Farias Af Me Prud
Farias Af Me Prud
Farias Af Me Prud
Presidente Prudente – SP
2016
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Presidente Prudente – SP
2016
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AGRADECIMENTOS
Aos Professores Leôncio José Gomes Soares, Leny Rodrigues Martins Teixeira
e Débora Cristina Jeffrey pelo aceite ao convite para composição da banca e pelas valiosas
contribuições.
Malala Yousafzai
8
RESUMO
Este trabalho, vinculado à linha de pesquisa “Políticas Públicas, Organização Escolar e Formação
de Professores”, partiu do seguinte questionamento: Qual o espaço da Educação de Jovens e
Adultos (EJA) dentro do curso de Pedagogia das Universidades Estaduais de São Paulo? Essa
indagação se justifica pela falta de formação específica para professores de EJA, que é atualmente
uma modalidade do ensino brasileiro que carece de melhor definição no preparo dos professores.
O trabalho teve por objetivo investigar o espaço da EJA dentro do processo de formação inicial
de professores dos Anos Iniciais nas três Universidades Estaduais de São Paulo a partir da análise
do Curso de Pedagogia. Nos delimitamos a investigar cinco cursos de Pedagogia das
Universidades USP, UNESP e UNICAMP a fim de verificar se contemplam a EJA em seu Projeto
Político Pedagógico, se oferecem disciplinas específicas sobre a EJA, que perspectiva o professor
e o coordenador do curso tem relação à formação específica e, por fim, qual a percepção dos
graduandos e também de egressos dos cursos quanto à sua preparação para o ensino de adultos.
Esta investigação tem suas bases metodológicas na abordagem qualitativa direcionada pelos
estudos de Sandín Esteban (2010) e nos utilizamos da análise documental descrita por Cellard
(2008) para a revisão de políticas públicas e de documentos oficiais, bem como da realização de
entrevistas semiestruturadas a partir das contribuições de Triviños (2008) para a coleta de dados
empíricos. Os dados permitiram identificar, entre outros aspectos, que o preparo do professor de
jovens e adultos ainda não está definido na prática de formação docente de alguns dos cursos de
licenciatura em Pedagogia das Universidades do Estado de São Paulo e que, portanto, cabe às
instituições formadoras desenvolvê-la de modo a acompanhar o que deliberam as Diretrizes
Curriculares Nacionais recentes e pertinentes. Desse modo, defendemos que a formação inicial
em Pedagogia deve preparar o docente para a atuação nos Anos Iniciais da EJA, conferindo a
esse tema o mesmo grau de importância das outras modalidades. Pensamos que a partir da
consolidação de um plano de formação específico e efetivo para professores dos Anos Iniciais
da EJA, sustentado pelos pilares das políticas públicas já asseguradas, o espaço destinado à essa
modalidade nos cursos de Pedagogia passará a existir, e não mais a resistir com iniciativas
isoladas num país cuja demanda por educação de jovens e adultos é enorme e urgente.
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos (EJA); Políticas Públicas para a EJA; Formação
do Professor dos Anos Iniciais de EJA; Identidade profissional do Pedagogo.
9
RESUMEN
GT – Grupo de Trabalho
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 16
5. PERCURSO METODOLÓGICO.................................................................................... 97
6.2 Análise da EJA nos Cursos de Pedagogia de Universidades Estaduais Paulistas.......... 117
APÊNDICES........................................................................................................................... 162
16
1. INTRODUÇÃO
1.Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos
graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução
técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada
no mérito. (ONU, 1948)
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita
para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 14/1996) [...]
VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; (BRASIL,
1988).
17
Assim, pela primeira vez se tem no Brasil uma legislação específica para a
Educação de Jovens e Adultos, enfatizando sua especificidade enquanto modalidade da educação
nacional, e que surgiu a partir de múltiplas mãos, como consta na apresentação do documento,
rememorando sua origem nos fóruns de discussão da EJA e em eventos nacionais da área que o
antecederam e o viabilizaram.
18
Esse contexto é marcado por altos índices de reprovas e evasão, onde quase
metade das crianças matriculadas abandonavam o percurso escolar ainda nas primeiras séries.
Dessa forma, no próprio centro do espaço educativo gerava-se um conflito marcado pela
defasagem de idade/série, no qual apenas uma pequena parcela das crianças resistia sem reprovas,
ficando a maior parte delas excluída da escola e sem muitas oportunidades de retorno.
apresenta o melhor cenário em relação ao índice, com 14,9% de analfabetos funcionais, seguida
pelas regiões Sul (15,7%) e Centro-Oeste (18,2%).
Um professor bem formado poderá ter consciência, ainda que tímida, de todos
os aspectos que envolvem a docência, por isso pensamos que uma formação específica para a
modalidade de educação de jovens e adultos, além de garantir metodologias adequadas na
perspectiva do ensino, também garantirá uma participação mais acentuada deste profissional na
efetivação das políticas educacionais de EJA.
A fala de Machado (2008, p. 164) corrobora, nesse sentido, quando afirma que
“A perspectiva de reconfiguração do conceito de educação para jovens e adultos, nos últimos
doze anos, repõe na cena educacional uma questão antiga: para quais alunos estão sendo
formados os nossos professores”.
Não se pode pensar em uma formação com caráter puramente generalista diante
do fato de que muitos dos educandos da EJA têm trajetórias de não aprendizado e de insucesso
com o meio escolar. Nessa perspectiva, os estudos de Oliveira (1999) apontam a existência de
uma psicologia própria de aprendizagem do adulto, que se diferencia do processo de aquisição
de conhecimentos da criança, a quem se apresenta o mundo.
Sobre a formação dos profissionais de EJA, Soares (2007) diz que sua
precariedade, em muitos casos, está relacionada à ausência de formação específica nos cursos de
graduação em Pedagogia, espaço em que se forma o professor dos Anos Iniciais da EJA. Segundo
este autor, “a formação de um profissional voltado para as necessidades dos sujeitos jovens e
adultos nos últimos anos tem se colocado como questão central nos debates sobre o tema”
(SOARES, 2007, p. 1), e nesta sua afirmação mais uma vez se fortalece a necessidade de
formação específica para o professor de EJA dentro do curso de licenciatura.
O autor ressalta ainda que a educação de jovens e adultos se constituiu, durante muito tempo, às
margens, referindo-se à falta de políticas públicas oficias, como também de centros específicos
de EJA e de formação específica para o professor.
Com maior razão, pode-se dizer que o preparo de um docente voltado para a EJA deve
incluir, além das exigências formativas para todo e qualquer professor, aquelas relativas
à complexidade diferencial desta modalidade de ensino. Assim esse profissional do
magistério deve estar preparado para interagir empaticamente com esta parcela de
estudantes e de estabelecer o exercício do diálogo. Jamais um professor aligeirado ou
motivado apenas pela boa vontade ou por um voluntário idealista e sim um docente que
se nutra do geral e também das especificidades que a habilitação como formação
sistemática requer. (BRASIL, 2000, p. 56)
Com o intuito de ter conhecimento sobre o que já foi produzido sobre esta
temática, realizamos uma consulta aos sites dos Programas de Pós-Graduação em Educação de
quatro universidades públicas do estado de São Paulo entre os anos de 2001 e 2013: UNESP
(Campus de Araraquara, Marília e Presidente Prudente), USP, UNICAMP e UFSCAR.
Salientamos que por se tratar de uma pesquisa que contempla as universidades estaduais de São
Paulo, em nossa busca bibliográfica nos limitamos a pesquisar apenas as universidades do mesmo
estado, embora tenhamos ciência da realização de pesquisas sobre EJA em todas as regiões do
país, das quais destacamos o Grupo de Trabalho “EJA”, GT 18, da Anped Nacional que tem
investigado e debatido sobre essa modalidade de educação em todos os seus aspectos políticos e
pedagógicos.
2001 1
2002 0
2003 0
2004 0
2005 1
2006 0
2007 0
2008 1
2009 0
2010 4
2011 1
2012 2
2013 0
com o processo inicial de ensino da leitura e da escrita com turmas de educação de jovens e
adultos. Concluiu-se que a formação contínua através da reflexão sistemática embasada pelas
teorias assume a responsabilidade de considerar a demanda da EJA a partir da prática vivenciada
na sala de aula pelo professor.
pedagógica dos professores, como a avaliação dos alunos como elemento de análise para
redefinição de conteúdos e metodologias utilizadas levando em conta a diversidade de alunos.
depoimento de seis professoras. Os resultados obtidos revelam não apenas a importância, mas
também a necessidade de uma formação continuada para os professores que atuam na EJA.
Assim, a leitura dos resumos em muito contribuiu para anúncio do tema e para
que delineássemos melhor nossa questão-problema e procedimentos metodológicos. O fato de
nenhum dos trabalhos tratar especificamente da formação inicial de professores dos Anos Iniciais
da EJA prescreve a relevância de pesquisarmos esse tema, tendo em vista que é a licenciatura em
Pedagogia o espaço primeiro de formação do profissional polivalente que ao se formar poderá
atuar na alfabetização e ensino de adultos.
A pretensão desta pesquisa, portanto, foi apontar aspectos para provocar uma
reflexão sobre a importância e a necessidade da formação inicial específica do professor dos
Anos Iniciais da EJA. Traçamos como objetivo geral: Investigar o espaço da EJA dentro do
processo de formação inicial de professores dos Anos Iniciais nas três Universidades Estaduais
de São Paulo a partir da análise do Curso de Pedagogia.
1
A escolha dos três cursos de Pedagogia da UNESP (Araraquara, Marília e Presidente Prudente) se deve ao fato
de serem os cursos mais antigos dentre os demais da mesma Universidade.
33
Pensamos que, sem uma compreensão da escola pública, não se consegue avaliar o
verdadeiro papel do professor e, consequentemente, não haverá condições de refletir as
questões referentes à formação inicial dos docentes, a partir do modelo que se apresenta
hoje, a fim de propor novos sentidos para o processo formativo desses profissionais e
refletir sobre os saberes docentes necessários à construção de sua profissionalidade.
(LEITE, 2011, p. 27)
nacional, sendo que Dom Pedro se pronuncia sobre a necessidade de uma legislação específica
sobre a instrução.
A primeira Carta Magna brasileira traz apenas dois parágrafos de um único artigo sobre
a matéria. Ao tratar da “inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos
brasileiros”, estabelece que “A instrução primária é gratuita a todos os cidadãos” (art.
179, § 32). A segunda referência diz respeito aos “Colégios e universidades, onde serão
ensinados os elementos das ciências, belas letras e artes” (art. 179, § 33). (VIEIRA,
2007, p. 294)
Para Vieira e Farias (2003, p. 53), “é a partir do Império que o País começa a
reconhecer a importância da instituição escolar, tendência que se expressa no intenso debate
sobre educação no período”. A Constituição de 1824 vigorou por 65 anos, caracterizando-se
como a de maior vigência em toda a história das constituições em nosso país.
