Fundamentos Da Psicopedagogia

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FUNDAMENTOS DE PSICOPEDAGOGIA

FUNDAMENTOS DE PSICOPEDAGOGIA

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Sumário
1. O QUE É PSICOPEDAGOGIA? ................................................................................................................................. 4

2. A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA ...................................................................................................................... 17

3. O PERFIL DO PSICOPEDAGOGO .......................................................................................................................... 27

4. PRINCIPAIS CAMPOS OU ÁREAS DE ATUAÇÃO ................................................................................................... 32

A atuação psicopedagogia pode realizar-se nos seguintes âmbitos .................................................................... 34

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................................... 43

Atividade Avaliativa referente ao conteúdo de: Estudos Introdutórios a Psicopedagogia. ................................... 82

Todos os direitos reservados ao Instituto Pedagógico Brasileiro – IPB. Reprodução Proibida.


Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de Fevereiro de 1998.
1. O QUE É PSICOPEDAGOGIA?

A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do


processo de aprender para poder atender as necessidades individuais nessa missão. Há
alguns anos, a falta de clareza de alguns educadores a respeito das necessidades
específicas de aprendizagem, inerente a cada sujeito, fazia com que os educadores as
confundissem com déficits de inteligência, do qual o aluno era o portador, o que resultava
no encaminhamento para profissionais de diversas áreas da saúde, como pediatras,
neurologistas, psiquiatras e psicólogos clínicos. Entretanto, na maior parte das vezes,
estes profissionais não encontravam solução, de fato, para os relatados “problemas” que o
educando enfrentava em sala de aula.

Para Beauclair (2004), para entender o significado da Psicopedagogia é preciso


ir além da simples junção dos conhecimentos oriundos da Psicologia e da Pedagogia, o
que ocorre com bastante freqüência no senso comum, em face da sua própria
denominação “psicologia mais pedagogia”, que oferece uma definição simplista a seu
respeito. Na realidade, a Psicopedagogia é um vasto campo que se propõe a integrar, de
modo coerente, conhecimentos e princípios de diferentes ciências e teorias, com o objetivo
de adquirir uma ampla compreensão sobre os variados processos inerentes ao aprendizado
humano. Enquanto área de conhecimento multidisciplinar, a Psicopedagogia busca a
perfeita compreensão de como ocorrem os processos de aprendizagem, bem como as
dificuldades situadas neste movimento. Para tal, faz uso da integração e síntese de vários
campos do conhecimento.

A Psicopedagogia tem por objetivo o estudo da aprendizagem humana e, com o


emprego de processos e estratégias que levam em conta a individualidade do aprendente
e do ensinante, compromete-se com a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Já o
processo de aprendizagem constitui-se no conjunto de atividades que envolvem indivíduos
ou grupos humanos e, mediante a incorporação de informações e o desenvolvimento de
experiências, promove modificações estáveis na personalidade e na dinâmica grupal, as
quais se revertem no manejo instrumental da realidade. Assim, o foco da Psicopedagogia
situa-se em torno dos padrões evolutivos normais e patológicos, bem como a influência do
meio — família, escola, comunidade e sociedade — em seu desenvolvimento.
Para Gonçalves (2003), a Psicopedagogia é uma área de conhecimento e de
atuação dirigida para o processo de aprendizagem humana. Seu objeto de estudo é o ser
cognoscente, ou seja, o sujeito que se dirige para a realidade e dela retira o saber. Vista
no âmbito de um sistema complexo e inerente à condição humana, a aprendizagem não é
estudada pela Psicopedagogia no espaço restrito da escola, ou num determinado momento
da vida, haja vista que ocorre em todos os lugares, durante todo o tempo da existência.
Difere da Pedagogia porque não se ocupa de métodos ou técnicas de ensino, assim como
da Psicologia Escolar, porque não reduz sua investigação e trabalho ao âmbito da
Escola.

Em passado recente, tornou-se comum classificar crianças com dificuldades


para ler e escrever como disléxicas e, as mais agitadas, como hiperativas. É possível que
essas conceituações tenham sido divulgadas em consultórios e, por meio de pessoas
leigas, chegaram às escolas de forma indevida e generalizante. Já os profissionais da área
médica, que reforçavam o diagnóstico dos educadores, recorriam com frequência ao
tratamento com uso de medicamentos, agravando o trato dessa questão. De forma
contrária, Scoz (1996, p. 13) assevera:

Os problemas de aprendizagem não são restringíveis, nem as causas


físicas ou psicológicas, nem a análise das conjunturas sociais. É preciso
compreendê-los a partir de um enfoque multidimensional, que amalgame
fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos
dentro das articulações sociais. Tanto quanto a análise, as ações sobre os
problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo
de luta pela transformação da sociedade.

A Psicopedagogia tem por natureza o trabalho com a aprendizagem, o


conhecimento, sua aquisição, desenvolvimento e distorções. Esse trabalho utiliza-se de
processos e estratégias que levam em consideração a individualidade do educando, os
conhecimentos amplos que dão suporte ao estudo da aprendizagem humana, a
interferência do meio na forma de aprender, as dificuldades encontradas por pais e
educadores no processo educativo e as formas adequadas de intervenção que atendem
às necessidades dos envolvidos com o processo pedagógico. É uma prática comprometida
com a melhoria das condições de aprendizagem; por isso, geralmente, as pessoas
recorrem à Psicopedagogia apenas após o fracasso escolar, aqui considerada a resposta
insuficiente do aluno a uma exigência ou demanda da escola. Esta questão pode ser
analisada e estudada diante de diferentes perspectivas: da sociedade, da escola e do
aluno.
Para Sisto (1996), a Psicopedagogia é uma área de estudos que trata da
aprendizagem escolar, quer seja no curso normal ou nas dificuldades. Já Campos (1996),
considera que os problemas de aprendizagem constituem-se no campo da
Psicopedagogia. A Psicopedagogia é vista por Souza (1996), como a área que investiga a
relação da criança com o conhecimento. Já o Código de Ética da Psicopedagogia, no
Capítulo I, Artigo 1º., afirma que "a Psicopedagogia é campo de atuação em saúde e
educação o qual lida com o conhecimento, sua ampliação, sua aquisição, distorções,
diferenças e desenvolvimento por meio de múltiplos processos" .

A Psicopedagogia é uma área de estudos relativamente nova, que pode e está


atendendo os sujeitos que apresentam problemas de aprendizagem. Segundo Bossa
(1994), a Psicopedagogia nasce com o objetivo de atender à demanda - dificuldades de
aprendizagem.

Segundo Ferreira (1995, p. 1412), a Psicopedagogia "é o estudo da atividade


psíquica da criança e dos princípios que daí decorre, para regular a ação educativa do
indivíduo". Neste sentido, Bossa (1994) considera que o termo Psicopedagogia parece
deixar claro que se trata de uma aplicação da Psicologia à Pedagogia: por isso esta
definição não reflete o verdadeiro significado do termo.

De fato, a Psicopedagogia vai além da aplicação da Psicologia à Pedagogia,


pois, conforme Borges (1994) e Souza (1996), ela não pode ser vista sem o caráter
interdisciplinar, o qual implica na dependência da contribuição teórico-prática de outras
áreas de estudos para se constituir como tal. Por outro lado, a Psicopedagogia não é o
estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí decorre, visto que ela
não se limita à aprendizagem da criança, mas abrange todo processo de aprendizagem.
Consequentemente inclui quem está aprendendo, independente de ser criança,
adolescente ou adulto.

Para Bossa (1994), a Psicopedagogia, ainda está construindo seu corpo teórico,
portanto se constituindo como ciência. Assim sendo, a Psicopedagogia é uma área de
estudos muito nova, portando pode ser vista com desconfiança por alguns. Por outro lado,
o fato de ser jovem, permite que se construa para atender os problemas enfrentados no
processo de ensino-aprendizagem
São crescentes os problemas referentes às dificuldades de aprendizagem no
Brasil. A Pedagogia embasada em teóricos conceituados como Piaget, Vygotsky, Freinet,
Ferreiro, Teberosky e outros, tem sido insuficiente para prevenir ou intervir nas dificuldades
de aprendizagem. Para tanto, a Psicopedagogia surge para auxiliar na intervenção e
prevenção dos problemas de aprendizagem.

Bossa (1994) destaca que os problemas de aprendizagem têm origem na


constituição do desejo do sujeito. Desnutrição, problemas neurológicos e genéticos, por
exemplo, têm sido apresentados como justificativa para o fracasso escolar, mas poucas
são as explicações que enfatizam as questões inorgânicas, ou seja, as de ordem do
desejo do sujeito.

Para entender os problemas de aprendizagem, realizar diagnósticos e


intervenções torna-se necessário considerar os fatores internos e externos. Por isso,
Bossa (1994, p. 8) ressalta que "os psicopedagogos têm construído sua teoria a partir do
estudo dos problemas de aprendizagem. E a clínica tem se constituído em eficiente
laboratório da teoria". Tanto na clínica quanto na instituição, o psicopedagogo atua
intervindo como mediador entre o sujeito e sua história traumática, ou seja, a história que
lhe acarretou a dificuldade em aprender. No entanto, o profissional não deve fazer parte do
contexto do sujeito, já que ele está contido numa dinâmica familiar, escolar ou social da
qual o profissional deve manter-se ciente do problema de aprendizagem, fazer a leitura e a
intervenção no mesmo. Assim, com o auxílio do psicopedagogo, o sujeito pode reelaborar
sua história de vida, reconstruindo fatos que estavam fragmentados e, então, retomar o
percurso normal de sua aprendizagem. Neste enfoque, o trabalho clínico do
psicopedagogo se completa com a relação entre o sujeito, sua historia pessoal e a sua
modalidade de aprendizagem. Já o trabalho preventivo objetivo "evitar" os problemas de
aprendizagem, enfatizando a instituição escolar, os processos didáticos e metodológicos, a
dinâmica institucional com todos profissionais nela inseridos.
10

Para a Psicopedagogia é fundamental que o profissional faça uso do trabalho


interdisciplinar; pois os conhecimentos específicos das diversas teorias contribuem para o
resultado eficiente da intervenção ou prevenção psicopedagógica. Por exemplo, a
Psicanálise pode fornecer embasamento para compreender o mundo inconsciente do
sujeito; a Psicologia Genética proporciona condições para analisar o desenvolvimento
cognitivo do sujeito; a Psicologia possibilita compreender o mundo físico e psíquico do
sujeito; a Linguística permite entender o processo de aquisição da linguagem, tanto oral
quanto escrita. Nestas áreas encontramos autores renomados que contribuem para o
crescimento da Psicopedagogia, tanto no campo preventivo quanto clínico.

