Mec Solos Eng Civil - Tópico 08 - Deformações Nos Solos

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Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia


DISCIPLINA: MECÂNICA DOS SOLOS
ENGENHARIA CIVIL

PROF. GIOVANNI PELLIZZER


CAMPO GRANDE, 2024
Recalques devidos a
carregamentos na superfície
Recalques devidos a carregamentos na superfície

Um dos aspectos de maior interesse para a engenharia geotécnica é


a determinação das deformações devidas a carregamentos verticais
na superfície do terreno ou em cotas próximas à superfície, ou seja,
os recalques das edificações com fundações superficiais (sapatas ou
radiers) ou de aterros construídos sobre os terrenos.
As deformações podem ser de dois tipos:
• As que ocorrem rapidamente após a construção (observadas em
solos arenosos ou solos argilosos não saturados) e;
• As que se desenvolvem lentamente após a aplicação das cargas
(observadas em solos argilosos saturados).
Recalques devidos a carregamentos na superfície
Conceitos

Compressibilidade é uma característica que todos


os materiais apresentam de se deformarem quando
submetidos à ações externas (carregamentos).
O que difere o solo de outros materiais é que ele é
um material natural, com estrutura interna que pode
ser alterada pela ação do carregamento, com
ocorrência de deslocamento ou ruptura das
partículas.
Para compreender o comportamento dos solos é
importante definir alguns conceitos:

• Compressão: é o processo pelo qual uma massa de solos, sob ação de cargas, varia de
volume mantendo sua forma; podem ocorrer por compactação ou adensamento:
redução do volume de ar contido nos vazios do solo  compactação

redução do volume de água contido nos vazios do solo  adensamento


• Adensamento: processo depende do tempo de variação de volume do solo em razão
da drenagem de água nos poros.
Recalques devidos a carregamentos na superfície
Conceitos
Adensamento é a diminuição dos vazios do solo
com o tempo, pela saída de água do seu interior.
Este processo pode ocorrer por um acréscimo de
solicitação sobre o solo, seja pela edificação de uma
estrutura, construção de um aterro, rebaixamento do
nível de água do lençol freático ou drenagem do solo,
entre outros.
O carregamento adicional é transmitido ao solo
gerando uma nova distribuição de tensões, que
poderão provocar deformações nas proximidades
deste carregamento, acarretando em recalques
superficiais.
A deformação dos solos (principalmente dos finos) não é instantânea, mas sim com o
tempo. Nem sempre são uniformes e comprometem a estrutura que se assentam sobre o
solo.
No projeto de fundações é necessário avaliar se a resistência do solo é suficiente para
suportar o carregamento provocado pela estrutura e se as deformações encontram-se
dentro dos limites admissíveis.
Recalques devidos a carregamentos na superfície
Recalque por adensamento
O recalque é a principal causa de trincas ou rachaduras
em edificações, principalmente quando ocorre um
recalque diferencial (uma parte da obra rebaixa mais que
a outra, gerando assim uma redistribuição interna das
solicitações, o que não é previsto em projeto).

No projeto de fundações sobre solos


compressíveis (deformáveis) deve-se
prever as deformações e sua evolução
no tempo, a fim de avaliar a
repercussão sobre a estrutura e
determinar o melhor tipo de fundação
a ser adotada.
Recalques devidos a carregamentos na superfície
Para a estimativa da ordem de grandeza das deformações é necessário:
• Estudo da distribuição de pressão no solo;
• Estudo das propriedades do solo em ensaios de laboratório.
Para carregamento constantes:
• incialmente ocorrem recalques por deslocamentos
horizontais do solo (recalques iniciais);
• Numa segunda fase, tais recalques se propagarão caso
houver a expulsão de água.
Palácio de Belas Artes
Cidade do México

Edificações, Cidade do México


Recalques devidos a carregamentos na superfície
Palácio de Belas Artes - Cidade do México
• Construída em diversas etapas entre 1573 e 1813, a Catedral Metropolitana da Cidade
do México e o Sacrário, igreja anexa, sofriam com recalques diferenciados, chegando a
2,42m entre a torre Oeste e a região do altar mor.
• Essa diferença de comportamento foi acentuada pelo fato de uma parte da catedral ter
sido erguida sobre uma antiga pirâmide asteca que comprimiu o terreno em mais de
10m.
Ensaios para determinação da
deformabilidade dos solos
Ensaios para determinação da deformabilidade dos solos

