Diversidades Sexuais e Expressões de Gêneros Os Direitos À Cidadania

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Revista Brasileira de Sexualidade Humana

DOI: https://doi.org/10.35919/rbsh.v24i1.188

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ARTIGOS OPINATIVOS E DE ATUALIZAÇÃO

DIVERSIDADES SEXUAIS E EXPRESSÕES DE GÊNEROS: OS DIREITOS À CIDADANIA


Wiliam Siqueira Peres1; Rogério Amador de Melo2
SEXUAL DIVERSITY AND GENDER OF EXPRESSIONS: THE RIGHT TO CITIZENSHIP

Resumo: Este artigo se divide em três momentos: um panorama histórico-conceitual que dialoga com
o ativismo político e emancipatório das lutas empreendidas pelo movimento LGBTTTI – Lésbicas, gays,
bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e intersexos; um compilado teórico conceitual advindo de
pesquisas e estudos acadêmicos; problematizações a respeito da emergência das homofobias, lesbofo-
bias e transfobias.
Palavras-chaves: diversidades sexuais; gêneros; direitos humanos; cidadania

Abstract: This paper is divided into three stages: a historical and conceptual overview that dialogues with political and eman-
cipatory activism of the struggles undertaken by LGBTTTI movement – Lesbian, gay, bisexual, transsexual, transgender and
intersex; a conceptual theoretical compiled arising from academic research and studies; problematizations about the emergence
of homophobia, lesbofobias and transfobias.
Keywords: sexual diversity; genders; human rights; citizenship

1. Professor do Departamento de Psicologia Clínica e Programa de Pós-graduação em Psicologia da UNESP/Assis; Doutor


em Saúde Pública pelo IMS-UERJ e Pós-doutor em Psicologia e Estudos de Gênero pela Universidad de Buenos Aires.
2. Mestrando em Psicologia e Sociedade pela UNESP/Assis-SP. Psicólogo pela Universidade Paranaense – UNIPAR (2012) –
Campus Sede Umuarama/PR.

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História social, política e cultural de dissidências: Friedman em 1963, e na Inglaterra por “Políticas
do ativismo político à produção acadêmica. sexuais” de Kate Millett, em 1969.
As décadas de 1960 e 1970 podem ser Em consonância com os estudos
consideradas como os mais importantes anos feministas, questões relacionadas aos estudos
disparadores de acontecimentos sociais, políticos, sobre as homossexualidades, avançarão em suas
intelectuais e culturais em diversas partes do reflexões através do ensaio a respeito do papel
mundo. O final da década de 1960 foi marcado como do homossexual na Inglaterra, de Mary McIntosh
um período de muita contestação e rebeldia, sendo (1968), promovendo o primeiro enfrentamento sobre
muito conhecida a referência ao maio de 1968 na as questões da identidade sexual. Este trabalho
França, mas também por diversas manifestações apenas obteve reconhecimento a partir da metade
coletivas que eclodiam em outros países, tais como dos anos 1970, quando foi retomado por escritores
Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, quando que relacionavam questões do feminismo e da
intelectuais, jovens estudantes, trabalhadores e liberação gay. Esses estudiosos da história gay e
trabalhadoras, negros e mulheres expressaram suas lésbica deram início ao resgate de documentos e
insatisfações diante dos conservadores arranjos biografias invisíveis, negligenciados ou suprimidos
sociais e políticos que se orientavam por teorias por arquivistas e historiadores.
universalistas que, por sua vez, produziam um Jeffrey Weeks (1977) será reconhecido
grande vazio acadêmico, colocando em discussão e considerado o primeiro historiador inglês a se
questões como segregação e discriminação que interessar pelo estudo da sexualidade na Inglaterra.
eram silenciadas pelo aparelho de Estado e seus Recorrendo ao estudo de McIntosh sobre o papel da
seguidores. Surgiram, então, movimentos políticos homossexualidade na Inglaterra, Weeks apresenta
e culturais que se solidarizaram com os grupos que a distinção entre comportamento homossexual
eram colocados à margem ou desvalorizados por – universal – e identidade homossexual –
suas origens. desenvolvida histórica e culturalmente – pautado
Em consequência dessas ações, alguns pela relação com a reorganização da família, gênero
desdobramentos se efetivaram em acréscimo às e do lar da Grã-Bretanha do século XIX. Em 1975,
preocupações sociais e políticas do movimento Gayle Rubin publica o celebre ensaio “Tráfico de
feminista que estavam em processo, tais como mulheres”, criticando a visão essencialista de que
as lutas pela emancipação social e política de sexualidade e reprodução estabeleciam os gêneros.
direitos de igualdades entre homens e mulheres, Para ela, existe um aparelho social que toma as
culminando em algumas construções teóricas fêmeas como matérias-primas e molda as mulheres
e reflexivas emergidas pelas próprias mulheres domesticadas como produto de troca. Neste ensaio
que adentraram o universo acadêmico, ficando a autora desenvolve o conceito de sistema sexo/
conhecido como a “segunda onda” do feminismo. gênero criticando o atrelamento desses termos
Foi, portanto, nesse contexto social e entre si, evidenciando que nem sempre existem
político que a emergência de livros, jornais e revistas relações entre eles, muito embora esse sistema
fez surgir uma nova conjuntura discursiva para o funcione como um dispositivo de organização das
universo acadêmico, demarcando o surgimento dos relações sociais e da sociedade como um todo.
estudos sobre a mulher. Entre as mais evidentes Em 1984, Gayle Rubin apresenta o texto
publicações houve maior visibilidade para o célebre “Thinking sex” e sugere nova desconstrução do
livro publicado na França por Simone de Beauvoir sistema sexo/gênero, dividindo-o em dois domínios,
“O segundo sexo”, de 1949, sendo seguido nos diferenciando sexualidade e gênero como sistemas
Estados Unidos por “O feminino místico” de Betty distintos por requererem estruturas explicativas