Em campo preventivo, conforme Bossa (1994), a Psicopedagogia tenta detectar


perturbações no processo ensino-aprendizagem, conhecer a dinâmica da instituição
educativa e orientar a instituição quanto à metodologia de ensino utilizada; isto, através de
orientação de estudos e apropriação dos conteúdos escolares. Pode-se concluir que o
campo de atuação do psicopedagogo é a aprendizagem, sua intervenção é preventiva e
curativa, pois se dispõe a detectar problemas de aprendizagem e "resolvê-los", também,
preveni-los evitando que surjam outros.

No campo preventivo, Bossa (1994) destaca que a função do psicopedagogo é


detectar possíveis problemas no processo ensino-aprendizagem; participar da dinâmica
das relações da comunidade educativa, objetivando favorecer processos de integração e
trocas; promover e realizar orientações metodológicas para o processo ensino-
aprendizagem, considerando as características do indivíduo ou grupo; colocar em prática o
processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, em grupo ou individual.

Ao referirem-se à Psicopedagogia, diversos autores enfatizam o seu caráter


interdisciplinar. Para Visca (1987, p. 33):

A Psicopedagogia nasceu como uma ocupação empírica pela necessidade


de atender as crianças com dificuldades na aprendizagem, cujas causas
eram estudadas pela medicina e psicologia. Com o decorrer do tempo, o
que inicialmente foi uma ação subsidiária destas disciplinas, perfilou-se
como um conhecimento independente e complementar, possuidor de um
objeto de estudo (o processo de aprendizagem) e de recursos diagnósticos,
corretores e preventivos próprios.
11

Para Kiguel (1983), a Psicopedagogia encontra-se em fase de organização de


um corpo teórico específico, visando a integração das ciências pedagógica, psicológica,
fonoaudiológica, neuropsicológico e psicolinguística para uma compreensão mais
integradora do fenômeno da aprendizagem humana. Para Scoz (1992, p.2), "a
Psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação
profissional deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-
os".

Já o Código de Ética da Psicopedagogia, no capítulo I do artigo 1º., dispõe que


“a Psicopedagogia é o campo de atuação em saúde e educação, o qual lida com o
conhecimento, sua ampliação, sua aquisição, distorções, diferenças e desenvolvimento
por meio de múltiplos processos”.

Como se observa, a Psicopedagogia defronta-se com um rico campo de


conhecimento e atuação em saúde e educação, que estuda o processo de aprendizagem
e suas dificuldades, tendo, portanto, um caráter preventivo e terapêutico, como apresenta
Golbert (1985, p.13):

O objeto de estudo da Psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois


enfoques: preventivo e terapêutico. O enfoque preventivo considera o objeto
de estudo da Psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento enquanto
educável. O enfoque terapêutico considera o objeto de estudo da
psicopedagogia a identificação, análise, elaboração de uma metodologia de
diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem.

Em outras palavras, a Psicopedagogia age preventivamente ao buscar construir


uma relação saudável com o conhecimento, não só no âmbito escolar, mas também na
família e na comunidade, esclarecendo as diferentes etapas do desenvolvimento para que
todos possam compreender e entender as características do educando, evitando-se assim
as cobranças insistentes de atitudes ou pensamentos, que não são próprios da idade. E
age terapeuticamente ao possibilitar que investigadores, interessados no processo de
construção do conhecimento e nas dificuldades que se apresentam nessa construção,
utilizem-se de instrumentos para identificar, analisar, planejar e intervir através das etapas
do diagnóstico e do tratamento.
12

Para Rubinstein (1992, p. 103):

Num primeiro momento a Psicopedagogia esteve voltada para a busca e o


desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos portadores
de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a remediação e
desta forma promover o desaparecimento do sintoma. (...) A partir do
momento em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do
processo de aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece com a
mesma, o objeto da psicopedagogia passa a ser mais abrangente: a
metodologia é apenas um aspecto no processo terapêutico, e o principal
objetivo é a investigação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem
como a compreensão do processamento da aprendizagem considerando
todas as variáveis que intervêm nesse processo.

Assim, o foco de atenção do psicopedagogo passa a ser a reação da criança


diante das tarefas, considerando resistências, bloqueios, lapsos, hesitações, repetição,
sentimentos de angustias. Mesmo o trabalho clínico não deixa de ser preventivo, pois, ao
se tratar alguns transtornos de aprendizagem, é possível evitar o aparecimento de outros.

De acordo com Neves (1991, p.2):

A Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em


conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em
conjunto. “E, mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda
a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos
cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos”.

Na linha mais direta seguem outros autores, ao tratarem a Psicopedagogia


como uma área de estudos nova que pode e está atendendo os sujeitos que apresentam
problemas de aprendizagem. Do ponto de vista de Weiss (1991, p. 6), "a Psicopedagogia
busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na
construção da própria aprendizagem de alunos e educadores". Para Sisto (1996), é uma
área de estudos que trata da aprendizagem escolar, quer seja no curso normal ou nas
dificuldades. Para Campos (1996), os problemas de aprendizagem constituem-se no
campo da Psicopedagogia. Para Sousa (1996), a Psicopedagogia é vista como a área que
investiga a relação da criança com o conhecimento. Para Bossa (1994), a Psicopedagogia
nasce com o objetivo de atender a demanda — dificuldades de aprendizagem. Ferreira
(1995, p.1412) diz que a Psicopedagogia “é o estudo da atividade psíquica da criança e
dos princípios que daí decorre, para regular a ação educativa do indivíduo”. Segundo
Müller, a Psicopedagogia liga-se às características da aprendizagem humana: como se
aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por outros
13

fatores; como e porque se produzem as alterações da aprendizagem, como reconhecê-las


e tratá-las, e o que fazer para preveni-las e para promover processos de aprendizagem
que tenham sentido para os participantes.

De qualquer forma, no momento em que se verifica um crescimento na


conscientização quanto à forma própria e o ritmo de cada educando, o trabalho
psicopedagógico permite introduzir propostas ricas e desafiadoras, no sentido de
transformar as “dificuldades” dos educandos em algo construtivo e produtivo. Conforme
declara Delors (1999, p. 47):

Ajudar a transformar a interdependência real em solidariedade desejada


corresponde a uma das tarefas essenciais da educação. Deve, por isso,
preparar cada indivíduo para se compreender a si mesmo e ao outro,
através de um melhor conhecimento do mundo. Para podermos
compreender a crescente complexidade dos fenômenos mundiais, e
dominar o sentimento de incerteza que suscita, precisamos, antes, adquirir
um conjunto de conhecimentos e, em seguida, aprender a relativizar os
fatos e a revelar sentido crítico perante o fluxo de informações.

Enfim, a Psicopedagogia ocupa-se da aprendizagem humana que adveio de


uma demanda: o problema da aprendizagem. E, como se preocupa com o problema de
aprendizagem, deve ocupar-se inicialmente do processo de aprendizagem, estudando
assim as características da aprendizagem humana, sem fazer distinção de idade ou sexo
para o atendimento.

Atualmente, a Psicopedagogia trabalha com uma concepção de aprendizagem


segundo a qual participa desse processo um equipamento biológico com disposições
afetivas e intelectuais que interferem na forma de relação do sujeito com o meio, sendo
que essas disposições influenciam e são influenciadas pelas condições socioculturais do
sujeito e do seu meio.

Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se


transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que
ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende. É preciso, também, que o
psicopedagogo saiba o que é ensinar e o que é aprender; como interferem os sistemas e
métodos educativos; os problemas estruturais que intervêm no surgimento dos transtornos
de aprendizagem e no processo escolar.
Para Alicia Fernández (1991), todo sujeito tem a sua modalidade de
aprendizagem, ou seja, meios, condições e limites para conhecer, e esse “saber” só é
14

possível com uma formação que os oriente sobre três pilares: prática clínica, construção
teórica e tratamento psicopedagógico-didático. No trabalho clínico, conceber o sujeito que
aprende como um sujeito epistêmico-epistemofílico implica procedimentos diagnósticos e
terapêuticos que considerem tal concepção. Para isso, é necessária uma leitura clínica na
qual, através da escuta psicopedagógica, possa-se decifrar os processos que dão sentido
ao observado e norteiam a intervenção. Ainda conforme Fernández (1991), faz-se
necessário incorporar conhecimentos sobre o organismo, o corpo, a inteligência e o
desejo, estando esses quatro níveis basicamente relacionados ao aprender. Considerando-
se o problema de aprendizagem na interseção desses quatro níveis, as teorias que se
ocupam do organismo, do corpo, da inteligência e do inconsciente, separadamente, não
conseguem resolvê-lo. Ou seja, é imperioso ter-se uma teoria psicopedagógica
fundamentada em conhecimentos de outros corpos teóricos que, ressignificados, sustentem
essa prática.

A Psicopedagogia necessita de várias áreas para compor o seu objeto de


estudo, tais como Psicologia, Filosofia, Neurologia, Sociologia, Línguistica e Psicanálise,
de modo a fundamentar a constituição de uma teoria psicopedagógica. Detalhadamente, a
complexidade do objeto de estudo da Psicopedagogia requer conhecimentos em outras
teorias mais específicas, como a Psicanálise (que se encarrega do inconsciente), a
Psicologia Social (que observa a construção do sujeito e suas relações familiares e
comunitárias, bem como as condições socioeconômicas e culturais), a Epistemologia ou
Psicologia Genética (que analisa e descreve o processo de construção do conhecimento a
partir da interação com os outros e com os objetos), Linguística (que se encarrega da
compreensão da linguagem), a Pedagogia (que contribui com as diversas abordagens do
processo ensino-aprendizagem) e a Neuropsicologia (que possibilita a compreensão dos
mecanismos cerebrais que regem as atividades mentais).

