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NEONATAL
Roberta Costa1
Maria Itayra Padilha2
Marisa Monticelli3
Flávia Regina de Souza Ramos4
Miriam Süsskind Borenstein5
RESUMO
O objetivo deste estudo é identificar as principais políticas públicas de saúde ao recém-nascido no
cenário brasileiro, a partir da década de oitenta, e refletir sobre o impacto destas, na assistência
neonatal. Neste percurso identificam-se dois grandes marcos: o primeiro, de conquista dos
direitos da mulher/mãe e do recém-nascido, e o segundo, da busca da qualidade da assistência
materno-infantil. A elaboração destas políticas culminou na consolidação de diversas leis e
programas de saúde voltados à atenção materno-infantil, que tiveram papel importante na
organização dos sistemas e serviços de saúde. Apesar dos reconhecidos avanços conquistados em
termos de políticas públicas de saúde no Brasil há ainda um longo e complexo caminho na busca
da qualidade da assistência neonatal, no qual a superação das iniqüidades e das desigualdades se
apresenta como desafio para todos os que defendem a vida como um direito de cidadania e bem
público.
PALAVRAS-CHAVE: políticas públicas de saúde, recém-nascido, neonatologia.
1
Doutora em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PEN) da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). Coordenadora da equipe de enfermagem da unidade neonatal do Hospital Universitário da UFSC.
Membro do Grupo de Estudos de História do Conhecimento de Enfermagem e Saúde (GEHCES). E-mail:
[email protected]
2
Professora Associada do Departamento de Enfermagem da UFSC. Doutora em Enfermagem pela Escola Anna Nery
(UFRJ). Pos-Doutora pela Lawrence Bloomberg Faculty of Nursing at University of Toronto. Canada. Líder do
GEHCES. Pesquisadora do CNPq. E- mail: [email protected].
3
Doutora em Enfermagem. Professora Associado do Departamento de Enfermagem e do PEN/UFSC. Vice-líder do
Grupo de Pesquisa em Enfermagem na Saúde da Mulher e do Recém-nascido (GRUPESMUR).
4
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da UFSC. Pesquisadora do CNPq.
5
Enfermeira. Doutora em Enfermagem pelo PEN/UFSC. Professora Associada do Departamento de Enfermagem da
UFSC. Vice-lider do GEHCES. Pesquisadora do CNPq.
56
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SALUD DEL RECIÉN NACIDO EN BRASIL: LOS REFLEJOS EN LA ATENCIÓN
NEONATAL
RESUMEN
Este estudio tiene como objetivo la identificación de las principales políticas públicas de salud para
el recién nacido en el escenario brasileño, desde la década de los ochenta y reflexionar sobre su
impacto, en la atención neonatal. En este curso hemos identificado dos grandes puntos: el
primero sobre la conquista de la mujer, madre-recién nacido y la segunda acerca de la búsqueda
de la calidad de la atención materno-infantil. La elaboración de esta política culminó en la
consolidación de un gran número de leyes y programas de salud que enfrenta el materno
infantiles que tienen un importante papel en los sistemas y organización de los servicios de salud.
A pesar de los reconocidos avances adquiridos en los términos de la política de salud pública en
Brasil, aún queda un largo y difícil camino en la búsqueda de la calidad de la atención neonatal,
que la superación de la iniquidad y las diferencias se presenta como un desafío a los que
defienden la vida como un derecho de ciudadanía y de bien público.
DESCRITORES: políticas públicas de salud, recién nacido, neonatología
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
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controle da sexualidade e da reprodução não teria implicações sociais para assegurar o controle
populacional, reproduzir a força de trabalho e os modos que as relações sociais são estabelecidas,
de forma a garantir que se tenha uma sexualidade socialmente útil e politicamente conservadora.
No Brasil, ao longo das últimas décadas, o conjunto de intervenções voltadas para a
atenção ao período da gestação e primeiro ano de vida esteve sempre no escopo das políticas
públicas de saúde(1). A elaboração das políticas públicas voltadas ao recém-nascido culminou na
consolidação de diversas leis e programas de saúde, voltados à atenção materno-infantil, que
tiveram papel preponderante na organização dos sistemas e serviços de saúde.
O objetivo deste estudo é identificar as principais políticas públicas de saúde ao recém-
nascido no cenário brasileiro, a partir da década de oitenta do século XX e refletir sobre o impacto
destas, na assistência neonatal.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
direitos e de consolidação das lutas anteriores, abrangendo toda a década de 1980 e início da
década de 1990, e o segundo, a partir da década de 1990, onde as políticas públicas não têm mais
o objetivo de tornar visível a atenção materno-infantil, nem de tornar visível o direito consolidado,
mas, a partir daí, trata se de qualificar ainda mais o que já fora conquistado. Apresentamos, a
seguir, as principais leis e políticas públicas que compõem esses dois marcos.