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próprias, mesmo que inter-relacionadas em de ordem, respeito e submissão às ordens
circunstâncias históricas específicas. Em paralelo nacionalistas expedidas.
à vida acadêmica dessa época, os movimentos No ano de 1969, com o domínio da ditadura
sociais caminhavam nas ruas e produziam o que militar no Brasil, foi decretado o Ato Institucional n. 5,
irei denominar aqui de: conhecido como AI-5, que estabelecia o fechamento
do congresso, suspendia os direitos constitucionais,
História dos enfrentamentos aos hetero- nomeando o general Emilio Garrastazu Médici como
fascismos sexuais e de gêneros. novo presidente do Brasil. Já nos anos 1980, com
Em 28 de junho de 1969 ocorreu a a eclosão da epidemia da AIDS, além dos estigmas
revolta do Bar Stonewall, em Nova York – EUA, e discriminações, novas formas de estigmatização
quando gays, lésbicas e travestis se aglutinaram e recaíram sobre a comunidade homossexual
montaram barricadas na rua, enfrentando policiais brasileira, tendo os grupos LGBTTTI que ampliar
que os perseguiam, espancavam e prendiam em suas estratégias de lutas e acrescentar em suas
nome da moral e dos bons costumes. Surgiu o agendas novas campanhas de conscientização
movimento de contestação homossexual e três na busca do enfrentamento da epidemia, que se
revistas foram criadas na ocasião: Gay power, Come processa por três vertentes: de esclarecimento
out e Gay. Esse momento também é reconhecido sobre as formas de prevenção diante da infecção
como a data de origem das comemorações do pelo HIV, do direito de acesso aos medicamentos
“Dia Internacional do Orgulho LGBTTTI (lésbicas, e tratamentos da AIDS, e do enfrentamento dos
gays, travestis, transexuais, transgêneros e estigmas vividos pelos portadores do vírus e
intersexuais)”, comemorado com marchas, paradas doentes da AIDS, que na comunidade LGBTTTI se
e outros eventos sociais, políticos e culturais que somou aos já existentes em decorrência de suas
enobrecem as pessoas com orientação sexual e de orientações sexuais e expressões de gêneros não
gêneros não heterossexuais, quando na verdade o heterossexuais.
dia LGBTTTI deve ser considerado todo dia, e não Paralelamente, os grupos específicos
apenas somente um dia do ano. LGBTTTI vêm privilegiando ações denominadas
Apesar da existência de iniciativas políticas “políticas de visibilidades”, como modos
de algumas organizações homossexuais antes da estratégicos e críticos que permitam as pessoas
experiência do Bar de Nova York, tais como Comité de orientação não heterossexual a exercitar seus
Científico Humanitario – fundado pelo alemão direitos de cidadania, tendo entre essas estratégias
germano Magnus Hirschfeld em 1897 e fechado as chamadas “paradas” ou “marchas” que tornam
pelo nazismo –; e alguns grupos homossexuais públicas a existência dessas pessoas, através de
americanos nos anos 1950 como Mattachine reivindicações legítimas de direitos a ter direitos,
Society e Daugthers of Bilitis, foi no final dos anos ampliando a chamada inicial da insígnia Gay, para
1960 que se intensificou a politização e ocorreu “Marcha do orgulho lésbico-gay-travesti-transexual
uma transformação nos grupos homossexuais e bisexual”.
(quando diversos novos grupos começarão a surgir Após as vivências dos anos de repressão
em diversas partes do mundo). Enquanto ocorria dos tempos da ditadura no Brasil, os grupos
o enfrentamento do estigma e da discriminação LGBTTTI se esforçam atualmente para realizar
no Bar Stonewall, em Nova York, no Brasil era acordos e projetos políticos emancipatórios com
experimentada a opressão da ditadura militar, seus governantes, tendo organizado confederações
que não só reprimia como prendia e matava as amplas como ABGLT – Associação Brasileira de
dissidências que não acatavam suas determinações Gays, Lésbicas e Transexuais, fundada em 1995

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no Brasil e que congrega atualmente mais de as colaboradoras de nossa pesquisa de doutorado
200 grupos homossexuais espalhados por todo (PERES, 2015).
o país, porém, ainda encontrando resistências Essa dimensão social e histórica,
conservadoras por parte de grupos políticos e constitutiva das cartografias existenciais das
outros setores da sociedade, marcadamente travestis brasileiras, produtoras de pontos de
influenciados pela igreja católica e evangélica e resistências frente aos processos de estigmatização,
outras agremiações elitistas. Como consequência se coaduna com apontamentos de Parker (2002) de
da ação política emancipatória, hoje esse grupo que
pode contar com a legalidade da união civil estável
Ao focalizarem as questões internas, do poder do
e o reconhecimento oficial dessas uniões como
gênero sexual, de raça e de etnia, classe social e
casamento.
assim por diante, essas abordagens estimularam
Em 1993 aconteceu o I ENTLAIDS –
assim compreensões mais dialéticas da relação
Encontro Nacional de Travestis e Liberados que
entre contextos e culturas locais, por um lado, e
trabalham com AIDS, ocorrido na cidade do Rio
dos processos sociais e históricos mais amplos,
de Janeiro-RJ, contando com a presença de 65
por outro. (PARKER, 2002, p. 27.)
participantes. Em 1994 aconteceu o II ENTLAIDS na
cidade de Vitória-ES, contabilizando a participação
A partir dessas novas considerações,
de 40 travestis. Desde então os encontros foram
passamos a encontrar análises que contemplam
acontecendo anualmente e persistem até os dias
aspectos sociais, econômicos e culturais que até
atuais, com uma media de 150 a 200 travestis e
então não eram considerados nos estudos sobre as
transexuais advindos das mais diversas localidades
travestis, passando a priorizar com mais ênfase o
brasileiras.
coletivo em detrimento do individual. Os ENTRAIDS
No ano de 2000, o VIII ENTLAIDS foi
são realizados anualmente e seguem com suas
organizado em Cabo Frio-RJ, com 200 participantes.
lutas emancipatórias e de reivindicação de direitos
Neste encontro foi criada a Rede Nacional das
e respeito às identidades de gêneros nos diversos
Travestis (RENATA), até então, reunião fechada
setores públicos e privados da sociedade.
para pessoas que não fossem travestis, que viria
dois anos depois a ser transformada na Articulação
Dos Estudos de Gays e Lésbicos aos Estudos
Nacional das Travestis, Transexuais e Transgêneros
Queer: processos de subjetivação em ação
(ANTRA). Em 2004, foi realizado o XI ENTRAIDS (no
Demarcado pela multiplicidade
encontro anterior ficou decidido que seria retirado
contemporânea de expressões sexuais e de
a letra “l” de liberados, passando a ser identificado
gêneros, os Estudos Gays e Lésbicos tradicionais
como Encontro Nacional das Travestis, Transexuais
que concentravam estudos identitários sobre
e Transgêneros (ENTRAIDS). O evento aconteceu
a comunidade homossexual em geral, são
na cidade de Campo Grande-MS, contando com
problematizados e dão lugar a um novo paradigma
a presença de 200 travestis. Foram com esses
teórico e metodológico, os chamados Estudos
encontros que tornou-se possível conhecer as
Queer. As teóricas e teóricos desta perspectiva
grandes lideranças nacionais do movimento
partem do pressuposto que as identidades são
brasileiro de TTT, e que de certa forma permitiu
sempre múltiplas e descontínuas, constituídas
aproximações de amizade, respeito e admiração
por variações infinitas de possibilidades, pois sua
entre os diversos grupos, por uma comunidade
configuração trás elementos relacionados com
singular que luta por seus direitos e constrói sua
sexualidades, orientação sexual, raças e etnias,
cidadania, permitindo uma maior aproximação com