Di Giogi e Leite (2010) apontam que o Brasil iniciava o século XIX com um
sistema educacional quase inexistente. Em termos de educação superior, criam-se cursos de
caráter utilitário como medicina, arquitetura, advocacia, engenharia, química, agora para o
suprimento de cargos públicos, não mais religiosos. Porém, essa educação respondia apenas aos
interesses da elite, os únicos que a ela tinham acesso.
Além de determinar que “em todas as cidades, villas e logares mais populosos haveriam
as escolas de primeiras letras que forem necessárias” (Art. 1º), esta Lei também
regulamentava uma série de outras medidas. Contém dispositivos que definem desde o
método de ensino a ser adotado – o ensino mútuo (Art. 4º) – até a previsão de formas
de provimento de professores (Art. 7º, 8º e 14), ordenados (Art. 3º) e capacitação (Art.
5º). Também apresenta determinações sobre edifícios escolares (At. 5º), assim como a
criação de “escolas de meninas nas cidades e villas mais populosas” (Art. 11) e os
respectivos conteúdos do ensino a ministrar em tais instituições (Art. 12). (VIEIRA e
FARIAS, 2003, p. 59)
bandeira da laicidade, assim como a da separação entre os poderes, explicitando desde então
temas importantes que seriam discutidos nos anos seguintes (VIEIRA, 2007).
Caracterizada pela separação entre Estado e Igreja, a nova Carta traz como grande
inovação a laicidade do ensino, ao dispor que seria “leigo o ensino ministrado nos
estabelecimentos públicos” (art. 72, § 6º). Também este artigo introduz uma temática
que estará presente ao longo da história, assinalando a diferença entre católicos e
liberais, questão que se aprofundará no curso da República. (VIEIRA, 2007, p. 296)
A educação brasileira foi reconhecida pela primeira vez como direito de todos
os cidadãos na Constituição de 1934, sendo que essa legislação define a educação como dever
da família e do poder público (BRASIL, 2000). A Constituição de 1934 significou um “marco
legal de significativa importância no delineamento de um projeto político para o Brasil” (VIEIRA
e FARIAS, 2003, p. 57) e, ainda que se restrinja a dois parágrafos em um único artigo (179,
alínea 32), a Constituição passou a estabelecer a gratuidade da educação.
É clara a concepção da educação pública como aquela destinada aos que não puderem
arcar com os custos do ensino privado. O velho preconceito contra o ensino público
presente desde as origens de nossa história permanece arraigado no pensamento do
legislador estado-novista. Sendo o ensino vocacional e profissional a prioridade, é
flagrante a omissão com relação às demais modalidades de ensino. A concepção da
política educacional no Estado Novo estará inteiramente orientada para o ensino
profissional, para onde serão dirigidas as reformas encaminhadas por Gustavo
Capanema. (VIEIRA, 2007, p. 298)
O início dos anos 1940 é marcado por uma transição política, momento em que
se abala a ditadura Vargas em decorrência do cenário agravado pela Segunda Guerra Mundial.
Para Vieira (2007), pouco a pouco vão se fortalecendo as condições para a redemocratização do
país.
10% enquanto Estados, Municípios e Distrito Federal nunca menos de 20% das receitas
resultantes de impostos na “manutenção e desenvolvimento do ensino” (art. 169).
Sob a égide da ditadura, é concebido um novo marco legal para o País, a começar por
uma nova Constituição Federal (1967). Como esta é concebida antes das medidas que
instauram o estado de exceção, as características do novo regime nem sempre são
visíveis no texto. No campo da educação, somente depois da Constituição de 1967 é
que são encaminhadas as principais propostas de reforma do período. Cabe, porém, uma
breve referência a elas, já que marcam de forma decisiva o cenário dos anos
subsequentes. (VIEIRA, 2007, p. 301)
crescimento acelerado acontece sob as vias de certa desorganização e não garante a qualidade da
educação oferecida (DI GIORGI e LEITE, 2010).
Assim, pela primeira vez na história do país, a classe trabalhadora passa a ter
acesso à educação pública, ainda que forçadamente como preparação para o trabalho. Com a
ampliação do acesso, muda-se o alunado dos bancos escolares, diferença crucial que marca o
processo de democratização do ensino no Brasil. De tal modo, a burguesia (classe dominadora)
deixa de ter a educação como um privilégio e a classe popular (classe historicamente dominada),
passa a ter acesso a direitos mínimos, um deles o acesso ao ensino.
É fato que nos últimos anos ocorreu uma grande expansão das oportunidades de acesso
à escola pública, possibilitando o abrigo em seu interior de segmentos da população
historicamente excluídos. Em termos quantitativos, a escola pública seletiva do passado,
cede lugar à escola de amplo acesso do presente, tornando-se inquestionável a
consideração de que esta expansão é um avanço democrático essencial. No entanto, esta
ampliação no atendimento deixou de trazer consigo medidas e ações essenciais que
garantissem também a melhoria qualitativa do ensino. Quase todas as escolas ainda
mantêm uma estrutura organizacional conservadora, pautada em princípios
burocratizantes, que dificultam a adoção de novas práticas pedagógicas pelos
professores, impossibilitando que estes se manifestem como sujeitos sociais e
profissionais. (DI GIORGI, LEITE e RODRIGUES, 2005, p. 2-3)
Conforme vemos na fala dos autores acima referenciados, a escola passa a ser
acessível ao público antes dela excluído, o que denota grande avanço quantitativo no número de
vagas que passam a ser oferecidas. Nas palavras de Leite (2011, p. 27), “a escola pública para
poucos do passado cedeu lugar à escola para muitos, no presente”. Porém, não houve preparo
que garantisse a qualidade do ensino nesse processo de expansão. Ao ser democratizado o acesso
à escola, atribui-se a esta instituição a tarefa de superar as desigualdades sociais, constituindo-a
enquanto espaço de oportunidades iguais de acesso ao conhecimento sistematizado.
A escolarização no Brasil foi durante séculos apanágio das elites, em que pese a
existência de propostas educacionais em documentos e estudos, em debates entre
teóricos, filósofos, políticos e religiosos, e em algumas poucas escolas, porém sem um
correspondente em política inclusiva da população como um todo na escola. [...] Com
as pressões populares, com as demandas da expansão industrial e do capital, os
investimentos públicos no ensino fundamental começam a crescer e a demanda por
professores também aumenta. (GATTI e BARRETO, 2009, p. 11).
44
A escola não havia sido preparada para lidar com o novo público que não o
elitizado, com o qual lidava exclusivamente até a expansão de vagas para as camadas populares.
O novo público, por sua vez, apresenta características peculiares envolvendo, além da
diversidade aqui já mencionada, saberes não institucionalizados, de cultura e religiosidade
popular etc. Assim, parece que a escola acaba por negar ou estigmatizar o novo público,
perpetuando de forma sutil as desigualdades que o seu discurso ataca (NOBRE e COSTA, 2009).
democratizado o acesso ao ensino, ainda não foi capaz de democratizar a qualidade do ensino
oferecido, significando então ao mesmo tempo um avanço e um desafio a ser superado.
Colocar indivíduos desiguais por nascimento nas mesmas condições de partida, [...]
Desse modo, uma desigualdade torna-se instrumento de igualdade pelo simples motivo
que corrige uma desigualdade anterior: a nova igualdade é o resultado da equiparação
de duas desigualdades. (BOBBIO, 1996, p. 32 apud NOBRE e COSTA, 2009, p. 1)
A escola não perdeu a qualidade à medida que se estendeu aos setores mais amplos da
população. Na verdade, ela mudou radicalmente, porque sua clientela mudou. Ao
mesmo tempo, tornou-se local de encontro de todos os setores da população e espaço
de repercussão de todas as tensões quem conturbam a vida coletiva na sociedade
moderna. (LEITE, 2011, p. 27)
tem necessariamente que ver com a destinação de recursos que garantam condições mínimas de
desenvolvimento do ensino, tanto para a formação do profissional docente quanto para a estrutura
da instituição escolar.
Uma escola pública preocupada em realizar uma verdadeira inclusão social deve educar
a todos com qualidade, propiciando-lhes uma consciência cidadã que assegure as
condições de enfrentamento aos desafios do mundo contemporâneo. Da mesma forma,
será preciso, reavaliar as práticas existentes e essencialmente recriá-las. Temos,
portanto, além de uma nova clientela, a necessidade de assumirmos novas
características organizacionais e pedagógicas frente às atuais demandas oriundas do
processo de desenvolvimento econômico, científico e tecnológico. (DI GIORGI, LEITE
e RODRIGUES, 2005, p. 3)
Muitas são as expectativas acerca das políticas públicas para a EJA, a fim de
proporcionar a este público uma educação pública de qualidade que priorize as
especificidades culturais, sociais, psicológicas desses sujeitos no processo de ensino-
aprendizagem e de formação humana. Os espaços de reivindicação, diálogo e formação
protagonizam relações de cooperação, debates e conflitos com os governos objetivando
influir diretamente nas políticas pensadas para esta modalidade, inúmeras vezes numa
perspectiva de negação de um direito conquistado há décadas. (SOUZA, GONÇALVES
e CUNHA JUNIOR, 2013, p. 10)
Nosso foco estará, portanto, em tudo o que diz respeito à EJA dentro das
legislações mencionadas acima, a fim de salientar as conquistas em termos políticos e educativos
para qualificar a discussão da importância e relevância desta modalidade de educação, bem como
da formação de professores munidos de conhecimentos específicos para atuação nela.
Desde o final do século XIX até o início do século XX, o contexto nacional é
marcado pelo emergente desenvolvimento urbano que tinha forte influência da cultura europeia.
Referendada pela Lei Saraiva de 1882, incorporada à Constituição Federal de 1891, que impediu
o voto ao analfabeto, a escolarização significava um critério de ascensão social da qual só faziam
parte os que detinham grande poder aquisitivo.
A visão que se tinha do analfabeto nessa época era de uma pessoa inculta,
preguiçosa, ignorante e incapaz, sendo o analfabetismo tido como um mal e uma doença nacional.
Uma citação de Couto (1933) ilustra a situação do analfabeto nessa sociedade: “[...] quase
repelido para fora da espécie pela sua inferioridade, o analfabeto é digno de pena e a nossa desídia
indigna de perdão enquanto não lhe acudirmos com o remédio do ensino obrigatório” (p. 190).