O PAISM foi anunciado como uma nova e diferenciada abordagem da saúde da mulher,
baseado no conceito de “atenção integral à saúde das mulheres” (AISM). Esse conceito implica o
rompimento com a visão tradicional acerca desse tema, sobretudo no âmbito da medicina, que
centralizava o atendimento às mulheres nas questões relativas à reprodução(9). Paradoxalmente,
entretanto, esse programa constituiu-se também na primeira vez em que o Estado brasileiro
propôs, oficial e explicitamente, e efetivamente implantou, embora de modo parcial, um
programa que inclui o planejamento familiar dentre suas ações, ou seja, um projeto que
contemplava o controle da reprodução. Desta forma, o PAISM foi pioneiro, inclusive, no cenário
mundial, ao propor o atendimento à saúde reprodutiva das mulheres e não mais a utilização de
ações isoladas em planejamento familiar. O foco do programa era o planejamento familiar e a
saúde da mulher.
No âmbito das relações de mercado, o grande marco de amparo à saúde da mulher e da
criança foi a Constituição de 1988, com diversos artigos que fundamentavam e constituíam a base
dos direitos reprodutivos. Dentre eles, destacam-se: o direito das presidiárias de permanecerem
com seus filhos durante o período de amamentação; a proteção à maternidade e à infância; a
licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário e com a duração de cento e vinte dias; a
licença-paternidade, nos termos fixados em lei; a assistência gratuita aos filhos e dependentes,
desde o nascimento até seis anos de idade em creches e pré-escolas; a proteção especialmente à
gestante; e ao planejamento familiar(10). Estes direitos impedem diversas formas de discriminação
à mulher trabalhadora e, por outro, ampara e garante a independência financeira da mulher no
momento reprodutivo, além de prover o mecanismo básico de sobrevivência da mãe e do recém-
nascido, vale dizer, a renda. É válido salientar também que a garantia dos direitos sociais e
reprodutivos constados na legislação brasileira rompeu, no âmbito legal, com concepções acerca
do papel exclusivamente reprodutor da mulher, ampliando o entendimento sobre a cidadania
feminina. Apesar de obter significativos avanços na atenção materno-infantil, salientamos
novamente que não era dada ao recém-nascido a real atenção, sendo seus direitos garantidos
somente no lastro e no enredo das ações de proteção à mulher-mãe, não havendo leis específicas
que assegurassem o adequado desenvolvimento físico-emocional do recém-nascido.
Em 1990, com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o recém-
nascido passou a integrar as preocupações no âmbito das políticas, especialmente por se
beneficiar da atenção em saúde voltada à sua genitora. Conforme vigência até os dias atuais, o
ECA pretende assegurar à gestante, através do Sistema Único de Saúde (SUS), o atendimento
antes e após o parto, proporcionar condições adequadas ao aleitamento materno, aos filhos de
62
A partir do final da década de 1990, encontramos uma série de iniciativas do MS, no campo
da assistência perinatal. Duas destas iniciativas merecem citação por apresentarem como objetivo
específico contribuir para a organização do sistema perinatal: o Programa de Apoio à Implantação
dos Sistemas Estaduais de Referência Hospitalar para Atendimento à Gestante de Alto Risco e o
Programa Nacional de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PNHPN)(14). A primeira iniciativa
diz respeito à organização dos Sistemas Estaduais para Atendimento à Gestante de Alto Risco,
onde foram destinados recursos específicos para criação de centrais de leitos, aquisição de
equipamentos e treinamento de profissionais que atingiram 226 maternidades em diferentes
regiões do país. Com esta iniciativa, o governo federal buscou através de incentivos financeiros
para os municípios, melhoria da qualidade da assistência pré-natal e no vínculo entre o pré-natal e
o parto.
O PNHPN foi criado e implantado através da Portaria nº.569 de 1/6/2000(15), com o
objetivo primordial de reduzir as altas taxas de morbimortalidade materna, perinatal e neonatal
no país. Baseia-se no direito inalienável da cidadania, portanto, direito ao acesso, por parte das
gestantes e dos recém-nascidos, à assistência à saúde nos períodos pré-natal, parto, puerpério e
neonatal, tanto na gestação de baixo como de alto risco, através da organização adequada dos
serviços de saúde, assegurando a integralidade da assistência e com investimentos e custeios
necessários. A principal estratégia deste programa é a reorganização da assistência através da
vinculação pré-natal, parto e puerpério, fazendo com que a assistência prestada à gestante e ao
recém-nascido seja realizada com qualidade e sob os trilhos da humanização(16).