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classes sociais, expressões de gêneros, posições valores e normas, dando passagem para que a
geracionais, nacionalidades etc. diferença e a singularidade tenham espaço de
Neste sentido, todas as identidades são expressão. Uma das críticas mais contundentes da
entendidas como construções instáveis, transitórias, queer theory, ao repensar as referências teóricas
arbitrárias e excludentes. Suas configurações que colocam em análise, diz respeito à perspectiva
dependem de um exterior constitutivo que se dos binarismos, buscando reverter valores e
processam através de relações de saberes e sentidos que são atribuídos às expressões sexuais
poderes. Seguindo essa vertente, os estudos e de gêneros de que uma pessoa deva se fixar a um
voltados para as identidades de gays e lésbicas modo identitário único e absoluto, propondo que ao
tiveram inicialmente uma influência grande da invés da proposição “isso” OU “aquilo”, mudemos
crítica literária, assim como dos estudos culturais para “isso” E “aquilo”.
feministas, compondo o que viria a ser chamado Judith Butler, em seu livro “Problemas
de “queer theory”, possibilitando interfaces entre de gênero” (2003), desenvolve problematizações
a produção das identidades, os processos de críticas sobre o sistema sexo/gênero iniciado
subjetivação, a comunidade e a ordem dos por Gayle Rubin, acrescentando a dimensão do
discursos. desejo e as práticas sexuais, que se apresenta
Esses estudos se tornaram importantes como ferramenta da heteronormatividade, que
a partir do momento que fomentaram novos determina que uma pessoa, ao nascer com sexo
insights, novas questões a respeito dos modos macho, terá um gênero masculino, seu desejo
de vida gays e lésbicos, expressões de travestis e seja heterossexual e sua prática sexual será ativa,
transexuais, intersexualidades e bissexualidades, enquanto que se nascer com sexo fêmea, seu
considerando que as formas de abordagens gênero será feminino, seu desejo heterossexual e
teóricas e metodológicas existentes até então já sua prática sexual passiva. Dentro dessa lógica não
não se mostravam satisfatórias. existe possibilidade de qualquer variação a essas
O surgimento da “queer theory”, ou formatações identitárias, e, se acaso a pessoa
ainda de uma política queer, surge nos anos expressar alguma alteração dessas premissas, seu
1990, articulada pela produção de um grupo de reconhecimento perde inteligibilidade e torna-se
intelectuais que, embora tivessem discordâncias impossível a compreensão, aceitação e a valoração
em suas análises internas, apresentavam algumas positiva. Tratam-se de lógicas normativas que não
aproximações significativas. Uma das contribuições reconhecem o ser humano como múltiplo e diverso
mais importantes para a formulação de uma para centralizá-lo no formato do uno, absoluto e
“queer theory” tem sido marcada pelo pensamento totalizado.
de Michel Foucault, mais precisamente pelos De modo crítico a essa determinação
estudos sobre as sexualidades e suas implicações Michel Foucault (1988) nos adverte que
discursivas, as conexões possíveis entre saber e
Não se deve fazer divisão binária entre o que se
poder, no tocante às problematizações a respeito
diz e o que não se diz; é preciso tentar determinar
dos engendramentos pelos quais as práticas sexuais
as diferentes maneiras de não dizer, como são
são autorizadas para o exercício dos prazeres,
distribuídos os que podem e não podem falar,
como as pessoas lidam com seus próprios corpos e
que tipo de discurso é autorizado ou que forma
expressões, forjando classificações das espécies e
de discrição é exigida a uns e outros. Não existe
montando uma tipologia sexual.
um só, mas muitos silêncios e são parte integrante
Trata-se da metodologia de desconstrução
das estratégias que apoiam e atravessam os
dos mitos e dos preconceitos, de subversão dos

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discursos. (FOUCAULT, 2005, p. 30.) como padrão.
Seguindo essas determinações, as
Tomada por essa advertência, Eve pessoas gays e lésbicas que frequentam boates,
Kosofsky Sedgwick em seu livro “A epistemologia bares temáticos voltados para o público GLS,
do armário” (1998), dialoga com Foucault e coloca saunas e/ou parques para encontros sexuais
as sexualidades e os gêneros em análises, a partir são mal vistos não só pelos heterossexuais mais
da ideia de um dispositivo social e histórico de moralistas como por outros gays e lésbicas que
saber-poder em que os corpos são disciplinados ocupam lugares normativos e assépticos da moral
e regulados nas relações que estabelecem com vigente e que acreditam ser pessoas dotadas de
o mundo, com os outros e consigo mesmos. A regimes de verdades que os qualificam como certos
perspectiva de Sedgwick será reconhecida por e melhores do que os demais. Posto dessa forma,
diversos autores como o ponto inicial da queer podemos demarcar diferenças de classes sociais,
theory. Em suas críticas aos regimes binários de raças/cor, de estéticas corporais, presentes
de análises sobre as identidades, Eve Kosofsky nas relações entre pessoas LGBTTTI, e, que,
Sedgwick pergunta se haveria sentido discutir se diante desses marcadores sociais e sexuais de
a identidade é uma essência ou uma construção estigmas, se sentem autorizadas para estigmatizar,
social. discriminar, violentar e excluir, amparadas pela
Para ela, este debate não seria mais do que lógica narcisista que delega poder para o exercido
uma nova armadilha do poder, pois, se tomamos de arbitrariedades.
a homossexualidade como essência, abrirá a Mesmo nas análises iniciais realizadas
possibilidade de uma política de extermínio sobre a por Eve Sedgwick na “Epistemologia do armário”
qual até os sócios biólogos já alertaram a respeito, as desigualdades sociais já se faziam presentes.
e se é uma construção a homossexualidade poderá As relações sociais, afetivas, sexuais e amorosas
ser considerada como uma escolha, por tanto, vividas pelas mulheres são construídas através
será criminalizada. Como alternativa Sedgwick faz da experiência da subordinação na relação
a proposta de deslocar o plano de imanência da com os homens, impossibilitadas de expressar
oposição, sem optar por uma ou outra e mudar o desejos próprios e de serem reconhecidas em
regime mesmo da sexualidade. suas singularidades. Em suas análises defende
Nesta configuração, Gayle Rubin, em seu que a homofobia, neste sentido, se associa à
texto “Pensando o sexo” (1984), problematiza a misoginia, exacerbando o machismo e que não se
respeito da existência de uma pirâmide erótica efetiva apenas nas relações de intimidade, mas se
que determina normatizações e privilégios diante apresenta como elemento fundante das relações
de posições padronizadas de sexo higienista, no sociais e de poder.
qual o seu topo seria primeiro habitado por casais Nesse panorama, conforme aponta
heterossexuais casados, monogâmicos e com Richard Miskolci (2009), esse primeiro estudo
filhos, decrescendo por casais heterossexuais não queer estremeceu as crenças conceituais a respeito
casados, e logo abaixo, se situariam os casais de da concepção usual da heterossexualidade ao
gays e de lésbicas que convivem em matrimônio mostrar a história de sua construção e demonstrar
monogâmico. Conforme as pessoas vão se que não há nada de natural e/ou de essencial em
distanciando dessas demarcações apontadas sua formatação, mas que traz em si mesma uma
elas passam a perder privilégios e respeitabilidade determinação, logo, ninguém nasce heterossexual,
por praticarem atos e prazeres que escapam dos mas torna-se assim em decorrência das imposições
modelos reprodutivos e higienistas determinados reguladoras e disciplinares feitas pela sociedade e