O comportamento dos solos perante os carregamentos depende da


sua constituição e do estado em que o solo se encontra, e pode ser
expresso por parâmetros obtidos em ensaios ou através de
correlações estabelecidas entre esses parâmetros e as diversas
classificações.
Dois tipos de ensaio são empregados:
• Ensaio de compressão axial;
• Ensaio de compressão edométrica.
Ensaios para determinação da deformabilidade dos solos
Ensaio de compressão axial
Consiste na moldagem de um corpo de prova cilíndrico e no seu
carregamento pela ação de uma carga axial.
São calculadas as tensões normais no plano horizontal do corpo
de prova (carga aplicada divida pela área da seção transversal) e as
deformações normais (encurtamento do corpo de prova dividido
pela altura inicial do corpo de prova).
Ensaios para determinação da deformabilidade dos solos
Ensaio de compressão axial
Após atingido um certo nível de tensão, se for feito um descarregamento,
as deformações sofridas não se recuperarão. O solo não é um material
elástico. Além disso, observa-se que a relação entre a tensão e a deformação
não é constante. Ainda assim, por falta de outra alternativa, admite-se
frequentemente um comportamento elástico-linear para o solo, definindo-se
um módulo de elasticidade para um certo valor de tensão (geralmente a
metade da tensão que provoca a ruptura).
Ensaios para determinação da deformabilidade dos solos
Ensaio de compressão axial

Sendo:
: módulo de elasticidade longitudinal
: coeficiente de Poisson
: deformação longitudinal (na direção da altura )
: deformação radial (na direção do raio )
: encurtamento da altura
: altura original (antes do CP ser submetido a qualquer carga axial)
: encurtamento do raio
: raio original (antes do CP ser submetido a qualquer carga axial)
Ensaios para determinação da deformabilidade dos solos
Ensaio de compressão axial
Um ensaio bastante parecido com aquele de compressão axial é o ensaio
de compressão triaxial, onde o solo é previamente submetido a um
confinamento (situação mais próxima de um solo real). O nível de pressão de
confinamento exerce grande influência no comportamento do solo.
Dessa forma, é difícil estabelecer um módulo de elasticidade para um solo,
pois ele se encontra, na natureza, submetido a confinamentos crescentes
com a profundidade (lembrar que as tensões que agem no solo aumentam
com a profundidade).
Para problemas especiais, pode-se expressar o módulo de elasticidade em
função do nível de tensões axial e de confinamento. Para os casos mais
corriqueiros, admite-se um módulo de elasticidade constante como
representativo do comportamento do solo para a faixa de tensões
ocorrentes no caso em estudo.
Ensaios para determinação da deformabilidade dos solos
Ensaio de compressão axial
Alguns valores de módulo de elasticidade de solos...

Areias em solicitação
Argilas saturadas em
drenada, para tensão
solicitação não drenada
confinante de 100 kPa
Consistência (MPa) (MPa)
Descrição
Muito mole < 2,5 Fofa Compacta
Mole 2,5 a 5 Areias de grãos frágeis,
15 35
Consistência média 5 a 10 angulares