De modo sistêmico, essas teorias possibilitam meios mais eficazes para refletir
e operar no campo psicopedagógico, cujo conhecimento não se cristaliza em uma
delimitação fixa, nem nos déficits e alterações subjetivas do aprender, mas avalia a
possibilidade do sujeito, a disponibilidade afetiva de saber e de fazer, reconhecendo que o
saber é próprio do sujeito.
15

Fonseca Filho (2009, p.1) assim se refere à Psicopedagogia:

Voltada para o campo da aprendizagem, ela trabalha com a prevenção, o


diagnóstico, com a busca de soluções para os problemas aí encontrados.
Diferentemente do saber isolado e compartimentado das outras disciplinas,
a Psicopedagogia visa superar a fragmentação do conhecimento, valendo-
se de uma perspectiva transdisciplinar. O saber psicopedagógico surge não
da divergência entre as demais áreas do conhecimento, mas da
convergência entre elas. Bem diferente da visão excludente e segregária
que fecha cada saber em uma especialidade, a Psicopedagogia se abre
numa relação dialógica com as outras formas de conhecimento.

E Fonseca Filho (2009, p.1) completa:

Se antes o princípio norteador do conhecimento e, consequentemente, da


educação e da aprendizagem era o da análise, hoje o caminho é outro. A
velha concepção do dividir para entender cede lugar ao unir para conhecer,
compreender. Dentro dessa nova perspectiva, a Psicopedagogia, passo a
passo, vai se firmando como um saber munido dos novos olhares capazes
de enxergar a rede complexa que envolve a aprendizagem.

Conforme Júlia Eugênia Gonçalves1 (apud UTÓPICO, 2008, p.1), é preciso que
seja feita uma ressalva quanto a maneira como a Psicopedagogia encara a aprendizagem
humana, vista sempre como uma feição própria do indivíduo se relacionar com o
conhecimento gerado e armazenado pela cultura, bem como os problemas de
aprendizagem como oriundos de fraturas ocorridas nessa relação, vínculos mal
estabelecidos entre aprendentes e ensinantes, seja por fatores de natureza orgânica,
cognitiva ou emocional. O trabalho psicopedagógico, portanto, não se apresenta como
reeducativo, mas, sim, como terapêutico (uma terapia centrada na aprendizagem); não se
dirige para um público específico, porque aprendentes somos todos nós, humanos:
crianças, jovens, ou velhos que nos mantemos vivos e atuantes, enquanto aprendemos e
ensinamos e podemos contribuir com a nossa marca para a evolução da humanidade.

Ainda segundo Gonçalves (apud UTÓPICO, 2008, p.1), a atuação do


psicopedagogo difere daquela do psicólogo, pois este não está preocupado
especificamente com a aprendizagem, como aquele. Em sua complexidade, o ser humano
articula uma maneira de pedir ajuda, quando está em dificuldades de qualquer natureza.
Seja a criança, apresentando uma dificuldade específica na Escola; seja o jovem fazendo
muitas vezes uma verdadeira negação da escolaridade e enveredando pela marginalidade;
seja o idoso, entrando em depressão por se julgar incapaz de aprender e continuar
contribuindo para sua comunidade. Quando esse pedido de ajuda se dá via aprendizagem,
16

aí deve atuar o psicopedagogo, por ser o profissional cuja formação o habilita para
compreender e atender tais solicitações.
Os versos abaixo, de autoria da pedagoga Júlia Eugênia Gonçalves (apud
UTÓPICO, 2008, p.1), tenta responder à pergunta “o que é Psicopedagogia?”:

Só posso lhe responder,


que é uma arte, um ofício, uma paixão!
um saber que se constrói com muita informação.
Um fazer de cada dia,
em trabalho de mudança, conquistando para a vida,
adulto, jovem e criança.
Para a Psicopedagogia, cada ser é ensinante
e ao mesmo tempo aprendente.
dirige-se ao conhecimento de modo muito envolvente, e encontra-se
a si mesmo em processo de autoria.
Se quiser de fato conhecê-la, venha se apropriar, desvendar,
estudar ...
O caminho foi aberto ao decidir perguntar!
17

2. A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA

Desde que o homem existe, ele se desenvolve e aprende; assim, pode-se


pensar a história da Psicopedagogia a partir de várias origens. Enquanto campo de
conhecimento humano, a Psicopedagogia tem sido influenciada por diversas correntes
teóricas e, em seu histórico, sempre esteve voltada para as questões relativas à
aprendizagem.

Segundo Bossa (2000), a Psicopedagogia nasceu na Europa, no século XIX,


diante da preocupação médica com os problemas de aprendizagem. A preocupação com
os problemas de aprendizagem tornou-se objeto de estudo por filósofos, médicos e
educadores. Basicamente, a ênfase era na reeducação e foi formada uma equipe médico-
pedagógica pelo educador Seguim e pelo psiquiatra Esquilo, passando a neuropsiquiatria
infantil a estudar os problemas neurológicos que afetam a aprendizagem. Nesta visão,
buscava-se enfocar problemas que ocorriam com os sujeitos em relação à aprendizagem,
a partir de uma abordagem neuropsicológica, já que a existência de problemas de
aprendizagem apresentados por tais sujeitos gerava fracassos no espaço e no tempo da
escola e, para que se chegasse a sua solução, dever-se-ia investigar qual era a dificuldade
ou problema.

Assim, na França, durante as décadas de 40 a 60, a ação do pedagogo era


vinculada à do médico. Conforme Mery (1985), era conhecida como “pedagogia curativa”.
A partir dos trabalhos do Dr. Theodore Heller2, considerado o pai da Psicopedagogia,
começa o interesse pelos problemas escolares, que afetam a personalidade da criança.

Em Paris, no ano de 1946, Juliette Boutonier e George Mauco criaram o


primeiro centro psicopedagógico, com orientação médica e pedagógica. Unindo os
conhecimentos das áreas de Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, para tratar crianças com
comportamentos socialmente inadequados, tanto na escola como no lar, além de atender
crianças com dificuldades de aprendizagem embora dotadas de níveis normais de
inteligência. O trabalho considerava também as crianças que apresentavam doenças
crônicas como diabetes, tuberculose, cegueira, surdez ou problemas motores. A
denominação “Psicopedagógico” foi escolhida em detrimento de “Médico Pedagógico”,
porque se acreditava que, dessa forma, os pais teriam menor resistência em enviar seus
filhos.
18

A criação do centro psicopedagógico é citado por Mery (apud BOSSA 2000, p.


37):

Na literatura francesa — que, como vimos, influencia as idéias sobre


psicopedagogia na Argentina (a qual, por sua vez, influencia a práxis
brasileira) – encontra-se, entre outros, os trabalhos de Janine Mery, a
psicopedagoga francesa que apresenta algumas considerações sobre o
termo psicopedagogia e sobre a origem dessas idéias na Europa, e os
trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro centro médico
psicopedagógico na França, onde se percebeu as primeiras tentativas de
articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, na solução
dos problemas de comportamento e de aprendizagem.

Esperava-se, através dessa união entre ciências, conhecer a criança e o seu


meio, para que fosse possível compreender o caso para determinar uma ação reeducadora.
Diferenciar os que não aprendiam, apesar de inteligentes, daqueles que apresentavam
alguma deficiência mental, física ou sensorial, era uma das preocupações da época.
Acreditava-se que os comprometimentos na área escolar eram provenientes de causas
orgânicas, por isso procurava-se identificar no físico as determinantes das dificuldades do
aprendente. Nesse contexto, criou-se um caráter terapêutico da Psicopedagogia. Conforme
Bossa (2000), a crença de que os problemas de aprendizagem eram causados por fatores
orgânicos perdurou por muitos anos e determinou a forma do tratamento dada à questão
do fracasso escolar até bem recentemente.

Conforme relata Peres (1998, p.43), acredita-se que a primeira experiência


psicopedagógica no Brasil ocorreu em 1958, quando na Escola Guatemala, no antigo
estado da Guanabara (hoje, Rio de Janeiro), foi criado o Serviço de Orientação
Psicopedagógica (SOPP). O principal objetivo do SOPP foi melhorar a relação professor-
aluno, bem como estabelecer um clima mais receptivo para a aprendizagem, aproveitando
para isso as experiências anteriores dos alunos.
19

Assim, nas décadas de 50 e 60, a categoria profissional dos psicopedagogos


organizou-se no país, com a divulgação da abordagem psiconeurológica do
desenvolvimento humano. Nessa época, as dificuldades de aprendizagem eram
associadas a uma disfunção neurológica denominada de “disfunção cerebral mínima”
(DCM), que virou moda nesse período, servindo para camuflar problemas
sociopedagógicos (BOSSA, 2000, p. 48-49). Diante dos problemas de aprendizagem, a
primeira atitude dos familiares era levar seus filhos a uma consulta médica. Devido a esse
pensamento, ainda hoje é comum que o psicopedagogo receba no consultório crianças
que já foram examinadas por um médico, por indicação da escola ou mesmo por iniciativa
da família, devido aos problemas que está apresentando na escola (Id. Ibid., p. 50).

Nessa linha, explica Visca (apud BOSSA, 2000, p.21):

A Psicopedagogia foi inicialmente uma ação subsidiada da Medicina e da


Psicologia, perfilando-se posteriormente como um conhecimento
independente e complementar, possuída de um objeto de estudo,
denominado de processo de aprendizagem, e de recursos diagnósticos,
corretores e preventivos próprios.

A Psicopedagogia foi introduzida no Brasil observando os modelos médicos de


atuação, mas, nos anos 70, alguns profissionais, preocupados com os altos índices de
evasão escolar e repetência, engajados no estudo das causas e intervenções dos
problemas educacionais relacionados ao fracasso escolar, trouxeram da França e
Argentina os aportes teóricos sobre a Psicopedagogia. Assim, dentro da concepção de
problemas de aprendizagem é que se iniciaram, então, os cursos de formação de
especialistas em Psicopedagogia, na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre, com a
duração de dois anos (Id. Ibid., p. 52).