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suas instituições de controle e regulação. Assim, em homofóbicas/lésbofóbicas/transfóbicas (expressão
uma heterossexualidade compulsória, as práticas de ódio, nojo ou repulsa) externas aos sujeitos, e
do poder podem ser vistas como modeladoras a efetivação da homofobia/lesbofobia/transfobia
dos processos de socialização de modo a impor internalizada nos mesmos.
regimes de verdades para que as pessoas sejam Para avançarmos em nossas análises
reconhecidas, aceitas, respeitadas e inseridas nas a respeito das expressões das sexualidades e
principais instituições sociais, tais como, família, de gêneros na contemporaneidade, precisamos
escola, igreja etc. problematizar como o dispositivo de sexualidades e
Para problematizar a respeito das de gêneros interfere nos processos de subjetivação
dissidências sexuais e de gêneros que escapam das que compõe as diversidades sexuais e de gêneros.
capturas do sistema heteronormativo Eve Sedgwick Nessa perspectiva, tomando as
coloca em análise as condições de medo, vergonha sexualidades e os gêneros como ponto de partida
e impotência pelas quais muitas pessoas se sentem de problematização sobre a emergência de
tolhidas na expressão de seus desejos sexuais e de novos arranjos-identidades sexuais e de gêneros
gêneros e se mantêm aprisionadas em decorrência na contemporaneidade, podemos perceber o
de um forte dispositivo de regulação da vida social: surgimento de metodologias e de abordagens
o armário. Para ela, o armário funciona como modo teóricas que rompem com as tradicionais
de controle que atua sobre os corpos, os desejos e leituras a respeito desses arranjos-identidades,
as paixões das pessoas que amam e se relacionam antes associados a uma perspectiva binária e
com pessoas do mesmo sexo, e, ao mesmo tempo, essencialista, mais precisamente sob orientação
como modo de dar privilégios às pessoas que amam da biomedicina, para tomar as variadas formas de
e se relacionam com pessoas do sexo oposto, expressão das sexualidades e dos gêneros como
dando manutenção à ordem heteronormativa e às sendo mediadas por determinações psicossociais,
instituições que lhe dão sustentação. Neste sentido, históricas e culturais (PARKER, 1991; 2002; WEEKS,
estar/viver no armário configura tanto os amores e 1999; VANCE, 1995; SCOTT, 1995; LOURO,
práticas sexuais secretas, possíveis apenas de se 1999). Dentre as contribuições para problematizar
expressarem nos espaços privados e intimistas dos as sexualidades, chamamos a atenção para os
guetos, quanto de reificar a crença de que somente estudos realizados por Carole Vance (1995), que
os amores e práticas sexuais heterossexuais são questionam a pesquisa antropológica e a pesquisa
autorizados a se expressarem livremente à luz do das sexualidades, confrontando duas abordagens
dia e em público. principais: o essencialismo e o construcionisno
Como analisa Miskolci (2009), o armário é social.
uma forma de regulação da vida social presente na Carole Vance dialoga com Gayle Rubin e
vida das pessoas que ousam amar os seus iguais, apresenta argumentação contra a visão essencialista,
marcados pelo temor e as consequências advindas fundamentada na ideia de que as sexualidades e a
das esferas familiares, laborais e públicas. Ele se reprodução seriam determinantes na diferenciação
funda no segredo, na mentira, mas também, na dos gêneros. Em contraposição, a autora investiga
farsa e na vida dupla. e denuncia todo um aparato social de domesticação
Essas vivências, por sua vez, contribuem e das mulheres, ao serem transformadas em
incentivam a manutenção do segredo, a excessiva matérias-primas de trocas mercantilistas, forjando
vigilância diante de vulnerabilidades de exposição, um sistema sexo-gênero, entendido como: “[...] o
o fechamento em si mesmo e a condição do conjunto de medidas mediante o qual a sociedade
aprisionamento no armário, reificando as práticas transforma a sexualidade biológica em produto da