51
No ano de 1947 foi criado o Serviço de Educação de Adultos (SEA), que tinha
por objetivo a orientação e coordenação geral dos trabalhos dos planos anuais de ensino supletivo
para adolescentes e adultos analfabetos. O SEA se designava como “serviço especial” do
Departamento Nacional de Educação e se dividia inicialmente em quatro setores: 1)
Administração de planejamento, 2) Administração de controle, 3) Orientação pedagógica e 4)
Relações com o público. Uma vez instalada a SEA, a União passa a se desenvolver em ritmo
acelerado, tanto que impulsionou um amplo movimento de mobilização da população a favor da
educação de jovens e adultos. “Como parte deste esforço de mobilização dos recursos materiais
e humanos disponíveis, a União também procurou integrar em seu movimento tudo o que já vinha
sendo feito anteriormente nesta área do ensino” (BEISIEGEL, 2004, p. 100).
articulação entre União, Estados e Municípios para a execução dos programas mediante divisão
de atribuições entre as diferentes instâncias do poder público.
de 1961. Enquanto isso, o ensino do SEA continuou a ser desenvolvido na condição de tarefa
secundária dentro das instituições de ensino primário (BEISIEGEL, 2004).
Uma nova perspectiva para a educação brasileira surge no início dos anos 1960
a partir das ideias e experiências desenvolvidas no Recife-PE por Paulo Freire 2, educador por
profissão, advogado por formação, que idealizou e vivenciou uma pedagogia voltada para as
necessidades das classes populares, realizada através da compreensão de sua realidade. A partir
de sua pedagogia de ensino de jovens e adultos se constitui a educação popular.
2
Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) nasceu no Recife e é considerado um dos pensadores mais notáveis da
história da Pedagogia, sendo o brasileiro mais homenageado da história e o único a receber o título de Patrono da
Educação Brasileira.
54
sob este prisma, aparecia como principal instrumento de catalisação do apoio popular ao
governo", acentua Beisiegel (2004, p.172).
3
A Guanabara foi um estado brasileiro que existiu no território do atual município do Rio de Janeiro de 1960 a
1975. Em sua área, esteve localizado o antigo Distrito Federal.
4
Ministro da Educação no Governo João Goulart, de 18 de junho a 21 de outubro de 1963.
56
[...] a alfabetização e educação das massas adultas pelos programas promovidos a partir
dos aos 60 aparecia como um perigo para a estabilidade do regime, para a preservação
da ordem capitalista. Difundindo novas ideias sociais, tais programas poderiam tornar
o processo político incontrolável por parte dos tradicionais detentores do poder e a
ampliação dos mesmos poderia até provocar uma reação popular importante a qualquer
tentativa mais tardia de golpe das forças conservadoras. (PAIVA, 1983, p. 259)
5
Fim do regime democrático no Brasil e o estabelecimento da ditadura militar (1964-1985).
58
consumo. Durante os 15 anos em que vigorou, o MOBRAL alfabetizou apenas 10% das quarenta
milhões de pessoas que frequentaram o programa, não representando grande avanço no âmbito
educacional do país.
direito como caminho para efetivação da democracia educacional inaugura, não apenas para as
crianças, mas principalmente para jovens e adultos uma nova história na educação brasileira".
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
(BRASIL, 1988)
Na visão de Soares (2001, p. 203), “de fato, houve a partir de 1988, uma
expansão significativa e uma institucionalização das redes públicas de ensino quanto ao
atendimento aos jovens e adultos que se encontravam sem acesso à educação”. O autor ressalta
entre as conquistas legais o dever do Estado em garantir a educação para todas as pessoas que a
ela não tiveram acesso, independentemente da faixa etária, pois até então o contexto era de
poucas iniciativas de EJA, incluindo a educação não formal.
[...] muito contribuiu para uma melhoria da qualidade no atendimento à EJA o conceito
ampliado de alfabetização, divulgado principalmente a partir de estudos da Unesco, que
criticava as experiências aligeiradas que não levavam os jovens e adultos a adquirirem
domínio do uso da leitura e da escrita. De acordo com essa concepção, para se
considerar alfabetizado, são necessários, no mínimo, de 4 a 5 anos de estudos, de modo
que o alfabetizador não regresse à situação anterior.
existentes até então. Inicia-se, então, um movimento de contestação quanto "à descontinuação
dos direitos educativos conquistados na transição democrática" em termos nacionais (DI
PIERRO, 2005, p. 1130).
Nessa época, autores como Paiva, Machado, Ireland, Haddad (1997) e Ribeiro
(2004) destacam a separação entre a modalidade e a educação regular, a falta de elo entre os
programas de alfabetização, a questão da diversidade na junção de jovens e adultos em um
mesmo ambiente, a possibilidade de qualificação para o trabalho junto à alfabetização, a
articulação da modalidade com a formação profissional e a necessidade de conclusão da educação
básica, entre outros temas.
4024/61, surgiu a partir da demanda de uma legislação educacional geral e, ainda que tardiamente
consagrada6, foi considerada significativa, pois pela primeira vez o Estado se posiciona frente às
necessidades da educação em todos os níveis, visto que antes as leis eram fragmentadas. Apenas
em 1996 o debate sobre a nova lei foi concluído, significando um grande avanço desde sua
primeira edição no ano de 1961.
6
Demorou quinze anos para ser aprovada.
63
Seção V
Da Educação de Jovens e Adultos
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso
ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não
puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas,
consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de
trabalho, mediante cursos e exames.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador
na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.
§ 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a
educação profissional, na forma do regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que
compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de
estudos em caráter regular (BRASIL, 1996).
O texto da Lei garante o atendimento aos jovens e aos adultos que não tiveram acesso
ou que não deram continuidade aos estudos na idade apropriada no sistema regular. A
partir de 1996, uma série de ações foram propostas na tentativa de garantir o direito aos
sujeitos que se encontravam fora do sistema escolar ou que já apresentavam defasagem
idade série dentro do sistema regular. Mas foi na primeira década dos anos 2000 que
nos deparamos com os primeiros programas voltados para EJA com ênfase à
alfabetização de jovens e adultos, atendimento à demanda educacional e a grupos ou
regiões focais.
64
Antes, essa lei estabelecia que o ensino destinado aos adultos que não tiveram
acesso à educação na idade regular tinha a missão de “suprir a escolarização regular”; a nova lei
afasta-se da ideia de compensação e suprimento e assume papel de reparação, equidade e
qualificação. Tal mudança pressupõe uma nova forma de ver o público da EJA, “faz lembrar que
a ausência da escolarização não pode nem deve justificar uma visão preconceituosa do analfabeto
ou iletrado como inculto ou ‘vocacionado’ apenas para tarefas e funções ‘desqualificadas’ nos
segmentos do mercado” (BRASIL, 2000).
7
Histórico de realização das CONFINTEA’s: I CONFINTEA - Dinamarca, 1949; II CONFINTEA - Montreal, 1963;
III CONFINTEA - Tóquio, 1972; IV CONFINTEA - Paris, 1985; V CONFINTEA - Hamburgo, 1997; O Brasil
sediou a VI CONFINTEA em 2009, sendo a primeira vez que se realizou no hemisfério sul, na América Latina e no
Brasil.
66
A EJA busca formar e incentivar o leitor de livros e das múltiplas linguagens visuais
juntamente com as dimensões do trabalho e da cidadania. Ora, isto requer algo mais
desta modalidade que tem diante de si pessoas maduras e talhadas por experiências mais
longas de vida e de trabalho. Pode-se dizer que estamos diante da função equalizadora
da EJA. A eqüidade é a forma pela qual se distribuem os bens sociais de modo a garantir
uma redistribuição e alocação em vista de mais igualdade, consideradas as situações
específicas. (BRASIL, 2000, p. 9, grifo do autor).
Por tudo o que por nós foi destacado, pensamos que as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a EJA vão muito mais além da função normatizadora e regulamentadora. O
documento é considerado um marco na educação de jovens e adultos no Brasil, uma vez que
supera a concepção de suplência e aligeiramento do ensino, amplamente utilizada e difundida
anteriormente, e por legitimar o direito por uma educação de qualidade (SOUZA, GONÇALVES
e CUNHA JUNIOR, 2013).
Entretanto, sabemos que essas metas não foram alcançadas até o final da
vigência do plano, tendo em vista que a mesma demanda por educação de jovens e adultos ainda
hoje persiste. Entre as principais características da gestão educacional durante os anos 2003 e
2009, no Governo Lula8, está a tentativa de estabelecimento de um compromisso com a educação,
assim como de resgate de direitos e garantias já assegurados na Constituição Federal de 1988 e
na LDBEN/96.
8
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil por dois mandatos: 2003 a 2010.
70
Alfabetizar todas as crianças até o fim do terceiro ano do ensino fundamental e garantir que pelo
menos 95% delas concluam o fundamental na idade recomendada; triplicar o número de matrículas
educação profissional técnica de nível médio;
Elevar a taxa bruta de matrícula da educação superior para 50% da população entre 18 a 24 anos,
garantir que pelo menos 75% dos professores da educação superior sejam mestres e 35%, doutores
e ampliar as matrículas na pós-graduação stricto sensu para atingir a titulação anual de 60 mil
mestres e 25 mil doutores; oferecer educação em tempo integral para pelo menos 25% dos
alunos do ensino básico em pelo menos 50% das escolas públicas;
Garantir que todas as crianças e adolescentes de 4 a 17 anos com necessidades especiais tenham
acesso à educação básica com atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede
regular de ensino;
9
Primeira mulher Presidente do Brasil com primeiro mandato de 2011 a 2014 e reeleita em 2015.
73
Criar, em até um ano, uma política nacional de formação de professores para assegurar que todos
os professores da educação básica possuam curso de licenciatura de nível superior na área de
conhecimento em que atuam;
Em até dois anos, dar condições para a efetivação da gestão democrática da educação, com critérios
de mérito e desempenho e consulta pública à comunidade escolar;
Atingir o investimento do equivalente a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) na educação pública.
Reduzir para 6,5% a taxa de analfabetismo da população maior de 15 anos até 2015 e erradicá-la
em até dez anos; no mesmo período, reduzir a taxa de analfabetismo funcional pela metade;
Garantir que pelo menos 25% das matrículas da educação de jovens e adultos (EJA) sejam
integrados à educação profissional.
Por esta razão defendemos que a EJA necessita de elementos apropriados para
atender às demandas dos sujeitos que, em sua diversidade cultural, étnica, religiosa, sexual, social
74
Vale ressaltar que não é pela via do pessimismo que apontamos os problemas
e desafios da EJA, mas pela via da denúncia e da reflexão que nos cabe enquanto profissionais
da educação brasileira. Por isso, discutiremos no próximo item os aspectos que envolvem a
formação do professor de jovens e adultos, a fim de traçar as perspectivas e tendências atuais
para este campo profissional de atuação docente.
campo de trabalho do pedagogo e deve ser, portanto, contemplada dentro do projeto pedagógico
das instituições formadoras que fazem a opção pela formação específica nessa área.
