.
A descrição pode ser feita em diferentes níveis e por meio de diferentes
recortes, podendo ser mais objetiva ou mais subjetiva de acordo com os ob-
jetivos do texto e do escritor.
Embora a estrutura do texto descritivo seja similar à do texto narrativo
(introdução, desenvolvimento e conclusão), os componentes dessa estrutura
podem ser entendidos de forma um pouco distinta, de modo que a introdução
sirva como uma identificação (ou apresentação) daquilo que será descrito e
o desenvolvimento, a descrição em si. A conclusão, por sua vez, pode ser
entendida não como um componente, mas como um processo. A conclusão
ocorre quando o autor do texto está satisfeito com a descrição pretendida.
Diferente do texto narrativo, o texto descritivo está isento de limitação
temporal ou espacial. Ele se estrutura como uma descrição estática, indepen-
dente de uma cronologia ou de um espaço temporal específico.
Geralmente, textos descritivos são cheios de substantivos, adjetivos e
advérbios. Os verbos utilizados para esses textos geralmente são mais restritos
do que os utilizados em narrativas, sendo, em sua maioria, verbos de estado
(ser, estar, parecer etc.).
A linguagem utilizada em textos descritivos se caracteriza por ser bastante
rica, a fim de fornecer uma descrição detalhada, fazendo uso, portanto, de
figuras de linguagem, comparações, enumerações etc. de forma que a lingua-
gem se torne dinâmica e interessante para o leitor.
Existem diferentes tipos de descrições, de acordo com o objetivo de cada
texto, podendo ser caracterizadas em:
Noção de texto, tipologia textual e gênero textual 11
No texto acima, podemos observar que o autor teve por objetivo descrever
a cidade Wisconsin Dells de forma que o leitor pudesse criar uma imagem
mental a respeito do lugar e entender o que é possível encontrar lá.
Exemplos de textos descritivos são: cardápios, classificados, folhetos tu-
rísticos, informações técnicas de produtos etc.
O Simbolismo
O Simbolismo surgiu na França, por volta de 1880, e de lá difundiu-se internacional-
mente, abrangendo vários ramos artísticos, principalmente a poesia. O período era
de profundas modificações sociais e políticas, provocadas fundamentalmente pela
expansão do capitalismo, na esteira da industrialização crescente, e que convergiram
para, dentre outras consequências, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Na Europa
haviam germinado ideias científico-filosóficas e materialistas que procuravam analisar
racionalmente a realidade e assim apreender as novas transformações; essas ideias,
principalmente as do positivismo, influenciaram movimentos literários como o Realismo
e o Naturalismo, na prosa, e o Parnasianismo, na poesia.
No entanto, os triunfos materialistas e científicos não eram compartilhados ou aceitos
por muitos estratos sociais, que haviam ficado ao largo da prosperidade burguesa
característica da chamada “belle époque”; pelo contrário, esses grupos alertavam para
o mal-estar espiritual trazido pelo capitalismo. Assim, como afirmou Alfredo Bosi
(1936), “do âmago da inteligência europeia surge uma oposição vigorosa ao triunfo
da coisa e do fato sobre o sujeito – aquele a quem o otimismo do século prometera o
paraíso mas não dera senão um purgatório de contrastes e frustrações”. A partir dessa
oposição, no campo da poesia, formou-se o Simbolismo.
O movimento simbolista tomou corpo no Brasil na década de 1890, quando o país
passava também por intensas e radicais transformações, ainda que diversas daquelas
vivenciadas na Europa. O advento da República e a abolição da escravatura modificaram
as estruturas políticas e econômicas que haviam sustentado a agrária e aristocrática
sociedade brasileira do Império. Os primeiros anos do regime republicano, de grande
instabilidade política, foram marcados pela entrada em massa de imigrantes no país,
pela urbanização dos grandes centros – principalmente de São Paulo, que começou
a crescer em ritmo acelerado –, e pelo incremento da indústria nacional.
(…)
Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras (2015).
Repare que o texto acima não tem por objetivo convencer o leitor a respeito
de nada, apenas abordar o assunto de forma extensiva, tentando explicitar o
significado, o surgimento e outros detalhes que o autor considerou importante
a respeito do Simbolismo.
Como exemplo de textos dissertativos-expositivos, podemos citar: enciclo-
pédias, entradas de dicionários, textos informativos escolares etc.
Dissertativo-argumentativo: tem por objetivo convencer e persuadir o
leitor por meio de sua dissertação. Nesse tipo de texto, o autor utiliza não
somente fatos, mas também suas crenças, opiniões, valores e ideias para tentar
convencer o leitor de algo ou fazê-lo concordar com seus pressupostos e teses.
