Atualizacao Cheia Projeto e Impacto Na Probabilidade Falha

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

RONALD ALBERTS

ATUALIZAÇÃO DA CHEIA DE PROJETO E O SEU IMPACTO NA PROBABILIDADE


DE FALHA POR DESLIZAMENTO DA BARRAGEM. ESTUDO DE CASO: UHE
SANTA CLARA

CURITIBA
2020
RONALD ALBERTS

ATUALIZAÇÃO DA CHEIA DE PROJETO E O SEU IMPACTO NA PROBABILIDADE


DE FALHA POR DESLIZAMENTO DA BARRAGEM. ESTUDO DE CASO: UHE
SANTA CLARA

Dissertação apresentada ao programa de Pós-


Graduação em Engenharia de Construção Civil,
Setor de Tecnologia, Universidade Federal do
Paraná, como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Dr. José Marques Filho

CURITIBA
2020
Dedico este trabalho a Deus, que me
deu forças para vencer todas as
dificuldades e que iluminou o meu
caminho para que eu pudesse chegar
até aqui.
AGRADECIMENTOS

À Deus, pela vida, bênção e proteção.


Aos meus pais, por todo amor e carinho.
A minha esposa Naiade que não mediu esforços para me ajudar.
Ao meu irmão Marco, por ser apoio e alegria desde a nossa infância.
Ao meu orientador, José Marques Filho por todo auxílio prestado.
Aos meus familiares e amigos, os quais tornaram este caminho mais alegre.
Tudo o que fizerem, façam de todo o
coração, como para o Senhor, e não
para os homens, sabendo que
receberão do Senhor a recompensa da
herança. É a Cristo, o Senhor, que
vocês estão servindo.
(Colossenses 3:23-24)
RESUMO

Mudanças climáticas que podem estar afetando o comportamento das


precipitações, tornando-as mais intensas, vem sendo constatadas em várias partes
do mundo. O Brasil, por contar com um vasto número de barragens, pode ser um dos
países fortemente impactados por estas mudanças. A avaliação de riscos, neste
contexto, é fundamental para que seja possível avaliar se as barragens existentes, e
as que serão construídas, atendem aos critérios de segurança, ou se necessitam de
reforços e aumento na sua capacidade de vertimento. Na análise de riscos é
necessário empregar métodos probabilísticos para considerar a grande variabilidade
dos parâmetros envolvidos e quantificar as incertezas que são desconsideradas pelos
métodos determinísticos. Nesta dissertação foi realizado um estudo de caso da UHE
Santa Clara para analisar se houve mudanças nas vazões de projeto e os impactos
que estas variações podem ocasionar na probabilidade de ruptura da barragem. As
vazões máximas determinadas na época da construção da barragem foram
confrontadas com as vazões encontradas ao se atualizar os estudos hidrológicos.
Diante dos resultados foi possível constatar que houve um aumento nas vazões. O
Método de Monte Carlo foi utilizado para estabelecer uma curva correlacionando a
vazão afluente com a probabilidade de falha permitindo calcular, para todos os tempos
de retorno, a probabilidade de falha por deslizamento da barragem.

Palavras-chave: Probabilidade de falha, estabilidade de barragens, segurança ao


deslizamento, mudanças climáticas, aumento dos fluxos fluviais.
ABSTRACT

Climatic changes that may be affecting the behavior of precipitations, making


them more intense, have been observed in several parts of the world. Brazil, having a
vast number of dams, may be one of the countries strongly impacted by these changes.
Risk assessment, in this context, is essential to assess whether existing dams and
those that will be built meet safety criteria, or whether they need reinforcement or an
increase in their discharge capacity. In risk analysis, it is necessary to employ
probabilistic methods to consider the great variability of the parameters involved and
quantify the uncertainties that are disregarded by deterministic methods. In this
dissertation, a case study of Santa Clara HPP was carried out to analyze if there were
changes in the project flows and the impact that these variations can cause at the
probability of failure of the dam. The maximum flows determined at the time of the
construction of the dam were compared with the flows found then updating the
hydrological studies. In view of the results, it was possible to verify that there was an
increase in flow rates. The Monte Carlo Method was used to establish a curve
correlating the affluent flow with the failure probability, allowing to calculate, for all
return times, the failure probability by sliding.

Keywords: Probability of failure, stability of dams, sliding safety, climate change,


increase in river flows.
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Relação entre os processos de gerenciamento de riscos..................... 29


FIGURA 2 – Estrutura da Política Nacional de Segurança de Barragens. ................ 37
FIGURA 3 – Opções de resposta aos riscos. ............................................................ 51
FIGURA 4 – Instrumentação de barragens de concreto ........................................... 56
FIGURA 5 – Instrumentação de barragens de terra/enrocamento ............................ 57
FIGURA 6 – Tempo de retorno médio do modelo múltiplo no final do século XXI
correspondente à vazão com tempo de retorno de 100 anos no século
XX. ..................................................................................................... 58
FIGURA 7 – Anomalia futura de vazão média nas usinas hidrelétricas do SIN. ....... 59
FIGURA 8 – Impacto devido à urbanização .............................................................. 60
FIGURA 9 – Evolução do uso e cobertura da terra na bacia do rio iguaçu. .............. 61
FIGURA 10 – Distribuição das classes de uso do solo na Bacia do Rio Jordão ....... 61
FIGURA 11 – Carregamentos atuantes na barragem ............................................... 68
FIGURA 12 – Distribuição de Carga e Resistência para mesmo Fator de Segurança
........................................................................................................... 70
FIGURA 13 – Exemplo de hidrograma de cheia e leituras pontuais ......................... 81
FIGURA 14 – Perfil do Vertedouro ............................................................................ 83
FIGURA 15 – Origem da Crista ................................................................................. 84
FIGURA 16 – Localização da UHE Santa Clara........................................................ 91
FIGURA 17 – Imagem aérea da barragem da UHE Santa Clara .............................. 91
FIGURA 18 – Área de drenagem da UHE Santa Clara ............................................. 92
FIGURA 19 – Embasamento Litológico do Paraná. .................................................. 93
FIGURA 20 – Perfil da barragem .............................................................................. 95
FIGURA 21 – Mapeamento da aceleração sísmica horizontal característica .......... 116
FIGURA 22 – Planilha utilizada nas simulações ..................................................... 118
FIGURA 23 – Exemplo de planilha de resultados obtidos ....................................... 118
LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Número de barragens por uso no mundo .......................................... 27


GRÁFICO 2 – Número de barragens por tipo ........................................................... 28
GRÁFICO 3 – Percentual das causas responsáveis pela ruptura de barragens. ...... 32
GRÁFICO 4 – Frequência de falha de barragem por ano ......................................... 47
GRÁFICO 5 – Diretrizes de risco de segurança de barragens. ................................. 50
GRÁFICO 6 – Probabilidade de ruptura em função do índice de confiabilidade ....... 72
GRÁFICO 7 – Coeficiente de descarga nominal ....................................................... 86
GRÁFICO 8 – Coeficiente de descarga para diferentes inclinações do paramento. . 87
GRÁFICO 9 – Coeficiente de descarga para outras lâminas de água ...................... 87
GRÁFICO 10 – Diagrama de contribuição da análise local até 1997 ........................ 99
GRÁFICO 11 – Diagrama de contribuição da análise local até 2018 ...................... 100
GRÁFICO 12 – Diagrama de contribuição da análise regional até 1997 ................ 103
GRÁFICO 13 – Diagrama de contribuição da análise regional até 2018 ................ 104
GRÁFICO 14 – Curva de descarga do vertedouro da UHE Santa Clara ................ 108
GRÁFICO 15 – Curva de descarga no eixo da barragem da UHE Santa Clara ...... 109
GRÁFICO 16 – Coesão da interface concreto rocha .............................................. 111
GRÁFICO 17 – Tangente do Ângulo de atrito da interface concreto rocha ............. 112
GRÁFICO 18 – Peso espefícifo CCV ...................................................................... 113
GRÁFICO 19 – Peso específico CCR ..................................................................... 114
GRÁFICO 20 – Eficiência de drenagem .................................................................. 115
GRÁFICO 21 – Ação sísmica .................................................................................. 116
GRÁFICO 22 – Vazão X Probabilidade de falha ..................................................... 121
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Modos de falha para diferentes tipos de barragens ............................ 31


QUADRO 2 – Modos típicos de falhas de barragens ................................................ 33
QUADRO 3 – Níveis de Avaliação de Riscos............................................................ 36
QUADRO 4 – Metodologias para análise de risco .................................................... 38
QUADRO 5 – Quadro de classificação – Características Técnicas .......................... 39
QUADRO 6 – Quadro de classificação – Estado de Conservação ........................... 40
QUADRO 7 – Quadro de classificação – Plano de Segurança de Barragem ........... 41
QUADRO 8 – Quadro de classificação – Dano potencial associado......................... 44
QUADRO 9 – Taxa de mortalidade recomendadas para estimar a perda de vidas
resultantes da falha da barragem....................................................... 49
QUADRO 10 – Cheias analisadas da estação Santa Clara .................................... 100
QUADRO 11 – Resultados para a série até 1997 ................................................... 120
QUADRO 12 – Resultado da série atualizada até 2018 .......................................... 120
QUADRO 13 – Coeficientes do Polinômio vazão x probabilidade de falha ............. 122
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Matriz de classificação quanto à Categoria de Risco ........................... 43


TABELA 2 – Matriz de classificação quanto ao Dano Potencial Associado .............. 45
TABELA 3 – Matriz de categoria de risco e dano potencial associado ..................... 45
TABELA 4 – Matriz de classificação de barragens.................................................... 45
TABELA 5 – Índice de incidentes nos EUA e em 43 países associados ao ICOLD .. 48
TABELA 6 – Periodicidade das Inspeções de Segurança Regulares de Barragem. . 55
TABELA 7 – Fatores de Segurança à Flutuação....................................................... 66
TABELA 8 – Fatores de Segurança ao Tombamento ............................................... 67
TABELA 9 – Fatores de redução da resistência do atrito e da coesão ..................... 68
TABELA 10 – Valores de β para cada probabilidade de falha .................................. 72
TABELA 11 – Valores de Xc, Yc, R1 e R2 ................................................................ 83
TABELA 12 – Valores de K e n ................................................................................. 84
TABELA 13 – Coeficientes kp do pilar. ...................................................................... 88
TABELA 14 – Coeficientes ka dos encontros do vertedouro. .................................... 89
Tabela 15 – Características das séries de vazões máximas anuais ......................... 98
TABELA 16 – Vazões máximas da análise local das estações até 1997 .................. 98
TABELA 17 – Vazões máximas da análise local das estações até 2018 .................. 99
TABELA 18 – Vazões máximas da análise local da UHE Santa Clara até 1997..... 101
TABELA 19 – Vazões máximas da análise local da UHE Santa Clara até 2018..... 101
TABELA 20 – Vazões máximas da análise regional das estações até 1997 .......... 102
TABELA 21 – Vazões máximas da análise regional das estações até 2018 .......... 103
TABELA 22 – Vazões máximas da análise regional da UHE Santa Clara até 1997
......................................................................................................... 104
TABELA 23 – Vazões máximas da análise regional da UHE Santa Clara até 2018
......................................................................................................... 105
TABELA 24 – Vazões máximas adotadas da UHE Santa Clara até 1997 .............. 106
TABELA 25 – Vazões máximas adotadas da UHE Santa Clara até 2018 .............. 106
TABELA 26 – Dados básicos do vertedouro ........................................................... 107
TABELA 27 – Tabela de descarga do vertedouro ................................................... 107
TABELA 28 – Variação do NAM no eixo da barragem ............................................ 108
TABELA 29 – Tabela de descarga no eixo da barragem da UHE Santa Clara ....... 109
TABELA 30 – Variação do NAJ no eixo da barragem ............................................. 109
TABELA 31 – Parâmetros geotécnicos ................................................................... 110
TABELA 32 – Parâmetros da barragem .................................................................. 112
TABELA 33 – Densidade do CCR da barragem de derivação do rio Jordão e da UHE
Salto Caxias ..................................................................................... 113
TABELA 34 – Probabilidade de falha dos tempos de retorno ................................. 123
TABELA 35 – Variação da vazão e da probabilidade de falha ................................ 123
LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


AD – Área de Drenagem
ALARP – As Low as Reasonably Practicable
ANA – Agência Nacional de Águas
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica
ANM Agência Nacional de Mineração
CCR – Concreto Compactado com Rolo
CFBR – Comité Français des Barrages et Réservoirs
CMP – Cheia Máxima Provável
CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral
FAP – Função Acumulada de Probabilidades
FEMA – Federal Emergency Management Agency
HEC – Hydrologic Engineering Center
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
ICOLD – International Commission on Large Dams
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
JCSS – Joint Committee on Structural Safety
NAJ – Nível de Água de Jusante
NAM – Nível de Água Máximo Normal no Reservatório
NID – National Inventory of Dams
NVE – Norwegian Water Resources and Energy Directorate
PAE – Plano de Ação Emergencial
PMBOK – Project Management Body of Knowledge
PMI – Project Management Institute
PNSB – Plano Nacional de Segurança de Barragens
SIN – Sistema Interligado Nacional
TR – Tempo de Retorno
UHE – Usina Hidrelétrica
USACE – Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos
LISTA DE SÍMBOLOS

 – Somatório de números
γ – Peso específico
𝜑 – Ângulo de atrito
c – Coesão
σm – Desvio padrão
σ Tensão normal
τ Tensão tangencial
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................ 20
1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................ 22
1.2 JUSTIFICATIVAS ........................................................................................ 23
1.2.1 Tecnológicas ................................................................................................ 23
1.2.2 Econômicas ................................................................................................. 23
1.2.3 Sociais ......................................................................................................... 24
1.2.4 Ambientais ................................................................................................... 24
1.2.5 Atualizacionais ............................................................................................. 25
1.3 OBJETIVO ................................................................................................... 25
1.4 DELIMITAÇÃO DO TRABALHO .................................................................. 25
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO .............................................................. 25
REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................... 27
2.1 BARRAGENS .............................................................................................. 27
2.1.1 Dimensão..................................................................................................... 27
2.1.2 Uso .............................................................................................................. 27
2.1.3 Material de construção................................................................................. 28
2.1.4 Tipo .............................................................................................................. 28
2.1.5 Ruptura de Barragens.................................................................................. 28
2.2 GERENCIAMENTO DE RISCOS................................................................. 29
2.2.1 Planejamento do Gerenciamento ................................................................ 30
2.2.2 Identificação dos Riscos .............................................................................. 31
2.2.2.1 Identificar modos de falha ............................................................................ 31
2.2.2.2 Identificar danos potenciais. ........................................................................ 35
2.2.3 Análise dos Riscos....................................................................................... 35
2.2.3.1 Análise qualitativa ........................................................................................ 37
2.2.3.2 Análise quantitativa ...................................................................................... 46
2.2.4 Planejamento das respostas ........................................................................ 51
2.2.4.1 Evitar............................................................................................................ 52
2.2.4.2 Transferir ..................................................................................................... 52
2.2.4.3 Mitigar .......................................................................................................... 52
2.2.4.4 Aceitar.......................................................................................................... 53
2.2.5 Controle dos riscos ...................................................................................... 54
2.2.5.1 Auscultação ................................................................................................. 54
2.3 MUDANÇAS CLIMÁTICAS .......................................................................... 57
2.4 OCUPAÇÃO DO SOLO ............................................................................... 60
2.5 ESTABILIDADE DE BARRAGENS .............................................................. 62
2.5.1 Níveis de água ............................................................................................. 62
2.5.2 Cheia de projeto da barragem ..................................................................... 62
2.6 AÇÕES DE PROJETO ................................................................................ 62
2.6.1 Cargas permanentes ................................................................................... 63
2.6.1.1 Peso próprio ................................................................................................ 63
2.6.1.2 Cargas diversas ........................................................................................... 63
2.6.2 Pressões e Empuxos Hidrostáticos ............................................................. 63
2.6.3 Pressões Hidrodinâmicas ............................................................................ 63
2.6.4 Pressões de material assoreado ................................................................. 64
2.6.5 Pressões Dinâmicas de material assoreado ................................................ 64
2.6.6 Empuxos de aterro....................................................................................... 64
2.6.7 Pressões Dinâmicas de Aterros ................................................................... 64
2.6.8 Subpressão .................................................................................................. 65
2.7 CONDIÇÕES DE CARREGAMENTO.......................................................... 65
2.7.1 Caso de Carregamento Normal – CCN ....................................................... 65
2.7.2 Caso de Carregamento Excepcional – CCE ................................................ 65
2.7.3 Caso de Carregamento Limite – CCL .......................................................... 65
2.7.4 Caso de Carregamento de Construção – CCC ............................................ 66
2.8 ESTABILIDADE GLOBAL DE ESTRURAS DE CONCRETO ...................... 66
2.8.1 Segurança à Flutuação ................................................................................ 66
2.8.2 Segurança ao Tombamento ........................................................................ 67
2.8.3 Segurança ao Deslizamento ........................................................................ 67
2.9 CONFIABILIDADE E SEGURANÇA ............................................................ 69
2.9.1 Fator de segurança ...................................................................................... 69
2.9.2 Índice de Confiabilidade e Probabilidade de Ruptura .................................. 71
2.9.3 Método de Monte-Carlo ............................................................................... 72
2.10 ESTUDO DE VAZÕES MÁXIMAS ............................................................... 73
2.10.1 Análise local de frequência de cheias .......................................................... 74
2.10.2 Verificação dos dados amostrais ................................................................. 74
2.10.2.1 Representatividades .................................................................................... 74
2.10.2.2 Aleatoriedade ............................................................................................... 74
2.10.2.3 Independência ............................................................................................. 75
2.10.2.4 Homogeneidade .......................................................................................... 75
2.10.2.5 Estacionaridade ........................................................................................... 75
2.10.2.6 Pontos amostrais atípicos ............................................................................ 75
2.10.3 Distribuições estatísticas ............................................................................. 75
2.10.3.1 Distribuição de Gumbel................................................................................ 76
2.10.3.2 Distribuição Exponencial.............................................................................. 77
2.10.3.3 Distribuição Generalizada de Eventos Extremos - GEV .............................. 78
2.10.4 Testes de aderência e Distribuição de Vazões ............................................ 80
2.10.5 Análise regional de frequência de cheias .................................................... 80
2.10.6 Vazões instantâneas.................................................................................... 80
2.10.6.1 Método de Fuller .......................................................................................... 81
2.10.6.2 Método de Sangal ........................................................................................ 82
2.11 VERTEDOUROS DE SOLEIRA LIVRE ....................................................... 82
2.11.1 Perfil do vertedouro...................................................................................... 82
2.11.2 Vazão em vertedouros não controlados ...................................................... 84
2.11.3 Carga de projeto .......................................................................................... 84
2.11.4 Coeficiente de descarga .............................................................................. 85
2.11.5 Coeficiente de contração ............................................................................. 88
ESTUDO DE CASO..................................................................................... 90
3.1 SELEÇÃO DO CASO OU AMOSTRA ......................................................... 90
3.2 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS .............................................................. 90
3.2.1 Área de Drenagem....................................................................................... 92
3.2.2 Reservatório ................................................................................................ 94
3.2.3 Vazões de Projetos ...................................................................................... 94
3.2.4 Barragem / Soleira Vertente ........................................................................ 94
METODOLOGIA .......................................................................................... 96
4.1 HIDROLOGIA .............................................................................................. 96
4.1.1 Dados Fluviométricos Disponíveis ............................................................... 97
4.1.1.1 Estudo de Vazões Máximas – Análise Local ............................................... 97
4.1.1.2 Estudo de Vazões Máximas – Análise Regional ........................................ 102
4.1.1.3 Vazões Máximas Adotadas ....................................................................... 105
4.2 HIDRÁULICA ............................................................................................. 107
4.2.1 Curva de descarga do vertedouro (NAM). ................................................. 107
4.2.2 Curva de descarga no eixo da barragem (NAJ). ........................................ 108
4.3 PARÂMETROS GEOTÉCNICOS .............................................................. 110
4.3.1 Coesão da interface concreto rocha .......................................................... 110
4.3.2 Ângulo de atrito da interface concreto rocha ............................................. 111
4.4 PARÂMETROS DA BARRAGEM .............................................................. 112
4.4.1 Peso específico CCV ................................................................................. 112
4.4.2 Peso específico CCR ................................................................................. 113
4.4.3 Eficiência de drenagem ............................................................................. 114
4.4.4 Ação Sísmica ............................................................................................. 115
4.5 ESTABILIDADE ......................................................................................... 117
4.6 SIMULAÇÃO DE MONTE CARLO............................................................. 117
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .................................................. 120
5.1 VAZÃO X PROBABILIDADE DE FALHA ................................................... 121
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 125
6.1 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .............................. 126
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 128
APÊNDICE 1 – VAZÕES MÁXIMAS ANUAIS DOS POSTOS FLUVIOMÉTRICOS
SELECIONADOS.................................................................................................... 136
APÊNDICE 2 – VAZÕES OBTIDAS PELA COPEL E POR ESTA DISSERTAÇÃO
PARA DIFERENTES TEMPOS DE RETORNO NO EIXO DA UHE SANTA CLARA
PARA A SÉRIES DE VAZÕES DISPONÍVEIS EM 1997 ........................................ 138
ANEXO 1 – ESTAÇÕES FLUVIOMÉTRICAS UTILIZADAS NA ANÁLISE
REGIONAL DE VAZÕES MÁXIMAS ...................................................................... 139
ANEXO 2 – ENSAIOS DE CISALHAMENTO “IN SITU” EM MATERIAIS
BASÁLTICOS ......................................................................................................... 140
20

INTRODUÇÃO

Existem atualmente mais de 59 mil grandes barragens em operação no


mundo. Essas atuam na regularização da vazão dos rios, controle de inundações,
navegação, geração de energia elétrica e mitigação dos efeitos das secas, fornecendo
água para irrigação, dessedentação de animais e consumo humano. Dentre os países
com o maior número de barragens destacam-se em ordem decrescente: China,
Estados Unidos, Índia, Japão e Brasil (ICOLD, 2019).
A segurança destas estruturas é função da máxima ação que lhe pode ser
imposta e da sua capacidade de suportar tal aplicação de forças. Visto que é
extremamente difícil determinar a máxima ação que será aplicada sobre uma estrutura
durante a sua vida útil, assim como a exata capacidade de resistir a estas ações, é
impossível garantir a sua absoluta segurança. Essa pode apenas ser garantida em
termos da probabilidade de que a aptidão da estrutura seja suficiente para resistir à
máxima ação que lhe será imposta (MOTTA; MALITE, 2002), sempre havendo a
possibilidade de que uma combinação de fatores cause um desempenho insatisfatório
(PERINI, 2009).
Diante disso, os riscos associados ao projeto, construção e operação de
barragens, precisam ser gerenciados de modo a minimizar as incertezas, visto que
não há como eliminá-las (MI, 2002). A documentação das lições apreendidas e os
estudos acerca dos acidentes ocorridos contribuem permanentemente para o
desenvolvimento de melhores práticas, além de auxiliar no gerenciamento dos riscos
a que os stakeholders1 estarão expostos (ELETROBRÁS, 2003).
O rompimento de uma barragem na maioria das vezes causa grandes
impactos, sendo fundamental o gerenciamento dos seus riscos (MI, 2002). Um
acidente amplamente documentado e estudado foi o da ruptura da Barragem de
Teton, em 1976. Após a ruptura o US Bureau of Reclamation, foi incumbido de
elaborar uma metodologia de análise de risco para barragens nos EUA. O Programa
de Segurança de Barragens foi implementado dois anos mais tarde, em 1978 (LUO et
al., 2012; USBR, 1996).
Com a ruptura dos diques em New Orleans, em 2005, constatou-se que os
níveis de risco mudam ao longo do tempo por razões como: uso e ocupação do solo,

_______________
1 Pessoas, grupos ou organizações que de alguma forma têm alguma ligação com o projeto.
21

degradação estrutural e mudanças climáticas. Além disso, os impactos também


variam em virtude do crescimento populacional, influenciando o número de pessoas
atingidas direta ou indiretamente pela barragem. Por conseguinte, as análises de risco
precisam ser atualizadas à medida que novas informações são disponibilizadas
(ASCE, 2007; ENVIRONMENT AGENCY, 2013a).
Um estudo que comparou a vazão de projeto2 do vertedouro da UHE Salto
Curucaca, calculada com os dados disponíveis até o ano da sua construção (1982),
com a série atualizada até o ano de 2014 obteve um aumento de 81% na vazão da
TR 10.000 (tempo de retorno da vazão). Tal constatação revela a importância da
atualização dos estudos hidrológicos das barragens, principalmente pelos seus
impactos na estabilidade da barragem e capacidade de descarga do vertedouro
(RIVAS; ZAPZALKA, 2017).
O Brasil, por contar com vastos recursos hídricos, possui um número
expressivo de barragens. Mesmo com esse grande número, ao se analisar o histórico,
conclui-se que têm ocorrido poucos acidentes, demonstrando o excelente padrão
técnico das obras no país (MI, 2002).
Corroborando com a segurança, em 2010, por meio da Lei nº12.334,
estabeleceu-se a Política Nacional de Segurança de Barragens. Um dos objetivos
estabelecidos foi o de fomento à cultura de segurança de barragens e gestão de riscos
no Brasil.
Após o rompimento da barragem de Fundão, em 2015, e Brumadinho, em
2019, o tema adquiriu um enfoque ainda maior por parte das autarquias federais como
ANA, ANEEL, ANM e CONFEA, assim como pelas empresas públicas e privadas dos
setores envolvidos (ALVES, 2019). Dessa forma, é preciso estudar os riscos de
maneira aprofundada para que, durante a elaboração dos projetos, seja dado um
enfoque especial aos pontos que apresentam maior probabilidade de falha e para que
se obtenha a maior redução de riscos possível com o orçamento disponibilizado
(FERC, 2016).
Segundo Perini (2009), a avaliação de riscos ainda se encontra em fase de
aperfeiçoamento para aplicação em segurança de barragens. Entretanto, abordagens
com base nos riscos já vêm sendo consideradas por várias organizações, respaldando

_______________
2 Vazão utilizada no dimensionamento das estruturas vertentes da barragem. É determinada de acordo
com o tempo de retorno adotado.
22

a tomada de decisões, de modo a reduzir o grau de incerteza dos projetos e a


influência da parcialidade (PMI, 2017).
De acordo com Caldeira e Neves (2014), existe hoje um desfasamento no que
diz respeito aos conceitos de segurança estrutural usados nas barragens e os que
são aplicados em outras obras de engenharia civil. No domínio das barragens, a
prática da análise da segurança permanece associada a conceitos simples, tais como
o do coeficiente global de segurança, utilizando como referência os fatores
apresentados na publicação da Eletrobrás (2003). Porém, segundo Aoki (2008), um
fator de segurança maior que um não garante que a obra não venha a ruir pelo fato
de que tanto as ações quanto as resistências são variáveis, expressas por funções
estatísticas de densidades de probabilidade. Portanto, a simples aplicação dos fatores
de segurança pode levar a uma probabilidade de ruína inaceitável.
Ditlevsen (1997) apresentou exemplos que demonstraram que a adoção de
valores fixos de fatores de segurança leva a níveis não uniformes de confiabilidade.
Como resultado, projetistas sugeriram análises de estabilidade probabilísticas,
considerando incertezas decorrentes de um número limitado de amostras e da grande
variabilidade dos parâmetros, permitindo, através do índice de confiabilidade (β) e da
probabilidade de falha ou ruptura (PF), quantificar incertezas desconsideradas nos
métodos determinísticos (GERSCOVICH, 2016).
Uma das formas de realizar estas análises probabilísticas é por meio do
método de Monte Carlo, em que são definidas funções de densidade de distribuição
de probabilidade para os parâmetros. A partir delas são geradas inúmeras
combinações, resultando em uma amostra que permite calcular a probabilidade de
falha da barragem (ENVIRONMENT AGENCY, 2013b).
De tal modo, devido a relevância do tema, este trabalho realiza um estudo de
caso que analisa o impacto da atualização da série hidrológica na probabilidade de
falha por deslizamento do vertedouro da UHE Santa Clara.