Com a visão de uma formação independente, o Brasil recebeu contribuições


para o desenvolvimento da Psicopedagogia, especialmente de profissionais argentinos,
como Jorge Visca, Sara Paín, Jacob Feldmann, Ana Maria Muniz, Alicia Fernández e
Marina Muller. Novas descobertas científicas e movimentos sociais influenciaram a
Psicopedagogia brasileira. O professor argentino Jorge Visca tornou-se um dos maiores
contribuintes da difusão psicopedagógica no país. Foi o criador da Epistemologia
Convergente, linha teórica que propõe o trabalho com a aprendizagem utilizando-se da
integração de três linhas da Psicologia (VISCA, 1991, p. 66):
20

Escola de Genebra, psicogenética de Jean Piaget (ninguém pode


aprender além do que sua estrutura cognitiva permite);
Escola Psicanalítica, Freud (dois sujeitos com igual nível cognitivo e
distintos investimentos afetivos em relação a um objeto aprenderão de
forma diferente); e
Escola de Psicologia Social, de Enrique Pichon Rivière (se ocorrer uma
paridade do cognitivo e afetivo em dois sujeitos de distintas culturas,
também suas aprendizagens em relação a um mesmo objeto serão
diferentes, devido às influências que sofreram em seus meios sócio-
culturais).

Conforme França (apud SISTO et al., 2002, p.101):


Visca propõe o trabalho com a aprendizagem utilizando-se de uma
confluência dos achados teóricos da escola de Genebra, em que o principal
objeto de estudo são os níveis de inteligência, com as teorizações da
psicanálise sobre as manifestações emocionais que representam seu
interesse predominante. A esta confluência, junta, também, as proposições
da psicologia social de Pichon Rivière, mormente porque a aprendizagem
escolar, além do lidar com o cognitivo e com o emocional, lida também com
relações interpessoais vivenciadas em grupos sociais específicos.

A análise do sujeito através de correntes distintas do pensamento psicológico


concebeu uma proposta de diagnóstico, de processo corretor e de prevenção, dando
origem ao método clínico psicopedagógico no Brasil, conforme atesta Visca (1987, p.16):
Quando se fala de psicopedagogia clínica, se está fazendo referência a um
método com o qual se tenta conduzir à aprendizagem e não a uma corrente
teórica ou escola. Em concordância com o método clínico podem-se utilizar
diferentes enfoques teóricos. O que eu preconizo é o da epistemologia
convergente.

O professor Visca implantou centros psicopedagógicos no Rio de Janeiro, São


Paulo, Campinas, Salvador e Curitiba. Ministrou aulas em Salvador, Porto Alegre, Rio de
Janeiro, São Paulo, Campinas, Itajaí, Joinville, Maringá, Goiânia, Foz do Iguaçu e muitas
outras (apud BARBOSA, 2001, p. 14).

Em decorrência de novas descobertas científicas e movimentos sociais, a


Psicopedagogia sofreu muitas influências. Novas abordagens teóricas sobre o
desenvolvimento e a aprendizagem, bem como inúmeras pesquisas sobre os fatores intra
e extra-escolares na determinação do fracasso escolar, contribuíram para uma nova visão
mais crítica e abrangente.
21

Entre os anos 60 e 70, a Psicopedagogia interessou-se Psicopedagógico baseado na


interdisciplinaridade como metodologia e proposta de adoção de estratégias de
intervenção e pesquisa.

Nesse caso, a Psicopedagogia deve ser compreendida como área de estudo


interdisciplinar, que abrange diferentes áreas de conhecimento e cujo campo de atuação
vem a ser identificado por meio do processo de aprendizagem e "que tem por objeto de
estudo o ser cognoscente" (SILVA, 1998, p.51)

Neste mesmo sentido, Berlim e Portella (2007, p.85), argumentam que:


A partir dos anos 90, a práxis psicopedagógica ampliou sua visão e
possibilidade de trabalho, entendendo o ser cognoscente como sujeito ativo
de sua aprendizagem e, extremamente, vinculado com o outro que ensina.

3 Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934) foi um psicólogo bielorrusso, descoberto nos meios acadêmicos ocidentais depois da sua
morte, causada por tuberculose, aos 37 anos. Pensador importante, foi pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das
crianças ocorre em função das interações sociais (e condições de vida). As obras de Vygotsky incluem alguns conceitos que se
tornaram incontornáveis na área do desenvolvimento da aprendizagem. Um dos conceitos mais importantes é o de Zona de
Desenvolvimento Proximal, que se relaciona com a diferença entre o que a criança consegue realizar sozinha e aquilo que, embora não
consiga realizar sozinha, é capaz de aprender e fazer com a ajuda de uma pessoa mais experiente. Vygotsky enfatiza a relação entre
quem aprende e aquele que ensina, como partícipes de um mesmo processo chamado mediação, como um pressuposto da relação eu-
outro social. A relação mediada não se dá necessariamente pelo outro corpóreo, mas pela possibilidade de interação com signos,
símbolos culturais e objetos. Para Vygotsky a aprendizagem relaciona-se ao desenvolvimento desde o nascimento, sendo a principal
causa para o desabrochar do desenvolvimento.
22

É necessário ressaltar também que a atualização profissional é imperiosa, uma


vez que trabalhando com tantas áreas, a descoberta e a produção do conhecimento é
bastante acelerada.

Em 1979, após quase vinte anos de práticas psicopedagógicas, na cidade de


São Paulo, foi criado o primeiro curso em nível de pós-graduação em Psicopedagogia, no
Instituto Sedes Sapientiae. Isso serve para mostrar como a área de Psicopedagogia é
relativamente nova no Brasil. Muitos outros cursos de Psicopedagogia surgiram desde
então e este crescimento indica uma grande procura por esta profissão. Para Fagali (2007,
p. 19-20), uma das matrizes geradoras do curso de Psicopedagogia é o Instituto Sedes
Sapientiae. Ela ressalta que a retomada das raízes do curso de formação em
Psicopedagogia do Sedes Sapientiae justifica-se por ter sido um curso pioneiro na
realidade de São Paulo, gerador de líderes de mudança que prosperaram em vários
projetos. Alguns profissionais que terminaram a especialização em Psicopedagogia, no
Instituto Sedes Sapientiae, organizaram um grupo para estudar e definir a prática
psicopedagógica que melhor trabalhasse os problemas de ensino, dando origem à
Associação Estadual de Psicopedagogia de São Paulo (AEP), em 1982, conforme cita
Rubinstein (1987, p.13).

A partir de 1985, a Psicopedagogia passou a tratar a aprendizagem como


processo, o qual se constitui na construção do saber, conceituando aprendizagem e suas
dificuldades, com base em uma interseção das contribuições de diferentes áreas, para as
quais também contribui com o conhecimento.

Na década de 90, com os avanços em outros campos do saber humano,


principalmente das Neurociências, da Biologia, da Sociologia e da Psicolingüística, entre
outras revisões epistemológicas, a Psicopedagogia inseriu-se, definitivamente, como um a
área de atuação e um campo do saber humano interdisciplinar.

Após seis anos de funcionamento, a AEP transformou-se na Associação


Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). A ABPp possibilitou aos psicopedagogos
estruturarem um espaço de discussão sobre o corpo teórico de conhecimentos
psicopedagógicos, através do seu vasto acervo de trabalhos científicos publicados,
dissertações de mestrado e teses de doutorado. Peres (1998, p.43) aborda que ao longo
23

de sua existência, a ABPp tem promovido vários encontros e congressos visando dentre
outras coisas refletir sobre: a formação do psicopedagogo, a atuação psicopedagógica
objetivando melhorias da qualidade de ensino nas escolas, a identidade profissional do
psicopedagogo, o campo de estudo e atuação do psicopedagogo, o enfoque
psicopedagógico multidisciplinar.

A ABPp organizou a identidade profissional do psicopedagogo e os objetivos da


psicopedagogia, nos diferentes estados da federação, representando e divulgando a
Psicopedagogia. Outro fato importante ocorreu em 1992, quando entrou em vigor o Código
de Ética aprovado em assembléia da ABPp, durante o “V Encontro e II Congresso de
Psicopedagogia”. Esse Código passou a ser o documento norteador dos princípios da
Psicopedagogia, das responsabilidades gerais do psicopedagogo, das relações com
outras profissões e a importância do sigilo profissional. Posteriormente, na Assembleia
Geral do III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, em 1996, o Código de Ética recebeu
alterações.

A Psicopedagogia nascente na época moderna se diferencia como área de


atuação e reflexão sobre a práxis psicopedagógica, a partir da aprendizagem humana, ao
levar em conta a articulação entre subjetividade e a objetividade humana e o
conhecimento nas diversas maneiras de aprender. O objeto de estudo da Psicopedagogia
se sintetiza naquilo que Silva (1998, p. 25) nos apresenta:

no início, seu objeto são os sintomas das dificuldades de aprendizagem,


como desatenção, desinteresse, lentidão, etc. e, assim, seu objetivo é
remediar esse sintomas. A dificuldade de aprendizagem seria apenas um
mau desempenho, um produto a ser tratado.

Entretanto, se o conhecimento for compreendido como processo contínuo, tal


como fazem os psicopedagogos atualmente, torna-se possível situar a Psicopedagogia
num patamar mais alto, obtendo-se assim uma visão mais ampla.

Diferentemente dos primórdios do movimento educacional, em que a análise do


insucesso escolar das crianças restringia-se ao próprio aluno, a atual tendência considera
o insucesso como sintoma social e não uma mera patologia. Portanto, não há como
desconhecer o papel relevante do pedagogo que, cada vez mais, tem contribuído para a
integração entre criança e instituições, onde a aprendizagem é o foco das atenções.
24

É um momento bastante fecundo para a Psicopedagogia, onde novas


teorizações e aportes significativos surgem como elementos fomentadores da práxis
psicopedagógica que vem ganhando novas perspectivas de ação e novos espaços para
sua inserção. Com isso, a Psicopedagogia avança no sentido de objetivar, cada vez mais,
o sujeito na construção de sua autonomia, vinculando o eu cognoscente às suas relações
com a aprendizagem. Processos de investigação sobre a construção, integração e
expansão deste sujeito aprendente se tornam cada vez mais presentes na pesquisa
psicopedagógica e é muito rica a produção que pode-se notar neste campo. O processo
de aprendizagem passou a ser tema essencial para se compreender a construção do
sujeito cognoscente, meta maior a ser alcançada para que ele se torne capaz de ser o
próprio responsável pela construção do conhecimento.