No campo específico da qualidade da atenção neonatal, estratégias que possam garantir o
acesso a práticas assistenciais adequadas e baseadas nas melhores evidências disponíveis são
urgentes e prioritárias. Em vários países, as redes colaborativas neonatais têm se consolidado com
o objetivo de melhorar a efetividade e a eficiência da assistência neonatal, por meio de programas
coordenados de pesquisa, educação e projetos de melhoria da qualidade. Neste contexto, a
preocupação com a qualidade de vida e com os aspectos éticos que envolvem a sobrevida de
prematuros extremos é um desafio bastante significativo nos países desenvolvidos e deve ser da
mesma forma, objeto de reflexão sistemática e abrangente em nosso meio. Cabe destacar a
necessidade de revisão das práticas assistenciais que cercam o parto e o nascimento, num
movimento que abarque variadas estratégias de humanização. Garantir as boas práticas de
atenção obstétrica e neonatal e resgatar o parto e o nascimento como momentos especiais e de
grande valor social para as mulheres, seus bebês e suas famílias, são elementos centrais naquilo
que se convencionou chamar de “movimento de humanização”. É importante considerar que as
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agravos que podem surgir interferindo na sobrevivência da mãe e da criança. Nesta linha de
pensamento, em 2006, o MS, através da Portaria MS/GM n. 399, aprova o Pacto pela Saúde que
estabelece como prioridades o Pacto de pela vida e a redução da mortalidade materna, neonatal e
infantil(22).
A Norma de Atenção Humanizada aprovada em 2000 foi atualizada sete anos depois pela
Portaria nº 1.683 de 12 de julho de 2007(20) contendo as informações necessárias à aplicação das
três fases do Método Canguru, especificando a população-alvo, os recursos necessários para a
adoção do MC, as normas gerais e as vantagens para a promoção da saúde do bebê. Prevê
também, apoiar a capacitação da equipe multiprofissional (médicos, enfermeiros, psicólogos,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, fonoaudiólogos e nutricionistas) na
implantação do método nas unidades de saúde do País, principalmente nas Unidades Hospitalares
do Sistema Único de Saúde (SUS) com atenção à gestante de alto risco. Em seguida, em 2008
foram publicados os resultados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Mulher e da
Criança(23), que apontam uma queda de 44% na mortalidade infantil, aumento da amamentação
no primeiro dia pós-parto de 70,8% para 99,5%, o acesso das crianças aos serviços de saúde
passou de 18,2% para 49,7%, melhora da cobertura ao pré-natal (99% em 2006 contra 86% em
1996), além de dados que refletem a melhora do planejamento familiar. Destacamos ainda, a nova
Resolução da Diretoria Colegiada n.36 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, de 03 de junho
de 2008(24), que dispõe sobre regulamento técnico para funcionamento dos serviços de atenção
obstétrica e neonatal. Esta resolução tem por objetivo estabelecer padrões para funcionamento
dos serviços com base na qualificação, humanização e redução e controle dos riscos. Aplica-se aos
serviços de atenção obstétrica e neonatal, sejam públicos, privados, civis ou militares.
Em 2009, a Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno/MS incluiu na sua
agenda de ações estratégicas o fortalecimento e a expansão do Método Canguru no território
brasileiro(25). Entendendo que, o fortalecimento e expansão do mesmo é uma importante
estratégia para a humanização do atendimento ao binômio mãe-bebê e a promoção do
aleitamento materno no Brasil, contribuindo para a melhoria da assistência à saúde e da qualidade
de vida das crianças brasileiras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O percurso aqui apresentado aponta para uma importante evolução no âmbito das
políticas públicas no Brasil, mostrando que a melhoria da qualidade de vida, e não medidas
66
REFERÊNCIAS
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http://www2.camara.gov.br/publicacoes/internet/publicacoes/estatutocrianca.pdf
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20. Ministério da Saúde (BR). Portaria GM n. 1683 Normas de orientação para a implantação do
Método Canguru. Diário Oficial da União 2007; 12 jul. [citado em 05 mar 2010] Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2007/prt1683_12_07_2007.html
21. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Agenda de compromissos para a saúde integral da criança e
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22. Brasil. Pacto pela Saúde 2006: Consolidação do SUS. [citado em: 28 out 2008]. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=24703&janela=1
23. Ministério da Saúde (BR). PNDS 2006 Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e
da Mulher. Brasília, DF, 2008. [citado em 20 mar 2009]. Disponível em:
http://www.saude.gov.br/pnds2006
24. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 36,
de 03 de junho de 2008, que dispõe sobre o Regulamento técnico para funcionamento dos
serviços de Atenção obstétrica e neonatal.
25. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Relatório sobre o Método Canguru
desde sua implantação até os dias atuais, com critério para prosseguimento e expansão do
projeto, incluindo a capacitação de recursos humanos. Brasília, DF, 2009. [citado em 05 mar
2010]. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/relatorio_canguru_ago.pdf