1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A situação descrita mostra o afastamento da prática da avaliação da


segurança nas barragens em relação aos conceitos aplicados na análise corrente da
segurança estrutural, baseados numa abordagem semi-probabilística (CALDEIRA;
NEVES, 2014). Também é evidenciado a importância da reavaliação dos riscos das
23

barragens devido às mudanças no ambiente em que está inserida. Desta forma este
trabalho busca responder a seguinte pergunta:
Qual o impacto que a atualização da cheia de projeto de uma usina pode ter
na probabilidade de falha de uma barragem?

1.2 JUSTIFICATIVAS

No XXXII – Seminário Nacional de Grandes Barragens, um importante evento


na área de segurança de barragens, realizado em março de 2019, na cidade de
Salvador, o tema 121 proposto foi: avaliação do efeito das mudanças climáticas na
segurança de empreendimentos hidráulicos, demonstrando a importância do tema no
contexto atual. Neste subcapítulo exprimem-se as demais justificativas para o
desenvolvimento deste trabalho.

1.2.1 Tecnológicas

O resultado obtido a partir do dimensionamento de uma barragem, depende


da correta adoção dos dados de entrada, para que a estrutura seja analisada da
maneira mais fidedigna com o comportamento que apresentará durante a sua vida
útil. A utilização de modelos probabilísticos colabora para a adoção de métodos que
permitam a inserção de curvas de distribuição de probabilidade nos dados de entrada,
ao invés de um único valor. Ademais, a análise de estabilidade determinística não
fornece nada além do valor do fator de segurança (AOKI, 2008).

1.2.2 Econômicas

Além do custo óbvio da perda da estrutura e na sua substituição, o


rompimento de uma barragem pode provocar impactos significativos na economia da
região, devido à paralisação de geração de energia elétrica e restrição de água para
aplicações industriais e agrícolas. De acordo com Makaron (2012), a construção de
uma Hidrelétrica é um investimento que implica em muitos riscos aos
empreendedores, visto que são investimentos muito sensíveis à variação do valor final
do projeto. Desta forma, é fundamental realizar o rigoroso planejamento e controle da
sua construção, assim como estudos em relação aos impactos que sua
implementação pode causar.
24

O dimensionamento pelo método determinístico impede a comparação da


confiabilidade entre estruturas. Assim como a tensão suportada por uma corrente é
determinada pela resistência do seu elo mais fraco, toda barragem é composta por
diferentes estruturas, podendo a ruptura de qualquer uma delas levar a consequências
desastrosas. Logo é fundamental que se possam realizar comparações da
confiabilidade das estruturas de modo que os recursos disponíveis sejam aplicados
no elo mais fraco. As técnicas probabilísticas contribuem justamente para que seja
possível classificar as estruturas de acordo com a sua confiabilidade.

1.2.3 Sociais

Ao longo de mais de 4000 anos, barragens e reservatórios têm sido utilizados


como ferramentas para a administração dos extremos do ciclo hidrológico. Mesmo
assim, quase 750 milhões de pessoas no mundo têm dificuldade em obter água
adequada para o consumo (WHO, 2014).
O Brasil tem grande parte de sua energia elétrica gerada a partir de fontes
renováveis. Em 2018, 66,6% da energia foi gerada por usinas hidrelétricas,
proporcionando indicadores de emissões de CO2 muito menores do que a média
mundial (EPE, 2019). Porém, para que esta fonte tenha um aproveitamento ótimo, é
necessário realizar o armazenamento de um volume de água para obter um
determinado grau de regularização da vazão (SCHREIBER, 1977).
Entretanto, a recorrência de rupturas das barragens com efeitos catastróficos
tem sido foco de atenção crescente no mundo todo, uma vez que a sociedade tem se
tornado cada vez menos tolerante a falhas. Visto que é extremamente afetada por
estes eventos devido à perda de bens materiais, desabastecimento de água potável,
falta de energia, e principalmente à perda de vidas (CALDEIRA, 2008).

1.2.4 Ambientais

O rompimento de uma barragem causa impactos ambientais significativos nos


ecossistemas afetados. Dentre eles, impactos à vegetação natural, às áreas de
preservação permanente, pela devastação de matas ciliares e aporte de sedimentos,
à ictiofauna, devido ao assoreamento do leito dos rios e aumento da quantidade de
sólidos em suspensão no corpo d’água e impactos à fauna pela dizimação dos animais
nas margens tomadas pela onda de cheia (IBAMA, 2015).
25

Neste sentido, destaca-se a importância do avanço dos estudos de análise de


risco procurando determinar a probabilidade de ruptura e colaborando para a
elaboração de Planos de Ações Emergenciais.

1.2.5 Atualizacionais

Devido à grande variabilidade temporal e espacial das vazões dos rios é


importante que se atualize a cheia de projeto das usinas hidrelétricas sempre que
novos dados de vazão forem disponibilizados. Esta atualização pode implicar em
mudanças no nível máximo maximórum, nos esforços aplicados na barragem, e,
consequentemente, na probabilidade de falha da barragem (MATSUMURA; THIAGO
FERREIRA, 2018).

1.3 Objetivo

O objetivo desta dissertação é determinar a influência da atualização da cheia


de projeto na probabilidade de falha por deslizamento de uma barragem de concreto.

1.4 DELIMITAÇÃO DO TRABALHO

A probabilidade de falha foi calculada apenas em relação às ameaças externas,


usando a análise de Monte Carlo, visto que não há método analítico equivalente para
estimar a probabilidade de falha por causa de ameaças internas (ENVIRONMENT
AGENCY, 2013b).
A análise de estabilidade global foi realizada de acordo com a formulação da
Eletrobrás avaliando a segurança ao deslizamento, sem considerar a abertura de
fissura à montante e limitando-se à região da interface entre o concreto e a fundação.
Não serão realizadas análises das tensões nas estruturas de concreto nem na
base das fundações.
O escopo não inclui a análise dos impactos do rompimento da barragem.

1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Todo capítulo é brevemente descrito com o intuito de fornecer uma visão geral
desta dissertação.
26

No Capítulo 1, é apresentado o problema de pesquisa, objetivos, bem como as


principais justificativas para a realização deste estudo.
O Capítulo 2 contém a revisão bibliográfica, discorrendo sobre o gerenciamento
de riscos de barragens, ações a que está sujeita, conceitos de hidráulica e hidrologia
ligados aos projetos de barragens.
O Capítulo 3 trata sobre o estudo de caso desta dissertação, descrevendo e
listando as principais características da barragem analisada.
No Capítulo 4 são abordados os procedimentos metodológicos empregados,
retratando a coleta e geração de dados e as modelagens realizadas.
No Capítulo 5 discorre-se sobre resultados deste estudo com base nas análises
de estabilidade, considerando a probabilidade de ruptura na época da construção da
hidrelétrica e atualmente.
O Capítulo 6 apresenta as considerações finais acerca da pesquisa e as
recomendações para trabalhos futuros.
27

REVISÃO DE LITERATURA

Segue o referencial teórico do trabalho, que serviu como base para a


elaboração desta dissertação.

2.1 BARRAGENS

Barragens são estruturas construídas em cursos de água com o objetivo de


conter ou acumular substâncias (BRASIL, 2010).

2.1.1 Dimensão

As barragens podem ter algumas centenas de metros de altura. As com mais


de 15 metros de altura são classificadas como grandes barragens. As com altura entre
5 e 15 metros apenas são enquadrados neste grupo caso tenham um volume
acumulado maior que 3 milhões de metros cúbicos (ICOLD, 2011).

2.1.2 Uso

Podem ser utilizadas para a irrigação, abastecimento humano, recreação,


navegação, piscicultura, geração de energia elétrica, contenção de rejeitos de
mineração ou resíduos industriais (ANA, 2016a). No GRÁFICO 1 é possível visualizar
o número de grandes barragens de acordo com a sua utilização (ICOLD, 2019).

GRÁFICO 1 – NÚMERO DE BARRAGENS POR USO NO MUNDO


25000
Nº de Barragens

20000
15000
10000 20013
5000 9664 7618 7341 4282 2034 2916
0

FONTE: (ICOLD, 2019).


28

2.1.3 Material de construção

Vários materiais podem ser utilizados na construção de barragens como:


alvenaria, concreto ciclópico, concreto compactado a rolo, concreto convencional,
enrocamento, terra e areia. A disponibilidade desses materiais no entorno do local em
que será construída, em volume e qualidade adequados, tem influência direta na
escolha do seu tipo (PEREIRA, 2015).

2.1.4 Tipo

O tipo da barragem a ser construída é definido na fase de projeto, de acordo


com condicionantes locais. Neste processo busca-se a solução que apresente
viabilidade técnica e o menor custo global. Os principais tipos de barragens são as de
aterro, concreto-gravidade e concreto em arco (PEREIRA, 2015). No GRÁFICO 2
apresenta-se o percentual de barragens no mundo de cada tipo.

GRÁFICO 2 – NÚMERO DE BARRAGENS POR TIPO

13% Barragens de terra


13% 1%
0.5% Barragens de enrocamento
4% 0.3% Barragem de gravidade
6% Barragens de contraforte
Diques
Barragem em arco
Barragem de arcos múltiplos
63%
Outros

FONTE: (ICOLD, 2019).

2.1.5 Ruptura de Barragens

A resolução nº178/2016 do CNRH, que estabelece diretrizes para


implementação da Política Nacional de Segurança de Barragens, define um acidente
como o comprometimento da integridade estrutural com liberação incontrolável do
conteúdo do reservatório, ocasionado pelo colapso parcial ou total da barragem, ou
estrutura anexa (CNRH, 2016).
29

2.2 GERENCIAMENTO DE RISCOS

Segundo o PMI (2017), “o risco é um evento ou condição incerta que, se


ocorrer, provocará um efeito positivo ou negativo em um, ou mais objetivos do projeto
tais como escopo, cronograma, custo e qualidade”.
A gestão de riscos engloba ações de caráter normativo, bem como a aplicação
de medidas para prevenção, controle e mitigação de riscos (BRASIL, 2010). O PMI
(2017) define para o gerenciamento de riscos os processos de: planejamento,
identificação, análise, planejamento das respostas, monitoramento e controle.
A gestão dos riscos de barragens envolve questões de diversas naturezas,
exigindo que os sejam geridos de maneira global. Impactando o modo de governança
das empresas proprietárias de barragens (PEREIRA, 2015).
Para instituições que fiscalizam ou possuem um grande portfólio de
barragens, a análise de riscos serve de apoio para a tomada de decisões. Este apoio
se dá pela comparabilidade que a análise de risco proporciona, auxiliando na escolha
das melhores alternativas de investimento, considerando a relação custo benefício
das ações. Na FIGURA 1 está ilustrado como os processos de gestão de riscos se
relacionam entre si (FEMA, 2015).

FIGURA 1 – RELAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS DE GERENCIAMENTO DE RISCOS.

Gerenciamento dos riscos


Tomada de decisão

Avaliação do risco Controle


Recomendação de decisão dos riscos
Apreciação do Redução dos
Análise do risco risco riscos

Estimativa do Atividades
recorrentes
Identificação dos modos de risco
falha Reavaliação
periódica

FONTE: adaptado de FEMA, (2015).

De acordo com o PMI (2017), a atitude das organizações em relação aos


riscos é influenciada por fatores como apetite, tolerância e limite de riscos. Para que
tenham sucesso, é essencial que gerenciem os riscos durante todo o projeto.
30

Dentre os benefícios do gerenciamento dos riscos em barragens estão a


transparência em relação às incertezas, a utilização de métodos para a estruturação
racional e sistêmica dos processos de tomada de decisão, a realização de estimativas
detalhadas das consequências do rompimento da barragem e dos modos de falha.
Também inclui a criação de uma base de dados permitindo a comparação entre os
riscos, de modo a auxiliar na escolha de medidas que reduzam o risco de maneira
eficaz (NZSOLD, 2015), ajudando na gestão do patrimônio, definindo uma estratégia
de manutenção e antecipando falhas (PEREIRA, 2015).
Cabe destacar que a análise de riscos aplicada às barragens não busca
alterar a prática tradicional de dimensionamento dessas, mas sim aumentar os níveis
de segurança e melhorar as condições de funcionamento, fazendo uma gestão eficaz
dos recursos disponíveis para a sua construção e manutenção (GOMES et al., 2005).

2.2.1 Planejamento do Gerenciamento

O planejamento define um método, gerando diretrizes para se realizar as


atividades ligadas aos demais processos de gerenciamento de riscos do projeto (PMI,
2017). Porém, não é possível estabelecer regras fixas, visto que as condições
topográficas, hidrográficas, econômicas e, às vezes, políticas são distintas para cada
barragem. O que se adota são apenas sugestões que podem ser consideradas no
estudo de um determinado empreendimento (SCHREIBER, 1977).
Nota-se que grande parte dos riscos associados às barragens têm origem nas
fases de projeto e construção, que sob a ação de determinadas condições podem
implicar no desenvolvimento de um processo de falha (PENNA; ARAGÃO; FUSARO,
2015). Com base nisso, é fundamental que os riscos sejam compreendidos na sua
escala temporal de curto, médio e longo prazo, sendo considerados desde o
planejamento do empreendimento, pois, podem exigir atores com papéis, funções e
prerrogativas das mais variadas (PEREIRA, 2015).
Ciente disso, após a privatização parcial do setor elétrico, a Eletrobrás
consolidou no documento “Critérios de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas” 50 anos
de projeto e construção de usinas hidrelétricas, visando à manutenção do padrão de
qualidade dos projetos hidrelétricos. Neste documento de orientação, foram
estabelecidos critérios para que os projetos sejam desenvolvidos com adequadas
condições de qualidade técnica, segurança e custos (ELETROBRÁS, 2003).
31

2.2.2 Identificação dos Riscos

A identificação de riscos é o processo de busca, reconhecimento e descrição


dos riscos. Envolve a identificação das fontes, eventos, causas e potenciais
consequências, podendo fazer uso de dados históricos, análises teóricas, opiniões de
especialistas, e as necessidades das partes interessadas (ABNT, 2018).
De acordo com Bowles et al. (1999) e FEMA (2015), um dos primeiros passos
ao se realizar a análise de riscos de uma barragem é identificar os modos de ruptura
e definir o nível de detalhamento e complexidade na avaliação dos riscos.
Esta identificação é um processo qualitativo de listagem dos modos potenciais
de ruptura, quando um ou uma sequência de eventos necessários para que ocorra a
ruptura da barragem acontecem. Ela inclui a relação entre cada um dos modos de
ruptura e seus respectivos impactos (MORRIS et al., 2012).

2.2.2.1 Identificar modos de falha

Existem muitos mecanismos que podem provocar a ruptura de uma barragem.


No QUADRO 1 os tipos de barragens estão relacionados com os seus respectivos
modos de falha.

QUADRO 1 – MODOS DE FALHA PARA DIFERENTES TIPOS DE BARRAGENS


Tipos de barragens
Aterro Concreto
Terra e/ou Arcos
Modo de falha Gravidade Arco Contraforte
Enrocamento múltiplos
Galgamento X X X X X
Erosão interna e
X X X X X
piping
Defeitos de
X X X X X
fundação
Escorregamento de
X X X
taludes
Tombamento X X
Fissuração X X X X X
Falha de
X X X X X
equipamento
FONTE: (ATALLAH, 2002; COSTA, 1985) (tradução do autor).
32

Verifica-se que as barragens têm variados modos de falha. O Galgamento3,


erosão interna, defeitos de fundação, fissuração e falha de equipamentos são
mecanismos que podem levar a falha em todos os tipos de barragens.
O ICOLD pesquisou e listou os modos de falha das barragens com mais de
15 metros de altura que romperam entre os anos de 1900 e 1973. O resultado desta
pesquisa está ilustrado no GRÁFICO 3 (ICOLD, 1973 apud Costa 1985).

GRÁFICO 3 – PERCENTUAL DAS CAUSAS RESPONSÁVEIS PELA RUPTURA DE BARRAGENS.

8%

34%

28% Galgamento
Falhas na fundação
Erosão interna e piping
Outros

30%

FONTE: ICOLD (1973) apud Costa (1985).

Analisando o GRÁFICO 3 é possível notar que o galgamento é a causa mais


frequente responsável pelo rompimento de barragens. Ressalta-se que, a
probabilidade de ocorrência de galgamento aumenta à medida que se adota uma
vazão de projeto com um tempo de retorno menor (BANCO MUNDIAL, 2012). Por
esse motivo, recomenda-se que a vazão de projeto do vertedouro de Usinas
Hidrelétricas (UHE) tenha um tempo de retorno (TR) de pelo menos 10.000 anos,
também conhecida como retorno decamilenar (ELETROBRÁS, 2003).
De acordo com QUADRO 1 e o GRÁFICO 3 verifica-se que os modos de falha
mais comuns na pesquisa do ICOLD podem causar o rompimento de todos os tipos
de barragens.

_______________
3 Quando o nível de água no reservatório supera a altura da barragem, extravasando por cima da
estrutura, sem que ela tenha sido projetada para este fim.
33

No QUADRO 2 os cinco principais mecanismos de falha estão associados aos


seus respectivos modos de falha.

QUADRO 2 – MODOS TÍPICOS DE FALHAS DE BARRAGENS


Mecanismo de
Exemplos de modos de falha
falha
Galgamento provocado por:
• Projeto inadequado do vertedouro
• Bloqueio do vertedouro
• Redução de borda livre devido a recalque ou erosão
Hidrológico
• Sobrecarga sobre a barragem
Erosão da superfície devido a:
• Fluxo de água a altas velocidades
• Ação de ondas
Piping e erosão interna causada por:
• Fissuras internas, fraturas hidráulicas, ou recalques
diferenciais
• Filtros e transições inadequadas
Geológico • Rompimento de tubo adutor no interior da barragem
Geotécnico • Caminhos pelo aterro criados por raízes ou tocas de
animais/insetos
Instabilidade de taludes e fraturamento hidráulico:
• Carga excede a resistência ao deslizamento na base ou
em uma junta da estrutura
Barragem de Concreto: Falha de componentes estruturais
Estrutural críticos
Barragem de Aterro: Falha da face de montante ou jusante
Terremotos/Movimentos de solo, liquefação da fundação ou do
Sísmico
corpo da barragem
Falha de operação:
• Aumento súbito do nível do reservatório causa fluxo
através de fissuras transversais ao corpo da barragem
Causa ou • Incidentes incluindo falha das comportas, interrupção de
influência humana energia etc.
Atividades terroristas:
• Operação incorreta da barragem de modo proposital
• Impacto de objeto que remova parte da crista da barragem
FONTE: (FEMA, 2013, tradução do autor).

Constata-se uma grande similaridade entre os mecanismos de falha obtidos


nos três estudos, dando indícios de que estes mecanismos foram historicamente os
mais frequentes. A separação dos mecanismos de falha é didática e é utilizada para
explicar os modos de maneira aprofundada, porém, na prática, eles se inter-
relacionam, ou seja, o rompimento de uma barragem pode ser causado por uma
associação de modos de falha (FEMA, 2013).
34

a) Hidrológico – As falhas hidrológicas são induzidas por chuvas extremas


que podem levar a inundações de grande magnitude. As principais causas
de falha incluem o galgamento, quando o nível do reservatório excede a
altura da barragem passando a fluir por cima dela, levando-a ao colapso e
a erosão da superfície que ocorre quando o fluxo de água ou as ondas do
reservatório desgastam a superfície da barragem (FEMA, 2013).
b) Geológico Geotécnico – As falhas geológicas incluem Piping e erosão
interna, bem como instabilidade de taludes e faturamento hidráulico. O
Piping e a erosão interna ocorrem devido a percolação de água pelo corpo
da barragem ou pela sua fundação com o carreamento de material, criando
vazios. Já a instabilidade de taludes pode ser causada por falhas
geológicas, investigações e caracterizações insuficientes ou inadequadas,
concepção inadequada ou variações nos carregamentos como a elevação,
ou rebaixamento rápido do reservatório (FEMA, 2013).
c) Estrutural – Falhas estruturais podem ocorrer devido à avaria de um
componente crítico da barragem. Estas falhas podem ser causadas por
uma concepção ou construção equivocada, assim como pela utilização de
materiais de construção, manutenção e reparo inadequados (FEMA,
2013).
d) Sísmico – Os sismos podem levar a instabilidade de taludes, rachaduras
e fissuras em estruturas, além de recalques diferenciais. A maioria dos
terremotos ocorre em zonas sísmicas, porém, isso não elimina o risco de
um terremoto ocorrer em uma região sem um histórico de atividade sísmica
(FEMA, 2013). Atualmente considera-se a possibilidade da ocorrência de
sismos induzidos pelo enchimento do reservatório da própria barragem,
especialmente no caso de barragens de porte e reservatórios de grandes
dimensões (ELETROBRÁS, 2003).
e) Causa ou influência humana – As falhas podem ser causadas pela
influência humana por meio da operação e manutenção de inadequada
assim como por atos terroristas. A operação inadequada do vertedouro,
liberando água do reservatório de maneira descontrolada, pode causar
inundação a jusante da barragem. Atividades terroristas podem provocar
danos devido à operação inadequada proposital e através de ataques à
estrutura da barragem (FEMA, 2013).
35

2.2.2.2 Identificar danos potenciais.

Existem significativas variações na classificação das barragens, porém, todas


as classificações buscam diferenciar as barragens de acordo com o dano potencial
que resultaria do seu rompimento (FEMA, 2013). Os danos podem ser classificados
em impactos sociais, ambientais e socioeconômicos (CNRH, 2012).
As consequências sociais decorrentes da ruptura de uma barragem ou de
suas obras anexas dependem do tipo, localização e tamanho da comunidade afetada
pela ruptura. Para a identificação dos danos são levados em consideração: as
características demográficas, população, serviços públicos e empregos afetados,
além do deslocamento de pessoas, influência sobre a capacidade produtiva,
patrimônio cultural, áreas de lazer e saúde pública (KUPERMAN et al., 2001).
Dentre os impactos ambientais, é considerada a destruição da vegetação e
do habitat, remoção do solo de cobertura, deposição de sedimentos e destruição de
vida animal. Podendo levar muito tempo até o restabelecimento das condições pré-
existentes ao desastre. (KUPERMAN et al., 2001).
Os impactos econômicos resultantes da ruptura de uma barragem são muito
significativos. Além da perda da água armazenada, danos na barragem e paralisação
no faturamento, devido à descontinuidade no fornecimento de água ou energia, são
considerados o número de residências, indústrias e comércios afetados, assim como
os impactos na infraestrutura e agricultura local (KUPERMAN et al., 2001).

2.2.3 Análise dos Riscos

A análise dos riscos busca compreender a natureza do risco e determinar o


seu nível, ou seja, a severidade com base na combinação de probabilidade e impacto
(ABNT, 2018).
Morris et al. (2012) afirmam que, quando se trata de barragens, nesta etapa é
avaliada a probabilidade de falha devido a ameaças internas e externas, são
mapeadas as áreas sujeitas à inundação, são analisados os impactos e determinados
os níveis de risco.
As análises podem ser tão detalhadas quanto se achar necessário. Desta
forma, para cada nível de detalhamento, é compilado um conjunto de dados mais, ou
menos avançados. No QUADRO 3 são descritos os níveis de avaliação dos riscos.
36

QUADRO 3 – NÍVEIS DE AVALIAÇÃO DE RISCOS.


Estimativa da Método de
Inputs de Estimativas das
Nível Tipo Probabilidade Avaliação
Engenharia Consequências
de Falha de Risco
Qualitativa
Básico ao
Superficial ou Básico Superficial Básico
Moderado
Quantitativa
Moderado Moderado
Preliminar Quantitativa Preliminar Moderado
ao Básico ao Básico
Avançado Detalhado
Detalhado Quantitativa ao Detalhado Avançado ao
Moderado Moderado
Avançado Detalhado
Muito Avançado ao
Quantitativa ao Muito Muito detalhado ao Muito
detalhado Muito Avançado
Avançado Detalhado
FONTE: ANCOLD (2003).