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atividade humana e essas necessidades sexuais e seus prazeres, instituindo identidades sexuais
transformadas são satisfeitas” (RUBIN, 1993, p. 2). e de gêneros engessadas pelas imposições da
Este sistema sexo-gênero apresentado por fisiologia e da reprodução. Do lado da regulação
Gayle Rubin denuncia a tendência essencialista das populações, a demografia, atendo-se a
de naturalizar e igualar as relações de gêneros, respeito da relação entre recursos e habitantes, as
assim como a própria sexualidade, como sendo concentrações das riquezas e sua distribuição, a
meramente da ordem reprodutiva e instintiva. duração da vida, produz o dispositivo de segurança,
A autora nos adverte que esse sistema ainda que estará presente em todas as instâncias das
é determinante nos modos de classificações sociedades modernas.
usados sobre as expressões e práticas sexuais Como dimensão política do dispositivo
contemporâneas, propondo rompimento com essas de segurança a ação reguladora se incide sobre
abordagens, de modo a tomar as sexualidades e os a economia (políticas econômicas) e sobre o
gêneros como consequências das transformações desejo (políticas do desejo) produzindo controles
sociais (RUBIN, 1993). Em suas análises, Rubin se e regulação que estabelecem políticas sobre a
apropria do disparador analítico que Foucault (1988) vida. Essas políticas determinam a circulação das
constrói a respeito da ideia de um “dispositivo da pessoas pela cidade, os espaços autorizados para
sexualidade”, o qual associa as práticas sexuais às o comércio, habitação e/ou lazer, mas também, a
práticas de saber poder que, por sua vez, toma o regulação e a permissão sobre o que e como as
sexo como um dispositivo de controle dos corpos e pessoas podem desejar. Tal articulação da cultura
de regulação das populações. Esse dispositivo da econômica e política com os processos desejantes
sexualidade, segundo Foucault (1993), é: comporiam os modos de existência dos sujeitos,
logo, de produção e delimitação de territórios
[...] um conjunto decididamente heterogêneo que
geopolíticos existenciais.
engloba discursos, instituições, organizações
Essas disposições articularão os
arquitetônicas, decisões regulamentares, leis,
agenciamentos concretos que constituirão a grande
medidas administrativas, enunciados científicos,
tecnologia do poder do século XIX e que persistirá
proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em
até os dias atuais: o dispositivo da sexualidade e o
suma, o dito e o não dito são os elementos do
dispositivo de segurança que, aliado ao dispositivo
dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode
dos gêneros, impõe como modelo normativo
manter entre esses elementos. (FOUCAULT,
e serializado o homem branco, classe média,
1993, p. 244.)
heterossexual e produtivo, constituindo sujeitos
restritos às normativas do sistema sexo/gênero/
O dispositivo da sexualidade toma o sexo
desejo/práticas sexuais que funciona dentro de
como seu objeto, de modo que as práticas sexuais
uma perspectiva binária, reducionista e falocêntrica,
são orientadas pelo exercício do poder, que captura
cristalizando e fixando os determinantes de
e disciplina os corpos, regula as populações e
como deve ser e funcionar um homem e uma
domestica o desejo, reificando-se através de sua
mulher através do modelo heteronormativo na
disciplina mais violenta, o biopoder. Do lado das
contemporaneidade.
disciplinas as instituições como o exército e as
As reflexões sobre as tecnologias de poder
escolas, preocupando-se com as questões táticas,
nos permitem transpor essa ideia para tecnologias
da aprendizagem, da educação e a ordem da
de sexo, engrenagens dos corpos que se efetivam
sociedade, produzem discursos, significados e
por técnicas e posições determinantes de uma
sentidos determinantes para o controle dos corpos
higiene asséptica moral que atribui ao sexo uma

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lógica mecânica reprodutiva, aproximando-se de discussões e ações norteadoras dos movimentos
referências binárias que estabelecem uma saúde sociais, entre eles os voltados para a defesa
sexual, efetivada por uma medicina sexual, que tem dos direitos humanos, em interface com as
como maior expoente a Sexologia. organizações não governamentais de orientação
A medicina sexual estabelecerá parceria feminista e emancipatória, assim como com o
com a educação sexual voltada para o adestramento movimento LGBTTTI – que reivindicam a inclusão
dos corpos em função da procriação, todavia, uma dos direitos sexuais como direitos humanos –, além
pedagogia queer defendida por Débora Britzman de emancipação psicossocial, política e cultural
(1999) criticará a ideia de educação sexual que promovam políticas inclusivas e participação
considerando que a educação estaria associada cidadã.
à ideia de disciplina, de regulação e controle das Contudo, tão importante quanto o
sexualidades. dispositivo da sexualidade, um dispositivo de
Jeffrey Weeks (1999) tem problematizado gêneros, centrado na ordem dos discursos
o determinismo biológico, insistindo na visão da masculinizantes-feminilizantes, participa dos
sexualidade como uma construção social e histórica, modos de subjetivação das pessoas, que ao serem
evidenciada por situações concretas. Coloca atravessadas por valores, discursos e significados
sob suspeita a visão essencialista, que reduz as diversos, constituem-se e tornam-se constituintes
sexualidades e os gêneros à uma determinação de determinados modos de relação com o mundo,
biológica, restrita à uma fisiologia reprodutiva e uma com si mesmo e com os outros, variando em
filosofia moral; adverte para o fato dos estudos e intensidades de captura, normatização, cristalização
pesquisas sobre sexualidades sempre terem sido e intensidades de devires outros em ação.
feitos por homens, deixando claro que os discursos Uma possível conceituação sobre gênero é
sobre a sexualidade, especialmente a sexualidade apontada por Louro (1999):
feminina, sempre foram construídos por meio
A inscrição dos gêneros – feminino ou masculino
de uma linguagem masculina, evidenciadas por
– nos corpos é feita, sempre, no contexto de uma
superposições de experiências masculinas, cuja
cultura e, portanto, com as marcas dessa cultura.
metáfora mais comum está associada à ideia de
As possibilidades da sexualidade – das formas de
penetração e de descarga sexual (WEEKS, 1999;
expressar os desejos e prazeres – também são
LAQUEUR, 2001).
sempre socialmente estabelecidas e codificadas.
Neste sentido, problematizar a respeito
As identidades de gênero e sexuais são, portanto,
das sexualidades e dos gêneros solicita diálogos
compostas e definidas por relações sociais, elas
intensos e fecundos com os movimentos sociais
são moldadas pelas redes de poder de uma
emancipatórios, dada a dimensão política em que
sociedade (LOURO, 1999, p. 11).
se inserem tais categorias e as suas dimensões na
produção da subjetividade contemporânea.
Na perspectiva feminista teórica queer,
Apesar de múltiplos devires em ação
encontramos alguns estudos desenvolvidos por
que participam da construção das sexualidades e
Butler (2003) a respeito da construção do sexo,
dos gêneros, ainda há a presença de uma visão
da performatividade de gênero e da abjeção dos
reducionista amparada por uma concepção que
corpos. Orientada por Michael Foucault, resgata
toma o corpo e a sexualidade como expressão de
a metodologia genealógica de base nietzschiana
uma verdade, regulada pela ação do biopoder, que
e problematiza os saberes, de modo a mapear
estabelece o limite do aceitável. No entanto, uma
as dimensões éticas e políticas que engendram
orientação mais política tem estado presente nas