O Pedagogo deve ter clareza que, em seu processo de formação inicial, está
sendo preparado para o trabalho com crianças e também jovens, adultos e idosos, sujeitos que
representam toda a diversidade brasileira, que podem ou não apresentar deficiências físicas e/ou
intelectuais e que têm seu direito de acesso e permanência na escola previsto na política
educacional brasileira.
Em nosso país, o professor dos Anos Iniciais da EJA é formado dentro do curso
de Licenciatura em Pedagogia e por isso defendemos que a formação inicial do Pedagogo deve
considerar a especificidade de todas as modalidades de ensino, em especial a da EJA, uma vez
que caberá a esse profissional a missão de oferecer à pessoa analfabeta, ou de baixa escolaridade,
todo o conhecimento que teve negado ao ser excluído da escola. Os sujeitos da EJA enfrentam
cotidianamente a falta da decodificação do código linguístico, do conhecimento dos saberes
letrados, da compreensão de textos, da aproximação com a tecnologia, com o mundo globalizado,
aspectos de uma sociedade que se desenvolve a cada dia mais, ainda que uma parte significativa
da população esteja às margens de todo o desenvolvimento.
explorado por sua exploração e o analfabeto por sua não alfabetização. A exclusão do acesso ao
ensino priva as pessoas delas mesmas, de quem poderiam ser caso tivessem outras oportunidades,
de uma melhor condição financeira caso tivessem estudado, da profissão que poderiam
desempenhar, enfim, da dignidade de terem decisão sobre o próprio destino. Ao tomar
consciência da complexidade do sistema excludente, essas pessoas podem se descobrir vítimas
dele.
A sintonia da educação aos contextos nos quais ela se processa dá à Educação de Jovens
e Adultos contornos móveis, em acordo com os desafios sociais, políticos e econômicos
trazidos às populações que já ultrapassaram a fase da infância e da adolescência. Isso
cobra dos que se dedicam ao trabalho da EJA uma atenção permanente às demandas
sociais e às possibilidades do fazer educativo. (B da SILVA, 2006, p. 204)
Freire (1987) afirma que a vocação para a humanização, chamada por ele de
vocação ontológica do ser, caracteriza-se pela busca do “ser mais”, processo em que o ser
humano curiosamente busca o conhecimento de si mesmo e do mundo, a fim de conquistar sua
liberdade. “Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo”.
Nesse sentido, o ser humano é um ser em constante busca por sua autonomia:
Autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser. Não ocorre
em data marcada. É neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar
centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer,
em experiências respeitosas da liberdade. (FREIRE, 2002, p. 65)
O ser humano para Freire (1987) tem rostos reais, trajetórias reais; ele os chama
de "esfarrapados do mundo", deixando claro sua posição de oprimidos em uma sociedade
capitalista e desigual. Por essa questão, somos seres em busca, “seres que estão sendo, como
seres inacabados, inconclusos, em e com uma realidade, que sendo histórica também, é
igualmente inacabada" (FREIRE, 1987, p. 42).
Na verdade, diferentemente dos outros animais, que são apenas inacabados, mas não
são históricos, os homens se sabem inacabados. Têm a consciência de sua inconclusão.
Aí se encontram as raízes da educação mesma, como manifestação exclusivamente
humana. Isto é, na inconclusão dos homens e na consciência que dela têm (FREIRE,
1987, p. 42).
Por isso refletimos a educação desenvolvida dentro das universidades, que tem
como tarefa formar o professor para ensinar a leitura e a escrita da palavra através da leitura de
mundo dos alunos; e refletir a educação para B. Silva (2006), é
[...] pensar a pessoa, em qualquer etapa da sua vida, é discernir o homem e a mulher no
seu tempo histórico, nas relações que esses estabelecem consigo e com a natureza; é
desvendar a organização social do mundo, o lugar das pessoas nesse mundo, o porquê
do modo de vida de cada um; é pensar as identidades, as razões para ser o que se é ou
para as suposições elaboradas em torno de si mesmo e do outro; é discutir linguagens;
é conhecer circunstâncias da vida humana, para mantê-las ou para transformá-las; é ação
compromissada com a busca de melhorias na qualidade de vida das pessoas. A meta da
educação é vasta, como vastas são as possibilidades para sua efetivação. Pensar a
educação é pensar o mundo. E o mundo é desigual, complexo, mutante, movido pelos
fenômenos naturais e pelos fenômenos da ação humana. (B. SILVA, 2006, p. 202)
(GATTI e BARRETO, 2009). Cabe citar que esse modelo permaneceu sendo oficial até os anos
1960, ainda que fortemente criticado pela separação entre teoria e prática (AZEVEDO, 2012).
As escolas normais foram então extintas pela Lei nº 5.692 de 1971 que
reformou a educação básica no Brasil. Agora a formação do professor de educação básica passa
a ser realizada em uma “habilitação” do ensino de segundo grau denominada “magistério”. Essa
mudança, segundo Gatti e Barreto (2009, p. 38), ocasionou a perda de algumas de suas
especificidades “dado que, sendo uma habilitação entre outras, deveria ajustar-se em grande parte
ao currículo geral do ensino de segundo grau (hoje, ensino médio) ”.
Azevedo (2012) diz que, de modo geral, tal reforma não atendeu às
expectativas da formação de professores da época, isso porque foram feitas muitas críticas à
81
Com o fim das Escolas Normais e a introdução da Habilitação Magistério, entre outras
habilitações do então 2º grau, a formação do professor de 1ª a 4ª séries terminou sendo
feita por um currículo disperso, tendo ficado sua parte de formação específica, de fato,
muito reduzida em razão da nova estrutura curricular desse nível de ensino. (GATTI e
BARRETO, 2009, p. 39)
É no ano de 1986 que o CFE aprova o Parecer nº 161 que trata da Reformulação
do Curso de Pedagogia, oferecendo a possibilidade da oferta também para a formação de
docentes de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental, prática que já estava em fase de experimentação
em algumas instituições ainda que a formação não tivesse foco nos primeiros anos.
É nesse contexto que a LDBEN/96 vem tratar, entre diversas outras questões,
da formação de professores da educação básica em um capítulo especial intitulado “Os
profissionais da educação”, Título IV, e dentro dos Artigos 62 e 63 aborda a questão institucional
da formação de professores. Vejamos o que dispõem os artigos:
Concordamos com Leite (2011) em sua afirmação, tendo em vista que a nova
LDBEN avança nas determinações para a formação do professor, necessidade primordial para a
melhoria da qualidade do ensino:
Gatti e Barreto (2009) também chamam a atenção para o fato de haver nos
cursos formadores de professores a separação formativa entre professor polivalente – educação
infantil e primeiros anos do ensino fundamental – e professor especialista de disciplina, como
também para estes ficou consagrado o seu confinamento e dependência aos bacharelados
disciplinares. Tal diferenciação gerou um valor social para o professor polivalente, e vigora até
os dias de hoje, dentro e fora da academia: nos cursos, na carreira, no salário e, para Gatti (2010,
p. 1359), sobretudo “nas representações da comunidade social, da acadêmica e dos políticos,
mesmo com a atual exigência de formação em nível superior dos professores dos anos iniciais da
educação básica”, a ponto de se poder afirmar que a estrutura das instituições e dos cursos
formadores de professores encontram enfrentamento para reformular a formação desenvolvida
por resquícios da representação tradicional na que foi fundada.
86
Passados vinte anos, é doloroso perceber a atualidade dos fatos narrados por
Haddad e Di Pierro (1994), que falam da formação de professores de EJA ainda na década de
1990, salientando a necessidade de uma formação específica para a atuação no ensino de jovens
e adultos.
10
Ano em que também ocorreu o I Congresso Nacional de Educação de Adultos, realizado no Rio de Janeiro.
87
considerar que ensinar a adultos era “mais simples e mais rápido” do que ensinar a crianças.
Apesar disso, em sua gestão foi produziu um guia especificamente para a preparação do professor
que atuaria no ensino supletivo, o que denota a concretização do que vinha sendo já discutido
(SOARES, 2004).
Embora não seja uma novidade, e que nos últimos anos se tenha
problematizado mais fortemente a formação de docentes para a EJA, seja nos espaços
democráticos de discussão ou na academia, esse campo de estudo carece de evidência, uma vez
considerando o contexto ainda atual de analfabetismo que persiste no Brasil.
[...] esse caráter histórico desfigurado dessa EJA explica por que não temos uma
tradição de um perfil de educador de jovens e adultos e de sua formação. Isso implica
sérias consequências. O perfil do educador de jovens e adultos e sua formação encontra-
se ainda em construção. Temos assim um desafio, vamos ter que inventar esse perfil e
construir sua formação. Caso contrário, teremos que ir recolhendo pedras que já existem
ao longo de anos de EJA e irmos construindo esse perfil da EJA e, consequentemente,
teremos que construir o perfil dos educadores de jovens e adultos e de sua formação.
(ARROYO, 2006, p. 18)
atuarem também em salas de EJA sem que lhes seja fornecido instrumentos e formação
pedagógicos para o trabalho com esse público. “Se pretendemos configurar a educação de jovens
e adultos por esse lado, acho que não tem sentido discutirmos a formação do educador de jovens
e adultos”, diz Arroyo (2006, p. 20).
Não é qualquer jovem e qualquer adulto. São jovens e adultos com rosto, com histórias,
com cor, com trajetórias sócio-étnico-raciais, do campo, da periferia. Se esse perfil de
educação de jovens e adultos não for bem conhecido, dificilmente estaremos formando
um educador desses jovens e adultos. Normalmente nos cursos de Pedagogia o
conhecimento dos educandos não entra. A Pedagogia não sabe quase nada, nem sequer
da infância que acompanha por ofício. Temos mais carga horária pra discutir e estudar
conteúdos, métodos, currículos, gestão, supervisão, do que para discutir e estudar a
história e as vivências concretas da infância e da adolescência, com o que a pedagogia
e a docência vão trabalhar. Em relação à história e às vivências concretas da condição
de jovens e adultos populares trabalhadores as lacunas são ainda maiores. (ARROYO,
2006, p. 22)
[...] como lidar com alunos que chegam cansados, a ponto de dormir durante quase toda
aula? Como auxiliar os alunos no seu processo de aprendizagem, com atendimento extra
ou atividades complementares, se uma grande parte deles trabalha mais de oito horas
diárias, inclusive no final de semana? Como atender as diferenças de interesse
geracional, tendo na mesma sala adolescentes e idosos? Como administrar, no processo
ensino-aprendizagem, as constantes ausências, em sua maioria justificadas por questões
de trabalho, família e doença? (MACHADO, 2008, p. 165)
Nesse contexto, Soares (2001, p. 211-212) afirma que “a EJA deve perguntar
primeiro que realidade há de transformar, e depois o que pode fazer a educação para que essa
transformação seja de melhor qualidade”. Dito de outro modo, o autor enfatiza que uma vez que
se reconhece as especificidades da EJA, o próximo passo é, a partir dessas peculiaridades,
estabelecer os parâmetros para o perfil do educador dessa modalidade e assim constituir uma
política específica para a sua formação.