Existem vários métodos para se realizar uma análise de risco em barragens


que podem ser escolhidos de acordo com o objetivo do estudo, tipo de barragem,
riscos a serem analisados, etc. (HARTFORD; BAECHER, 2004).
Em geral, tanto análises qualitativas quanto quantitativas são aplicáveis às
barragens (ANCOLD, 2003). Nas análises qualitativas, os parâmetros de
probabilidade e impactos são expressos em escala categórica ordinal, já nas
quantitativas são expressos exclusivamente por valores numéricos (JOIA et al., 2013).
Na FIGURA 2 é ilustrado um diagrama esquemático da Política Nacional de
Segurança de Barragens (PNSB) que busca assegurar que as barragens atendam a
padrões de segurança, regulamenta e promove o monitoramento das ações de
segurança de maneira a minimizar a possibilidade de acidentes, fomentando a cultura
de segurança de barragens e gestão de riscos.
A estrutura da PNSB é bastante complexa, envolvendo diversos órgãos, entes
federativos, proprietários de barragens e a sociedade como um todo. Observa-se que
o Congresso Nacional, é responsável por elaborar, aprovar e aprimorar a legislação
de modo a estabelecer as regras que devem ser seguidas. Já o Conselho Nacional
de Recursos Hídricos (CNRH), auxilia o Congresso e estabelece as diretrizes para
implementação dos instrumentos da PNSB. Os órgãos fiscalizadores, por sua vez, são
responsáveis pelas ações de fiscalização, cadastramento e classificação da
segurança da barragem de acordo com a sua finalidade, cabendo aos proprietários
das barragens elaborar os documentos técnicos necessários e executar as ações de
segurança de barragens (BRASIL, 2010).
37

FIGURA 2 – ESTRUTURA DA POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS.

ANM

FONTE: Adaptado de ANA (2013).

2.2.3.1 Análise qualitativa

A análise qualitativa prioriza os riscos de acordo com a sua severidade, sendo


uma prática bem estabelecida e aplicada em vários países (GOMES et al., 2005). Os
principais métodos qualitativos de análise de risco são:
a) IG – Índice de Risco: São formas simples de análise tendo como objetivo
classificar as barragens, dentro de um portfólio específico, auxiliando na
priorização de estudos e de obras de melhoria (MELO; FUSARO, 2015).
b) LCI – Diagrama de Localização, Causa e Indicadores de Falhas: É um
método que utilizando diagramas de localização, causa e indicadores de
falha busca classificar as barragens (MELO; FUSARO, 2015).
c) FMEA – Análise de Modos de Falha e Efeitos e FMECA – Análise de
Modos de Falha, Efeitos e Severidade: São consideradas uma das
38

primeiras técnicas sistemáticas para a análise de falha. Têm o objetivo de


identificar a severidade de modos de falha potenciais e prover as bases
para definir as medidas de mitigação eventualmente necessárias para
redução do risco (MELO; FUSARO, 2015).
No QUADRO 4 estão listadas algumas metodologias de análise de riscos e
as suas respectivas abordagens.

QUADRO 4 – METODOLOGIAS PARA ANÁLISE DE RISCO


Método Qualitativo Quantitativo
Índices de Risco (IG) X
Diagrama de Localização, Causa e Indicadores de Falhas
X
(LCI)
Análises de Modos de Falha e Efeitos (FMEA e FMECA) X X
Análise por Árvore de Eventos (ETA) X X
Análise por Árvore de Falhas (FTA) X X
FONTE: Adaptado de Melo e Fusaro (2015).

Todas as metodologias listadas no QUADRO 4 são qualitativas, no entanto,


as Análises FMEA, FMECA, por Árvore de Eventos e de Falhas também podem ser
utilizadas em análises quantitativas.

2.2.3.1.1 Classificação quanto à Categoria de Risco (Probabilidade).

Conforme a Lei nº 12.334/2010, as barragens devem ser classificadas quanto


à categoria de risco em: alto, médio ou baixo (BRASIL, 2010). A Resolução nº
143/2012 do CNRH estabelece critérios para realizar essa classificação, considerando
os aspectos que possam influenciar na ocorrência de acidentes. A mesma resolução
permite que os órgãos fiscalizadores adotem critérios complementares tecnicamente
justificados para realizar a classificação quanto à categoria de risco.
No caso de barragens de hidrelétricas, a ANEEL adota quadros de
classificação de categoria de risco com pequenas adaptações regulamentadas por
meio da Resolução Normativa nº 696/2015 (ANEEL, 2015), porém utilizando como
base os critérios estabelecidos pela Resolução CNRH nº 143/2012 (CNRH, 2012).
A seguir será apresentada a metodologia de classificação das barragens
quanto à categoria de risco conforme a legislação vigente.
Segundo o CNRH, as características técnicas de barragens de acumulação
de água são avaliadas através de um levantamento das características físicas da
39

barragem como: altura, comprimento, material de construção, tipo de fundação, idade


e de acordo com o tempo de retorno da vazão de projeto do vertedouro conforme o
QUADRO 5 (CNRH, 2012).

QUADRO 5 – QUADRO DE CLASSIFICAÇÃO – CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS


Tipo de barragem
quanto ao material de Idade da
Altura Comprimento construção Tipo de fundação barragem Vazão de Projeto
(a) (b) (c) (d) (e) (f)
entre 30 e 50 CMP ou
Alt. ≤ 15m Compr. ≤ 200m Concreto convencional Rocha sã anos Decamilenar
(0) (2) (1) (1) (1) (3)
Alvenaria de pedra /
15m < Alt. < concreto ciclópico / Rocha alterada dura entre 10 e 30
30m Compr. > 200m CCR com tratamento anos Milenar
(1) (3) (2) (2) (2) (5)
Rocha alterada sem
Terra homogênea tratamento / rocha
30m ≤ Alt. ≤ - /enrocamento / terra alterada fraturada com entre 5 e 10
60m enrocamento tratamento anos TR = 500 anos
(2) (3) (3) (3) (8)
< 5 anos ou TR < 500 anos ou
Rocha alterada mole / > 50 anos ou desconhecida /
- - saprolito / solo sem Estudo não
Alt. > 60m compacto informação confiável
(3) (4) (4) (10)
Solo residual / aluvião
- - - - -
(5)
FONTE: Adaptado de CNRH, (2012).
Notas:
Entre parênteses: (letra) = Característica Técnica.
Entre parênteses: (numeral) = Peso em pontos considerado para cada característica técnica
específico considerado na análise de risco.

Desta maneira, para avaliar as Características Técnicas (CT) de uma


barragem realiza-se o somatório dos pontos de acordo com a matriz do QUADRO 5.
O valor de CT é dado pela EQUAÇÃO 1, e os parâmetros da matriz fornecem
um quadro inicial da barragem quanto a sua confiabilidade, independentemente de
sua integridade e condições estruturas, levando em conta as características do projeto
original da barragem (BANCO MUNDIAL, 2012).

CT = ∑ (a até f) (1)

onde:
CT = Características Técnicas;
a até f = pontos da matriz de características técnicas.

O Estado de Conservação (EC) é avaliado com base na confiabilidade das


estruturas extravasoras, de adução, eclusa e se existem manifestações patológicas
40

como: percolação, recalque ou deterioração dos taludes conforme o QUADRO 6


(CNRH, 2012).

QUADRO 6 – QUADRO DE CLASSIFICAÇÃO – ESTADO DE CONSERVAÇÃO


Deterioração
Confiabilidade das Confiabilidade das Deformações dos Taludes /
Estruturas Extravasoras Estruturas de Adução Percolação e Recalques Paramentos Eclusa (*)
(g) (h) (i) (j) (k) (l)
Estrut. civis e
Estrut. civis e dispositivos Percolação
hidroeletromecânicas em hidroeletromecânicos totalmente
pleno funcionamento / em condições controlada
canais de aproximação ou adequadas de pelo
de restituição ou vertedouro manutenção e sistema de Não possui
(soleira livre) desobstruídos funcionamento drenagem Inexistente Inexistente eclusa
(0) (0) (0) (0) (0) (0)
Estrut. civis e Estrut. civis Umidade ou
hidroeletromecânicas comprometidas ou surgência Falhas na
preparadas para a dispositivos nas áreas proteção dos
operação, mas sem fontes hidroeletromecânicos de jusante, taludes e
de suprimento de energia de com problemas paramentos, Existência de paramentos,
emergência / canais ou identificados, com taludes ou trincas e presença de Estrut. civis e
vertedouro (soleira livre) redução de capacidade ombreiras abatimentos de arbustos de hidroeletromecâ
com erosões ou obstruções, de vazão e com estabilizada pequena pequena nicas bem
porém sem riscos a estrut.. medidas corretivas em s e/ou extensão e extensão e mantidas e
vertente implantação monitoradas impacto nulo impacto nulo funcionando
(4) (4) (3) (1) (1) (1)
Estrut. civis comprometidas Erosões
ou dispositivos Umidade ou superficiais,
hidroeletromecânicos com surgência ferragem
problemas identificados, nas áreas Existência de exposta, Estrut. civis
com redução de capacidade Estrut. civis de jusante, trincas e crescimento de comprometidas
de vazão e com medidas comprometidas ou paramentos, abatimentos de vegetação ou dispositivos
corretivas em implantação / dispositivos taludes ou impacto generalizada, hidroeletromecâ
canais ou vertedouro hidroeletromecânicos ombreiras considerável gerando nicos com
(soleira livre) com erosões com problemas sem gerando necessidade problemas
e/ou parcialmente identificados, com tratamento necessidade de identificados e
obstruídos, com risco de redução de capacidade ou em fase de estudos monitoramento com medidas
comprometimento da estrut. de vazão e sem de adicionais ou ou atuação corretivas em
vertente medidas corretivas diagnóstico monitoramento corretiva implantação
(7) (6) (5) (5) (5) (2)
Surgência Existência de Depressões
Estrut. civis comprometidas
nas áreas trincas, acentuadas
ou dispositivos
de jusante, abatimentos ou nos taludes, Estrut. civis
hidroeletromecânicos com
taludes ou escorregament escorregament comprometidas
problemas identificados,
ombreiras os os, sulcos ou dispositivos
com redução de capacidade
com expressivos, profundos de hidroeletromecâ
de vazão e sem medidas
carreament com potencial erosão, com nicos com
corretivas/ canais ou
o de de potencial de problemas
vertedouro (soleira livre)
material ou comprometime comprometime identificados e
obstruídos ou com estrut.
com vazão nto da nto da sem medidas
danificadas
crescente segurança segurança corretivas
(10)
- (8) (8) (7) (4)
FONTE: Adaptado de CNRH, (2012).
Notas:
Entre parênteses: (letra) = Condição de deterioração considerada.
Entre parênteses: (numeral) = Peso em pontos considerado para cada condição de deterioração
considerada.

O Estado de Conservação (EC) é avaliado com base no somatório dos pontos


de acordo com a matriz do QUADRO 6. O valor de EC é dado pela EQUAÇÃO 2, em
41

que os parâmetros na matriz fornecem um resumo da vulnerabilidade da barragem,


complementando suas reais condições e reforçando o nível de confiança nos critérios
de classificação das barragens (BANCO MUNDIAL, 2012).

EC = ∑ (g até l) (2)

onde:
EC = Estado de Conservação;
g até l = pontos da matriz de estado de conservação.

O Plano de Segurança (PS), que guarda todos os documentos relacionados


com a segurança da barragem, é avaliado de acordo com a existência da
documentação do projeto, qualificação da estrutura organizacional, se existe a devida
análise e interpretação dos resultados das inspeções e monitoramento, assim como
regras operacionais para os dispositivos de descarga, de acordo com o QUADRO 7
(CNRH, 2012).

QUADRO 7 – QUADRO DE CLASSIFICAÇÃO – PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGEM


Estrutura Organizacional Relatórios de
e qualificação técnica dos Procedimentos de Regra operacional inspeção de
Existência de profissionais da equipe roteiros de inspeções dos dispositivos segurança com
documentação de de Segurança da de segurança e de de descarga da análise e
Projeto Barragem monitoramento barragem interpretação
(n) (o) (p) (q) (r)
Possui estrutura Possui e aplica
organizacional com técnico procedimentos de
Projeto executivo e responsável pela inspeção e Sim ou Vertedouro Emite regularmente
"como construído" segurança da barragem monitoramento tipo soleira livre os relatórios
(0) (0) (0) (0) (0)
Projeto executivo Possui técnico responsável Possui e aplica apenas
ou "como pela segurança da procedimentos de Emite os relatórios
construído" barragem inspeção Não sem periodicidade
(2) (4) (3) (6) (3)
Não possui estrutura Possui e não aplica
organizacional e procedimentos de
responsável técnico pela inspeção e - Não emite os
Projeto básico segurança da barragem monitoramento relatórios
(4) (8) (5) (5)
Não possui e não aplica
procedimentos de
Anteprojeto ou - inspeção e - -
Projeto conceitual monitoramento
(6) (6)
Inexiste
documentação de
- - - -
projeto
(8)
FONTE: Adaptado de CNRH, (2012).
Notas:
Entre parênteses: (letra) = Item do Plano de Segurança.
Entre parênteses: (numeral) = Peso em pontos considerado para cada item do plano de segurança
42

O Plano de Segurança (PS) é avaliado com base no somatório dos pontos de


acordo com a matriz do QUADRO 7.
O valor de PS é dado pela EQUAÇÃO 3, e os parâmetros na matriz são
importantes para medir se uma barragem específica está sendo administrada
adequadamente em termos da segurança de barragens e se o conteúdo do plano de
segurança da barragem é adequado, completo e de qualidade (BANCO MUNDIAL,
2012).

PS = ∑ (n até r) (3)

onde:
PS = Plano de segurança da barragem;
n até r = pontos da matriz Plano de Segurança de Barragem.

Após realizar a avaliação conforme os quadros de classificação quanto às


características técnicas, estado de conservação e Plano de Segurança, soma-se os
pontos obtidos conforme a EQUAÇÃO 4, para enquadrar a barragem em uma
Categoria de Risco (CRI), constituindo um bom conjunto de ferramentas para
classificar barragens de acordo com sua integridade estrutural (BANCO MUNDIAL,
2012).

CRI = CT + EC + PS (4)

onde:
CRI = Categoria de risco;
CT = Características Técnicas;
EC = Estados de Conservação;
PS = Plano de Segurança de Barragens.

Com o resultado da pontuação total (CRI) calculado conforme EQUAÇÃO 4,


a barragem é classificada de acordo com a TABELA 1 enquadrando a barragem de
acordo com a sua categoria de risco ou vulnerabilidade, o que diz respeito à
probabilidade ou possibilidade de ocorrer um acidente (CNRH, 2012).
Ressalta-se que a ANEEL utiliza uma pontuação distinta prevista na Resolução
Normativa nº696/2015 (ANEEL, 2015).
43

TABELA 1 – MATRIZ DE CLASSIFICAÇÃO QUANTO À CATEGORIA DE RISCO


CRI – Barragem de Acumulação de
Categoria de Risco
Água
Faixas de ALTO >=60 ou EC >= 8 (*)
Classificação
MÉDIO 35 a 60
BAIXO < = 35
(*) Pontuação maior ou igual a 8 em qualquer coluna de Estado de Conservação (EC) implica
automaticamente Categoria de Risco Alta e necessidade de providencias imediatas pelos
responsável da barragem
FONTE: CNRH, (2012).

Pela metodologia vigente a classificação da categoria de risco de uma


barragem é realizada por um somatório de acordo com as suas características
técnicas, estado de conservação e plano de segurança de barragens. O que pode
produzir uma falsa sensação de segurança, caso a barragem seja categorizada como
sendo de risco baixo. Um exemplo é a barragem I da empresa Vale S.A. em
Brumadinho/MG que era classificada como sendo de risco baixo e rompeu no dia 25
de janeiro de 2019 (ANM, 2019).

2.2.3.1.2 Classificação quanto ao Dano Potencial Associado (Impacto).

O Dano Potencial Associado (DPA) expressa a magnitude das


consequências, como a perda de vidas e bens, na eventualidade de um rompimento.
De acordo com a Lei nº 12.334/2010, as barragem devem ser classificadas quanto ao
DPA em alto, médio ou baixo (BRASIL, 2010). A resolução CNRH nº 143/2012, prevê
que o órgão fiscalizador poderá adotar critérios complementares, tecnicamente
justificados, para realizar a classificação. Em face disso, para barragens de usos
múltiplos, a ANA adaptou os quadros de classificação por meio da Resolução nº
132/2016, no entanto, respeitando os critérios estabelecidos pela Resolução CNRH
nº 143/2012.
A seguir será apresentada a metodologia de classificação das barragens
quanto ao Dano Potencial Associado conforme a legislação vigente.
Para realizar esta classificação, vários aspectos da barragem que possam
influenciar no dano potencial são levados em consideração. Dentre os critérios
estabelecidos para se classificar as barragens quanto ao dano potencial pela
Resolução Nº 143 do (CNRH, 2012), deve-se verificar a existência de população,
44

infraestrutura ou áreas protegidas a jusante da barragem, assim como a natureza e o


volume do que está sendo armazenado na barragem conforme o QUADRO 8.

QUADRO 8 – QUADRO DE CLASSIFICAÇÃO – DANO POTENCIAL ASSOCIADO


Volume Total do Existência de população a
Reservatório jusante Impacto ambiental Impacto socioeconômico
(a) (b) (c) (d)
SIGNIFICATIVO
(área afetada da barragem
não representa área de
INEXISTENTE interesse ambiental, áreas INEXISTENTE
(não existem pessoas protegidas em legislação (não existem quaisquer
permanentes/residentes ou específica ou encontra-se instalações e serviços de
Pequeno temporárias/transitando na área totalmente descaracterizada navegação na área afetada
<= 5 milhões m³ afetada a jusante da barragem) de suas condições naturais) por acidente da barragem)
(1) (0) (3) (0)
BAIXO
(existe pequena concentração
MUITO SIGNIFICATIVO de instalações residenciais e
POUCO FREQUENTE (área afetada da barragem comerciais, agrícolas,
(não existem pessoas ocupando apresenta interesse industriais ou de infraestrutura
Médio permanentemente a área afetada ambiental relevante ou na área afetada da barragem
5 milhões a 75 a jusante da barragem, mas existe protegida em legislação ou instalações portuárias ou
milhões m³ estrada vicinal de uso local) específica) serviços de navegação)
(2) (4) (5) (4)
FREQUENTE ALTO
(não existem pessoas ocupando (existe grande concentração
permanentemente a área afetada de instalações residenciais e
a jusante da barragem, mas existe comerciais, agrícolas,
rodovia municipal, estadual, industriais, de infraestrutura e
federal ou outro local e/ou serviços de lazer e turismo na
Grande empreendimento de permanência área afetada da barragem ou
75 milhões a eventual de pessoas que poderão instalações portuárias ou
200 milhões m³ ser atingidas) serviços de navegação)
(3) (8) - (8)
EXISTENTE
(existem pessoas ocupando
permanentemente a área afetada
a jusante da barragem, portanto,
Muito Grande vidas humanas poderão ser
> 200 milhões m³ atingidas)
(5) (12) - -
FONTE: Adaptado de CNRH, (2012).
Notas:
Entre parênteses: (letra) = Item do Dano Potencial Associado.
Entre parênteses: (numeral) = Peso em pontos considerado para cada item do Dano Potencial
Associado.

O valor do Dano Potencial Associado (DPA) é dado pela EQUAÇÃO 5.

DPA = ∑ (a até d) (5)

onde:
DPA = dano potencial associado;
a até d = pontos da matriz de dano potencial associado.
45

Com o resultado da pontuação do Dano Potencial Associado (DPA), obtido a


partir da Equação 5, a barragem é classificada de acordo com a TABELA 2,
enquadrando a barragem de acordo com a sua Categoria de Risco.

TABELA 2 – MATRIZ DE CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO DANO POTENCIAL ASSOCIADO


Categoria de Risco CRI – Barragem de Acumulação de Água
Faixas de ALTO > = 16
Classificação MÉDIO 10 < DPA < 16
BAIXO < = 10
FONTE: CNRH, (2012).

2.2.3.1.3 Classificação quanto ao Risco e Dano Potencial Associado.

De acordo com a classificação quanto à Categoria de Risco (CRI) e quanto


ao Dano Potencial Associado (DPA), a ANA estabeleceu sua matriz para classificação
das barragens de acumulação de água conforme a TABELA 3.

TABELA 3 – MATRIZ DE CATEGORIA DE RISCO E DANO POTENCIAL ASSOCIADO


DANO POTENCIAL ASSOCIADO
CATEGORIA DE RISCO
ALTO MEDIO BAIXO
ALTO A B C
MEDIO A C D
BAIXO A C E
FONTE: ANA, (2012).

A ANEEL também estabeleceu sua matriz para classificação das barragens


de acumulação de água conforme a TABELA 4.

TABELA 4 – MATRIZ DE CLASSIFICAÇÃO DE BARRAGENS


DANO POTENCIAL ASSOCIADO
CATEGORIA DE RISCO
ALTO MEDIO BAIXO
ALTO A B B
MEDIO B C C
BAIXO B C C
FONTE: ANEEL, (2015).

A matriz de classificação relaciona as análises qualitativas de probabilidade e


impacto classificando as barragens quanto ao seu nível de risco. Esta classificação é
um importante indicativo de como está a barragem e eventuais consequências que
ocorrerão caso haja um acidente, sendo uma importante ferramenta para que os
46

órgãos de fiscalização e os proprietários de barragens estabeleçam prioridade no


tratamento dos riscos que constituem as maiores ameaças para a sociedade
(ANDERÁOS; ARAUJO; NUNES, 2013).
De acordo com a ANEEL, as barragens classificadas como A necessitam de
intervenção de curto prazo, as classificadas como B devem ser controladas,
monitoradas e as intervenções podem ser implementadas ao longo do tempo, já as
barragens classificadas como “C” não apresentam anomalias e as existentes não
comprometem a segurança da barragem (ANEEL, 2020).

2.2.3.2 Análise quantitativa

O processo de análise quantitativa avalia numericamente o efeito dos riscos,


produzindo informações para respaldar a tomada de decisões, de modo a reduzir o
grau de incerteza dos projetos. Devido às características singulares das barragens, a
elaboração de análises de riscos quantitativas ainda encontra sérias dificuldades, e
em 2005 Gomes considerava que estava em fase de consolidação (GOMES et al.,
2005).
Observa-se em todos os regulamentos já apresentados que análises
quantitativas ainda não estão consolidadas na documentação oficial (ANA, ANEEL,
CNRH).
Os principais métodos quantitativos de análise de risco que constam na
literatura são:
a) ETA – Análise por Árvore de Eventos: É um método que obriga o
entendimento das etapas de desenvolvimento dos diversos modos de
falha. Parte-se de um evento iniciador, construindo através de diagramas
a sequência lógica de ocorrência do evento (MELO; FUSARO, 2015).
b) FTA – Análise por Árvore de Falhas: É um método dedutivo que parte do
final do evento para os eventos iniciadores que podem resultar na
ocorrência da falha (MELO; FUSARO, 2015).
Aspectos de segurança que podem ser avaliados quanto à confiabilidade de
seus componentes estruturais, assim como equipamentos elétricos, mecânicos e
hidráulicos, podem ser abordados desta forma. Porém, aspectos como: erosão
interna, piping e defeitos de fundação, são avaliados com base em séries históricas
ou outras fontes de informação (ANCOLD, 2003).
47

2.2.3.2.1 Classificação quanto à Categoria de Risco (Probabilidade).

Não existe barragem infalível, contudo, a probabilidade de falha de uma


barragem deve ser baixa. De modo a assegurar um nível mínimo de segurança, o
United States Bureau of Reclamation (USBR) estabeleceu uma diretriz de que a
probabilidade de falha anualizada de uma barragem deve ser inferior a 1 em 10.000
por ano, contemplando todos os modos de falha que resultariam em uma liberação
potencialmente fatal do reservatório USBR (2011).
Um estudo realizado nos Estados Unidos quantificou a frequência de
rompimento de grandes barragens nos Estados Unidos com base em dados históricos
do banco de dados do National Inventory of Dams (NID) mantido pelo USACE e do
banco de dados do National Performance of Dams Program mantido pela Stanford
University. Os resultados do estudo foram plotados no GRÁFICO 4, que ilustra a
variação da frequência de rompimento de barragens ao longo do tempo (FERRANTE;
BENSI; MITMAN, 2012).

GRÁFICO 4 – FREQUÊNCIA DE FALHA DE BARRAGEM POR ANO

FONTE: Ferrante; Bensi; Mitman (2012).

Nota-se que a frequência atual de falha é em torno de 1,5x10-4 por ano, tanto
para barragens de concreto quanto para barragens de terra e enrocamento
(FERRANTE; BENSI; MITMAN, 2012).
48

Outro estudo, utilizando dados do USCOLD e do ICOLD, obteve frequências


de falha conforme a ilustrados na TABELA 5 (CHENG, 1993).

TABELA 5 – ÍNDICE DE INCIDENTES NOS EUA E EM 43 PAÍSES ASSOCIADOS AO ICOLD


Tipo de Vida útil Nº de Nº total Probabilidade
Dados
incidente média (anos) Incidentes de barragens (/ano/barragem)
Falha 17,16 89 5450 9,52 x 10-4 USCOLD
Falha 13,92 135 8925 1,09 x 10-3 ICOLD
FONTE: adaptado de Cheng (1993).

Neste outro estudo a frequência de falha foi em torno de 1x10-3 por ano.
Ambos os estudos apresentaram frequência de falha acima da diretriz de 1x10-4,
ressaltando a necessidade de se de adotar medidas que reduzam a frequência de
falha de barragens.

2.2.3.2.2 Classificação quanto ao Dano Potencial Associado (Impacto).

Segundo Graham (1999), a perda de vidas decorrente da falha de uma


barragem é influenciada pelo número de pessoas que ocupam a planície de
inundação, da quantidade de advertências que são emitidas às pessoas nas áreas de
risco e da severidade da inundação
De acordo com o Boletim 111 do ICOLD, a análise de ruptura de barragem
pode ser descrita em quatro passos (ICOLD, 1998).
1º. Elaboração do hidrograma de ruptura – Para simular a ruptura da barragem,
é preciso determinar a vazão de pico e elaborar o hidrograma de ruptura através de
formulações matemáticas (ELETROBRÁS, 2003).
2º. Propagação da onda de cheia – Para que seja possível avaliar os danos no
vale à jusante, é necessário identificar as zonas que serão inundadas pela cheia
provocada pela ruptura da barragem. Estudos com modelos hidrodinâmicos, que
simulam o escoamento, são realizados para avaliar a propagação da cheia criando
um mapa das áreas potencialmente inundáveis (ANA, 2016b).
3º. Geração de mapas de inundação – Com base nos resultados dos modelos
numéricos é possível criar com auxílio de um software de geoprocessamento os
mapas de inundação. A partir desta é possível fazer o levantamento do número de
pessoas que habitam a área que pode ser inundada (LAURIANO, 2009). Graham
49

(1999) recomendou taxas de mortalidade para estimar a perda de vidas em função do


rompimento de uma barragem conforme o QUADRO 9.