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práticas disciplinares e de controle dos corpos, tecnologias de gênero, em que ela afirma:
das sexualidades e dos gêneros. Essas dimensões
A constelação ou configuração de efeitos de
estão presentes nos processos normatizadores de
significados que denomino experiência se altera
subjetivação e são determinantes nos processos
e é continuamente reformada, para cada sujeito,
de captura dos corpos e cristalização dos desejos.
através de seu contínuo engajamento na realidade
Qualquer expressão sexual ou de gênero que
social, uma realidade que inclui – e, para as
escape das estratificações normativas corre o risco
mulheres, de forma capital – as relações sociais
de experimentar processos de estigmatização,
de gênero. [...] a subjetividade e a experiência
discriminação, violência e exclusão, gerados e
femininas residem necessariamente numa relação
geradores de intensos sofrimentos psicossociais,
específica com a sexualidade. (LAURETIS, 1994,
sendo transformados em abjeções. Essa é a ideia
p. 228.)
de corpo abjeto apresentado por Butler (2003).
Os movimentos sociais voltados para
Se, por um lado, podemos refletir sobre
a comunidade LGBTTTI têm atuado em muitas
as tecnologias de gêneros em seus aspectos
frentes (saúde, educação, trabalho, segurança
significativos de captura e aprisionamento subjetivos,
pública, direitos humanos), reivindicando direitos
por outro, pode-se fazer referência às relações
civis, econômicos, sociais e políticos, na busca
entre gêneros e identidades, porque o gênero é
da emancipação de seus pares e no resgate da
a nossa identidade primeira, é aquilo que atribui
dignidade humana, na busca da promoção de
existência significável para os sujeitos, qualificando-
saúde global em uma perspectiva psicossocial
os para a vida no interior da inteligibilidade cultural
e coletiva. Essas lutas mostram a necessidade
(BUTLER, 2003). Tanto as sexualidades quanto os
urgente da criação de políticas inclusivas e
gêneros são elementos fundantes e constitutivos da
emancipatórias que possam contribuir para a
subjetividade, logo participa da feitura dos sujeitos,
erradicação das violências, em destaque para a
porém, Lauretis (1994) alerta que é preciso separar
doméstica e sexual vivida por mulheres lésbicas
gênero da diferença sexual e passar a conceber o
e não lésbicas, no combate e a erradicação das
gênero como produto de várias tecnologias (efeito
homofobias, lesbofobias e transfobias, assim como
da linguagem, do imaginário, do desenvolvimento
diversas reivindicações de direitos, entre elas a
complexo de várias tecnologias políticas produzidos
legalização do aborto, jurisprudências e facilitação
nos corpos).
para mudança de documentos de travestis e
Para Tereza de Lauretis somos todos
transexuais, legalização da adoção de filhos por
interpelados pelo gênero, lembrando que a
LGBTTTI e do reconhecimento do matrimônio entre
interpelação é “[...] o processo pelo qual uma
pessoas do mesmo sexo por todas as instituições
representação social é aceita e absorvida por uma
sociais.
pessoa como sua própria representação, e assim se
Marcadas pelas crises dos paradigmas
torna real para ela, embora seja de fato imaginária.”
contemporâneos, todas as expressões sobre as
(LAURETIS, 1994, p. 220.)
sexualidades e os gêneros entraram em processos
Complementando e ampliando as
de desterritorialização, desequilibrando as
reflexões de Tereza de Lauretis, Beatriz Preciado
identidades tidas, até então, como fixas e absolutas,
(2008) em seu livro “Testo Yonqui” aponta que o
desestabilizando as referências de gêneros. Assim,
conceito de gênero está relacionado a uma série
avançando em suas análises a partir da referencia
de maquinarias, de técnicas de normatização e
de tecnologias do sexo apresentado por Foucault
de transformação dos seres humanos (fotografias
(1988), Tereza de Lauretis (1994) cria o conceito de

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dos “desviados”, identificação celular, terapias as possibilidades de ampliação e de percepção
hormonais, análises cromossômicas, mudanças das multiplicidades que compõe as diversidades
estéticas, cirurgias transexual e intersexual), sexuais e de gêneros.
que por si mesmas nos levaria a falar de Há uma padronização que define que
“tecnogênero”, dadas as suas relações com as identidades podem ser reconhecidas como boas
técnicas fotográficas, biotecnológicas, cirúrgicas, respeitáveis e aceitáveis e quais seriam catalogadas
farmacológicas, cinematográficas que constituem como más perigosas e desprezíveis. Essas
a materialidade dos sexos. Neste sentido podemos categorias na maioria das vezes vêm carregadas
retornar às discussões feitas por Rubin (1999) ao de preconceitos adquiridas através da ordem de
propor o desmantelamento do sistema sexo-gênero, discursos que Foucault (1999) desenvolveu em sua
considerando as opressões experimentadas aula inaugural no College de France. Os discursos
pelas mulheres e dissidências sexuais, diante das funcionam como dispositivos de regulação e
normatizações estabelecidas pelo patriarcado e controle dos corpos, produzindo regimes de
pelo heterossexismo, e que são denunciados por verdade, ou vontade de verdades, para que nos
diversas pesquisadoras feministas, a partir de aliemos às premissas do poder, para que sejamos
Adrienne Rich (1986), como “heterossexualidade reconhecidos como normais e como superiores às
compulsória”. outras expressões da existência que escapam a
Nessa linha de pensamento, as imagens e essas mesmas regulações.
as práticas sociais, sexuais e de gêneros realizadas Esses sistemas discursivos têm por
pelas travestis e transexuais se confrontam com as finalidade exacerbar os modelos normativos
premissas de sexo e gênero tradicionais, dadas identitários e desprezar e interditar as expressões
as suas categorias desordenadas, que borram identitárias que resistem e enfrentam o poder
os limites imagéticos e inteligíveis que tínhamos, fazendo uso do mecanismo disciplinar como
até então, a respeito do que seria da ordem do estratégia regulatória. De modo complementar,
masculino e do feminino. As travestis e transexuais Foucault (1999) esclarece que:
apresentam, nesse sentido, uma desconstrução
A disciplina é um princípio de controle da
do que seria coerente e suportável, frente aos
produção do discurso. Ela lhe fixa os limites
conceitos de sexo, gênero, sexualidade, prática
para o jogo de uma identidade que tem a forma
sexual e desejo, iluminando definitivamente uma
para a reatualização permanente das regras.
tendência “queer”.
Tem-se o hábito de ver na fecundidade de um
Romper com o binarismo favorece outro
autor, na multiplicidade dos comentários, no
modo de análise, que se orienta por modos de
desenvolvimento de uma disciplina, como que
subjetivação nômades e vibráteis, que efetivam
recursos infinitos para a criação dos discursos.
expressões sexuais e de gêneros como categorias
Pode ser, mas não deixam de ser, princípios de
em construção permanente, dentro de um
coerção, e é provável que não se possa explicar
continuum infinito de arranjos logo, em processos
seu papel positivo e multiplicador, se não se levar
de desterritorialização e reterritorialização
em consideração sua função restritiva e coercitiva.
frequentes, que impedem qualquer ideia de
(FOUCAULT, 1999, p. 10.)
fixidez, universalidade ou de verdade absoluta e
acabada. Romper com os dualismos e os valores
Essas determinações disciplinares
e conceitos universais também implica colocar em
prejudicam as tentativas ampliadas de convívio
tela os efeitos que as identidades tomadas como
com as diferenças, com as expressões humanas
acabadas produzem em todos nós e que limitam