Numa perspectiva tradicional, sabe-se que a aprendizagem tem sido


compreendida como pista de mão única, onde o professor possui a tarefa de repassar o
saber para o aluno, percebido como um ser que precisa receber este saber, sem que
nenhum outro processo seja válido. Desconsiderando as relações sociais, nesta visão do
processo de aprendizagem, somente o professor detém o saber e entre alunos e
professores nenhuma outra espécie de vínculo pode haver a não ser esta: o professor
sabe e o aluno não sabe, portanto, a tarefa educativa deve ser a de repassar o que o
professor sabe para o aluno, que, supostamente, nada sabe e só vai aprender se receber
o saber.

Na atualidade, muitos são os movimentos pedagógicos para mudar


definitivamente este modo de fazer educação, visto que existem diversos trabalhos e
diferentes práticas que propõem mudanças de olhar e percepção sobre a aprendizagem,
redefinindo os agentes de todo o processo e seus respectivos papéis.

De acordo com Fernández (1991), são estes movimentos de adaptação que


configuram a arquitetura onde a atribuição simbólica de significações próprias, que o
sujeito aprendente faz, em relação aos processos de aprendizagem onde interage.
Entretanto, para que todo este processo favoreça adaptações inteligentes, é necessário
que os movimentos de acomodação e assimilação 4 estejam em equilíbrio, ou seja, um não
pode predominar em excesso sobre o outro. Com os estudos de Sara Paín é possível
observar os processos de hipoassimilação / hiperacomodação, e de hipoacomodação /
hiperassimilação, que constituem as diferentes modalidades presentes nos processos
25

representativos que afetam a formação deste equilíbrio.

Tais modalidades interferem tanto nas reações e respostas que o organismo


produz em sua interação com o meio, quanto nos processos de aprendizagem, que se
pressupõe normal quando esta é produzida numa relação onde os movimentos
assimilativos e acomodativos apresentem-se em equilíbrio.

São as elaborações objetivantes e subjetivantes que farão com que o sujeito


aprendente e desejante, de fato, aprenda, pois aprender é apropriar-se, e tal apropriação
permite que o objeto do conhecimento, da aprendizagem, seja ordenando e classificado.
No aspecto subjetivo, tal movimento irá gerar o reconhecimento e a apropriação do objeto,
como resultado das vivências e das experiências que o aprendente obteve com sua
relação e interação com este objeto. Vale a pena relembrar que todo este processo ocorre
na articulação das instâncias do organismo, do corpo, da inteligência e do desejo que
constituem o mover-se do sujeito aprendente, além dos vínculos que consegue
estabelecer com os outros aprendentes e com os seus ensinantes.

Todas estas idéias favorecem o pensar, agir e refletir para as questões relativas
à aprendizagem em nosso tempo. Se o aprendente se faz sujeito desejante de modo
gradativo, a construção do seu saber deve ser investigada e analisada. Cabe a todo
educador ser ponto de referência, suporte colaborativo e atencioso, observando
expectativas e necessidades e valorizando, cada vez mais, as construções e descobertas
de seus aprendentes.

os espaços e tempos educacionais, deve-se buscar de modo permanente o


aprender e o ensinar com prazer, proporcionando que esta sensação de prazer esteja
presente nas ações e estratégias de aprendizagem. A aprendizagem afeta a dinâmica
individual de cada aprendente e tem forte interferência no articular das instâncias do
organismo, do corpo, do desejo e da inteligência. As ações como educador devem
considerar tais interferências, centrando-se na busca pelas transformações. A
aprendizagem é possibilidade, mas sem o desejo não se transforma em oportunidade. Na
contemporaneidade, são requeridas novas posturas e iniciativas, compreendendo o
espaço e o tempo da escola como estímulos à construções de teias de significações, onde
o aprendente possa transformar-se e libertar suas potencialidades, vivenciando ricas
experiências com os objetos que interage. Em suas ações de ensino, cada educador pode
construir os espaços de confiança, credibilidade e amorosidade, onde seja possível a
26

alegria da autoria, a alegria do aprender e do ensinar, a alegria de viver enfim.


27

3. O PERFIL DO PSICOPEDAGOGO

O foco de atenção do psicopedagogo é a reação da criança diante das tarefas,


considerando resistências, bloqueios, lapsos, hesitações, repetição, sentimentos de
angustias. O psicopedagogo ensina como aprender e para isso necessita aprender o
aprender e a aprendizagem. Cabe ao psicopedagogo saber como se constitui o sujeito,
como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de
conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende.
Esse saber exige que o psicopedagogo recorra a teorias que lhe permitam aprender, bem
como às leis que regem esse processo: as influências afetivas e as representações
inconscientes que o acompanham, o que pode comprometê-lo e o que pode favorecê-lo.

O psicopedagogo é o profissional que auxilia na identificação e na resolução


dos problemas no processo do aprender. Esse profissional precisa estar capacitado a lidar
com as mais diversas dificuldades de aprendizagem, um dos fatores atuais que leva uma
boa parcela de alunos à multirrepetência, ao fracasso escolar e, consequentemente, à
evasão. O profissional da psicopedagogia precisa deter um conhecimento científico
específico oriundo da articulação de várias áreas envolvidas nos processos e caminhos do
aprender. Cabe a ele intervir, visando a solução dos problemas de aprendizagem e tendo
como foco o aluno ou a organização educadora (escola). Realizar o diagnóstico e a
intervenção psicopedagógica também é uma atitude que poderá ser efetivada através de
métodos, instrumentos e técnicas próprias da psicopedagogia, sendo relevantes as
questões ligadas à prevenção.

O prefixo “psi“ deriva de “physis“, utilizado pelos pré-socráticos para definir a


totalidade de tudo que é, de tudo que nasce, de tudo que se desenvolve. Conforme Leloup
(2000), Filon de Alexandria descrevia a condição humana em quatro dimensões: corporal
(soma), psíquica (psyche), cognitiva (nous) e espiritual (pneuma). Essas quatro estruturas
permitem a qualquer indivíduo captar o conhecimento e reproduzir-se como humano, para
ser. Ou seja, o prefixo “psi” é aplicável a todos os seres humanos e para se realizar um
trabalho “psi” é necessário interpretar. O homem é o único animal hermenêutico. Ele é
dotado de um pensamento reflexivo, que o capacita a fazer um juízo de valor sobre si
28

mesmo, sobre os outros e sobre a realidade que o cerca. Desde os tempos de Filon, os
terapeutas eram hermeneutas habilitados na arte da interpretação dos textos sagrados,
dos sonhos e dos eventos da existência. Aqueles que Fílon de Alexandria chamava de
terapeutas tinham uma maneira de viver bem diferente daquela que vivenciam os que hoje
levam esse nome. Mas será o psicopedagogo um terapeuta? Terapia é, sem dúvida
nenhuma, a “arte da interpretação“. Efeitos e afetos modificam-se em direção a um melhor
ou a um pior, de acordo com o sentido que se dá a um sofrimento, um evento, um sonho
ou um texto . Os acontecimentos são o que são o que se faz deles depende do sentido
que se lhes dá.

Terapeuta é aquele que cuida que se desvela em direção ao outro procurando


aliviar-lhe os sofrimentos. É aquele que cuida não o que cura. Ele está lá apenas para
colocar o sujeito nas melhores condições possíveis, a fim de que este atue e venha a se
curar. Terapeuta é também aquele que honra, e que, portanto, é responsável por uma
ética subjacente à sua atividade. Neste sentido, os terapeutas são também filósofos,
porque estão sempre em busca da verdade que se encontra por detrás das aparências.

A Psicopedagogia é uma forma de terapia. Daí não haver a distinção, como


lembra Fernández (1991), ao abordar as diferenças entre psicopedagogia institucional e
clínica. Todo trabalho “psi” é clínico, seja realizado numa instituição ou entre as quatro
paredes de um consultório. Clínica é a atitude do psicopedagogo, de respeito pelas
vivências do outro, de disponibilidade perante seus sofrimentos, de olhar e de escutar
além das aparências que lhe são expostas. O psicopedagogo é um terapeuta que trabalha
com esta característica básica do ser humano que é a aprendizagem Fílon de Alexandria
definiu os terapeutas como aqueles que cuidavam do corpo, das imagens e dos arquétipos
que o animam, do desejo e do outro:

1) cuidar do corpo: não o corpo compreendido como organismo, não um corpo objeto,
mas um corpo sujeito, que “fala“. Cuidar do corpo é prestar atenção ao sopro que o anima e
que possibilita a aprendizagem. É preciso um movimento para que ocorra aprendizagem.
Caberá ao terapeuta a função de dialogar com este corpo, desatando os nós que se
colocam como impeditivos à vida e à inteligência criativa.

2) cuidar do ser: uma escuta e um olhar dirigido para aquele que é, ou seja, para aquilo
que não se apresenta como doentio e mortal. Cuidar do ser é não estar voltado
primeiramente para a doença, ou para o doente, mas para aquilo que se acha fora do
29

alcance da doença e que mantém o sujeito vivo. É olhar em primeiro lugar para aquilo que
vai bem, para o ponto de luz que pode dissipar as trevas. É cuidar no homem aquilo que
escapa ao homem, abrindo espaços para modificações, para mudanças; um espaço onde o
homem possa se recolher e descansar, encontrando seus próprios caminhos para aprender.
Não é ensinar, é possibilitar aprendizagens.