QUADRO 9 – TAXA DE MORTALIDADE RECOMENDADAS PARA ESTIMAR A PERDA DE VIDAS


RESULTANTES DA FALHA DA BARRAGEM.
Severidade Tempo de Compreensão Taxa de Mortalidade
da Aviso da Gravidade
Inundação (minutos) da Inundação Sugestão Intervalo Sugerido
Sem aviso Não aplicável 0,75 0,30 – 1,00
Vago Use os valores mostrados acima e
15 a 60 aplique ao número de pessoas que
Preciso permanecem na planície de
Alto
Vago inundação após a emissão de
Mais de avisos. Não há orientação sobre
60 Preciso quantas pessoas permanecerão na
planície de inundação
Sem aviso Não aplicável 0,15 0,03 – 0,35
Vago 0,04 0,01 – 0,08
15 a 60
Médio Preciso 0,02 0,005 – 0,04
Mais de Vago 0,03 0,005 – 0,06
60 Preciso 0,01 0,002 – 0,02
Sem aviso Não aplicável 0,01 0,0 – 0,02
Vago 0,007 0,0 – 0,015
15 a 60
Baixo Preciso 0,002 0,0 – 0,004
Mais de Vago 0,0003 0,0 – 0,0006
60 Preciso 0,0002 0,0 – 0,0004
FONTE: Graham, (1999, tradução nossa).

4º. Elaboração de Planos de contingência – A elaboração de um PAE – Plano


de Ações Emergenciais tem a finalidade de propor medidas de evacuação da
população ribeirinha instalada a jusante da barragem, minimizando os prejuízos no
caso de ruptura da barragem (LAURIANO, 2009). Segundo a Lei nº 12.334, de 2010,
o PAE deve estabelecer as ações a serem executadas pelo empreendedor da
barragem em caso de emergência, bem como identificar os agentes a serem
notificados dessa ocorrência.
O USBR (2011) estabeleceu diretrizes que definem que, se o risco de mortes
por ano decorrentes da falha de uma barragem for maior que 1x10-3, deve-se reduzir
ou entender melhor os riscos.
50

2.2.3.2.3 Classificação quanto ao risco e dano potencial associado.

A classificação quanto ao risco e dano potencial associado é fundamental


para que seja avaliada a aceitabilidade ou não dos riscos existentes. A avaliação dos
riscos aceitáveis depende de diversos fatores com alta complexidade técnica e
humana. Foram desenvolvidos modelos para avaliar a relação entre a probabilidade
anual de falha e o número esperado de vítimas resultantes da ruptura da barragem. A
probabilidade multiplicada pelas vidas estimadas perdidas representa a perda de
vidas anualizada. Portanto, à medida que as consequências do rompimento
aumentam, a probabilidade de falha anualizada deve diminuir, mantendo-se um valor
constante de perda de vidas anualizada para manutenção do risco (USBR, 2011).

GRÁFICO 5 – DIRETRIZES DE RISCO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS.


1.00E-01

1.00E-02 Limite de risco tolerável


Probabilidade anual de falha

Riscos são inaceitáveis, salvo


1.00E-03 em circunstâncias excepcionais

1.00E-04

1.00E-05

1.00E-06 Riscos são toleráveis Os riscos podem ser


apenas se satisfizerem os inaceitáveis ou toleráveis,
1.00E-07 requisitos de ALARP mas devem ser examinados
minuciosamente e devem
1.00E-08
satisfazer os requisitos
ALARP
1.00E-09

1.00E-10
1 10 100 1000 10000 100000
Número estimado de mortes
FONTE: (FEMA, 2015).

O GRÁFICO 5 serve de orientação para a tomada de decisões, aumentando


ou reduzindo as justificativas para se reduzir, ou estudar de maneira aprofundada os
riscos (FEMA, 2015). Na região em que o número estimado de perda de vidas é
superior a 1000 tem se um princípio metodológico chamado de ALARP (As Low As
Reasonably Practible). Este princípio estabelece que os riscos, inferiores ao limite de
tolerabilidade, apenas são toleráveis caso a sua redução seja impraticável ou se os
51

custos associados a essa redução forem desproporcionais em relação aos benefícios


obtidos (GOMES et al., 2005).

2.2.4 Planejamento das respostas

O tratamento de riscos envolve uma seleção de opções para modificar os


riscos e a implementação dessas opções, que depois de implementadas fornecem
novos controles ou modificam os existentes. É um processo cíclico em que se trata os
riscos e em seguida, os riscos residuais são avaliados, caso eles sejam intoleráveis
segue-se com um novo tratamento até que se tenha um resultado adequado (ABNT,
2018).
O processo de examinar e julgar a importância do risco estimado é
denominado avaliação de risco. Morris et al. (2012) propõem que para avaliar os riscos
deve-se revisar as boas práticas, tolerâncias aos riscos e as opções para se reduzir
os riscos, além de utilizar o princípio metodológico ALARP. Na FIGURA 3 estão
ilustradas algumas opções de resposta aos riscos baseado nos conceitos do PMI
(2017).

FIGURA 3 – OPÇÕES DE RESPOSTA AOS RISCOS.

R Riscos residuais
i Seguros

s Vender a barragem
c Reduzir as consequências
o Reduzir a probabilidade
s Evitar

Riscos do projeto Riscos residuais

FONTE: Adaptado de Bruce et al. (1995).

Como existem diversas estratégias de resposta aos riscos, é essencial que


opções sejam avaliadas levando em consideração o seu custo x benefício. A seguir
são descritas as principais estratégias.
52

2.2.4.1 Evitar

A prevenção de riscos age para eliminar a ameaça, protegendo o projeto


contra o seu impacto (PMI, 2017). Esta é uma escolha que pode ser feita antes de a
barragem ser construída, ou por meio do desmantelamento de uma barragem
existente (BOWLES, 2010). Durante a fase de concepção de uma barragem, é
possível evitar determinados riscos por meio da escolha do material de construção,
arranjo geral das estruturas, método construtivo, entre outros (SCHREIBER, 1977).

2.2.4.2 Transferir

A transferência de riscos é uma estratégia de resposta que transfere a


responsabilidade, mas não elimina o risco (PMI, 2017). Esta transferência pode ser
realizada através de acordos contratuais, seguros, ou a venda da barragem
(BOWLES, 2010). No caso da venda da barragem, outro empreendedor assumirá o
risco.

2.2.4.3 Mitigar

A mitigação busca reduzir a probabilidade de ocorrência ou impacto de um


risco para dentro de limites aceitáveis. A mitigação pode exigir o desenvolvimento de
modelos reduzidos ou simulações em elementos finitos, para reduzir a probabilidade
da ocorrência de um determinado risco. Quando não se pode reduzir a probabilidade
de ocorrência, uma resposta de mitigação pode ser aplicada buscando reduzir os seus
impactos (PMI, 2017).
De maneira geral, inicialmente são concentrados esforços na redução da
probabilidade de ocorrência, em seguida na redução dos impactos (JOIA et al., 2013).
a) Redução da probabilidade – A redução da probabilidade é realizada
tipicamente através de medidas estruturais, ou atividades de
gerenciamento de segurança de barragens, como: monitoramento,
vigilância e inspeções periódicas (BOWLES, 2010).
b) Redução dos impactos – Através de abordagens não estruturais, busca-
se reduzir os impactos da ameaça de rompimento através de sistemas
eficazes de alerta precoce, ou através da relocação de populações
expostas ao risco (BOWLES, 2010).
53

2.2.4.4 Aceitar

A aceitação dos riscos é uma estratégia utilizada quando não é possível, ou


economicamente viável, abordar um determinado risco. Decide-se reconhecer a
existência do risco e não agir, a menos que o sinistro ocorra. A aceitação pode ser
passiva ou ativa (PMI, 2017).
a) Aceitação passiva – A aceitação passiva não requer nenhuma ação,
exceto documentar a estratégia. Os sinistros serão tratados apenas
quando eles ocorrerem (PMI, 2017).
b) Aceitação ativa – A aceitação ativa mais comum é estabelecer uma
reserva para contingências, incluindo tempo, dinheiro ou recursos para
lidar com os riscos.
A Lei nº 12.334/2010, que estabeleceu a PNSB estipulou como um dos
instrumentos a elaboração do PSB, que deve, em determinados casos conter o PAE
da Barragem. O PAE é um plano de contingência que deve ser elaborado pelo
empreendedor da barragem em função da categoria de risco e do dano potencial
associado à barragem.

“Art. 12. O PAE estabelecerá as ações a serem executadas pelo


empreendedor da barragem em caso de situação de emergência,
bem como identificará os agentes a serem notificados dessa
ocorrência, devendo contemplar, pelo menos:

I. identificação e análise das possíveis situações de emergência;

II. procedimentos para identificação e notificação de mau


funcionamento ou de condições potenciais de ruptura da
barragem;

III. procedimentos preventivos e corretivos a serem adotados em


situações de emergência, com indicação do responsável pela
ação;

IV. estratégia e meio de divulgação e alerta para as comunidades


potencialmente afetadas em situação de emergência.”

BRASIL - (2010)

A Portaria nº 187, da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do


Ministério da Integração Nacional aprovou em 2016 o "Caderno de Orientações para
Apoio à Elaboração de Planos de Contingência Municipais para Barragens", que tem
por finalidade propor orientações para a elaboração de Planos de Contingência
54

Municipais, para os cenários de risco gerados pela presença de barragens em seu


território (CENAD, 2016).

2.2.5 Controle dos riscos

O processo de controlar os riscos implanta o plano de resposta, acompanha


os riscos identificados, monitora os riscos residuais, identifica novos riscos e avalia a
eficácia do processo de riscos durante o projeto. Este processo traz grandes
benefícios ao projeto, pois, ao longo de todo o ciclo de vida o grau de eficiência da
abordagem dos riscos melhora, otimizando continuamente as respostas aos riscos
(PMI, 2017).
A criação de um Manual de Monitoramento é fundamental para servir de
suporte para a equipe responsável pelo monitoramento, para que as atividades sejam
realizadas de maneira adequada. Desta forma, busca-se obter dados coerentes, que
assegurem a operação e uso das estruturas com níveis adequados de segurança,
considerando as premissas de projeto (FUSARO et al., 2017).

2.2.5.1 Auscultação

A auscultação é o conjunto de métodos de observação do comportamento de


uma determinada obra de engenharia com o objetivo de controlar as suas condições
de segurança, comprovar a validade das hipóteses e dos métodos de cálculo
utilizados nos projetos, verificar a necessidade da utilização de medidas corretivas,
etc. O plano de Auscultação engloba desde o plano de instrumentação, passando pela
definição dos valores de referência para futura comparação com os valores medidos,
até a definição das rotinas e frequência das inspeções visuais (ELETROBRÁS, 2003).

2.2.5.1.1 Inspeções visuais

Segundo a United States Society on Dams (USSD), um adágio familiar entre


os profissionais de segurança de barragens afirma que um dos melhores instrumentos
para o monitoramento é o olho humano ligado a um cérebro humano alerta e
consciente (USSD, 2013).
Apesar de as inspeções visuais terem limitações, nenhum outro método tem
o potencial de integrar rapidamente toda a situação do comportamento (ASCE, 2000)
55

As inspeções visuais têm por objetivo a detecção de sinais ou evidências de


deterioração, sintomas de envelhecimento e a detecção de anomalias do sistema de
observação. A frequência com a qual as inspeções devem ser realizadas varia de
acordo com as características da barragem (ELETROBRÁS, 2003).
A Resolução 742/2011 da ANA estabelece a periodicidade das Inspeções de
Segurança Regulares nas barragens de acordo com a sua categoria de risco e dano,
conforme organizado na TABELA 6 (ANA, 2011).

TABELA 6 – PERIODICIDADE DAS INSPEÇÕES DE SEGURANÇA REGULARES DE BARRAGEM.


PERIODICIDADE DANO RISCO
Alto Alto
Alto Médio
Semestrais
Alto Baixo
Médio Alto
Médio Médio
Médio Baixo
Anuais
Baixo Alto
Baixo Médio
Bianuais Baixo Baixo
FONTE: ANA (2011).

Caso seja identificada alguma anomalia, devem ser realizadas Inspeções de


Segurança Especiais, avaliando as condições de segurança da barragem em
situações específicas. Estas inspeções devem ser realizadas por esquipes
multidisciplinares de especialistas nas fases de construção, operação e desativação
(ANA, 2017).

2.2.5.1.2 Instrumentação

A instrumentação é o conjunto de dispositivos instalados nas estruturas e em


suas fundações com o objetivo de monitorar o seu desempenho. As grandezas a
serem medidas estão condicionadas ao tipo de estrutura. Ao se realizar a seleção dos
instrumentos é fundamental a determinação da compatibilidade entre a ordem de
grandeza do parâmetro a ser medido e a precisão do instrumento a ser escolhido
(ELETROBRÁS, 2003).
O sucesso do programa de instrumentação depende principalmente do seu
planejamento para que através de uma análise rigorosa dos dados coletados, seja
56

possível constatar a ocorrência de anomalias. Além disso, deve-se ter ciência que
pelo fato da instrumentação ser instalada em um número limitado de regiões, podem
ocorrer acidentes ou fenômenos inesperados que não sejam detectados pela
instrumentação (DUNNICLIFF, 1988).
Na FIGURA 4 é apresentada uma correlação entre os instrumentos utilizados
no monitoramento de barragens de concreto e os principais tipos de deterioração.

FIGURA 4 – INSTRUMENTAÇÃO DE BARRAGENS DE CONCRETO

FONTE: (ELETROBRÁS, 2003).

Existe uma grande quantidade de instrumentos para monitorar os mais


variados tipos de deterioração em barragens de concreto, porém, não há consenso
sobre o melhor instrumento a ser utilizado (DUNNICLIFF, 1988).
A frequência de leitura dos instrumentos deve ser ajustada para cada caso
em particular, levando em consideração a ocorrência de fatores críticos ou situações
desfavoráveis para as condições de segurança da barragem (ELETROBRÁS, 2003).
Na FIGURA 5 é apresentada uma correlação entre os instrumentos utilizados
no monitoramento de barragens de terra/enrocamento e os principais tipos de
deterioração.
57

FIGURA 5 – INSTRUMENTAÇÃO DE BARRAGENS DE TERRA/ENROCAMENTO

FONTE: (ELETROBRÁS, 2003).

Tal como nas barragens de concreto, nas barragens de terra e enrocamento


também existe uma grande quantidade de instrumentos para monitorar a barragem.
A frequência de leitura dos instrumentos também deve ser ajustada para cada caso
em particular (ELETROBRÁS, 2003).
Organizando os dados obtidos em gráficos e tabelas, é possível identificar
mudanças no comportamento da barragem em relação aos dados obtidos
anteriormente, e, se os resultados estão de acordo com critérios pré-estabelecidos na
fase de projeto, dando indícios de que a barragem está tendo um comportamento
próximo ao que foi planejado (ANA, 2016c).
Um plano de instrumentação sem a correspondente análise periódica e
interpretação dos resultados é inútil, ou mesmo nocivo, na medida em que pode
causar uma falsa impressão de segurança em relação ao empreendimento
(ELETROBRÁS, 2003).

2.3 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Cientistas vêm alertando para mudanças climáticas que estão impactando no


comportamento das precipitações, alterando consideravelmente a disponibilidade de
recursos hídricos (LIMA, 2014). Dado que a capacidade de retenção de água na
58

atmosfera aumenta, de forma aproximada, exponencialmente com a temperatura, o


aquecimento global pode ser parcialmente responsável pelo aumento da intensidade
das precipitações (MIN et al., 2011).
Estudos realizados por Min et al. (2011) demonstraram que o aumento dos
gases de efeito estufa, produzidos pelo homem, contribuíram para a intensificação
dos eventos de forte precipitação em aproximadamente dois terços das áreas
terrestres do Hemisfério Norte. Outro resultado obtido mostra que os modelos
climáticos globais utilizados atualmente podem ter subestimado a tendência de
aumento na intensidade das precipitações, o que implica que estes eventos podem se
fortalecer mais rapidamente no futuro do que o projetado, e, ter impactos mais severos
que os estimados.
Um estudo que analisou o risco global de inundação no final do século XXI,
através de 11 modelos climáticos, constatou um aumento na tendência de inundações
na América do Sul. Na FIGURA 6, está ilustrado um mapa global em que se indica o
tempo de retorno de uma vazão no final do século XXI correspondente à uma vazão
com tempo de retorno de 100 anos no século XX (HIRABAYASHI et al., 2013).
Ao se analisar a região sul do Brasil na FIGURA 6, é possível constatar que
uma cheia com tempo de retorno de 100 anos no século XX está prevista de ocorrer
com uma frequência maior, de 5 a 50 anos.

FIGURA 6 – TEMPO DE RETORNO MÉDIO DO MODELO MÚLTIPLO NO FINAL DO SÉCULO XXI


CORRESPONDENTE À VAZÃO COM TEMPO DE RETORNO DE 100 ANOS NO SÉCULO XX.

FONTE: (HIRABAYASHI et al., 2013).


59

Um outro estudo buscou explicar a atuação do aquecimento global no outono


de 2000, que foi o mais úmido já registrado no Reino Unido, desde que os registros
começaram em 1766. Chegou-se à conclusão que o aumento no risco de ocorrência
de inundações na Inglaterra e no País de Gales no outono de 2000, que é atribuível
às emissões de efeito estufa no século XX, foi provavelmente de mais de 90% (PALL
et al., 2011).
No Brasil, as séries de vazões de diversos aproveitamentos hidrelétricos
foram analisadas. Os resultados mostraram uma tendência de incremento nas vazões
das usinas localizadas na bacia do Rio Paraná, Rio Uruguai e do Atlântico Sul e uma
redução das vazões nas usinas localizadas nas bacias do Rio São Francisco, Atlântico
Leste e parte da bacia Amazônica (LIMA, 2014).
Na FIGURA 7, está ilustrado um mapa que indica a anomalia futura de vazões
médias nas usinas hidrelétricas do Sistema Interligado Nacional (SIN), prevista para
o período de 2011 a 2040, com base em projeções de clima em relação a um cenário
histórico de 1961 a 1990. As projeções foram produzidas utilizando o modelo Eta, que
é um modelo numérico atmosférico utilizado pelo INPE para produzir previsões do
tempo, com uma resolução de 20 km.

FIGURA 7 – ANOMALIA FUTURA DE VAZÃO MÉDIA NAS USINAS HIDRELÉTRICAS DO SIN.

FONTE: (LIMA, 2014).


60

As tendências para áreas de clima mais seco, como no Nordeste do Brasil,


indicam que a precipitação se tornará menos consistente durante a estação chuvosa,
porém com aumento na sua intensidade (LIMA, 2014).
Em áreas que se tornam mais úmidas, a precipitação provavelmente será
mais consistente, com eventos de precipitação mais intenso e um aumento na
magnitude de eventos extremos (LIMA, 2014).

2.4 OCUPAÇÃO DO SOLO

O uso e ocupação do solo pode sofrer mudanças ao longo do tempo. A


retirada de cobertura vegetal e adensamento urbano provocam implicações no ciclo
hidrológico das bacias conforme pode ser visualizado na FIGURA 8 (TUCCI, 2007).
TUCCI (2005), enumera as seguintes implicações resultantes das mudanças
causadas pelo uso e ocupação do solo:
a) Redução da infiltração da água no solo;
b) Aumento do escoamento superficial;
c) Aumento do pico de vazão, devido ao rápido transporte da água das
chuvas até o exutório da bacia;
d) Antecipação da ocorrência do pico de vazão;
e) Redução do nível do lençol freático, devido à redução da infiltração.

FIGURA 8 – IMPACTO DEVIDO À URBANIZAÇÃO

FONTE: (TUCCI, 2005).

Na FIGURA 9 é possível visualizar a evolução do uso e ocupação do solo na


bacia do Rio Iguaçu entre os anos de 1979 e 2009.
61

FIGURA 9 – EVOLUÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA DO RIO IGUAÇU.

FONTE: (LIMA, 2014).

É possível observar que a bacia do rio Iguaçu teve mudanças significativas ao


longo do tempo, e, que a antropização4 cresceu em um ritmo mais acelerado na última
década (2000-2010). De acordo com informações disponíveis sobre o uso do solo na
Bacia do rio Jordão, cerca de 40% da bacia é ocupada por agricultura e 40% por
florestas e reflorestamentos conforme a FIGURA 10 (PARANÁ, 2017).

FIGURA 10 – DISTRIBUIÇÃO DAS CLASSES DE USO DO SOLO NA BACIA DO RIO JORDÃO


Reflorestamento Outros
5% 6%
Pastagens e
Campos
12%
Agricultura
42%

Cobertura
Florestal
35%
FONTE: (PARANÁ, 2017).

_______________
4 Ação do ser humano sobre o meio ambiente. Alteração das características originais.
62

Fica evidente a grande ocupação pela agricultura e pastagens, o que causou


alterações no ciclo hidrológico da bacia do rio Jordão ao longo do tempo. Portanto, as
vazões utilizadas no estudo de vazões máximas na época do projeto da barragem
foram geradas em uma bacia com uso do solo distinto do atual.

2.5 ESTABILIDADE DE BARRAGENS

Nos estudos de estabilidade de barragens, diferentes condições de


carregamentos são consideradas. Estes carregamentos são ações que podem ser
aplicadas na barragem ao longo da sua vida como: cargas hidrostáticas,
hidrodinâmicas, forças sísmicas e empuxos de terraplenos (ELETROBRÁS, 2003).

2.5.1 Níveis de água

Como as pressões hidrostáticas variam linearmente com a profundidade, os


níveis de água têm um impacto direto na análise de estabilidade das barragens, pois
interferem diretamente nos pesos, empuxos e subpressão que são aplicadas nas
análises.
Dentre os níveis de água estão os níveis: mínimo, normal e máximo de
montante e jusante da barragem, que são definidos de acordo com os estudos
hidráulicos e hidrológicos do Projeto Básico.
O Projeto Básico fornece uma visão global da obra, caracterizando todos os
elementos, serviços, materiais e equipamentos, já o Projeto Executivo detalha as
soluções.

2.5.2 Cheia de projeto da barragem

É a cheia caracterizada pela máxima hidrógrafa afluente ao reservatório. Para


barragens maiores que 30m, ou cujo colapso envolva riscos de perdas de vidas
humanas, a vazão de projeto será a cheia máxima provável. Para grandes barragens
também é adotado o tempo de retorno de 10.000 anos.

2.6 AÇÕES DE PROJETO

As cargas atuantes nas estruturas civis de um aproveitamento hidrelétrico


podem ser separadas em ações permanentes e acidentais.
63

2.6.1 Cargas permanentes

As cargas que têm valores constantes ou pequenas variações em torno de


sua média são chamadas de cargas permanentes, podendo estas ações ser diretas
ou indiretas.

2.6.1.1 Peso próprio

O peso próprio da estrutura é uma função do seu volume e peso específico


dos materiais que o constituem. No caso do concreto armado, massa e compactado
com rolo este valor varia, em geral, de 21 a 26 kN/m³, já para a água é adotado o peso
específico de 10kN/m³ (ELETROBRÁS, 2003).

2.6.1.2 Cargas diversas

A carga permanente também é constituída pelos demais elementos


construtivos fixos e demais instalações permanentes (ELETROBRÁS, 2003).

2.6.2 Pressões e Empuxos Hidrostáticos

As pressões hidrostáticas variam linearmente com a profundidade, gerando


empuxos horizontais de acordo com a EQUAÇÃO 6 (ELETROBRÁS, 2003).

1
H= × γ𝐻2 O × h2 (6)
2
onde:
H = pressão hidrostática, em kN/m;
γ𝐻20 = peso específico da água, em kN/m³;
h = altura da coluna de água, em m.

2.6.3 Pressões Hidrodinâmicas

As pressões hidrodinâmicas que atuam em barragens podem ser


determinadas por meio da EQUAÇÃO 7 (ELETROBRÁS, 2003).

4
PE = × αh × γ𝐻2 O × h2 (7)
7
onde:
64

PE = pressão hidrodinâmica, em kN/m;


αh = coeficiente sísmico.

O coeficiente sísmico corresponde a acelerações em relação à gravidade. No


Brasil, são adotadas acelerações de 0,05g na direção horizontal e 0,03 na direção
vertical (ELETROBRÁS, 2003).

2.6.4 Pressões de material assoreado

O empuxo devido ao acúmulo de sedimento à montante da barragem deve


ser calculada de acordo com a EQUAÇÃO 8.

1 1 − sin φ
Ps = × γsedimento × h2 × ( ) (8)
2 1 + sin φ
onde:
Ps = força horizontal, em kN/m;
γsedimento = peso específico do sedimento, em kN/m³;
h = altura da camada de sedimento
φ = ângulo de atrito do material, em graus.

2.6.5 Pressões Dinâmicas de material assoreado

Caso a barragem seja suscetível ao assoreamento, as pressões dinâmicas


podem ser determinadas de acordo com o que recomenda o USACE (2005). No caso
de materiais assoreados siltosos, a pressão horizontal do material assoreado é
considerada como sendo de 13,62kN/m³ e a pressão vertical como sendo um solo
com peso de 19,22kN/m³.

2.6.6 Empuxos de aterro

O empuxo de aterro deve ser calculado conforme cada caso, podendo ser
para a condição ativa, passiva ou no repouso.

2.6.7 Pressões Dinâmicas de Aterros

Assim como as pressões de material assoreado, as pressões dinâmicas de


aterros também podem ser calculadas de acordo com as recomendações do USACE
65

(2005), que sugere que seja utilizada a teoria de Mononobe-Okabe, em que se


considera que uma cunha de solo delimitada pela estrutura e um plano de falha
assumido se movem como um corpo rígido com a mesma aceleração horizontal.