14 Noção de texto, tipologia textual e gênero textual
Podemos observar, com o texto acima, que embora possamos não concor-
dar com algumas ideias apresentadas pelo autor, sua composição textual é
formada por definições, exemplos e comparações que além de dissertar sobre
um determinado ponto, também servem como fundamentos e bases para as
premissas que serão dispostas pelo ao longo do texto.
Esse manifesto é um exemplo bastante claro de texto dissertativo-argu-
mentativo por trazer não apenas fatos, mas também a opinião do autor como
uma tentativa de convencer o leitor sobre seu ponto de vista.
Entre os exemplos de textos dissertativo-argumentativos estão manifestos,
textos introdutórios de abaixo-assinados, artigos de opinião, sermões etc.
16 Noção de texto, tipologia textual e gênero textual
Gênero textual
Agora que aprendemos sobre as diferentes tipologias textuais, podemos estudar
os diferentes gêneros textuais.
Gêneros textuais são textos que apresentam características distintas e que
exercem funções comunicativas específicas; ou seja, esses textos se caracte-
rizam por compartilhar os mesmos traços entre textos do mesmo gênero, por
apresentar traços distintos de outros gêneros e por cumprir objetivos diferentes.
Pense, primeiramente, na diferença entre uma carta, um romance e uma
lista de supermercado. A carta tem por objetivo conectar duas (ou mais) pessoas
e transmitir informações, um romance tem por finalidade entreter um leitor
e contar uma história; já a lista de supermercado se caracteriza por conter
nomes de itens que devem ser comprados.
Agora, pense no formato de apresentação de cada um desses textos. Você
acharia muito estranho se recebesse uma “carta” com trezentas páginas, com
uma capa e um sumário, certo? Mas não acharia estranho receber um romance
com esse formato.
E já pensou se você recebesse uma lista de compras antes de ir ao mercado
e, chegando lá, abrisse e encontrasse no próximo texto?
Caríssimo filho,
Peço-lhe, gentilmente, que não se esqueças de comprar farinha e ovo para que eu possa
fazer o bolo de amanhã. Também é necessário que traga dois litros de leite, não só para o
bolo, mas também para o consumo no café-da-manhã.
Lembrei-me daquele dia em que comemos pipoca no cinema. Por esse motivo, senti a
necessidade de lhe pedir que também comprasse milho para pipoca.
...Atenciosamente,
Sua mãe.
Noção de texto, tipologia textual e gênero textual 19
Texto 1
PARACETAMOL
Analgésico Antitérmico
Comprimidos 750 mg e Gotas 200 mg/ml
Uso adulto e pediátrico
Indicações:
Como analgésico e antipirético.
Contraindicações:
Não deve ser administrado a pacientes com conhecida hipersensibilidade ao
paracetamol.
Posologia:
Adultos e crianças acima de 12 anos: TYLEPHEN 750 mg: 1 comprimido 3 a 4 vezes
ao dia. Não exceder o total de 5 comprimidos, em doses fracionadas, num intervalo
de 24 horas.
Crianças: Gotas deve ser administrado na dose de 1 gota por kg de peso, até o limite
de 35 gotas por dose. Essa administração pode ser repetida 4 a 5 vezes ao dia, com
intervalos de 4 a 6 horas, não devendo ultrapassar 5 administrações nas 24 horas.
Fonte: Bulas Med (2018).
Texto 2
Domingo, 14 de junho de 1942
Na sexta-feira, 12 de junho, acordei às seis horas. Pudera! Era dia do meu aniversário.
É claro que eu não tinha permissão para levantar àquela hora, e por isso tive de refrear
a minha curiosidade até as quinze para as sete. Aí então não aguentei mais e corri
até a sala de jantar, onde recebi as mais efusivas saudações de Moortie (a gata). Logo
depois das sete fui dar bom-dia à mamãe e ao papai, e, depois, corri à sala de estar para
desembrulhar meus presentes. O primeiro que me saudou foi você, possivelmente
o melhor de todos. Sobre a mesa havia também um ramo de rosas, uma planta e
algumas peônias; durante o dia chegaram outros. Ganhei uma porção de coisas de
mamãe e papai e fui devidamente presenteada por vários amigos. Entre outras coisas,
deram-me um jogo de salão chamado Câmara Escura, muitos doces, chocolates, um
quebra-cabeça, um broche, os Contos e lendas dos Países Baixos, de Joseph Cohen,
Daisy e suas férias nas montanhas (um livro espetacular) e algum dinheiro. Agora posso
comprar “Os mitos da Grécia e Roma” — que legal!
Fonte: Frank e Pressler (2009).
Noção de texto, tipologia textual e gênero textual 21
Texto 3
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Fonte: Fernando Pessoa (1946).
Leituras recomendadas
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1999.
NORMA CULTA. Tipologia textual: os diferentes tipos textuais. [S.l.: s.n.], 2007-2018.