A Poética

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Aula 20 (21/11/23)
Comentários
O livro décimo da República, de Platão, foi e ainda é muito lido para se
compreender a história do pensamento, principalmente, ao falarmos de temas
como a censura.

No contexto da arte, a originalidade é algo que surge apenas na Modernidade.


Para Platão, por exemplo, a poesia tratava-se de imitação, pois somente a ideia
era algo original.

A Poética - Aristóteles
Passamos agora para o livro A Poética, de Aristóteles, que foi a primeira obra
dedicada exclusivamente à poética. Historicamente, a poieses (ποίησις) está
muito ligada à ideia de doutrina, estrutura, daquilo que se pensa ser poesia.

A palavra grega significa fazer, criar;

No século I, Dionísio de Halicarnasso escreveu um tratado acerca de como


estruturar um texto e sobre como extrair dele as suas qualidades mais
eficientes na persuasão ou mais agradáveis na simples leitura ou audição

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(ritmo). Dionísio afirmou que a ordem (estrutura) das palavras é mais
importante do que as palavras em si.

Os meios são utilizados pela poesia (ritmo, palavras, melodia etc.);

Os modos são os gêneros do discurso (musicais etc.), a saber, a maneira como os


meios são arranjados entre si.

Três fundamentais: lírico, narrativo e dramático. Nestes estão contidas as


várias espécies que podemos chamar de gêneros ou subgêneros.

Para Aristóteles, toda poesia é mimética (imitação). Trata-se de uma imitação que
estabelece a forma (representação) de um determinado objeto através da qual o
leitor pode comunicar-se com o texto, aprendendo, vivendo o assombro e tendo
prazer. Para o filósofo, a forma é tanto a organização interna da matéria quanto a
sua forma externa.

Tragédia: imitação dos homens superiores;

Comédia: imitação dos homens inferiores.

Para Aristóteles, é característica geral de toda a poesia é a exposição do horror e


do ridículo, que acaba por beneficiar a cidade ao provocar compaixão e piedade -
catarse, purificação das emoções. Desse modo, aquilo que Platão considerava um
mal Aristóteles passou a considerar como bem.

O riso (comédia) faz bem à cidade pois funciona como uma terapia.

👨🏽‍🏫 “O grande escritor é aquele que consegue encontrar dentro de si aquilo que
existe também dentro dos outros.”

Citações
(p. 37-38)

A epopeia e a tragédia, bem como a comédia e a poesia


ditirâmbica e ainda a maior parte da música de flauta e de cítara
são todas, vistas em conjunto, imitações. Diferem entre si em três

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aspectos: ou porque imitam por meios diversos ou objectos
diferentes ou de outro modo e não do mesmo. Assim como uns
imitam muitas coisas, reproduzindo-as (por arte ou por experiência)
através de cores e figuras e outros através da voz, assim também,
nas artes mencionadas, todas realizam imitação por meio do ritmo,
das palavras e da harmonia, separadamente ou combinadas. Se a
música de flauta e de cítara e algumas outras artes similares, como
a música de siringe, conseguem expressividade usando apenas a
harmonia e o ritmo, a música dos dançarinos [imita], pelo ritmo em
si, sem harmonia (pois os dançarinos, através de movimentos
ritmados, imitam não só caracteres mas também emoções e
acções).

(p. 42-43)

Parece ter havido para a poesia em geral duas causas, causas


essas naturais. Uma é que imitar é natural nos homens desde a
infância e nisto diferem dos outros animais, pois o homem é o que
tem mais capacidade de imitar e é pela imitação que adquire os
seus primeiros conhecimentos; a outra é que todos sentem prazer
nas imitações. Uma prova disto é o que acontece na realidade: as
coisas que observamos ao natural e nos fazem pena agradam-nos
quando as vemos representadas em imagens muito perfeitas
como, por exemplo, as reproduções dos mais repugnantes animais
e de cadáveres. A razão disto é também que aprender não é só
agradável para os filósofos mas é-o igualmente para os outros
homens, embora estes participem dessa aprendizagem em menor
escala. E que eles, quando vêem as imagens, gostam dessa

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imitação, pois acontece que, vendo, aprendem e deduzem o que
representa cada uma, por exemplo, “este é aquele assim e assim”.
Quando, por acaso, não se viu anteriormente o objecto
representado, não é a imitação que causa prazer, mas sim a
execução, a cor ou qual quer outro motivo do género.

(p. 54-55)

Pelo exposto se torna óbvio que a função do poeta não é contar o


que aconteceu mas aquilo que poderia acontecer, o que é possível,
de acordo com o princípio da verosimilhança e da necessidade. O
historiador e o poeta não diferem pelo facto de um escrever em
prosa e o outro em verso (se tivéssemos posto em verso a obra de
Heródoto, com verso ou sem verso ela não perderia absolutamente
nada o seu carácter de História). Diferem é pelo facto de um relatar
o que aconteceu e outro o que poderia acontecer. Portanto, a
poesia é mais filosófica e tem um carácter mais elevado do que a
História. É que a poesia expressa o universal, a História o
particular. O universal é aquilo que certa pessoa dirá ou fará, de
acordo com a verosimilhança ou a necessidade, e é isso que a
poesia procura representar, atribuindo, depois, nomes às
personagens. O particular é, por exemplo, o que fez Alcibíades ou
que lhe aconteceu. Na comédia, isto torna-se desde logo evidente:
os poetas estruturam o enredo atendendo ao princípio da
verosimilhança e só depois atribuem, ao acaso, os nomes, e não
escrevem, como os poetas iâmbicos, sobre determinadas pessoas.
Na tragédia, porém, os poetas prendem-se a nomes reais e a
razão disso é que o possível é fácil de acreditar. Na verdade, nós

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não acreditamos que coisas que ainda não aconteceram sejam
possíveis; ao contrário, pelo facto de terem acontecido, torna-se
evidente que eram possíveis, pois não teriam ocorrido se fossem
impossíveis. No entanto, em algumas tragédias, apenas um ou
dois dos nomes são conhecidos, enquanto os outros são
inventados e, em algumas, nenhum, como no Anteu de Agaton:
nesta peça, tanto os factos como os nomes são inventados e nem
por isso agrada menos. Assim, não é de todo necessário cingirem-
se a histórias tradicionais sobre que versam, geralmente, as
tragédias. Preocuparem-se com isso seria ridículo, pois mesmo as
histórias conhecidas são conhecidas por poucas pessoas e, no
entanto, agradam igualmente a todos. De tudo isto resulta evidente
que o poeta deve ser um construtor de enredos mais do que de
versos, uma vez que é poeta devido à imitação e imitaacções. E,
se lhe acontece escrever sobre factos reais, não é menos poeta
por isso: nada impede que alguns factos que realmente
aconteceram sejam [possíveis e] verosímeis e é nessa medida que
ele é o seu poeta.

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