2.6.8 Subpressão

A subpressão é um campo de pressões que ocorrem devido à percolação da


água nas fundações ou em seções de concreto, de rocha e de aterros (ELETROBRÁS,
2003).

2.7 CONDIÇÕES DE CARREGAMENTO

A verificação da estabilidade global de barragens é realizada por meio da


combinação de ações atuantes. Cada caso de carregamento é determinado de acordo
com os critérios de projeto da Eletrobrás. Para o cálculo da estabilidade global é
necessário considerar as condições de carregamento Normal, Excepcional, Limite e
de Construção (ELETROBRÁS, 2003).

2.7.1 Caso de Carregamento Normal – CCN

Refere-se às combinações de carregamento que apresentam grande


probabilidade de ocorrência ao longo da vida útil da estrutura (ELETROBRÁS, 2003).

2.7.2 Caso de Carregamento Excepcional – CCE

Corresponde às combinações de carregamento com baixa probabilidade de


ocorrer ao longo da vida útil da estrutura. São considerados nestas combinações o
caso de carregamento normal associado a ações excepcionais, como: a cheia de
projeto, defeitos na drenagem, sismos, etc. (ELETROBRÁS, 2003).

2.7.3 Caso de Carregamento Limite – CCL

Refere-se às combinações de carga com probabilidade muito baixa ou remota


de ocorrer. Estas combinações costumam considerar mais de uma ação excepcional
ocorrendo simultaneamente (ELETROBRÁS, 2003).
66

2.7.4 Caso de Carregamento de Construção – CCC

Remete às combinações de ações que apresentem probabilidade de


ocorrência durante a execução da obra e quaisquer outras condições semelhantes
que possam ocorrer durante períodos curtos em relação à sua vida útil
(ELETROBRÁS, 2003).

2.8 ESTABILIDADE GLOBAL DE ESTRURAS DE CONCRETO

No projeto de barragens, a segurança global é verificada considerando a


estrutura somente com movimentos de corpo rígido. É verificada a condição de
segurança em relação à quatro condições fictícias: flutuação, tombamento,
deslizamento e de tensões normais na estrutura e na base da fundação
(ELETROBRÁS, 2003).

2.8.1 Segurança à Flutuação

O fator de segurança à flutuação (FSF) concerne à relação entre o somatório


das forças gravitacionais e o somatório das forças de subpressão conforme a
EQUAÇÃO 9.

∑V
FSF = (9)
∑U
onde:
FSF = fator de segurança à flutuação;
∑ V = somatório das forças gravitacionais, em kN;
∑ U = somatório das forças de subpressão, em kN;

Os fatores de segurança para a verificação da flutuação são exibidos na


TABELA 7.

TABELA 7 – FATORES DE SEGURANÇA À FLUTUAÇÃO


Casos de Carregamento
Verificação
CCN CCE CCL CCC
Flutuação FSF> 1,3 1,1 1,1 1,2
FONTE: ELETROBRÁS (2003).
67

2.8.2 Segurança ao Tombamento

O fator de segurança ao tombamento (FST) corresponde à relação entre o


somatório de momentos estabilizantes e o somatório dos momentos de tombamento
conforme a EQUAÇÃO 10.

∑ Me
FST = ( 10 )
∑ Mt
onde:
FST = fator de segurança ao tombamento;
∑ Me = somatório dos momentos estabilizantes, em kN.m;
∑ Mt = somatório das forças de tombamento, em kN.m;

Os fatores de segurança para a verificação da flutuação são mostrados na


TABELA 8.

TABELA 8 – FATORES DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO


Casos de Carregamento
Verificação
CCN CCE CCL CCC
Tombamento FST> 1,5 1,2 1,1 1,3
FONTE: ELETROBRÁS (2003).

2.8.3 Segurança ao Deslizamento

O fator de segurança ao deslizamento (FSD) corresponde à relação entre a


força horizontal resistente e o somatório das forças horizontais aplicadas conforme a
EQUAÇÃO 11.

∑ N × tan φ c ×A
×
FSDφ FSDC ( 11 )
FSD = ≥1
∑T
onde:
FSD = fator de segurança ao deslizamento;
c = parâmetros de coesão, em kPa;
φ = parâmetros de ângulo de atrito, em graus;
A = área da superfície de contato, em m²;
ΣN = somatório de forças normais à superfície de deslizamento, em kN;
ΣT = somatório das forças paralelas à superfície de deslizamento, em kN.
68

Este método aplica sobre as parcelas resistentes valores de coeficientes de


segurança parciais, que penalizam diferentemente o ângulo de atrito e a coesão
conforme a TABELA 9

TABELA 9 – FATORES DE REDUÇÃO DA RESISTÊNCIA DO ATRITO E DA COESÃO


Casos de Carregamento
Fatores de Redução
CCN CCE CCL CCC
FSDC 3,0 (4,0) 1,5 (2,0) 1,3 (2,0) 2,0 (2,5)
FSDφ 1,5 (2,0) 1,1 (1,3) 1,1 (1,3) 1,3 (1,5)
FONTE: ELETROBRÁS (2003).

Caso se tenha um bom conhecimento a respeito dos parâmetros de


resistência dos materiais, ou estes apresentam pouca dispersão, pode se utilizar os
valores fora dos parênteses, caso contrário devem ser utilizados os valores entre
parênteses (ELETROBRÁS, 2003).
A FIGURA 11 retrata o perfil de um vertedouro de soleira livre com a aplicação
das cargas externas.

FIGURA 11 – CARREGAMENTOS ATUANTES NA BARRAGEM

FONTE: O Autor (2019).


69

2.9 CONFIABILIDADE E SEGURANÇA

2.9.1 Fator de segurança

Uma obra está sujeita a fatores aleatórios e variáveis que fogem do controle
humano. Por isso, uma estrutura é dimensionada para que as resistências (R) não
sejam menores que as solicitações (S). Desta forma, a não ocorrência de ruína exige
que o fator de segurança (FS) seja maior que um, conforme exemplificado na
EQUAÇÃO 12 (AOKI, 2008).

R
FS = ( ) > 1 ( 12 )
S
Dentre várias possibilidades de análise de segurança, Hansen (1965) sugeriu
a aplicação do fator de segurança no dimensionamento de obras geotécnicas. De
acordo com o princípio das ações últimas, as solicitações são majoradas por um
coeficiente de ponderação das ações (𝛾𝑠) e a estrutura deve suportar tal ação.

R
FS = ( )>1 ( 13 )
γs ∗ S
Por outro lado, pode-se minorar as resistências, de acordo com o princípio
das tensões admissíveis, por um coeficiente de ponderação das resistências (𝛾𝑚 ) e
sob carregamento, a tensão alcançada não deve superar o valor admissível.

R
γm
FS = ( ) > 1 ( 14 )
S

Com base nos princípios anteriores, no princípio dos fatores parciais de


segurança, as solicitações são majoradas e as resistências minoradas fazendo uma
junção da EQUAÇÃO 13 e EQUAÇÃO 14.

R
γm
𝐹S = ( )>1 ( 15 )
γs ∗ S

Muitas normas utilizam coeficientes de ponderação das ações e das


resistências, combinando as ações de forma que possam ser determinados os efeitos
mais severos para a estrutura (ABNT, 2014).
70

Na FIGURA 12, estão ilustrados dois exemplos de distribuição de parcelas de


cargas e resistência. O Caso I tem desvios padrões inferiores ao do Caso II, mesmo
assim, o fator de segurança obtidos nos dois casos é o mesmo.

FIGURA 12 – DISTRIBUIÇÃO DE CARGA E RESISTÊNCIA PARA MESMO FATOR DE


SEGURANÇA

FONTE: Adaptado de Johansson (2005).

Em 1964 o Comitê Europeu do Concreto (CEB) adotou o princípio dos fatores


parciais de segurança, porém introduziram a utilização de resistências e ações
características definidas pela EQUAÇÃO 16 e 17, respectivamente (AOKI, 2008).

R k = R m − k σr ( 16 )

Sk = Sm − k σ𝑠 ( 17 )

O CEB descreve este conceito estatístico como aproximação “semi-


probabilista”, tendo em vista que ainda consideram que a condição limite é dada por
um valor de FS=1 conforme a EQUAÇÃO 18 (CASTRO, 1997).
71

Rk
γm
FSk = ( )>1 ( 18 )
γs ∗ Sk

Nesse modelo, a estatística foi utilizado somente para definir os valores


característicos e não para determinar os coeficientes parciais de cálculo (CASTRO,
1997).

2.9.2 Índice de Confiabilidade e Probabilidade de Ruptura

A probabilidade de ruptura (𝑃𝑟 ) pode ser obtida por meio do cálculo do índice
de confiabilidade (β) que pode ser definido pela EQUAÇÃO 19 (AOKI, 2008).

𝜇𝑀
β= ( 19 )
σ𝑀
onde:
μM = valor da média da função da margem de segurança;
σM = valor do desvio padrão da função da margem de segurança.

Nas análises de estabilidade em que a resistência e a carga sejam


normalmente distribuídas, a margem de segurança também será normalmente
distribuída e o índice de confiabilidade (β) pode ser obtido conforme a EQUAÇÃO 20
(AOKI, 2008).

(FSmed − 1) 𝜇𝑠
β= ( 20 )
σ𝑀
onde:
FSmed = valor médio do fator de segurança da distribuição;
1 = valor que corresponde à ruptura;
μs = valor da solicitação média;
σM = valor do desvio padrão da função da margem de segurança.

O valor de β complementa o valor de FS e permite estimar a probabilidade de


ruptura, conforme está ilustrado no GRÁFICO 6.
72

GRÁFICO 6 – PROBABILIDADE DE RUPTURA EM FUNÇÃO DO ÍNDICE DE CONFIABILIDADE


1.00E+00
Probabilidade de Ruptura

1.00E-01
1.00E-02
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
1.00E-08
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Índice de Confiabilidade
FONTE:USACE (1997).

A probabilidade de ruptura (Pr) de uma barragem pode ser obtida por meio do
cálculo do índice de confiabilidade (β) e a sua relação está listada na TABELA 10.

TABELA 10 – VALORES DE Β PARA CADA PROBABILIDADE DE FALHA


Desempenho esperado Índice de Confiabilidade (β) Probabilidade de Falha
Alto 5,0 0,0000003
Bom 4,0 0,00003
Acima da média 3,0 0,001
Abaixo da média 2,5 0,006
Pobre 2,0 0,023
Insatisfatório 1,5 0,07
Perigoso 1,0 0,16
FONTE: USACE (1997).

O índice de confiabilidade é uma medida da condição atual e fornecem uma


estimativa do desempenho esperado da barragem.

2.9.3 Método de Monte-Carlo

A simulação de Monte Carlo fornece uma das abordagens genéricas mais


úteis para a computação estatística (KROESE; RUBINSTEIN, 2012). O método
permite solucionar problemas matemáticos por meio da simulação de qualquer
processo, cujo andamento dependa de fatores aleatórios (FERNANDES, 2005).
73

O método parte da modelagem quantitativa de um problema e da definição


das variáveis envolvidas. Esta modelagem é realizada por uma expressão matemática
existente ou criada tomando-se por base um experimento, ou análise de regressão
(KROESE; TAIMRE; BOTEV, 2011).
Para cada variável da equação, é definida uma distribuição de probabilidade
que retrate da melhor forma a sua probabilidade de ocorrência. As distribuições
podem ser contínuas, quando a variável é expressa em uma escala contínua, ou
discretas, quando a variável assume valores específicos. Uma das formas de decidir
qual distribuição utilizar é por meio da análise do histograma dos dados. Ao sobrepor
diferentes distribuições sobre o histograma, adota-se a que apresenta o melhor ajuste.
Estas distribuições podem ser do tipo normal, triangular, uniforme entre outras
(KROESE; TAIMRE; BOTEV, 2011).
A simulação consiste em gerar valores aleatórios para cada variável de acordo
com as distribuições de probabilidade definidas (KROESE; TAIMRE; BOTEV, 2011).
O processo é repetido inúmeras vezes e os resultados da expressão
matemática são analisadas por técnicas estatísticas (KROESE; TAIMRE; BOTEV,
2011). Dessa forma é possível construir um histograma para traçar a função de
probabilidade dos resultados da expressão matemática simulada, além de calcular a
média, desvio padrão e intervalo de confiança dos resultados (FLORES, 2008).
Não há um número específico de iterações que deve ser empregado. Porém,
para a escolha do número de iterações, é necessário definir o nível de precisão
desejado (ANGELOTTI et al., 2008). Quanto maior o número de observações maior é
a precisão dos resultados e o custo computacional (FERNANDES, 2005).

2.10 ESTUDO DE VAZÕES MÁXIMAS

O estudo de vazões máximas consiste em avaliar a probabilidade de


ocorrência de um determinado evento hidrometeorológico extremo, de forma a
subsidiar os dimensionamentos das estruturas vertentes, de desvio do rio e a definição
das cotas de proteção das estruturas civis estanques. Usualmente são utilizados o
método estatístico, ajustando-se curvas de distribuição de probabilidade, e o método
determinístico através da obtenção da Precipitação Máxima Provável (PMP) e da
Cheia Máxima Provável (CMP) (CAVALCANTI; REIS, 2017). A análise de frequência
74

pode ser classificada em local ou regional de acordo com o ponto de vista da extensão
espacial das informações envolvidas (NAGHETTINI; PINTO, 2007).

2.10.1 Análise local de frequência de cheias

O método da Análise de Frequência Local é o método mais tradicional e usual


e consiste da análise de frequência das séries de vazões máximas diárias anuais, com
aplicação das distribuições de frequência (CAVALCANTI; REIS, 2017).
Na análise de frequência local, a definição dos valores da variável hidrológica
associados a certas probabilidades de excedência, é realizada utilizando uma única
série de registros hidrométricos ou hidrometeorológicos, observados em certa estação
fluviométrica, ou pluviométrica, ou climatológica (NAGHETTINI; PINTO, 2007).

2.10.2 Verificação dos dados amostrais

Antes de iniciar os estudos hidrológicos é necessário realizar a análise de


consistência dos dados brutos disponíveis para detectar erros e inconsistências nos
registros. Esta análise tem necessidade de ser realizada para um conjunto de
estações situadas na mesma bacia ou área hidroclimaticamente homogênea
(NAGHETTINI; PINTO, 2007).

2.10.2.1 Representatividades

A confiabilidade dos parâmetros calculados depende da série histórica


constituída. A série precisa ser representativa da variável em questão, possuir um
número suficiente de elementos e não apresentar erros de observação ocasionais
e/ou sistemáticos (TUCCI, 2007).

2.10.2.2 Aleatoriedade

A aleatoriedade significa que as flutuações da variável hidrológica analisada


decorrem de causas naturais. Caso exista um reservatório a montante do ponto de
observação, as manobras realizadas que afetam a vazão afluente implicam na não-
aleatoriedade dos valores da série (NAGHETTINI; PINTO, 2007).
75

2.10.2.3 Independência

A independência de vazões procura assegurar que não exista dependência


entre os elementos que constituem a série. Para vazões máximas anuais é pequena
a chance de ocorrer dependência, visto o grande intervalo de tempo entre as
enchentes, e pelo fato de que a escolha da vazão máxima é realizada dentro do ano
hidrológico (TUCCI, 2007).

2.10.2.4 Homogeneidade

A homogeneidade pretende assegurar que as observações tenham sido


extraídas de uma única população (NAGHETTINI; PINTO, 2007).

2.10.2.5 Estacionaridade

A estacionaridade de uma série se dá quando não ocorrem modificações nas


características estatísticas da sua população ao longo do tempo. Uma série pode
apresentar não-estacionaridade quando ocorrem mudanças nas características do
escoamento pela urbanização, desmatamento, ou construção de reservatórios
(TUCCI, 2007).

2.10.2.6 Pontos amostrais atípicos

É preciso realizar a identificação e tratamento de eventuais pontos atípicos.


Em uma determinada série de observações, pode apresentar um ponto amostral
atípico do ponto de vista estatístico, quando ele se desvia significativamente do
conjunto dos outros pontos (NAGHETTINI; PINTO, 2007).

2.10.3 Distribuições estatísticas

Os métodos estatísticos tradicionais ajustam distribuições estatísticas de


probabilidade de acordo com vazões de enchentes observadas (TUCCI, 2007)
Não existe distribuição específica capaz de, sob quaisquer condições,
descrever o comportamento da variável em foco. Desta forma é recomendado
selecionar a distribuição que seja capaz de sintetizar as principais características
76

estatísticas da amostra e predizer quantis hipotéticos com a maior confiabilidade


possível (NAGHETTINI; PINTO, 2007).
O alto grau de subjetividade envolvido no processo de escolha de uma
distribuição de probabilidade pode levar a resultados distintos, dependendo dos
critérios adotados (WARSZAWSKI, 2013).
Um critério de escolha utilizado é a comparação entre o coeficiente de
assimetria amostral e o valor de assimetria teórico esperado para uma determinada
distribuição de probabilidade (NAGHETTINI; PINTO, 2007).
O coeficiente de assimetria é um número que indica o quão positivo ou negativo é o
desvio em relação à média. No Brasil, caso seja inferior que 1,5, recomenda-se utilizar
a distribuição de Gumbel, (extremos do tipo I) que tem coeficiente de assimetria igual
a 1,14, se for maior que 1,5 recomenda-se a distribuição Exponencial (estimada pelo
método dos momentos) que tem coeficiente de assimetria igual a 2,0 (ELETROBRÁS,
2000).
Após a escolha de uma distribuição de probabilidade, que represente as
características probabilísticas de um fenômeno hidrológico, deve-se escolher um
método para estimar seus parâmetros. O cálculo destes parâmetros pode ser
realizado por vários métodos, sendo os mais empregados o método do momentos, o
método da máximas verossimilhança e o método dos momentos-L (NAGHETTINI;
PINTO, 2007).

2.10.3.1 Distribuição de Gumbel

A distribuição de Gumbel, é a distribuição mais usada na análise de frequência


de variáveis hidrológicas máximas. A função inversa da acumulada de probabilidade
(FAP), da distribuição de Gumbel para máximos, pode ser escrita de acordo com a
EQUAÇÃO 21 (NAGHETTINI; PINTO, 2007).

1
x(T) = β − α ln (− ln (1 − )) ( 21 )
𝑇
onde:
α = parâmetro de escala;
β = parâmetro de posição;
T = tempo de retorno, em anos;
77

Estimando os parâmetros pelo método dos momentos, o estimador α é dado


pela EQUAÇÃO 22, e o estimador β é dado pela EQUAÇÃO 23 (NAGHETTINI;
PINTO, 2007).

𝑆𝑥
α= ( 22 )
1,283

β = 𝑥̅ − 0,45 𝑆𝑥 ( 23 )

onde:
𝑥̅ = média da amostra;
Sx = desvio padrão da amostra;

2.10.3.2 Distribuição Exponencial

A distribuição Exponencial tem aplicações em diversas áreas do


conhecimento humano, e, em particular, às variáveis hidrológicas. A FAP da
distribuição Exponencial pode ser escrita de acordo com a EQUAÇÃO 24
(NAGHETTINI; PINTO, 2007).

1
x(T) = β − α ln ( ) ( 24 )
𝑇
onde:
α = parâmetro de escala;
β = parâmetro de posição;
T = tempo de retorno, em anos;

Estimando os parâmetros pelo método dos momentos, o estimador α é dado


pela EQUAÇÃO 25 e o estimador β é dado pela EQUAÇÃO 26 (NAGHETTINI; PINTO,
2007).

α = 𝑆𝑥 ( 25 )

β = 𝑥̅ − 𝑆𝑥 ( 26 )

onde:
𝑥̅ = média da amostra;
Sx = desvio padrão da amostra;
78

2.10.3.3 Distribuição Generalizada de Eventos Extremos - GEV

A distribuição Generalizada de Eventos Extremos, ou distribuição GEV tem a


FAP escrita de acordo com a EQUAÇÃO 27 (NAGHETTINI; PINTO, 2007).

α 1 𝑘
x(T) = β + 𝑘 . {1 − [−ln (1 − 𝑇)] } ; k≠0 ( 27 )

onde:
k = parâmetro de forma;
α = parâmetro de escala;
β = parâmetro de posição;
T = tempo de retorno, em anos;

Estimando os parâmetros pelos momentos-L, o parâmetro de forma k da


distribuição GEV, pode ser obtido por meio da EQUAÇÃO 28 e EQUAÇÃO 29
(HOSKING; WALLIS, 1997).

k = 7,8590c + 2,9554c² ( 28 )
onde:

2𝜆2 ln(2)
c= − ( 29 )
𝜆3 + 3𝜆2 ln(3)

O parâmetro de escala α é obtido por meio da EQUAÇÃO 30 e o parâmetro


de posição β, pode ser obtido por meio da EQUAÇÃO 31 (HOSKING; WALLIS, 1997).

𝑘𝜆2
α= ( 30 )
(1 − 2−𝑘 ) 𝛤 (1 + 𝑘))

α
β = 𝜆1 − [1 − 𝛤(1 + 𝑘)] ( 31 )
𝑘

Os estimadores dos momentos-L podem ser calculados através das


EQUAÇÕES 32 a 35 (HOSKING; WALLIS, 1997).

𝜆1 = 𝛽0 ( 32 )

𝜆2 = 2𝛽1 − 𝛽0 ( 33 )

𝜆3 = 6𝛽2 − 6𝛽1 + 𝛽0 ( 34 )
79

𝜆4 = 20𝛽3 − 30𝛽2 + 12𝛽1 − 𝛽0 ( 35 )

Em uma amostra de vazões máximas anuais, organizadas em ordem


crescente, (x1 ≤ x2 ≤ ... ≤ xn) os estimadores de βr são calculados de acordo com as
EQUAÇÕES 36 a 39 (HOSKING; WALLIS, 1997).
𝑛
1
𝛽0 = ∑ 𝑥(𝑗) ( 36 )
𝑛
𝑗=1

𝑛
1 (𝑗 − 1)
𝛽1 = ∑ 𝑥 ( 37 )
𝑛 (𝑛 − 1) (𝑗)
𝑗=2

𝑛
1 (𝑗 − 1). (𝑗 − 2)
𝛽2 = ∑ 𝑥 ( 38 )
𝑛 (𝑛 − 1). (𝑛 − 2) (𝑗)
𝑗=3

𝑛
1 (𝑗 − 1). (𝑗 − 2). (𝑗 − 3)
𝛽3 = ∑ 𝑥 ( 39 )
𝑛 (𝑛 − 1). (𝑛 − 2). (𝑛 − 3) (𝑗)
𝑗=4

onde:
n = tamanho da amostra;

As razões de momentos-L podem ser definidas como (HOSKING; WALLIS,


1997).

𝜏1 = 𝜆1 ( 40 )

𝜆2
𝜏2 = ( 41 )
𝜆1

𝜆3
𝜏3 = ( 42 )
𝜆2

𝜆4
𝜏4 = ( 43 )
𝜆2
onde:
𝜏2 = Coeficiente de variação-L;
𝜏3 = Coeficiente de assimetria-L;
𝜏4 = Coeficiente de curtose-L;
80

2.10.4 Testes de aderência e Distribuição de Vazões

Os testes de aderência permitem verificar se uma variável aleatória discreta


segue uma distribuição de Poisson ou se uma variável aleatória continua é distribuída
segundo um modelo de Gumbel. Uma vez comprovada aderência dos dados
existentes à distribuição estatística, as vazões recorrentes para tempos de retorno
elevados são determinadas matematicamente, de acordo com a equação que rege a
distribuição escolhida (NAGHETTINI; PINTO, 2007).
As vazões máximas calculadas estão associadas a um tempo de retorno, a
qual permite indiretamente estimar o risco envolvido nas diversas fases de
implantação e operação do empreendimento (NAGHETTINI; PINTO, 2007).

2.10.5 Análise regional de frequência de cheias

Na análise de frequência regional, a definição dos valores da variável


hidrológica, associadas a certas probabilidades de excedência, é realizada utilizando
várias estações de uma região geográfica que apresentem semelhanças fisiográficas,
climáticas e/ou estatísticas, a quais justifiquem a transferência de informações de um
local para outro (NAGHETTINI; PINTO, 2007).
A análise de frequência regional pode ser utilizada na estimativa de variáveis
hidrológicas em locais que não possuem uma coleta sistemática de informações, e,
também como forma de aumentar a confiabilidade das estimativas dos parâmetros de
uma distribuição de probabilidades, para identificar a ausência de postos de
observação em partes de uma região, bem como para verificar a consistência das
séries hidrológicas (NAGHETTINI; PINTO, 2007).

2.10.6 Vazões instantâneas

Raramente a maior vazão registrada em um posto fluviométrico coincide com


a maior vazão que efetivamente ocorreu. Isso se deve ao fato de que na maioria das
estações fluviométricas as leituras não são contínuas e sim pontuais, realizadas às
7:00h e 17:00h, conforme exemplificado na FIGURA 13. Por este motivo, faz-se
necessário realizar a correção dos resultados obtidos, convertendo as vazões
máximas diárias em vazões máximas instantâneas (WARSZAWSKI, 2013).
81

FIGURA 13 – EXEMPLO DE HIDROGRAMA DE CHEIA E LEITURAS PONTUAIS


Leituras diárias Hidrograma
100
90
80
70
Vazão (m³/s)

60
50
40
30
20
10
0
0 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120
Horas
FONTE: O autor (2019).

Visando estimar as vazões máximas instantâneas, foram desenvolvidas


algumas equações. Dentre os métodos mais utilizados então o de Fuller, que relaciona
a razão entre a máxima vazão instantânea e a máxima média diária e o de Sangal,
que utiliza uma combinação da sequência das vazões médias diárias (STEINER; FILL,
2003).

2.10.6.1 Método de Fuller

Fuller foi um dos primeiros pesquisadores a obter uma fórmula para obter a
vazão máxima instantânea. A EQUAÇÃO 44, desenvolvida por Fuller, usa como única
variável explicativa para a relação entre a máxima média diária e a máxima
instantânea a área de drenagem (AD) do ponto considerado. O método pode
superestimar os resultados para bacias de grandes áreas de drenagem (STEINER;
FILL, 2003).