3) cuidar do desejo: uma palavra que ocorre muitas vezes na obra de Fílon é “equilíbrio”.
Cuidar do desejo não é percorrer um caminho de excessos, mas um caminho do meio. O
desejo é “o do outro e o meu”. No trabalho psicopedagógico não existe professor e aluno,
mas ensinante e aprendente que interagem sem possuírem papéis fixos ou
predeterminados. Não se trata de querer a todo custo fazer compreender, querer que o
outro compartilhe as nossas mais íntimas convicções. Isso de nada serve e denota uma
vontade de poder. Melhor é respeitar o ritmo do outro como se respeita o próprio ritmo.
Cuidar do desejo é atentar para as próprias necessidades, é procurar supervisão e terapia
para a melhoria de nossa escuta e de nosso olhar, que se direciona tanto para o outro
como para nós mesmos.

4) cuidar do outro: a verdade é a condição da alegria e, por isso, é necessário ver


com clareza. Isso supõe sair das projeções que não nos deixam ver o que é. Isso
significa olhar para uma pessoa, um acontecimento e não projetar sobre isto nossos
temores e desejos, todas as nossas lembranças. É deixar de lado o próprio ponto de vista e
os seus condicionamentos, ver as coisas a partir delas mesmas. O olhar do terapeuta não
deve ser claro apenas no sentido de lúcido, mas também no sentido de esclarecedor.
Diante de um olhar assim, a pessoa não se sente julgada, nem menosprezada, mas aceita,
e esta aceitação é a condição necessária para que se inicie o caminho de cura. Adquirir um
olhar esclarecedor, para o terapeuta, é adquirir a humildade, é relativizar o “eu”.

A competência do psicopedagogo está, portanto, na difícil tarefa de por em


articulação teoria e prática. Não existe psicopedagogo enquanto o “fazer“ não se inicia.
Não existe Psicopedagogia sem a busca da verdade que esta inscrita no conhecimento de
si e do outro, e na criação de novos conhecimentos. É necessário uma integração
também entre os saberes científicos, a fim de que a competência do psicopedagogo seja
sentida.
Escolher a Psicopedagogia como terapia e fazer-se terapeuta é assumir a
responsabilidade por uma formação contínua, cada vez mais aprofundada nas questões
humanas; é assumir a responsabilidade por uma atividade que implica um saber
30

interdisciplinar e eclético, sem sectarismos de qualquer espécie; é estar aberto a


mudanças.

O psicopedagogo deve ser um profissional preparado para atender crianças ou


adolescentes com problemas de aprendizagem, atuando na sua prevenção, diagnóstico e
tratamento clínico ou institucional. Ou seja, o psicopedagogo necessita ter conhecimentos
multidisciplinares, pois em um processo de avaliação diagnóstica é necessário estabelecer
e interpretar dados em várias áreas. O conhecimento dessas áreas fará com que o
profissional compreenda o quadro diagnóstico do educando e favorecerá a escolha da
metodologia mais adequada, ou seja, o processo corretor, com vista à superação das
inadequações do aprendente. Envolver-se em pesquisas e estudos científicos acerca dos
problemas e processos de aprendizagem é de fundamental importância no trabalho do
psicopedagogo, pois é através de novos enfoques que poderão ser alcançadas importantes
considerações a respeito da aprendizagem, bem como obtidos argumentos concretos para
o reconhecimento da profissão.

Os psicopedagogos devem seguir certos princípios éticos que estão


condensados no Código de Ética. Porém, a ética não estabelece regras, sua principal
característica é a reflexão sobre a ação do Homem. Conforme Griz (2007, p.78), a
Psicopedagogia é a área de conhecimento que mais se propõe a uma práxis que atenda
aos requisitos e princípios éticos, embora muitos profissionais sequer conheçam seu
código de ética. Scoz e colaboradores (apud BOSSA, 2007), escreveram sobre a trajetória
da Associação Brasileira de Psicopedagogia e destacaram que a contínua expansão da
Psicopedagogia e, em consequência disso, a abertura de inúmeros cursos de pós-
graduação para a formação nessa área em todo o país levou a Associação a elaborar um
documento sobre a identidade profissional do psicopedagogo e os objetivos da
Psicopedagogia, a partir da delimitação de seu campo de estudos e de atuação. Esse
documento passou por várias etapas de discussão, contando com a participação dos
associados da Associação Brasileira e de suas seções, bem como de coordenadores e
representante de inúmeros cursos de Psicopedagogia de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Em 1994, a Associação implantou um curso de Psicopedagogia, em caráter


experimental, no qual assumiu seu próprio modelo de formação, embasado no documento
sobre a identidade profissional do psicopedagogo. Sendo assim, a ABPp tem discutido e
analisado amplamente temas como a identidade do psicopedagogo e a legitimidade da
31

ação social da Psicopedagogia, dentre outros estudos. A dimensão social da


Psicopedagogia busca o saber por meio de uma ação socioeducativa, pois a
aprendizagem acontece na instituição, seja educacional ou familiar, articulando a
experiência acumulada com o conhecimento adquirido. Conforme Noffs (2000, p. 45), para
a qualidade do psicopedagogo faz-se necessário articular docência, pesquisa e gestão.
Para tal, é essencial que o psicopedagogo conheça o contexto institucional, seja escolar,
hospitalar ou familiar, onde o processo de aprendizagem vai desenvolver-se.
32

4. PRINCIPAIS CAMPOS OU ÁREAS DE ATUAÇÃO

Há alguns anos, Fernández (1994, p. 102) argumentava que a partir do objeto


de estudo da Psicopedagogia, ainda não foi possível construir uma teoria acerca dessa
prática psicopedagógica. Ela menciona que estamos tentando construir nossa própria
teoria, nosso específico enquadramento, os rasgos diferenciadores de nossa técnica e
nosso lugar como especialistas em problemas de aprendizagem. Mas para os profissionais
brasileiros pode-se verificar que o tema da aprendizagem ocupa-os e preocupa-os, sendo
os problemas desse processo (de aprendizagem) a causa e a razão da Psicopedagogia.

A Psicopedagogia é o espaço profissional para o qual convergem os


profissionais cuja atividade fundamental relaciona-se com a maneira de aprender e se
desenvolver pessoas, com as dificuldades e problemas que encontram quando levam a
cabos novos aprendizagens, com as intervenções dirigidas a ajudar-lhes a superar estas
dificuldades e, em geral, com as atividades especialmente pensadas, planejadas e
executadas para que aprendam mais e melhor. Pode-se afirmar que o trabalho
psicopedagógico está estreitamente vinculado com a análise, o planejamento, o
desenvolvimento e a modificação dos processos educativos; no entanto o espaço
profissional da Psicopedagogia não está circunscrito à escola e à educação escolar. A
princípio, todos os processos educativos, independentemente do contexto institucional em
que estão localizados, são suscetíveis de fazer parte do campo de atuação dos
profissionais da Psicopedagogia.

A atuação psicopedagógica se entende como a orientação educativa realizada


através de programas de intervenção que, com um enfoque preventivo, potencializador e
corretivo, perseguem o desenvolvimento dos aprendentes, seja no plano pessoal, escolar,
acadêmico ou de carreira. Todos os indivíduos, em suas diferentes etapas evolutivas,
desde o nascimento até a velhice, são passíveis da intervenção psicopedagógica. O
campo de atuação da Psicopedagogia está tornando-se mais amplo, pois o que
inicialmente caracterizava-se somente no aspecto clínico, hoje pode ser aplicado a outros
segmentos. De modo geral, essa atuação pode estar inserida nos seguintes objetivos:

a) assessorar no desenvolvimento do processo de aprendizagem, incluindo suas


perturbações e / ou anomalias, de modo a favorecer as condições adequadas para
o sucesso na aquisição do conhecimento ao longo de todas as etapas evolutivas, seja
33

de forma individual ou coletiva, no âmbito da educação, família e saúde mental;

b) realizar ações que possibilitem a detecção das perturbações e / ou anomalias no processo


de aprendizagem nos diferentes âmbitos de expressão;

c) pesquisar as características psicoevolutivas do sujeito em situação de aprendizagem;

d) participar na dinâmica das relações da comunidade educativa, a fim de favorecer os


processos de integração e mudanças;

e) orientar a respeito das diferentes adequações metodológicas, de acordo com as


características biológicas, psicológicas, sociais e culturais dos indivíduos e grupos;

f) desenvolver processos de orientação e reorientação educacional, vocacional e


ocupacional, nas modalidades individuais e grupais;

g) elaborar diagnóstico dos aspectos preservados e perturbados, comprometidos no


processo de aprendizagem, para efetuar prognósticos de evolução;

h) com base nos diagnósticos obtidos, elaborar estratégias específicas e programas


de tratamento, orientação e derivação, destinados a promover processos harmônicos de
aprendizagem;

i) participar em equipes interdisciplinares responsáveis pela elaboração, execução e


avaliação de planos, programas e projetos nas áreas de educação e a saúde;

j) realizar estudos e investigações relacionados ao plano educacional e da saúde,


relacionados ao processo de aprendizagem e aos métodos, técnicas e recursos próprios da
investigação psicopedagógica;

k) exercício da docência na área de sua especialidade em todos os níveis do sistema


educativo.
34

A atuação psicopedagogia pode realizar-se nos seguintes âmbitos:

a) Clínica: compreende como objeto de estudo o sujeito e sua relação com


a aprendizagem e suas fraturas, a indagação sobre os aspectos da constituição psíquica
comprometidos na atividade representativa, que permitem o despregue da simbolização
ou geram restrições na relação com os objetos. A tarefa se desenvolve em instituições
publicas, privadas ou em consultórios particulares. A esfera de ação se acha em
hospitais gerais, pediátricos, psiquiátricos ou neuropsiquiátricos, centros de saúde
mental, centros de reabilitação de portadores de necessidade de qualquer tipo,
comunidades terapêuticas, asilos, albergues, clínicas, sanatórios, escolas de todos os
níveis, consultórios particulares, organizações não governamentais etc.

b) Institucional: compreende diferentes campos ou dimensões a intervenção


individual no contexto grupal, trabalho com diferentes atores, capacitação específica em
diferentes setores ou âmbitos, assessoramento frente a situações específicas. A esfera de
ação se acha nas instituições educativas de todos os níveis (pré-escolar, fundamental,
médio, acadêmico, educação de adultos), bem como em escolas especiais, creches, centros
de orientação vocacional e demais instituições privadas ou oficiais de finalidade educativa.