11
Homologada em 2006, extinguiu as habilitações do curso de Pedagogia.
90
Para o desenvolvimento desta última parte, estabelecemos uma divisão para avaliar
os desafios ainda a ser superados na política educacional brasileira concernente à EJA e à formação
específica para professores dos Anos Iniciais dessa modalidade de ensino. A primeira parte chamamos
de Desafios Macro, a qual discute as dificuldades da efetivação das políticas públicas, o mercado e
outros aspectos trabalhistas que envolvem a docência na EJA. Já a segunda parte, por nós denominada
de Desafios Micro, vai analisar o ponto chave de discussão da nossa pesquisa que são os desafios da
93
formação de professores para a EJA, refletindo sobre a ausência de formação específica para o ensino
de adultos na formação do pedagogo.
Desse modo, a luta pela efetivação das políticas de EJA ainda é recorrente, tendo
em vista que para sua implementação deve haver o compromisso mútuo das três esferas - Nação,
Estados e Municípios - trabalhando em regime de colaboração. Ao abordar os desafios da efetivação
das políticas de EJA, salientamos que ainda que esta modalidade de ensino tenha se tornado direito
constitucional, com previsão de efetivação pelas legislações pertinentes, a implementação das políticas
ainda é barrada por burocratizações e desinteresse por parte de governos.
mudança necessária para que as políticas públicas sejam implementadas, com vistas a superar a
enorme cifra de analfabetos no país.
Com maior razão, pode-se dizer que o preparo de um docente voltado para a EJA deve
incluir, além das exigências formativas para todo e qualquer professor, aquelas relativas
à complexidade diferencial desta modalidade de ensino. Assim esse profissional do
magistério deve estar preparado para interagir empaticamente com esta parcela de
estudantes e de estabelecer o exercício do diálogo. Jamais um professor aligeirado ou
motivado apenas pela boa vontade ou por um voluntário idealista e sim um docente que
se nutra do geral e também das especificidades que a habilitação como formação
sistemática requer. (BRASIL, 2000ª, p. 56).
ser desenvolvida ainda em seu processo de formação inicial, desde que a EJA seja tratada de
forma adequada nos cursos de Licenciatura em Pedagogia.
5. PERCURSO METODOLÓGICO
12
A montagem do Quadro faz parte de uma tradição que tem sido adotada pelos pós-graduandos do Grupo de
Orientandos da Professora Yoshie Ussami Ferrari Leite e que tem se mostrado muito eficaz na compreensão do
desenho da investigação, pois evidencia os passos a serem tomados, as fontes de coleta de dados, enfim, as
possibilidades de atingir os objetivos da pesquisa.
99
PESQUISA: O PROCESSO DE FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS DA EJA: UMA ANÁLISE DO CURSO DE PEDAGOGIA
DE UNIVERSIDADES ESTADUAIS DE SÃO PAULO
QUESTÃO DE PESQUISA: QUAL O ESPAÇO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) DENTRO DO CURSO DE PEDAGOGIA DAS
UNIVERSIDADES ESTADUAIS DE SÃO PAULO?
OBJETIVO GERAL: INVESTIGAR O ESPAÇO DA EJA DENTRO DO PROCESSO DE FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DAS TRÊS
UNIVERSIDADES ESTADUAIS DE SÃO PAULO A PARTIR DA ANÁLISE DOS CURSOS DE PEDAGOGIA.
Categoria/ Instrumento/
Questões-problema Objetivos específicos Fonte Questões da entrevista
Indicadores Procedimento de análise
Outro procedimento por nós adotado foi a análise documental que, de acordo
Cellard (2008), pode ser um procedimento muito útil na área das Ciências Humanas e Sociais,
dada a riqueza de informações que deles se pode extrair e resgatar, além da possibilidade que
oferecem para o entendimento de objetos cuja compreensão necessita de contextualização
histórica e sociocultural. Colocar em destaque a pesquisa documental implica trazer para a
discussão uma metodologia que é “pouco explorada não só na área da educação como em outras
áreas das ciências sociais” (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p.38), quando, de fato
104
[...] o documento escrito constitui uma fonte extremamente preciosa para todo
pesquisador nas ciências sociais. Ele é, evidentemente, insubstituível em qualquer
reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele
represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em determinadas
épocas. Além disso, muito freqüentemente, ele permanece como o único testemunho de
atividades particulares ocorridas num passado recente. (CELLARD, 2008, p.295)
Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de certos
questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e
que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que
vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o
informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas
experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar
na elaboração do conteúdo da pesquisa. (TRIVIÑOS, 2008, p. 146)
eles um campo de trabalho. A escolha pela utilização do questionário deve-se ao fato de que essa
ferramenta, segundo Silva (2000, p. 74), “apresenta a vantagem de possibilitar e contemplar um
número elevado de pessoas, em um curto espaço de tempo”.
13
Também a nomenclatura que designa este tipo de informante sofreu alteração para que não se confundissem os
Professores da Universidade com os anteriormente intitulados “Professores da EJA”.
107
de Referência para a Coleta de Dados, apresentado no início do capítulo, o qual passou por uma
avaliação e aperfeiçoamento das questões pensadas a priori, munindo-o de visão mais madura e
consciente da metodologia e de sua aplicabilidade dentro da pesquisa. Ambos os roteiros podem
ser conferidos nos apêndices desta dissertação.
retomada das hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa em relação ao material coletado, bem
como a elaboração de indicadores que orientarão a interpretação final (FRANCO, 2008).
Após a definição das categorias de análise das mensagens, que podem ser
comparadas a “caixas de sapatos dentro das quais são distribuídos objetos", é necessária uma
classificação dos elementos referidos, como se fossem distribuídos em “gavetas” (BARDIN,
1997, p. 64). Nas palavras do autor: “É o método das categorias, espécie de gavetas ou rubricas
significativas que permitem a classificação dos elementos de significação constitutivos da
mensagem” (BARDIN, 2010, p. 38).
Seguindo a mesma analogia, pode-se ter um armário com várias gavetas, cada
uma com uma designação, onde objetos serão distribuídos a partir de tal designação, ou seja, os
objetos de cada gaveta devem ter uma relação entre si (FRANCO, 2008). Desse modo, “Formular
categorias, em análise de conteúdo, é por via de regra um processo longo, difícil e desafiante”
(FRANCO, 2008, p. 58), procedimento que, ainda segundo esta autora, implica em constantes
idas e vindas da teoria ao material de análise e vice e versa.
Essas foram as questões que orientaram a análise dos PPP’s dos cursos de
Pedagogia da USP, UNESP e UNICAMP que nos serviram de apoio na verificação da situação
da EJA em cada um dos documentos, ainda que nem todos os PPP’s trouxessem em seu conteúdo
110
É importante frisar que, por mais que tenhamos trabalhado com os documentos
mais atuais de cada curso, algumas informações contidas nos PPP’s diferem da atual prática de
formação, o que só pudemos constatar no momento da visita à Universidade. Por isso, os dados
aos quais tivemos acesso por meio da análise documental foram estritamente organizados a partir
das informações do documento em questão, por sua vez elaborado pela própria coordenação do
curso no momento de construção do PPP vigente, ficando a ela a responsabilidade da veracidade
dessas informações.
Enfatizamos que a leitura dos PPP’s se deu através das questões elencadas pelo
Roteiro para Análise dos Projetos Políticos Pedagógicos, por nós elaborado a fim de garantir um
aproveitamento da leitura e o desvelamento das informações buscadas.
Esta, de longe, foi uma das etapas mais complicadas de nossa pesquisa, pois
tivemos muitas dificuldades para encontrar os sujeitos informantes, sobretudo os que já não
tinham vínculo com a Universidade: os egressos dos cursos com atuação na EJA. Assim, sabendo
do desafio de localizar os sujeitos, iniciamos nossa busca pela internet, onde encontramos o
contato dos coordenadores dos cursos de Pedagogia que, por sua vez, já sinalizavam a existência
ou não de uma disciplina específica de educação de jovens e adultos. O contato primeiro com o
14
https://www.google.com.br/maps
112
coordenador do curso nos abriu caminhos para localizar os professores de disciplina específica e
os graduandos do último ano do curso de Pedagogia, constituindo quase que 75% dos sujeitos da
pesquisa.
O apoio vindo por parte dos coordenadores dos cursos e das Secretarias
Municipais de Educação certamente foi crucial para que completássemos a coleta dos dados
empíricos, dada a quantidade e diversidade dos sujeitos informantes da pesquisa, sem contar a
dificuldade de se situar em outra cidade, tendo em vista a abrangência estadual da investigação.
1 1 1 1 5 1 5 3
USP
1 1 1 1 5 5 5 2
UNESP de Araraquara
1 1 1 1 5 5 5 5
UNESP de Marília
1 1 1 1 5 5 5 5
UNESP de P. Prudente
1 1 1 1 5 0 5 0
UNICAMP
5 5 5 5 25 16 25 15
TOTAL
identificar aspectos pessoais dos sujeitos a fim de traçar seu perfil em relação ao seu sexo, idade,
estado civil e atuação profissional. Apresentaremos a seguir o perfil dos sujeitos Coordenador do
Curso de Pedagogia, Professor de disciplina específica de EJA, Graduandos do último ano do
curso de Pedagogia e Egressos do curso de Pedagogia com atuação na EJA das Universidades
pesquisadas.
115
6. RESULTADOS E ANÁLISES
Uma vez que nossa pesquisa abrange quatro tipos diferentes de sujeitos
informantes, pensamos ser relevante considerar aspectos de sua identidade pessoal e profissional
ao analisarmos suas falas. Por isso, este item apresenta informações contidas no roteiro de
entrevista e questionário que abordaram dados de caráter pessoal, como: sexo, idade, estado civil
e ainda dados referentes à sua trajetória de formação e atuação profissional.
considerarmos seu perfil nas análises de suas falas para que possamos melhor compreender seu
ponto de vista.
Aos sujeitos Egressos dos Cursos de Pedagogia com atuação na EJA também
foram aplicados questionários. Ao todo 15 responderam e formulamos o seguinte perfil: maioria
de mulheres, com idade média de 30 a 40 anos, casadas. No que tange à renda mensal individual,
a maior parte afirma ganhar de 3 a 4 salários mínimos. Sobre a atuação profissional atual: dez
responderam estar trabalhando como professores - sendo três da EJA, quatro de atendimento
educacional especializado e um da Educação Infantil -, dois egressos atuam na orientação
pedagógica de escolas e um se diz professor coordenador. Os demais não responderam.