2,66
QMAX = QDIA × 1 + ( 44 )
AD−0,3
onde:
𝑄𝑀𝐴𝑋 = vazão de pico, em m³/s;
𝑄𝐷𝐼𝐴 = vazão média diária no dia, em m³/s;
AD = área de drenagem, em km²;
82

2.10.6.2 Método de Sangal

A EQUAÇÃO 45, desenvolvida por Sangal, estima a vazão máxima


instantânea a partir da vazão média diária máxima observada e das vazões médias
correspondentes ao dia anterior e posterior à ocorrência da vazão máxima. É preciso
levar em consideração que o método de Sangal pode subestimar os resultados para
bacias de pequenas áreas de drenagem (STEINER; FILL, 2003).

4 × QDIA − QANT − QPOST


QMAX = ( 45 )
2
onde:
QMAX = vazão de pico, em m³/s;
QDIA = vazão média diária no dia, em m³/s;
QANT = vazão média diária no dia anterior, em m³/s;
QPOST = vazão média diária no dia posterior, em m³/s.

2.11 VERTEDOUROS DE SOLEIRA LIVRE

Vertedouros são estruturas hidráulicas construídas com a finalidade de liberar


água de um reservatório para jusante com segurança. Os vertedouros de soleira livre
não possuem comporta, desta forma, sempre que o nível do reservatório é superior à
crista do vertedouro a água é vertida para jusante (AKAN, 2006).

2.11.1 Perfil do vertedouro

O perfil do vertedouro será definido pela forma do jato livre em vertedouro de


parede delgada, pois, a forma ideal é aquela que favorece a descarga e que, ao
mesmo tempo impede a ocorrência de vácuo, pulsações e vibrações. Dentre os perfis,
se destaca o perfil Creager, que permite que o fluxo siga conforme ocorreria se
escoasse livremente a partir de um vertedouro de parede delgada (AZEVEDO
NETTO, 1998).
A geometria da ogiva será definida de acordo com a carga de projeto e da
inclinação do paramento de montante do vertedouro.
O USBR (1987), fornece regras para definição do trecho do perfil a montante
da crista conforme a FIGURA 14.
83

FIGURA 14 – PERFIL DO VERTEDOURO

FONTE: USBR (1987).

As dimensões geométricas do trecho do perfil da ogiva a montante da crista


do vertedouro, que constam na FIGURA 14, são obtidas com base nas relações
indicadas na TABELA 11.

TABELA 11 – VALORES DE XC, YC, R1 E R2


Inclinação do Paramento Montante Xc/H0 R1/H0 R2/H0 R3/H0 Yc/H0
1H:3V 0,257 0,680 0,210 - -
2H:3V 0,214 0,480 0,220 - -
3H:3V - 0,000 0,000 - -
Vertical 0,282 0,500 0,200 0,040 0,136
FONTE: USACE (1977)

O trecho do perfil da ogiva a jusante da crista do vertedouro é definido por


meio da EQUAÇÃO 46 e desenhado conforme os eixos x e y ilustrados na FIGURA
15.

Y x n
= −K. ( ) ( 46 )
H0 H0
onde:
Y = ordenada, coordenada vertical, em m;
x = abcissa, coordenada horizontal, em m;
H0 = Carga de projeto, em m.
84

FIGURA 15 – ORIGEM DA CRISTA

FONTE: USACE (1977)

Os valores de K e n são obtidos na TABELA 12 de acordo com a inclinação


do paramento de montante.

TABELA 12 – VALORES DE K E N
Inclinação do Paramento Montante K n
1H:3V 0,517 1,836
2H:3V 0,516 1,810
3H:3V 0,540 1,780
Vertical 0,500 1,85
FONTE: USACE (1977)

2.11.2 Vazão em vertedouros não controlados

A capacidade de descarga de vertedouros de soleira livre é calculada pela


EQUAÇÃO 47 (USBR, 1987).

3
𝑄 = C. L. H 2 ( 47 )

onde:
C = coeficiente de descarga, em m1/2/s;
L = largura efetiva do vertedouro, em m;
H = carga sobre a crista, em m.

2.11.3 Carga de projeto

A carga de projeto (H0) é utilizada para definir o perfil do vertedouro. Maiores


cargas de projeto fazem com que o perfil do vertedouro tenha um raio maior,
85

resultando em pressões positivas ao longo da crista e reduzindo a descarga do


vertedouro. Ao se utilizar cargas de projeto menores, a crista tem um raio menor,
resultando em pressões negativas ao longo da crista e aumentando a descarga do
vertedouro.
Portanto, é recomendado que seja adotada uma carga de projeto que
proporcione o maior coeficiente de descarga, sem que a pressão negativa cause
danos no perfil do vertedouro.
Ensaios demonstraram que as pressões de sucção na ogiva, durante a
passagem de uma cheia máxima (TR10.000), não superam metade da carga
hidráulica de projeto (H0), desde que a carga de projeto corresponda a pelo menos
75% da carga máxima. Desta forma, em muitos casos se utiliza uma carga de projeto
que corresponda a 75% da carga máxima (USBR, 1987).

2.11.4 Coeficiente de descarga

O valor do coeficiente de descarga é calculado considerando os efeitos da


variação da carga, da inclinação da face de montante, da velocidade de aproximação
e do grau de afogamento a jusante (ELETROBRÁS, 2003).
O coeficiente de descarga nominal é obtido com base na EQUAÇÃO 48 e
GRÁFICO 7, sendo dependente da altura da barragem, comprimento e largura da
crista, inclinação do paramento de montante e altura da lâmina de água (CHANSON,
2004).

P
C0 = ( 48 )
H0
onde:
C0 = coeficiente de descarga nominal, em m1/2/s;
P = altura da barragem, em m;
H0 = Carga de projeto, em m.

O GRÁFICO 7 está em unidades imperiais, assim a unidade do coeficiente C0


está em 𝑓𝑡1/2 /𝑠 . Desta forma, para converter o coeficiente para unidades métricas (Q
em m³/s, L e H em m), deve-se multiplicar o coeficiente encontrado em unidades
imperiais por 0,552087.
86

GRÁFICO 7 – COEFICIENTE DE DESCARGA NOMINAL

FONTE: USBR (1987).

Em vertedouros, onde a carga de projeto é considerável em relação à altura


da barragem, pode ser necessário inclinar o paramento de montante para se obter
uma seção que atenda aos critérios de estabilidade. Porém, a inclinação do
paramento de montante tem efeitos no coeficiente de descarga e deve ser levado em
consideração no cálculo do coeficiente de descarga
Neste caso, o coeficiente de descarga deve ser corrigido, podendo ser
calculado com base na EQUAÇÃO 49 e no GRÁFICO 8 (USBR, 1987).

P
Ci = Cv ( 49 )
H0
onde:
Ci = coeficiente de descarga com face inclinada, em m1/2/s;
Cv = coeficiente de descarga com face vertical, em m1/2/s;
P = altura da barragem, em m;
H0 = Carga de projeto, em m.
87

GRÁFICO 8 – COEFICIENTE DE DESCARGA PARA DIFERENTES INCLINAÇÕES DO


PARAMENTO.

FONTE: USBR (1987).

O coeficiente de descarga para diferentes lâminas de água vertente é


calculado por meio da EQUAÇÃO 50 e GRÁFICO 9 (USBR, 1987).

HD
C = C0 ( 50 )
H0
onde:
C = coeficiente de descarga, em m1/2/s;
C0 = coeficiente de descarga nominal, em m1/2/s;
Hd = Carga atuante, em m;
H0 = Carga de projeto, em m.

GRÁFICO 9 – COEFICIENTE DE DESCARGA PARA OUTRAS LÂMINAS DE ÁGUA

FONTE: USBR (1987).


88

2.11.5 Coeficiente de contração

Os pilares entre os vãos e as ombreiras do vertedouro causam uma contração


no fluxo de água. Consequentemente, é necessário considerar a perda de
comprimento efetivo do vertedouro no dimensionamento, conforme a EQUAÇÃO 51
(AKAN, 2006).

L = L′ − 2 ∗ (N. Kp + Ka) He ( 51 )

onde:
L = largura efetiva do vertedouro, em m;
L’ = largura geométrica útil, em m;
Ka= coeficiente de contração das ombreiras;
Kp= coeficiente de contração dos pilares;
N= número de pilares;
He= carga no vertedouro = Ho + Vo² /2g, em metros.

Os valores de KP e KA são obtidos com base na TABELA 13 e TABELA 14,


respectivamente.
Os pilares entre os vãos do vertedouro causam uma contração no fluxo
devendo-se adotar os coeficientes da TABELA 13 na EQUAÇÃO 51 para considerar
esta contração.

TABELA 13 – COEFICIENTES KP DO PILAR.


Coeficiente Kp do
Ordem Forma do pilar
pilar
Pilar com frente quadrada e cantos arredondados iguais
1 0,02
a 0,1 da espessura do pilar
2 Pilar com nariz arredondado 0,01
3 Pilar com nariz pontudo 0,00
FONTE: Khatsuria (2005)

Tal como no caso dos pilares, as ombreiras do vertedouro também causam


uma contração no fluxo que é considerada na EQUAÇÃO 51 adotando-se um dos
coeficientes da TABELA 14.
89

TABELA 14 – COEFICIENTES KA DOS ENCONTROS DO VERTEDOURO.


Coeficiente Ka do
Ordem Forma do pilar
encontro
Encontro de forma quadrada com parede a 90º na
1 0,20
direção do fluxo
Encontro arredondado com parede a 90º na direção do
2 fluxo raio arredondado nos cantos entre 0,5Ho a 0,15 0,10
Ho
Encontro arredondado com raios maiores que 0,5Ho e
3 0,00
parede não mais de 45º na direção do fluxo
FONTE: Khatsuria (2005)
90

ESTUDO DE CASO

O Estudo de Caso, empregando o método de Monte Carlo, utiliza números


aleatórios e estatística para verificar a variação da probabilidade de ruptura da
barragem selecionada com a atualização dos estudos hidrológicos.

3.1 SELEÇÃO DO CASO OU AMOSTRA

Quanto à escolha do objeto de estudo, nesta pesquisa foi realizado um estudo


de caso único da barragem da UHE Santa Clara. A barragem foi selecionada por estar
instalada na bacia do rio Jordão, onde foi constatada que a série hidrológica de vazões
máximas da UHE Salto Curucaca apresentou um aumento significativo na cheia de
projeto com a atualização das séries históricas (RIVAS; ZAPZALKA, 2017). Não foi
adotada a barragem da UHE Salto Curucaca visto que esta tem altura inferior a 15
metros, não se enquadrando no critério de grandes barragens.
A barragem da UHE Santa Clara, fica à jusante da UHE Salto Curucaca e tem
67m de altura. Trata-se de uma barragem de concreto, o que permite calcular a
probabilidade de falha por deslizamento, e tem vertedouro de soleira livre com perfil
Creager, o que elimina a necessidade de considerar as manobras do vertedouro,
como seria necessário caso tivesse comportas segmento.
Outro ponto considerado na escolha foi a disponibilização dos dados do
inventário hidrelétrico do rio Jordão e dos estudos de viabilidade da UHE Santa Clara
pela ANEEL, fornecendo subsídios para a realização deste trabalho.

3.2 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS

A barragem da UHE Santa Clara foi construída entre os anos de 2001 e 2005.
A usina está localizada no rio Jordão, afluente da margem direita do rio Iguaçu em seu
trecho situado no centro-oeste paranaense, nos municípios de Candói e Pinhão,
conforme ilustrado na FIGURA 16. A UHE tem potência instalada de 120 MW, e a
adução da vazão turbinada é realizada por meio de um túnel. Como é criado um
Trecho de Vazão Reduzida (TVR) entre a barragem e o canal de fuga da UHE, é
necessário manter uma vazão mínima neste trecho. Esta vazão é liberada por meio
de uma PCH com 3,6 MW que foi instalada na margem direita da barragem.
91

FIGURA 16 – LOCALIZAÇÃO DA UHE SANTA CLARA

FONTE: O autor (2019).

A FIGURA 17 exibe uma imagem aérea da barragem logo após a construção


da Usina. A barragem tem altura máxima de 67m, é estável a gravidade e sua crista
tem um comprimento total de 618m.

FIGURA 17 – IMAGEM AÉREA DA BARRAGEM DA UHE SANTA CLARA

FONTE: ELEJOR (2019)


92

Os primeiros estudos para o aproveitamento do potencial energético do rio


Jordão datam da década de 1960. Coube a COPEL, em 1997, a realização dos
Estudos de Inventário Hidrelétrico do Rio Jordão e consolidar em definitivo o número
de usinas a serem construídas. O estudo evoluiu para a definição de uma alternativa
de divisão de queda que, perdendo um pouco de seu potencial energético,
apresentasse uma solução ambiental satisfatória considerando a bacia hidrográfica
como um todo. Desta forma dividiu-se o rio em três usinas, sendo elas: Curucara,
Santa Clara e Fundão (COPEL, 1999).
Em 1998 foram iniciados os Estudos de Viabilidade Técnica e Ambiental da
UHE Santa Clara.
Em 30 de setembro de 2005 a usina foi inaugurada (ELEJOR, 2019).

3.2.1 Área de Drenagem

O rio Jordão desenvolve-se predominantemente no sentido sudoeste. Sua


área de drenagem até a barragem da UHE Santa Clara é de 3.900 km². Conforme a
FIGURA 18, o uso do solo tem como características principais a ocupação por
agricultura e pastagens, que são as regiões em verde claro, reflorestamento e
vegetação nativa, que são as regiões em verde escuro.

FIGURA 18 – ÁREA DE DRENAGEM DA UHE SANTA CLARA

FONTE: O autor (2019).


93

Para subsidiar a escolha dos parâmetros geotécnicos utilizados, nas


simulações, foi realizada uma análise geológica que permitiu identificar as regiões
com embasamento litológico similar aos da UHE Santa Clara.
O embasamento litológico da área de drenagem da UHE faz parte do Grupo
São Bento, constituído por extensos derrames de rochas ígneas, predominando
basaltos, de idade jurássica-cretácica da Formação Serra Geral. O membro Nova
Prata é formado por rochas ígneas, variando de básicas a ácidas, compreendendo
basaltos pórfiros, dacitos, riodacitos e riolitos, conforme a FIGURA 19 (MINEROPAR,
2001).

FIGURA 19 – EMBASAMENTO LITOLÓGICO DO PARANÁ.

FONTE: MINEROPAR (2001).

De acordo com a FIGURA 19, foi possível constatar que as barragens


instaladas à jusante da UHE Santa Clara, no rio Jordão e no rio Iguaçu, têm o mesmo
embasamento litológico. Isso foi levado em consideração na escolha dos parâmetros
geotécnicos adotados nas simulações.
94

3.2.2 Reservatório

No estudo de inventário o nível de água máximo normal (NAM) foi definido


como sendo a cota 800,00 metros (COPEL, 1999).
Durante os estudos de viabilidade o NAM foi elevado em 5,00 m, visto que
estudos mostraram que esta elevação não alteraria de forma significativa as
condições ambientais (COPEL; INTERTECHNE, 2000).
À vista disso o nível de água máximo normal adotado no projeto foi a cota
805,00m

3.2.3 Vazões de Projetos

A vazão de dimensionamento do vertedouro definido no estudo de inventário


foi de 6.056m³/s, calculado para um período de retorno de 10.000 anos (COPEL, 1999)
Nos estudos de viabilidade, o vertedouro foi dimensionado para escoar uma
vazão de pico de 6.831m³/s, correspondente à cheia com período de retorno de 10.000
anos, com uma sobre-elevação de 5,40m, considerando-se o amortecimento do
reservatório (COPEL; INTERTECHNE, 2000).

3.2.4 Barragem / Soleira Vertente

O barramento da UHE Santa Clara foi construído com CCR e é composto por
um vertedouro sem controle, também conhecido por soleira vertente, formando um
reservatório com cerca de 20 km². A seção típica tem paramento de montante vertical,
crista em formato de ogiva na cota 805,00 e inclinação do paramento de jusante de
0,75H:1,00V, conforme a FIGURA 20.
O paramento de jusante é formado por degraus, com 90 cm de espelho e 67,5
cm de patamar, que atuam na dissipação de energia. Próximo à fundação existe um
defletor para afastar parte do fluxo do pé da estrutura. Além disso, a jusante do defletor
existe uma laje com 60 cm de espessura e 6,00 m de extensão, no sentido de jusante,
com a função de proteger a fundação. Foram previstas juntas de contração verticais
a cada 20 m, com a finalidade de controlar a fissuração da barragem, e um sistema
de galerias de drenagem para alívio da subpressão (COPEL; INTERTECHNE, 2000).
95

FIGURA 20 – PERFIL DA BARRAGEM

Crista
EL. 805,00

CCR

0,75

1
CCV
Dissipador

Defletor
Galeria de
Drenagem Drenagem da Estrutura

Fundação
EL 743,80

Injeções Drenagem da Fundação

FONTE: COPEL; INTERTECHNE (2000)

A durabilidade do CCR depende da resistência e qualidade dos materiais


cimentícios e agregados, assim como do seu grau de compactação. Em barragens de
CCR, que tem baixo consumo de aglomerante, pode ser feita uma proteção externa
com uma camada de concreto convencional, adensada com vibradores de imersão.
Esta camada é dimensionada para que não ocorra contato da água de percolação
com o concreto compactado com rolo, situado no núcleo, para o período de vida útil
da obra. Tal camada pode ser observada na FIGURA 20, em todo o contorno da
barragem (USACE, 2000).
A espessura mínima do revestimento com concreto convencional da face de
montante é de 0,50m, acima da cota 785,20m, e de 0,75m abaixo desta cota. Já a
espessura do revestimento da face de jusante é de 0,15m. Junto à fundação foi
prevista uma camada de concreto de regularização com espessura mínima de 0,15
m. Junto ao pé de montante foi executada uma laje para a execução de uma cortina
de injeções (COPEL; INTERTECHNE, 2000)
96

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo de caso avaliando a variação da probabilidade de


ruptura da barragem da UHE Santa Clara com a atualização dos estudos de vazões
máximas.
Para isto, a pesquisa compõe-se de coleta e geração de dados com o objetivo
de subsidiar as simulações e análises. De modo a organizar o estudo, o
desenvolvimento foi dividido em partes.
a) A primeira parte contém os estudos hidrológicos determinando a vazão de
projeto até o ano de 1997, época dos estudos de implantação da UHE e a
vazão de projeto utilizando a série histórica até o ano de 2018.
b) A segunda parte refere-se aos estudos hidráulicos, em que é definido a
curva de descarga vertedouro, NAM e Nível de Água de Jusante da
barragem (NAJ).
c) Na terceira parte estão as definições das características dos parâmetros
geotécnicos utilizados no cálculo de estabilidade.
d) A quarta parte abrange a definição dos parâmetros adotados no cálculo da
estabilidade da barragem.
e) Na quinta parte são indicados os carregamentos atuantes na estrutura
f) Na sexta parte são apresentados os critérios utilizados nas simulações de
Monte Carlo

4.1 HIDROLOGIA

Primeiramente, foi recalculada a cheia de projeto utilizando-se as séries de


vazões até o ano de 1997. Como a Copel realizou o estudo hidrológico que definiu a
cheia de projeto da UHE Santa Clara em 1997, os resultados obtidos neste estudo
foram confrontados com os dados obtidos pela Copel de modo a realizar a validação
externa dos procedimentos adotados neste estudo hidrológico.
De modo a obter dados comparáveis com os estudos hidrológicos realizados
até o momento, seguiu-se a mesma metodologia utilizada pela Copel durante os
estudos de viabilidade (COPEL; INTERTECHNE, 2000).
Em seguida foi calculada a cheia de projeto utilizando-se as séries de vazões
atualizadas até dezembro de 2018.
97

4.1.1 Dados Fluviométricos Disponíveis

Os dados fluviométricos são gerados pela observação diária das estações


fluviométricas instaladas ao longo dos cursos d’água e monitoradas por entidades
afins.
Estes dados foram obtidos junto ao banco de dados da Agência Nacional de
Águas – ANA, acessados através da ferramenta Hidroweb, e pelo Sistema de
Informações Hidrológicas do Instituto das Águas do Paraná. Os bancos de dados
foram acessados por meio dos sites dos respectivos órgãos ao longo do ano de 2019,
até que todas as estações ativas tivessem suas leituras até dezembro de 2018
publicadas. Também foi acessado o banco de dados do Operados Nacional do
Sistema Elétrico (NOS), por meio do site do respectivo órgão, para obter dados
hidrológicos e vazões afluentes no reservatório da UHE Santa Clara.

4.1.1.1 Estudo de Vazões Máximas – Análise Local

A análise local de frequência de cheias foi realizada conforme descrito a


seguir. Inicialmente, foram selecionadas as máximas vazões diárias para cada ano
dos postos fluviométricos, que estão listados no APÊNDICE 1.
As estações fluviométricas Salto Curucaca, Fazenda Taguá e Salto Curucaca
Jusante foram unidas para a obtenção de um conjunto de dados mais extenso, visto
que possuem área de drenagem similar. Do ano de 1960 até 1981 foram adotadas as
vazões da estação Salto Curucaca. De 1982 até 1997 foram adotados os dados da
estação Fazenda Taguá, e de 1998 até 2014 os dados de Salto Curucaca Jusante,
mesmo procedimento que foi adotado pela Copel.
Os dados da estação Santa Clara foram utilizados até 2005, ano em que a
UHE Santa Clara iniciou a sua operação. Isso aconteceu devido à estação Santa Clara
estar instalada no Trecho de Vazão Reduzida (TVR) da UHE, passando a medir
apenas a vazão ecológica somada a vazão vertida pela UHE. Desta forma, de 2006
até 2018, foram utilizadas as vazões afluentes no reservatório da UHE Santa Clara
disponibilizados pela ONS.
As séries de vazões máximas anuais, das estações fluviométricas
selecionadas, tiveram a sua média, desvio padrão e coeficiente de assimetria
calculadas e listadas na Tabela 15.
98

TABELA 15 – CARACTERÍSTICAS DAS SÉRIES DE VAZÕES MÁXIMAS ANUAIS


Até 1997 Até 2018
Salto Curucaca/ Salto Curucaca/
Santa Clara Santa Clara
Fazenda Taguá Fazenda Taguá
Número de anos 38 anos 48 anos 55 anos 69 anos
Média 378 m³/s 726 m³/s 419 m³/s 767 m³/s
Desvio Padrão 278 m³/s 515 m³/s 275 m³/s 582 m³/s
Coeficiente de Assimetria 2,44 3,29 1,83 3,53

Conforme visto no Capítulo 2.10.3, para valores de coeficiente de assimetria


amostral inferiores a 1,5, recomenda-se a distribuição de Gumbel, e, para valores
superiores a 1,5, a distribuição Exponencial. Na medida em que todas as séries de
vazões máximas anuais das estações Salto Curucaca/Fazenda Taguá e Santa Clara
têm coeficiente de assimetria superior a 1,5, nos dois casos foi adotada a distribuição
Exponencial.
O ajuste da distribuição Exponencial foi realizado pelo método dos momentos,
conforme visto no Capítulo 2.10.3.2, tanto para a estação Salto Curucaca/Fazenda
Taguá quanto para a estação Santa Clara.
Na TABELA 16 estão inseridas as vazões máximas da estação Salto
Curucaca/Fazenda Taguá e da estação Santa Clara, utilizando os dados das séries
hidrológicas disponíveis no ano de 1997.

TABELA 16 – VAZÕES MÁXIMAS DA ANÁLISE LOCAL DAS ESTAÇÕES ATÉ 1997


Salto Curucaca/Fazenda Taguá Santa Clara
AD = 2200km² AD = 3913km²
TR (anos) m3/s m3/s
2 293 568
5 548 1040
10 740 1397
20 933 1754
25 995 1869
50 1.188 2226
100 1.381 2583
500 1.829 3412
1000 2.022 3768
10000 2.662 4954
FONTE: O autor (2019)

Em seguida foram calculadas as vazões máximas das duas estações


utilizando os dados das séries hidrológicas atualizadas até o ano de 2018, conforme
ilustrado na TABELA 17.
99

TABELA 17 – VAZÕES MÁXIMAS DA ANÁLISE LOCAL DAS ESTAÇÕES ATÉ 2018


Salto Curucaca/Fazenda Taguá Santa Clara
AD = 2200km² AD = 3913 km²
Variação em relação Variação em relação
TR (anos) m3/s à série do PB m3/s à série do PB
2 335 + 14,3% 588 + 3,6%
5 587 + 7,2% 1122 + 7,9%
10 777 + 5,0% 1525 + 9,2%
20 968 + 3,8% 1929 + 10,0%
25 1030 + 3,4% 2058 + 10,2%
50 1220 + 2,7% 2462 + 10,6%
100 1411 + 2,2% 2865 + 11,0%
500 1854 + 1,4% 3802 + 11,5%
1000 2045 + 1,2% 4206 + 11,6%
10000 2679 + 0,6% 5546 + 11,9%
FONTE: O autor (2019)

Os pontos da TABELA 16 foram plotados no GRÁFICO 10, e a partir das


vazões máximas médias diárias, das estações fluviométricas Salto Curucaca/Fazenda
Taguá e Santa Clara, foi definido o diagrama de contribuições para a UHE Santa
Clara.
Para cada tempo de retorno foi estabelecida uma equação linear, para a série
até o ano de 1997, de acordo com a sua área de drenagem e vazão em litros por
segundo por quilômetro quadrado.

GRÁFICO 10 – DIAGRAMA DE CONTRIBUIÇÃO DA ANÁLISE LOCAL ATÉ 1997


1500

y = 0.0333x + 1136.9
1250

1000
y = 0.0262x + 861.23
Vazão (l/s/km²)

y = 0.0241x + 778.26

750
y = 0.0192x + 585.6
y = 0.017x + 502.62
500 y = 0.0149x + 419.65 y = 0.0142x + 392.94
y = 0.0121x + 309.96
y = 0.01x + 226.99
250
y = 0.0071x + 117.3

0
2000 2200 2400 2600 2800 3000 3200 3400 3600 3800 4000
ÁREA DE DRENAGEM (km²)

FONTE: O autor (2019)


100

Os pontos da TABELA 17 foram plotados no GRÁFICO 11 e para cada tempo


de retorno foi estabelecida uma equação linear, para a série até o ano de 2018, de
acordo com a sua área de drenagem e vazão em litros por segundo por quilômetro
quadrado.