Rija 10 a 20 Areia de grãos duros,


55 100
arredondados
Muito rija 20 a 40
Areia basal de São Paulo,
Dura > 40 bem graduada, pouco 10 27
argilosa
Ensaios para determinação da deformabilidade dos solos
Ensaio de compressão edométrica
O ensaio de compressão edométrica consiste na compressão do
solo contido dentro de um molde que impede qualquer deformação
lateral. Poderia ser chamado de ensaio de compressão confinada, mas
generalizou-se, na mecânica dos solos, a expressão compressão
edométrica.
O ensaio simula o comportamento do solo quando ele é
comprimido pela ação do peso de novas camadas que sobre ele se
depositam, quando se constrói um aterro em grandes áreas. Pela
facilidade de sua aplicação, esse ensaio é considerado representativo
das situações em que se pode admitir que o carregamento feito na
superfície, ainda que em área restrita (sapatas), provoque no solo
uma deformação só de compressão, sem haver deformações laterais.
Ensaios para determinação da deformabilidade dos solos
Ensaio de compressão edométrica
Para o ensaio, uma amostra é colocada
num anel rígido ajustado numa célula de
compressão edométrica. Acima e abaixo da
amostra, existem duas pedras porosas, que
permitem a saída da água.
A célula de compressão edométrica é
colocada numa prensa, para a aplicação de
cargas axiais. O carregamento é feito por
etapas. Para cada carga aplicada, registra-se
a deformação a diversos intervalos de
tempo, até que as deformações tenham
praticamente cessado, ou seguem-se
critérios específicos para as argilas saturadas
(por exemplo). Pode ser um intervalo de
minutos para areias, dezenas de minutos
para siltes e dezenas de horas para argilas.
Ensaios para determinação da deformabilidade dos solos
Ensaio de compressão edométrica
Cessados os recalques, as cargas são elevadas, costumeiramente, para
o dobro do seu valor anterior, principalmente quando se ensaiam
argilas saturadas. Em certos casos, como para argilas abaixo da tensão
de pré-adensamento ou para os solos não saturados, é preferível fazer
carregamentos menores ou restritos aos níveis mais relacionados com
os problemas em estudo.
Em relação à altura inicial dos corpos de prova, pode-se representar a
variação de altura (recalques) em função das tensões verticais atuantes.
Os índices de vazios finais de cada estágio de carregamento são
calculados a partir do índice de vazios inicial do corpo de prova e da
redução da altura.
Ensaios para determinação da deformabilidade dos solos
Ensaio de compressão edométrica
A maneira convencional de apresentar os resultados de um ensaio de
compressão edométrica é por meio de um gráfico do índice de vazios
em função da tensão vertical aplicada.
Ensaios para determinação da deformabilidade dos solos
Ensaio de compressão edométrica
Observa-se claramente nesses gráficos que a variação da deformação
(representada pelo índice de vazios) com as tensões aplicadas não é linear.
Ainda assim, para determinados níveis de tensão, os seguintes parâmetros são
empregados:
Deformação volumétrica:
( )

Coeficiente de compressibilidade:

Coeficiente de variação volumétrica:

Módulo de compressão edométrica:


Esses parâmetros se relacionam conforme:
Cálculo dos recalques
Cálculo dos recalques

Os recalques provenientes de um carregamento feito na superfície do


terreno podem ser estimados pela teoria da elasticidade ou pela
analogia edométrica. Veremos a seguir as duas metodologias.
Cálculo dos recalques
pela teoria da elasticidade
A teoria da elasticidade, empregada para o cálculo das tensões no
interior do solo devido a carregamentos na superfície, pode ser utilizada
para a determinação dos recalques.
A teoria da elasticidade indica que os recalques na superfície de uma área
carregada podem ser expressos pela equação:

Onde:
: pressão uniformemente distribuída na superfície
: módulo de elasticidade do solo
: coeficiente de Poisson do solo
: largura (ou diâmetro) da área carregada (menor dimensão)
: coeficiente que leva em conta a forma da superfície carregada e do
sistema de aplicação das pressões, que podem ser aplicadas ao terreno por
meio de elementos rígidos (sapatas de concreto) ou flexíveis (aterros).
Cálculo dos recalques
pela teoria da elasticidade
Elementos rígidos (sapatas de concreto): o recalque é igual em toda a
área carregada, embora as pressões deixem de ser uniformes e, na
realidade, o valor adotado para só representa a carga aplicada e a área de
aplicação.
Elementos flexíveis (aterros): os recalques no centro da área carregada
são maiores do que nas bordas.