c) Trabalhista: compreende a orientação e o assessoramento profissional


à gestão e organização empresarial, intervindo nos aspectos de comunicação
organizacional, a capacitação para recém-contratados e / ou nas mudanças de postos e
promoções, organização e / ou supervisão de grupos de trabalho, recrutamento e seleção
de pessoal, elaboração de programas específicos, mediação e resolução de conflitos. A
esfera de ação se acha nas organizações e empresas de qualquer porte.
35

d) Investigação-Capacitação: compreende o desenho e o desenvolvimento de


investigações e capacitação no campo dos grupos, as instituições, a comunidade, seja no
âmbito da educação, saúde ou empresa, de forma preventiva ou assistencial. A esfera de
ação está relacionada às entidades públicas ou privada, governamental e não
governamentais, nas áreas de saúde e educação.

e) Sociocomunitária: compreende o trabalho em ações


sóciocomunitárias, orientadas ao assessoramento ou intervenção a respeito da prevenção
primária, secundária e terciária, em projetos específicos da disciplina ou apoiando equipes
interdisciplinares. A esfera de ação aqui se relaciona com todas as instituições, grupos e
membros da comunidade que, enquanto forças sociais, influem e afetam a conduta do
indivíduo.

f) Jurídica: compreende o estudo e a detecção de condutas anômalas


que possam incidir no desenvolvimento cognitivo do sujeito provocando inibição cognitiva
ou deterioração nas funções, a orientação psicopedagógica ao sujeito e seus
familiares, a elaboração de laudos e perícias conforme a perspectiva requerida. A esfera
de ação está relacionada aos tribunais de Justiça, institutos penais, institutos de
internação de menores, organismos policiais e demais órgãos com finalidade similar.

De modo geral, a atuação do psicopedagogo é diferente do psicólogo, pois o


primeiro está preocupado especificamente com a aprendizagem. O ser humano, em sua
complexidade, sempre articula uma maneira de pedir ajuda, quando está em dificuldades
de qualquer natureza. Seja enquanto criança, apresentando alguma dificuldade específica
na Escola; seja o jovem, fazendo muitas vezes uma verdadeira negação da escolaridade e
enveredando pela marginalidade; seja o idoso, entrando em depressão por se julgar
incapaz de aprender e continuar contribuindo para sua comunidade. Quando esse pedido
de ajuda se dá via aprendizagem, aí deve atuar o psicopedagogo, por ser o profissional
cuja formação o habilita para compreender e atender tais solicitações.

A Psicopedagogia aplicada a segmentos hospitalares e organizacionais está


voltada para a manutenção de um ambiente harmônico e à identificação e prevenção dos
insucessos interpessoais e de aprendizagem. É possível perceber, também, que a
Psicopedagogia detém importante papel no novo momento educacional que é a inserção e
manutenção dos alunos com necessidades educativas especiais (NEE) no ensino regular,
36

comumente chamada de inclusão social. Colocar o aluno com NEE em sala de aula e não
criar estratégias para a sua permanência e sucesso escolar inviabiliza todo o movimento
nas escolas. Faz-se premente a necessidade de um acompanhamento e estimulação do
aluno com NEE para que a sua aprendizagem seja efetiva.

O psicopedagogo deve ter a consciência de observar o indivíduo como um todo:


coordenação motora ampla, aspecto sensoriomotor, dominância lateral, desenvolvimento
rítmico, desenvolvimento motor fino, criatividade, evolução do traçado e do desenho,
percepção espacial e visiomotora, orientação e relação espaçotemporal, aquisição e
articulação dos sons, aquisição de palavras novas, elaboração e organização mental,
atenção e coordenação, bem como expressões, aquisição de conceitos e, ainda,
desenvolvimento do raciocínio logicomatemático. Através desses complexos ambientes de
observação, o pedagogo deve procurar entender o processo de aprendizagem, conforme a
abordagem “vygotskyana”, que parte do pressuposto de que são várias as razões que
determinam o sucesso ou o fracasso escolar.

A prática psicopedagógica é entendida como o conhecimento dos processos de


aprendizagem em seus mais diversos aspectos: cognitivos, emocionais ou corporais.
Conforme Vygotsky (1991), a atividade criadora é uma manifestação exclusiva do ser
humano, pois só ele tem a capacidade de criar algo novo a partir do que já existe. Através
da memória, o homem pode imaginar situações futuras e construir outras imagens. Sendo
assim, a ação criadora reside no fato da não adaptação do ser, isto é, de não estar
acomodado e conformado com uma situação, buscando através do imaginário e da
fantasia, um equilíbrio, bem como a construção de algo novo.

É mediante esse pressuposto que a intervenção psicopedagógica se faz


atuante, descobrindo no aprendente as suas capacidades e desenvolvendo atividades que
o auxiliem na ordenação e coordenação de suas idéias e manifestações intelectuais.

A especificidade do tratamento psicopedagógico consiste no fato de que existe


um objetivo a ser alcançado, a eliminação dos sintomas. Assim, a relação entre o
psicopedagogo e o aprendente é sustentada em atividades bem definidas, cujo objetivo é
solucionar os efeitos nocivos dos sintomas. Por exemplo, apontar os problemas de
aprendizagem relacionados à leitura, motivo bastante frequente para as consultas
psicopedagógicas. É possível que uma criança não aprenda a escrever porque lhe faltam
recursos intelectuais para elaborar e testar suas hipóteses acerca desse novo objeto de
37

conhecimento. É possível, também, que uma criança cercada de recursos possua


dificuldades em relação à ordenação das ideias e não consiga organizar e construir seu
conhecimento. Assim, cabe ao psicopedagogo trabalhar as duas variantes aprendentes:
de forma preventiva para que sejam detectadas as dificuldades de aprendizagem antes
que os processos se instalem, bem como na elaboração do diagnóstico e trabalho
conjunto com família e escola frente às intercorrências advindas das dificuldades no
processo do aprender. Partindo da ideia de que toda criança aprende, o psicopedagogo
precisará encontrar, entre as diversas teorias educacionais, a que mais se enquadra em
cada caso diagnosticado.

Não se pode falar em aprendizagem sem, portanto, considerar todos os


aspectos relevantes na vida desse sujeito que se relaciona e troca, a partir da criação de
vínculos. No diagnóstico psicopedagógico não se pode desconsiderar as relações entre
produção escolar e as oportunidades reais que a sociedade dá às diversas classes sociais.
Muitas vezes, os alunos de baixa renda são classificados como deficientes nas questões
do aprendizado. Na realidade, faltam-lhes oportunidades de crescimento cultural, de rápida
construção cognitiva e desenvolvimento de linguagem, o que, certamente, aumentariam
suas chances de êxito escolar.

A absorção do conhecimento pelo aluno depende da maneira como as


informações lhe são passadas, que, por sua vez, depende das condições sociais que
determinarão a qualidade desse ensino. Professores em unidades escolares
desestruturadas e sem nenhum apoio material ou pedagógico não terão como tornar real e
atraente um conhecimento. É preciso que o professor, competente e valorizado, encontre
prazer em ensinar para que possibilite o prazer de aprender.

Quando um psicopedagogo chega à instituição escolar, cria-se grande


expectativa de que ele vai solucionar todos os problemas da escola, sejam dificuldades de
aprendizagem, indisciplina, evasão, exclusão ou desestímulo do corpo docente. O trabalho
é minucioso e abrangente, pois o profissional da Psicopedagogia não trabalha isolado.
Toda estrutura educacional necessita estar envolvida e ciente das metas estabelecidas no
Projeto Político Pedagógico (PPP), conforme orienta Silva (2003, p.31):

o projeto pedagógico é um instrumento de trabalho que ilumina princípios


filosóficos, define políticas, harmoniza as diretrizes da educação nacional
com a realidade da escola, racionaliza e organiza ações, dá voz aos atores
educacionais, otimiza recursos materiais e financeiros, facilita a
continuidade administrativa, mobiliza diferentes setores na busca de
38

objetivos comuns e, por ser domínio público, permite constante


acompanhamento e avaliação.

Por isso, o trabalho psicopegagógico se depara com desafios e habilidades tais


como: competência, visão de mundo e conhecimento teórico-prático que determinarão o
sucesso desse trabalho. Com o aluno (aprendente), o trabalho investigativo está em saber
se este quer aprender, se deseja ou não aprender, se deixa seu desejo se manifestar a
partir da sua vontade e construir seu mundo de significados. Com a instituição educadora
(escola), a investigação perpassa desde o organograma até a conversa, em particular,
com cada professor em suas especificidades disciplinares, sem esquecer de abordar o
trabalho em conjunto onde todos queiram alcançar um único objetivo: o sucesso escolar
dos alunos.

A aprendizagem refere-se a um confrontamento objetivo e uma motivação: para


aprender é necessário um vínculo e para que este vínculo se instale ela passa, também,
pelo afeto. Segundo Pichon, (1980), a aprendizagem é uma estrutura dinâmica em
contínuo movimento, que funciona acionada ou movida por motivações psicológicas. Já
Delors (1999) cita os quatro pilares essenciais para um novo conceito de educação, quais
sejam: aprender a conhecer aprender a viver juntos, aprender a fazer e aprender a ser.
Um desses pilares reflete uma postura amadurecida com relação ao aluno, conforme
aponta Delors (1999, p. 92):

Aprender a conhecer supõe, antes de tudo, aprender a aprender,


exercitando a atenção, a memória e o pensamento. O processo de
aprendizagem do conhecimento nunca está acabado, e pode enriquecer-se
com qualquer experiência. A educação primária pode ser considerada bem
sucedida se conseguir transmitir às pessoas o impulso e as bases que
façam com que continuem a aprender ao longo de toda vida, tanto na
escola como fora dela.
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Weiss (2003) entende como fracasso escolar uma resposta insuficiente do


aluno a uma exigência ou demanda da escola. Se o aluno não corresponde a esta
demanda “exigida” pela unidade escolar, algo deverá ser investigado, num envolvimento
global, onde todos os profissionais que fazem parte desta organização caminhem juntos
ao encontro e no repensar de suas posturas pedagógicas.