GRÁFICO 11 – DIAGRAMA DE CONTRIBUIÇÃO DA ANÁLISE LOCAL ATÉ 2018


1500
y = 0.1175x + 959.16

1250

1000 y = 0.0855x + 741.53 y = 0.0758x + 676.01


Vazão (l/s/km²)

750
y = 0.0534x + 523.89
y = 0.0438x + 458.38

500 y = 0.0342x + 392.87 y = 0.0311x + 371.77

y = 0.0214x + 306.26
y = 0.0118x + 240.75
250
y = -0.0009x + 154.14

0
2000 2200 2400 2600 2800 3000 3200 3400 3600 3800 4000
ÁREA DE DRENAGEM (km²)

FONTE: O autor (2019)

Inserindo a área de drenagem de 3.900km² nas equações lineares geradas


foram calculadas as vazões máximas no eixo da usina.
Para a definição da vazão máxima instantânea foi utilizado o coeficiente de
vazões máximas determinado no Projeto Básico de 1,194 (COPEL; INTERTECHNE,
2000). Tal coeficiente foi obtido por meio da comparação da vazão média diária com
a vazão medida durante o pico da cheia de julho de 1982 conforme o QUADRO 10.

QUADRO 10 – CHEIAS ANALISADAS DA ESTAÇÃO SANTA CLARA


Cheia Mai/54 Jun/55 Jul/82 Mai/87 Set/89 Mai/93 Jan/95
Máxima média diária (m3/s) 1065 1008 1110 1413 850 944 1163
Máxima Instantânea (m3/s) 1155 1039 1323 1503 942 1035 1188
Instant/média diária (obser.) 1,085 1,030 1,192 1,064 1,108 1,096 1,021
Instant/média diária (corrig.) 1,115 1,043 1,194 1,074 1,061 1,081 1,037
FONTE: (COPEL; INTERTECHNE, 2000)
101

As vazões máximas para a série com os dados disponíveis até o ano de 1997,
calculadas com base nas equações definidas no GRÁFICO 10, estão ilustradas na
TABELA 18.

TABELA 18 – VAZÕES MÁXIMAS DA ANÁLISE LOCAL DA UHE SANTA CLARA ATÉ 1997
UHE Santa Clara
3900 km²
Máximas médias diárias Máximas instantâneas
TR (anos) m3/s m3/s
2 565 675
5 1037 1239
10 1393 1663
20 1748 2088
25 1863 2225
50 2219 2649
100 2576 3076
500 3402 4062
1000 3757 4486
10000 4940 5899
FONTE: O autor (2019)

No APÊNDICE 2 estão listadas as vazões obtidas pela Copel e neste estudo,


para realizar a validação externa dos dados e metodologia utilizada. Foi verificado que
a diferença de vazões entre os dois estudos foi de no máximo 2%, validando os
resultados obtidos neste estudo.
Na TABELA 19 foram calculadas as vazões máximas com os dados das séries
atualizadas até o ano de 2018, com base nas equações do GRÁFICO 11 e foi
calculada a variação que as vazões tiveram em relação à série de 1997 da TABELA
18.

TABELA 19 – VAZÕES MÁXIMAS DA ANÁLISE LOCAL DA UHE SANTA CLARA ATÉ 2018
UHE Santa Clara
3900 km²
Máximas médias diárias Máximas instantâneas Variação em relação à
TR (anos) m3/s m3/s série do PB
2 587 701 + 3,9%
5 1118 1335 + 7,8%
10 1520 1815 + 9,1%
20 1923 2296 + 10,0%
25 2052 2451 + 10,1%
50 2454 2930 + 10,6%
100 2855 3409 + 10,9%
500 3789 4524 + 11,4%
1000 4192 5006 + 11,6%
10000 5528 6600 + 11,9%
FONTE: O autor (2019)
102

Nota-se que, pela análise local, a vazão decamilenar no o eixo da UHE Santa
Clara teve um aumento de 11,9%. Além disso, é possível observar que para todos os
tempos de retorno de mais de 20 anos o aumento foi de mais de 10%.

4.1.1.2 Estudo de Vazões Máximas – Análise Regional

O cálculo das vazões máximas, por meio da análise regional de frequência de


cheias, foi realizado conforme descrito a seguir. Foram utilizadas as mesmas estações
utilizadas no projeto básico, assim como os dados de área de drenagem e declividade
das estações, disponíveis no ANEXO 1. São ao todo 17 estações fluviométricas, com
no mínimo 20 anos de observação e área de drenagem variando de 65 a 8.600 km²
(COPEL; INTERTECHNE, 2000).
Na análise foi utilizada a distribuição Generalizada de Valores Extremos
(GEV) e os seus parâmetros foram determinados utilizado o método dos Momentos L,
conforme apresentado no Capítulo 2.10.3.3.
Na TABELA 20, estão inseridas as vazões máximas médias diárias das
estações fluviométricas Salto Curucaca/Fazenda Taguá e Santa Clara utilizando os
dados das estações fluviométricas até o ano de 1997.

TABELA 20 – VAZÕES MÁXIMAS DA ANÁLISE REGIONAL DAS ESTAÇÕES ATÉ 1997


Salto Curucaca/Fazenda Taguá Santa Clara
AD = 2200km² AD = 3913km²
TR (anos) m3/s m3/s
2 385 763
5 567 1125
10 703 1396
20 847 1684
25 895 1781
50 1.055 2099
100 1.229 2446
500 1.700 3385
1000 1.936 3855
10000 2.897 5771
FONTE: O autor (2019)

Em seguida foram calculadas as vazões máximas médias diárias das duas


estações utilizando os dados das estações fluviométricas atualizadas até o ano de
2018, conforme ilustrado na TABELA 21.
103

TABELA 21 – VAZÕES MÁXIMAS DA ANÁLISE REGIONAL DAS ESTAÇÕES ATÉ 2018


Salto Curucaca/Fazenda Taguá Santa Clara
AD = 2200km² AD = 3913 km²
Variação em relação Variação em relação
TR (anos) m3/s à série do PB m3/s à série do PB
2 407 + 5,6% 812 + 6,3%
5 605 + 6,7% 1222 + 8,6%
10 751 + 6,9% 1526 + 9,3%
20 905 + 6,9% 1845 + 9,6%
25 957 + 6,9% 1952 + 9,6%
50 1125 + 6,6% 2301 + 9,6%
100 1307 + 6,3% 2678 + 9,5%
500 1791 + 5,4% 3681 + 8,8%
1000 2030 + 4,9% 4176 + 8,3%
10000 2983 + 3,0% 6152 + 6,6%
FONTE: O autor (2019)

A partir das vazões máximas médias diárias das estações fluviométricas Salto
Curucaca/Fazenda Taguá e Santa Clara foi definido o diagrama de contribuições para
a UHE Santa Clara. Para cada tempo de retorno, foi estabelecida uma equação linear
de acordo com a sua área de drenagem e vazão em litros por segundo por quilômetro
quadrado. No GRÁFICO 12 estão definidas as equações para a série até o ano de
1997.

GRÁFICO 12 – DIAGRAMA DE CONTRIBUIÇÃO DA ANÁLISE REGIONAL ATÉ 1997


1600

1400 y = 0.0932x + 1111.7

1200

1000
y = 0.062x + 743.46
y = 0.0544x + 653.08
Vazão (l/s/km²)

800

600 y = 0.0391x + 472.71


y = 0.0335x + 405.97
y = 0.0283x + 344.77 y = 0.0267x + 326.12
400
y = 0.022x + 270.91 y = 0.0176x + 218.75
200 y = 0.0118x + 149.29

0
2000 2200 2400 2600 2800 3000 3200 3400 3600 3800 4000
ÁREA DE DRENAGEM (km²)

FONTE: O autor (2019)

No GRÁFICO 13 estão ilustradas as equações para a série até o ano de 2018.


104

GRÁFICO 13 – DIAGRAMA DE CONTRIBUIÇÃO DA ANÁLISE REGIONAL ATÉ 2018


1600
y = 0.1272x + 1076.1
1400

1200

1000 y = 0.0851x + 735.6


y = 0.0745x + 650.28
Vazão (l/s/km²)

800
y = 0.0531x + 477.42
600 y = 0.045x + 412.44
y = 0.0376x + 352.29 y = 0.0353x + 333.84
400 y = 0.0285x + 278.89 y = 0.022x + 226.48
200 y = 0.0132x + 155.79

0
2000 2200 2400 2600 2800 3000 3200 3400 3600 3800 4000
ÁREA DE DRENAGEM (km²)

FONTE: O autor (2019)

A partir das equações lineares geradas, foram calculadas a vazões máximas


no o eixo da usina que tem 3.900 km².
Para a definição da vazão máxima instantânea, tal como na análise local, foi
utilizado o coeficiente de vazões máximas determinado no Projeto Básico de 1,194
(COPEL; INTERTECHNE, 2000).
As vazões máximas média diárias para a série até o ano de 1997, calculadas
com base nas equações definidas no GRÁFICO 12, estão ilustradas na TABELA 22.

TABELA 22 – VAZÕES MÁXIMAS DA ANÁLISE REGIONAL DA UHE SANTA CLARA ATÉ 1997
UHE Santa Clara
3900 km²
Máximas médias diárias Máximas instantâneas
TR (anos) 3
m /s m3/s
2 762 909
5 1121 1338
10 1391 1661
20 1678 2004
25 1775 2119
50 2093 2499
100 2447 2922
500 3374 4029
1000 3843 4588
10000 5753 6869
FONTE: O autor (2019)
105

Na TABELA 23 foram calculadas as vazões máximas até o ano de 2018, com


base nas equações do GRÁFICO 13 e foi calculada a variação que as vazões tiveram
em relação a série de 1997 da TABELA 22.

TABELA 23 – VAZÕES MÁXIMAS DA ANÁLISE REGIONAL DA UHE SANTA CLARA ATÉ 2018
UHE Santa Clara
3900 km²
Máximas médias diárias Máximas instantâneas Variação em relação à
TR (anos) m3/s m3/s série do PB
2 808 965 + 6,1%
5 1218 1454 + 8,7%
10 1521 1816 + 9,3%
20 1839 2196 + 9,6%
25 1946 2323 + 9,6%
50 2293 2738 + 9,6%
100 2553 3048 + 4,3%
500 3669 4381 + 8,7%
1000 4163 4971 + 8,3%
10000 6132 7321 + 6,6%
FONTE: O autor (2019)

Assim como na análise local, na análise regional também se obteve aumento


nas vazões de todos os tempos de retorno analisados. Nota-se que pela análise
regional a vazão decamilenar no o eixo da UHE Santa Clara teve um aumento de
6,6%.

4.1.1.3 Vazões Máximas Adotadas

Comparando-se os resultados obtidos na análise local de frequência de


cheias, com os da análise regional, é possível constatar que para os tempos de retorno
até 1.000 anos, as vazões da análise local foram maiores. Por conseguinte, para os
tempos de retorno de 2 a 1.000 anos, foram adotados os valores da análise local.
Visto que, por se tratar de um estudo de vazões máximas, a adoção de um valor maior
acaba sendo uma escolha mais conservadora.
Para o tempo de retorno de 10.000 anos, ou seja, para a vazão de projeto do
vertedouro, as vazões da análise regional foram maiores, desta forma, foram os dados
adotados para a definição da cheia de projeto.
Na TABELA 24 estão listadas as vazões máximas da série hidrológica
adotada para a UHE Santa Clara até o ano de 1997, fazendo a combinação dos dados
da análise local, da TABELA 18 com os da análise regional da TABELA 22.
106

TABELA 24 – VAZÕES MÁXIMAS ADOTADAS DA UHE SANTA CLARA ATÉ 1997


UHE Santa Clara
3900 km²
Máximas médias diárias Máximas instantâneas
Análise TR (anos) m3/s m3/s
Local 2 565 675
Local 5 1037 1239
Local 10 1393 1663
Local 20 1748 2088
Local 25 1863 2225
Local 50 2219 2649
Local 100 2576 3076
Local 500 3402 4062
Local 1000 3757 4486
Regional 10000 5753 6869
FONTE: O autor (2019)

Na TABELA 25 estão elencadas as vazões máximas da série hidrológica


adotada para a UHE Santa Clara atualizada até o ano de 2018, combinando os dados
da TABELA 19 e TABELA 23.

TABELA 25 – VAZÕES MÁXIMAS ADOTADAS DA UHE SANTA CLARA ATÉ 2018


UHE Santa Clara
3900 km²
Máximas médias Máximas Variação em
diárias instantâneas relação à série do
Análise TR (anos) m3/s m3/s PB
Local 2 587 701 + 3,9%
Local 5 1118 1335 + 7,8%
Local 10 1520 1815 + 9,1%
Local 20 1923 2296 + 10,0%
Local 25 2052 2451 + 10,1%
Local 50 2454 2930 + 10,6%
Local 100 2855 3409 + 10,9%
Local 500 3789 4524 + 11,4%
Local 1000 4192 5006 + 11,6%
Regional 10000 6132 7321 + 6,6%
FONTE: O autor (2019)

Ao analisar a série de vazões máximas, listada na TABELA 25, é possível


constatar que todos os tempos de retorno tiveram incremento de vazão.
Como este aumento foi obtido pela atualização dos estudos hidrológicos,
acrescentando 21 anos às séries hidrológicas utilizadas no Projeto Básico, e que
essas já possuíam um histórico de 37 anos, obteve-se um aumento considerável nas
vazões de projeto, reforçando a importância da atualização dos estudos de vazões
máximas das usinas hidrelétricas existentes.
107

4.2 HIDRÁULICA

Para obter a sobre-elevação à montante e jusante da barragem devido ao


aumento na vazão de projeto faz-se necessário determinar as respectivas curvas de
descarga do vertedouro.

4.2.1 Curva de descarga do vertedouro (NAM).

Para obter a sobre-elevação correspondente ao aumento da vazão de projeto,


determinou-se a curva de descarga do vertedouro. Os dados utilizados estão
sumarizados na TABELA 26.

TABELA 26 – DADOS BÁSICOS DO VERTEDOURO


ELEVAÇÃO DA CRISTA (Zcrista) 805 m
CARGA DE PROJETO (Hd) 4,50 m
LARGURA LIVRE DO VERTEDOURO (L) 250,00 m
NÚMERO DE PILARES (N) 1
COEFICIENTE DE CONTRAÇÃO DE PILAR (Kp) 0,0100
COEFICIENTE DE CONTRAÇÃO DE OMBREIRA (Ka) 0,1000
DECLIVIDADE DO PARAMENTO DE MONTANTE (Z:3) 0
FONTE: O autor (2019)

A curva de descarga do vertedouro da UHE Santa Clara foi determinada de


acordo com a EQUAÇÃO 47 e os valores obtidos constam na TABELA 27.

TABELA 27 – TABELA DE DESCARGA DO VERTEDOURO


H (m) H/Hd C L' (m) Q (m³/s) NAM (m)
0,00 0,00 1,716 250,00 0 805,00
0,50 0,11 1,794 249,89 158 805,50
1,00 0,22 1,864 249,78 466 806,00
1,50 0,33 1,926 249,67 883 806,50
2,00 0,44 1,981 249,56 1399 807,00
2,50 0,56 2,031 249,45 2002 807,50
3,00 0,67 2,075 249,34 2688 808,00
3,50 0,78 2,114 249,23 3450 808,50
4,00 0,89 2,150 249,12 4285 809,00
4,50 1,00 2,183 249,01 5189 809,50
5,00 1,11 2,213 248,90 6159 810,00
5,50 1,22 2,242 248,79 7196 810,50
6,00 1,33 2,271 248,68 8298 811,00
FONTE: O autor (2019)
108

Os resultados foram plotados no GRÁFICO 14, com o intuito de se obter a


curva de descarga do vertedouro.

GRÁFICO 14 – CURVA DE DESCARGA DO VERTEDOURO DA UHE SANTA CLARA


811
RESERVATÓRIO (m)

810
NÍVEL DE ÁGUA NO

809

808

807

806

805
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000
VAZÃO (m³/s)
FONTE: O autor (2019)

Com base no estudo hidrológico e da curva de descarga foram definidos os


níveis máximos maximorum do reservatório antes e depois da atualização dos estudos
hidrológicos.

TABELA 28 – VARIAÇÃO DO NAM NO EIXO DA BARRAGEM


Vazão NAM
SÉRIES DISPONÍVEIS ATÉ 1997 6869 m³/s 810,35 m
SÉRIES DISPONÍVEIS ATÉ 2018 7321 m³/s 810,56 m
FONTE: O autor (2019)

Portanto a atualização da cheia de projeto da UHE Santa Clara implicou em


um aumento de 0,21 m no Nível Máximo Maximorum. Aumentando a lâmina d’água
máxima na crista do vertedouro de 5,35m para 5,56m, ou seja, um aumento de 3,9%.
Este aumento também implica em um incremento nas pressões hidrostáticas,
hidrodinâmicas e de subpressão que serão utilizadas no cálculo de estabilidade da
barragem.

4.2.2 Curva de descarga no eixo da barragem (NAJ).

Foi adotada a curva de descarga definida na TABELA 29 como o NAJ da


barragem. Estes dados foram retirados do projeto básico que, por meio do cálculo de
remanso, utilizando o programa computacional HEC-2 e cinco seções
topobatimétricas, definiu a curva de descarga no eixo da barragem.
109

TABELA 29 – TABELA DE DESCARGA NO EIXO DA BARRAGEM DA UHE SANTA CLARA


Vazão Nível Vazão Nível Vazão Nível
(m3/s) (m) (m3/s) (m) (m3/s) (m)
10 742,96 750 745,30 2200 747,26
50 743,56 1000 745,66 2400 747,49
100 743,86 1200 745,94 2600 747,73
200 744,28 1400 746,23 2750 747,90
300 744,62 1600 746,50 3729 748,91
400 744,77 1800 746,76 4203 749,36
500 744,92 2000 747,01 6056 750,92
FONTE: (COPEL; INTERTECHNE, 2000)

Os dados da TABELA 29 foram plotados no GRÁFICO 15 e serão utilizados


para definir o NAJ da barragem durante os cálculos de estabilidade.

GRÁFICO 15 – CURVA DE DESCARGA NO EIXO DA BARRAGEM DA UHE SANTA CLARA


753
NÍVEL DE ÁGUA NO EIXO

752
DA BARRAGEM (m)

751
750
749
748
747
746
745
744
743
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000
VAZÃO (m³/s)
FONTE: O autor (2019)

Com base no estudo hidrológico e da curva de descarga no eixo da barragem


foram definidos os níveis máximos de jusante do reservatório antes e depois da
atualização dos estudos hidrológicos.

TABELA 30 – VARIAÇÃO DO NAJ NO EIXO DA BARRAGEM


Vazão NAJ
SÉRIES DISPONÍVEIS ATÉ 1997 6869 m³/s 751,63 m
SÉRIES DISPONÍVEIS ATÉ 2018 7321 m³/s 752,06 m
FONTE: O autor (2019)

Portanto a atualização da cheia de projeto da UHE Santa Clara implicou em


um aumento de 0,43 m no NAJ. Assim como no caso do NAM este aumento também
implica em um incremento nas pressões hidrostáticas, hidrodinâmicas e de
subpressão que serão utilizadas no cálculo de estabilidade da barragem.
110

4.3 PARÂMETROS GEOTÉCNICOS

Como este estudo visa avaliar o impacto na probabilidade de falha por


deslizamento da UHE Santa Clara, seria interessante ter acesso aos dados de campo
para embasar a adoção dos parâmetros. Visto que não foi possível acesso a esses
dados, foram adotados dados que constam na literatura, estando provavelmente
próximos aos dados reais. Os parâmetros geotécnicos adotados estão listados na
TABELA 31.

TABELA 31 – PARÂMETROS GEOTÉCNICOS


Parâmetros
Função de
Variável Unidade Desvio
Probabilidade Média Mínimo Máximo
Padrão
Coesão Interface
kPa Log-Normal 400 225 0 1000
concreto-rocha
Ângulo de atrito Interface kPa Normal tg(45°) 0,20.tg(45°) tg(25°) tg(65°)
FONTE: O autor (2019)

4.3.1 Coesão da interface concreto rocha

Em barragens de CCR com inspeção, tratamento e controle rigoroso durante


a construção é possível contar com uma coesão na ordem de 300kPa, podendo
chegar até 1000kPa, desde que seja justificado por ensaios de laboratório (CFBR,
2012)
Ensaios de aderência concreto-rocha e de cisalhamento direto realizados em
maciços basálticos durante os anos 60 e 70 foram plotados em forma de envoltórias
conforme o ANEXO 2. Dos ensaios realizados pode-se destacar o de análise da
interface: concreto-basalto vesicular são bastante fraturados, realizado em Ilha
Solteira, cuja envoltória é traçada conforme a EQUAÇÃO 52 (NIEBLE; GGUIDICINI,
1971) .

𝜏 = 4,5 + 3,6. 𝜎 0,55 ( 52 )

onde:
σ = tensão normal, em kg/cm²
τ = tensão tangencial, em kg/cm²

De acordo com a EQUAÇÃO 52 tem-se uma coesão de 440kPa.


111

Souza (2017) ao analisar o vertedouro da UHE Baixo Iguaçu, adotou uma


coesão da interface de 320kPa, com desvio padrão de 224kPa e Pires et al. (2019),
ao analisar a barragem da UHE Mauá, adotaram coesão de 700kPa e desvio padrão
de 280kPa. Nos dois estudos foi adotada a distribuição Lognormal.
Neste estudo foi adotada uma coesão média na interface concreto-rocha de
400kPa, com um desvio padrão de 225kPa. Foram adotados parâmetros mais
próximos aos que foram adotados por Souza (2017) visto que estes foram embasados
em informações extraídas de sondagens realizadas, já os dados de Pires et al. (2019)
foram obtidos tomando-se por base uma publicação do China Electricity Council.
No GRÁFICO 16 ilustra-se a distribuição de probabilidade adotada para a
coesão da interface concreto x rocha.

GRÁFICO 16 – COESÃO DA INTERFACE CONCRETO ROCHA

FONTE: O autor (2019)

4.3.2 Ângulo de atrito da interface concreto rocha

Para o nível de carga vertical máxima na barragem da UHE Santa Clara que
é em torno de 20 kgf/cm², a tensão tangencial esperada de acordo com a EQUAÇÃO
52 é de 23,2 kgf/cm², cuja relação arctg(τ/σ) = 49°, que é a tangente secante no ponto
de carga normal de 20 kgf/cm².
A adoção dos parâmetros de ângulo de atrito também foi baseada nos estudos
de Souza (2017), que adotou um ângulo de atrito na interface de 50°, com desvio
padrão de 13,40° e de Pires et al. (2019) que adotaram ângulo de atrito de 41,99° e
desvio padrão de 11,34°.
112

Segundo o NVE tanto para planos de cisalhamento no concreto quando na


interface com rochas duras com alguma rugosidade, caso não se tenha ensaios de
campo, pode ser adotado um ângulo de atrito de 45° (NVE, 2005).
Já na tese desenvolvida por Westberg (2010), foi adotada uma distribuição
normal com média de 53,9º e desvio padrão de 8,53º.
Neste estudo, para o ângulo de atrito médio na interface, foi adotada uma
distribuição normal com média de 45º e desvio padrão de 11,30°, conforme o
GRÁFICO 17.

GRÁFICO 17 – TANGENTE DO ÂNGULO DE ATRITO DA INTERFACE CONCRETO ROCHA

FONTE: O autor (2019)

4.4 PARÂMETROS DA BARRAGEM

Assim como os parâmetros geotécnicos, os parâmetros da barragem também


foram adotados de acordo com a literatura.

TABELA 32 – PARÂMETROS DA BARRAGEM


Parâmetros
Função de
Variável Unidade Desvio
Probabilidade Média Mínimo Máximo
Padrão
Peso Específico CCV kN/m³ Normal 24,00 0,40 21 26
Peso Específico CCR kN/m³ Normal 25,50 0,40 21 26
Eficiência de drenagem - Triangular 0,66 - 0 1,0
Ação Sísmica - Sim-Não 0,0021 - - -
FONTE: O autor (2019)

4.4.1 Peso específico CCV

De acordo com a NBR 6118 pode-se adotar o peso específico de 24,00kN/m³


para o concreto simples (ABNT, 2014). O Joint Committee on Structural Safety
113

considera o mesmo peso específico e recomenta a utilização de um desvio padrão de


0,672kN/m³, por se tratar de uma análise envolvendo o peso de toda uma estrutura
de grande porte (JCSS, 2001).
Desta forma nas simulações foi adotado um peso específico de 24,00kN/m³ e
um desvio padrão igual ao desvio padrão adotado no CCR de 0,40kN/m³.
O GRÁFICO 18 ilustra a distribuição de probabilidade adotada para o peso
específico do CCV.

GRÁFICO 18 – PESO ESPEFÍCIFO CCV

FONTE: O autor (2019)

4.4.2 Peso específico CCR

Conforme a Eletrobrás, o peso específico do Concreto Compactado a Rolo


varia de 21 até 26 kN/m³, dependendo do tipo de agregado utilizado (ELETROBRÁS,
2003).
Em duas obras realizadas no Paraná, Jordão e Salto Caxias, foram obtidos
parâmetros no controle da compactação, baseando-se em ensaios de densidade com
densímetro nuclear, conforme ilustrado na TABELA 33 (OLIVEIRA; MUSSI;
ANDRIOLO, 1998).

TABELA 33 – DENSIDADE DO CCR DA BARRAGEM DE DERIVAÇÃO DO RIO JORDÃO E DA UHE


SALTO CAXIAS
Nº de Coeficiente de
Obra Densidade Desvio Padrão
ensaios variação
kN/m³ % kN/m³
Jordão 24,99 346 2,59 0,65
Caxias 25,50 1882 1,68 0,42
FONTE: adaptado de Oliveira, Mussi e Andriolo (1998)
114

Em um outro estudo, realizado na UHE Mauá, baseado na medição de


amostras de testemunhos extraídos do concreto da barragem chegou-se a um peso
específico de 26,00kN/m³ e um desvio padrão de 0,94kN/m³ (PIRES et al., 2019).
Um estudo realizado pelo Comitê Francês de Barragens e Reservatórios
(CFBR) aferiu a densidade de 100 amostras de CCR chegou à conclusão de que a
distribuição de pesos específicos segue uma distribuição normal (CFBR, 2012).
No presente trabalho foi adotado para o CCR uma densidade de 25,50kN/m³
e um desvio padrão de 0,40kN/m³, próximo aos dados encontrados na UHE Salto
Caxias.
O GRÁFICO 19 ilustra a distribuição de probabilidade adotada para o peso
específico do CCR.