Recalque de um elemento rígido Recalque de um elemento flexível


Cálculo dos recalques
pela teoria da elasticidade
Coeficientes de forma para o cálculo de recalques

Recalque de um elemento rígido Recalque de um elemento flexível


Cálculo dos recalques
pela teoria da elasticidade
Existem duas dificuldades para a aplicação da teoria da elasticidade no
cálculo de recalques:
1. Grande variação dos módulos de elasticidade de cada solo: os valores
de variam em função do nível de tensão aplicado (não linearidade
entre tensão e deformação) e em função do nível de confinamento do
solo.
2. Existência de camadas de diferentes compressibilidades: mesmo no
caso de ser bem identificada a camada mais compressível, responsável
pela maior parte do recalque, não há como aplicar a teoria da
elasticidade, na sua maneira mais simples, como apresentado
anteriormente, pois a teoria se aplica a um meio uniforme.
Cálculo dos recalques
pela teoria da elasticidade
Como exemplo, considere o seguinte perfil geotécnico (solo
heterogêneo) com uma pressão uniformemente distribuída na superfície e
com os bulbos de pressão representados abaixo.

Considerando que o N.A. está abaixo da


cota 706, o recalque devido às
deformações da camada mais fraca (o
solo arenoso fino e fofo) é muito maior
do que o das camadas situadas acima
ou abaixo dela. A aplicação da equação
baseada na teoria da elasticidade
apresentada anteriormente indicaria o
recalque correspondente à deformação
do solo em todo o bulbo de tensões
indicado, o que não corresponderia à
realidade, porque as camadas acima e
abaixo são muito menos compressíveis.
Cálculo dos recalques
pela compressibilidade edométrica
Assume-se que o recalque específico (ou deformação), que é a relação
entre o recalque e a espessura da camada de solo seja constante. Isto
significa que existe uma proporcionalidade entre o recalque
apresentado por uma amostra de solo ensaiada a compressão
edométrica e o recalque apresentado por uma camada composta deste
mesmo solo na natureza.
Cálculo dos recalques
pela compressibilidade edométrica
Como exemplo, considere uma camada de argila mole bastante
deformável entre duas camadas de areia permeáveis. É apresentado o
diagrama de tensões totais devido ao peso próprio do solo , neutras
e efetivas e o diagrama de acréscimo de tensões devido a cargas
aplicadas na superfície do terreno.
Cálculo dos recalques
pela compressibilidade edométrica
Considere um elemento no meio da camada deformável, onde atuava a
tensão efetiva BC ( )e que sofreu um acréscimo de tensão igual a DE
( ). Para se estudar o efeito desse carregamento na diminuição do índice
de vazios do solo, poder-se-ia submeter uma amostra desse solo a acréscimos
de pressão de igual valor num ensaio de compressão edométrico. É mais
prático submeter a amostra a sucessivos carregamentos, para se obter um
conhecimento mais completo do solo.
Cálculo dos recalques
pela compressibilidade edométrica
Na prática, o cálculo do recalque costuma ser expresso em função da
variação do índice de vazios . Considere, conforme apresentado na
figura, o estado do solo antes e depois do carregamento. A altura é
reduzida de para , e o índice de vazios diminui de para ,
permanecendo constante a altura equivalente às partículas, chamada
de altura reduzida .
As alturas, antes e depois do carregamento podem ser expressas da
seguinte maneira:
e
Cálculo dos recalques
pela compressibilidade edométrica
Expressando em função de e substituindo na expressão de ,
tem-se:

O recalque é a diferença entre e , de onde se tem:

O recalque específico, ou deformação, fica expresso por:

A fórmula resultante, empregada para o cálculo dos recalques, fica


sendo:
Cálculo dos recalques
pela compressibilidade edométrica

Nesta expressão, e são características iniciais do solo


(conhecidas a priori). O índice de vazios após a ocorrência do recalque,
, é obtido por meio de um ensaio de compressão edométrica em uma
amostra de solo, onde busca-se nos gráficos obtidos pós ensaio de “
” o valor do índice de vazios para uma determinada tensão
vertical aplicada igual a tensão que o solo na natureza está submetido.
Cálculo dos recalques
pela compressibilidade edométrica
É possível combinar a definição de recalque específico , com as
definições de coeficiente de compressibilidade ( ), coeficiente de
variação volumétrica ( ) e módulo de compressão edométrico ( ),
obtendo-se as seguintes relações:
O adensamento das argilas
saturadas
O adensamento das argilas saturadas
Ensaio de compressão edométrica (ou ensaio de adensamento):
especialmente utilizado no estudo de recalques das argilas saturadas (argilas
são muito pouco permeáveis, a água leva muito tempo pra sair dos poros).
O resultado desse ensaio pode ser plotado num gráfico onde o eixo vertical
representa o índice de vazios e o eixo horizontal a tensão vertical aplicada em
escala logarítmica. Para uma argila mole, o gráfico se assemelha ao abaixo
ilustrado.
O adensamento das argilas saturadas
A fase inicial de carregamento é representada pela curva entre os pontos A e
B. A partir do ponto B a relação entre o índice de vazios e o logaritmo da
tensão vertical aplicada é praticamente linear até o ponto C. A reta BC é
denominada de reta virgem. Terzaghi introduziu o índice de compressão para
cálculo da inclinação da reta virgem, conforme a expressão:

A
B

D
C
O adensamento das argilas saturadas
Da maneira como está definido, o índice de compressão é positivo, embora
haja uma redução do índice de vazios quando as tensões aumentam. A parcela
da equação anterior pode ser introduzida na equação para o cálculo
dos recalques com base no ensaio edométrico, resultando:

Essa equação permite o cálculo do recalque, sem que se utilize diretamente


o resultado do ensaio de adensamento, expresso pelo curva do índice de
vazios em função da tensão aplicada. O resultado do ensaio aparece
indiretamente através do índice de compressão . Entretanto, isto só pode ser
feito quando o solo se encontrar numa situação correspondente à reta virgem.
O adensamento das argilas saturadas
A tensão de pré-adensamento
Num ensaio de adensamento, se a amostra for carregada até uma tensão e
apresentar o comportamento indicado pela curva ABC da figura e, a seguir, tiver a
tensão reduzida (descarregamento), seu comportamento será o indicado pela curva CD.
Se ela for carregada novamente, seu comportamento será o indicado pela curva DE,
até atingir uma posição próxima a reta virgem e, a seguir, continuará no trecho EF, ao
longo da reta virgem.

A mudança acentuada no gradiente da


curva atesta o anterior carregamento feito
até a tensão indicada no ponto C. Esse fato
sugere que essa amostra anteriormente
tenha sido solicitada a uma tensão
correspondente ao ponto B. Tal tensão é
definida como a tensão de pré-
adensamento.
Dessa forma, a tensão de pré-
adensamento é um parâmetro que auxilia a
identificar parte do histórico de tensões que
o solo foi submetido.
O adensamento das argilas saturadas
A tensão de pré-adensamento
Ao comparar-se as tensões efetivas atuantes sobre o solo no local onde foi retirada a
amostra ( ) com a tensão de pré-adensamento da amostra no ensaio de compressão
edométrico ( ), pode-se conhecer um pouco do histórico de tensões que este solo
foi submetido ao longo do tempo. A razão entre e é chamada de razão de
sobreadensamento (RSA) ou razão de pré-adensamento (em inglês a sigla é OCR,
overconsolidation ratio)

Solos normalmente adensados ou seja, ( )


Solos sobreadensados ou seja, ( )
O adensamento das argilas saturadas
A tensão de pré-adensamento

Solos normalmente adensados ou seja, ( 𝒗𝒎 𝒗𝟎 )

Solos sobreadensados ou seja, ( )

Uma situação possível é de que a tensão de pré-adensamento seja igual a tensão


efetiva do solo . Isso indica que o solo nunca esteve submetido anteriormente a
maiores tensões, ou seja, ele é normalmente adensado.
O adensamento das argilas saturadas
A tensão de pré-adensamento

Solos normalmente adensados ou seja, ( )


Solos sobreadensados ou seja, ( 𝒗𝒎 𝒗𝟎 )