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que destoam das crenças que fomos levados identitária, reificando o sistema sexo/gênero/desejo
a acreditar enquanto modelo único, ascético e e suas determinações binárias e universalizantes.
reducionista de sermos sujeitos; aí fica complicado Demarcando essa dimensão de exclusão que
pensarmos nos modos humanos de viver que se habita a identidade, Córdoba Garcia (2005) parte
ampliam dentro das formatações que podemos da ideia de que o espaço discursivo que emerge
chamar de diversidades sexuais e de gêneros para a identidade não a determina de antemão, logo,
o humano. sua afirmação se constrói diante da possibilidade
Algumas problematizações possíveis de sua ressignificação em espaço aberto e de
a respeito da noção de identidade podem ser sua interação, o que por sua vez denota que suas
encontradas nas publicações advindas dos estudos determinações de significados e de conteúdos por
queer, e neste sentido, seguindo os passos de meio da exclusão e repressão de outras formas
Suzana Lopes Penedo (2008) podemos constatar identitárias possíveis. Para Garcia, há que se ater
que o carro chefe de problematizações feitas aos processos identitários em sua produção, de
pelos teóricos queer dizem respeito aos usos e modo a clarificar que para uma identidade se fixar ela
abusos da categoria identidade, pois entendem a precisa excluir diversas outras formas identitárias,
mesma como excludente ao situar-se como marca porém, ao fazê-lo ela encobre esse processo de
individual em oposição a outros marcadores sociais modo a dar a ideia de que a identidade seria uma
da identidade, tornando-a restrita a um lugar no essência, algo que as pessoas já nasceriam com
mundo que por si mesmo se mostra como opositora ela, e, portanto, não permite sua problematização,
e fascista. pois aquilo que se mostra natural não pode ser
Nesta direção, David Córdoba Garcia transformado ou conectado com outros campos de
(2005) aponta para a urgência de uma critica possíveis.
a noção de identidade, de modo a definir uma Seguindo ainda os passos de Córdoba
posição antiessencialista que nega qualquer Garcia (2005), pensar sobre a identidade somente
tentativa de naturalização, fixidez e totalização. A será possível se considerá-la como espaço político
identidade sexual e de gênero neste sentido não em que se possa intervir (e de fato se intervém)
pode ser tomada como expressão de um interior para modificar seus termos, para redesenhar
natural e/ou essencial, pois a ideia da existência seus limites, para incluir posições antes excluídas,
de uma essência interior nada mais é que o efeito para ressignificar as posições existentes. Esses
regulatório provindo da própria identidade que, determinantes identitários abrem precedentes
por sua vez, é uma manifestação da exterioridade para que se possa problematizar a respeito dos
(PERES, 2013). processos de subjetivação que individualiza
Aqui fica patente que o sujeito é construído e aprisiona o sujeito em uma única dimensão
por processos múltiplos e complexos que não identitária, e, neste sentido, Preciado (2008) propõe
antecedem a ele mesmo, o que por sua vez nos que todo esse engendramento dos discursos
remete ao espaço político em que as negociações normativos determinantes das identidades sexuais
de ocupação de certos lugares no mundo se e de gênero que se materializa nos corpos se daria
fundam, promovendo assim a subversão de valores, através de tecnologias e programações de sexo e
sentidos e discursos normativos que se pretendem de gênero, sendo entendida como:
universais e imutáveis. De acordo com Córdoba
[...] tecnologia psicopolítica de modelização da
Garcia (2005) e Penedo (2008) a identidade
subjetividade que permite produzir sujeitos que
apresenta em seu bojo uma dimensão de exclusão
pensam e atuam como corpos individuais, que se
e de extermínio de toda e qualquer outra marcação

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auto compreendem como espaços e propriedades homossexuais.
privadas, com uma identidade de gênero e uma Para Daniel Borrillo (2001) a homofobia teria
sexualidade fixa. A programação de gênero parte da duas dimensões: uma dimensão afetiva/emocional
seguinte premissa: um indivíduo = um corpo = um que manifesta repulsa aos homossexuais, e uma
sexo = um gênero = uma sexualidade. Desmontar dimensão cultural que rechaça a homossexualidade
essas programações de gênero (...) implica “um como fenômeno psicológico e social. Segundo
conjunto de operações de desnaturalização e Borrillo, essas dimensões (afetiva e cultural)
desidentificação”. (PRECIADO, 2008, p. 90.) clarificariam a respeito de situações bastante
comum, em que algumas pessoas “toleram”
Na transcontemporaneidade podemos conhecidos(as) e amigas(os) LGBTTTI, mas
perceber a existência de diversos modelos de não concordam e/ou defendem políticas de
programação de sexo e de gênero, marcados pelo equivalências de direitos.
momento social e histórico, político e cultural que se De modo concomitante, a homofobia
atualizam de acordo com as negociações de saber também pode acontecer entre os próprios
poder prazer que aproximam e/ou distanciam suas homossexuais, considerando os discursos ouvidos
atrizes e atores envolvidos nos processos sociais durante a infância e a adolescência de que
e políticos de emancipação. Serão por meio de desejar pessoas do mesmo sexo seria pecado,
tecnologias de sexo e de gênero que poderemos doença ou crime, que seriam desviantes se não
problematizar a respeito das configurações que se conformassem com os heterossexismos; mas
comportam a produção das diversidades sexuais e também devido à variação de estéticas e narrativas
de gêneros, partindo então, das dimensões sociais, que compõem as homossexualidades, as diversas
políticas e culturais que as constituem. formas de expressar a homossexualidade, e que,
quando associada a outra marca estigmatizante
Problematizações a respeito da emergência das – classe, raça/cor, gênero, geração, estética,
homofobias, lesbofobias e transfobias. deficiência física e/ou sensorial etc. – intensifica a
Para a efetivação do respeito às expressões experiência da exclusão.
sexuais e de gêneros ainda temos alguns A homofobia quando interiorizada (no
enfrentamentos que demandam ações específicas, armário), se encarrega de produzir baixa auto-
desde direitos de circulação pelo mundo, como estima, sentimentos de insegurança, ansiedades,
de composições afetivas e amorosas que possam inibições intelectuais, afetivas e sexuais,
ser reconhecidas e contempladas por políticas de dificuldades de socialização, fechamento em si
afirmação dos desejos, o que fica claro que, para mesmo, e como última consequência, tentativas e
além de políticas de identidades, são necessárias efetivação de suicídios. A esse respeito nos aponta
políticas de solidariedade. a mexicana Marina Castañeda (1999):
Como modo de problematização aos
A homofobia interiorizada não tem fim: ela
fascismos identitários, a primeira linha de resistência
ressurge, sob diferentes formas, ao longo do ciclo
aos imperativos heteronormativos e falocêntricos
vital. Complica a percepção que o homossexual
nos remete ao enfrentamento das homofobias,
tem de si mesmo e dos outros; colore todas as
das lesbofobias e das transfobias. A homofobia
suas relações interpessoais assim como o seu
vem sendo definida por vários autores, tais como,
projeto de vida e sua visão de mundo. Constitui
Daniel Borrillo (2001), por Didier Eribon (2001),
provavelmente a diferença subjetiva mais
por Olga Viñuales (2002) como manifestação de
importante entre homossexuais e heterossexuais.
repulsa, ódio e nojo de uma pessoa em relação a