GRÁFICO 19 – PESO ESPECÍFICO CCR

FONTE: O autor (2019)

Foi estabelecido um corte da distribuição, eliminando valor acima de 26kN/m³,


mas preservando o braço inferior, pois existe uma compactação ótima do material,
que não pode ser ultrapassada, porém, erros durante a produção e compactação do
CCR podem levar a valores aquém dos especificados.

4.4.3 Eficiência de drenagem

A eficiência de drenagem usualmente é considerada como tendo uma


eficiência de 66,7% (ELETROBRÁS, 2003). Porém, a eficiência de drenagem possui
muita variabilidade, visto que podem ser obstruídos por fragmentos de rocha, madeira,
ferro ou ainda crostas de carbonato. Desta forma é fundamental que seja realizada
uma limpeza dos drenos logo após o término da construção da barragem e, no caso
115

de fundações de basalto, uma limpeza a cada 10 anos (SILVEIRA; MANTESE;


MELEGARI, 2017).
O GRÁFICO 20 ilustra a distribuição de probabilidade adotada para a
eficiência de drenagem.

GRÁFICO 20 – EFICIÊNCIA DE DRENAGEM

FONTE: O autor (2019)

De acordo com Christian e Baecher (2002), nas distribuições não bem


conhecidas encontradas na engenharia civil é prática comum usar distribuições
uniformes, triangulares ou beta. Desta forma, adotou-se a distribuição triangular para
esta variável por ter sido a mesma utilizada por Souza e Marques Filho (2020) e García
et al. (2012).

4.4.4 Ação Sísmica

Abalos sísmicos devem ser considerados no cálculo de barragens. A


Eletrobrás recomenda considerar na avaliação os esforços inerciais mínimos de 0,05g
na direção horizontal e de 0,03g na direção vertical (ELETROBRÁS, 2003). Porém,
não estipula qual o tempo de retorno deste sismo.
Visto que para a Simulação de Monte-Carlo é necessário definir uma
frequência para o sismo foi consultada a NBR 15421:2006 – Projeto de estruturas
resistentes a sismos – Procedimentos. Em conformidade com a FIGURA 21, na região
em que está implantada a UHE Santa Clara, deve-se considerar uma aceleração
sísmica horizontal de 0,025g, que é metade da intensidade indicada pela Eletrobrás
Desta forma adotou-se uma aceleração sísmica vertical de 0,015g.
116

FIGURA 21 – MAPEAMENTO DA ACELERAÇÃO SÍSMICA HORIZONTAL CARACTERÍSTICA

FONTE: ABNT, (2006)

As acelerações sísmicas indicadas na NBR 15421:2006 têm 10% de


probabilidade de serem ultrapassados no sentido desfavorável, durante um período
de 50 anos, o que corresponde a um período de retorno de 475 anos (ABNT, 2006),
ou uma probabilidade de 0,210%.
O GRÁFICO 21 ilustra a distribuição de probabilidade adotada para a
aceleração sísmica. O valor zero (0), no eixo das abcissas, corresponde à não atuação
de sismos, considerado em 99,79% das simulações, já o valor um (1) corresponde a
ocorrência de sismos, considerado em 0,21% das simulações.

GRÁFICO 21 – AÇÃO SÍSMICA

FONTE: O autor (2019)


117

4.5 ESTABILIDADE

O cálculo da estabilidade foi realizado de acordo com os critérios


estabelecidos pela Eletrobrás, por meio da EQUAÇÃO 11. A única mudança realizada
foi a remoção dos fatores de redução da resistência do atrito e coesão, conforme a
EQUAÇÃO 53. Desta forma, sempre que o FSD for inferior a 1 a estabilidade da
barragem não é atendida para a combinação de variáveis geradas.

∑ N × tan φ + c × A
FSD = ≥1 ( 53 )
∑T
onde:
FSD = fator de segurança ao deslizamento;
c = parâmetros de coesão, em kPa;
φ = parâmetros de ângulo de atrito, em graus;
A = área da superfície de contato, em m²;
ΣN = somatório de forças normais à superfície de deslizamento, em kN;
ΣT = somatório das forças paralelas à superfície de deslizamento, em kN.

Foi avaliada a probabilidade de falha de cada um dos tempos de retorno, da


série até 1997 e da séria atualizada até 2018, através de simulações utilizando o
método do Monte Carlo e as curvas de distribuição de probabilidade para cada
parâmetro.
Os dados obtidos nas simulações de probabilidade de falha foram
confrontados verificando-se os impactos que a atualização da série hidrológica teve
na probabilidade de falha por deslizamento da barragem.

4.6 SIMULAÇÃO DE MONTE CARLO

Para aplicação do método, o software Crystal Ball em conjunto com o software


Excel foram utilizados para realizar as simulações.
Na FIGURA 22 é ilustrada a planilha utilizada nas simulações. As células
preenchidas com a cor verde limão tiveram os seus valores gerados, ao longo da
simulação, de acordo com as distribuições de probabilidade definidas para os
parâmetros. Já na célula preenchidas com a cor cian é apresentado o resultado do
cálculo do Fator de Segurança ao Deslizamento (FDS).
118

FIGURA 22 – PLANILHA UTILIZADA NAS SIMULAÇÕES


Função Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
FSD 2,81
ΣNi 34916
Øi 45 tg(45°) 0,20 tg(45°) tg(25°) tg(65°)
tg(Øi) 1,00 NORMAL 1,00 0,20 0,47 2,14
Ci 400 LOG-NORMAL 400 225 0,00 1000
Ai 49,77
ΣTi 19489
γ CCV 24,00 NORMAL 24,00 0,40 21,00 26,00
γ CCR 25,50 NORMAL 25,50 0,40 21,00 26,00
γ H2O 10 - - - -
kv 0,000 0,00 SIM-NÃO 0,015 0,0021
kh 0,000 0,025 0,0021
NAM 806,26
NAJ 745,19
CRISTA 805,00
BASE 743,80
Edren. 0,667 Triangular 0,667 - 0 1
FONTE: O autor (2019).

Ao fim da simulação é gerada uma planilha conforme a FIGURA 23. A primeira


coluna identifica o número da simulação realizada, na segunda consta o resultado do
FDS para cada uma das simulações e as 6 colunas da direita contém os valores
gerados para as variáveis em cada uma das simulações.

FIGURA 23 – EXEMPLO DE PLANILHA DE RESULTADOS OBTIDOS

FONTE: O autor (2019).


119

Ordenando as simulações em ordem crescente de FDS é possível contar o


número de simulações em que o FSD foi inferior a 1, ou seja, as simulações em que
a estabilidade não foi atendida.
A estimativa da probabilidade de falha para a condição que está sendo
simulada é dada pela EQUAÇÃO 54;

𝑛𝑓
Pf = ( 54 )
𝑁
onde:
Pf = Probabilidade de falha;
nf = número de falhas;
N= número de simulações;

Desta forma foi calculada a probabilidade de falha da série do projeto básico


e da atualizada até o ano de 2018.
120

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Os resultados de todas as simulações realizadas são apresentados sob forma


de dois quadros e um gráfico. No QUADRO 11 estão elencados os resultados obtidos
com base na série de vazões disponível até o ano de 1997.

QUADRO 11 – RESULTADOS PARA A SÉRIE ATÉ 1997


Nº de Vazão NA NA Nº de
TR (vazão) Pf TR (falha)
Simulações afluente Montante Jusante Falhas
(anos) (m³/s) (msnm) (msnm) (anos)
1.000.000 2 675 806,26 745,19 13 1,3E-05 76923
1.000.000 5 1239 806,85 746,00 23 2,3E-05 43478
1.000.000 10 1663 807,22 746,58 33 3,3E-05 30303
1.000.000 20 2088 807,56 747,12 41 4,1E-05 24390
1.000.000 25 2225 807,66 747,29 50 5,0E-05 20000
1.000.000 50 2649 807,97 747,79 60 6,0E-05 16667
1.000.000 100 3076 808,26 748,25 79 7,9E-05 12658
1.000.000 500 4062 808,87 749,23 121 1,2E-04 8264
1.000.000 1.000 4486 809,11 749,61 142 1,4E-04 7042
1.000.000 10.000 6869 810,34 751,63 289 2,9E-04 3460
FONTE: O autor (2019).

Observa-se que com o aumento da vazão afluente ocorre uma elevação dos
níveis de água, e, consequentemente, um aumento na probabilidade de falha da
barragem. Os resultados da série de vazões atualizadas estão listados no QUADRO
12.

QUADRO 12 – RESULTADO DA SÉRIE ATUALIZADA ATÉ 2018


Nº de Vazão NA NA Nº de
TR (vazão) Pf TR (falha)
Simulações afluente Montante Jusante Falhas
(anos) (m³/s) (msnm) (msnm) (anos)
1.000.000 2 701 806,29 745,23 15 1,5E-05 66667
1.000.000 5 1335 806,94 746,14 24 2,4E-05 41667
1.000.000 10 1815 807,35 746,78 35 3,5E-05 28571
1.000.000 20 2296 807,72 747,37 51 5,1E-05 19608
1.000.000 25 2451 807,83 747,56 54 5,4E-05 18519
1.000.000 50 2930 808,16 748,10 74 7,4E-05 13514
1.000.000 100 3409 808,47 748,60 86 8,6E-05 11628
1.000.000 500 4524 809,13 749,64 145 1,5E-04 6873
1.000.000 1.000 5006 809,40 750,05 174 1,7E-04 5747
1.000.000 10.000 7321 810,55 752,06 342 3,4E-04 2924
FONTE: O autor (2019).
121

Comparando-se a probabilidade de falha para os mesmos tempos das duas


séries hidrológicas é possível observar que houve um aumento na probabilidade de
falha, para um mesmo tempo de retorno, com a atualização da série hidrológica.

5.1 VAZÃO X PROBABILIDADE DE FALHA

Os resultados do QUADRO 11 e QUADRO 12 foram plotados no GRÁFICO


22 correlacionando os dados de vazão com a probabilidade de falha.

GRÁFICO 22 – VAZÃO X PROBABILIDADE DE FALHA


4.1E-04

3.6E-04

3.1E-04
Probabilidade de Falha

2.6E-04

2.1E-04

1.6E-04

1.1E-04

5.5E-05

5.0E-06
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000
Vazão (m³/s)

até 1997 até 2018 Todas as simulações Polinomial (Todas as simulações)

FONTE: O autor (2019).

Analisando o GRÁFICO 22, nota-se o impacto que o aumento na vazão


afluente tem na probabilidade de falha por deslizamento da barragem analisada.
Também é possível, por meio do GRÁFICO 22, validar as simulações realizadas, visto
que nenhuma apresentou valores discrepantes e que todos seguiram uma mesma
tendência. Em vermelho estão plotados os pontos das TR da série atualizada até 2018
e em azul os pontos das vazões da série com os dados até 1997.
Por mais que os tempos de retorno tenham vazões distintas, ao analisar as
vazões em relação à sua probabilidade de falha foi possível constatar que
apresentaram uma clara tendência de aumento da probabilidade de falha com o
122

aumento das vazões. Além disso, quanto maior a vazão, maior foi o incremento na
probabilidade de falha.
A partir dos resultados obtidos e plotados no GRÁFICO 22, foi estabelecido
um polinômio do quarto grau, conforme a EQUAÇÃO 55.

Pf = A4 . 𝑄𝑎𝑓𝑙 4 + A3. 𝑄𝑎𝑓𝑙 3 + A2. 𝑄𝑎𝑓𝑙 2 + A1. 𝑄𝑎𝑓𝑙 1 + A0 ( 55 )

onde:
Pf = Probabilidade de falha;
𝑄𝑎𝑓𝑙 = Vazão afluente;
A4, A3, A2, A1, A0 = Coeficientes;

Os coeficientes da EQUAÇÃO 55 estão listados no QUADRO 13.

QUADRO 13 – COEFICIENTES DO POLINÔMIO VAZÃO X PROBABILIDADE DE FALHA


R² 0,99931
A0 2,325841787374550E-05
A1 -2,611358784304000E-08
A2 2,410724477000000E-11
A3 -3,981850000000000E-15
A4 2,700000000000000E-19
FONTE: O autor (2019).

Como o polinômio gerado obteve um valor de R-quadrado maior que 0,99 e


teve um bom ajuste, conforme ilustrado no GRÁFICO 22, considera-se que a equação
representa adequadamente a relação entre vazão e probabilidade de falha.
Por meio da equação obtida é possível analisar a probabilidade de falha para
todas as vazões afluentes, desde que estejam dentro do intervalo de vazões mínimas
e máximas simuladas, de 675m³/s até 7321m³/s, respectivamente.
A EQUAÇÃO 55 foi utilizada para calcular as probabilidades de falha das
vazões do Projeto Básico e das vazões atualizada. Tal procedimento foi adotado para
se obter um resultado mais claro e evitar que o resultado de uma simulação que
destoasse muito das demais, afetasse a interpretação dos resultados.
Desta forma a probabilidade de falha para todos os tempos de retorno foi
recalculada com base no polinômio gerado para as duas séries de vazões e em cima
destes resultados foi verificado a variação de probabilidade entre as duas séries.
123

TABELA 34 – PROBABILIDADE DE FALHA DOS TEMPOS DE RETORNO


UHE Santa Clara
3900 km²
PROJETO BÁSICO SÉRIE ATUALIZADA
Variação da
SÉRIE DISPONÍVEIS SÉRIE ATUALIZADAS probabilidade de falha
EM 1997 ATÉ 2018 em relação à série do
TR (anos) Probabilidade de Falha Probabilidade de Falha Projeto Básico
2 1,54E-05 1,55E-05 + 0,3%
5 2,10E-05 2,28E-05 + 8,5%
10 3,03E-05 3,44E-05 + 13,7%
20 4,27E-05 4,97E-05 + 16,4%
25 4,72E-05 5,52E-05 + 16,8%
50 6,25E-05 7,34E-05 + 17,4%
100 7,93E-05 9,31E-05 + 17,4%
500 1,22E-04 1,43E-04 + 17,6%
1000 1,41E-04 1,67E-04 + 18,1%
10000 2,92E-04 3,37E-04 + 15,6%
FONTE: O autor (2019)

É possível concluir que a probabilidade de falha teve um incremento


considerável principalmente para os tempos de retorno mais altos.
Na TABELA 35, foram sumarizadas as variações na vazão de projeto e
comparadas com as variações na probabilidade de falha da barragem. Na coluna
índice foi realizada a divisão do aumento na probabilidade de falha pelo respectivo
aumento na vazão, estabelecendo uma relação entre a variação de vazão e
probabilidade de falha.

TABELA 35 – VARIAÇÃO DA VAZÃO E DA PROBABILIDADE DE FALHA


UHE Santa Clara
3900 km²
Variação da vazão Variação da
de projeto em probabilidade de falha
relação à série do em relação à série do
TR (anos) Projeto Básico Projeto Básico Índice
2 + 3,9% + 0,3% 0,08
5 + 7,8% + 8,5% 1,09
10 + 9,1% + 13,7% 1,50
20 + 10,0% + 16,4% 1,64
25 + 10,1% + 16,8% 1,65
50 + 10,6% + 17,4% 1,65
100 + 10,9% + 17,4% 1,61
500 + 11,4% + 17,6% 1,54
1000 + 11,6% + 18,1% 1,56
10000 + 6,6% + 15,6% 2,37
FONTE: O autor (2019)
124

Nota-se que o aumento nas vazões dos Tempos de Retorno teve um impacto
percentual ainda maior no aumento da probabilidade de falha, como é o caso da vazão
decamilenar em que um aumento de 6,6% na vazão aumentou a probabilidade de
falha em 15,6%.
125

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho fez um estudo puramente acadêmico do vertedouro da UHE


Santa Clara, de modo a verificar a sensibilidade da variação da probabilidade de falha
ao deslizamento quando do aumento das vazões de projeto geradas por sua
atualização. Está claro que as probabilidades obtidas estão na ordem de grandeza
dos valores levantados e recomendados pelo ICOLD, ou seja, inferiores a 1x10-4
(ICOLD, 2014) e que desta forma o risco do empreendimento está de acordo com o
que a literatura recomenda.
A metodologia utilizou dados da literatura, e outras pesquisas devem
considerar as condições locais de cada aproveitamento hidráulico.
O presente trabalho apresentou um estudo de caso e a partir dos resultados
apresentados elenca-se as seguintes conclusões:
a) Ao atualizar os estudos hidrológicos, foi possível notar que a série obtida
por meio da análise local correspondeu a maiores aumentos nas vazões
que a série obtida por meio da análise regional.
b) Os estudos hidrológicos do projeto básico utilizaram os dados coletados
entre os anos de 1960 até 1997, totalizando 37 anos de observações. Ao
acrescentar 21 anos às observações existentes, incluindo os dados
coletados até o ano de 2018, obteve-se um aumento na vazão decamilenar
de 11,9% utilizando a análise local e de 6,6% pela análise regional,
ressaltando a importância da atualização dos estudos hidrológicos.
c) A UHE Santa Clara, inaugurada em 2005, mesmo tendo estudos
hidrológicos mais recentes, teve um aumento considerável na vazão de
projeto com a atualização dos estudos. Isso reforça a necessidade de que
os estudos hidrológicos, sejam atualizados periodicamente.
d) As primeiras réguas linimétricas começaram a ser instaladas no Paraná a
partir de 1930. Já as primeiras UHE’s instaladas na bacia do rio Iguaçu
foram: Salto Osório, Foz do Areia e Salto Santiago, inauguradas em 1975,
1977 e 1980, respectivamente. Consequentemente, os estudos
hidrológicos realizados tinham uma amostra menor para tirar conclusões
sobre o comportamento das vazões máximas, do que a que está disponível
atualmente. Logo, a atualização hidrológica pode trazer benefícios à
análise estatística ao incorporar elementos à amostra analisada.
126

e) A lâmina d’água na ogiva do vertedouro, durante a passagem da cheia


decamilenar, passou de 5,35m para 5,56m. Ou seja, ao atualizar os
estudos hidrológicos, teve-se um aumento de 3,9% na lâmina d’água,
indicando que os impactos no perfil devido ao aumento da carga de projeto
são pequenos e que o vertedouro tem capacidade de descarregar vazões
maiores dos que as que foram previstas no projeto básico.
f) O método probabilístico, aplicado na análise de estabilidade ao
escorregamento da barragem apresentou vantagens em relação ao
método determinístico por considerar o desvio padrão das variáveis,
levando em consideração as incertezas presentes nos parâmetros e por
fornecer a probabilidade de falha.
g) A atualização da cheia de projeto implicou em um aumento da
probabilidade de falha da barragem. Para o tempo de retorno de 1.000
anos o aumento foi de 18,1% e para o de 10.000 anos o aumento foi de
15,6%. Mesmo se tratando de tratando de probabilidades muito pequenas,
a magnitude do aumento foi considerável, visto que ocorreu em um
intervalo de 21 anos, considerando apenas variáveis hidrológicas.
O estudo de caso evidenciou a importância da revisão dos estudos
hidrológicos das usinas existentes. O desenvolvimento de leis e normas para
regulamentar a elaboração de estudos hidrológicos atualizados e avaliar se a
capacidade do vertedouro e estabilidade da barragem das usinas existentes
continuam adequadas trará benefícios para a sociedade e meio técnico, pela
quantificação de um risco que pode estar sendo desconsiderado.

6.1 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

A partir dos resultados obtidos e limitações deste estudo sugere-se como


temas de análises futuras:
a) Verificar o aumento nas vazões de projeto de outros aproveitamentos
hidrelétricos e bacias com a atualização das suas séries de vazões.
b) Avaliar os impactos da atualização da cheia de projeto nos critérios de
estabilidade por tombamento e tensões na fundação.
c) Desenvolver soluções que possam ser implementadas em barragens
existentes para aumentar a sua capacidade de descarga.
127

d) Analisar a influência que a mudança no uso e ocupação do solo de


determinada bacia hidrográfica teve ao longo do tempo na relação entre
precipitação e escoamento superficial.
128

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APÊNDICE 1 – VAZÕES MÁXIMAS ANUAIS DOS POSTOS FLUVIOMÉTRICOS


SELECIONADOS

Posto: SALTO CURUCACA JUSANTE SALTO CURUCACA FAZENDA TAGUÁ SANTA CLARA
Código: 65815050 65815000 65815100 65825000
Rio: RIO JORDÃO RIO JORDÃO RIO JORDÃO RIO JORDÃO
Área: 2220 2220 2190 3930
ANO
1950 504,20
1951 476,90
1952 574,00
1953 508,10
1954 1074,50
1955 1009,00
1956 535,40
1957 1389,00
1958 457,40
1959 437,90
1960 273,6 615,00
1961 200,0 488,60
1962 194,3 473,00
1963 234,5 461,30
1964 252,2 449,60
1965 298,4 782,80
1966 273,6 512,00
1967 143,4 322,60
1968 105,0 163,80
1969 176,2 395,00
1970 309,1 625,80
1971 264,8 711,90
1972 358,4 724,80
1973 345,0 707,80
1974 162,3 476,90
1975 286,7 746,80
1976 225,3 469,10
1977 114,9 251,80
1978 222,3 523,70
1979 345,0 394,3 871,00
1980 283,5 295 649,80
1981 219,4 206,7 418,40
1982 875,0 554,2 1126,50
1983 2113,3 1400*máx régua 3084,60
1984 427,5 782,80
1985 231,8 418,40
1986 217,1 449,60
1987 842,4 1449,00
137

Posto: SALTO CURUCACA JUSANTE SALTO CURUCACA FAZENDA TAGUÁ SANTA CLARA
Código: 65815050 65815000 65815100 65825000
Rio: RIO JORDÃO RIO JORDÃO RIO JORDÃO RIO JORDÃO
Área: 2220 2220 2190 3930
ANO
1988 478,2 666,60
1989 464,4 427,5 860,20
1990 336 299,5 662,40
1991 318,4 298 607,80
1992 1446,8 1280 2547,00
1993 647,5 583,45 941,20
1994 232,6 231,8 625,80
1995 737,5 703,8 1184,20
1996 360,8 337 645,60
1997 524,4 491,8 871,00
1998 1086,4 924,8 1404,00
1999 356,2 302,5 811,30
2000 589,2 995,80
2001 325 629,40
2002 296,4 607,80
2003 230,4 500,30
2004 294,2 535,40
2005 399,9 675,00
2006 166,4
2007 529,2
2008 404,5
2009 418,3
2010 543,6
2011 785
2012 613,2
2013 925,2
2014 717,5
2015
2016
2017
2018
FONTE: adaptado de ANA (2019).
138

APÊNDICE 2 – VAZÕES OBTIDAS PELA COPEL E POR ESTA DISSERTAÇÃO


PARA DIFERENTES TEMPOS DE RETORNO NO EIXO DA UHE SANTA CLARA
PARA A SÉRIES DE VAZÕES DISPONÍVEIS EM 1997

UHE Santa Clara


3900 km²
COPEL DISSERTAÇÃO Variação percentual
entre os dados obtidos
Máximas instantâneas Máximas instantâneas
pela Copel e por esta
TR (anos) m3/s m3/s dissertação
2 674 675 0,2%
5 1248 1239 -0,8%
10 1684 1663 -1,2%
20 2119 2088 -1,5%
25 2258 2225 -1,5%
50 2695 2649 -1,7%
100 3129 3076 -1,7%
500 4139 4062 -1,9%
1000 4574 4486 -1,9%
10000 6831 6869 +0,6%
FONTE: adaptado de COPEL, INTERTECHNE (2000).

Como a diferença entre os dois estudos foi de menos de 2%, considerou-se


válidos os valores obtidos nesta dissertação. Uma diferença entre os valores obtidos
era esperada, pois na época da realização do projeto básico alguns dos dados
utilizados pela Copel ainda não estavam consistidos.
139

ANEXO 1 – ESTAÇÕES FLUVIOMÉTRICAS UTILIZADAS NA ANÁLISE


REGIONAL DE VAZÕES MÁXIMAS

Área de Período No de anos de Declividade


Código
N Estação Rio drenagem de dados observação média
(ANEEL)
(km2) utilizado utilizado (m/km)
01 64440000 Santa Cruz Tibagi 1340 (1937/1967) 31 3,69

02 64460000 Bom Jardim Capivari 722 (1942/1996) 51 4,58

03 64620000 Rio dos Patos dos Patos 1086 (1931/1997) 67 4,04

04 64625000 Tereza Cristina Ivaí 3572 (1957/1997) 41 2,97

05 64645000 Porto Espanhol Ivaí 8600 (1965/1997) 33 1,30

06 64652000 Porto Monteiro Alonso 2620 (1974/1997) 24 3,01

07 64775000 Balsa do Cantu Cantu 2513 (1967/1997) 31 3,65

08 65365000 Porto Vitória Espingarda 165 (1946/1996) 51 8,94

09 65370000 Jangada Jangada 1055 (1946/1997) 52 4,25


Fazenda
10 65415000 Palmital 323 (1946/1997) 52 7,64
Maracanã
Mad.
11 65764000 Gavazzoni/B. do Areia 1010 (1963/1997) 35 4,04
Pinhalzinho
12 65810000 Guarapuava Jordão 731 (1937/1967) 31 3,53

13 65811000 Ponte do Pinhão Jordão 1040 (1974/1997) 24 3,80


Salto Curucaca /
14 65815000 Jordão 2200 (1960/1997) 37 2,81
Fazenda Taguá
15 65825000 Santa Clara Jordão 3913 (1950/1997) 48 2,60

16 65826800 Foz do Jordão Jordão 4750 (1977/1996) 20 2,98

17 65855000 Usina Cavernoso Cavernoso 1500 (1952/1997) 42 4,77


FONTE: adaptado de COPEL, INTERTECHNE (2000).
140

ANEXO 2 – ENSAIOS DE CISALHAMENTO “IN SITU” EM MATERIAIS


BASÁLTICOS

FONTE: NIEBLE; GGUIDICINI, (1971)

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