Algumas vezes, a tensão de pré-adensamento é sensivelmente maior do que a


tensão efetiva do solo por ocasião da amostragem. Isso seria uma indicação de que,
no passado, o solo esteve sujeito a tensões maiores do que as atuais. Eventualmente,
teria havido uma camada de solo sobreposta à atual que teria sido removida por
erosão. Neste caso, o solo é sobreadensado.
O adensamento das argilas saturadas
A tensão de pré-adensamento

Solos normalmente adensados ou seja, ( )


Solos sobreadensados ou seja, ( )

Pode ocorrer, esporadicamente, que a tensão de pré-adensamento determinada


no ensaio seja inferior à tensão efetiva que se julgaria existir sobre a amostra, com
base nos dados do perfil do subsolo. Isso ocorre quando o solo se encontra em
processo de adensamento devido a carregamentos recentes. Na realidade, a tensão
efetiva não é aquela calculada pelos dados do perfil, como se pode compreender
melhor ao se estudar o desenvolvimento das tensões efetivas durante o processo de
adensamento.
As observações feitas aqui feitas referem-se a solos sedimentares saturados, isentos
de adensamento secundário. O afastamento dessas condições afetará o significado da
tensão de pré-adensamento e merece considerações específicas (que não serão
tratadas no curso).
O adensamento das argilas saturadas
A tensão de pré-adensamento
A tensão de pré-adensamento não pode ser determinada com precisão. Contudo,
existem vários métodos empíricos que permitem estimar o valor mais provável ou a
ordem de grandeza dessa tensão. Os métodos mais empregados no Brasil são:

- Método de Casagrande;
- Método de Pacheco Silva.

Para aplicação dos métodos, é necessário conhecer a curva de adensamento do solo em


questão (obtida por meio do ensaio de compressão edométrica).
O adensamento das argilas saturadas
A tensão de pré-adensamento – Método de Casagrande (1936)
O adensamento das argilas saturadas
A tensão de pré-adensamento – Método de Pacheco Silva (1970)
O adensamento das argilas saturadas
Cálculo de recalque em solos sobreadensados
Ao calcular-se o recalque de um solo é necessário saber se a tensão efetiva atuante
no mesmo é maior, menor ou igual a tensão de pré-adensamento.
Considere o caso mostrado na figura abaixo. Se o solo estiver sob uma tensão efetiva
inicial igual a (ponto A) e for carregado até uma tensão final no ponto B, a tensão
será menor do que a tensão de pré-adensamento .

Dessa forma, nos casos em que < , utiliza-se


a inclinação da curva no trecho de recompressão
(pontos ABP), chamado de índice de
recompressão ou utiliza-se a inclinação da
curva no trecho de descompressão (trecho baixo
da curva da figura), chamado de índice de
descompressão (ou ). A expressão para o
cálculo do recalque neste caso é:

Obs: em geral,
O adensamento das argilas saturadas
Cálculo de recalque em solos sobreadensados
Agora, no caso de o solo estar sob uma tensão efetiva inicial igual a (ponto A) e for
carregado até uma tensão final no ponto C, a tensão será maior do que a tensão
de pré-adensamento e o recalque é calculado em duas etapas:
- Da tensão até a tensão (utilizando no cálculo)
- Da tensão até a tensão (utilizando )

A expressão resultante será, neste caso:


O adensamento das argilas saturadas
Cálculo de recalque em solos sobreadensados
Exemplo de cálculo de recalque
por adensamento
Exemplo de cálculo de recalque por adensamento
Sobre o perfil geotécnico indicado, será
construído um aterro que transmitirá uma
pressão uniforme de 40 kPa. O terreno foi
sobreadensado pelo efeito de uma camada
de 1m de areia superficial, que foi erodida.
Desta forma, sabe-se que a tensão de pré-
adensamento é de 18 kPa superior à tensão
efetiva existente em qualquer ponto. O
recalque por adensamento ocorre na argila
mole, cujo índice de compressão é de
e cujo índice de recompressão é .
Calcule o recalque que ocorrerá na superfície
do terreno devido apenas ao adensamento
da argila mole, considerando:

a) Que toda a camada de argila apresenta uma deformação igual à do ponto médio
B.
b) Que o recalque ocorrerá em 3 subcamadas da argila, sendo que cada subcamada
tem a sua deformação igual a de seu ponto médio (ponto A, B e C
Exemplo de cálculo de recalque por adensamento
Solução, item a