117
Por se tratar de uma pesquisa que analisou cinco Cursos de Pedagogia das três
Universidades Estaduais de São Paulo, USP, UNESP e UNICAMP, a apresentação das análises
respeitará a especificidade e a realidade de formação de cada um dos cursos.
De acordo com Gatti e Barreto (2009), verifica-se maior propensão dos cursos
de Pedagogia na oferta de disciplinas relativas a fundamentos teóricos da educação e um menor
percentual de disciplinas relativas ao aprofundamento sobre a educação infantil, EJA ou
educação especial, ou mesmo dos conhecimentos referentes ao magistério das séries iniciais do
ensino fundamental.
alunos da graduação, desenvolvem projetos nas escolas de EJA e contam com o apoio de alunos
com bolsas de iniciação científica.
Além disso, o curso conta com aproximadamente 840 alunos, sendo que 2/3
dos alunos frequentam o período noturno. Dessa forma, o campo privilegiado de estágio é a
Educação de Jovens e Adultos, no qual os alunos vão estagiar na Alfabetização e ensino de
Matemática e Ciências para adultos. Há uma forte demanda de estágios no CIEJA (Centro
Integrado de Educação de Jovens e Adultos), que são escolas de EJA frequentados
principalmente por alunos com deficiência. Dessa forma, o Coordenador do curso de Pedagogia
da USP ressalta a oportunidade dos graduandos se aproximarem de dois campos: Educação de
Jovens e Adultos e Educação Especial. Porém, observamos que essa demanda decorre da falta
de possibilidades de estagiar no ensino regular, o qual se dá no período matutino ou vespertino.
Eu penso que o nosso curso fornece os elementos iniciais para pensar nisso, eu não
digo que o nosso curso seja completo e seja suficiente, mas ele dá os elementos iniciais
para o futuro pedagogo pensar a docência nesses espaços.
Em contrapartida, todos os sujeitos, até mesmo o graduando que ainda não atua
na área e mencionou que não se sente preparado para tanto, consideram a EJA um campo
interessante de atuação. A respeito disso, obtivemos as seguintes respostas:
Sim, porque mesmo com o pouco conhecimento que tenho e com o que pude aprender
na disciplina cursada, a EJA é um campo de trabalho que me interessa. (Sujeito 1 -
graduando)
Atuo na EJA e vejo como um possível campo de trabalho, sobretudo por tratar-se de
uma modalidade da Educação Básica e pela importância social da Educação de Jovens
e Adultos. (Sujeito 2 - egresso)
Sim, porque já atuo na EJA e me identifico com essa modalidade. (Sujeito 3 – egresso)
Sim, pois já fui professora na instituição SESI e é uma etapa da Educação que me
interessei. (Sujeito 4 - egresso)
A pesquisa mostrou que, mesmo com a crescente visibilidade que tem tido a EJA, seja
na instância das práticas, seja como campo de estudos e pesquisas, ainda não existe uma
efetiva demanda para uma formação específica do educador que atua com esse público
no campo de trabalho. Mesmo que a formação inicial ofertada pela universidade seja
considerada de qualidade, os egressos não necessariamente têm essa qualificação
valorizada no momento da inserção profissional. Não existe, assim, uma relação estreita
entre formação inicial na universidade e campo de atuação. Essa situação pode ser
explicada – pelo menos parcialmente – pela própria configuração histórica da EJA no
Brasil, fortemente marcada pela concepção de que a educação voltada para aqueles que
não se escolarizaram na idade regular é supletiva e, como tal, deve ser rápida e, em
muitos casos, aligeirada. (SOARES, 2007, p. 36)
Pensamos que a fala de Gatti (2010, p. 1375) vai ao encontro das ideias de
Soares (2009) quando esta autora afirma que
A formação de professores não pode ser pensada a partir das ciências e seus diversos
campos disciplinares, como adendo destas áreas, mas a partir da função social própria
à escolarização – ensinar às novas gerações o conhecimento acumulado e consolidar
valores e práticas coerentes com nossa vida civil.
Na descrição do estágio curricular, que prevê estágio que contemple a educação infantil, as
séries iniciais do ensino fundamental, a educação de jovens e adultos e espaços de educação
formal e não-formal e
também com o contato da especificidade dessa modalidade através do estágio na sala de aula de
adultos, confrontando teoria e prática ainda em seu processo de formação inicial.
No curso, havia uma professora, Sônia Jubilei, muito engajada com a EJA, mas
que se encontra aposentada há sete anos. Atualmente, há duas professoras recém-contratadas que
têm em suas pesquisas e trajetórias acadêmicas uma aproximação com a Educação de Jovens e
Adultos: Débora Jeffrey e Sandra Leite.
[...] uma disciplina de caráter mais teórico de aproximação do aluno com o campo da
Educação de Jovens e Adultos, uma aproximação com a legislação e com o que está
posto, e aí a prática efetiva do trabalho com a Educação de Jovens e Adultos se dava
eventualmente nos estágios, mas essa disciplina em especial tinha um caráter mais
teórico.
Acho que falta formação na Educação Infantil, no Ensino Fundamental, acho que
sempre há limites grandes do curso. Mas, em relação à Educação de Jovens e Adultos,
eu acho que ela se faz presente no currículo, mas é, sem dúvida, ainda de uma forma
tímida. Acho que a gente tem muito que fazer. (Coordenadora do curso)
A gente não consegue dar conta em uma disciplina. É porque se você for pensar deveria
ser uma graduação “formação de professores em EJA” e nem sei se alguém daria conta
até o final, porque são diferentes espaços e diferentes necessidades também.
(Professora entrevistada)
128
Devido ao não oferecimento da disciplina específica nos últimos sete anos, não
aplicamos questionários junto a graduandos e egressos, uma vez que não é possível questionar
uma formação que não tem sido oferecida.
Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças
que o conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende
ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (FREIRE, 2006, p. 23)
O grave é não ver os jovens e adultos populares da EJA como trabalhadores, formando-
se e deformando nas precaríssimas vivências do trabalho e da sobrevivência. Quando
voltam da sobrevivência e do trabalho para a escola podemos vê-los apenas como
escolares, defasados idade-série e ignorar sua condição de trabalhadores. Com esse
olhar não captaremos as marcas formadoras ou deformadoras que levam do trabalho.
Perderemos a oportunidade de reconhecer o trabalho como matriz educativa.
(ARROYO, 2006, p. 27)
15
Esse é o único campus da UNESP no qual a sigla PEJA significa Projeto de Educação de Jovens e Adultos; os
demais o denominam Programa de Educação de Jovens e Adultos. Frisamos que este projeto de extensão está
presente em 7 campus da UNESP (Araraquara, Assis, Bauru, Marília, Presidente Prudente, Rio Claro e São José do
Rio Preto).
16
http://www.fclar.unesp.br/#!/graduacao/cursos-de-graduacao/pedagogia/horarios/
130
de discussão, verificamos que o curso não se configura para realizar um trabalho ligando essa
formação em específico a uma disciplina. A coordenadora ressaltou que, nas oportunidades
cabíveis, a EJA é abordada, como em algumas discussões em eventos, por exemplo.
O professor responsável por essa disciplina mencionou que, tempos atrás, ela
se caracterizava de maneira diferente, com o nome de “Educação de Jovens e Adultos, Economia
Solidária e Desenvolvimento Sustentável”. Contudo, a demanda maior era de alunos do curso de
Ciências Sociais, e não propriamente de Pedagogia, por conta de seu eixo principal, a Economia
Solidária.
[...] é uma lacuna lastimável sair do curso de Pedagogia e não ter lido nada de Paulo
Freire praticamente, ficam apenas essas noções de internet, frases de efeito que é
interessante porque trata o autor, mas não dá uma ideia nem de longe do que é o
pensamento dele e a riqueza das coisas que ele escreveu. Então eu pego um pouco do
Paulo Freire, mas eu faço um recorte pelo método e eu trabalho um pouco isso, a
Educação de Jovens e Adultos na sala de aula.
Percebemos nesta fala uma ênfase às obras de Paulo Freire como opção teórico-
metodológica da disciplina. Sobretudo, busca-se um repertório nos estudos da Pedagogia
Histórico-Crítica, principalmente de Saviani, pelo fato do professor trabalhar com base nessa
131
abordagem. Ele acredita que adotar um método é fundamental, mas defende que o educador deve
transitar entre diferentes aportes. Concordamos com tal posicionamento, uma vez considerando
a diversidade dos alunos da EJA, o que requer um trabalho pautado em sua bagagem cultural e
em suas vivências.
O que tenho dito sem cansar, e redito, é que não podemos deixar de lado, desprezado
como algo imprestável, o que educandos [...] trazem consigo de compreensão do
mundo, nas mais variadas dimensões de sua prática na prática social de que fazem parte.
Sua fala, seu modo contar, de calcular, de seus saberes em torno da saúde, do corpo, da
sexualidade, da vida, da morte, da força dos santos, dos conjuros. (FREIRE, 1992, p.
85-86)
O foco para se definir uma política para a educação de jovens e adultos e para a
formação do educador da EJA deveria ser um projeto de formação que colocasse a
ênfase para que os profissionais conhecessem bem quem são esses jovens e adultos,
como se constroem como jovens e adultos e qual a história da construção desses jovens
e adultos populares. Não é a história da construção de qualquer jovem, nem qualquer
adulto. São jovens e adultos que têm uma trajetória muito específica, que vivenciam
situações de opressão, exclusão, marginalização, condenados à sobrevivência, que
buscam horizontes de liberdade e emancipação no trabalho e na educação. (ARROYO,
2006, p. 23)
para educandos de EJA, com o intuito de se apropriar mais de seu objeto de estudo. Essas
experiências são apresentadas aos graduandos ao longo da disciplina optativa do curso.
Não, espero que não. Sinceramente espero que eles não se achem preparados porque
eles têm que ter a noção de que a formação do professor, primeiro, é sempre inconclusa
e, segundo, ela não pode ser feita dessa forma aligeirada que é feita. (Professor)
Se eu falar pra você “estão”, não estão, porque nós não temos um eixo de formação.
[...] Nós não pensamos, não formamos e não temos massa crítica no sentido de
pesquisadores que estejam envolvidos com esta formação no nosso curso.