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A palavra “homofobia” significa medo ou rejeição LGBTTTI.
da homossexualidade. Esse medo pode parecer Diante dessas demarcações e dos índices de
instintivo, como o medo do fogo, mas não o é. assassinatos e suicídios resultados dos efeitos das
Constitui mais um fenômeno cultural que está homofobias, lesbofobias e transfobias fica evidente
longe de ser universal, e que reveste diferentes o quanto milhares de pessoas tem restringido
formas e significações segundo o contexto. o direito de ser, estar e circular no mundo, o
(CASTAÑEDA, 1999, p. 71.) direito à vida negado. Essas constatações abrem
precedentes para falarmos da necessidade da
Ainda voltado para a terminologia, queremos urgência de políticas públicas viáveis e inclusivas
esclarecer que a ideia de homofobia tem muito mais daquelas e daqueles que ousam se expressarem
proximidade com as pessoas gays, marcadas por como dissidentes sexuais e de gêneros diante do
especificidades que produzem corporalidades, heterossexismo.
figurações e narrativas que dizem respeito a
processos de subjetivação normatizadores que O direito a ter direitos para os LGBTTTI: a
produzem sujeitos homens gays, enquanto no cidadania acessível para todas e todos.
caso de mulheres lésbicas suas especificidades Desde a década de 1990 vem sendo
enquanto corporalidades, figurações, necessidades efetivado pelos movimentos sociais, em particular
e discursos, propõem o uso da palavra lesbofobia, pelo movimento homossexual e das travestis e
definido pelo Diccionario gay-lésbico de Félix transexuais no Brasil, lutas e reivindicações pelo
Rodriguéz (2008, p. 250) como posição que reconhecimento de direitos da população LGBTTTI.
mostra fobia ou aversão às lésbicas por homens Muitas ações foram realizadas entre o movimento
e mulheres heterossexuais; para as travestis e homossexual e de travestis e transexuais brasileiros
transexuais, pelo mesmo modo de especificidades e diversas esferas do poder público e privado, quer
que lhes são próprias, recomenda-se o uso da através de financiamentos de projetos advindos dos
palavra transfobia, problematizada e definida por Ministérios da Saúde, da Educação, da Cultura,
Louis-Georges Tin (2003), considerando suas quer através de secretarias estaduais e municipais
especificidades corporais, emocionais e sociais, de diversos estados e cidades do país. De modo
assim como suas reivindicações de respeito e complementar aos financiamentos advindos dos
positivação das expressões de gêneros, ao seu ministérios ainda temos projetos financiados pela
nome social e direitos comuns entre os pares de Secretaria Nacional de Direitos Humanos, ligada
sua comunidade. diretamente à presidência da república, que
A pesquisa realizada por Fernando Silva financiam projetos voltados para a defesa dos
Teixeira-Filho e Carina Rondini (2009) no Brasil, a direitos humanos e de promoção da cidadania,
respeito de tentativas de suicídios por adolescentes promotores das campanhas “Brasil sem homofobia”
LGBTTTI (lesbo/trans/homo-suicídio) em situação e “Travesti e respeito”.
escolar, em decorrência de vivencias lesbofóbicas, Entre as ações realizadas pelos estados e
homofóbicas, transfóbicas e/ou por homofobias e cidades podemos considerar diversas estratégias de
lesbofobias internalizadas, mostrou ter encontrado combate às homofobias, lesbofobias e transfobias,
os mesmo resultados anteriormente apresentados através de leis sancionadas que punem pessoas
por pesquisas internacionais, que apontam que em e estabelecimentos públicos que discriminarem
cada dez adolescentes entrevistados em situação pessoas LGBTTTI; em uma primeira instancia
escolar, três já havia pensado ou tentado suicídio essas pessoas e estabelecimentos públicos são
em decorrência de sua orientação sexual ser alertados com uma advertência por escrito dos

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atos discriminatórios exercidos; em uma primeira íris possam ser consideradas fora de contradições
reincidência são multados financeiramente, que e/ou de oposições em que um determinado modo
variam em valores de acordo com cada cidade, e, de ser no mundo venha a ser catalogado como
em segunda reincidência têm seu estabelecimento superior, e essa demanda não é nada fácil diante
fechado. No caso específico das travestis, homens dos modos de subjetivação que se encontra em
e mulheres transexuais além das leis punitivas que processo no mundo transcontemporâneo.
contemplam as discriminações por transfobias, Muitos conceitos a respeito dos modos de
temos decretos que visam garantir respeito às ser hetero-homo-bissexuais precisam ser revistos e
identidades de gêneros de modo que sejam atualizados; isto implica em uma dimensão política
tratadas de acordo com o gênero, ou seja, travestis e emancipatória de respeito às diferenças tomando
e mulheres transexuais deverão ser reconhecidas e como plano maior de análise o direito à vida.
tratadas pela inflexão feminina, enquanto homens
transexuais serão reconhecidos e tratados pela
inflexão do masculino.
Esses decretos de respeito às identidades
de gêneros se encontram em vigor dado através
de portarias emitidas pelo Ministério da Saúde,
da Educação, Ciência e Tecnologias e da Cultura.
Também estão vigorando pelas portarias emitidas
por Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde
e Educação por diversos Estados e municípios da
nação. Contudo, apesar de todos esses avanços em
políticas de enfrentamento às discriminações homo-
lesbo-transfóbicas e de respeito às identidades de
gêneros, ainda nos deparamos com muitas cenas
cotidianas de agressões, violências, assassinatos e
torturas.
Dentro dessa perspectiva se faz necessário
problematizar a respeito das composições que
produzem as diversidades sexuais e de gêneros em
suas dimensões plurais, ou seja, não existe apenas
um modo de ser heterossexual, homossexual,
bissexual, travesti, transexual ou intersexo, mas
uma miríade de possibilidades de expressões
humanas que variam de contexto para contexto,
de acordo com seus marcadores sociais de classe,
de raça/cor, de sexos, de gêneros, de estéticas
corporais, de territórios geopolíticos, enfim, de
estilos e modos de ser, estar e circular no mundo.
Como a própria insígnia de composição da
diversidade sexual indica falar de diversidades
sexuais e de gêneros nos remete a pensar em um
campo ampliado em que as diferentes cores do arco

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