1. Cálculo das tensões agindo no ponto B (peso próprio do solo)


- Tensão total:
- Tensão neutra:
- Tensão efetiva:
2. Cálculo da tensão de pré-adensamento no ponto B
Foi informado que a tensão de pré-adensamento é
18kPa superior a tensão efetiva em qualquer ponto,
logo:

3. Cálculo do recalque
Exemplo de cálculo de recalque por adensamento
Solução, item b

1. Cálculo das tensões agindo nos pontos A, B e C (peso próprio do solo):

Ponto A:
- Tensão total:
- Tensão neutra:
- Tensão efetiva:

Ponto B (já calculadas no item a):


- Tensão total:
- Tensão neutra:
- Tensão efetiva:

Ponto C:
- Tensão total:
- Tensão neutra:
- Tensão efetiva:
Exemplo de cálculo de recalque por adensamento
Solução, item b

2. Cálculo das tensões de pré-adensamento:

Foi informado que a tensão de pré-adensamento é 18kPa superior a tensão efetiva


em qualquer ponto, logo:

Ponto A:

Ponto B (já calculada no item a):

Ponto C:
Exemplo de cálculo de recalque por adensamento
Solução, item b

3. Cálculo dos recalques de cada subcamada

Subcamada A:
Observar que as
maiores
contribuições de
Subcamada B: recalques são das
subcamadas
superiores do solo,
pois as razões entre
tensões dentro do
Subcamada C:
operador “log” são
maiores.

Recalque total:
(próximo dos 54cm calculados no item a)
Exercícios
Uma amostra indeformada de solo foi retirada em campo, a 8m de
profundidade, e a tensão efetiva calculada nessa profundidade era de 40kPa.
Moldou-se um corpo de prova para ensaio de adensamento, com as
seguintes características: altura de 38mm, volume de 341,05cm³, massa de
459,8g, umidade de 125,7% e densidade dos grãos de 2,62g/cm³.
O corpo de prova foi submetido ao ensaio de adensamento e registraram-se
os seguintes valores do corpo de prova ao final de cada estágio de
carregamento, determinados por meio de um deflectômetro, a partir da
altura inicial do corpo de prova:
Efetue os cálculos correspondentes a esse ensaio e determine os seguintes
parâmetros:
a) A tensão de pré-adensamento ( );
b) A razão de sobreadensamento do solo ( );
c) O índice de compressão ( );
d) O índice de recompressão ( );
e) Como no local planeja-se executar uma obra que provocará um
acréscimo de tensão de 80kPa, na profundidade da qual foi retirada a
amostra, determine para essa condição o coeficiente de
compressibilidade ( );
f) Considerando o exposto no item e, determine também o coeficiente de
variação volumétrica ( );
g) Considerando o exposto no item e, determine também o módulo de
compressão edométrica ( ).
Solução

Inicia-se com os seguintes cálculos preliminares:

- Densidade (massa específica) natural do corpo de prova:

- Densidade seca:

- Índice de vazios:

- Grau de saturação:
Solução

Com o índice de vazios, calcula-se a altura reduzida do corpo de prova , que é a altura
que seria ocupada pelos sólidos se eles se concentrassem na parte inferior (sem água e
nem ar presentes).

Ar

𝑒+1
Água

Sólidos

Assim, é possível calcular os índices de vazios do corpo de prova ao final de cada estágio
de carregamento pela fórmula:

Nesse caso:
Solução

Aplicando a equação para as alturas reportadas no ensaio, tem-se assim:


,

Com esses resultados, representa-se, em gráfico, a variação do índice de vazios com as


tensões, geralmente, em escala logarítmica. Entretanto, a representação em função das
tensões em escala natural pode ser vantajosa. Essas duas representações estão colocadas
nos gráficos a seguir.
Solução
Solução – item a

A partir do curva de adensamento em escala logarítmica, adota-se o método de


Casagrande para a determinação da tensão de pré-adensamento.