(Coordenadora do Curso de Pedagogia)
Dessa forma, podemos considerar por meio das entrevistas que os graduandos
do curso de Pedagogia da UNESP de Araraquara não se formam com um repertório teórico-
metodológico suficiente para assumir um compromisso de educar jovens e/ou adultos que
estejam frequentando a EJA. Pelo contrário, é optativa a participação na disciplina oferecida, esta
que não é requerida pela maior parte dos alunos do curso de Pedagogia da Universidade tendo
em vista seu último oferecimento que já passa de dois anos.
maioria respondeu que não é oferecida formação suficiente a respeito dessa modalidade da
educação. Destacamos a fala de um aluno egresso:
Realmente não houve nem sequer disciplinas específicas, carga horária então... penso
que a maior dificuldade/entrave é preparar aulas/atividades quem atendam as
especificidades dos alunos adultos, pois a formação geralmente é pensada para as
crianças.
Sim, com certeza, pois como profissional me encontro quando faço atividades em sala
de aula, há um interesse maior na busca de aprendizado na EJA. (Sujeito 2)
Sim, pois para mim ser professor não é somente lecionar para crianças, mas também
dar oportunidade do estudo para aqueles que não puderam ou não tiveram
oportunidades de estudar e se alfabetizar. (Sujeito 3)
Talvez, pois no período que estagiei na sala de EJA me interessei muito pela área,
porém em nenhum momento da graduação fui estimulada para isso. (Sujeito 5)
As dificuldades são grandes, pois o planejamento de aula que atenda adultos com muita
e diferenciada vivência é muito diferente do plano de aula para um grupo de alunos
com 9, 10 anos. A metodologia também precisa ser muito pensada e o tempo para que
as aprendizagens ocorram é muito reduzido.
134
Como relatado, não recebi formação específica em minha graduação e minha pós-
graduação fugia inclusive dos conhecimentos da graduação. Penso que minha vivência
como professora (24 anos) contribuiu para que aprendesse que nunca vencemos o
conhecimento e temos sempre que buscá-lo. Neste ano até me inscrevi num curso online
sobre o ensino de EJA, mas ao iniciá-lo percebi que era muito voltado aos anos finais,
mesmo sendo oferecido em parceria com o MEC. Gostaria de comentar ainda que os
alunos da EJA merecem toda a atenção que a Universidade e os pesquisadores possam
dedicar.
Nesse mesmo sentido, Machado (2010) diz que a formação dos educadores de
jovens e adultos precisa estar voltada para suas peculiaridades e partir de dois princípios básicos:
o diálogo e a investigação.
135
possibilidades de especificidade dentro do curso, a ênfase dos núcleos está na atuação com
crianças. Arroyo (2006) contribui nessa discussão quando afirma que
A teoria pedagógica foi construída com o foco na infância, vista como gente que não
fala, que não tem problemas e que não tem interrogações, questionamentos. A
pedagogia de jovens e adultos tem de partir do oposto disso. Tem de partir de sujeitos
que têm voz, que têm interrogações, que participam do processo de formação. Sujeitos
em outros processos de formação; logo, não pode ser a mesma pedagogia, o mesmo
pensamento pedagógico. (ARROYO, 2006, p. 26)
a gente que estuda Paulo Freire não tem como não tocar nessas questões da Educação
de Jovens e Adultos, e com certeza quando se estuda políticas públicas e outras
disciplinas que possivelmente toquem nestas questões também.
Não sei se eles teriam esse preparo, essa visão, não só o preparo de ir pra sala de aula,
mas a visão do que acontece, o porque existe a educação de jovens e adultos ainda hoje
entre nós, porque um grande número de pessoas não teve acesso à escola ainda, então
até mesmo a visão da realidade social que nós vivemos. Talvez falte ainda apesar de
discutir em outros momentos, porque como não é obrigatória, isso acaba ficando por
parte dos alunos. (Coordenador do curso)
Eu considero que a carga horária que nós temos é muito restrita, mas esse é um
problema de difícil resolução na Pedagogia até pela forma como a grade curricular
dela vem sendo constituída, mas nós acreditamos que o trabalho que é feito com a
disciplina permite que os estudantes, futuros professores, se apropriem de princípios,
de conceitos ligados à prática docente que poderiam ser aprofundados ou na pós-
graduação ou mesmo num processo de formação continuada. (Professor entrevistado)
A carga horária é bem discrepante, sendo que apenas uma disciplina em um único
semestre a EJA é abordada. (Sujeito 3)
A carga horária da disciplina de EJA é muito pouca para um conteúdo importante.
(Sujeito 5)
Fui aluna da EJA e pretendo ajudar outras pessoas a chegar até à universidade.
(Sujeito 2 - graduando)
Os censos indicam que ainda há muitos brasileiros em fase adulta não-alfabetizados
ou que não concluíram os estudos, ou seja, há demanda. (Sujeito 7 – egresso)
A EJA é para mim uma realização profissional e pessoal, na EJA você aprende a buscar
soluções para os problemas encontrados na sala de aula. (Sujeito 8 – egresso)
O fato de um dos sujeitos graduandos ter sido aluno da EJA nos emociona e
reafirma a importância desta modalidade de ensino, pois
Os jovens e adultos sempre que voltam para a escola, voltam pensando em outros
direitos: o direito ao trabalho, o direito à dignidade, o direito a um futuro um pouco
mais amplo, o direito à terra, o direito à sua identidade negra ou indígena. Esse traço é
muito importante, a educação de jovens e adultos nunca aparece como direito isolado,
sempre vem acompanhada de lutas por outros direitos. (ARROYO, 2006, p. 29)
Sobre as novas diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia, não sei se elas trazem
alguma legislação específica a respeito da formação de um perfil para o educador de
jovens e adultos. Talvez não, porque se supõe que, em se falando de formação de
educadores, tudo se encaixa no mesmo molde. [...] O perfil do educador de jovens e
adultos e sua formação encontra-se ainda em construção. Temos assim um desafio,
vamos ter que inventar esse perfil e construir sua formação. Caso contrário, teremos que
ir recolhendo pedras que já existem ao longo de anos de EJA e irmos construindo esse
perfil da EJA e, conseqüentemente, teremos que construir o perfil dos educadores de
jovens e adultos e de sua formação. (ARROYO, 2006, p. 18)
17
Salientamos que outras optativas relacionadas à EJA foram oferecidas pela Profª Maria Peregrina de Fátima
Rotta, que se aposentou no ano de 2013, após uma atuação memorável junto a estudos e pesquisas na área.
143
De acordo com Fávero (2009), uma proposta para educação de jovens e adultos
deve significar
Creio que eles têm uma visão mais geral, mais inicial sobre o tema, mas não tem um
aprofundamento, não saem, por exemplo um professor especialista para tratar da
questão da EJA, mas eles já saem pelo menos com algumas noções sobre isso. Tem uma
demanda grande que nós temos no Brasil, uma lacuna histórica, então o professor sai
pelo menos com essa consciência, com essa perspectiva, mas nós não temos uma
formação muito sólida, muito consistente, o próprio número de disciplinas já denota
isso. O nosso curso por ser muito genérico acaba não trabalhando vários aspectos
como deveria, trata de muitas questões, mas na superficialidade, a EJA entra também
nesta dimensão, infelizmente. (Coordenador do curso)
A gente dá um início. Eles têm alguma coisa que vai possibilitar a eles no momento em
que eles assumirem, terem uma base a para buscarem o que eles vão fazer. (Professor
entrevistado)
Vincular a construção dessa teoria pedagógica com as grandes matrizes formadoras que
tiveram por referência a vida adulta. Quais seriam elas? Educação e trabalho,
movimentos sociais, cultura. Entender que a própria opressão vivida por esses jovens-
adultos é uma matriz formadora, como nos lembra Paulo Freire na Pedagogia do
Oprimido. [...] Essas matrizes não são da infância, são vivenciadas tanto pela infância
como pela juventude e vida adulta; é por isso que a pedagogia infantil teve sempre
dificuldade em entender essas matrizes pedagógicas.
Acredito que 75 horas não são suficientes para preparar o professor para trabalhar
nessa modalidade de ensino. (Sujeito 1)
A carga horária foi insuficiente, pois trabalhar com adultos requer mais
fundamentação teórica. (Sujeito 6 – egresso)
Penso que apenas uma disciplina é pouco para de fato preparar o professor para a
complexidade do trabalho na EJA, mas houve sim uma aproximação com os principais
temas, vimos a história e o contexto da EJA no Brasil e materiais para trabalhar com
os jovens e adultos. (Sujeito 9)
Apenas dois sujeitos acreditam que o curso oferece preparo suficiente para o
ensino de jovens e adultos, os quais apresentaram as seguintes respostas:
E um sujeito egresso mencionou que o curso contribuiu um pouco, mas que sua
formação ocorreu na prática, a partir do suporte com materiais específicos oferecidos pelas
coordenadoras pedagógicas.
A grande maioria respondeu que a carga horária das disciplinas que tratam da
EJA é menor em relação às disciplinas sobre Educação Infantil e Educação Especial. Um dos
145
graduandos afirmou: “O curso se volta mais para o ensino de crianças”. Enquanto que dois deles
consideram que a carga horária é equivalente.
Identificamos somente um egresso e um graduando que não consideram a EJA
um possível campo de trabalho. Segundo o graduando, ele não se sente preparado para trabalhar
com jovens a adultos. Já o egresso prefere atuar na gestão escolar ou na sala de recursos. Os
demais respondentes consideram a EJA um campo de atuação, sendo que: quatro justificaram
que se interessam pela área, três acreditam que a EJA permite um crescimento pessoal e
profissional e um acredita na importância social da modalidade.
Vale ressaltar que quatro dos cinco egressos que atuaram ou atuam na EJA
possuem cursos de aperfeiçoamento voltados à temática, informação que destoa dos resultados
dos outros cursos, nos quais nenhum dos sujeitos apontou ter prosseguido em processos de
formação em Educação de Jovens e Adultos após a conclusão da graduação em Pedagogia.
Porém, todos os egressos sentiram dificuldades no momento da prática.