O fracasso escolar pode ocasionar problemas sociais, que também perpassam


esta trajetória de marginalização e exclusão social. A identificação dos problemas de
aprendizagem necessita de um novo olhar a partir das organizações educadoras. Para
Vygotsky (1991), a aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem
escolar, que nunca parte do zero. Toda aprendizagem da criança na escola tem uma pré-
história.

O trabalho psicopedagógico está inserido no processo ensino-aprendizagem,


atuando primordialmente, junto aos profissionais comprometidos nas instituições escolares
de forma preventiva, detectando os momentos de dificuldades e prevendo questões que
seriam motivo de tratamento futuro na vida educacional dos aprendentes, como também,
interagindo com o organograma escolar quando os problemas de dificuldades de
aprendizagem já estiverem instalados, trabalhando nos diagnósticos e nas terapias
psicopedagógicas.

É neste momento que a intervenção psicopedagógica alcança seu maior grau


de desempenho, fazendo com que o aluno exercite, através de estímulos, a atenção, a
memória e o pensamento lógico-crítico. Cabe ao profissional da educação proporcionar
aos seus alunos oportunidades para que o conhecimento para a vida aconteça. Como o
saber jamais se dará como acabado, o papel do psicopedagogo terá uma ampla área de
atuação, fazendo com que seus aprendentes descubram qual a melhor forma de
reconhecer e desenvolver suas capacidades intelectuais.

É na prática psicopedagógica que a teoria vygotskyana pode ser vivenciada no


enfoque sociohistórico e cultural. Partindo-se do pressuposto que a criança, ao chegar à
unidade educadora (escola), já possui uma vasta bagagem informativa proveniente do
meio em que vive, é papel dos educadores orientarem e conduzir o conhecimento a partir
de uma prática vivenciada e correlacionada à realidade da criança.
41

Para que o conhecimento se construa de fato, a relação do educador/aprendente


também passa pela afetividade e pelo vínculo. O educador que se compromete com a
educação deseja que seu aluno (aprendente) construa o conhecimento para a vida. O
professor é apenas um mediador de um processo muito maior, que é o aprendizado.

Para Vygotsky, a relação entre o pensamento e a palavra é um processo


contínuo. O pensamento não é simplesmente expresso em palavras, mas, por meio delas,
ele passa a existir.

A prioridade no ensino diz respeito, também, às aptidões, às qualidades


pessoais, à cultura, à comunicação; enfim, à valorização do conhecimento que o aluno já
possui e, a partir da sua visão de mundo, o desenvolvimento de uma prática pedagógica
que estimule a pensar, criar, dialogar e participar ativamente na construção de novos
conhecimentos.

Na ótica vygotskyana, que fornece subsídios para uma prática fundamentada na


construção do indivíduo como pessoa, é fundamental que o aprendente se insira num
determinado ambiente cultural, que tanto pode ser formado a partir do seu grupo familiar,
bem como escolar, religioso, esportivo e cultural, pois é esse grupo que fornece
instrumentos que irão possibilitar sua maturidade intelectual.

Pode-se, então, observar que, a cada dia, o objeto de estudo da


Psicopedagogia tem assumido contornos diferenciados, específicos e amplos. Não se trata
do sujeito epistêmico de Piaget, do sujeito do inconsciente de Freud, do sujeito cindido de
Lacan5, do sujeito e suas zonas de desenvolvimento de Vygotsky, entre tantos outros
teóricos da educação. Trata-se de resgatar um sujeito completo; não apenas a soma, mas
a articulação desses sujeitos em suas especificidades.

5 Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981), nasceu na França e formou-se em Medicina, atuando como
neurologista e psiquiatra. Considerado um psicanalista freudiano, para o Dr. Lacan a psicanálise não era
uma ciência, uma visão de mundo ou uma filosofia que pretendia dar a chave do universo, mas uma prática
onde, através do método da livre associação, chegaria-se ao núcleo do ser. Lacan propunha a divisão do
sujeito, pois o inconsciente seria autônomo com relação ao Eu, defendendo que, no registro do inconsciente,
é que deveria situar a ação da psicanálise.
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Nessa variante de teorias educacionais, todos são aprendentes e, no caminhar


da especialização, cada psicopedagogo identifica-se com estes ou aqueles autores. Cabe,
pois, a cada profissional ter a maturidade e a consciência de identificar qual teoria melhor
se enquadra a cada caso tratado.
43

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82

Atividade Avaliativa referente ao conteúdo de: Estudos Introdutórios a


Psicopedagogia.

1. Para L. Vygotsky, a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem está atrelada ao


fato de o ser humano viver em meio social, sendo este a alavanca para esses dois
processos. Nessa perspectiva, o desenvolvimento humano é qualitativamente superior
quando ocorre por:

A) processos que ocorrem na sua forma natural sem a interferência dos processos
intencionais de ensino aprendizagem.
B) processos formados através de experimentações mecanicizadas.
C) processos que utilizam autotreinamento objetivo.
D) processos psíquicos formados de maneira planejada e intencional.

2. A Psicopedagogia, enquanto área de atuação, de conhecimento e de pesquisa,


caracteriza-se:
I. Pela interdisciplinaridade.
II. Por ter como objeto a aprendizagem humana.
III. Por adotar uma configuração clínica.
IV. Por ter, entre outras, uma função preventiva.
V. Pela preocupação em produzir conhecimento científico.
Está correto o que se afirma em:
A) todos os itens.
B) I, II, IV e V, apenas.
C) I, II, III e V, apenas.
D) II, III e IV, apenas.

3. Marque a opção correta


A) A Psicopedagogia tem por natureza o trabalho com a aprendizagem, o
conhecimento, sua aquisição, desenvolvimento e não distorções.
B) A Psicopedagogia tem por objetivo o estudo da aprendizagem humana e, com o
emprego de processos e estratégias que levam em conta a individualidade do
aprendente e do ensinante, compromete-se com a melhoria do processo ensino-
aprendizagem.
83

C) A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do


processo de aprender para não poder atender as necessidades individuais nessa
missão.
D) A Psicopedagogia é uma área de estudos que trata da aprendizagem escolar, quer
seja no curso normal ou nas dificuldades. Já Campos (1996), considera que os
problemas de aprendizagem constituem-se no campo da Psicopedagogia.

4. A Psicopedagogia, ainda está construindo seu corpo teórico, portanto se constituindo


como ciência. Assim sendo, a Psicopedagogia é uma área de estudos muito nova,
portando pode ser vista com desconfiança por alguns. Por outro lado, o fato de ser jovem,
permite que se construa para atender os problemas enfrentados no processo de ensino-
aprendizagem. Assinale a alternativa que apresente esse autor.
A) Bossa
B) Piaget
C) Vygotsky
D) Teberosky

5. O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal pode ser considerado fundamental


para a prática profissional em Psicopedagogia porque:
I. Explicita a natureza social da aprendizagem e do desenvolvimento humano.
II. Provê os profissionais de um instrumento através do qual se pode entender o curso
interno do desenvolvimento.
III. Abre a possibilidade de desenvolvimento, de superação do déficit orgânico para
pessoas com deficiência.
IV. Evidencia o papel fundamental da mediação social no desenvolvimento de potenciais.
Está correto o que se afirma em:
A) I, II e IV, apenas.
B) I e IV, apenas.
C) II e III, apenas.
D) todos os itens.

6. Com relação ao campo de atuação da Psicopedagogia, é incorreto afirmar que:


A) o trabalho psicopedagógico nunca terá um caráter assistencial.
84

B) historicamente, a psicopedagogia nasceu para atender a patologia da aprendizagem.


C) o campo de atuação refere-se não só ao espaço físico onde se dá o trabalho.
D) ele pode estar relacionado à área de saúde e às empresas.

7. No que diz respeito o código de ética da psicopedagogia, no capitulo 1 do artigo 1º.


Marque a opção correta
A) A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que se ocupa do
processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola, a sociedade e o
contexto sócio-histórico, utilizando procedimentos próprios, fundamentados em diferentes
referenciais teóricos.
B) A Psicopedagogia é de natureza inter e transdisciplinar, utiliza métodos, instrumentos e
recursos próprios para compreensão do processo de aprendizagem, cabíveis na intervenção.
C) O psicopedagogo deve, com autoridades competentes, refletir e elaborar a organização, a
implantação e a execução de projetos de Educação e Saúde no que concerne às questões
psicopedagógicas.
D) A formação do psicopedagogo se dá em curso de graduação e/ou em curso de pós-
graduação – especialização “lato sensu” em Psicopedagogia, ministrados em
estabelecimentos de ensino devidamente reconhecidos e autorizados por órgãos
competentes, de acordo com a legislação em vigor.

8. A Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as


realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. “E, mais, procurando
estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé
de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos”.
A) Bossa
B) Campo
C) Neves
D) Sousa

9. Uma atuação ética em Psicopedagogia pressupõe:


I. Respeitar o Código de Ética independentemente da abordagem particular do profissional.
II. Possuir formação adequada para o exercício profissional. I
II. Atualização técnico-científica a respeito da aprendizagem humana.
IV. Respeitar normas de publicação científica.
Está correto o que se afirma em
A) IV e V, apenas.
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B) I, II e III, apenas.
C) I, II, III e V, apenas.
D) todos os itens.

10. Sobre os Fundamentos da Psicopedagogia e seu objeto de estudo, assinale a alternativa


que melhor define essa área do conhecimento.
A) Área do conhecimento que surge para atuar com crianças portadoras de dificuldades de
aprendizagem.
B) É uma área interdisciplinar que reúne conhecimentos de várias ciências e ramos do
conhecimento, buscando a compreensão, de forma integrada, do processo de ensino-
aprendizagem.
C) Área do conhecimento que surge da demanda Clínica e Institucional para diagnosticar
problemas no âmbito da aprendizagem e modificar esse processo.
D) A Psicopedagogia, apesar do crescimento observado na última década, ainda não
conseguiu delimitar seus fundamentos. Promove uma integração de conceitos ainda muito
confusa, o que compromete a definição de seu objeto de estudo.

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