1. Encontrar o ponto (ponto de maior


curvatura)
2. Traçar uma reta horizontal passando por

3. Traçar uma reta tangente passando por

4. Traçar a bissetriz do ângulo formado


pelas retas e
5. Traçar o prolongamento da reta virgem
6. Fazer a leitura da tensão no ponto de
intersecção entre as retas e
Solução – item b

A razão entre a tensão de pré-adensamento e a tensão efetiva atuante é a razão de


sobreadensamento ( ), também chamdaa de razão de pré-adensamento.
No enunciado do problema foi informado que: “Uma amostra indeformada de solo foi
retirada em campo, a 8m de profundidade, e a tensão efetiva calculada nessa
profundidade era de 40kPa. “
Logo, tem-se:

Lembrando que...

Solos normalmente adensados ou seja, ( )


Solos sobreadensados ou seja, ( )

Logo, esse solo é ligeiramente sobreadensado.


Solução – item c

O índice de compressão é
determinado por meio da expressão:

Lembrando que representa a


inclinação da reta virgem, os índices de
vazios e as tensões correspondentes
são lidos no trecho da reta virgem.
Tomando por exemplo as tensões de
e , os
correspondentes índices de vazios são
e , logo:
Solução – item d

As curvas de descarregamento e
recarregamento afastam-se
consideravelmente de serem retas.
Deve-se procurar um ajuste, sendo
conveniente que a reta passe pelo
ponto correspondente a tensão de pré-
adensamento. Considerando assim a
reta traçada (laranja), tomando por
exemplo as tensões de
e , os correspondentes
índices de vazios que interceptam a
reta de ajuste são e
, logo:
Solução – item e

O coeficiente de compressibilidade é a razão entre a variação do índice de vazios e a variação da


tensão vertical:
Δ𝑒
𝑎 =−
Δ𝜎
Como se observa no gráfico em escala natural, essa relação não é constante. Portanto, deve-se
considerá-la para uma dada variação de tensão de interesse. No caso, com o carregamento previsto de
80kPa, a tensão se eleva de 40kPa (tensão efetiva inicial) a 120kPa (tensão efetiva inicial somada com a
tensão devida ao carregamento). Dando um zoom no gráfico em escala natural, tem-se:

Do gráfico é possível ler


que para a tensão de 40kPa
corresponde um índice de
vazios de 3,31 e para a
tensão de 120kPa
corresponde um índice de
vazios de 2,93.
Assim:
2,93 − 3,31
𝑎 =−
120 − 40
𝑎 = 0,0048𝑘𝑃𝑎
Solução – item f

O coeficiente de variação volumétrica é a razão entre a deformação volumétrica e a


variação da tensão vertical:

A deformação volumétrica é definida como:

Logo:

Com o carregamento previsto de 80kPa, a tensão se eleva de =40kPa (tensão


efetiva inicial, com =3,31) a =120kPa (tensão efetiva inicial somada com a tensão
devida ao carregamento, com =2,93).
Assim:
Solução – item g

O módulo de compressão edométrica é o inverso do coeficiente de variação


volumétrica :

Assim:
A amostra do exercício 01 correspondia ao ponto médio de um terreno
constituído de 16m de argila mole. No terreno, com um carregamento de
80kPa, estime o valor do recalque:
a) Empregando o índice de compressão e o índice de recompressão ;
b) Utilizando diretamente os resultados do ensaio;
c) Empregando o coeficiente de compressibilidade ;
d) Empregando o coeficiente de variação volumétrica ;
e) Empregando o módulo de compressão edométrica
Solução

a) Empregando o índice de compressão e o índice de recompressão


Solução

b) Utilizando diretamente os resultados do ensaio

Do gráfico em escala natural é possível ler que para a tensão inicial de 40kPa
corresponde um índice de vazios de 3,31 e para a tensão final de 120kPa
(40kPa+80kPa) corresponde um índice de vazios de 2,93. Assim:
Solução

c) Empregando o coeficiente de compressibilidade


Solução

d) Empregando o coeficiente de variação volumétrica


Solução

e) Empregando o módulo de compressão edométrica

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