Destacamos as respostas dos sujeitos:
A maior dificuldade que encontrei foi trabalhar com nove pessoas com deficiência
(cinco intelectuais e quatro auditivas) e não ter auxiliar e não saber Libras. Tinha 20
alunos na sala. (Sujeito 6 – egresso)
No primeiro impacto a questão da sala multisseriada, muito pelos alunos que ainda
não estavam alfabetizados e exigiam mais atenção (acompanhamento). (Sujeito 7 –
egresso)
Pouca teoria e um contexto diferente. Havia adultos “jovens” que estavam com
objetivos diferentes dos adultos “mais velhos”. Pouco material para pesquisa e
produção das aulas, inexperiência da coordenação para orientação. (Sujeito 8 –
egresso)
A falta de materiais didáticos nas escolas na época, falta de salas e carteiras adaptadas
para adultos, o fechamento das salas com poucos alunos etc. (Sujeito 9 – egresso)
Algumas escolas tratam os alunos como algo “fora” (que não faz parte da escola);
merenda ruim, banheiros sujos; salas sujas; e muitas escolas não deixam ninguém além
da professora para auxiliar em algum documento, só fica a sala de EJA na escola e a
professora. E a própria Secretaria Municipal necessita voltar os olhos com mais
carinho para os alunos da EJA. (Sujeito 10 – egresso)
Aprendi muito sobre Paulo Freire na Universidade e isso fez com que buscasse me
atualizar e buscar ajuda. A prática era difícil, mas consegui realizar um bom trabalho
quando buscava ajuda nos textos que já havia lido. (Sujeito 6 – egresso)
No decorrer das análises dos PPP’s dos cursos de Pedagogia, das entrevistas
junto aos coordenadores dos cursos e aos professores responsáveis de disciplinas específicas de
EJA, e das aplicações de questionários a graduandos e egressos dos cursos, identificamos
semelhanças e diferenças em relação à formação referente à EJA no Estado de São Paulo, ao
menos nas localidades que compuseram o lócus da pesquisa.
147
Vimos que, na maioria das Universidades, não há outros espaços além da sala
de aula que permitem discussões e reflexões acerca da EJA. Dessa forma, a formação se dá de
maneira opcional e não contempla a maior parte dos graduandos dos cursos de Licenciatura em
Pedagogia.
inicial: ambos afirmam não se sentir preparados para ensinar jovens e adultos ao fim da
graduação.
Apesar disso, a grande parte dos sujeitos tem na EJA um possível campo de
trabalho, principalmente por se interessar pela área. Isso nos conduz ao seguinte questionamento:
Como atuar em uma modalidade específica sem ter tido uma formação específica? Como ensinar
sem se sentir preparado para desempenhar um trabalho pedagógico em salas de jovens e adultos?
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossa educação é a nossa vida. Na vida, vivemos o que aprendemos. (B. da SILVA,
2006, p. 204)
Estamos em um tempo novo, em que parece que vai se perfilando cada vez mais a
Educação de Jovens e Adultos. A EJA vai sendo assumida pelo próprio governo e pelo
Ministério da Educação, por meio de políticas públicas. Isso nos aproxima, eu acredito,
cada vez mais, de um perfil de Educação de Jovens e Adultos mais definido, melhor
caracterizado. Ao mesmo tempo, já podemos ir pensando numa representação para a
formação de educadores de jovens e adultos mais fechada, mais focada. O problema
agora é acertarmos com esse foco.
Projeto Político Pedagógico dos cursos das Universidades Estaduais de São Paulo, contudo de
forma despretensiosa e contraditória, pois, na maioria dos documentos há destaque para a EJA
como espaço de atuação do Pedagogo e, logo, a formação específica é contemplada em
disciplinas optativas e que abordam o tema de maneira generalista, ou seja, sem foco na
instrumentalização pedagógica para o ensino de jovens e adultos.
Ao contrário disso, o professor de EJA deveria ter seu trabalho pautado por
uma formação condizente com as necessidades do alunado, pois é inegável que essa modalidade
da educação tem demandas próprias. Não dá para ensinar jovens e adultos a partir de
embasamentos teóricos e didáticos para crianças. Os formadores de jovens e adultos precisam ter
clareza da atual situação da EJA; precisam ser multifacetados e ir de encontro às peculiaridades
e pluralidades dos alunos, pois, assim como aponta Soares (2006, p. 22), “não é qualquer jovem
e qualquer adulto. São jovens e adultos com rosto, com histórias, com cor, com trajetórias sócio-
étnico-raciais, do campo, da periferia”. Sobretudo, o professor de EJA deveria dominar bases
teóricas sólidas, para que tenha condições de oferecer uma formação emancipatória e não
regulatória.
Em outros termos, podemos dizer que se não temos políticas fechadas de formação de
educadores para EJA é porque ainda não temos também políticas muito definidas para
a própria educação de jovens e adultos. Essas políticas precisam ser construídas, e será
preciso muita iniciativa e capacidade criativa para o fazermos. Isso vai exigir, no meu
entender, muito diálogo, muita lucidez e, sobretudo, muita coragem dos cursos de
Pedagogia para que se possa construir esse perfil.
152
Finalizamos com a reflexão de Arroyo (2006, p. 32), que responde aos nossos
questionamentos e nos impulsiona rumo à construção de uma formação específica que garanta a
preparação dos docentes para atuar na Educação de Jovens e Adultos: “Será possível construir
educadores e educadoras de jovens e adultos, formá-los e ao mesmo tempo ir construindo todo o
sistema da EJA dentro desses pontos destacados pela história da EJA? Eu tenho certeza que sim,
e nós temos capacidade para fazermos tudo isso”.
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efetivação do direito a educação. XXVI ANPAE, 2013. ISSN 16773802.
APÊNDICES
163
Universidade: __________________________
No caso de haver disciplinas específicas sobre EJA, que espaço elas ocupam dentro da grade
curricular do curso?
( ) Disciplinas obrigatórias ( ) Disciplinas optativas
Quantas são e qual a carga horária da(s) disciplina(s) específica(s) de EJA prevista(s) pelo
PPP?
Quantos e quais são os projetos ativos que se relacionam à EJA de acordo com o PPP?
166
Dados pessoais
Formação
Questões
1- O curso de Pedagogia da sua universidade valoriza que tipo de formação profissional dentro dos
temas que compõem a formação inicial do/a pedagogo/a?
2- A formação inicial de professores para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) está contemplada
no Projeto Político Pedagógico do curso de Pedagogia da sua Universidade?
4- A(s) disciplina(s) específica(s) de formação para professores de EJA ocupa(m) espaço entre as
disciplinas obrigatórias ou optativas na grade curricular do curso?
5- No caso de serem optativas, a(s) disciplina(s) é(são) frequentada(s) por um número pequeno ou
grande de graduandos?
6- Essa(s) disciplina(s) condizem com o que está disposto no Projeto Político Pedagógico do curso
de Pedagogia sobre a formação de professores para a EJA?
9- Você, enquanto coordenador/a do curso de Pedagogia desta Unidade, acredita que os/as
granduandos/as estão sendo preparados/as para o ensino de pessoas adultas?
4- Você acredita que a formação inicial deveria preparar os/as pedagogos/as para o ensino de
adultos?
168
6- Existem outros espaços de formação para o ensino de adultos que não a sala de aula de graduação
em sua Universidade? Quais?
169
Universidade: _____________________________
Dados pessoais
Formação
Questões
2- Como é(são) intitulada(s) a(s) disciplina(s) específica(s) de EJA? Qual o objetivo da(s)
disciplina(s) e a ementa?
4- A(s) disciplina(s) aborda(m) a EJA apenas de forma teórica ou também há espaço para o
ensino de práticas na educação de adultos?
8- Você acredita que os/as alunos/as se sentem preparados/as para o trabalho com a EJA ao
finalizarem a(s) disciplina(s)?
171
Questionário
Universidade: ____________________________
Dados pessoais
IES: ________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
4- A EJA foi abordada em alguma outra disciplina ou evento científico de maneira mais
geral?
( ) Sim ( ) Não
Qual: _________________________________________________________________
6- Você acredita que a formação que está recebendo o/a está preparando para atuar como
professor/a de EJA depois de formado/a?
173
7- A carga horária da(s) disciplina(s) que trata(m) da EJA comparece com a mesma proporção
de disciplinas sobre Educação Infantil e Educação Especial? Comente.
Questionário
Município: ____________________________
Dados pessoais
IES: ________________________________________________________________________
Onde: ____________________________________________________________________
175
Quais os nomes?____________________________________________________________
5- A graduação em Pedagogia o/a preparou para o ensino de jovens e adultos? Em sua opinião,
a carga horária dessas disciplinas foi suficiente ou insuficiente? Comente.
6- A carga horária da(s) disciplina(s) que tratara(m) da EJA na formação inicial compareceu
com a mesma proporção de disciplinas sobre Educação Infantil e Educação Especial?
Comente.
176
( ) Aperfeiçoamento
( ) Especialização
( ) Mestrado
( ) Outro: ______________________________________________________________
10- Você atribui seus conhecimentos pedagógicos para o ensino de EJA à sua graduação em
Pedagogia ou a cursos de pós-graduação específicos da área? Comente.
177
Natureza da pesquisa: o sra (sr) está sendo convidada (o) a participar desta pesquisa que tem
como finalidade investigar como o processo de formação inicial de professores de EJA está
acontecendo nas três universidades estaduais de São Paulo a partir da análise dos cursos de
Pedagogia.
1. Participantes da pesquisa: Coordenadores dos cursos de Pedagogia, Professores de disciplinas
específicas de EJA, Graduandos dos últimos anos do curso de Pedagogia e Egressos dos cursos
com atuação na EJA.
2. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo a sra (sr) permitirá que o (a) pesquisadora
realize os procedimentos metodológicos propostos, sendo eles: 1) levantamento bibliográfico, 2)
análise documental e 3) pesquisa empírica – com a realização de entrevista e aplicação de
questionário.
3. Sobre as entrevistas: As entrevistas serão gravadas e, posteriormente, transcritas para análise
pela pesquisadora, levando em consideração o foco central da pesquisa: a formação inicial de
professores de EJA.
4. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não infringe as normas legais e éticas, ou
seja, sua identidade e as dos demais participantes do estudo serão mantidas no mais absoluto
sigilo e seu envolvimento como colaborador não lhe acarretará dano moral. Os procedimentos
adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos
conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos
usados oferece riscos à sua dignidade.
5. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais.
Somente o (a) pesquisador (a) e seu (sua) orientador (a) (e/ou equipe de pesquisa) terão
conhecimento de sua identidade e nos comprometemos a mantê-la em sigilo ao publicar os
resultados dessa pesquisa.
6. Benefícios: ao participar desta pesquisa a sra (sr.) não terá nenhum benefício direto. Entretanto,
esperamos que este estudo traga informações importantes sobre a formação de professores,
evidenciando a importância de propor situações em que possibilitem a aproximação dos
acadêmicos com o contexto escolar, de forma que o conhecimento que será construído a partir
desta pesquisa possa sinalizar caminhos que contribuam efetivamente para uma melhor
articulação entre teoria e prática, sendo assim o pesquisador se compromete a divulgar os
resultados obtidos, respeitando-se o sigilo das informações coletadas, conforme previsto no item
anterior.
7. Pagamento: a sra (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como
nada será pago por sua participação.
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A sra (sr.) tem liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em
qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para a sra (sr.). Sempre que quiser poderá pedir
mais informações sobre a pesquisa através do telefone do (a) pesquisador (a) do projeto e, se
necessário através do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa.
Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para
participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem: Confiro que
recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a execução do trabalho de pesquisa e a
divulgação dos dados obtidos neste estudo.
Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.